Irmão José Tarcísio Rodrigues Sena

O Irmão Tarcísio partiu para junto de Deus
O Irmão José Tarcísio Rodrigues Sena, filho de Manuel Rodrigues Sena e de Ludovina Bettencourt, nasceu a 6 de Novembro de 1934, na freguesia de Gaula, Madeira. Foi baptizado a 24 de Novembro de 1934 e crismado a 2 de Setembro de 1945. Entrou para o Colégio Missionário Sagrado Coração (Funchal) a 7 de Dezembro de 1950, onde permaneceu até 1955.
Foi recebido Postulante a 25 de Março de 1955, em Albissola, Itália e Noviço a 28 de Setembro desse mesmo ano. Emitiu a Profissão Religiosa a 29 de Setembro de 1956, também em Albissola. Foi nessa altura que assumiu o “nome de religião” com o qual ficou conhecido entre nós: Tarcísio. Fez a profissão Perpétua na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos) a 29 de Setembro de 1959, na Casa Sagrado Coração, em Aveiro.
Passou grande parte da sua vida no Colégio Missionário. Dedicou-se com grande esmero ao trabalho de secretaria e de contacto com os benfeitores e grupos missionários dehonianos da Madeira. Acompanhou o movimento dos Antigos Alunos do Colégio Missionário. Formou-se em Catequese, foi catequista e responsável pelo núcleo de catequese do Caminho do Monte da Paróquia de Santa Luzia (Funchal) de 1960 a 1986.
De Agosto de 1986 a Outubro de 1990 trabalhou na secretaria do Seminário Missionário Padre Dehon (Porto) e acompanhou o Grupo Missionário associado ao Seminário.
Em 1990 regressou à Madeira e aí viveu totalmente dedicado ao serviço da secretaria dos benfeitores do Seminário até este dia em que o Senhor o convidou para a sua presença.
Neste dia 22 de Novembro de 2010, o Senhor chamou-o à sua presença. O corpo deste nosso confrade estará em câmara ardente na capela do Colégio Missionário onde amanhã será cantado o Ofício dos Defuntos, às 9h00. Às 14h30 será celebrada a Missa de Exéquias, seguindo-se o funeral para o jazigo da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, no cemitério de S. Martinho, Funchal
Aos seus amigos e familiares e à comunidade do Colégio Missionário que tanto carinho manifestou para com o Irmão Tarcísio nestes anos difíceis da sua doença, expresso a minha comunhão e solidariedade e rezo pelo descanso eterno deste nosso querido e muito estimado confrade.
Pe. Zeferino Policarpo, scj
Superior Provincial
Homilia da Missa Exequial
Irmão José Tarcísio Rodrigues Sena
Funchal, 23 de Novembro de 2010
Primeira Leitura: Job 19, 1. 23-27
Salmo: Sl 102
Segunda Leitura: Rom 14, 7-12
Evangelho: Mt 11, 25-30
Caros familiares do Irmão Tarcísio
Caros confrades
Caros sacerdotes
Caros amigos
Estamos aqui reunidos para prestar a última homenagem ao nosso confrade, o Irmão Tarcísio. O Senhor chamou-o à sua presença aos 76 anos de idade, celebrados no início deste mês. Entrou aqui neste seminário com 16 anos, a 7 de Dezembro de 1950. E aqui viveu mais de 50 anos generosamente dedicados a Deus e à Congregação.
Estamos aqui reunidos para celebrar na fé o Deus da vida porque foi no Deus da Vida que o Irmão Tarcísio acreditou – “Eu sei que o meu Redentor está vivo”, (Primeira Leitura) – e é esse Deus da Vida que agora nos congrega aqui para dizermos um “até já” ao Irmão Tarcísio.
Estamos aqui reunidos para pedir a Deus que conceda ao Irmão Tarcísio a Felicidade Eterna pela qual ele tanto trabalhou e para nos animarmos na caminhada para esse horizonte feliz que dá razão de ser ao nosso quotidiano.
Um coração cheio de Deus
A Palavra de Deus que acabámos de escutar ajuda-nos a sintonizar com as coisas essenciais da nossa vida. Na 2ª Leitura S. Paulo aponta-nos o caminho para o verdadeiro modo de viver: “Nenhum de nós vive por si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor; e se morremos, morremos para o Senhor”. Ou seja: somos totalmente de Deus. Não nos pertencemos a nós próprios, não somos os donos absolutos da nossa vida. A vida é um dom de Deus que, no final da nossa peregrinação, temos que Lhe apresentar cheia de outros dons e de boas obras. Desse dom inestimável que é a vida, cada um de nós terá de dar contas a Deus, como nos recorda o apóstolo Paulo.
Nestes últimos anos o Irmão Tarcísio debateu-se com diversos problemas de saúde que o iam fragilizando dia após dia. No entanto, apesar de a vida se ir apagando lentamente, nunca perdeu as virtudes e as boas obras que caracterizaram o seu modo de ser e de viver. Conservou-as e aperfeiçoou-as até à hora da sua partida para o Pai e estou certo que tem tantas coisas boas para apresentar diante de Deus.
Gostava de destacar aqui alguns aspectos que mais marcaram a sua vida:
 
O Irmão Tarcísio era um homem simples e cativava pela sua simplicidade. Era simples no seu modo de conversar e de estar connosco, simples no seu modo de vestir e de se apresentar, simples no modo afável como se relacionava com os demais,…
O Irmão Tarcísio era um homem hospitaleiro e atento às pessoas. Cultivava o dom do acolhimento. Em primeiro lugar para com os membros da sua comunidade com os quais gostava de estar e aos quais gostava de servir. O Irmão Tarcísio tinha grande apreço pela vida comunitária.
Cultivava o dom do acolhimento também para os de fora. Quando se chegava ao Colégio Missionário logo se apressava em acolher bem. Deixava os seus afazeres para receber bem os confrades ou outras pessoas que vinham de visita. Outro gesto desta hospitalidade que dispensava a toda a gente era o postal de parabéns que tinha o extremo cuidado de enviar por ocasião do aniversário dos seus confrades. Assim fez durante anos a fio. O Irmão Tarcísio cuidava imenso deste aspecto tão importante que é o da relação com as outras pessoas, fossem confrades ou não. Era também bastante acolhedor para com os seminaristas. Por exemplo: quem não se recorda de ir ao seu escritório procurar selos, postais e “santinhos” para aumentar a sua coleção? E se tinha, dava generosamente, esboçando um sorriso nos lábios. Esta forma acolhedora de ser, est
endia-se também aos antigos alunos do Colégio Missionário, com quem procurava manter um estreito contacto e amizade.
Ultimamente, apesar da sua idade, foi ainda capaz de se adaptar aos novos tempos e socorrer-se das novas tecnologias da comunicação para estar em relação com as pessoas. Primeiro começou por usar o Messenger, depois o Facebook e mais recentemente chegaram os seus pedidos para adicionar o seu nome na lista de contactos do Skype. Aliás foram estes meios que também ajudaram o Irmão Tarcísio a manter-se em contacto com tantas pessoas e a matar os momentos de solidão e de vazio quando a doença o obrigou a circunscrever-se ao espaço do seu quarto.
O Irmão Tarcísio era um homem humilde. Preferia ser discreto e passar despercebido. Sentia-se incomodado quando era centro de atenções. Contentava-se com poucas coisas, vivia completamente desprendido e pobre e assumia a pobreza com um valor evangélico que o libertava do afã de ter para mais plenamente acolher os bens de Deus.
O Irmão Tarcísio era um homem de trabalho. Foi com grande dedicação e zelo apostólico que acompanhou os Grupos Missionários e coordenou o centro de catequese a funcionar no Colégio Missionário. Foi com grande carinho que dedicou toda a sua vida ao serviço humilde, discreto e persistente de contactar com os benfeitores das nossas obras. Cada benfeitor era para o Irmão Tarcísio um verdadeiro amigo.
Estes e tantos outros pequenos e simples gestos, faziam do Irmão Tarcísio um homem simpático, amigo, próximo, conversador, disponível… Todos nós nutrimos por ele uma grande admiração. O Irmão Tarcísio cultivou um coração simples e humilde que lhe permitiu compreender e viver as verdades mais profundas do Evangelho. Foi na escola do Coração de Jesus – frequentada ao longo de 76 anos de vida – que o Irmão Tarcísio aprendeu a mansidão e a humildade.
Podemos, pois, dizer que Irmão Tarcísio é para nós um exemplo de vida cristã e de vida consagrada. Estou certo que todos estes aspectos tão positivos e tão lindos da vida do Irmão Tarcísio que quis aqui destacar só têm explicação e são mais facilmente compreendidos por cada um de nós, quando vistos à luz de uma vida totalmente doada ao Senhor: “Se vivemos pertencemos ao Senhor” (Segunda Leitura). Só com o coração cheio de Deus é que é possível fazer as coisas de Deus. E o Irmão Tarcísio quis que Deus tomasse conta do seu coração e por isso entregou-se complemente a Ele com alegria e generosidade, em pobreza, castidade e obediência. Esta total oblação de vida encontrou a sua expressão mais perfeita quando o Irmão Tarcísio teve carregar as contingências, as limitações e os sacríficos exigidos pelas doenças que o atormentaram neste último trecho da sua passagem por este mundo. Foi no Coração de Jesus que ele encontrou abrigo, alívio e repouso: “Vinde a mim todos vós que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Evangelho).
Acção de Graças
Todos nós que conhecemos este bom confrade e amigo do qual guardamos tão grata memória, sentimos agora o dever de dar graças a Deus:
Obrigado, Senhor, pelo dom da vida, do baptismo, da fé e da vocação dehoniana que concedeste ao Irmão Tarcísio.
Obrigado, Senhor, por todas as qualidades humanas e espirituais com que enriqueceste a vida deste nosso confrade.
Obrigado, Senhor, pelo exemplo e pelo testemunho de vida e de consagração que o Irmão Tarcísio nos deixou.
Obrigado, Senhor, por todo o trabalho que o Irmão Tarcísio desenvolveu para que o Reino do Coração de Jesus chegasse ao coração das pessoas.
Obrigado, Senhor, por este nosso irmão simples, humilde, afável, generoso que colocaste nos anais da história da nossa Província.
Obrigado, Senhor, pelos membros da comunidade do Colégio Missionário, pelos familiares e por todas aquelas pessoas que, com tanto carinho e dedicação, cuidaram do Irmão Tarcísio, prestando-lhe todas as atenções para que estes últimos anos dolorosos da sua vida fossem vividos com sentido de esperança e de fé. O Irmão Tarcísio disse-me um dia que essas pessoas “eram os anjos que Deus lhe enviava”.
Obrigado, Senhor, por todos os que, com a sua amizade e professionalismo, aliviaram as dores e os sofrimentos do nosso querido Irmão Tarcísio.
Senhor da Vida,
recebe este nosso irmão no teu regaço.
Dá-lhe o descanso eterno,
dá-lhe a Paz, dá-lhe a Alegria,
dá-lhe a Felicidade do Céu que ele,
com tanta generosidade,
distribuiu aos seus irmãos aqui na terra.
Amén.
Pe. Zeferino Policarpo, scj
Superior Provincial
Em memória do Irmão Tarcísio
Recebi há pouco a notícia da partida do caríssimo Irmão Tarcísio para a casa do Pai. A tristeza e a saudade desta separação misturam-se com sentimentos de serenidade e de inspiração à bondade e à confiança a que a sua lembrança me convida.
O Irmão Tarcísio foi uma das primeiras pessoas que encontrei ao entrar no Colégio Missionário do Funchal e das que mais me marcaram, não tanto pelos seus discursos, mas sobretudo pelo seu exemplo e pelo acolhimento amigo sereno e alegre. Nesta sua escola vi e aprendi muitos dos valores que considero fundamentais na nossa vida de dehonianos.
Ao longo dos anos, voltando à casa que foi o meu berço na Congregação, era sempre imensamente grato ser objecto da sua atenção, do seu humor e estímulo.
Hoje, caro Irmão Tarcísio,
peço ao Senhor que o receba na sua casa,
com a bondade, a paz e a alegria
que você aprendeu do Seu Coração,
para nos acolher, compreender e apoiar,
neste caminho que fizemos juntos
e que você agora completa
nos braços misericordiosos do Senhor
a quem entregou toda a sua vida.
Pe. José Ornelas Carvalho
Superior Geral
 
 
Lo ricordo con simpatia
Partecipo con fraternità al lutto della comunità di Funchal per la morte di Fr. Tarcísio, amico sincero di lunga data, fin dai tempi del “prefetto” a Madeira. Lo ricordo con simpatia  e anche riconoscenza, per la semplicità e la sincerità dei suoi rapporti, per il suo servizio umile e perseverante, per la disponibilità verso gli altri che lo distingueva.
Abbiamo sempre mantenuto un legame, per merito suo, che non dimenticava mai un anniversario o una data importante per fare gli auguri. Prego per lui e lo penso nella gioia di Dio, ricompensa meritata da un “puro di cuore” come lui.
Saluti.
Pe. Antonio Panteghini
Superior Provincial dos Camarões
Graças a Deus pelo Irmão Tarcísio
Caro Pe. Zeferino e confrades,
Conheci pessoalmente o Irmão Tarcísio quando no ano passado estive na Madeira. Nessa altura já estava doente e a fazer os tratamentos com muita coragem e paciência! Unimo-nos a vós na celebração das exéquias, agradecendo ao Senhor por tudo o que nos ofereceu pela vida e dedicação do Irmão Tarcísio.
Que o Coração de Jesus o acolha no seu abraço de bondade.
 
Pe. Carlos Lobo
Superior Provincial de Moçambique
Ricordo con affetto
Carissimo Pe. Zeferino,
Grazie per la tua comunicazione.
Ricordo con affetto fratel Tarcísio: lo affido alla bontà del Cuore di Gesù; domani mattina lo ricordo in particolare nella santa messa.
Pe. Tullio Benini
Superior Provincial da Itália do Norte
Irmão Tarcísio: um grande exemplo de vida
Vou fazer um esforço à minha memória para lembrar os anos em que vivi com o Irmão Tarcísio.
Desde 1950 que nos conhecemos. Eu entrei no Colégio Missionário a 14 de Setembro de 1949 e o José Rodrigues Sena entrou em 1950. Quando chegou logo se apresentou dizendo que era da freguesia de Gaula e contou-me novidades da sua terra.
Em Dezembro de 1951 eu parti para a Itália para fazer o noviciado. Regressei em 1954 e fui de novo para o Colégio Missionário, onde voltámos a estar juntos. Em 1955 o José Sena vai para o noviciado, em Itália e regressa em Outubro de 1956.
É então que o Irmão Tarcísio (nome que assumiu aquando da Profissão Religiosa) começa o seu trabalho de secretário, pois tinha aprendido esse serviço durante o tempo de noviciado. Eu desempenhava as funções de ajudante de ecónomo. Graças a Deus vivemos na mesma comunidade durante vários anos e sempre amigos, como irmãos.
O Irmão Tarcísio tinha um bom carácter que facilitava muito a relação sadia com as pessoas. Na comunidade era muito brincalhão. Sempre vi nele um bom religioso que nos ajudava a viver a nossa vida de consagrados. Gostava da pontualidade. Cumpria com fidelidade os seus deveres e tratava as pessoas com muita delicadeza. Acolhia com simpatia os benfeitores que o procuravam para marcar missas ou fazer as suas ofertas ao Colégio Missionário. Cuidava com esmero da capela e das alfaias litúrgicas. Recordo também as “cartas anónimas” e outras brincadeiras e partidas que de vez em quando fazia aos confrades. Santas brincadeiras desse tempo!!! Ele era verdadeiramente um bom dehoniano.
Vivi muitos anos com o Irmão Tarcísio. Mas nos últimos 24 anos estávamos em comunidades diferentes. No entanto, mantínhamos o contacto um com outro, mas acabaram-se as “santas brincadeiras”! Nestes últimos anos, com as nossas doenças e maleitas trocávamos palavras de conforto…
O Irmão Tarcísio foi também para mim um grande exemplo no modo como aceitou a sua doença e enfrentou com a maior tranquilidade os últimos tempos da sua vida.
Paz à sua alma.
Ir. Domingos Vasconcelos, scj
Partiu um ícone
A partida do Irmão Tarcísio era esperada. Só não se sabia quando. E quando aconteceu, foi com se não fosse esperada.
Cheguei ao Colégio Missionário, numa ida quase ocasional e, como sempre, perguntei por ele. A resposta foi um silêncio embaraçado, acompanhado de um gesto suficiente.
Soube depois alguns pormenores, mas pouco importavam. Fui direito à capela. Rezar por ele? Obviamente que sim. Mas com a sensação de que não seria necessário.
Quem era o Irmão Tarcísio? Um ícone, quase um ex-libris. Quanto ele era conhecido e estimado, viu-se no funeral.
Passou pelo Seminário Missionário Padre Dehon, depois de longos anos vividos no Colégio Missionário. Nessa passagem pelo Porto começaram a manifestar-se os graves problemas de saúde que haviam da acompanhá-lo até ao fim. O regresso ao Colégio Missionário poderá ter trazido algum alívio, mas não resolveu a situação. Os problemas de saúde puderam ser identificados com maior rigor e isso permitiu o acompanhamento médico adequado. Mas a situação foi-se prolongando no tempo, com os consequentes sofrimentos e limitações.
Veio depois a insuficiência renal e aquela “via-sacra” três vezes por semana, que o fez penar como só Deus sabe. E nós também sabemos alguma coisa.
Veio a falta de forças. Vieram aquelas quedas que não auguravam nada de bom. Veio finalmente a dependência relativa, mas sempre causadora de sofrimento. E o recurso à cadeira de rodas. Enfim… Um apagar-se lento e, diga-se em abono da verdade, discreto e sereno.
E, entretanto, ele continuava no seu posto de trabalho. Ia dando conta do recado conforme podia. Mas estava sempre pronto para atender as pessoas que vinham marcar Missas. E, quantas vezes, não era só isso. Eram as longas conversas; eram os desabafos…
E era o cuidado com os aniversários, naquele simples postal que significava muito para sabe Deus quantas pessoas que o esperavam um ano inteiro!
E vinham ex-alunos. Gostavam de rever os espaços e as fotografias… e também as pessoas. Mas estas já não eram as mesmas. Quantas mudanças! Mas o “ex libris” estava lá no seu posto, com o seu sorriso acolhedor, com a sua memória fresca com as suas palavras pacatas e sábias, com a sua presença discreta mas reconfortante.
É assim que o recordo. É assim que o quero recordar, porque o que veio antes perde-se na noite dos anos que passaram e não voltam mais. Os tempos de menino e moço às voltas com os livros (o latim e a matemática!), nos primeiros anos, no Colégio Missionário; aquele susto do “ataque” seguido de queda nos degraus da entrada central, que fez temer o pior e pôs muita gente a rezar ao Pe. Dehon; as peripécias de uma formação como “irmãozinho”, em transes sucessivos, passando pelo noviciado em Savona, onde os encontros não eram bem vist
os e se limitavam aos “sorrisetti” esquivos e quase criminosos numa qualquer esquina de corredor, enfim, uma série de coisas que, felizmente, foram ficando para trás e já só são lembranças quase esquecidas de todo; aquela paz de alma, aquele sorriso aberto e, por vezes, maroto, os “versos satânicos”, e uma quantidade de outras coisas sempre pequeninas, sempre muito simples, mas nem por isso menos significativas e, sobretudo, sempre reveladoras de uma entrega e de uma fidelidade sem quebras; tudo isso quase se perde como material enterrado na construção de um pedestal em que aquilo que conta é o “ícone” que guardo na memória e que, nem parece verdade, um dia, pela calada da noite, partiu. Mas partiu mesmo?
Pe. Fernando Ribeiro, scj
Inesquecível mano Tarcísio
“Esse mundo passa, os séculos passam. Só quem nunca passará é Jesus Cristo”.
Só fiquei sabendo da sua partida para a casa do Pai, quando no dia 23 a minha família regressava do Colégio Missionário do seu funeral. Ao chegarem à casa, telefonaram-me logo. Pensavam que eu já sabia, mas não.
Obrigado por tudo aquilo que fizeste e sobretudo por aquilo que foste. Homem simples e alegre, confrade bondoso e simpático, verdadeiro missionário, pois durante toda a tua vida sempre te interessaste pelas missões e pelos missionários, dando tudo o que era possível e sobretudo acompanhando os vários grupos missionários espalhados na Madeira. Todos nós beneficiámos do teu trabalho. Certamente estás no céu. Já me precedeste. Lembraste da conversa que tivemos no mês de Janeiro deste ano, no Colégio Missionário, acerca das nossas vidas que estão prestes a terminar e que nós estávamos na bicha? Pois já partiram o Pe. José Vieira Alves e o Pe. Manuel de Gouveia e faltavam três… Seguindo a ordem cronológica, eu deveria ser o primeiro, mas é mesmo verdade que o homem propõe, mas Deus é quem dispõe. Os planos de Deus são diferentes dos nossos; tu me precedeste.
Sempre gosto de ir ao Colégio Missionário. Quando vou de férias à Madeira, a primeira visita é sempre o Colégio Missionário e quase sempre te encontrava na Secretaria, na Capela ou na sala de convívio.
No meio dos teus sofrimentos sempre sorrias, conversavas e às vezes com um certo humor. Por exemplo, uma vez me disseste: “Amanhã tenho de ir ao Calvário” (referindo-te aos dolorosos tratamentos hemodiálise que tinhas de fazer).
Todos os dias estavas no teu campo de trabalho, a secretaria, sempre a servir os benfeitores, os confrades, etc.
Sempre me perguntavas se eu precisava de alguma coisa e estavas sempre disposto a ajudar-me quando podias ou então dizias: “Vou falar com o Pe. Superior”. Realmente sempre acreditaste nesta frase que eu aprendi de ti: “Eu sei que o meu Redentor está vivo” e realmente Ele transparecia em ti. Sempre te estimei e amei, sempre rezei por ti e continuo a fazê-lo. No Céu intercede junto de Deus, de Nossa Senhora e do Padre Dehon, por mim e por todos os confrades, irmãos dehonianos para que as vocações continuem a aparecer.
O grão de trigo tende a germinar e nascer para produzir fruto… Então faz com que o número aumente e nunca acabe.
Temos um intercessor no Céu.
Despeço-me de ti com um grande abraço a até ao Céu, até breve!
Pe. José Diomário Gonçalves
Missionário em Moçambique
Boas recordações do Irmão Tarcísio
Do Irmão Tarcísio guardo tão boas recordações…
Um dia, voltando o Irmão Tarcísio da consulta com a Dr.ª Cecília Marinho, contou-me que respondeu à sua médica que só comia pão com Becel, ao que ela retorquiu: “As análises, porém, comprovam o uso de manteiga”.  Fui imediatamente informar-me na cozinha se não haveria bolos sem manteiga para o Irmão Tarcísio. “Se os bolos não levarem manteiga ficam muito duros”, disse-me a cozinheira, menina Celina e acrescentou: “O ecónomo deveria era comprar “madalenas””.
No Verão de 2009, o Irmão Tarcísio confidenciou-me que pensava ir à Missa dos doentes, na Sé, para lá receber a Santa Unção. Respondi-lhe que poderia estar muito frio, nessa altura, por ser Fevereiro. Juntos procurámos outra data para ambos recebermos o Sacramento da Unção dos Doentes, mesmo no Colégio Missionário.
Eu sentia que devia realizar aquele desejo, logo que fosse possível e acertámos o dia 6 de Novembro, dia do seu aniversário natalício.
Recordo com saudade o  acolhimento que o Irmão Tarcísio dispensava aos nossos visitantes. Era admirável o dom da disponibilidade para com todos: confrades, ex-alunos e benfeitores.
A sua simplicidade cativava quem quer que fosse e a observância religiosa fazia dele um Irmão e um dehoniano sempre respeitado e muito querido.
Pe. Eduardo Ferreira de Sousa, scj
O Irmão Tarcísio entrou na Vida Eterna
A 22 de Novembro de 2010 o Irmão Tarcísio entrou na vida eterna. Quem teve a oportunidade de o conhecer e de conviver com ele, pode dizer que perdeu um irmão. O seu nome verdadeiro era José Rodrigues Sena, mas só era conhecido por Irmão Tarcísio, nome que ele escolheu, para si, ao consagrar-se a Deus na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus. A escolha deste nome foi devida à sua devoção ao jovem mártir S. Tarcísio, que foi martirizado quando levava a sagrada comunhão aos cristãos encarcerados, na perseguição de Valeriano (em 257). A amizade que nos unia leva-me a prestar-lhe uma simples, humilde e sincera homenagem, muito ao seu estilo. Quero evidenciar duas virtudes, entre as muitas que tinha e que, a meu ver, uma foi a consequência da outra: a devoção à Santíssima Eucaristia e o acolhimento.
Ele não podia passar sem missa e sem adoração. Ao vê-lo em adoração era convidado, também eu, a adorar com a mesma simplicidade e silêncio. A segunda virtude que ele tinha era a do acolhimento. Sempre que ía à Madeira de visita à família, ía também visitar os meus confrades do Colégio Missionário. O Irmão Tarcísio era a pessoa a quem eu sempre procurava, quase sempre em primeiro lugar, pois estava sempre disponível, sempre pronto a acolher: deixava tudo para me fazer um pouco de companhia, o que fazia com gosto e com alegria. Dava a impressão que tinha o tempo todo deste mundo à sua disposição para acolher, comprazia-se com a minha visita, acompanhava-me a tomar qua
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