06º Domingo da Páscoa – Ano B [atualizado]

ANO B

6.º DOMINGO DA PÁSCOA

Tema do 6.º Domingo da Páscoa

A liturgia do sexto Domingo da Páscoa expõe, diante dos nossos olhos, a “rede” de amor que atravessa toda a história da salvação: Deus é a fonte primeira do amor; Ele ama o seu Filho Jesus, comunica-lhe o seu amor e envia-o ao encontro dos homens; Jesus mostrou aos homens, em gestos e palavras, o amor de Deus; os discípulos de Jesus acompanharam-no desde a Galileia até Jerusalém e foram testemunhas do seu amor “até ao extremo”; transformados em Homens Novos pelo amor de Jesus, os discípulos são agora no mundo os arautos do amor de Deus.

A segunda leitura confirma que Deus é a origem do amor (“Deus é amor”) e que foi d’Ele que partiu essa corrente de amor que nos alcançou, em Jesus e por Jesus. Nós, transformados por esse amor, podemos agora aproximar-nos de Deus, conhecer a Deus e tornarmo-nos filhos de Deus.

No Evangelho Jesus, em contexto de despedida, deixa aos discípulos “o seu” mandamento fundamental: “amai-vos como Eu vos amei”. Eles são os “amigos” a quem Jesus amou até ao fim e revelou o amor do Pai. A missão dos discípulos é testemunhar, no mundo e na história, esse jeito de viver que aprenderam com Jesus.

A primeira leitura afirma que a salvação oferecida por Deus através de Jesus Cristo, e levada ao mundo pelos discípulos, se destina a todos os homens e mulheres, sem exceção. Para Deus, o que é decisivo não é a pertença a uma raça ou a um determinado grupo social, mas sim a disponibilidade para acolher o amor de Deus e para dar testem unho desse amor.

 

LEITURA I – Atos dos Apóstolos 10,25-26.34-35.44-48

Naqueles dias,
Pedro chegou a casa de Cornélio.
Este veio-lhe ao encontro
e prostrou-se a seus pés.
Mas Pedro levantou-o, dizendo:
«Levanta-te, que eu também sou um simples homem».
Pedro disse-lhe ainda:
«Na verdade, eu reconheço
que Deus não faz aceção de pessoas,
mas, em qualquer nação,
aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável».
Ainda Pedro falava,
quando o Espírito desceu
sobre todos os que estavam a ouvir a palavra.
E todos os fiéis convertidos do judaísmo,
que tinham vindo com Pedro,
ficaram maravilhados ao verem que o Espírito Santo
se difundia também sobre os gentios,
pois ouviam-nos falar em diversas línguas e glorificar a Deus.
Pedro então declarou:
«Poderá alguém recusar a água do Batismo
aos que receberam o Espírito Santo, como nós?»
E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo.
Então, pediram-lhe que ficasse alguns dias com eles.

 

CONTEXTO

O texto que a liturgia deste sexto domingo da Páscoa nos propõe como primeira leitura integra uma secção do livro dos Atos dos Apóstolos (cf. 9,32-11,18) cujo protagonista é o apóstolo Pedro. Essa secção refere a atividade missionária de Pedro no litoral da costa palestina, entre Jope e Cesareia Marítima, onde Pedro, assumindo o papel de pregador itinerante, vai visitando diversas comunidades cristãs.

O episódio que nos é proposto situa-nos em Cesareia Marítima, uma cidade construída por Herodes, o Grande, no séc. I a. C., num lugar antigamente designado por “Torre de Estraton”. Cesareia era a sede do poder romano na Palestina, pois era aí que residiam os procuradores romanos da Judeia. No centro da cena está um centurião romano, chamado Cornélio, que era “piedoso e temente a Deus” (At 10,2). Pedro estava em Jope (atual Jafa), um pouco mais a sul, hospedado em casa de Simão, o curtidor (cf. At 9,43); mas, convidado por Cornélio, vai até Cesareia, dirige-se à casa do centurião romano e, encontrando-o reunido com diversos familiares e amigos (cf. At 10,24), anuncia-lhes Jesus.

A atitude de Pedro deve ter gerado alguma polémica nas comunidades cristãs primitivas, particularmente na comunidade cristã de Jerusalém (cf. At 11,2-3). Para os primeiros cristãos, oriundos do mundo judaico, não era claro que os pagãos pudessem entrar na comunidade cristã. O pagão era considerado um ser impuro, em casa de quem o bom judeu estava proibido de entrar, a fim de não se contaminar. Quereria Deus que a salvação fosse também anunciada aos pagãos?

Para o autor dos Atos dos Apóstolos, é perfeitamente claro que Deus também quer oferecer a salvação aos pagãos. Para deixar isso bem claro, ele põe Deus a dirigir toda a trama: é Deus que, numa visão, pede a Cornélio que mande chamar Pedro (cf. At 10,1-8); e é Deus que arrebata Pedro “em êxtase” e lhe sugere que poderá ir ao encontro de Cornélio sem ficar contaminado pelo contacto com um pagão (cf. At 10,9-23). A decisão de Pedro de apresentar a proposta de Jesus a uma família pagã será, pouco depois, aprovada pela Igreja de Jerusalém (cf. At 11,18).

Este episódio tem uma especial importância no esquema imaginado por Lucas para a expansão da Igreja… Cornélio é o primeiro pagão oficialmente admitido na comunidade de Jesus. A conversão de Cornélio marca uma viragem decisiva na proclamação do Evangelho que, a partir deste momento, se abre também aos pagãos.

A conversão de Cornélio será, basicamente, histórica; as “visões” e os detalhes são, provavelmente, o cenário que Lucas monta para apresentar a sua catequese.

 

MENSAGEM

Depois de descrever a receção de Pedro em casa de Cornélio, Lucas põe na boca de Pedro um discurso – do qual, no entanto, a leitura que nos é proposta só apresenta um pequeno extrato – onde ecoa o kerigma (primeiro anúncio, que proclama as verdades fundamentais sobre Jesus) primitivo. Nesse discurso, Pedro anuncia Jesus (vers. 38a), a sua atividade (“andou de lugar em lugar fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com Ele” – vers. 38b), a sua morte (vers. 39b), a sua ressurreição (vers. 40) e a dimensão salvífica da sua ação (vers. 43b). É este o anúncio que Jesus encarregou os primeiros discípulos de testemunharem ao mundo inteiro.

O nosso texto acentua, especialmente, o facto de a mensagem da salvação se destinar a todas as nações, sem distinção de pessoas, de raças ou de povos. Logo no início do discurso, Pedro reconhece que “Deus não faz aceção de pessoas; em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável” (vers. 34-35). Portanto, o anúncio sobre Jesus deve chegar a todos os cantos da terra; a salvação de Deus é para todos os homens e mulheres, sem exceção.

Depois do anúncio feito por Pedro, acontece a efusão do Espírito “sobre quantos ouviam a Palavra” (vers. 44), sem distinção de judeus ou pagãos (vers. 45). O resultado do dom do Espírito é descrito com os mesmos elementos que apareceram no relato do dia do Pentecostes: todos “falavam línguas” e “glorificavam a Deus” (vers. 46). É a confirmação direta de que Deus oferece a salvação a todos os homens e mulheres, sem distinguir raças, culturas ou nações. Pedro tira, desse facto, as conclusões que se impõem e batiza Cornélio e toda a sua família.

Os primeiros cristãos, oriundos do mundo judaico e marcados pela mentalidade judaica, consideravam que a salvação era, sobretudo, um dom de Deus para os judeus; os pagãos poderiam eventualmente ter acesso à salvação, desde que se convertessem ao judaísmo, aceitassem a Lei de Moisés e a circuncisão. Mas o Espírito Santo, derramado sobre Cornélio e a sua família, veio mostrar que a salvação oferecida por Deus, trazida por Jesus e testemunhada pelos discípulos, não é património ou monopólio dos judeus ou dos cristãos oriundos do judaísmo; mas é um dom oferecido a todos os que têm o coração aberto às propostas de Deus.

 

INTERPELAÇÕES

  • Deus vê todos os homens e mulheres como seus filhos e suas filhas muito queridos. Ele não os discrimina pela cor da pele, pela raça, pela nação a que pertencem, pela posição de que disfrutam na sociedade: Ele ama a todos por igual, com um amor sem limites. O seu grande desejo é vê-los caminhar pela vida, livres e felizes, até ao encontro final com Ele. Por isso, Ele oferece-lhes a salvação: chama-os, fala-lhes, abraça-os, indica-lhes os caminhos que devem percorrer, apoia-os e sustenta-os ao longo da caminhada, mostra-lhes a meta a alcançar… A salvação que Ele oferece só não chega àqueles que se fecham no orgulho e na autossuficiência, recusando os dons de Deus. O Batismo foi, para todos nós, o momento do nosso “sim” a Deus e à sua oferta de salvação; mas é preciso que, em cada instante, renovemos esse primeiro “sim” e que vivamos numa permanente disponibilidade para acolher Deus, as suas propostas, os seus dons, o seu amor. Depois do nosso “sim” inicial, continuamos disponíveis para acolher a salvação que Deus nos oferece? Procuramos escutar as indicações que Ele nos dá e caminhar de acordo com elas? Acreditamos firmemente que as propostas de Deus nos conduzem na direção da Vida verdadeira, da Vida eterna, da felicidade sem fim?
  • A ideia de que Deus não exclui ninguém da salvação e não faz aceção de pessoas parece-nos um dado perfeitamente lógico e evidente. Mas, aceitar essa lógica, traz consequências à nossa vida, particularmente à forma como vemos os outros homens e mulheres com quem nos cruzamos nos caminhos da vida. O Deus que ama todos os seus filhos e filhas, sem exceção, convida-nos a acolher todos os irmãos – mesmo os “diferentes”, mesmo os incómodos – com bondade, com compreensão, com amor; o Deus que derrama sobre todos a sua salvação convida-nos a não discriminar “bons” e “maus”, “santos” e “pecadores” (frequentemente, os nossos juízos acerca da “bondade” ou da “maldade” dos outros falham redondamente); o Deus que convida cada homem e cada mulher a integrar a comunidade da salvação diz-nos que temos de acolher e amar todos, independentemente da sua raça, da cor da sua pele, da sua origem, da sua preparação cultural, do seu lugar na escala social. Não apenas em teoria, mas sobretudo nos nossos gestos concretos, somos chamados a anunciar esse mundo de Deus, sem exclusão, sem marginalização, sem intolerância, sem preconceitos. Como vemos e como lidamos com os “diferentes”? Nós, filhos amados de um Deus que não faz aceção de pessoas, alinhamos em preconceitos, em conclusões precipitadas, em juízos defeituosos, em posições ideológicas que dividem, que marginalizam, que segregam pessoas ou grupos humanos?
  • Quando Pedro chega a casa de Cornélio, este veio-lhe ao encontro e prostrou-se a seus pés… Mas Pedro disse-lhe imediatamente: “levanta-te, que eu também sou um simples homem” (vers. 25-26). A atitude humilde de Pedro faz-nos pensar como são ridículas e desprovidas de sentido certas tentativas de afirmação pessoal diante dos irmãos, certas poses de superioridade, a busca de privilégios e de honras, as lutas pelos primeiros lugares… Aqueles a quem, numa comunidade – civil ou religiosa – foi confiada a responsabilidade de presidir, de coordenar, de organizar, de animar, devem sentir-se “simples homens”, humildes instrumentos de Deus. A sua missão é servir, ajudar, cuidar, não procurar privilégios, honrarias, situações que satisfaçam as suas ambições pessoais. Quando sou chamado a uma determinada missão na comunidade, como a encaro? Como é que trato aqueles a quem devo servir no contexto da missão que me foi confiada?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)

Refrão 1: O Senhor manifestou a salvação a todos os povos.

Refrão 2: Diante dos povos manifestou Deus a salvação.

Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.

 

LEITURA II – 1 João 4,7-10

Caríssimos:
Amemo-nos uns aos outros,
porque o amor vem de Deus
e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus.
Quem não ama não conhece a Deus,
porque Deus é amor.
Assim se manifestou o amor de Deus para connosco:
Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito,
para que vivamos por Ele.
Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amámos a Deus,
mas foi Ele que nos amou
e enviou o seu Filho
como vítima de expiação pelos nossos pecados.

 

CONTEXTO

Como vimos nos domingos anteriores, a Primeira Carta de João é uma instrução escrita destinada a algumas Igrejas da Ásia Menor nascidas em contexto joânico (quer dizer, ligadas à figura do apóstolo João, que passou os últimos anos da sua vida em Éfeso, cidade situada na costa da Jónia, junto da moderna Selçuk, na atual Turquia). Combate as doutrinas heréticas de seitas pré-gnósticas que, pelo final do séc. I, lançavam a confusão nas comunidades cristãs; e define os princípios fundamentais da vida cristã autêntica.

Neste contexto de confronto com as heresias pré-gnósticas, uma das questões mais controversas (e à qual o autor da Primeira Carta de João dá uma importância fundamental) era a questão do amor ao próximo. Os hereges pré-gnósticos afirmavam que o essencial da fé residia na vida de comunhão com Deus e negligenciavam as realidades do mundo. Achavam que se podia descobrir “a luz” e estar próximo de Deus, mesmo odiando o próximo (cf. 1 Jo 2,9). Ora, de acordo com o autor da Primeira Carta de João, o amor ao próximo é uma exigência central da experiência cristã. A essência de Deus é amor; e ninguém pode dizer que está em comunhão com Ele se não se deixou contagiar e embeber pelo amor.

O texto que nos é proposto pertence à terceira parte da carta (cf. 1 Jo 4,7-5,12). Aí, o autor estabelece como critério da vida cristã autêntica a relação entre o amor a Deus e o amor aos irmãos. É nessa dupla dimensão que os cristãos devem encontrar a sua identidade.

 

MENSAGEM

Para o autor da Primeira Carta de João há um “dogma” fundamental que se impõe com uma força irresistível e que marca toda a existência cristã: a certeza de que “Deus é amor”. Isso significa que a característica mais marcante do ser de Deus é o amor e que a atividade mais específica de Deus é amar. A prova indesmentível de que Deus é amor é o facto de Ele ter enviado o seu único Filho ao encontro dos homens para lhes dar a Vida (vers. 9). Jesus Cristo, o Filho de Deus que incarnou na história humana, cumprindo o plano do Pai, mostrou em gestos concretos de cura e de cuidado o amor de Deus pelos homens, sobretudo pelos mais pobres, pelos excluídos, pelos marginalizados… Por amor, Ele lutou até à morte para libertar os homens da escravidão, da opressão, do egoísmo, do sofrimento; por amor, Ele caminhou para a cruz e entregou a sua vida até à última gota de sangue; por amor, Ele enfrentou o sepulcro e venceu a morte. Toda a vida de Jesus afirma e garante o imenso amor que Deus nos tem.

Mais ainda: Deus não esperou que o amássemos para nos amar; amou-nos quando estávamos longe d’Ele, amou-nos apesar do nosso pecado, das nossas escolhas erradas, da nossa indiferença, das nossas revoltas. Deus amou-nos quando o não merecíamos. O amor de Deus é um amor incondicional, gratuito, desinteressado, que não exige nada em troca; é um amor que nos purifica, que nos reabilita e que nos salva (vers. 10).

Nós, discípulos de Jesus, conhecemos bem o amor de Deus. Vimo-lo presente em Jesus, na sua vida, nas suas palavras, nos seus gestos, na sua morte. E, batizados em Cristo, tornamo-nos filhos queridos desse Deus que ama sem medida. Agora é a Vida de Deus que circula em nós. Ora, se Deus é amor, esse amor deve circular em nós, encher o nosso coração e transparecer nos nossos gestos. A Vida de Deus que circula em nós traduz-se, portanto, em gestos concretos de amor aos irmãos. Para os que nasceram de Deus só há uma forma de viver: amando os irmãos com o mesmo amor incondicional, desinteressado e gratuito que caracteriza o ser de Deus (vers. 7).

 

INTERPELAÇÕES

  • “Deus é amor” – diz o autor da Primeira Carta de João. Não se trata de uma definição abstrata ou de uma tese académica; é uma constatação que se impõe a partir da contemplação das ações e das intervenções de Deus na história e na vida dos homens. Deus começou por criar o universo, o mundo e os seres humanos com amor e cuidado de artista. Depois, ao longo da história humana, Ele procurou sempre fazer-se presente no caminho dos seus filhos e dar-lhes o seu amor: revelou-lhes o seu rosto, comprometeu-se com eles numa aliança, indicou-lhes os caminhos que eles deviam percorrer para encontrar Vida, avisou-os repetidamente para não enveredarem por caminhos de morte… Chegou mesmo a enviar o seu Filho Unigénito ao encontro dos homens para lhes oferecer a salvação. É verdade: a história da salvação é uma extraordinária história de amor que tem Deus como protagonista. E esta história não está terminada, pois o amor de Deus pelos seus filhos nunca se esgota. Nós continuamos hoje, a cada passo do caminho, a experimentar a realidade desse amor. E é com a certeza do amor sempre fiel de Deus que avançamos, enfrentando as crises, as incertezas, as tempestades e as vicissitudes que marcam a história do nosso tempo. Estamos conscientes disto? Sentimo-nos amparados pelo amor de Deus ao longo do caminho que todos os dias percorremos? Damos testemunho diante dos outros homens e mulheres que caminham ao nosso lado da nossa confiança inquebrantável num Deus que nos ama?
  • “Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus”. É uma afirmação extraordinária, que talvez nos obrigue a rever alguns dos nossos esquemas mentais. Convida-nos a ver como nossos irmãos, membros da família de Deus, todos aqueles que, por amor, fazem o bem. Os seus nomes podem nem constar nos livros de registos dos batizados que guardamos nos nossos cartórios paroquiais; mas eles “conhecem a Deus”, estão muito próximos de Deus, são de Deus. Como vemos os nossos irmãos e irmãs que estão fora da comunidade cristã ou que levam vidas condenáveis do ponto de vista da moral vigente, mas que procuram servir, amar e cuidar os seres humanos que sofrem? Como consideramos aqueles que, dizendo-se ateus ou agnósticos, defendem os mais fracos, lutam pelos direitos e pela dignidade dos seus irmãos?
  • Se somos “filhos” desse Deus que é amor, “amemo-nos uns aos outros” com um amor igual ao de Deus – amor incondicional, gratuito, desinteressado. Ser “filho de Deus” não significa passar a vida a olhar para o céu, ignorando as dores, as necessidades e as lutas dos irmãos que caminham ao nosso lado; ser “filho de Deus” não é ter apreço pelas “coisas da religião” e ignorar os dramas dos pobres, dos oprimidos, dos marginalizados; ser “filho de Deus” não é tratar bem algumas pessoas que nos “calham bem” ou com as quais nos identificamos mais, e passar ao lado daqueles que não nos agradam ou com as quais não nos identificamos. A vida de Deus que enche os corações dos crentes deve manifestar-se em gestos concretos de solidariedade, de serviço, de dom, em benefício de todos os irmãos. É assim que eu vivo a minha filiação divina, amando todos, sem distinção, em gestos concretos de serviço, de entrega, de doação?

 

ALELUIA – João 14,23

Aleluia. Aleluia.

Se alguém Me ama, guardará a minha palavra.
Meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada.

 

EVANGELHO – João 15,9-17

Naquele tempo,
Disse Jesus aos seus discípulos:
«Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei.
Permanecei no meu amor.
Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor,
assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai
e permaneço no seu amor.
Disse-vos estas coisas,
para que a minha alegria esteja em vós
e a vossa alegria seja completa.
É este o meu mandamento:
que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei.
Ninguém tem maior amor
do que aquele que dá a vida pelos amigos.
Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando.
Já não vos chamo servos,
porque o servo não sabe o que faz o seu senhor;
mas chamo-vos amigos,
porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai.
Não fostes vós que Me escolhestes;
fui eu que vos escolhi e destinei,
para que vades e deis fruto
e o vosso fruto permaneça.
E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome,
Ele vo-lo concederá.
O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».

 

CONTEXTO

O Evangelho do sexto domingo da Páscoa situa-nos, outra vez, em Jerusalém, numa noite de quinta-feira do mês de Nisan do ano trinta, um dia antes da celebração da Páscoa judaica. Jesus está à mesa com os seus discípulos, numa inolvidável ceia de despedida. É o mesmo cenário do Evangelho que escutamos no passado domingo.

Sobre Jesus e o seu grupo de discípulos paira a sombra da cruz. Nessa noite, após a ceia, Jesus atravessará o Vale do Cedron, a oriente da cidade, e dirigir-se-á ao Getsemani (“lagar de azeite”), um jardim situado no sopé do Monte das Oliveiras, onde estará alguns momentos em oração. Aí será preso pelos soldados do Templo. Durante essa noite comparecerá diante do Sinédrio, será julgado e condenado à morte. Na manhã do dia seguinte, depois de a sentença ser confirmada pelo governador romano, será crucificado.

Enquanto convive, à mesa, com os discípulos, Jesus está perfeitamente consciente do que o espera nas próximas horas. Não está preocupado com o que lhe vai acontecer: quando aceitou o projeto do Pai e começou a anunciar o Reino, Ele sabia os riscos que iria correr; mas preocupa-se com aqueles discípulos que estão com Ele à mesa nessa noite de quinta-feira… Que será deles quando o seu Mestre lhes for tirado? Poderão, sem Jesus a mostrar-lhes o caminho a cada passo, levar para a frente o projeto do Reino? Saberão discernir, no meio das crises e tempestades que terão de enfrentar, o que é importante e o que é secundário? Conseguirão manter-se em relação com Jesus?

Depois da ceia, Jesus fala longamente com os discípulos e deixa-lhes as suas últimas indicações. Relembra-lhes o essencial da mensagem que procurou transmitir-lhes enquanto percorria com eles os caminhos da Galileia e da Judeia; anima-os com a promessa do Espírito; diz-lhes como é que poderão, pelo tempo fora, manter a ligação a Ele e continuar a receber d’Ele Vida. Tudo o que foi dito nessa noite, à volta da mesa, soa a “testamento final”. Os discípulos nunca mais esquecerão aquilo que Jesus disse nessa ceia de despedida.

 

MENSAGEM

O texto evangélico deste domingo dá sequência ao que escutamos no domingo anterior. Na “alegoria da videira e dos ramos” (Jo 15,1-8), os discípulos eram convidados a “permanecer em Jesus”; esse “permanecer em Jesus” concretiza-se agora no “permanecer no amor” (Jo 15,9-17): os discípulos devem manter-se unidos a Jesus pelo vínculo do amor.

A relação do Pai com Jesus é o modelo da relação que Jesus pretende manter com os discípulos. O Pai amou Jesus e demonstrou-Lhe sempre o seu amor; e Jesus correspondeu ao amor do Pai, cumprindo os seus mandamentos. Da mesma forma, Jesus amou os discípulos e demonstrou-lhes sempre o seu amor; e os discípulos devem corresponder ao amor de Jesus, cumprindo os seus mandamentos (vers. 9-10).

Quais são esses mandamentos do Pai que Jesus procurou cumprir com total fidelidade e obediência? João refere-se aqui, evidentemente, ao cumprimento do projeto de salvação que Deus tinha para os homens e que confiou a Jesus. Jesus, em obediência ao projeto do Pai, veio ao encontro dos homens e caminhou com eles; libertou-os da opressão da Lei e de tudo aquilo que os mantinha prisioneiros das trevas; livrou-os do sofrimento e da doença; salvou-os do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência, do comodismo; ensinou-os a escolher a justiça, a verdade, a liberdade; abriu-lhes os olhos para que pudessem caminhar na luz; ensinou-os a viver no amor, a servir, a dar a vida para que todos tenham Vida. O Pai, fonte de amor, “mandou” o Filho salvar os homens de tudo aquilo que lhes roubava a Vida; e o Filho amou os homens “até ao extremo” e deu a sua própria vida para que os homens tivessem Vida em abundância. Por amor, Jesus cumpriu integralmente os “mandamentos” do Pai.

Da ação de Jesus nasceu o Homem Novo, livre do egoísmo e do pecado, capaz de estabelecer novas relações com os outros homens e com Deus. Os discípulos são o fruto da obra de Jesus. Eles formam uma comunidade de homens livres, que acolheram e assimilaram a proposta salvadora que o Pai lhes apresentou em Jesus. Eles nasceram do amor do Pai, amor que se fez presente na ação, nos gestos, nas palavras de Jesus.

Agora os discípulos, nascidos da ação salvadora e libertadora de Jesus, estão vinculados a Jesus. Devem, portanto, cumprir os “mandamentos” de Jesus como Jesus cumpriu os “mandamentos” do Pai. Como Jesus, os discípulos devem ser testemunhas da salvação de Deus e levar a libertação aos seus irmãos. Como Jesus, os discípulos devem amar, até ao dom total de si mesmos, para que os seus irmãos tenham Vida. Se o fizerem, estarão sempre em relação com Jesus, ligados a Jesus. Essa relação será fonte permanente de alegria, de realização plena, de Vida verdadeira (vers. 11).

Assim, a grande indicação que Jesus deixa aos discípulos, o seu grande “mandamento”, é que vivam no amor (“é este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei” – vers. 12). Jesus amou totalmente, até às últimas consequências, até ao dom da vida (vers. 13). Os discípulos devem viver da mesma forma que Jesus viveu: devem amar-se uns aos outros com um amor que é serviço, doação total, entrega radical. Desse amor nasce a comunidade do Reino, a comunidade do mundo novo, que testemunha, através do amor, a salvação de Deus. Deus faz-Se presente no mundo e age para libertar os homens através desse amor desinteressado, gratuito, total, que tem a marca de Jesus e que os discípulos são chamados a testemunhar.

Como é a relação entre Jesus e esta comunidade de Homens Novos que aprenderam com Jesus a viver no amor e que, amando até ao extremo, são as testemunhas no mundo da salvação de Deus?

A comunidade de Jesus e dos discípulos é uma comunidade dos “amigos” de Jesus (vers. 14). A relação que Jesus tem com os membros dessa comunidade não é uma relação de “senhor” e de “servos”, mas uma relação de “amigos”, pois o amor colocou Jesus e os discípulos no mesmo plano. Jesus continua a ser o centro do grupo, mas não se põe acima do grupo. Ele é e será sempre o companheiro dos discípulos. Une-os a lealdade e o afeto próprio dos “amigos”.

Estes “amigos” colaboram todos numa tarefa comum. Têm todos a mesma missão (testemunhar, através do amor, a salvação de Deus) e são todos responsáveis para que a missão se concretize. Os discípulos não são servos a soldo de um senhor, mas amigos que, voluntariamente e cheios de alegria e entusiasmo, colaboram numa tarefa que lhes traz alegria infinita.

Entre esses “amigos”, há total comunicação e confiança (o “servo” não conhece os planos do “senhor”; mas o “amigo” partilha com o outro “amigo” os seus planos e projetos). Aos seus “amigos”, Jesus comunicou-lhes o projeto de salvação que o Pai tinha para os seres humanos e também a forma de realizar esse projeto (através do amor, da entrega, do dom da vida). Jesus revela Deus aos “amigos”, não através de enunciados sobre o ser de Deus, mas mostrando, com a sua pessoa e a sua atividade, que o Pai é amor sem limites e trabalha em favor do Homem.

Os discípulos (os “amigos”) são os eleitos de Jesus, aqueles que Ele escolheu, chamou e enviou ao mundo a dar fruto (vers. 16a). Tal não significa que Jesus chame uns e rejeite outros; significa que a iniciativa não é dos discípulos e que a sua aproximação à comunidade do Reino é apenas uma resposta ao desafio que Jesus apresenta.

O objetivo desse chamamento é a missão (“escolhi-vos e destinei-vos para que vades e deis fruto” – vers. 16b). Jesus não quer constituir uma comunidade fechada, isolada, voltada para si própria, mas uma comunidade que vá ao encontro do mundo, que continue a sua obra, que testemunhe o amor, que leve a todos os homens o projeto libertador e salvador de Deus. O resultado da ação dos discípulos de Jesus será o nascimento do Homem Novo – isto é, de homens adultos, livres, responsáveis, animados pelo Espírito, que reproduzem os gestos de amor de Jesus no meio do mundo. Dessa forma, concretizar-se-á o projeto salvador de Deus. Esse “fruto” deve permanecer – quer dizer, deve tornar-se uma realidade efetivamente presente no mundo, capaz de transformar o mundo e a vida dos homens. Quanto mais forte for a intensidade do vínculo que une os discípulos a Jesus, mais frutos nascerão da ação dos discípulos.

Nessa ação, os discípulos não estarão sozinhos. O amor do Pai e a união com Jesus sustentarão os discípulos que, no meio do mundo, se empenham em realizar o projeto de salvar o Homem (16c).

O texto termina com uma nova referência ao mandamento de Jesus: “amai-vos uns aos outros” (vers. 17). O amor partilhado é a condição para estar vinculado a Jesus e para dar fruto. Se este mandamento se cumpre, Jesus estará sempre presente ao lado dos seus discípulos; e, essa presença impulsionará a comunidade e sustentá-la-á na sua atividade em favor do homem.

 

INTERPELAÇÕES

  • A primeira grande certeza que fica para os discípulos na sequência do que Jesus lhes disse naquela memorável ceia de despedida é que eles não vão andar sozinhos na sua marcha pela história. Jesus acompanhá-los-á em cada pedaço do caminho, sustentando-os com o seu amor, com a sua presença amiga, com as suas palavras luminosas e reconfortantes. Não é fácil para nós, homens e mulheres do séc. XXI, fazermos caminho carregando às costas o fardo pesado dos desafios e dos obstáculos que o nosso tempo nos traz; não é fácil, num contexto hostil e crítico, sentirmo-nos um “pequeno rebanho”, sem influência e sem poder, ignorados pelo mundo e aparentemente incapazes de mudar o rumo da história… Mas há uma coisa que não podemos esquecer: Jesus caminha ao nosso lado, dando-nos coragem e esperança, lutando connosco para vencer as forças da opressão, da injustiça, da violência e da morte. Sentimos que Jesus, vivo e ressuscitado, nos acompanha no caminho e alimenta a nossa esperança? Sentimo-nos pessoalmente ligados a Ele e alimentados pelo seu amor?
  • “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei” – disse Jesus aos discípulos ao despedir-se deles. Jesus deu testemunho do amor de Deus em cada gesto que fez e diante de cada homem ou mulher que com Ele se cruzou; por amor aos seus irmãos, Jesus lutou contra tudo aquilo que os fazia sofrer e os impedia de ter Vida; por amor a todos os homens e mulheres de ontem, de hoje e de amanhã, Jesus deu a vida até à última gota de sangue… Ele amou “até ao extremo”, numa doação total. Quem é “de Jesus” é convidado a viver do mesmo jeito, amando e doando a própria vida como Ele fez. É isto que fazemos, é assim que vivemos? Os homens e as mulheres que se cruzam connosco na estrada da vida veem brilhar em nós o amor de Jesus? As nossas comunidades, nascidas do amor de Jesus, são, realmente, cartazes vivos que anunciam e testemunham o amor, ou são espaços de conflito, de divisão, de luta pelos próprios interesses, de realização de projetos egoístas? As pessoas feridas e magoadas que se aproximam das nossas comunidades cristãs são acolhidas com o amor que aprendemos de Jesus, ou são tratadas com indiferença e arrogância?
  • Há quem ache que o caminho apontado por Jesus aos seus discípulos é um caminho de renúncia, de sofrimento, de sacrifício, que obriga a viver alheado de tudo aquilo que é belo, interessante e agradável. Mas não é assim. Tudo o que Jesus propôs aos discípulos vai no sentido de os ajudar a serem felizes: “Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” – disse-lhes Ele. Segundo Jesus, a verdadeira alegria não está nos bens efémeros, nos valores fúteis que não matam a sede de felicidade do ser humano; mas está no dom de si mesmo, no serviço simples e humilde aos irmãos, no cuidado dos mais frágeis, na vida oferecida por amor. Acreditamos nisto? Já fizemos a comparação entre a alegria titubeante que resulta dos valores efémeros e a alegria profunda e duradoura que brota de gestos autênticos de doação, de serviço, de cuidado aos irmãos?
  • Os discípulos são os “amigos” de Jesus. Jesus escolheu-os, chamou-os, partilhou com eles o conhecimento e o projeto do Pai, associou-os à sua missão; estabeleceu com eles uma relação de confiança, de proximidade, de intimidade, de comunhão. A comunidade cristã é uma comunidade de “amigos” reunidos à volta de Jesus. Pode ter irmãos a quem foi confiado o serviço da autoridade; mas não é uma comunidade de “senhores” e de “servos”, de “gente que manda” e “gente que obedece”, de “superiores” e de “súbditos”. É a comunidade dos “amigos” de Jesus, uma comunidade de “iguais”. E Jesus continua, apesar de tudo, a ser o centro e a referência, à volta da qual se constrói a comunidade dos discípulos. A Igreja de Jesus funciona realmente como uma família de “amigos” que se amam, que se ajudam mutuamente no caminho, que partilham projetos e ideais? A Igreja é uma comunidade de “irmãos”, onde todos têm voz, onde a opinião de todos conta e onde todos colaboram na descoberta dos caminhos apontados pelo Espírito? Jesus é, de facto, o centro à volta do qual se articula a vida dos seus “amigos”? Como é que no dia a dia nós, amigos de Jesus, desenvolvemos e aprofundamos o nosso encontro e a nossa comunhão com Ele?
  • “Fui eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça” – disse Jesus aos discípulos. Jesus não chamou os discípulos para os fechar nas sacristias; mas chamou-os para que dessem testemunho no mundo do projeto salvador de Deus. Os “amigos” de Jesus são chamados a mostrar em gestos concretos que Deus ama cada homem e cada mulher – e de forma especial os pobres, os marginalizados, os débeis, os pequenos, os oprimidos; os “amigos” de Jesus são convidados a eliminar o sofrimento, o egoísmo, a miséria, a injustiça, tudo o que oprime e escraviza os irmãos e desfeia o mundo; os “amigos” de Jesus são desafiados a ser arautos da justiça, da paz, da reconciliação, do amor; os “amigos” de Jesus têm como tarefa denunciar os pseudovalores que oprimem e escravizam os homens… Os membros da comunidade do Reino de Deus, transformados em Homens Novos pelo amor de Jesus, têm como missão testemunhar esse mundo novo que Deus quer oferecer aos homens e que Jesus anunciou na sua pessoa, nas suas palavras e nos seus gestos. Estamos, de facto, disponíveis para colaborar com Jesus nessa missão?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 6.º DOMINGO DE PÁSCOA
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

 

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 6.º Domingo de Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus…

2. BILHETE DE EVANGELHO.

Jesus não se contentou em dizer: “amai-vos uns aos outros”. Antes e depois d’Ele, muitos recomendaram isso. Mas Jesus precisa: “como o Pai Me amou, também Eu vos amei”. Tudo está nesta conjunção “como”, porque Jesus pede para vivermos o que Ele próprio viveu. É isso um verdadeiro testemunho. É o testemunho que Ele dá algumas horas antes da sua última refeição, quando lava os pés aos seus discípulos, dizendo-lhes: “é um exemplo que vos dei a fim de que vós façais também como Eu fiz”. Isso chama-se coerência. Jesus manifestou sempre a coerência entre as suas palavras e os seus actos. Se Ele chama os discípulos “amigos” e não “servos”, é porque os faz confidentes do seu pensamento e convivas da sua refeição, e é pelo seu testemunho, o do amor mútuo, que eles serão, por sua vez, autênticos testemunhos.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.

O amor, sempre o amor… Não haverá exagero, na Igreja, em falar sempre de amor? Muitos cristãos hoje, incluindo muitos jovens, têm saudade de uma religião forte, que ensine a lei, os mandamentos e a exigência da moral, recorrendo a uma estrita disciplina. Evidentemente, para que isso seja eficaz, é preciso falar mais do pecado e insistir na ameaça das punições divinas! Porém… Nestes nove versículos de São João, as palavras “amar”, “amor”, “amigo” aparecem doze vezes! Como fugir a isso? Jesus faz depender tudo de uma fonte primeira: “assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor”. Falando do amor de Deus, cometemos muito facilmente o erro de transpor para Deus a nossa maneira humana de amar. O amor que conhecemos implica sempre uma reciprocidade: ser amado para amar, receber para dar. Imaginamos então que o amor de Deus por nós depende da nossa maneira de o receber e de lhe responder. Ora, fazendo assim, esquecemos a palavra de São João: “não fomos nós que amámos Deus, foi Ele que primeiro nos amou”. O amor de Deus por nós existe antes de nós. Eu posso recusar este amor, mas Deus jamais deixará de me amar. Nunca poderei esgotar o seu amor. Somente deixando-me amar por Ele, chegarei, pouco a pouco, a amar como Ele me ama!

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

Ser verdadeiro… Tenhamos, nesta semana, a coragem de responder em verdade à declaração de amor que o Senhor nos faz. A cada um de nós, Ele diz: “Escolhi-te”. Sinceramente, no fundo de mim mesmo, o que respondo? Sou verdadeiramente feliz por isso? Como é que esta escolha do Senhor dá fruto?

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

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