09º Domingo do Tempo Comum – Ano A

ANO A
9º Domingo do Tempo Comum

Tema do 9º Domingo Comum

A liturgia do 9º Domingo Comum é um convite a construir a vida sobre o alicerce firme da Palavra de Deus. Quando a Palavra de Deus está no centro da vida e dá forma aos pensamentos, sentimentos e acções, o homem caminha, com segurança, ao encontro da realização plena, da vida definitiva.
No Evangelho Mateus convida a sua comunidade – e as comunidades cristãs de todos os tempos e lugares – a enraizar a sua vida na Palavra de Jesus e a traduzir essa adesão em acções concretas. Para ser cristão, não chega dizer palavras bonitas de adesão ao Senhor; mas é preciso esforçar-se por cumprir, em cada instante, a vontade de Deus e viver de acordo com os valores propostos por Jesus nas bem-aventuranças.
A primeira leitura, na mesma linha, convida os crentes a deixarem que a Palavra de Deus envolva e penetre toda a sua vida, marque os seus pensamentos, sentimentos e acções. Garante-nos que construir a vida à volta da Palavra de Deus é assegurar a felicidade e a vida definitiva.
A segunda leitura não se refere tão directamente ao tema do domingo (a Palavra de Deus); mas garante-nos que a salvação resulta do dom gratuito de Deus, tornado presente em Cristo, a Palavra viva de Deus, que veio ao encontro dos homens para os subtrair ao caminho da escravidão, do pecado e da morte.

LEITURA I – Deut 11,18.26-28.32

Leitura do Livro do Deuteronómio

Moisés falou ao povo dizendo:
«As palavras que eu vos digo,
gravai-as no vosso coração e na vossa alma,
atai-as à mão como um sinal
e sejam como um frontal entre os vossos olhos.
Ponho hoje diante de vós a bênção e a maldição:
a bênção,
se obedecerdes aos mandamentos do Senhor, vosso Deus,
que hoje vos prescrevo;
a maldição,
se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor, vosso Deus,
afastando-vos do caminho que hoje vos indico,
para seguirdes outros deuses que não conhecestes.
Portanto, procurai pôr em prática todos os preceitos e normas
que hoje vos proponho».

AMBIENTE

O Livro do Deuteronómio é aquele “livro da Lei” ou “livro da Aliança” descoberto no Templo de Jerusalém no 18º ano do reinado de Josias (622 a.C.) (cf. 2 Re 22). Neste livro, os teólogos deuteronomistas – originários do Norte (Israel) mas, entretanto, refugiados no sul (Judá) após as derrotas dos reis do norte frente aos assírios – apresentam os dados fundamentais da sua teologia: há um só Deus, que deve ser adorado por todo o Povo num único local de culto (Jerusalém); esse Deus amou e elegeu Israel e fez com Ele uma aliança eterna; e o Povo de Deus deve ser um único Povo, a propriedade pessoal de Jahwéh (portanto, não têm qualquer sentido as questões históricas que levaram o Povo de Deus à divisão política e religiosa, após a morte do rei Salomão).
Literariamente, o livro apresenta-se como um conjunto de três discursos de Moisés, pronunciados nas planícies de Moab. Pressentindo a proximidade da sua morte, Moisés deixa ao Povo uma espécie de “testamento espiritual”: lembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Deus e convida-os a renovar a sua aliança com Jahwéh.
O texto que hoje nos é proposto apresenta-se como parte do segundo discurso de Moisés (cf. Dt 4,44-28,68). Na realidade, é a conclusão de um conjunto de homilias sobre os principais preceitos do Decálogo (cf. Dt 6-11). O cenário é o da aliança.

MENSAGEM

O nosso texto começa com uma exortação (vers. 18) que convida cada israelita a fazer dos mandamentos de Jahwéh uma referência fundamental. A presença da Palavra do Senhor deve ser penetrante e envolvente, abarcando a totalidade da vida do homem (“gravai-as no vosso coração e na vossa alma, atai-as como um sinal e sejam como um frontal entre os vossos olhos”). É este trecho que justifica o uso dos “tefilim” – duas caixinhas de couro contendo quatro trechos do Pentateuco, que os israelitas geralmente usam, a partir dos treze anos, durante as orações matinais (excepto aos sábados e dias festivos): uma no braço esquerdo, frente ao coração, e outra na testa, ambas presas com fitas de couro. Significam que a Palavra de Deus deve estar sempre presente e marcar os sentimentos (coração) e os pensamentos (testa) do crente. Os dois “tefilim” simbolizam, também, as duas dimensões da vida humana – teoria (testa) e prática (braço), pensamento e acção: tudo deve ser comandado pela Palavra de Deus.
Os vers. 26-28 encerram a secção das homilias sobre o Decálogo, começada em Dt 6,1. O esquema das bênçãos e das maldições – típico dos discursos sobre a aliança – pretende sugerir aos crentes que viver de acordo com os mandamentos de Deus é assegurar a felicidade e a vida plena; e que optar pelo orgulho e pela auto-suficiência (viver à margem das propostas de Deus) é escolher a desgraça e a infelicidade.
As bênçãos e as maldições não devem ser vistas, no entanto, como a recompensa ou o castigo de Deus para o bom ou para o mau comportamento do homem. Trata-se, apenas, de uma forma de expressar literariamente as consequências do uso da liberdade… Ao escolher um determinado caminho, o homem torna-se responsável pelas consequências dos seus actos.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e a partilha podem fazer-se à volta dos seguintes dados:

• O nosso texto sugere, em primeiro lugar, que a vida de um crente deve ser construída sobre a Palavra de Deus. É a Palavra de Deus que deve orientar as nossas decisões e opções. Que lugar ocupa a Palavra de Deus na minha vida? Consigo encontrar tempo para ler e saborear a Palavra e disponibilidade para a acolher no meu coração?

• Atenção: não chega colocar os “tefilim” e exibir a Palavra de Deus, como se ela fosse apenas uma dessas bandeiras que se usam nas manifestações, ou um remédio para “uso externo”; não chega ter a Bíblia na mesinha de cabeceira, com mais pó ou menos pó: a Palavra de Deus tem de ser interiorizada e acolhida, tem de tomar conta do nosso coração, alimentar os nossos pensamentos e os nossos sentimentos, condicionar as nossas acções.

• Muitos dos nossos contemporâneos decidiram que a Palavra de Deus é um peso morto que os impede de ser livres e preferiram escolher os seus próprios caminhos, indiferentes às propostas de Deus. No entanto, quando o homem se torna surdo a Deus e escolhe a auto-suficiência, facilmente resvala para esquemas de orgulho e de egoísmo, de opressão e de injustiça, de violência e de morte. Se os homens aceitassem dar ouvidos a Deus e às suas propostas, o mundo não seria um lugar mais feliz?

SALMO RES
PONSORIAL – Salmo 30 (31)

Refrão: Sede o meu refúgio, Senhor.

Em Vós, Senhor, me refugio, jamais serei confundido,
pela vossa justiça, salvai-me.
Inclinai para mim os vossos ouvidos,
apressai-Vos em me libertar.

Sede a rocha do meu refúgio
e a fortaleza da minha salvação:
porque Vós sois a minha força e o meu refúgio,
por amor do vosso nome, guiai-me e conduzi-me.

Fazei brilhar sobre mim a vossa face,
salvai-me pela vossa bondade.
Tende coragem e animai-vos,
vós todos que esperais no Senhor.

LEITURA II – Rom 3,21-25a.28

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos

Irmãos:
Independentemente da Lei de Moisés,
manifestou-se agora a justiça de Deus,
de que dão testemunho a Lei e os Profetas;
porque a justiça de Deus vem pela fé em Jesus Cristo,
para todos e sobre todos os crentes.
De facto não há distinção alguma,
porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus;
e todos são justificados de maneira gratuita pela sua graça,
em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus,
que Deus apresentou como vítima de propiciação,
mediante a fé, pelo seu sangue,
para manifestar a sua justiça.
Na verdade, estamos convencidos
de que o homem é justificado pela fé,
sem as obras da Lei.

AMBIENTE

Quando Paulo escreve aos Romanos, está a terminar a sua terceira viagem missionária e prepara-se para partir para Jerusalém. Tinha terminado a sua missão no oriente (cf. Rom 15,19-20) e queria levar o Evangelho ao ocidente. Sobretudo, Paulo aproveita a carta para contactar a comunidade cristã de Roma e apresentar aos membros da comunidade os principais problemas que o ocupavam (entre os quais sobressaía a questão da unidade – um problema bem presente na comunidade cristã de Roma, afectada por alguns problemas de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos). Estamos no ano 57 ou 58.
Nesse contexto, Paulo vai sublinhar que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Depois de notar que o pecado é uma realidade universal, que afecta todos os homens (cf. Rom 1,18-3,20), Paulo acentua que é a “justiça de Deus” que dá vida a todos, sem distinção (cf. Rom 3,1-5,11).
É neste contexto da reflexão sobre a “justiça de Deus” que a leitura de hoje nos coloca.

MENSAGEM

Para Paulo, o pecado é uma realidade sempre presente no mundo, que penetra a totalidade da vida e da história do homem. Ninguém, portanto – judeu, grego, ou romano – tem o direito de se considerar superior e de olhar os outros com desprezo ou arrogância.
Esta constatação catastrófica parece impelir ao desespero: que resta a esse homem pecador, incapaz por si só de ter acesso à salvação? O desespero? O afundar-se cada vez mais no pecado? Como superar esta dinâmica de pecado e de escravidão que atinge toda a humanidade?
É aqui que, na teologia paulina, entra o conceito de “justiça de Deus”: apesar de viverem entranhados no pecado, todos os homens – judeus, gregos e romanos – foram salvos pela “justiça de Deus”. O que é que isto significa?
Na linguagem bíblica, a “justiça” é, mais do que um conceito jurídico, um conceito relacional. Define a fidelidade a si próprio, à sua maneira de ser e aos compromissos assumidos no âmbito de uma relação. Ora, se Jahwéh se manifestou na história do seu Povo como o Deus da bondade, da misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo não significa dizer que Ele aplica os mecanismos legais quando o homem infringe as regras; significa, sim, que a bondade, a misericórdia, o amor, próprios do “ser” de Deus, se manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correcto no seu proceder. Paulo, ao falar do homem justificado, está a falar do homem pecador que, por iniciativa do amor e da misericórdia de Deus, recebe um veredicto de graça que o salva do pecado e lhe dá, de modo totalmente gratuito, acesso à salvação. Ao homem é pedido, somente, que acolha com humildade e confiança, uma graça que não depende dos seus méritos e que se entregue completamente nas mãos de Deus.
No texto que nos é proposto, Paulo apresenta a sua tese sobre a salvação mediante a fé em Cristo. Na perspectiva de Paulo, a força salvadora de Deus fez-se acontecimento histórico na vida dos homens, através de Jesus Cristo. Foi por Jesus Cristo que Deus realizou a redenção. A palavra grega utilizada por Paulo neste contexto (“apolutrôsis”) aparece, no Antigo Testamento grego, para definir a “libertação” do Povo de Deus da escravidão do Egipto (cf. Dt 7,8; 15,15), do cativeiro da Babilónia (cf. Is 41,14; 43,1) e do pecado (cf. Sal 130,8). A finalidade dessa acção divina é a constituição de um Povo novo, tornado propriedade de Deus e posto ao serviço de Deus.
Ora, foi esse, precisamente, o resultado da acção de Jesus: pelos seus gestos, pelas suas palavras, pelo dom da sua própria vida, Cristo libertou-nos do egoísmo, do fechamento em nós próprios, do pecado, e abriu-nos ao amor, ao serviço, ao dom da nossa própria vida em benefício dos irmãos. Foi dessa forma que Cristo nos ofereceu a “redenção”. Ao homem resta aderir a Jesus e acolher o seu dom (a “fé” é, precisamente, essa adesão).
O dom de Deus é, de qualquer forma, um dom totalmente gratuito. Não depende do merecimento do homem, ou das obras do homem (as “obras da Lei”), mas do amor de Deus. Dessa forma, ficam por terra as barreiras que dividiam os homens em bons e maus. Diante da iniciativa de Deus, todos – judeus, gregos e romanos – são iguais: uns e outros necessitam da salvação oferecida por Deus como dom; e Deus a todos oferece a justificação e a todos chama a deixar a escravidão e a fazer parte do seu Povo.

ACTUALIZAÇÃO

Considerar os seguintes dados:

• Paulo convida-nos a contemplar o amor de um Deus que nunca desistiu da humanidade e que, apesar de os homens insistirem no egoísmo, no orgulho, na auto-suficiência, continua a vir ao seu encontro, a mostrar-lhes o seu amor, a fazer-lhes propostas de vida. Trata-se de um amor gratuito e incondicional, que se traduz em dons não merecidos; mas esses dons, uma vez acolhidos, conduzem-nos à felicidade plena.

• Está em moda uma certa atitude de indiferença face a Deus, ao seu amor e às suas propostas. Em geral, os homens de hoje preocupam-se mais com as cotações da Bolsa de Valores, com as peripécias da última jornada do campeonato de futebol, com o caminho mais seguro para impressionar o chefe e subir na empresa, do que com Deus e com o seu amor. Como resultado, temos o homem desencantado e carente, que descobre bruscamente
a sua finitude (nos dramas da vida, na doença, na velhice, na falência das apostas e das seguranças humanas) e não sabe a que se agarrar. Daí o desânimo, a náusea, o cansaço da vida, a depressão. Não será tempo de redescobrirmos o Deus que nos ama, de reconhecermos o seu empenho em conduzir-nos rumo à felicidade plena e de aceitarmos essa proposta de caminho que Ele nos faz?

• A salvação é, na perspectiva de Paulo, um dom que se torna acontecimento histórico na vida dos homens, através de Jesus Cristo. Com o exemplo da sua vida, da sua entrega diária aos homens, da sua morte na cruz, Ele libertou-nos da escravidão do egoísmo e mostrou-nos que a vida plena resulta do amor que se dá até às últimas consequências. A proposta de Jesus tem tido consequências, a nível prático, na minha vida? Onde é que eu tenho procurado a salvação: no egoísmo, no orgulho, na auto-suficiência, no poder, na riqueza, ou no amor, no serviço, no dom da vida?

• É preciso ter a consciência de que a salvação é um dom de Deus e não o resultado dos nossos méritos pessoais. Isto tem duas implicações… A primeira é que de Deus nada podemos exigir; apenas podemos agradecer os seus dons e acolher, com humildade, a sua oferta de salvação. A segunda é que, mesmo sendo óptimas pessoas, não somos superiores aos nossos irmãos: todos somos pecadores; e a todos Deus oferece de igual modo a salvação.

ALELUIA – Jo 15,5

Aleluia. Aleluia.

Eu sou a videira e vós sois os ramos, diz o Senhor:
quem permanece em Mim dá muito fruto.

EVANGELHO – Mt 7,21-27

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,
Disse Jesus aos seus discípulos:
«Nem todo aquele que Me diz ‘Senhor, Senhor’
entrará no reino dos Céus,
mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus.
Muitos Me dirão no dia do Juízo:
‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos
e em teu nome que expulsámos demónios
e em teu nome que fizemos tantos milagres?’
Então lhes direi bem alto:
‘Nunca vos conheci.
Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade’.
Todo aquele que ouve as minhas palavras
e as põe em prática
é como o homem prudente
que edificou a sua casa sobre a rocha.
Caiu a chuva, vieram as torrentes
e sopraram os ventos contra aquela casa;
mas ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.
Mas todo aquele que ouve as minhas palavras
e não as põe em prática
é como o homem insensato
que edificou a sua casa sobre a areia.
Caiu a chuva, vieram as torrentes
e sopraram os ventos contra aquela casa;
ela desmoronou-se e foi grande a sua ruína».

AMBIENTE

Estamos ainda no cenário do “sermão da montanha”. No cimo de um monte, Jesus continua a oferecer à sua comunidade a Lei que deve guiar o novo Povo de Deus ao longo da sua marcha pela história (como outrora Deus ofereceu ao Povo de Israel, na montanha do Sinai, a Lei que guiou o Povo na sua caminhada histórica).
Para uma compreensão mais cabal do texto convém ter presente a situação histórica da comunidade de Mateus… A redacção final do Evangelho segundo Mateus acontece provavelmente por volta da década de 80. Passaram dez anos sobre a destruição de Jerusalém e ainda não aconteceu a segunda vinda de Jesus. Os crentes estão desanimados e desiludidos. A sua vivência cristã entrou numa fase de desleixo, de rotina, de instalação, de conformismo; a sua fé tornou-se “morna” e sem grandes exigências. Por outro lado, é a época em que começam a aparecer falsos profetas, que se apresentam como enviados de Deus, que reivindicam a estima e a admiração da comunidade, mas que têm comportamentos pouco cristãos e ensinam doutrinas estranhas.
O evangelista contempla com preocupação alguns sinais de esfriamento do entusiasmo inicial, de desnorte, de confusão. É neste contexto que Mateus vai compor – utilizando diversos “ditos” de Jesus – a reflexão que o Evangelho de hoje nos apresenta.

MENSAGEM

O nosso texto apresenta duas partes, com dois temas distintos. No entanto, tanto uma como outra apelam a uma vida de coerência com a Palavra de Deus e com as propostas de Jesus.
Na primeira parte (vers. 21-23), Mateus oferece à sua comunidade critérios para identificar os falsos profetas, os falsos discípulos. A descrição de Mateus é bastante real (o que parece sugerir que esses falsos profetas eram, na comunidade de Mateus, mais uma realidade do que uma possibilidade)… Eles dizem “Senhor, Senhor”, mas não fazem a vontade de Deus; profetizam, expulsam demónios, fazem milagres em nome de Deus, mas não mantêm com Deus uma relação de comunhão e de intimidade; têm Deus nos lábios, mas o seu coração está cheio de iniquidade… Falam muito e bem, mas as suas obras denunciam a sua falsidade. O verdadeiro profeta, o verdadeiro discípulo, é aquele que, para além das palavras que diz, faz a vontade do Pai que está nos céus.
Na segunda parte (vers. 24-27), temos a parábola das duas casas – uma construída sobre a areia e outra construída sobre a rocha.
Na perspectiva de Mateus, o que é construir a casa sobre a rocha? A situação da perícopa – no final do “sermão da montanha” – di-lo claramente: é construir a vida de acordo com os ensinamentos e propostas apresentados por Jesus no “sermão da montanha”. Esse é o caminho seguro para encontrar um sentido para a própria existência. As vicissitudes da caminhada não impedirão o homem de alcançar a vida plena, se a sua vida estiver construída sobre a Palavra de Jesus.
Na perspectiva de Mateus, o que é construir a casa sobre a areia? É seguir o caminho do próprio egoísmo e da própria auto-suficiência, à margem das propostas apresentadas por Jesus no “sermão da montanha”. Nessas circunstâncias, a “casa” desmoronar-se-á rapidamente e não dará qualquer garantia de eternidade, de vida plena e definitiva.
No conjunto, o Evangelho de hoje convida a comunidade de Mateus (marcada pela rotina, pela instalação, pelo desânimo, pelo desleixo, pelo desnorte, pela confusão trazida pelos “falsos profetas”) e as comunidades cristãs de todos os tempos, a enraizar a sua vida na Palavra de Jesus e a traduzir essa adesão em acções concretas. A Palavra de Jesus tem de ser, realmente, assumida, interiorizada, transformada em vida concreta pelo crente. Não basta invocar o Senhor, ou ter gestos externos de piedade – mesmo que esses gestos sejam espectaculares: é preciso viver dia a dia, momento a momento, com fidelidade e constância, as propostas de Jesus.

ACTUALIZAÇÃO

Para a reflexão e partilha, considerar os seguintes elementos:

• A questão essencial que aqui nos é posta é fazer da proposta de Jesus o alicerce firme sobre o qual construímos a nossa vida. É a proposta de Jesus que deve servir de base aos nossos pensamentos, palavras e gestos.

• Muitos homens e mulheres do nosso tempo estão convencidos de que ser cristão é ter o nome inscrito no livro de registos de baptismo da sua paróquia, ou fazer parte da confraria do Santíssimo Sacramento, ou estar ligado à comissão de festas em honra do padroeiro da freguesia, ou aparecer na Igreja nos casamentos e funerais… Há até quem se assuma, orgulhosamente, como “cristão, não praticante”, como se o “ser cristão” fosse um ofício do qual nos reformamos, ou fosse um passatempo que nos ocupa só nas horas vagas, ou fosse ter simpatia por um clube do qual nos recusamos a pagar as quotas… Mateus deixa as coisas bem claras: “ser cristão” não é possuir um bilhete de identidade que atesta o nosso baptismo; mas é esforçar-se seriamente por viver, vinte e quatro horas por dia, de acordo com as propostas de Deus. Como é que me situo face a isto? Para mim, “ser cristão” é uma característica que eu herdei por nascimento (e da qual tenho tão pouca culpa como ser baixo e gordo), ou é um compromisso sério que eu um dia assumi (e que procuro, a cada instante, concretizar na minha vida) de “fazer a vontade do Pai que está nos céus”?

• Convém ter presente que “fazer a vontade do Pai que está nos céus” não se confunde necessariamente com o cumprimento de ritos externos (práticas de piedade, comportamentos “religiosamente correctos”, cerimónias solenes, celebrações litúrgicas espampanantes, devoções, recitação de fórmulas, etc.). Os ritos externos não valem por si, mas enquanto expressão da atitude interior de adesão a Deus e de cumprimento da sua vontade… Que sentido faz cumprir escrupulosamente os ritos, e no resto da vida ignorar os valores de Deus? Por outro lado, que valor tem a religião tornada espectáculo mediático, se ela não levar a um compromisso efectivo com Deus e com os irmãos?

• Construir a casa sobre a rocha é aderir às propostas de Jesus e construir a vida sobre o espírito das bem aventuranças – ou seja, escolher a liberdade face aos bens, a partilha, a mansidão, o empenho pela justiça e pela paz, a misericórdia, a sinceridade, o compromisso pelo “Reino”. Construir a casa sobre a areia é rejeitar as propostas de Jesus, escolher a auto-suficiência e construir a própria vida sobre valores efémeros – ou seja, o dinheiro, o poder, a fama, a glória, a mentira, a injustiça, a violência. Que importância assumem as propostas de Jesus na minha vida? A minha vida de todos os dias é – não teoricamente, mas de facto – construída sobre os valores que Jesus me propôs? Quais são os valores fundamentais que presidem à construção da minha vida?

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 9º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 9º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. CELEBRAR O CORAÇÃO DE JESUS.
Na sexta-feira passada (30 de Maio) celebrou-se a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O calendário litúrgico colocou este ano esta Solenidade em finais de Maio. Hoje inicia-se o mês do Coração de Jesus. Que neste domingo seja recordada esta celebração tão importante na vida da Igreja, vivida com intensidade nas nossas paróquias e em muitas congregações religiosas cujo carisma se centra no Coração de Jesus. Procuremos celebrar e viver, sempre e ao longo do mês de Junho, no Coração de Jesus, que é amor, ternura, misericórdia, compaixão. Celebremos o seu Coração no coração das nossas vidas e no coração do mundo. Sejamos profetas do Coração de Jesus, ajudando a construir a Civilização do Amor e o Reino do Coração de Jesus nas pessoas e na sociedade.

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Deus da Aliança, Tu nos convidas a deixar que a Palavra de Deus envolva e penetre toda a nossa vida, marque os nossos pensamentos, sentimentos e acções.
Nós Te pedimos: afasta-nos dos caminhos da maldição e mantém-nos na obediência à tua Aliança de Amor, para que a nossa vida seja construída à volta da tua Palavra, que nos assegura a felicidade e a vida definitiva.

No final da segunda leitura:
Deus da Graça, Tu nos concedes a salvação como dom gratuito, tornado presente em Cristo, a Palavra viva de Deus, que veio ao nosso encontro para nos subtrair ao caminho da escravidão, do pecado e da morte.
Nós Te pedimos: afasta-nos dos caminhos de pecado que nos privam da tua glória e justifica-nos de maneira gratuita pela tua graça, que acolhemos na fé.

No final do Evangelho:
Senhor Jesus, Tu nos convidas a enraizar a nossa vida na tua Palavra e a traduzir essa adesão em acções concretas.
Nós Te pedimos: orienta o nosso ser para cumprir, em cada instante, a tua vontade e viver de acordo com os valores por Ti propostos nas bem-aventuranças.

4. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III.

5. PALAVRA PARA O CAMINHO.
A Palavra de Deus em nós! Somos convidados a construir a vida sobre o alicerce firme da Palavra de Deus. Quando a Palavra de Deus está no centro da vida e dá forma aos pensamentos, sentimentos e acções, o homem caminha, com segurança, ao encontro da realização plena, da vida definitiva. Será que tal acontece? A Palavra é mesmo a rocha da nossa existência? Está gravada no coração e na alma? Tento compreender melhor a Palavra para a viver com mais entusiasmo? Partilho a Palavra com outros irmãos? Todo um caminho a fazer-se… Porque não intensificá-lo ao longo da próxima semana?

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

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