Liturgia

Events in Fevereiro 2017

  • Apresentação do Senhor

    Apresentação do Senhor


    2 de Fevereiro, 2017

    Esta festa já era celebrada em Jerusalém, no século IV. Chamava-se festa do encontro,hypapántè , em grego. Em 534, a festa estendeu-se a Constantinopla e, no tempo do Papa Sérgio, chegou a Roma e ao Ocidente. Em Roma, a festa incluía uma procissão até à Basílica de S. Maria Maior. No século X, começaram a benzer-se as velas.

    José e Maria levam o Menino Jesus ao templo, oferecendo-o ao Pai. Como toda a oferta implica renúncia, a Apresentação do Senhor é já o começo do mistério do sofrimento redentor de Jesus, que atingirá o seu ponto culminante no Calvário. Maria e José unem-se à oferta do seu divino Filho estando a seu lado e colaborando, cada um a seu modo, na obra da Redenção.

    Lectio

    Primeira Leitura: Malaquias 3, 1-4

    Assim fala o Senhor: "Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais, e o mensageiro da aliança, que vós desejais. Ei-lo que chega! - diz o Senhor do universo. 2Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer?Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras.  3Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará, como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o Senhor os que apresentam a oferta legítima. 4Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor como nos dias antigos, como nos anos de outrora".

    Os dois mensageiros anunciados pelo profeta introduzem-se mutuamente: um prepara a vinda do Senhor e outro realiza a Aliança, é o Esperado. Estas duas figuras perspetivam João Baptista e Cristo. Um é apenas precursor; o outro é o Messias esperado, de origem divina, o Redentor. O primeiro prepara o caminho; o segundo entra efetivamente no templo, santificando, pela oferta de si mesmo, o sacrifício da nova Aliança, os ministros e o culto.

    Segunda leitura: Hebreus 2, 14-18

    Uma vez que os filhos dos homens têm em comum a carne e o sangue, também Ele partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, 15e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão. 16Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de Abraão. 17Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. 18É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova.

    A carne e o sangue, submetidos ao poder da morte pelo inimigo, são divinizados e libertados por Cristo, Deus feito homem. A descendência de Abraão é restituída à vida. O Filho de Deus apresenta-se como primeiro entre muitos irmãos e como sacerdote, mediador na sua divindade e humanidade, da fidelidade de Deus, Pai da vida.

    Evangelho: Lucas 2, 22-40

    Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor.27Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito. 28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:  29«Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30porque meus olhos viram a Salvação  31que ofereceste a todos os povos,  32Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» 33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.  34Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»36Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

    O Evangelho da Infância de Jesus tem o seu ponto alto no templo, lugar da plenitude do povo de Israel. É aí que Zacarias ouve a palavra que dirige a história para a sua meta (anúncio de João); é aí que o Menino é apresentado a Deus, revelado a Simeão e a Ana. É daí que regressa a Nazaré. Pano de fundo da cena da apresentação é lei judaica segundo a qual os primogénitos são sagrados e, por isso, devem ser apresentados a Deus. O Pai responde à apresentação e oferta de Jesus com o dom do Espírito ao velho Simeão, que profetiza. Israel pode estar descansado: a sua história não acaba em vão. Simeão viu o Salvador e sabe que a meta é agora o triunfo da vida.

    Meditatio

    Os pais de Jesus, de acordo com a lei mosaica, 40 dias depois do nascimento do primeiro filho, foram ao Templo de Jerusalém para oferecer o primogénito ao Senhor e para a mãe ser purificada. Mas este rito não foi exatamente igual aos outros. Nos ritos comuns, eram os pais que apresentavam os filhos a Deus em sinal de oferta e de pertença; neste rito é Deus que apresenta o seu Filho aos homens. Fá-lo pela boca do velho Simeão e da profetisa Ana. Simeão apresenta-O ao mundo como salvação para todos os povos, como luz que iluminará as gentes, mas também como sinal de contradição; como Aquele que revelará os pensamentos dos corações.
    O encontro de Jesus com Simeão e Ana no Templo de Jerusalém é símbolo de uma realidade maior e universal: a Humanidade encontra o seu Senhor na Igreja. Malaquias preanunciava este encontro: «Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais». No Templo, Simeão reconheceu Jesus como o Messias esperado e proclamou-o salvador e luz do mundo. Compreendeu que, doravante, o destino de cada homem se decidia pela atitude assumida perante Ele; Jesus será ruína ou salvação. Como dirá João Baptista: Ele tem na mão a joeira para separar o trigo bom da palha (cf. Mt 3, 12).
    É o que acontece, a outra escala, também hoje: no novo templo de Deus que é a Igreja, os homens «encontram» Cristo, aprendem a conhecê-lo, recebem-no na Eucaristia, como Simeão o recebeu nos braços; a sua palavra torna-se, aí, para eles, luz e o seu corpo força e alimento. É a experiência que fazemos, sempre que vamos à missa. A comunhão é um verdadeiro encontro entre Deus e nós. Hoje, essa experiência é acentuada pelo simbolismo da festa: a procissão com que entramos na igreja com o sacerdote, levando a vela acesa e cantando, era, sinal deste ir ao encontro de Jesus que nos chama no interior da sua igreja, na esperança de irmos ao seu encontro um dia no Hypapante eterno, quando formos nós a ser apresentados por Ele ao Pai.
    A Candelária é festa de luz. A luz da fé não nos foi dada apenas para iluminar o nosso caminho, desinteressando-nos dos outros... A luz da fé também não é para ter acesa apenas na igreja, ou em certos momentos, mas em todos os momentos e situações da nossa vida... A nossa fé há de ser luz que ilumina, fogo que aquece... É luz e fogo quem é compreensivo e bom com todos... quem sabe apoiar os pequenos esforços... os pequenos progressos... quem tem palavras de amizade, de estímulo, de apoio... quem sabe dizer uma boa palavra, dar uma ajuda... O amor cristão tem a sua origem em Deus que nos amou e nos enviou o seu Filho com quem nos encontramos em vários momentos da nossa vida, particularmente quando celebramos a Eucaristia. Esse é o nosso encontro, enquanto esperamos o encontro definitivo no Céu.

    Oratio

    Ó Jesus, eis-me aqui para fazer a vossa vontade. Quero estar atento e ouvir as vossas ordens, os vossos desejos, que me chegam através da vossa Palavra, das orientações dos vossos representantes na terra, dos acontecimentos da minha vida e da vida dos meus irmãos. Uno-me à oblação generosa do vosso divino Coração. Que quereis que vos faça? Dizei-mo, pelos meus pastores, pelas vossas inspirações, pela vossa providência. Falai, Senhor, que o vosso servo escuta. Iluminai-me com a vossa luz divina e refleti-la-ei nos meus irmãos. Ámen.

    Contemplatio

    «Eis-me aqui, meu Deus, para vos servir e para fazer a vossa vontade: Eis a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra». Esta é a regra, Maria obedece. Está escrito na lei, no Levítico e no Êxodo. A jovem mãe apresentar-se-á no templo para ser purificada, quarenta dias depois do nascimento de um filho e oitenta dias depois do nascimento de uma filha. Maria não costuma hesitar quando se trata da lei. Cumpre tudo à letra, segundo a Lei de Moisés. No quadragésimo dia, está em Jerusalém. Não examina se está dispensada pelo carácter sobrenatural da sua maternidade. A hesitação não lhe vem, é a lei. Como o seu divino Filho, renuncia a todo o privilégio e, contente com a sorte comum, obedece à lei. Jesus obedece e deixa-se levar, apresentar, resgatar, Maria obedece também e deixa-se purificar. Como Jesus, Maria leva no meio do seu Coração a lei de Deus, como sua regra de vida. Oh! Como esta obediência pontual, humilde, heroica, condena todas as nossas hesitações, toda a nossa procura de exceções e de dispensas! Maria podia dizer: Eis a serva do Senhor. E eu posso dizer: Ecce venio: eis que venho, Senhor, para obedecer, para fazer a vossa vontade. Eis o teu servo. (Leão Dehon, OSP 3, p. 120).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a Palavra do Senhor:
    "Eu sou a luz do mundo" (Jo 8, 12).

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    Apresentação do Senhor (02 Fevereiro)

  • S. João de Brito, Presbítero e Mártir

    S. João de Brito, Presbítero e Mártir


    4 de Fevereiro, 2017

    João de Brito nasceu em Lisboa, a 1 de Março de 1647. Ainda criança, perdeu o pai, que fora mandado governar o Brasil por D. João IV, e lá faleceu. Aos 16 anos, João entrou no Noviciado da Companhia de Jesus em Lisboa. Foi ordenado sacerdote em 1673. Anelando conquistar almas para Jesus Cristo e sacrificar-se a exemplo de S. Francisco Xavier, partiu, pouco depois, para a Índias, onde trabalhou com ardor na missão do Maduré. A 4 de Fevereiro de 1693, sofreu o martírio, por decapitação, em Urgur. Foi canonizado em 1947.

    Lectio

    Primeira leitura: da féria (ou tempo Comum)

    Evangelho: Marcos 6, 7-17

    Naquele tempo, Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar. 7Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. 8Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto;9que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. 10E disse-lhes também: «Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali. 11E se não fordes recebidos numa localidade, se os seus habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.» 12Eles partiram e pregavam o arrependimento, 13expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos. 4O rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: «Este é João Baptista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres»;15outros diziam: «É Elias»; outros afirmavam: «É um profeta como um dos outros profetas.»16Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: «É João, a quem eu degolei, que ressuscitou.» 17Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara.

    Marcos apresenta-nos uma das facetas essenciais da eclesiologia do Novo Testamento: a proclamação do Reino não é feita ao acaso; há uma "instituição" que põe em movimento e planifica o anúncio da Boa Nova.
    Pregar o Reino implica ser enviado por Jesus. Da pregação faz parte um conteúdo intelectual, mas também uma dimensão prática. Por isso, Jesus deu aos Doze "poder sobre os espíritos impuros" (v. 7). Estes "espíritos impuros" ou "alienações" são tudo o que ameaça exteriormente o homem, não o deixando realizar-se como ser humano. A Boa Nova não é apenas uma determinada interpretação do mundo e da história, mas uma indicação de transformação desse mundo e dessa história, uma dinâmica desalienante.
    Os discípulos são enviados "dois a dois": o anúncio faz-se sempre de forma comunitária. Os discípulos não podem levar consigo senão o estritamente necessário: nada de exageros, nem de triunfalismos. Mas, mais que a pobreza dos missionários, o nosso texto acentua a pobreza da missão: o missionário é enviado por Aquele que é o único responsável pelo êxito da missão. No cumprimento da missão, o apóstolo há-de estar pronto a dar própria vida. João de Brito deu-a como supremo testemunho da Verdade que anunciava.

    Meditatio

    Marcos, ao falar da escolha dos Doze, diz que Jesus os chamou "para estarem com ele" e para "os enviar". Não se trata de contradição, mas de complementaridade: chamou-os para estarem em intimidade com Ele e serem enviados a propagar a sua mensagem.
    S. João de Brito viveu este mistério. Educado piedosamente pela sua mãe, desde muito novo sonhou com o sacrifício e a imolação de si mesmo a Deus, por amor. A coerência e o fervor com que vivia a sua fé provocavam a mofa de alguns dos seus colegas pajens da corte. Por isso, bem cedo, começou a ser apelidado de mártir. Tendo entrado na Companhia de Jesus, em breve se distinguiu pela sua piedade e observância religiosa. A sua vida eucarística, a sua devoção a Nossa Senhora eram notáveis. Nesta vida de intimidade com Deus, sonhou partir para a Índia, e imitar o zelo de S. Francisco Xavier no anúncio da Boa Nova. E foi enviado pelos seus superiores com mais 17 missionários, em Março de 1673. Foi destinado à missão do Maduré, uma das mais difíceis por causa do clima ardente, das viagens longas pelas areias, pelos pântanos, pelas florestas. Mas havia dificuldades ainda maiores por causa da condição dos hindus e pelas suas ideias a respeito dos europeus. Tinham-nos como párias por verem que tratavam com estes "fora de castas". Por isso, não lhes consentiam que morassem nas suas aldeias. Mas a caridade inspirou aos missionários o modo de vencer tais dificuldades: adotaram os trajes, os costumes e o modo de viver dos brâmanes saniássis, espécie de religiosos letrados. Assim puderam prosseguir o seu apostolado. Em 1686, João de Brito esteve a ponto de perder a vida para socorrer os cristãos do Maravá sobre os quais se desencadeara tremenda tempestade. Saiu-lhe ao encontro o comandante das tropas do maravá que o prendeu com um grupo de catequistas e os mandou açoitar a todos, pretendendo que invocassem o deus Xivá. Resistiram, passando por muitos tormentos físicos e psicológicos. Dezoito dias depois, o rei condenava o padre à morte: seria espetado, depois de lhe cortarem os pés e as mãos. Seguiram-se novas tribulações, até que o rei, ouvindo João de Brito expor-lhe a doutrina cristã, ficou tão admirado com ela que acabou por declarar que os cristãos são justos e santos. Pouco depois, o P. João de Brito foi chamado à Europa pelo Provincial. Assim, a 8 de Setembro de 1688, chegou a Lisboa, sendo recebido por todos com grande admiração e com a benevolência do rei D. Pedro II, a quem expôs os seus trabalhos. Depois de percorrer os colégios da Companhia, João de Brito regressou à Índia, apesar das súplicas que muitos lhe fizeram para que não voltasse. O seu trabalho missionário produziu tais frutos, que se levantou contra ele nova perseguição, que acabou por levá-lo ao martírio, a 4 de Fevereiro de 1693. Na véspera da sua morte, o santo escrevia do cárcere: "Agora espero padecer a morte por meu Deus e meu Senhor... A culpa de que me acusam vem a ser que ensino a Lei de Deus Nosso Senhor... Quando a culpa é virtude, o padecer é glória". João de Brito continuava, na missão, a vida de intimidade com Deus, iniciada na sua infância e juventude. Se queremos relacionar-nos positivamente com os outros, se queremos ser missionários, precisamos de uma relação íntima, profunda e amorosa com Deus. Sem ela, a nossa vida não é verdadeira, a nossa entrega é vazia. Mas também não podemos viver a intimidade com Ele, fechando-nos aos outros. O egoísmo não conduz à adesão ao Senhor, à comunhão com Ele. Para ser vida de amor, a vida do cristão, particularmente a vida do dehoniano, deve ter o mesmo dinamismo que a de Cristo: ser um movimento de amor para Deus e para os irmãos.

    Oratio

    Senhor, que fortalecestes com invencível constância o mártir São João de Brito para pregar a fé entre os povos da Índia, concedei-nos, por seus méritos e intercessão, que, celebrando a memória do seu triunfo, imitemos os exemplos da sua fé. Por Cristo, nosso Senhor. Ámen. (Coleta da missa).

    Contemplatio

    Nosso Senhor não responde (a Herodes). O momento é grave. Cumpre o seu sacrifício para a redenção do mundo. Não tem tempo para dar às questões frívolas e curiosas de Herodes. Aqui está para nós uma grande lição de vida interior, de gravidade, de dignidade. Nosso Senhor vive unido ao seu Pai, e não condescende em conversar com os homens a não ser que algum motivo de caridade ou de justiça o exija. O silêncio tem as suas preferências. Assim devia ser também para nós. É o que diz S. Paulo aos Filipenses: «Que a vossa modéstia seja manifesta a todos os homens!». A modéstia é aqui a moderação nas palavras e nas ações. "Guardai a calma, acrescenta S. Paulo, ocupai o vosso coração a louvar a Deus, a dar-lhe graças, a rezar. Se for preciso conversar com os homens, que seja sobre temas de edificação, de piedade ou de necessidade" (Fil 4,5)... Paulo recomendava a todos os seus discípulos esta modéstia de Cristo: «Revesti-vos, diz aos Colossenses, da doçura, da modéstia, da paciência de Jesus Cristo» (Col 3,12). A paciência infinita do bom Mestre manifesta-se também com brilho em casa de Herodes. O príncipe e a sua corte tratam Jesus como um louco. Zombam dele, insultam-no. Não lhe batem como os criados do Templo, mas gozam dele. É uma outra prova, não menos cruel para o Filho de Deus. (L. Dehon, OSP 3, p. 325s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quando a culpa é virtude, o padecer é glória." (S. João de Brito)

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    S. João de Brito, Presbítero e Mártir (04 Fevereiro)

  • S. Paulo Miki e Companheiros

    S. Paulo Miki e Companheiros


    6 de Fevereiro, 2017

    Paulo Miki, jesuíta japonês, é um dos 26 mártires que, a 5 de Fevereiro de 1597, morreram crucificados na colina de Tateyama - depois chamada «colina santa» - junto de Nagasaki. A evangelização do Japão, iniciada por S. Francisco Xavier (1549-1551), tinha dado os seus grupos e a comunidade cristã atingia, em 1587, os 250.000 membros. O imperador, que inicialmente tinha favorecido os missionários, decretou a expulsão dos jesuítas e mandou prender 6 franciscanos espanhóis e três jesuítas japoneses. Foi um tempo de dura repressão.

    Paulo Miki era filho de um oficial. Foi educado num colégio jesuíta e, em 1580, entrou na Companhia de Jesus. Tornou-se muito conhecido pela qualidade da sua vida e pela sua capacidade de evangelizar. Ainda não era sacerdote quando foi martirizado com outros 25 cristãos: 6 missionários franciscanos espanhóis, um escolástico e um irmão, jesuítas japoneses, e 17 leigos também japoneses. Foram canonizados por Pio IX, em 1862.

    Lectio

    Primeira leitura: Gálatas, 2, 19s.

    Irmãos, eu pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo.20Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim.

    A forte experiência a que Paulo faz alusão neste texto, está inserida na vida da comunidade da Galácia, que, se por um lado vive em grande fervor, por outro é provada pelos irmãos que julgam necessário continuar a observar a lei de Moisés, com tudo o que ela implica, também a circuncisão (cf. Gal 1, 2 e Act 15, 1).
    É na provação que os discípulos descobrem a verdadeira origem da salvação. Em consequência, chegam a uma relação viva com o Senhor Jesus, a uma maior consciência da sua identidade, aprendem a reconhecer a acção do Espírito no desenvolvimento da Igreja e descobrem o seu lugar na sociedade. Trata-se de fazer, mais uma vez, uma opção por Cristo e pelo único evangelho, fundamentando a própria vida, não em normas e rituais, como acontecia entre os judeus, mas em Cristo e em Cristo Crucificado. Paulo não quer propor aos Gálatas uma doutrina a discutir, mas levá-los a reflectir, narrando a sua experiência (1, 10-2,21), na «verdade do evangelho» (2, 14), a reconhecer que a justificação vem da fé e não das obras da lei, a encontrar-se com Cristo crucificado, a viver a vida em liberdade, guiados pelo Espírito.
    Paulo «sabe» quem é o seu Senhor! «Estou crucificado com Cristo» (2, 20): é o nascimento da vida nova e é a plena identificação com Jesus. A vida desenrola-se na comunhão profunda, única e misteriosa, com Cristo, que o amou e deu a vida por ele.

    Evangelho: Mateus, 28, 16-20

    Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. 17Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam.18Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes:«Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. 19Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.»

    Jesus convoca a comunidade dos discípulos para a revelação definitiva. O lugar é significativo: a Galileia, um Monte. Foi na Galileia que Jesus anunciou, pela primeira vez, a vinda do Reino (4, 17); foi sobre um monte que Jesus foi tentado pelo Demónio que Lhe oferecia o domínio sobre os reinos do mundo (4, 8-10); foi sobre um monte que Jesus proclamou as Bem-aventuranças (5, 1ss.); foi sobre um monte que aconteceu a Transfiguração (7, 1). Agora, sobre um monte, o Ressuscitado manifesta-se aos seus e revela-lhes que o Pai Lhe deu todo o poder «no Céu e na Terra» (v. 17).
    Jesus confia aos Apóstolos a missão, que é a missão universal da Igreja. Promete-lhes a sua presença perene: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (v. 20). A senhoria universal do Ressuscitado é a fonte donde brota a missão universal da Igreja: «ir e ensinar todos os povos», «fazer discípulos todos os povos». Mas o Senhor não deixa a Igreja só nesta missão longa e difícil. Ele está com eles como guia, apoio, purificação, luz. Está com eles para apoiar a sua obediência ao Pai e o seu amor activo para com todos.

    Meditatio

    A leitura da Carta aos Gálatas, na memória dos Mártires do Japão, leva-nos a confrontar-nos, mais uma vez, com o «evangelho de Deus» (Rm 1, 1), convidando-nos a renovar a nossa opção por Cristo em todas as situações da nossa vida: na alegria, no sofrimento, no êxito, no fracasso... «a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gal 2, 20). O testemunho dos Mártires Japoneses e das suas comunidades cristãs é Palavra e conforto para nós, os crentes, e é anúncio e luz transformadora para a humanidade. A vida nasce da vida que se gasta, que se faz dom. Nos fundamentos da Igreja está o sangue e a fidelidade, isto é, o amor. A Igreja nasce do ágapedivino e vive dele. O ágape é o princípio vital da sua existência e da sua acção, que o irradia e comunica.
    O evangelho faz brotar a gratidão e o louvor, porque leva a tocar com mão a realização do mandato confiado a por Cristo ressuscitado aos seus. A Igreja contempla-O nas terras do Japão, onde o Espírito abriu corações e mentes e agregou novos membros ao novo povo. Todos, com efeito, «são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho». É com este coração apaixonado que também nós queremos ver o homem e a sociedade de hoje. Abertos a todos, dados a todos.
    As comunidades cristãs envolvem o mundo no amor de Cristo crucificado, atestam o senhorio de Cristo, a universalidade do mandato e do amor do Pai, e são, por sua vez, seu ícone entre os homens porque são membros do seu corpo, animados pelo mesmo Espírito.

    Oratio

    Pai santo, nós Te bendizemos e damos graças porque és o autor e dador de todos os bens. Hoje, queremos particularmente agradecer-Te pelo testemunho dos nossos irmãos mártires. À imitação de Cristo, teu Filho, derramaram o seu sangue pela confissão do teu nome. A sua vida é conforto, apoio e luz para nós. Neles manifestas as maravilhas do teu poder. Neles tiras força da fraqueza humana e fazes da fragilidade testemunho da tua grandeza.
    O nosso espírito emudece de espanto na contemplação destes mártires crucificados como o teu Filho e por causa d´Ele. Por sua intercessão, queremos pedir-Te força e coragem para prosseguirmos a nossa peregrinação terrena na fidelidade ao teu amor, mesmo quando tivermos de participar na paixão do teu Filho Jesus. Infunde em nós a sabedoria da cruz e ajuda-nos para aderirmos totalmente a Cristo e com Ele cooperarmos na redenção do mundo. Amen.

    Contemplatio

    Esperando a glória dos céus, os perseguidos experimentam já uma alegria íntima sobre a terra. É uma recompensa da graça divina. «Vêem o fruto do que as suas almas sofreram, diz-nos o profeta, e são assim saciados» (Is 53, 2). É a alegria íntima do apostolado e o triunfo do sofrimento e do sacrifício: «O meu servo é justo e pelo ensino da sua doutrina tornará justo um grande número de homens...Dar-lhe-ei em partilha uma multidão de discípulos; vencerá os seus inimigos e partilhará os seus despojos» (Is 53, 11-12). Isto aplica-se ao Salvador e àqueles que propagam o seu reino. A salvação das almas! Que recompensa consoladora pelas lágrimas derramadas, pelas fadigas suportadas, pelas perseguições sofridas e pelo ódio do mundo!... Seguindo a Jesus, que levou a cruz com alegria, com os apóstolos e os mártires, que louvam a Deus nas perseguições, levemos generosamente a nossa cruz quotidiana. - O Coração de Jesus ama a cruz redentora: o meu coração esperou o opróbrio e a vergonha (Sl 68). Amemos a nossa cruz de cada dia, o trabalho, a fadiga, a humildade, a obscuridade. Suportemos com uma doce paciência as incomodidades da vida comum e as provações que a Providência nos envia. (Leão Dehon, OSP 4, p. 61s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a Palavra do Senhor:
    «Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20).

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    S. Paulo Miki e Companheiros (6 Fevereiro)

  • As cinco Chagas do Senhor

    As cinco Chagas do Senhor


    7 de Fevereiro, 2017

    O culto das Cinco Chagas do Senhor, isto é, das feridas que recebeu na cruz e manifestou aos Apóstolos depois da Ressurreição, foi impulsionado por S. Bernardo, e encontrou sentida e profunda adesão no povo português, desde os começos da nacionalidade. Luís de Camões, nos Lusíadas, faz eco dessa devoção (I, 7). Prestando culto às Chagas do Redentor, é para Jesus Cristo que se dirige a nossa adoração, para quem nos amou até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8). A contemplação das Chagas do Senhor deu particular atenção ao Lado aberto, conduzindo os místicos medievais e posteriores à contemplação do Coração trespassado, a mais viva expressão do seu amor. Essa contemplação move-nos espontaneamente à correspondência, "amor com amor se paga".

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 53, 1-10

    Quem acreditou no nosso anúncio?A quem foi revelado o braço do Senhor? 2O servo cresceu diante do Senhor como um rebento, como raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente,  3desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado.  4Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado. 5Mas foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas.  6Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele todos os nossos crimes.7Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador. 8Sem defesa, nem justiça, levaram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino? Foi suprimido da terra dos vivos, mas por causa dos pecados do meu povo é que foi ferido.  9Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios, e uma tumba entre os malfeitores, embora não tenha cometido crime algum, nem praticado qualquer fraude. 10Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimento, para que a sua vida fosse um sacrifício de reparação. Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias, e o desígnio do Senhor realizar-se-á por meio dele.

    O quarto cântico do Servo de Javé é um dos momentos mais altos da revelação do Antigo Testamento. Nele encontramos uma interpretação da história de Israel como expiação vicária e redentora do resto em favor de toda a comunidade judaica e de todos os povos da terra. Tudo isto se realiza plenamente em Cristo, membro eminente da comunidade dos que foram salvos, dos Pobres de Israel, do Resto, dos Fiéis. Os evangelistas, inspirados por Deus, leram os acontecimentos da vida de Jesus de Nazaré à luz deste misterioso Servo de que fala o profeta. Jesus é o Servo fiel e sofredor, o "homem das dores" que nos salvou. As suas Chagas são o testemunho mais eloquente do amor, com que realizou a sua intervenção em favor do povo de Deus.

    Segunda leitura: João 19, 28-37

    Naquele tempo, sabendo Jesus que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: «Tenho sede!» 29Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca. 30Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado.» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.31Como era o dia da Preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. 32Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. 33Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. 34Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. 35Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também. 36É que isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: Não se lhe quebrará nenhum osso. 37E também outro passo da Escritura diz: Hão-de olhar para aquele que trespassaram.

    Depois de tudo o que aconteceu na paixão, a sede de Jesus é completamente natural. Mas João na se limita a esse fato. Para ele, a sede de Jesus significa a sua intensa tendência para Deus. O Sl 63, 1 ajuda-nos a compreender a sede de Jesus crucificado: "Ó Deus! Tu és o meu Deus! Anseio por ti! A minha alma tem sede de ti!". O clamor de Jesus era uma oração. Para João, Jesus recitava o salmo 63.
    Jesus morre como verdadeiro cordeiro pascal. É por isso que o evangelista fixa a sua morte no dia e na hora em que, no templo, eram sacrificados os cordeiros que, no dia seguinte, eram comidos na ceia pascal.
    Do seu Lado aberto "saiu sangue e água". Isto é possível fisiologicamente. Mas, para João, mais uma vez, o que interessa é o símbolo do acontecimento: do Lado de Cristo, morto na cruz, brotam os sacramentos da Igreja: a Eucaristia e o Batismo.
    Os homens "hão-de olhar para Aquele que trespassaram", e aqueles que neste olhar de fé, se converterem receberão a água misteriosa do Espírito de Deus. Com o seu sacrifício, o Cordeiro Pascal libertou o seu Povo do pecado. As suas Chagas não são sinais de derrota, mas de triunfo.

    Meditatio

    Nas Chagas do Senhor, particularmente na do seu Lado aberto, contemplamos o caminho do amor de Deus até nós e o nosso caminho de amor até Ele. S. Agostinho realça bem este caminho nos seus discursos: "Cristo é a porta. Esta porta foi aberta para ti quando o Seu Lado foi aberto pela lança. Recorda-te do que saiu e escolhe por onde entrar". Percorrendo este caminho de amor, chegamos à devoção ao Coração de Jesus. Foi este o caminho de Santa Margarida Maria. Desde pequena, teve uma afetuosa devoção à Paixão de Cristo e às cinco Chagas, atraindo particularmente a sua atenção a chaga do Lado. Finalmente, a convite de Jesus, fez a descoberta do Coração, reconhecido como símbolo da Pessoa amante do Redentor. Foi este, também, o caminho "místico" do Pe. Dehon. No "Ano com o Coração de Jesus", escreve: "O profeta não disse: "Verão Aquele que trespassaram", mas "Voltarão o olhar para dentro d'Aquele que trespassaram" ("Videbunt in quem transfixerunt") (Jo 19, 37 - Vulgata). S. João aplica estas palavras à abertura do Lado de Jesus, ao próprio Coração de Jesus que pôde entrever através da chaga do lado aberto...". Para além de todas as questões críticas de tal leitura e interpretação bíblica, a verdade é que "ver em alguém" e muito mais do que "ver alguém". Uma coisa é conhecer uma pessoa só externamente, outra é conhecê-la na sua interioridade e intimidade. O Pe. Dehon fala deste olhar íntimo também na Vida de amor... E põe na boca de Jesus as seguintes palavras: "Eu sou, de verdade, nos mistérios da Minha Paixão, um livro escrito por dentro e por fora (cf. Ap 5, 1) e o que aí está escrito é o Meu amor... Não vos contenteis em ler e admirar esta divina escritura somente do lado de fora, mas penetrai até ao Meu Coração e vereis". E, nas "Coroas de amor"... "Leiamos e voltemos a ler este livro de amor do Coração de Jesus, devoremos este livro de amor que é o próprio amor e, quando ardermos de amor, a nossa oblação será facilmente generosa, pronta, sem cedências". Deste modo, o Pe. Dehon faz eco a S. João: "Hão-de olhar para Aquele que trespassaram" (19, 37); isto não é só uma profecia, é uma exortação, um convite, porque do mistério do Lado aberto (e do Coração Trespassado do Salvador), "nasce o homem de coração novo" (Cst 2-3). "Com S. João, vemos no Lado aberto do Crucificado o sinal do amor que, na doação total de Si mesmo, recria o homem segundo Deus" (Cst 21). Assim contemplamos o Trespassado, no ato supremo da Redenção, não como os israelitas contemplavam a serpente de bronze, elevada no deserto, para curar as mordeduras das serpentes, mas penetramos na realidade suprema do Seu amor, no Seu Coração trespassado, e acolhemos o seu apelo à oblação, à reparação, à imolação, à consolação, àquele "culto de amor e de reparação que o Seu Coração deseja", que nos torna criaturas de coração novo.

    Oratio

    Rezemos com o P. Dehon: "Meu Senhor e meu Deus! Quero tirar nas vossas chagas a bebida da salvação. Sede condescendente comigo como foste com S. Tomé. Emprestai-me as vossas mãos e os vossos pés para que aí cole os meus lábios. Tenho tanta necessidade de forças. Ousarei mesmo aproximar-me do vosso Coração para daí tirar o arrependimento e o fervor. Perdoai-me!" (OSP 2, p. 296).

    Contemplatio
    Jesus aparece no meio dos apóstolos, na sua majestade e na sua bondade. Intervém para curar Tomé das suas dúvidas. Pax vobis! A paz esteja convosco, diz. É a saudação habitual de Jesus aos seus amigos, saudação afetuosa e verdadeiramente eficaz. Tomé com dificuldade ousa acreditar nos seus olhos. Está perturbado. É sobretudo para ele que Jesus aparece hoje. Vem cumprir um milagre moral, a mudança das disposições de Tomé, e é pelas suas cinco chagas que Jesus quer fazer este milagre. Dirige-se, de seguida, a Tomé: «Vem, diz-lhe, coloca o teu dedo aqui, vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado», neste lado aberto pela lança e onde se sente bater o mais amável dos corações, - «e não sejas incrédulo, mas fiel». Os apóstolos observam e aguardam. Tomé vai levar mais longe a incredulidade e tocar as chagas do Salvador? Não, coloca-se de joelhos, e exclama: «Meu Senhor e meu Deus!». Nosso Senhor tinha respondido diretamente às palavras de dúvida que tinha formulado. Nada o podia impressionar mais. Aqui está o começo da devoção às cinco chagas, que preludia à do Sagrado Coração. Nosso Senhor tinha querido mostrar-nos a eficácia das suas chagas. Têm um enorme papel na mística cristã. São as fontes misteriosas pelas quais correu o sangue redentor. Estavam figuradas nas fontes do paraíso terrestre, que levavam a toda a parte a fecundidade e a alegria. Foram profetizadas por Isaías: «Bebereis nas fontes do Salvador». Aparecem no Apocalipse sob a forma das fontes que correm sob os pés do Cordeiro divino. Foram reproduzidas nos membros benditos de alguns santos, como S. Francisco de Assis e santa Catarina de Sena. São o objeto de uma das devoções tradicionais da Igreja. (L. Dehon, OSP 3, p. 295s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28).

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    As cinco Chagas do Senhor (07 Fevereiro)

  • S. Cirilo, Monge e S. Metódio, Bispo, Padroeiros da Europa

    S. Cirilo, Monge e S. Metódio, Bispo, Padroeiros da Europa


    14 de Fevereiro, 2017

    Os Santos Cirilo e Metódio nasceram em Salónica, na primeira metade do século IX. Bizantinos de formação, tornaram-se apóstolos dos povos eslavos, na Morávia, atuais repúblicas Checa e Eslovaca, e na Panónia, atual Croácia. Para eles, traduziram A Bíblia e os livros litúrgicos para a língua paleoeslava, e reuniram discípulos. As suas iniciativas missionárias foram aprovadas pelo Papa Adriano II. Entretanto, Cirilo adoeceu, acabando por morrer na cidade, e sendo sepultado na igreja de S. Clemente. Metódio, ordenado bispo, regressou à Morávia, falecendo aí no ano de 885. Os seus discípulos, expulsos do país, refugiaram-se na Bulgária. Daí a liturgia e a literatura eslava passaram para o reino de Kiev, na Rússia e para todos os países eslavos de rito bizantino.

    Lectio

    Primeira leitura: Atos 13, 46-49

    Naqueles dias, Paulo e Barnabé disseram aos judeus: «Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos,47pois assim nos ordenou o Senhor: Estabeleci-te como luz dos povos, para levares a salvação até aos confins da Terra.»48Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé.49Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região.

    Os pagãos escutaram com interesse e entusiasmo Paulo e Barnabé, o que suscitou a inveja e os ciúmes dos Judeus contra os missionários, que são insultados e rejeitados. E dá-se a separação entre o Evangelho e o Judaismo. Os Judeus eram os primeiros destinatários da Boa Nova. Uma vez que a rejeitaram, ela é oferecida aos pagãos, que a aceitam. Nesse contexto, Barnabé e Paulo declaram que vão passar a dirigir-se aos pagãos, baseando a sua dercisão, não só na rejeição dos Judeus, mas também nas palavras da Escritura que falam da luz das nações (Is 49, 6). Quem acolher o Evangelho e abraçar a fé torna-se herdeiro das promessas, seja judeu ou pagão. Fica destinado à "vida eterna" (v. 48).

    Evangelho: Lucas 10, 1-9

    Naquele tempo, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe.3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho.5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa.8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.'

    Além dos Apóstolos, fundamento da missão da Igreja, Jesus escolheu outros setenta e dois discípulos e enviou-os a pregar a Boa Nova. Ao longo dos séculos escolheu muitos outros. Foi o caso de Cirilo e Metódio, enviados a missionar os povos eslavos. Quem acolhe o Reino, sente a necessidade de o anunciar. Por isso, a missão é tarefa de todos os batizados. Isso, todavia, não impede que alguns sejam particularmente destinados a pregar que Deus salva, isto é, que o seu "Reino está no meio de nós". O reino vem como "paz". Por isso, é dever dos missionários invocar a paz de Deus sobre as casas e cidades onde vão. A palavra de Jesus assegura ao missionário a possibilidade da sua mensagem ser ouvida. Mas, quando surgem perseguições, os missionários não têm outro caminho senão o de Jesus, isto é, o que leva à morte, como supremo testemunho do Evangelho.

    Meditatio

    S. Cirilo e S. Metódio sentiram a urgência de levar a salvação para fora das fronteiras do mundo helénico, tal como Paulo e Barnabé tinham sentido a necessidade de levar a Boa Nova para fora das fronteiras do mundo judaico. Isaías falava de Boa Nova e de um movimento centrípto de todos os povos em direção a Jerusalém. No evangelho o movimento é inverso. Jesus envia os discípulos para todo o mundo: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura... Eles, partindo, foram pregar por toda a parte." (Mc 16, 15.20). São duas dinâmicas diferentes: Isaías pensa em Jerusalém como centro do mundo, para onde devem acorrer todos os povos, e subir ao monte do Senhor, que a todos atrai. No Novo Testamento, o centro do mundo já não é Jerusalém, mas o corpo de Cristo ressuscitado, misteriosamente presente onde estão os seus discípulos. É aí que encontram a unidade todos os que acreditam em Jesus.
    S. Cirilo e S. Metódio partiram para meio dos eslavos, apesar das dificuldades das viagens e, sobretudo, do problema que era evangelizar povos que não pertenciam à cultura grega e latina. Estes santos foram verdadeiramente pioneiros naquilo que hoje se chama a "inculturação", isto é, em traduzir a fé para a cultura dos povos a evangelizar, sem querer impôr a própria cultura. Traduziram a Bíblia e os textos litúrgicos para eslavo. Esse atrevimento valeu-lhes ser denunciados em Roma pelos missionários latinos. Tiveram que rumar à cidade eterna, e explicar-se às autoridades. Felizmente foram compreendidos pelo Papa Adriano II, que aprovou o seu método missionário.
    Hoje, é questão pacífica que, uma coisa é a fé e outra a cultura, que são realidades separáveis, que a fé deve radicar nas diversas culturas como fermento que as impregna de Evangelho. Mas o mesmo se deve pensar em relação à diferentes gerações: em cada geração a fé deve ser expressa de modo novo. A fé, com efeito, é um fermento de vida que tem de crescer e encontrar novas formas de progresso. Temos de aprender a ir ao encontro dos outros, e não obrigá-los a uniformizar-se com os nosso costumes, ou àquilo que pensamos ser melhor. Há que ir aos outros como Jesus veio até nós, isto é, fazendo-se homem e aceitando tudo o que é humano para se fazer entender por nós, e poder introduzir-nos na sua intimidade.
    O P. Dehon recebeu "a graça e a missão de enriquecer a Igreja com um Instituto religioso apostólico que vivesse da sua inspiração evangélica" (Cst 1). A mística oblativa-reparadora, inspirada pela contemplação do Coração trespassado de Cristo, levou-o a viver uma espiritualidade profundamente sacerdotal e eucarística, e a empenhar-se num apostolado característico onde a atividade missionária tem um lugar importante. Essa atividade tem de ser devidamente insculturada entre os povos, "para que a comunidade humana, santificada pelo Espírito, se torne uma oblação agradável a Deus" (Cst 30. 31).

    Oratio

    Resplandeça sobre nós, Senhor, a luz incorrutível da tua sabedoria. Abre-nos os olhos da mente, para podermos entender os teus preceitos evangélicos. Que, desprezados os desejos carnais, possamos levar uma vida verdadeiramente espiritual, pensando e fazendo o que é do teu agrado. Nós to pedimos por intercessão dos Santos Cirilo e Metódio. Ámen.

    Contemplatio

    Jesus percorria as cidades e as vilas da Galileia, anunciando a boa nova e curando os doentes; mas não podia acorrer tudo sozinho e ao ver todo este povo sofrendo e abatido, foi tomado de compaixão, e disse aos discípulos: «A messe é grande, peçamos ao divino Mestre para lhe enviar operários», depois chamou os seus doze apóstolos e enviou-os dois a dois para pregarem com o poder de expulsarem os demónios e de curarem os doentes... Nosso Senhor indica aos apóstolos três condições requeridas para o sucesso da sua missão. A primeira é o espírito de desinteresse. «Recebestes gratuitamente, dai gratuitamente». Que os vossos ouvintes vejam que não é por ganho, mas pela salvação das almas e pela felicidade dos homens que trabalhais. A segunda é o desapego das coisas da terra e o amor da santa pobreza: «Não leveis convosco nem ouro nem provisões». A terceira é a mais inteira confiança nos cuidados e na proteção da divina Providência: «O trabalhador tem direito ao seu alimento». Estas condições são ainda hoje as do sucesso. (L. Dehon, OSP 4, p. 267s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Rogai ao dono da messe
    que mande trabalhadores para a sua messe" (Lc 10, 2).

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    S. Cirilo, Monge e S. Metódio, Bispo, Padroeiros da Europa (14 Fevereiro)

  • S. Cláudio de La Colombière

    S. Cláudio de La Colombière


    15 de Fevereiro, 2017

    S. Cláudio de La Colombière nasceu em Saint-Symphorien d´Ozon, França, no ano de 1641. Em 1659 ingressou na Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote em 1669, ensinou retórica e dedicou-se ao ministério da pregação. Prestou auxílio eficaz a S. Margarida Maria Alacoque na difusão do culto ao Sagrado Coração de Jesus. Enviado para Londres, como pregador da Condessa de York, sofreu calúnias, o cárcere e o exílio. Morreu em 1682, na cidade de Paray, em França, onde se pode venerar o seu túmulo. Foi canonizado por João Paulo II, em 1992.

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 3, 8-9.14-19.

    A mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo 9e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas. 14É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai,15do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: 16que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, 18para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... 19a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus.

    Paulo, o antigo fariseu, "hebreu descendente de hebreus, circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel" (Fl 3, 5) reconhece que a graça que lhe foi concedida foi precisamente a de fazer tábua rasa do nacionalismo judaico e dirigir-se abertamente aos gentios. Este anúncio, segundo o próprio Paulo, é um mistério, algo que estava escondido nos recônditos da transcendência e que unicamente se descobre por meio de uma gratuita revelação de Deus. Nas gerações passadas não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como agora foi revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas. Paulo considera-se o último desses santos, porque a sua integração no grupo dos responsáveis foi tardia. Mas foi-lhe "concedida a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo".
    A Igreja utiliza este testo na memória de S. Cláudio de La Colombière, que recebeu a graça de conhecer e divulgar as revelações do Coração de Jesus feitas a S. Margarida Maria.

    Evangelho: Mateus, 11, 25-30

    Naquele tempo, Jesus tomou a palavra e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos.26Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.» 28«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»

    Nesta perícopa encontramos descrito o mistério da filiação de Jesus, Filho de Deus, da sua relação com o Pai, com a terminologia e profundidade peculiares do Quarto Evangelho. Até se diz que esta perícopa teria pertencido inicialmente ao evangelho segundo S. João. Ela consta de três pares: a) a ação de graças ao Pai pela revelação recebida; b) o conteúdo dessa revelação; o convite e chamamento. Os escribas e fariseus recusaram a revelação. O mistério do Reino não é acessível a toda a espécie de sabedoria humana. Só aqueles que se apresentam diante de Deus conscientes da sua pequenez, a podem receber. Jesus é o único revelador do Pai, a plenitude da revelação. Os que acolhem a revelação são chamados a tornar-se discípulos submissos e obedientes, tomando sobre si o "jugo" do Senhor, um jugo suave porque motivado e carregado por amor.

    Meditatio

    Cláudio de la Colombière, nascido em 1641 em S. Sinfrónio, perto de Lião, foi enviado pelo seu provincial a Paray em 1675 para ser superior da casa que os Jesuítas tinham nessa cidade. Aí conheceu a S. Margarida Maria, tornando-se seu confessor. Era precisamente o momento da grande revelação do Sagrado Coração, que data de 16 de Junho de 1675. Depois de um exame atento e prudente, o P. Cláudio de la Colombière julgou esta revelação autêntica. Adotou a devoção ao Sagrado Coração e tornou-se o seu propagador mais zeloso, depois de ter confirmado Margarida Maria e a sua superiora a Madre de Saumaise. No ano seguinte, teve de partir para Inglaterra, onde inspirou esta bela devoção em muitas almas. Banido da Inglaterra e já doente, passou por Paray, indo para Lião; aí reviu Margarida Maria, confirmou-a, fortaleceu-a; confirmou igualmente a Madre Greyfié, que tinha sucedido a Madre de Saumaise. Deus quis que viesse morrer a Paray, e que pudesse ver ainda e encorajar Margarida Maria. A sua morte aconteceu no dia 15 de Fevereiro de 1682. O próprio Nosso Senhor fez saber a Margarida Maria que tinha escolhido o P. de la Colombière para a secundar na sua missão.
    Oh! Como importa ter um bom diretor! E preciso pedi-lo a Deus e escolhê-lo com cuidado. A nossa santificação e a nossa salvação estão fortemente interessadas nisso.
    O Padre de la Colombière consagrou-se, ele mesmo, ao Sagrado Coração na sexta-feira 21 de Junho de 1675; era o dia seguinte à oitava do Corpo de Deus, o dia designado por Nosso Senhor para a futura festa. Começou desde então a inspirar esta devoção em todas as suas filhas espirituais em Paray. Chamado a Londres no ano seguinte, como pregador da duquesa de York, deu a conhecer e a amar o Sagrado Coração, a começar pela própria duquesa, que interveio mais tarde com outros príncipes e princesas junto do Papa Inocêncio XII, para o estabelecimento da nova devoção. Ele mesmo fala disso em alguns dos seus sermões da Quaresma. Regressado a França, continuou o seu apostolado, de uma maneira muito persuasiva, nas suas cartas de direção. Pedia aos superiores para a estabelecerem nas suas comunidades. Exercia o mesmo apostolado junto dos jovens religiosos de quem tinha, em Lião, a direção espiritual. É a ele que o Padre de Gallifet faz remontar a sua própria devoção ao Sagrado Coração. Mas seria sobretudo depois da sua morte que o Padre iria cumprir a sua missão. Partiu para o céu no dia 15 de Fevereiro de 1682. Dois anos depois, eram publicados os seus sermões em quatro volumes, e, num volume à parte, o diário dos seus retiros espirituais. Aí lia-se isto: "Reconheci que Deus queria que eu o servisse procurando o cumprimento dos seus desígnios no tocante à devoção que sugeriu a uma pessoa à qual se comunica de modo muito confidencial, e para a qual quis servir-se da minha fraqueza. Depois fazia o relato da grande aparição de 16 de Junho de 1675. Este escrito foi muito lido, porque o seu autor gozava de grande fama de santidade. Anexado ao diário dos retiros estava um belo ato de oferenda ou de oblação ao Sagrado Coração que também teve a sua parte no desenvolvimento da devoção. E eu, o que é que fiz até ao presente para propagar esta bela devoção segundo o desejo de Nosso Senhor? ". (Leão Dehon, OSP 3, p. 171s.).

    Oratio

    Senhor, que farei, senão unir-me à oblação do Padre de la Colombière e fazê-la também? Sim, Senhor, dou-me e consagro-me ao vosso divino Coração. Ofereço-vos tudo aquilo de que posso dispor, e proponho unir-me a vós frequentemente durante o dia (Leão Dehon, OSP 3, p. 173).

    Contemplatio

    O belo ato do Padre de la Colombière caracteriza admiravelmente a devoção ao Coração de Jesus. Começa por dizer qual o seu fim: «Esta oferenda, diz, faz-se para honrar este divino Coração, a sede de todas as virtudes, a fonte de todas as bênçãos e o retiro de todas as almas santas». «Por todas as suas bondades, diz, este divino Coração não encontra no coração dos homens senão dúvida, esquecimento, desprezo, ingratidão». O santo religioso formula então a sua oferenda: «Para reparação de tantos ultrajes e de tão cruéis ingratidões, ó muito adorável Coração do meu amável Jesus, e para evitar cair numa semelhante infelicidade, ofereço-vos o meu coração com todos os movimentos de que é capaz, e dou-me inteiramente a vós... Ofereço ao vosso divino Coração todo o mérito, toda a satisfação de todas as minhas missas, de todas as orações, de todos os atos de mortificação, de todas as práticas religiosas, de todos os atos de zelo, de humildade, de obediência e de todas as outras virtudes que praticar até ao último momento da minha vida. Não só tudo isto será para honrar o Coração de Jesus, mas ainda lhe peço que aceite a doação inteira que lhe faço, de dela dispor do modo que lhe agradar e em favor de quem lhe agradar». Este belo ato contribuiu muito para determinar e para propagar a verdadeira devoção ao Sagrado Coração. (Leão Dehon, OSP 3, p. 142s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a Palavra do Senhor:
    «Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 25, 30).

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    S. Cláudio de La Colombière (15 Fevereiro)

  • Santos Francisco e Jacinta Marto

    Santos Francisco e Jacinta Marto


    20 de Fevereiro, 2017

    Francisco Marto nasceu em 11 de Junho de 1908, em Aljustrel, Fátima, vindo a falecer também aí, no dia 4 de Abril de 1919. Muito sensível e contemplativo, Francisco orientou toda a sua oração e penitência para "consolar a Nosso Senhor". Jacinta Marto nasceu em Aljustrel, no dia 11 de Março de 1910 e faleceu em 20 de Fevereiro de 1920, no Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, depois de uma longa e dolorosa doença, oferecendo todos os seus sofrimentos pela conversão dos pecadores, pela paz no mundo e pelo Santo Padre. Os seus restos mortais de Francisco e Jacinta repousam atualmente na Basílica da Cova da Iria. O Santo Padre João Paulo II proclamou-os beatos, em Fátima, a 13 de Maio de 2000.

    Lectio

    Primeira Leitura: 1Samuel 3, 1.3-10

    Naqueles dias, o jovem Samuel servia o Senhor sob a direção do sumo sacerdote Heli. Samuel dormia no templo do Senhor, no lugar onde se encontrava a arca de Deus. O Senhor chamou Samuel e ele respondeu: «Aqui estou». E, correndo para junto de Heli, disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Mas Heli respondeu: «Eu não te chamei; torna a deitar-te». E ele foi deitar-se. O Senhor voltou a chamar Samuel. Samuel levantou-se, foi ter com Heli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Heli respondeu: «Não te chamei, meu filho; torna a deitar-te». Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. O Senhor chamou Samuel pela terceira vez. Ele levantou-se, foi ter com Heli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Então Heli compreendeu que era o Senhor que chamava pelo jovem. Disse Heli a Samuel: «Vai deitar-te; e se te chamarem outra vez, responde: 'Falai, Senhor, que o vosso servo escuta'». Samuel voltou para o seu lugar e deitou-se. O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes: «Samuel, Samuel!». E Samuel respondeu: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta».

    Samuel é uma figura singular e polifacetada do Antigo Testamento: sacerdote, profeta e juiz. Vive no momento da transição da federação de tribos ao regime monárquico. A vocação de Samuel está enquadrada num cenário de simplicidade e sublimidade, de serenidade e dramatismo, de silêncio e eloquência, de quietude e dinamismo. Essa vocação acontece de noite, hora propícia à revelação. O jovem é chamado três vezes, e ainda uma quarta. Samuel pensa tratar-se de Heli, o sacerdote. Este, fazendo um discernimento da situação, coloca Samuel na presença do Senhor. O seu chamamento de Samuel, o primeiro dos profetas, tem semelhanças ao de João Baptista, o último dos profetas: ambos têm a missão de anunciar uma nova etapa da História da salvação. Ambos tiveram que sofrer a dilaceração que implica romper com uma época que se ama e que vai desaparecer, mas também a dor que acarreta a aurora de uma nova etapa.

    Evangelho: Mateus 18, 1-5.10

    Naquele tempo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-Lhe: «Quem é o maior no reino dos Céus?». Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, não entrareis no reino dos Céus. Quem for humilde como esta criança, esse será o maior no reino dos Céus. E quem acolher em meu nome uma criança como esta acolhe-Me a Mim. Vede bem. Não desprezeis um só destes pequeninos. Eu vos digo que os seus Anjos vêem continuamente o rosto de meu Pai que está nos Céus».

    O texto paralelo de Marcos (9, 33-34) faz-nos supor que o contexto imediato destes ensinamentos do Senhor é uma discussão dos discípulos sobre o lugar que cada um deveria ocupar no reino pregado por Jesus. Jesus Manda-lhes que se tornem como crianças, não tanto no que se refere à inocência, mas no que se refere à humildade: a criança não tem pretensões. A humildade cristã é fruto da alegria de ser filhos de Deus. A filiação divina requer conversão. Os discípulos, particularmente os que são chamados a ser dirigentes da comunidade cristã, devem ser humildes e comportar-se como tais. Essa atitude dá-lhes uma dignidade maior que a dos anjos, que estão ao seu serviço

    Meditatio

    "Eu te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos". Com estas palavras, Jesus louva os desígnios do Pai celeste: "Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do Teu agrado". Quiseste abrir o Reino aos pequeninos. Por desígnio divino, veio do céu a esta terra, à procura dos pequeninos privilegiados do Pai, uma mulher revestida com o Sol. Fala-lhes com voz e coração de Mãe: convida-os a oferecerem-se como vítimas de reparação, oferecendo-se ela para os conduzir, seguros, até Deus. Foi então que das suas mãos maternais saiu uma luz que os penetrou intimamente, sentindo-se imersos em Deus como quando uma pessoa - explicam eles - se contempla num espelho. Mais tarde, Francisco, um dos três privilegiados, exclamava: nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus? Não se pode dizer. Isto sim que a gente não pode dizer. Deus: uma luz que arde mas não queima. A mesma sensação teve Moisés quando viu Deus na sarça-ardente. Ao beato Francisco, o que mais o impressionava e absorvia era Deus naquela luz imensa que penetrara no íntimo dos três. Na sua vida, dá-se uma transformação que poderíamos chamar radical; uma transformação certamente não comum em crianças da sua idade. Entrega-se a uma vida espiritual intensa que se traduz em oração assídua e fervorosa, chegando a uma verdadeira forma de união mística com o Senhor. Isto mesmo leva-o a uma progressiva purificação do espírito através da renúncia aos seus gostos e até às brincadeiras inocentes de criança. Suportou os grandes sofrimentos da doença que o levou à morte, sem nunca se lamentar. Grande era no pequeno Francisco, o desejo de reparar as ofensas dos pecadores, esforçando-se por ser bom e oferecendo sacrifícios e oração. E Jacinta sua irmã, quase dois anos mais nova que ele, vivia animada pelos mesmos sentimentos. Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio a Fátima, pedir aos homens para não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido. Dizia aos pastorinhos: Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver que se sacrifique e peça por elas. A pequena Jacinta sentiu e viveu como própria esta aflição de Nossa Senhora, oferecendo-se heroicamente como vítima pelos pecadores. Um dia - já ela e Francisco tinham contraído a doença que os obrigava a estarem de cama - a Virgem Maria veio visitá-los a casa, como conta a pequenita: Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito em breve para o céu. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim. E, ao aproximar-se o momento da partida do Francisco, Jacinta recomenda-lhe: Dá muitas saudades minhas a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e diz-lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores. Jacinta ficara tão impressionada com a visão do inferno, durante a aparição de treze de Julho, que nenhuma mortificação e penitência era demais para salvar os pecadores. (João Paulo II, Homilia da Missa da Beatificação de Francisco e Jacinta Marto no dia 13 de Maio 2000, em Fátima)

    Oratio

    Deus de infinita bondade, que amais a inocência e exaltais os humildes, concedei, pela intercessão da Imaculada Mãe do vosso Filho, que, à imitação dos bem-aventurados Francisco e Jacinta, Vos sirvamos na simplicidade de coração, para podermos entrar no reino dos Céus. Ámen. (Coleta da Missa).

    Contemplatio

    Jesus acolhia as crianças e abençoava-as... Os apóstolos querem afastar as crianças, mas Jesus não deixa. «Deixai-as vir a mim, diz. São semelhantes aos anjos do céu. A criança é dócil, simples, crente, obediente. Em lugar de afastardes as crianças, imitai as suas qualidades». Abraçava-as, impunha-lhes as mãos e abençoava-as. É uma curta lição de educação cristã. É preciso encorajar as crianças à piedade, abençoá-las e ensinar-lhes a rezar. Alguns dias antes, Jesus já tinha apresentado uma criança aos seus apóstolos como um modelo a imitar, porque a criança é simples, humilde, doce. «Se não tiverdes, dizia Jesus, estas disposições da infância espiritual, não entrareis no reino dos céus». E recomendava-lhes as crianças: «Quem as recebe em meu nome, recebe-me a mim, dizia. Tenho como feito a mim mesmo o que fizerem por elas. Ai daqueles que as escandalizam! Melhor seria que não tivessem nascido» (L. Dehon, OSP 4, p. 278s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "O Senhor exaltou os humildes" (Lc 1, 46).

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    Beatos Francisco e Jacinta Marto (20 Fevereiro)

  • Cadeira de S. Pedro

    Cadeira de S. Pedro


    22 de Fevereiro, 2017

    A festa da Cadeira de S. Pedro, colocada no dia 22 de Fevereiro por um martiriológio muito antigo, é uma boa oportunidade para fazermos memória viva e atualizante do primeiro dos Apóstolos, Simão Pedro. Nascido em Cafarnaum, exercia a sua profissão de pescador quando se encontrou com Jesus de Nazaré. Deixou o trabalho, a casa e a família para seguir o Senhor. Os evangelhos deixam-nos entrever a sua personalidade simples, espontânea e simpática. Jesus escolheu-o como primeiro no grupo dos Doze. Com a festa que hoje celebramos, apoiando-nos no símbolo da cadeira, realçamos a missão de mestre e de pastor conferida a Pedro por Cristo. O Senhor fez assentar sobre ele, como sobre uma pedra, todo o edifício da Igreja.

    Primeira Leitura: 1 Pedro 5, 1-4

    Aos presbíteros que há entre vós, eu - presbítero como eles e que fui testemunha dos padecimentos de Cristo e também participante da glória que se há-de manifestar - dirijo-vos esta exortação: 2Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, governando-o não à força, mas de boa vontade, tal como Deus quer; não por um mesquinho espírito de lucro, mas com zelo; 3não com um poder autoritário sobre a herança do Senhor, mas como modelos do rebanho. 4E, quando o supremo Pastor se manifestar, então recebereis a coroa imperecível da glória.

    O texto começa com uma autoapresentação do Apóstolo Pedro, que nos permite colher a sua identidade. Seguem-se algumas recomedações aos ansiãos que, com Pedro, carregam a honra e o peso das responsabilidades que Jesus lhe pôs sobre as costas (vv. 2s.). O Apóstolo transmite, não algo de seu, mas a missão que lhe foi confiada para ser partilhada e participada. Os que, na Igreja, são chamados a exercer um ministério hão-de deixar mover, não por interesse, mas por amor. A sua espiritualidade tem como caraterísticas o total serviço, a plena dedicação, a incondicionada fidelidade. Os que permanecerem fiéis receberão "a coroa imperecível da glória" das mãos do supremo Pastor (cf. v. 4).

    Evangelho: Mateus 16, 13-19

    Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» 14Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.»15Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» 16Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» 17Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. 18Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. 19Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.»

    No nosso texto, Jesus começa por interrogar os discípulos sobre o que se diz sobre Ele. As respostas que dão são parcialmente válidas, mas inexatas. É então que Jesus interroga os discípulos sobre o que pensam dele. Responde Pedro, em nome de todos: "Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo." (v. 16). Estas palavras são uma profissão de fé total, completa, que já tem o sabor da fé pascal. Estas palavras revelam também a identidade de Pedro como crente e representante de todos os crentes.
    Na segunda parte do texto, temos temos uma série de palavras com as quais Jesus define a sua relação com Pedro e o ministério do Apóstolo em relação à Igreja (vv. 17-19). Pedro é bem-aventurado porque falou sob inspiração divina. O nome novo que Jesus dá a Pedro indica a sua missão de "pedra" fundamental e sólida do edifício que é a Igreja, a comunidade dos salvos. A entrega das chaves simboliza que é com Pedro e por meio de Pedro que Cristo realiza a salvação de todos.

    Meditatio

    «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?»... «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Em nome dos Doze, Pedro responde à pergunta de Jesus, não segundo o ponto de vista dos homens, mas segundo o ponto de vista de Deus: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Por isso, Jesus replica, proclamando-o bem-aventurado: «És feliz, Simão, filho de Jonas». Mas essa resposta é fruto de uma iluminação especial de Deus: «não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu» - diz-lhe Jesus.

    Pedro personifica a Igreja. A sua resposta será a da Igreja iluminada pelo Espírito no Pentecostes. Simão Pedro recebeu essa luz antecipadamente, por causa da missão que Cristo lhe queria confiar: «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus, e tudo quanto ligares na terra ficará ligado nos Céus, e tudo quanto desligares na terra será desligado nos Céus" (Mt 16, 18-19).» Bento XVI comenta assim estas palavras do Senhor: «As três metáforas às quais Jesus recorre são muito claras: Pedro será o fundamento, a rocha sobre o qual se apoiará o edifício da Igreja; ele terá as chaves do reino dos céus, para abrir ou fechar a quem melhor julgar; por fim, poderá ligar ou desligar, no sentido em que poderá estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja, que é e permanece a Igreja de Cristo. [...]

    Esta posição de preeminência que Jesus decidiu conferir a Pedro verifica-se também depois da ressurreição (Mc 16, 7; Jo, 20, 2. 4-6). [...] Pedro será, entre os Apóstolos, a primeira testemunha de uma aparição do Ressuscitado (Lc 24, 34; 1 Cor 15, 5). Este seu papel, realçado com decisão (Jo 20, 3-10), marca a continuidade entre a preeminência obtida no grupo apostólico e a preeminência que continuará a ter na comunidade que nasceu depois dos acontecimentos pascais. [...] Vários textos-chave relativos a Pedro podem ser relacionados com o contexto da Última Ceia, no decurso da qual Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os seus irmãos (Lc 22, 31ss.). [...] Esta contextualização do primado de Pedro na Última Ceia, no momento da instituição da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido último deste primado: Pedro deve ser, para todos os tempos, o guardião da comunhão com Cristo; deve conduzir à comunhão com Cristo; deve preocupar-se por que a rede não se rompa (Jo 21, 11), para que possa perdurar a comunhão universal. Só juntos, podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro é, pois, a de garantir a comunhão com Cristo pela caridade de Cristo, conduzindo à realização desta caridade na vida de todos os dias».

    Oratio

    Senhor Jesus, quero hoje dar-te graças porque fundaste a Igreja sobre a pedra que é Pedro, para que seja na terra o sinal vivo da santidade do Pai, e anuncie a todos os povos o Evangelho do reino dos céus. Como Simão Pedro, quero dizer-te: afasta-te de mim que sou pecador, mas à tua palavra lançarei as redes; porque só és o Filho do Deus vivo, só tu tens palavras de vida eterna, só tu és a rocha segura, só tu és o Senhor e o Mestre. Sou fraco, muito fraco, mas com a tua graça darei a minha vida por ti, que sabes tudo, que sabes que te amo. Ámen.

    Contemplatio

    O dedo de Deus está bem marcado no estabelecimento da Religião cristã em Roma e na sua conservação há dezanove séculos. No seu estabelecimento, porque Deus se serviu de um pobre pescador galileu estranho às ciências profanas, sem recursos e sem apoios temporais para impor o jugo do Evangelho aos espíritos mais orgulhosos que jamais existiram, aos patrícios da velha Roma todos cheios de si mesmos, orgulhosos das suas riquezas e dados à sensualidade e ao prazer. Na sua conservação, porque nem as torrentes de sangue que os tiranos fizeram correr no circo e no coliseu, nem os assaltos da heresia tão frequentemente repetidos, nem o furor nem a corrupção dos homens nem as potências dos infernos conseguiram abalar esta pedra, centro e fundamento da Religião católica. Renovemos a nossa devoção e a nossa confiança para com a Igreja romana. Sejamos dóceis a todos os seus ensinamentos, a todas as suas direções. Amemo-la, veneremo-la tanto mais quanto mais ela for atacada e combatida. Rezemos pelo Soberano Pontífice e pela Igreja. (L. Dehon, OSP 3, p. 69s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16, 18).

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    Cadeira de S. Pedro (22 Fevereiro)

  • S. Policarpo, Bispo e Mártir

    S. Policarpo, Bispo e Mártir


    23 de Fevereiro, 2017

    S. Policarpo foi discípulo de S. João Evangelista e por ele colocado à frente da igreja de Esmirna, como bispo. Foi também amigo de S. Inácio de Antioquia, que hospedou em sua casa, quando ele se dirigia para Roma, onde viria a ser martirizado. E foi Inácio que o definiu como "bom pastor com fé inabalável" e "forte atleta por causa de Cristo". Este juízo foi totalmente confirmado no ano 155, quando o corajoso bispo de Esmirna enfrentou o martírio pelo fogo, no estádio da cidade. A sua morte trouxe para a Igreja, como o seu nome indica "muito fruto".

    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 2, 8-11

    Ao anjo da igreja de Esmirna escreve: «Isto diz o Primeiro e o Último, aquele que estava morto, mas reviveu: 9'Conheço as tuas tribulações e a tua pobreza; no entanto, és rico. Também conheço as calúnias dos que se dizem judeus, mas que não são mais que uma sinagoga de Satanás. 10Não temas nada do que vais sofrer. Eis que o Diabo vai lançar alguns de vós na prisão para vos provar. Sereis atribulados durante dez dias. Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida.' 11Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Aquele que vence não será vítima da segunda morte.

    Cristo ressuscitado dita ao vidente do Apocalipse sete cartas para as sete igrejas da Ásia Menor, dirigindo-as aos seus "anjos", isto é, aos seus bispos. Hoje escutamos a mensagem enviada à igreja de Esmirna, que foi bem aceite por Policarpo, seu bispo na época imediatamente sucessiva à dos apóstolos. O santo bispo enfrentou corajosamente os sofrimentos, superou a provação, foi fiel até à morte. Assim se tornou participante do mistério pascal de Cristo. Depois de o celebrar durante muitos anos no sacrifício eucarístico, tornou-o visível no seu próprio corpo, pelo martírio.

    Evangelho: da féria ou do Comum

    Meditatio

    S. Policarpo teve a felicidade de conhecer e de abraçar a religião cristã desde a juventude. Foi nela instruído pelos próprios apóstolos, e particularmente por S. João evangelista, que o estabeleceu depois bispo de Esmirna. Governou a Igreja de Esmirna durante sessenta e dois anos. O brilho das suas virtudes fazia com que fosse visto como o chefe e o primeiro dos bispos da Ásia. Os fiéis reverenciavam-no, esforçavam-se por lhe tirarem os seus sapatos no regresso das suas viagens apostólicas, considerando uma graça prestarem-lhe um pequeno serviço. Formou vários discípulos, como ele mesmo tinha sido formado pelos apóstolos. Santo Ireneu, bispo de Lião, foi deste número. «Tenho ainda presente no espírito, diz este santo, a gravidade do seu caminhar, a majestade do seu rosto, a pureza da sua vida e as santas exortações com que alimentava o seu povo. Parece-me que ainda o ouço dizer como tinha conversado com S. João, e com vários outros que tinham visto Jesus Cristo, as palavras que tinha escutado das suas bocas e as particularidades que tinha aprendido dos milagres e da doutrina deste divino Salvador. Tudo o que acerca disto dizia era absolutamente conforme às divinas Escrituras, como sendo transmitido por aqueles que tinham sido as testemunhas oculares do Verbo, da palavra de vida» ... A virtude é sempre provada. Nosso Senhor, no Apocalipse, descreve as provações do nosso grande santo: «Conheço a tua tribulação e a tua pobreza - e no entanto és rico - e sei que és difamado pelos que se dizem judeus, mas não são mais do que uma sinagoga de Satanás. Não temas os sofrimentos que te esperam. O diabo vai meter alguns de vós na prisão, para serdes postos à prova; e sereis atribulados durante dez dias. Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida.» O povo enganado pediu a sua morte, como tinha feito para Cristo. Procuraram o santo no seu modesto quarto. Teria podido salvar-se, mas não quis. «Que se faça a vontade de Deus!», diz. Os guardas queriam persuadi-lo a oferecer incenso aos ídolos e a César para salvar a sua vida. «Não posso», disse-lhes simplesmente. Como Jesus, foi conduzido ao suplício, bruscamente e sem considerações. Caiu e levantou-se pelo caminho. No anfiteatro, ouviram uma voz do céu que dizia: «Coragem, Policarpo, sê firme!» O magistrado pressionou-o em vão para que renunciasse a Jesus Cristo. «Há oitenta e seis anos que o sirvo, diz o santo, e nunca me fez mal». O povo gritava: «É o chefe dos cristãos, o destruidor dos nossos deuses; foi ele que ensinou a muitos a não mais os adorarem". Teriam querido que o entregassem aos leões, mas o espetáculo público tinha terminado. Condenaram-no ao fogo. O povo correu a procurar madeira nas lojas e nos banhos públicos e preparou uma grande fogueira. (Leão Dehon, OSP 3, p. 92s.).
    Policarpo, segundo a palavra de Paulo, "oferecei os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus" (Rm 12, 1), fez de si mesmo, uma oblação a Deus. A eucaristia que celebrava no altar plasmou totalmente a sua vida e a sua morte. O seu martírio foi uma verdadeira celebração litúrgica.

    Oratio

    Grande santo, ajudai-me. Vós sois uma testemunha do amor do Coração de Jesus, aceso na vossa alma pelo apóstolo S. João. Ajudai-me a amar o Coração de Jesus, a imitar as suas virtudes de humildade, de mansidão, de generosidade, a sofrer com Ele e por Ele, esperando a hora de ir gozar na sua presença. (Leão Dehon, OSP 3, p. 94).

    Contemplatio

    Aconteceu a S. Policarpo o que tinha acontecido ao seu mestre S. João, o fogo do seu coração ultrapassou e extinguiu o fogo material com que o envolviam. Tinha-se entregue ao suplício. Como o quisessem pregar a um poste, disse: «Deixai-me; aquele que me dá a força para sofrer o fogo, dar-me-á a graça de permanecer firme na fogueira, sem o socorro dos vossos pregos». Contentaram-se em ligá-lo com cordas. Assim amarrado, ergueu os seus olhos ao céu e disse: «Senhor, Deus todo poderoso, dou-vos graças pelo que me haveis concedido neste dia, por entrar no número dos vossos mártires e tomar parte no cálice do vosso Cristo, a fim de que eu ressuscite para a vida eterna. Que eu seja admitido hoje com eles na vossa presença, como uma vítima de agradável odor, tal como a haveis preparado, predito e cumprido, vós que sois o verdadeiro Deus; eu vos bendigo, vos glorifico pelo pontífice eterno e celeste, Jesus Cristo vosso filho, ao qual seja dada glória, assim como a vós e ao Espírito Santo, agora e em toda a eternidade. Ámen!» Quanto disse ámen, acenderam o fogo, mas por um milagre surpreendente, a chama, em vez de consumir o santo mártir, estendeu-se à volta dele como a vela de um barco enfunada pelo vento. Os pagãos, vendo que o fogo se recusava a servi-los, mandaram ferir o santo com um golpe de espada e o seu sangue extinguiu a fogueira. (Leão Dehon, OSP 3, p. 93s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Recebei-me, Senhor, como oblação de suave odor" (S. Policarpo).

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    S. Policarpo, Bispo e Mártir (23 Fevereiro)

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