Events in Fevereiro 2019
- Tempo Comum - Anos Ímpares - III Semana - Sexta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - III Semana - Sexta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - III Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 10, 32-39
Irmãos, 32Recordai os primeiros dias nos quais, depois de terdes sido iluminados, 33suportastes a grande luta dos sofrimentos, tanto sendo expostos publicamente a insultos e tribulações, como sendo solidários com os que assim eram tratados. 34Tomastes parte nos sofrimentos dos encarcerados, aceitastes com alegria a confiscação dos vossos bens, sabendo que possuís bens melhores e mais duradouros. 35Não percais, pois, a vossa confiança, à qual está reservada uma grande recompensa. 36Na realidade, tendes necessidade de perseverança, para que, tendo cumprido a vontade de Deus, alcanceis a promessa. 37Pois ainda um pouco, de facto, um pouco apenas, e o que há-de vir, virá e não tardará. 38O meu justo viverá pela fé, mas, se ele voltar atrás, a minha alma não encontrará nele satisfação. 39Nós, porém, não somos daqueles que voltam atrás para a perdição, mas homens de fé para a salvação da nossa alma.
Consciente do delicado momento por que passa a comunidade judeo-cristã a que se dirige, o autor da Carta aos Hebreus, revelando profundo conhecimento do coração humano e grande capacidade de discernimento na orientação espiritual das almas, oferece-nos uma página cheia de sabedoria pastoral. Serpeia na comunidade a ameaça da tibieza que muitas vezes degenera em apostasia aberta ou em vida pecaminosa contrária à fé. Embora denuncie o perigo, o nosso autor não condena abertamente nem repreende com dureza. Prefere usar a exortação. Lembra que o passado de uma fé inquebrantável deve servir de estímulo para o presente. «Recordai os primeiros dias nos quais, depois de terdes sido iluminados, suportastes a grande luta dos sofrimentos» (v. 32-33). Entrevemos uma comunidade que deu provas de grande fortaleza e caridade, uma comunidade capaz de enfrentar as perseguições e as mais graves humilhações sem recuar. Até foi solidária com quem estava em provações! Era, pois, uma comunidade plenamente cristã, animada de verdadeiro amor fraterno, porque a sua fé estava apoiada pela certeza dos bens futuros. No actual momento de crise, há que reavivar essa fé, alimentando-a na palavra de Deus.
Evangelho: Mc 4, 26-34
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 26Dizia ainda: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. 27Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. 28A terra produz por si, primeiro o caule, depois a espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga. 29E, quando o fruto amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa.» 30Dizia também: «Com que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com qual parábola o representaremos? 31É como um grão de mostarda que, ao ser deitado à terra, é a mais pequena de todas as sementes que existem; 32mas, uma vez semeado, cresce, transforma-se na maior de todas as plantas do horto e estende tanto os ramos, que as aves do céu se podem abrigar à sua sombra.» 33Com muitas parábolas como estas, pregava-lhes a Palavra, conforme eram capazes de compreender. 34Não lhes falava senão em parábolas; mas explicava tudo aos discípulos, em particular.
As duas parábolas, que Marcos põe na boca de Jesus, ilustram dois aspectos da inevitável tensão dialéctica do reino de Deus na história.
A parábola da semente, que cresce sem a intervenção do agricultor, diz-nos que o Reino é uma iniciativa de Deus, que deve permanecer sempre acima de toda a tentativa humana para guiar o curso do seu crescimento e maturação. É claro que Deus conta com a colaboração humana: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra» (v. 26). Para sublinhar a acção de Deus, a parábola esquece diversos trabalhos necessários, à sementeira, à limpeza, à rega, etc. Mas alude ao acto de semear. É essa a tarefa dos discípulos que, depois, devem aguardar, com paciência, que a Palavra actue pela força que tem em si mesma e dê fruto no tempo e no modo que Deus quiser.
A segunda parábola apresenta o reino como um grão de mostarda, que dá origem a um grande arbusto. Também aqui encontramos uma importante mensagem de confiança para a comunidade primitiva e para nós. Não havemos de preocupar-nos por sermos poucos e pequenos: a Palavra de Deus dará frutos incomensuráveis, não por nosso mérito, mas pela graça.
Os vv. 33 e 34 retomam o tema das parábolas para o grande público e das explicações privadas aos discípulos.Meditatio
Podemos imaginar a alegria dos primeiros judeo-cristãos quando, iluminados pela graça, reconheceram em Jesus o Messias, o Esperado de todos os povos, o Salvador prometido. Essa descoberta surpreendente levou-os a entrar jubilosamente e a percorrer com entusiasmo e fervor o «caminho novo e vivo» que Deus lhes oferece em Jesus. Mas rapidamente se deram conta de que esse caminho é longo e duro e, à exaltação inicial, seguiu o cansaço e o desânimo. Era a hora da provação em que era preciso resistir com paciência. O autor da Carta aos Hebreus exorta os seus interlocutores à perseverança. Ainda que a paisagem se apresente desolada, cada passo aproxima-nos da meta. Na vida de cada um de nós há momentos em que precisamos de nos agarrar com todas as forças à esperança. Essa virtude é como que o bordão do peregrino a caminho do reino dos céus.
No evangelho, o Senhor ensina-nos a fé e a humildade, mas também a esperança. O crescimento espiritual não depende de nós, mas da Palavra de Deus semeada em nós. Só ela pode salvar a nossa vida. É bom desejar crescer e caminhar espiritualmente. É bom fazer por isso. Mas não basta a nossa boa vontade, não chegam os nossos esforços. O agricultor que lança a semente à terra, e procura rodeá-la das condições adequadas, não pode pretender fazê-la germinar e crescer. Esse poder não está nas suas mãos, mas nas de Deus.
O Senhor ensina-nos o abandono confiante a Deus na esperança. Como a terra acolhe a semente, assim devemos acolher a Palavra. E ela crescerá sem sabermos como. O abandono confiante a Deus e a esperança tornam suportável o tempo que vai da sementeira à colheita. Essa esperança baseia-se na experiência dos peregrinos de Emaús, na certeza de que Aquele que nos chama para a meta é também nosso silencioso companheiro de viagem. Quanto mais o caminho é difícil, mais Ele se faz presente.
Há pois que evitar a pressa de ver resultados, também no nosso itinerário espiritual. S. Francisco de Sales era severo com aqueles que se deixavam tomar por ela. Trabalhava muito mas ensinava que é preciso fazer tudo pacientemente: agir pacientemente, rezar pacientemente, sofrer pacientemente, lutar pacientemente. Se nos apoiarmos no Senhor verificaremos que Ele faz crescer em tudo, muitas vezes mais lentamente do que desejamos, mas outras vezes de m
odo mais belo e mais rápido do que esperamos. Não temos o metro para medir o crescimento, nem sequer o nosso. Por isso, precisamos de fé, de confiança, de paciência: o poder de fazer crescer pertence somente a Deus.
A vida de oblação que corresponde ao voto de vítima tão caro ao Pe. Dehon e aos nossos primeiros religiosos, passa pela aceitação das cruzes e canseiras de cada dia, no nosso itinerário espiritual, e também pela irradiação dos frutos do Espírito: a caridade, com os sinais da alegria e da paz; a paciência, a bondade e a benevolência; com as condições para viver os frutos do Espírito: a mansidão e a humildade do coração, o apego a Cristo, o deixar-se guiar nos pensamentos, desejos, projectos, afectos, palavras e acções, não pelo nosso eu, muitas vezes egoísta e apressado, mas pelo Espírito de Deus, que tudo cria e faz crescer ao ritmo que bem Lhe apraz. Vivendo assim, manifestamos aquele estilo de vida, aqueles comportamentos que caracterizaram o Pe. Dehon, por todos conhecido como o «Très bon Père», confiadamente abandonado e paciente em todas as circunstâncias da sua vida e do seu apostolado.Oratio
Senhor, Tu és a nossa única esperança. Escondido na nossa fragilidade humana, experimentaste a perseguição, a solidão e a pobreza. Por nosso amor, aceitaste voluntariamente a morte, fizeste-Te nosso pão da vida, sustento do nosso caminho. Conheces o nosso coração e o nosso cansaço no esforço por conservar a fé e a esperança. Perdoa-nos se deixámos arrefecer o ardor e o entusiasmo do nosso primeiro amor, dos nossos primeiros passos no caminho para Ti. Faz-nos recordar o amor e o encanto com que optámos por Ti e Te seguimos na nossa juventude. Está connosco na tribulação e dá-nos o teu Espírito Santo para Te sermos fiéis até à morte. Amen.
Contemplatio
Nosso Senhor dá-nos o exemplo. Aceita as perseguições, as zombarias, as calúnias, para nos consolar nas nossas provações, para nos encorajar e para nos ensinar também que a paciência tem diante de Deus um grande valor. «A paciência, diz S. Paulo, é a provação, mas a provação prepara a esperança» (Rm 5,4). Nosso Senhor quis ser julgado e condenado e sucumbir vítima da justiça humana, para nos ensinar o desprezo das acusações falsas, das zombarias, dos juízos falsos e temerários. São tantas provas que se tornam também esperanças e fontes de graças, se as suportarmos em espírito de fé. O «seja crucificado» de Jesus, é a minha salvação, obtida pela sua paciência, pelos seus sofrimentos, pelas suas expiações, pelo amor do seu Coração. O seja crucificado da minha má natureza, é ainda a salvação obtida pelo sacrifício, pela mortificação, pela paciência. Obrigado a Nosso Senhor, pela sua adorável paciência, que é para mim a salvação e o exemplo a seguir. (Leão Dehon, OSP 3, p. 347s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Não percais a vossa confiança» (Heb 10, 35). - Apresentação do Senhor
Apresentação do Senhor
Esta festa já era celebrada em Jerusalém, no século IV. Chamava-se festa do encontro,hypapántè , em grego. Em 534, a festa estendeu-se a Constantinopla e, no tempo do Papa Sérgio, chegou a Roma e ao Ocidente. Em Roma, a festa incluía uma procissão até à Basílica de S. Maria Maior. No século X, começaram a benzer-se as velas.
José e Maria levam o Menino Jesus ao templo, oferecendo-o ao Pai. Como toda a oferta implica renúncia, a Apresentação do Senhor é já o começo do mistério do sofrimento redentor de Jesus, que atingirá o seu ponto culminante no Calvário. Maria e José unem-se à oferta do seu divino Filho estando a seu lado e colaborando, cada um a seu modo, na obra da Redenção.
Lectio
Primeira Leitura: Malaquias 3, 1-4
Assim fala o Senhor: "Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais, e o mensageiro da aliança, que vós desejais. Ei-lo que chega! - diz o Senhor do universo. 2Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer?Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. 3Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará, como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o Senhor os que apresentam a oferta legítima. 4Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor como nos dias antigos, como nos anos de outrora".
Os dois mensageiros anunciados pelo profeta introduzem-se mutuamente: um prepara a vinda do Senhor e outro realiza a Aliança, é o Esperado. Estas duas figuras perspetivam João Baptista e Cristo. Um é apenas precursor; o outro é o Messias esperado, de origem divina, o Redentor. O primeiro prepara o caminho; o segundo entra efetivamente no templo, santificando, pela oferta de si mesmo, o sacrifício da nova Aliança, os ministros e o culto.
Segunda leitura: Hebreus 2, 14-18
Uma vez que os filhos dos homens têm em comum a carne e o sangue, também Ele partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, 15e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão. 16Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de Abraão. 17Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. 18É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova.
A carne e o sangue, submetidos ao poder da morte pelo inimigo, são divinizados e libertados por Cristo, Deus feito homem. A descendência de Abraão é restituída à vida. O Filho de Deus apresenta-se como primeiro entre muitos irmãos e como sacerdote, mediador na sua divindade e humanidade, da fidelidade de Deus, Pai da vida.
Evangelho: Lucas 2, 22-40
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor.27Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito. 28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29«Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30porque meus olhos viram a Salvação 31que ofereceste a todos os povos, 32Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» 33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»36Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.
O Evangelho da Infância de Jesus tem o seu ponto alto no templo, lugar da plenitude do povo de Israel. É aí que Zacarias ouve a palavra que dirige a história para a sua meta (anúncio de João); é aí que o Menino é apresentado a Deus, revelado a Simeão e a Ana. É daí que regressa a Nazaré. Pano de fundo da cena da apresentação é lei judaica segundo a qual os primogénitos são sagrados e, por isso, devem ser apresentados a Deus. O Pai responde à apresentação e oferta de Jesus com o dom do Espírito ao velho Simeão, que profetiza. Israel pode estar descansado: a sua história não acaba em vão. Simeão viu o Salvador e sabe que a meta é agora o triunfo da vida.
Meditatio
Os pais de Jesus, de acordo com a lei mosaica, 40 dias depois do nascimento do primeiro filho, foram ao Templo de Jerusalém para oferecer o primogénito ao Senhor e para a mãe ser purificada. Mas este rito não foi exatamente igual aos outros. Nos ritos comuns, eram os pais que apresentavam os filhos a Deus em sinal de oferta e de pertença; neste rito é Deus que apresenta o seu Filho aos homens. Fá-lo pela boca do velho Simeão e da profetisa Ana. Simeão apresenta-O ao mundo como salvação para todos os povos, como luz que iluminará as gentes, mas também como sinal de contradição; como Aquele que revelará os pensamentos dos corações.
O encontro de Jesus com Simeão e Ana no Templo de Jerusalém é símbolo de uma realidade maior e universal: a Humanidade encontra o seu Senhor na Igreja. Malaquias preanunciava este encontro: «Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais». No Templo, Simeão reconheceu Jesus como o Messias esperado e proclamou-o salvador e luz do mundo. Compreendeu que, doravante, o destino de cada homem se decidia pela atitude assumida perante Ele; Jesus será ruína ou salvação. Como dirá João Baptista: Ele tem na mão a joeira para separar o trigo bom da palha (cf. Mt 3, 12).
É o que acontece, a outra escala, também hoje: no novo templo de Deus que é a Igreja, os homens «encontram» Cristo, aprendem a conhecê-lo, recebem-no na Eucaristia, como Simeão o recebeu nos braços; a sua palavra torna-se, aí, para eles, luz e o seu corpo força e alimento. É a experiência que fazemos, sempre que vamos à missa. A comunhão é um verdadeiro encontro entre Deus e nós. Hoje, essa experiência é acentuada pelo simbolismo da festa: a procissão com que entramos na igreja com o sacerdote, levando a vela acesa e cantando, era, sinal deste ir ao encontro de Jesus que nos chama no interior da sua igreja, na esperança de irmos ao seu encontro um dia no Hypapante eterno, quando formos nós a ser apresentados por Ele ao Pai.
A Candelária é festa de luz. A luz da fé não nos foi dada apenas para iluminar o nosso caminho, desinteressando-nos dos outros... A luz da fé também não é para ter acesa apenas na igreja, ou em certos momentos, mas em todos os momentos e situações da nossa vida... A nossa fé há de ser luz que ilumina, fogo que aquece... É luz e fogo quem é compreensivo e bom com todos... quem sabe apoiar os pequenos esforços... os pequenos progressos... quem tem palavras de amizade, de estímulo, de apoio... quem sabe dizer uma boa palavra, dar uma ajuda... O amor cristão tem a sua origem em Deus que nos amou e nos enviou o seu Filho com quem nos encontramos em vários momentos da nossa vida, particularmente quando celebramos a Eucaristia. Esse é o nosso encontro, enquanto esperamos o encontro definitivo no Céu.Oratio
Ó Jesus, eis-me aqui para fazer a vossa vontade. Quero estar atento e ouvir as vossas ordens, os vossos desejos, que me chegam através da vossa Palavra, das orientações dos vossos representantes na terra, dos acontecimentos da minha vida e da vida dos meus irmãos. Uno-me à oblação generosa do vosso divino Coração. Que quereis que vos faça? Dizei-mo, pelos meus pastores, pelas vossas inspirações, pela vossa providência. Falai, Senhor, que o vosso servo escuta. Iluminai-me com a vossa luz divina e refleti-la-ei nos meus irmãos. Ámen.
Contemplatio
«Eis-me aqui, meu Deus, para vos servir e para fazer a vossa vontade: Eis a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra». Esta é a regra, Maria obedece. Está escrito na lei, no Levítico e no Êxodo. A jovem mãe apresentar-se-á no templo para ser purificada, quarenta dias depois do nascimento de um filho e oitenta dias depois do nascimento de uma filha. Maria não costuma hesitar quando se trata da lei. Cumpre tudo à letra, segundo a Lei de Moisés. No quadragésimo dia, está em Jerusalém. Não examina se está dispensada pelo carácter sobrenatural da sua maternidade. A hesitação não lhe vem, é a lei. Como o seu divino Filho, renuncia a todo o privilégio e, contente com a sorte comum, obedece à lei. Jesus obedece e deixa-se levar, apresentar, resgatar, Maria obedece também e deixa-se purificar. Como Jesus, Maria leva no meio do seu Coração a lei de Deus, como sua regra de vida. Oh! Como esta obediência pontual, humilde, heroica, condena todas as nossas hesitações, toda a nossa procura de exceções e de dispensas! Maria podia dizer: Eis a serva do Senhor. E eu posso dizer: Ecce venio: eis que venho, Senhor, para obedecer, para fazer a vossa vontade. Eis o teu servo. (Leão Dehon, OSP 3, p. 120).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a Palavra do Senhor:
"Eu sou a luz do mundo" (Jo 8, 12).----
Apresentação do Senhor (02 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - III Semana - SábadoTempo Comum - Anos Ímpares - III Semana - Sábado
Tempo Comum - Anos Ímpares - III Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 11, 1-2.8-19
1Irmãos: a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem. 2Foi por ela que os antigos foram aprovados. 8Pela fé, Abraão, ao ser chamado, obedeceu e partiu para um lugar que havia de receber como herança e partiu sem saber para onde ia. 9Pela fé, estabeleceu-se como estrangeiro na Terra Prometida, habitando em tendas, tal como Isaac e Jacob, co-herdeiros da mesma promessa, 10pois esperava a cidade bem alicerçada, cujo arquitecto e construtor é o próprio Deus. 11Pela fé, também Sara, apesar da sua avançada idade, recebeu a possibilidade de conceber, porque considerou fiel aquele que lho tinha prometido. 12Por isso, de um só homem, e já marcado pela morte, nasceu uma multidão tão numerosa como as estrelas do céu e incontável como a areia da beira-mar. 13Foi na fé que todos eles morreram, sem terem obtido os bens prometidos, mas tendo-os somente visto e saudado de longe, confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. 14Ora, os que assim falam mostram que procuram uma pátria. 15Se eles tivessem pensado naquela que tinham deixado, teriam tido oportunidade de lá voltar; 16mas agora eles aspiram a uma pátria melhor, isto é, à pátria celeste. Por isso, Deus não se envergonha de ser chamado o «seu Deus», porque preparou para eles uma cidade. 17Pela fé, Abraão, quando foi posto à prova, ofereceu Isaac, e estava preparado para oferecer o seu único filho, ele que tinha recebido as promessas e 18a quem tinha sido dito: Por meio de Isaac será assegurada a tua descendência. 19De facto, ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho.
Exposta a doutrina, o autor da Carta aos Hebreus, começa um capítulo todo dedicado à fé. À maneira sapiencial, apresenta uma galeria dos campeões da fé que viveram no Antigo Testamento, apresentando-os aos seus leitores cristãos como incentivo para que sigam os seus passos e perseverem na vivência da fé. Antes de fazer desfilar a série de homens e mulheres exemplares pela sua fé, o autor sintetiza todo o seu ensinamento e dá-nos uma chave de leitura logo no primeiro versículo: «a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem».
Abraão é o crente por excelência. No começo da sua caminhada, a fé foi-lhe necessária para obedecer à chamada de Deus e deixar a sua terra rumo a outra longínqua e desconhecida. A fé e a esperança acompanharam-no ao longo da vida errante e precária pelo deserto. Animado pela esperança, Abraão enfrentava decididamente o cansaço de uma vida nómada, esperando com absoluta certeza a Jerusalém celeste. A sua fé revelou-se maximamente no sacrifício de Isaac, o filho da promessa. Deus parecia contradizer-se e retirar ao patriarca aquele que era seu dom e garantia dos bens futuros prometidos. A fé de Abraão leva-o a oferecer a Deus o sacrifício de uma obediência heróica, que a «noite escura» da fé não enfraquece. Por isso Deus o recompensa, restituindo-lhe o filho, que estava disposto a sacrificar, e fazendo dele profecia da futura economia da salvação.Evangelho: Mc 4, 35-41
Naquele dia, 35ao entardecer, disse Jesus aos discípulos: «Passemos para a outra margem.» 36Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco onde estava; e havia outras embarcações com Ele. 37Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que este já estava quase cheio de água. 38Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada. 39Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?» Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma. 40Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» 41E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»
À proclamação do Reino de Deus, em parábolas, segue a apresentação dos benefícios dessa proclamação. É o que faz Marcos na nova secção do seu evangelho, onde apresenta quatro milagres, a começar pela tempestade acalmada (vv. 37ss.). A Boa Nova da Salvação atinge o homem todo, toda a sua existência: Jesus salva e cura os homens das mais diversas ameaças que estão a ponto de «alienar» a sua vida. É interessante notar o contraste entre a serenidade de Jesus, que dorme, e a ansiedade dos discípulos, que lutam bravamente contra as ondas e o vento. Parecem inverter-se os papéis: Jesus confia nos marinheiros e estes, angustiados, não revelam confiança em Jesus: «não te importas que pereçamos?» (v. 38). Quando Jesus finalmente intervém, calam-se o vento e o mar, e calam-se os aterrorizados marinheiros. Nem respondem às perguntas de Jesus: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?». O medo dos discípulos indica falta de fé. A intervenção de Jesus transforma-lhes o medo em temor de Deus. O poder manifestado por Jesus fê-los intuir a presença de Deus junto deles. E começam a dar-se conta da verdadeira identidade do seu Mestre.
Meditatio
O autor da Carta aos Hebreus leva-nos, hoje, a reflectir sobre o grande dom da fé: «Pela fé, Abraão... obedeceu e partiu... estabeleceu-se como estrangeiro na Terra Prometida... Pela fé, também Sara recebeu a possibilidade de conceber...». E o refrão «pela fé» vai sendo repetido para falar de Abel, de Enoc, de Isaac... O nosso texto limita-se a referir Abraão que, pela fé, partiu sem saber para onde ia, permaneceu como estrangeiro na Terra Prometda e que, posto à prova, se dispos a oferecer o seu filho único, mas o recuperou «numa espécie de prefiguração» (v. 19). Refere também o exemplo de Sara, que se tornou mãe quando a idade já não o permitia, «porque considerou fiel aquele que lho tinha prometido» (v. 11).
Saber confiar em Alguém é o caminho para a liberdade. Em muitos casos, não se trata de deixar geograficamente a pátria, a família; trata-se de uma outra «saída» muito mais radical, que está no fundamento de todas as outras: a saída de si mesmo. Esta saída pode significar simplesmente retomar cada manhã os mesmos trabalhos domésticos, de percorrer o abitual caminho que leva ao serviço, ou de permanecer imóvel no leito de dor, oferecendo cada momento ao Senhor para que dele disponha como julgar melhor.
Abraão partiu comprometendo toda a sua vida e tornou-se «pai dos crentes». Todo o «sim» generoso dito a Deus é fonte de bem para muitos. Toda a resistência ou recusa a Deus atrasa o caminho de todos para a realização da história. Abraão é louvado pela sua fé, ainda que apenas visse à dist&
acirc;ncia. No evangelho, os apóstolos são repreendidos pela sua falta de fé, apesar de Jesus estar próxmo deles. Um incrível paradoxo que nos há-de levar a reflectir. A fé não precisa de especiais condições. Quem sabe olhar as profundidades do coração acaba por descobrir que a Terra Prometida está aí e que se pode alcançá-la pela acto de obediência e de entrega que o Espírito vai sugerindo a cada instante.
«Feliz de ti que acreditaste» (Lc 1, 45), dizia Isabel a Maria. Maria acreditou numa situação de profunda obscuridade, no momento da anunciação; mas acreditou também noutro momento de maior obscuridade ainda: a morte do seu Filho, no Calvário. Na sua noite escura da fé, sentimos a Virgem muito próxima de nós, em comunhão com as nossas dolorosas experiências espirituais, como uma mãe que participa, em tudo, da vida dos filhos.Oratio
Salve, Senhor, nosso Rei, humilde e obediente ao Pai. Como manso cordeiro, foste levado à morte na cruz. Hoje, queremos unir-nos a Ti e contigo abandonar-nos à vontade do Pai, pronunciando com decisão e alegria o nosso «Eis-me aqui!». Concede-nos a graça de sermos dóceis e obedientes à tua palavra, de partirmos com generosidade e entusiasmo para as aventuras em que nos queres envolver, de suportarmos os nossos sofrimentos com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, a exemplo da tua e nossa Mãe, como eminente e misteriosa comunhão com os teus sofrimentos e a tua morte para redenção do mundo. Amen.
Contemplatio
Enquanto permanecestes com o vosso divino Filho, ó Rainha dos Anjos, o vosso Coração sagrado esteve à espera das dores que vos tinham sido anunciadas pelo velho Simeão: dores sem igual, porque a grandeza do vosso amor era a sua medida. A hora da Paixão chega: Jesus despede-se de vós para ir sofrer, e faz-vos compreender que, para cumprir a vontade de seu Pai, deveis acompanhá-lo ao pé da cruz, e que o vosso coração tão terno lá será trespassado pela espada da dor. S. João vem advertir-vos que o Cordeiro divino vai ser conduzido à imolação. Saís imediatamente da vossa morada, banhando com as vossas lágrimas as ruas de Jerusalém; encontrais o vosso Filho no meio de uma tropa furiosa de carrascos e de tigres, que rugem e blasfemam, pedindo a grandes gritos que o crucifiquem... Ele caminha carregado com o madeiro da cruz; vós o seguis, toda banhada com as vossas lágrimas e com o coração mergulhado numa dor imensa. Ele chega finalmente ao Gólgota. Com golpes de martelo enterram nos seus pés e nas suas mãos cravos que perfuram o vosso coração materno. Logo o elevam da terra no meio de blasfémias. Ó meu Deus! Todo o vosso sangue gela nas vossas veias. Durante três horas permaneceis ao pé da cruz de Jesus, cravada pelo amor e pela dor a esta árvore sagrada, até /262 que enfim Ele expira no meio dos mais horríveis tormentos... Depositam-no sem vida nos vossos braços. A terra nunca viu semelhante dor. (Leão Dehon, OSP 3, 676s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«A fé é garantia das coisas que se esperam» (Heb 11, 1). - 04º Domingo do Tempo Comum – Ano C
04º Domingo do Tempo Comum – Ano C
ANO C
4º DOMINGO DO TEMPO COMUMTema do 4º Domingo do Tempo Comum
O tema da liturgia deste domingo convida a reflectir sobre o “caminho do profeta”: caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de esperança, porque é um caminho onde Deus está. A liturgia de hoje assegura ao “profeta” que a última palavra será sempre de Deus: “não temas, porque Eu estou contigo para te salvar”.
A primeira leitura apresenta a figura do profeta Jeremias. Escolhido, consagrado e constituído profeta por Jahwéh, Jeremias vai arrostar com todo o tipo de dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão e de tornar uma realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus.
O Evangelho apresenta-nos o profeta Jesus, desprezado pelos habitantes de Nazaré (eles esperavam um Messias espectacular e não entenderam a proposta profética de Jesus). O episódio anuncia a rejeição de Jesus pelos judeus e o anúncio da Boa Nova a todos os que estiverem dispostos a acolhê-la – sejam pagãos ou judeus.
A segunda leitura parece um tanto desenquadrada desta temática: fala do amor – o amor desinteressado e gratuito – apresentando-o como a essência da vida cristã. Pode, no entanto, ser entendido como um aviso ao “profeta” no sentido de se deixar guiar pelo amor e nunca pelo próprio interesse… Só assim a sua missão fará sentido.LEITURA I – Jer 1,4-5.17-19
Leitura do Livro de Jeremias
No tempo de Josias, rei de Judá,
a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos:
«Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi;
antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei
e te constituí profeta entre as nações.
Cinge os teus rins e levanta-te,
para ires dizer tudo o que Eu te ordenar.
Não temas diante deles,
senão serei Eu que te farei temer a sua presença.
Hoje mesmo faço de ti uma cidade fortificada,
uma coluna de ferro e uma muralha de bronze,
diante de todo este país, dos reis de Judá e dos seus chefes,
diante dos sacerdotes e do povo da terra.
Eles combaterão contra ti, mas não poderão vencer-te,
porque Eu estou contigo para te salvar».AMBIENTE
A actividade profética de Jeremias começa por volta de 627/626 a.C. (quando o profeta teria pouco mais de vinte anos) e prolonga-se até depois da queda de Jerusalém nas mãos dos Babilónios (586 a.C.). O cenário dessa actividade é, em geral, o reino de Judá (e, sobretudo, a cidade de Jerusalém).
É uma época muito conturbada, quer a nível político, quer a nível religioso. Judá acabou de sair dos reinados de Manassés (698-643 a.C.) e de Amon (643-640 a.C.), reis ímpios que multiplicaram no país os altares aos deuses estrangeiros e levaram o Povo a afastar-se de Jahwéh. Na época em que Jeremias começa o seu ministério profético, o rei de Judá é Josias (640-609 a.C.): trata-se de um rei bom, que procura eliminar o culto aos deuses estrangeiros e concentrar a vida litúrgica de Judá num único lugar – o Templo de Jerusalém. No entanto, a reforma religiosa levada a cabo por Josias levanta algumas resistências; por outro lado, é uma reforma que é mais aparente do que real: não se pode, por decreto e de repente, corrigir o coração do Povo e eliminar hábitos religiosos cultivados ao longo de algumas dezenas de anos.
É neste ambiente que Jeremias é chamado por Deus e enviado em missão.MENSAGEM
O texto que nos é proposto apresenta o relato que Jeremias faz do seu chamamento por Deus. Mais do que uma reportagem do “momento” em que Deus chamou o profeta, trata-se de uma reflexão e de uma catequese sobre esse mistério sempre antigo e sempre novo a que chamamos “vocação”.
A vocação profética, na perspectiva de Jeremias, é, em primeiro lugar, um encontro com Deus e com a sua Palavra (“a Palavra do Senhor foi-me dirigida…” – vers. 4). A Palavra marca, a partir daí, a vida do profeta e passa a ser, para ele, a única coisa decisiva.
Em segundo lugar, a vocação é um desígnio divino: foi Deus que escolheu, consagrou e constituiu Jeremias como profeta. Dizer que Deus “escolheu” o profeta (literalmente, “conheceu” – do verbo “yada‘”) é dizer que Deus, por sua iniciativa, estabeleceu desde sempre com ele uma relação estreita e íntima, de forma que o profeta, vivendo na órbita de Deus, aprendesse a discernir os planos de Deus para os homens e para o mundo. Dizer que Deus “consagrou” o profeta significa que Deus o “reservou”, que o “pôs à parte” para o seu serviço. Dizer que Deus “constituiu” o profeta “para as nações” significa que Deus lhe confiou uma missão, missão que tem um alcance universal. Tudo isto, no entanto, resulta da acção e da escolha de Deus, é iniciativa de Deus e não escolha do homem.
Na segunda parte do texto, temos o envio formal do profeta. Ele deve ir “dizer o que o Senhor ordenar”, sem medo nem servilismo, enfrentando os grandes da terra, armado apenas com a força de Deus. É a definição do “caminho profético”, percorrido no sofrimento, no risco, na solidão, no conflito com todos os que se opõem à proposta de Deus. A leitura de hoje termina com um convite à confiança: “não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te salvar” – vers. 19).
A vida de Jeremias realizou, integralmente, o projecto de Deus. A propósito e a despropósito, Jeremias denunciou, criticou, demoliu e destruiu, edificou e plantou. Não teve muito êxito: a família, os amigos, o povo de Jerusalém, as autoridades, os sacerdotes, viraram-lhe as costas, marginalizaram-no, perseguiram-no e maltrataram-no. No entanto, Jeremias nunca renunciou: Deus invadiu-lhe de tal forma a vida, e a paixão pela Palavra de Deus “apanhou-o” de tal forma, que o profeta viveu até ao fim, com a máxima intensidade, a sua missão.ACTUALIZAÇÃO
Considerar, para reflexão, as seguintes questões:
• Os “profetas” não são uma classe de animais extintos há muitos séculos, mas são uma realidade com que Deus continua a contar para intervir no mundo e para recriar a história. Quem são, hoje, os profetas? Onde estão eles?
• No Baptismo, fomos ungidos como profetas, à imagem de Cristo. Estamos conscientes dessa vocação a que Deus a todos nos convocou? Temos a noção de que somos a “boca” através da qual a Palavra de Deus se dirige aos homens?
• O profeta é o homem que vive de olhos postos em Deus e de olhos postos no mundo (numa mão a Bíblia, na outra o jornal diário). Vivendo em comunhão com Deus e intuindo o projecto que Ele tem para o mundo, e confrontando esse projecto com a realidade humana, o profeta percebe a distância que v
ai do sonho de Deus à realidade dos homens. É aí que ele intervém, em nome de Deus, para denunciar, para avisar, para corrigir. Somos estas pessoas, simultaneamente em comunhão com Deus e atentas às realidades que desfeiam o nosso mundo?• A denúncia profética implica, tantas vezes, a perseguição, o sofrimento, a marginalização e, em tantos casos, a própria morte (Óscar Romero, Luther King, Gandhi…). Como lidamos com a injustiça e com tudo aquilo que rouba a dignidade dos homens? O medo, o comodismo, a preguiça, alguma vez nos impediram de ser profetas?
• Em concreto, em que situações sou chamado, no dia a dia, a exercer a minha vocação profética?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 70 (71)
Refrão: A minha boca proclamará a vossa salvação.
Em Vós, Senhor, me refugio,
jamais serei confundido.
Pela vossa justiça, defendei-me e salvai-me,
prestai ouvidos e libertai-me.Sede para mim um refúgio seguro,
a fortaleza da minha salvação.
Vós sois a minha defesa e o meu refúgio:
meu Deus, salvai-me do pecador.Sois Vós, Senhor, a minha esperança,
a minha confiança desde a juventude.
Desde o nascimento Vós me sustentais,
desde o seio materno sois o meu protector.A minha boca proclamará a vossa justiça,
dia após dia a vossa infinita salvação.
Desde a juventude Vós me ensinais
e até hoje anunciei sempre os vossos prodígios.LEITURA II – 1 Cor 12,31-13,13
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Aspirai com ardor aos dons espirituais mais elevados.
Vou mostrar-vos um caminho de perfeição que ultrapassa tudo:
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver caridade,
sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu possua a plenitude da fé,
a ponto de transportar montanhas,
se não tiver caridade, nada sou.
Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver caridade, de nada me aproveita.
A caridade é paciente, a caridade é benigna;
não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa;
não é inconveniente, não procura o próprio interesse;
não se irrita, não guarda ressentimento;
não se alegra com a injustiça,
mas alegra-se com a verdade;
tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
O dom da profecia acabará,
o dom das línguas há-de cessar,
a ciência desaparecerá;
mas a caridade não acaba nunca.
De maneira imperfeita conhecemos,
de maneira imperfeita profetizamos.
Mas quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
Quando eu era criança, falava como criança,
sentia como criança e pensava como criança.
Mas quando me fiz homem, deixei o que era infantil.
Agora vemos como num espelho e de maneira confusa,
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de maneira imperfeita,
depois, conhecerei como sou conhecido.
Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e a caridade;
mas a maior de todas é a caridade.AMBIENTE
Há quem chame a este texto “o Cântico dos Cânticos da nova aliança”. Também se lhe chama, habitualmente, o “hino ao amor”.
À primeira vista, este “elogio do amor” poderia parecer uma página completamente desligada do contexto anterior (a discussão acerca dos carismas). Na realidade, este texto apresenta afinidades claras, tanto a nível literário como a nível temático, com os capítulos precedentes, bem como com os capítulos seguintes. Ainda que possamos retirar este hino do seu contexto, sem que ele perca o sentido, a verdade é que Paulo quer aqui dizer, sem meias palavras e de forma clara e contundente, que só há um carisma absoluto: o amor.MENSAGEM
Antes de mais, convém dizer que o amor de que Paulo fala aqui é o amor (em grego, “agape”) tal como ele é entendido pelos cristãos: não é o amor egoísta, que procura o próprio bem, mas o amor gratuito, desinteressado, sincero, fraterno, que se preocupa com o outro, que sofre pelo outro, que procura o bem do outro sem esperar nada em troca. Desse tipo de relacionamento, nasce a Igreja – a comunidade dos que vivem o “agape”.
O nosso texto desenvolve-se em três estrofes. Na primeira (13,1-3), Paulo sustenta que, sem amor, até as melhores coisas (a fé, a ciência, a profecia, a distribuição de esmolas pelos pobres) são vazias e sem sentido. Só o amor dá sentido a toda a vida e a toda a experiência cristã.
Na segunda estrofe (13,4-7), Paulo apresenta literariamente o amor como uma pessoa e sugere que ele é a fonte e a origem de todos os bens e qualidades. A propósito, Paulo enumera quinze características ou qualidades do verdadeiro amor: sete destas qualidades são formuladas positivamente e as outras oito de forma negativa; mas todas elas se referem a coisas simples e quotidianas, que experimentamos e vivemos a todos os instantes, a fim de que ninguém pense que este “amor” é algo que só diz respeito aos santos, aos sábios, aos especialistas.
A terceira estrofe (13,8-13) estabelece uma comparação entre o amor e o resto dos carismas. A questão é: este amor de que se disseram coisas tão bonitas é algo imperfeito, temporal e caduco como o resto dos carismas? Este amor – responde Paulo – não desaparecerá nunca, não mudará jamais. Ele é a única coisa perfeita; por isso permanecerá sempre. Fica, assim, confirmada a superioridade incontestável do amor frente a qualquer outro carisma – por muito que seja apreciado pelos coríntios ou por qualquer comunidade cristã, no futuro.ACTUALIZAÇÃO
Para reflectir, ter em conta as seguintes questões:
• O amor cristão – isto é, o amor desinteressado que leva, por pura gratuidade, a procurar o bem do outro – é, de acordo com Paulo, a essência da experiência cristã. É esse o amor que me move? Quando faço algo, partilho algo, presto algum serviço, é com essa atitude desinteressada, de puro dom?
• Desse amor partilhado nasce a comunidade de irmãos a que chamamos Igreja. O amor que une os vários membros da nossa comunidade cristã é esse amor generoso e desinteressado de que Paulo fala? Quando a comunidade cristã é palco de lutas de interesses, de ciúmes, de rivalidades egoístas, que testemunho de amor está a dar?
ALELUIA – Lc 4,18
Aleluia. Aleluia.
O Senhor enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres,
a proclamar aos cativos a redenção.EVANGELHO – Lc 4,21-30
Evangelho de Nosso Senhor Jes
us Cristo segundo São LucasNaquele tempo,
Jesus começou a falar na sinagoga de Nazaré, dizendo:
«Cumpriu-se hoje mesmo
esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».
Todos davam testemunho em seu favor
e se admiravam das palavras cheias de graça
que saíam da sua boca.
E perguntavam:
«Não é este o filho de José?»
Jesus disse-lhes:
«Por certo Me citareis o ditado:
‘Médico, cura-te a ti mesmo’.
Faz também aqui na tua terra
o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum».
E acrescentou:
«Em verdade vos digo:
Nenhum profeta é bem recebido na sua terra.
Em verdade vos digo
que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias,
quando o céu se fechou durante três anos e seis meses
e houve uma grande fome em toda a terra;
contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas,
mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia.
Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu;
contudo, nenhum deles foi curado,
mas apenas o sírio Naamã».
Ao ouvirem estas palavras,
todos ficaram furiosos na sinagoga.
Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade
e levaram-n’O até ao cimo da colina
sobre a qual a cidade estava edificada,
a fim de O precipitarem dali abaixo.
Mas Jesus, passando pelo meio deles,
seguiu o seu caminho.AMBIENTE
Estamos na sequência do episódio que a liturgia de domingo passado nos apresentou. Jesus foi a Nazaré, entrou na sinagoga, foi convidado a ler um trecho dos Profetas e a fazer o respectivo comentário… Leu uma citação de Is 61,1-2 e “actualizou-o”, aplicando o que o profeta dizia, a Si próprio e à sua missão: “cumpriu-se hoje mesmo este trecho da Escritura que acabais de ouvir”.
O Evangelho de hoje apresenta a reacção dos habitantes de Nazaré à acção e às palavras de Jesus.MENSAGEM
O episódio da sinagoga de Nazaré é, já o dissemos atrás, um episódio “programático”: a Lucas não interessa descrever de forma coerente e lógica um episódio em concreto acontecido em Nazaré por altura de uma visita de Jesus, mas enunciar as linhas gerais do programa que o Messias vai cumprir – linhas que o resto do Evangelho vai revelar.
O programa de Jesus é, como vimos a semana passada (o texto de Is 61,1-2 e o comentário posterior de Jesus demonstram-no claramente), a apresentação de uma proposta de libertação aos pobres, marginalizados e oprimidos. No entanto, esse “caminho” não vai ser entendido e aceite pelo povo judeu (isto é, os “da sua terra”), que estão mais interessados num Messias milagreiro e espectacular. Os “seus” rejeitarão a proposta de Jesus e tentarão eliminá-l’O (anúncio da morte na cruz); mas a liberdade de Jesus vence os inimigos (alusão à ressurreição) e a evangelização segue o seu caminho (“passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”), até atingir os que estão verdadeiramente dispostos a acolher a salvação/libertação (alusão a Elias e Eliseu que se dirigiram aos pagãos porque o seu próprio povo não estava disponível para escutar a Palavra de Deus).
Neste texto programático – já o dissemos, também, a semana passada – Lucas anuncia o caminho da Igreja: a comunidade crente toma consciência de que, em continuidade com o caminho de Jesus, a sua missão é levar a Boa Nova aos pobres e marginalizados – como Elias fez com uma viúva de Sarepta ou como Eliseu fez com um leproso sírio. Se percorrer esse caminho, a Igreja viverá na fidelidade a Cristo.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão sobre este texto pode considerar as seguintes questões:
• “Nenhum profeta é bem recebido na sua terra”. Os habitantes de Nazaré julgam conhecer Jesus, viram-n’O crescer, sabem identificar a sua família e os seus amigos mas, na realidade, não perceberam a profundidade do seu mistério. Trata-se de um conhecimento superficial, teórico, que não leva a uma verdadeira adesão à proposta de Jesus. Na realidade, é uma situação que pode não nos ser totalmente estranha: lidamos todos os dias com Jesus, somos capazes de falar algumas horas sobre Ele; mas a sua proposta tem impacto em nós e transforma a nossa existência?
• “Faz também aqui na terra o que ouvimos dizer que fizestes em Cafarnaum” – pedem os habitantes de Nazaré. Esta é a atitude de quem procura Jesus para ver o seu espectáculo ou para resolver os seus problemazinhos pessoais. Supõe a perspectiva de um Deus comerciante, de quem nos aproximamos para fazer negócio. Qual é o nosso Deus? O Deus de quem esperamos espectáculo em nosso favor, ou o Deus que em Jesus nos apresenta uma proposta séria de salvação que é preciso concretizar na vida do dia a dia?
• Como na primeira leitura, o Evangelho propõe-nos uma reflexão sobre o “caminho do profeta”: é um caminho onde se lida, permanentemente, com a incompreensão, com a solidão, com o risco… É, no entanto, um caminho que Deus nos chama a percorrer, na fidelidade à sua Palavra. Temos a coragem de seguir este caminho? As “bocas” dos outros, as críticas que magoam, a solidão e o abandono, alguma vez nos impediram de cumprir a missão que o nosso Deus nos confiou?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 4º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. A ASSEMBLEIA, UM POVO DE IRMÃOS.
O célebre hino à caridade de Paulo, que a segunda leitura nos dá para meditar, recorda como é importante a caridade entre irmãos… na assembleia! É aí que deve acontecer em primeiro lugar a atenção ao outro, o acolhimento do outro, o respeito pelo outro. Parafraseando São Paulo, poderíamos dizer: “Podemos cantar os mais belos cânticos do mundo, mas se nos falta o amor fraterno, nada somos!” Na missa, Cristo manifesta a sua presença: na sua Palavra; sob as espécies do pão e do vinho; na pessoa do sacerdote; e na assembleia reunida em seu nome! Será que uma assembleia, cujos membros se comportam como “desconhecidos”, manifesta verdadeiramente a presença do Senhor da Vida?3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.No final da primeira leitura:
“Deus, Tu
que nos conheces melhor que ninguém, Tu que és a nossa força na provação e que estás ao nosso lado para nos libertar, nós Te damos graças.
Nós Te pedimos por todos os profetas de hoje, por aqueles que resistem aos poderosos pedindo o respeito pelos pobres e pelos fracos, por aqueles que mostram ao nosso mundo o caminho de uma vida mais justa e mais libertadora”.No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pelo teu amor infinito, que nos revelaste em Jesus, teu Filho, porque Ele teve paciência, esteve ao serviço, não procurou o seu interesse, tudo suportou, fez-Te confiança em tudo.
Nós Te recomendamos todas as famílias cristãs: enche-as do teu Espírito de amor, como nós Te pedimos na celebração dos casamentos”.No final do Evangelho:
“Deus fiel e paciente, bendito sejas pela mensagem de graça que saía da boca do teu Filho Jesus. Nós Te bendizemos pelos profetas que enviaste outrora aos pagãos, porque Tu queres a salvação e a felicidade de todos os homens.
Nós Te pedimos pelas nossas cidades, onde a mensagem do Evangelho provoca as mesmas oposições e rejeições que outrora em Nazaré. Que o teu Espírito sustente a nossa fé”.4. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus não deixa ninguém indiferente. Os seus compatriotas admiram-se, espantam-se com o seu ensino, ficam furiosos, tentam expulsá-los da cidade… Mas é em Nazaré que Jesus inicia a sua pregação. As pessoas sabem quem Ele é, conhecem a sua profissão, a sua família, mas ignoram o seu mistério. Como poderiam imaginar que Ele vem de Deus, que é o Filho de Deus? É necessário o tempo de provação para que os seus olhos se abram, os olhos da fé postos à prova pela morte e ressurreição do seu compatriota. E, vemo-lo bem ao longo de todo o Evangelho, são aqueles que nunca ninguém imaginou que vão fazer acto de fé e beneficiar das palavras e dos gestos de salvação do Filho de Deus. Como os profetas Elias e Eliseu, Jesus manifesta que Deus ama todos os homens; a salvação que veio trazer é oferecida a toda a humanidade.5. À ESCUTA DA PALAVRA.
Sabemos como as multidões são versáteis. Basta ver a atitude da multidão em Jerusalém: ora aclama Jesus, ora pede a sua more. A mesma versatilidade acontece com os habitantes de Nazaré. Têm reacções diferentes e interrogam-se, pois conhecem bem a identidade familiar de Jesus. Jesus avança no seu ensino e faz referência a dois episódios do Antigo Testamento, no tempo de Elias e de Eliseu: a viúva estrangeira e o general sírio, que beneficiam dos gestos salvíficos de Deus e não os filhos de Israel! Por outras palavras, diz que os habitantes de Nazaré são como os seus antepassados: não acolhem o tempo da visita de Deus. Da admiração, os habitantes passam ao ódio. E nós, hoje? Interroguemo-nos sobre a nossa atitude para com Jesus: a sua palavra surpreende-nos? Pomos de lado as suas palavras que nos provocam, para não nos pormos em questão? Preferimos ficar na nossa tranquilidade?6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II, cujos temas estão em harmonia com os do Evangelho.7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
No hino de Paulo que lemos neste domingo e que é uma das suas páginas mais célebres, o apóstolo indica-nos “um caminho superior a todos os outros”: não o caminho do amor-paixão, não o caminho do amor-amizade, mas o caminho do amor-caridade: o caminho da agapè. E para falar deste amor, em vez de dar definições, ele mostra-o em acção e utiliza 15 verbos: ter paciência, servir, não invejar, não se vangloriar, não se orgulhar, etc. Este hino eleva-nos, inflama-nos… mas proíbe-nos de sonhar: estes 15 verbos são verbos para a acção! Uma sugestão: reler este texto, substituindo “caridade” por “Cristo”. A agapè é Cristo que ama em nós!https://youtu.be/hSBelZli-lE
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org - S. João de Brito, Presbítero e Mártir
S. João de Brito, Presbítero e Mártir
João de Brito nasceu em Lisboa, a 1 de Março de 1647. Ainda criança, perdeu o pai, que fora mandado governar o Brasil por D. João IV, e lá faleceu. Aos 16 anos, João entrou no Noviciado da Companhia de Jesus em Lisboa. Foi ordenado sacerdote em 1673. Anelando conquistar almas para Jesus Cristo e sacrificar-se a exemplo de S. Francisco Xavier, partiu, pouco depois, para a Índias, onde trabalhou com ardor na missão do Maduré. A 4 de Fevereiro de 1693, sofreu o martírio, por decapitação, em Urgur. Foi canonizado em 1947.
Lectio
Primeira leitura: da féria (ou tempo Comum)
Evangelho: Marcos 6, 7-17
Naquele tempo, Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar. 7Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. 8Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto;9que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. 10E disse-lhes também: «Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali. 11E se não fordes recebidos numa localidade, se os seus habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.» 12Eles partiram e pregavam o arrependimento, 13expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos. 4O rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: «Este é João Baptista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres»;15outros diziam: «É Elias»; outros afirmavam: «É um profeta como um dos outros profetas.»16Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: «É João, a quem eu degolei, que ressuscitou.» 17Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara.
Marcos apresenta-nos uma das facetas essenciais da eclesiologia do Novo Testamento: a proclamação do Reino não é feita ao acaso; há uma "instituição" que põe em movimento e planifica o anúncio da Boa Nova.
Pregar o Reino implica ser enviado por Jesus. Da pregação faz parte um conteúdo intelectual, mas também uma dimensão prática. Por isso, Jesus deu aos Doze "poder sobre os espíritos impuros" (v. 7). Estes "espíritos impuros" ou "alienações" são tudo o que ameaça exteriormente o homem, não o deixando realizar-se como ser humano. A Boa Nova não é apenas uma determinada interpretação do mundo e da história, mas uma indicação de transformação desse mundo e dessa história, uma dinâmica desalienante.
Os discípulos são enviados "dois a dois": o anúncio faz-se sempre de forma comunitária. Os discípulos não podem levar consigo senão o estritamente necessário: nada de exageros, nem de triunfalismos. Mas, mais que a pobreza dos missionários, o nosso texto acentua a pobreza da missão: o missionário é enviado por Aquele que é o único responsável pelo êxito da missão. No cumprimento da missão, o apóstolo há-de estar pronto a dar própria vida. João de Brito deu-a como supremo testemunho da Verdade que anunciava.Meditatio
Marcos, ao falar da escolha dos Doze, diz que Jesus os chamou "para estarem com ele" e para "os enviar". Não se trata de contradição, mas de complementaridade: chamou-os para estarem em intimidade com Ele e serem enviados a propagar a sua mensagem.
S. João de Brito viveu este mistério. Educado piedosamente pela sua mãe, desde muito novo sonhou com o sacrifício e a imolação de si mesmo a Deus, por amor. A coerência e o fervor com que vivia a sua fé provocavam a mofa de alguns dos seus colegas pajens da corte. Por isso, bem cedo, começou a ser apelidado de mártir. Tendo entrado na Companhia de Jesus, em breve se distinguiu pela sua piedade e observância religiosa. A sua vida eucarística, a sua devoção a Nossa Senhora eram notáveis. Nesta vida de intimidade com Deus, sonhou partir para a Índia, e imitar o zelo de S. Francisco Xavier no anúncio da Boa Nova. E foi enviado pelos seus superiores com mais 17 missionários, em Março de 1673. Foi destinado à missão do Maduré, uma das mais difíceis por causa do clima ardente, das viagens longas pelas areias, pelos pântanos, pelas florestas. Mas havia dificuldades ainda maiores por causa da condição dos hindus e pelas suas ideias a respeito dos europeus. Tinham-nos como párias por verem que tratavam com estes "fora de castas". Por isso, não lhes consentiam que morassem nas suas aldeias. Mas a caridade inspirou aos missionários o modo de vencer tais dificuldades: adotaram os trajes, os costumes e o modo de viver dos brâmanes saniássis, espécie de religiosos letrados. Assim puderam prosseguir o seu apostolado. Em 1686, João de Brito esteve a ponto de perder a vida para socorrer os cristãos do Maravá sobre os quais se desencadeara tremenda tempestade. Saiu-lhe ao encontro o comandante das tropas do maravá que o prendeu com um grupo de catequistas e os mandou açoitar a todos, pretendendo que invocassem o deus Xivá. Resistiram, passando por muitos tormentos físicos e psicológicos. Dezoito dias depois, o rei condenava o padre à morte: seria espetado, depois de lhe cortarem os pés e as mãos. Seguiram-se novas tribulações, até que o rei, ouvindo João de Brito expor-lhe a doutrina cristã, ficou tão admirado com ela que acabou por declarar que os cristãos são justos e santos. Pouco depois, o P. João de Brito foi chamado à Europa pelo Provincial. Assim, a 8 de Setembro de 1688, chegou a Lisboa, sendo recebido por todos com grande admiração e com a benevolência do rei D. Pedro II, a quem expôs os seus trabalhos. Depois de percorrer os colégios da Companhia, João de Brito regressou à Índia, apesar das súplicas que muitos lhe fizeram para que não voltasse. O seu trabalho missionário produziu tais frutos, que se levantou contra ele nova perseguição, que acabou por levá-lo ao martírio, a 4 de Fevereiro de 1693. Na véspera da sua morte, o santo escrevia do cárcere: "Agora espero padecer a morte por meu Deus e meu Senhor... A culpa de que me acusam vem a ser que ensino a Lei de Deus Nosso Senhor... Quando a culpa é virtude, o padecer é glória". João de Brito continuava, na missão, a vida de intimidade com Deus, iniciada na sua infância e juventude. Se queremos relacionar-nos positivamente com os outros, se queremos ser missionários, precisamos de uma relação íntima, profunda e amorosa com Deus. Sem ela, a nossa vida não é verdadeira, a nossa entrega é vazia. Mas também não podemos viver a intimidade com Ele, fechando-nos aos outros. O egoísmo não conduz à adesão ao Senhor, à comunhão com Ele. Para ser vida de amor, a vida do cristão, particularmente a vida do dehoniano, deve ter o mesmo dinamismo que a de Cristo: ser um movimento de amor para Deus e para os irmãos.Oratio
Senhor, que fortalecestes com invencível constância o mártir São João de Brito para pregar a fé entre os povos da Índia, concedei-nos, por seus méritos e intercessão, que, celebrando a memória do seu triunfo, imitemos os exemplos da sua fé. Por Cristo, nosso Senhor. Ámen. (Coleta da missa).
Contemplatio
Nosso Senhor não responde (a Herodes). O momento é grave. Cumpre o seu sacrifício para a redenção do mundo. Não tem tempo para dar às questões frívolas e curiosas de Herodes. Aqui está para nós uma grande lição de vida interior, de gravidade, de dignidade. Nosso Senhor vive unido ao seu Pai, e não condescende em conversar com os homens a não ser que algum motivo de caridade ou de justiça o exija. O silêncio tem as suas preferências. Assim devia ser também para nós. É o que diz S. Paulo aos Filipenses: «Que a vossa modéstia seja manifesta a todos os homens!». A modéstia é aqui a moderação nas palavras e nas ações. "Guardai a calma, acrescenta S. Paulo, ocupai o vosso coração a louvar a Deus, a dar-lhe graças, a rezar. Se for preciso conversar com os homens, que seja sobre temas de edificação, de piedade ou de necessidade" (Fil 4,5)... Paulo recomendava a todos os seus discípulos esta modéstia de Cristo: «Revesti-vos, diz aos Colossenses, da doçura, da modéstia, da paciência de Jesus Cristo» (Col 3,12). A paciência infinita do bom Mestre manifesta-se também com brilho em casa de Herodes. O príncipe e a sua corte tratam Jesus como um louco. Zombam dele, insultam-no. Não lhe batem como os criados do Templo, mas gozam dele. É uma outra prova, não menos cruel para o Filho de Deus. (L. Dehon, OSP 3, p. 325s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Quando a culpa é virtude, o padecer é glória." (S. João de Brito)----
S. João de Brito, Presbítero e Mártir (04 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Segunda-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Segunda-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 11, 32-40
Irmãos: Que mais direi? Faltar-me-ia o tempo se quisesse falar acerca de Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, David e Samuel e dos profetas, 33os quais, pela fé, conquistaram reinos, exerceram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, 34extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza, recobraram a força, tornaram-se fortes na guerra, e puseram em fuga exércitos estrangeiros. 35Algumas mulheres recuperaram os seus mortos por meio da ressurreição. Alguns foram torturados, não querendo aceitar a libertação, para obterem uma ressurreição melhor; 36outros sofreram a prova dos escárnios e dos flagelos, das cadeias e da prisão. 37Foram apedrejados, serrados ao meio, mortos ao fio da espada; andaram errantes cobertos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, atribulados e maltratados; 38homens de quem o mundo não era digno, andaram vagueando pelos desertos, pelos montes, pelas grutas e pelas cavidades da terra. 39E todos estes, apesar de terem recebido um bom testemunho, graças à sua fé, não alcançaram a realização da promessa, 40porque Deus tinha previsto algo de melhor para nós, de modo que eles não alcançassem a perfeição sem nós.
Para animar os cristãos que vacilam na fé, o autor da Carta aos Hebreus faz desfilar diante deles uma longa série de heróis nacionais, como Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Samuel e David e outros que não nomeia explicitamente, mas onde não é difícil vislumbrar Daniel, os três jovens lançados à fornalha ardente, Elias e Eliseu... Embora sem também lhes referir os nomes, apresenta uma série de homens e de mulheres que sofreram perseguições e martírios. Entre eles é fácil identificar Eleázar, a mãe dos Macabeus e seus filhos, os profetas Zacarias, Jeremias e Elias. Deus não deixou sem recompensa o testemunho, o esforço e a confiança de todos estes heróis, profetas, santos e mártires. O seu testemunho tem tanto mais valor quanto não chegaram a ver cumprida a promessa. O seu exemplo é estimulante para os cristãos que tiveram essa dita. Não há, pois, razão para vacilar na fidelidade a Cristo, apesar das perseguições e da saudade dos ritos do templo. A fortaleza dos antigos deve estimular os destinatários da carta, fazendo-lhes compreender que a estranheza e a rejeição do mundo em relação a eles é condição normal de quem quer efectivamente aderir a Deus. A graça recebida em Cristo deve bastar-lhes para também se tornarem gigantes na fé, uma vez que é maior que a dos Antigos. De facto, em Jesus já se cumpriram as promessas de Deus.
Evangelho: Mc 5, 1-20
Naquele tempo, 1Jesus e os seus discípulos chegaram à outra margem do mar, à região dos gerasenos. 2Logo que Jesus desceu do barco, veio ao seu encontro, saído dos túmulos, um homem possesso de um espírito maligno. 3Tinha nos túmulos a sua morada, e ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com uma corrente, 4pois já fora preso muitas vezes com grilhões e correntes, e despedaçara os grilhões e quebrara as correntes; ninguém era capaz de o dominar. 5Andava sempre, dia e noite, entre os túmulos e pelos montes, a gritar e a ferir-se com pedras. 6Avistando Jesus ao longe, correu, prostrou-se diante dele 7e disse em alta voz: «Que tens a ver comigo, ó Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te, por Deus, que não me atormentes!» 8Efectivamente, Jesus dizia: «Sai desse homem, espírito maligno.» 9Em seguida, perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?» Respondeu: «O meu nome é Legião, porque somos muitos.» 10E suplicava-lhe insistentemente que não o expulsasse daquela região. 11Ora, ali próximo do monte, andava a pastar uma grande vara de porcos. 12E os espíritos malignos suplicaram a Jesus: «Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles.» 13Jesus consentiu. Então, os espíritos malignos saíram do homem e entraram nos porcos, e a vara, cerca de uns dois mil, precipitou-se do alto no mar e ali se afogou. 14Os guardas dos porcos fugiram e levaram a notícia à cidade e aos campos.As pessoas foram ver o que se passara. 15Ao chegarem junto de Jesus, viram o possesso sentado, vestido e em perfeito juízo, ele que estivera possuído de uma legião; e ficaram cheias de temor. 16As testemunhas do acontecimento narraram-lhes o que tinha sucedido ao possesso e o que se passara com os porcos. 17Então, pediram a Jesus que se retirasse do seu território. 18Jesus voltou para o barco e o homem que fora possesso suplicou-lhe que o deixasse andar com Ele. 19Não lho permitiu. Disse-lhe antes: «Vai para tua casa, para junto dos teus, e conta-lhes tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti.» 20Ele retirou-se, começou a apregoar na Decápole o que Jesus fizera por ele, e todos se maravilhavam.
Escutamos, hoje, um relato popular, de estilo burlesco, com que as primeiras comunidades cristãs acentuavam o poder benéfico do «kerygma» de Jesus. O episódio passa-se a oriente do lago de Tiberíades, em terra pagã, como se vê pela existência da vara de porcos, animais considerados impuros em Israel. É o caso do epiléptico, que não podia ser controlado pelos seus conterrâneos e, por isso, vivia no campo ou, pior ainda «entre os túmulos». A situação é grave e mesmo dramática. Ouvem-se os urros dos demónios, que reconhecem Jesus, proclamam a sua divindade e suplicam que não os expulse. Jesus mantém-se imperturbável: pergunta-lhes o nome, e concede-lhes refugiar-se nos porcos. A precipitação da vara no lago, sugere o seu regresso a Satanás, rei dos abismos. Os presentes continuam dominados pelo temor e pedem a Jesus que se afaste.
O anúncio do Evangelho deve ser preparado e exige a mediação da testemunha, do apóstolo. Ao contrário do silêncio que, em Marcos, Jesus geralmente impõe aos miraculados, aqui manda ao possesso libertado que vá levar a notícia aos seus. O homem não se contenta com isso e apregoa na Decápole a obra que Jesus nele realizou.Meditatio
A Carta aos Hebreus continua a falar-nos da fé. Hoje apresenta-nos dois quadros opostos, que podemos intitular: vitórias e derrotas da fé. Pela fé, os Juízes, os Profetas e David fizeram grandes coisas, alcançaram grandes vitórias: «conquistaram reinos, exerceram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo» (v. 33-34). Mas, pela mesma fé, outros sofreram «derrotas» não menos admiráveis, porque manifestaram uma fé mais forte, uma fé que não se deixou dominar pelas situações e acontecimentos adversos, nem aceitou a apostasia para alcançar «vitórias». Também em Jesus notamos dois quadros: Jesus que realiza milagres e suscita a admiração das multidões; Jesus na paixão, condenado, vilipendiado, crucificado, morto.
O exemplo dos nos
sos antepassados na fé, e especialmente o exemplo de Jesus, hão-de estimular a nossa fragilidade no caminho da fé, também ele tantas vezes marcado por vitórias e derrotas. Talvez tenhamos encontrado o Senhor numa experiência que, certo dia, mudou a nossa vida, ou talvez O tenhamos acolhido depois de eventos muito concretos, depois de um sério confronto com Ele. A fé pediu-nos certamente renúncias a que, num primeiro momento, correspondemos com generosidade e alegria. Mas não é fácil perseverar e testemunhar Cristo num contexto neo-pagão ou num contexto tradicionalista, ligado a costumes e tradições esvaziadas de alma. Pouco a pouco o nosso entusiasmo arrefece, as incompreensões ferem-nos, o isolamento desencoraja-nos. Corremos o risco de nos encontrarmos pouco convencidos e nada convincentes. Mas a fé deve ser continuamente reavivada, como uma pequena chama que frequentemente havemos de aproximar do Espírito para a manter ardente e luminosa. Precisamos de fazer memória de tantos irmãos e irmãs, que deram um esplêndido testemunho de perseverança e nos transmitiram a chama da fé, porque prosseguimos a sua mesma caminhada. Precisamos de voltar, de alma e coração, às circunstâncias do nosso encontro com Jesus e permanecer na sua presença. A memória da graça passada e a visão do futuro que nos espera reanimarão os nossos passos. O Senhor, conhecendo a nossa fraqueza, quer-nos missionários do mundo. Ele próprio nos apoia para que possamos alcançar a promessa juntamente com as grandes testemunhas que nos precederam e que virão depois de nós, às quais havemos de entregar a chama da fé.Oratio
Senhor, a nossa vida é marcada por vitórias que nos consolam e por derrotas que nos deixam desolados. Dá-nos o teu Espírito santo para que saibamos aproveitar de umas e de outras. As coisas positivas fazem-nos ver a fecundidade da fé, mas sabemos que elas são terrestres e que havemos de ir além delas; as coisas negativas ajudam-nos a voltar-nos para as coisas do céu, e a procurar os verdadeiros valores espirituais. Assim estaremos unidos ao mistério da morte e da ressurreição de Jesus, teu Filho, e, com Ele, alcançaremos vitória sobre o mundo. Foi Ele que nos disse: «Tende confiança, Eu venci o mundo». Temos confiança, Senhor! Mas aumenta-a e aumenta a nossa fé! Amen.
Contemplatio
«Rejeitai toda a impureza, todo o fermento de malícia; e recebei com docilidade a Palavra enxertada em vós, e que pode salvar as vossas almas. Tende cuidado em observar esta palavra e não vos contenteis em escutá-la seduzindo-vos a vós mesmos; porque aquele que recebe a palavra e não a cumpre parece-se a um homem que observa o seu rosto num espelho, e depois de se ter observado, vai-se embora, e esquece-se naquele mesmo instante de como era. Mas aquele que medita a lei de perfeição, a lei que liberta as nossas almas do pecado e que a ela se agarra, fazendo o que escuta, esse será feliz e abençoado, nas suas obras» (Tg 1, 21). - «Meus irmãos, de que servirá a um homem dizer que tem fé, se não tem as obras! A fé poderá salvá-lo?» Se a um dos vossos irmãos faltar vestuário ou alimento e se algum de entre vós lhe disser: «Ide em paz, aquecei-vos, saciai-vos!» sem nada lhe dar, de que lhe servirão os vossos desejos? A fé que não tem obras está morta. Outro pode vir dizer-vos: «Onde estão os efeitos da vossa fé? Quanto a mim, mostro a minha fé pelas minhas obras. - Vós acreditais em Deus, fazeis bem; os demónios também acreditam e tremem. - Quereis provas de que a fé sem obras é morta? Considerai Abraão: não foi ele justificado pelas suas obras, quando ofereceu o seu filho Isaac sobre o altar? A sua fé cooperava com as suas obras, foi consumada pelas suas obras: é o que a Escritura exprime dizendo: Abraão acreditou no que Deus lhe tinha dito, a sua fé foi-lhe imputada à justiça, e foi chamado o amigo de Deus. O homem é justificado pelas obras unidas à fé e não pela fé só. Vedes ainda Rahab a cortesã, ela acreditou no Deus de Israel (Jos 2, 2), mas não foi às suas obras que ela deveu a sua salvação, porque ela recebeu os enviados de Josué e os fez escapar àqueles que os procuravam? A fé sem as obras é morta, é um corpo sem alma» (Tg 2, 14). (Leão Dehon, OSP 3, p. 99s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Tende confiança, Eu venci o mundo» (Jo 16, 33). - Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Terça-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Terça-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 12, 1-4
Irmãos: Estando também nós, circundados como estamos de tal nuvem de testemunhas, deixando de lado todo o impedimento e todo o pecado, corramos com perseverança a prova que nos é proposta, 2tendo os olhos postos em Jesus, autor e consumador da fé. Ele, renunciando à alegria que lhe fora proposta, sofreu a cruz, desprezando a ignomínia, e sentou-se à direita do trono de Deus. 3Considerai, pois, aquele que sofreu tal oposição por parte dos pecadores, para que não desfaleçais, perdendo o ânimo. 4Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado.
O convite à perseverança na fé não é feito a partir de conceitos abstractos, mas de modelos. A «nuvem» de testemunhos apresentada pelo autor ajuda, conforta, sustenta. Encoraja, sobretudo, o exemplo de Jesus, modelo supremo, «autor e guia da fé» (v. 2) e seu «consumador». Ele precede-nos na «prova» para Deus que, como uma qualquer corrida desportiva, deve ser realizada nas devidas condições. Há que dispensar tudo quanto dificulte essa corrida, sobretudo o pecado, e ter bem fixos os olhos na meta. Uma vez que Jesus é a meta, o caminho e Aquele que nos precede, há que considerar atentamente o seu percurso e seguir-Lhe os passos. Ele atravessou a humilhação e o sofrimento, a submissão ao ódio e à maldade para lhes suportar o peso com amor redentor. Esse foi o itineráro que percorreu para chegar à alegria e à glória, à direita do Pai (v. 2b). Quem O segue, jamais deve afastar d´Ele os olhos para ter força e perseverar numa fidelidade radical.
Evangelho: Mc 5, 21-43
Naquele tempo, depois de Jesus ter atravessado, no barco, para a outra margem, reuniu-se uma grande multidão junto dele, que continuava à beira-mar. 22Chegou, então, um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, prostrou-se a seus pés 23e suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva.» 24Jesus partiu com ele, seguido por numerosa multidão, que o apertava. 25Certa mulher, vítima de um fluxo de sangue havia doze anos, 26que sofrera muito nas mãos de muitos médicos e gastara todos os seus bens sem encontrar nenhum alívio, antes piorava cada vez mais, 27tendo ouvido falar de Jesus, veio por entre a multidão e tocou-lhe, por detrás, nas vestes, 28pois dizia: «Se ao menos tocar nem que seja as suas vestes, ficarei curada.» 29De facto, no mesmo instante se estancou o fluxo de sangue, e sentiu no corpo que estava curada do seu mal. 30Imediatamente Jesus, sentindo que saíra dele uma força, voltou-se para a multidão e perguntou: «Quem tocou as minhas vestes?» 31Os discípulos responderam: «Vês que a multidão te comprime de todos os lados, e ainda perguntas: 'Quem me tocou?'» 32Mas Ele continuava a olhar em volta, para ver aquela que tinha feito isso. 33Então, a mulher, cheia de medo e a tremer, sabendo o que lhe tinha acontecido, foi prostrar-se diante dele e disse toda a verdade. 34Disse-lhe Ele: «Filha, a tua fé salvou-te; vai em paz e sê curada do teu mal.» 35Ainda Ele estava a falar, quando, da casa do chefe da sinagoga, vieram dizer: «A tua filha morreu; de que serve agora incomodares o Mestre?» 36Mas Jesus, que surpreendera as palavras proferidas, disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas receio; crê somente.» 37E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. 38Ao chegar a casa do chefe da sinagoga, encontrou grande alvoroço e gente a chorar e a gritar. 39Entrando, disse-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu, está a dormir.» 40Mas faziam troça dele. Jesus pôs fora aquela gente e, levando consigo apenas o pai, a mãe da menina e os que vinham com Ele, entrou onde ela jazia. 41Tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, «Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!» 42E logo a menina se ergueu e começou a andar, pois tinha doze anos. Todos ficaram assombrados. 43Recomendou-lhes vivamente que ninguém soubesse do sucedido e mandou dar de comer à menina.
Marcos apresenta-nos, hoje, dois gestos decisivos de Jesus contra a morte: a cura da mulher que sofria de um fluxo de sangue e a cura da filha de Jairo. A perda de sangue era, para a mulher hebreia, uma frustração vital, porque, não poder ter descendência, equivalia à morte prematura (cf. Gn 30, 1). A filha de Jairo estava mesmo morta e teve que ser «ressuscitada». Jesus livra ambas da morte mostrando que é o verdadeiro Messias, porque a sua palavra suscita vida.
Os dois episódios estão entrelaçados um no outro, revelando pontos de contacto e diferenças. No caso da filha de Jairo, a súplica do pai recebe uma resposta pronta de Jesus, que imediatamente se dirige para sua casa. Mas a caminhada é abruptamente interrompida com a intervenção da mulher que sofria do fluxo de sangue. Contrasta o comportamento de Jairo, homem influente, e o da mulher que sofria de um fluxo de sangue, que se aproxima furtivamente de Jesus. Mas ambos têm a mesma confiança em Jesus e obtêm uma resposta pronta. A mulher, primeiro é secretamente curada da sua doença física; depois é curada da sua timidez, dos seus complexos: ganha coragem, fala com Jesus, estabelece uma relação com Ele. Foi curada e foi salva.
No caso da menina, Jesus tem uma reacção diferente: enquanto tinha incitado a mulher, que se apresentara em segredo, a mostrar-se diante de todos, aqui ordena a Jairo, que fizera publicamente o seu pedido, que não divulgasse o milagre.Meditatio
O autor da Carta aos Hebreus recorre, hoje, a uma imagem desportiva para descrever a nossa situação. Estamos no estádio, disputamos uma grande corrida e somos observados por muitos espectadores, os santos, os que já atingiram a meta e nos olham do Paraíso. O autor exorta-nos a correr «tendo os olhos postos em Jesus, autor e consumador da fé» (v. 2). É a atitude fundamental de quem quer vencer: ter os olhos fixos em Jesus. Quando pensamos no exemplo dos santos, dos mártires, e sobretudo de Jesus na sua paixão, morte e ressurreição, todas as dificuldades nos parecem pouca coisa. «Considerai aquele que sofreu tal oposição por parte dos pecadores» (v. 3), recomenda o autor.
A nossa fé é sempre frágil, fechada nos limites estreitos do nosso medo em enfrentar situações que nos ultrapassam. Precisamos de entrar em contacto com o «autor» e «consumador» da nossa fé. O primeiro modo de entrar em contacto com Jesus é ter os olhos fixos n´Ele. Mas á um segundo modo, que consiste em falar-Lhe, pedir-Lhe que intervenha nas nossas dificuldades, que manifeste o seu poder nas nossas enfermidades, como fez Jairo. Diz-nos o evangelho que «se prostrou a seus pés e suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva» (vv. 22b-23). Outro modo é o usado pela mulher doente. Tem vergonha de falar da sua doença, mas quer ser curada por Jesus. Por isso, vai por detrás d&
acute;Ele, procurando um contacto discreto: «Se ao menos tocar nem que seja as suas vestes, ficarei curada» (v. 28). Jesus aproveita para sublinhar que não é o simples contacto que salva, mas a fé: «Quem tocou as minhas vestes?»(v. 31), perguntou. E, quando a mulher confessou o seu gesto, Jesus pronunciou a palavra iluminadora: «Filha, a tua fé salvou-te» (v. 34). Não basta tocar em Jesus; é preciso tocar-Lhe com fé. Não basta receber a Eucaristia; é preciso recebê-la com fé.
É assm que as leituras de hoje nos revelam quanto é importante, e necessáro, o contacto com Jesus, na fé.Oratio
Senhor Jesus, de olhos fixos em Ti, ousamos partir para a prova que está diante de nós. Ajuda-nos a perseverar! Livra-nos da mentalidade deste mundo, que nos levaria a pedir perspectivas seguras e recompensas sedutoras. Liberta-nos dos laços multiformes do pecado, que quer reter-nos. Conduz-nos para fora de nós, tomando-nos pela mão, porque hesitamos seguir os teus passos pelo caminho da humilhação e do sofrimento. Tu, que és o autor e o consumador da fé, dá-nos a força do Espírito para chegarmos à meta ultrapassando o obstáculo recorrente da nossa incredulidade. Tu, que estás agora sentado à direita do Pai, ajuda-nos a acolher cada situação como ocasião propícia para crescimento na fé. Esperando em Ti, jamais seremos confundidos, porque és o Salvador do homem, o Senhor da vida. Amen.
Contemplatio
A cruz pelos pecadores. - Cedo Margarida Maria tinha dito: «Ó meu caro Salvador, como seria feliz se imprimísseis em mim a vossa imagem sofredora!» Nosso Senhor aceitou a sua oferta, serviu-se dela sem cessar como de uma vítima para os interesses do seu Coração, e ela entregou-se sem reservas a esta imolação com um santo entusiasmo.Alguns anos depois da sua entrada no convento, durante a sua acção de graças depois da comunhão, Nosso Senhor perguntou-lhe interiormente se ela aceitaria sofrer todas as penas merecidas pelos pecadores, para que ele fosse glorificado por todas estas almas. «Ofereci-me imediatamente, diz; mesmo se as minhas penas devessem durar até ao dia do juízo, desde que ele fosse glorificado, estaria contente». Como as provações não vinham tão depressa de acordo com os seus desejos, logo exclamou: «O quê, meu Deus, deixar-me-eis viver sempre sem sofrer?» O divino Mestre mostrou-lhe uma grande cruz da qual ela não podia ver o fim e coberta de flores, e disse-lhe: «Lá te farei consumar as delícias do puro amor. Pouco a pouco, estas flores cairão, não te restarão senão os espinhos que estas flores escondem agora por causa da tua fraqueza; sentirás vivamente a sua picadela, mas a força do meu amor ajudar-te-á a suportá-la». Admirável providência do Sagrado Coração, que não deixa sentir os espinhos da reparação senão às almas preparadas pelo seu amor! (Leão Dehon, OSP 4, p. 372).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Filha, a tua fé salvou-te» (Mc 5, 34). - S. Paulo Miki e Companheiros
S. Paulo Miki e Companheiros
Paulo Miki, jesuíta japonês, é um dos 26 mártires que, a 5 de Fevereiro de 1597, morreram crucificados na colina de Tateyama - depois chamada «colina santa» - junto de Nagasaki. A evangelização do Japão, iniciada por S. Francisco Xavier (1549-1551), tinha dado os seus grupos e a comunidade cristã atingia, em 1587, os 250.000 membros. O imperador, que inicialmente tinha favorecido os missionários, decretou a expulsão dos jesuítas e mandou prender 6 franciscanos espanhóis e três jesuítas japoneses. Foi um tempo de dura repressão.
Paulo Miki era filho de um oficial. Foi educado num colégio jesuíta e, em 1580, entrou na Companhia de Jesus. Tornou-se muito conhecido pela qualidade da sua vida e pela sua capacidade de evangelizar. Ainda não era sacerdote quando foi martirizado com outros 25 cristãos: 6 missionários franciscanos espanhóis, um escolástico e um irmão, jesuítas japoneses, e 17 leigos também japoneses. Foram canonizados por Pio IX, em 1862.
Lectio
Primeira leitura: Gálatas, 2, 19s.
Irmãos, eu pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo.20Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim.
A forte experiência a que Paulo faz alusão neste texto, está inserida na vida da comunidade da Galácia, que, se por um lado vive em grande fervor, por outro é provada pelos irmãos que julgam necessário continuar a observar a lei de Moisés, com tudo o que ela implica, também a circuncisão (cf. Gal 1, 2 e Act 15, 1).
É na provação que os discípulos descobrem a verdadeira origem da salvação. Em consequência, chegam a uma relação viva com o Senhor Jesus, a uma maior consciência da sua identidade, aprendem a reconhecer a acção do Espírito no desenvolvimento da Igreja e descobrem o seu lugar na sociedade. Trata-se de fazer, mais uma vez, uma opção por Cristo e pelo único evangelho, fundamentando a própria vida, não em normas e rituais, como acontecia entre os judeus, mas em Cristo e em Cristo Crucificado. Paulo não quer propor aos Gálatas uma doutrina a discutir, mas levá-los a reflectir, narrando a sua experiência (1, 10-2,21), na «verdade do evangelho» (2, 14), a reconhecer que a justificação vem da fé e não das obras da lei, a encontrar-se com Cristo crucificado, a viver a vida em liberdade, guiados pelo Espírito.
Paulo «sabe» quem é o seu Senhor! «Estou crucificado com Cristo» (2, 20): é o nascimento da vida nova e é a plena identificação com Jesus. A vida desenrola-se na comunhão profunda, única e misteriosa, com Cristo, que o amou e deu a vida por ele.Evangelho: Mateus, 28, 16-20
Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. 17Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam.18Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes:«Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. 19Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.»
Jesus convoca a comunidade dos discípulos para a revelação definitiva. O lugar é significativo: a Galileia, um Monte. Foi na Galileia que Jesus anunciou, pela primeira vez, a vinda do Reino (4, 17); foi sobre um monte que Jesus foi tentado pelo Demónio que Lhe oferecia o domínio sobre os reinos do mundo (4, 8-10); foi sobre um monte que Jesus proclamou as Bem-aventuranças (5, 1ss.); foi sobre um monte que aconteceu a Transfiguração (7, 1). Agora, sobre um monte, o Ressuscitado manifesta-se aos seus e revela-lhes que o Pai Lhe deu todo o poder «no Céu e na Terra» (v. 17).
Jesus confia aos Apóstolos a missão, que é a missão universal da Igreja. Promete-lhes a sua presença perene: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (v. 20). A senhoria universal do Ressuscitado é a fonte donde brota a missão universal da Igreja: «ir e ensinar todos os povos», «fazer discípulos todos os povos». Mas o Senhor não deixa a Igreja só nesta missão longa e difícil. Ele está com eles como guia, apoio, purificação, luz. Está com eles para apoiar a sua obediência ao Pai e o seu amor activo para com todos.Meditatio
A leitura da Carta aos Gálatas, na memória dos Mártires do Japão, leva-nos a confrontar-nos, mais uma vez, com o «evangelho de Deus» (Rm 1, 1), convidando-nos a renovar a nossa opção por Cristo em todas as situações da nossa vida: na alegria, no sofrimento, no êxito, no fracasso... «a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gal 2, 20). O testemunho dos Mártires Japoneses e das suas comunidades cristãs é Palavra e conforto para nós, os crentes, e é anúncio e luz transformadora para a humanidade. A vida nasce da vida que se gasta, que se faz dom. Nos fundamentos da Igreja está o sangue e a fidelidade, isto é, o amor. A Igreja nasce do ágapedivino e vive dele. O ágape é o princípio vital da sua existência e da sua acção, que o irradia e comunica.
O evangelho faz brotar a gratidão e o louvor, porque leva a tocar com mão a realização do mandato confiado a por Cristo ressuscitado aos seus. A Igreja contempla-O nas terras do Japão, onde o Espírito abriu corações e mentes e agregou novos membros ao novo povo. Todos, com efeito, «são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho». É com este coração apaixonado que também nós queremos ver o homem e a sociedade de hoje. Abertos a todos, dados a todos.
As comunidades cristãs envolvem o mundo no amor de Cristo crucificado, atestam o senhorio de Cristo, a universalidade do mandato e do amor do Pai, e são, por sua vez, seu ícone entre os homens porque são membros do seu corpo, animados pelo mesmo Espírito.Oratio
Pai santo, nós Te bendizemos e damos graças porque és o autor e dador de todos os bens. Hoje, queremos particularmente agradecer-Te pelo testemunho dos nossos irmãos mártires. À imitação de Cristo, teu Filho, derramaram o seu sangue pela confissão do teu nome. A sua vida é conforto, apoio e luz para nós. Neles manifestas as maravilhas do teu poder. Neles tiras força da fraqueza humana e fazes da fragilidade testemunho da tua grandeza.
O nosso espírito emudece de espanto na contemplação destes mártires crucificados como o teu Filho e por causa d´Ele. Por sua intercessão, queremos pedir-Te força e coragem para prosseguirmos a nossa peregrinação terrena na fidelidade ao teu amor, mesmo quando tivermos de participar na paixão do teu Filho Jesus. Infunde em nós a sabedoria da cruz e ajuda-nos para aderirmos totalmente a Cristo e com Ele cooperarmos na redenção do mundo. Amen.Contemplatio
Esperando a glória dos céus, os perseguidos experimentam já uma alegria íntima sobre a terra. É uma recompensa da graça divina. «Vêem o fruto do que as suas almas sofreram, diz-nos o profeta, e são assim saciados» (Is 53, 2). É a alegria íntima do apostolado e o triunfo do sofrimento e do sacrifício: «O meu servo é justo e pelo ensino da sua doutrina tornará justo um grande número de homens...Dar-lhe-ei em partilha uma multidão de discípulos; vencerá os seus inimigos e partilhará os seus despojos» (Is 53, 11-12). Isto aplica-se ao Salvador e àqueles que propagam o seu reino. A salvação das almas! Que recompensa consoladora pelas lágrimas derramadas, pelas fadigas suportadas, pelas perseguições sofridas e pelo ódio do mundo!... Seguindo a Jesus, que levou a cruz com alegria, com os apóstolos e os mártires, que louvam a Deus nas perseguições, levemos generosamente a nossa cruz quotidiana. - O Coração de Jesus ama a cruz redentora: o meu coração esperou o opróbrio e a vergonha (Sl 68). Amemos a nossa cruz de cada dia, o trabalho, a fadiga, a humildade, a obscuridade. Suportemos com uma doce paciência as incomodidades da vida comum e as provações que a Providência nos envia. (Leão Dehon, OSP 4, p. 61s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a Palavra do Senhor:
«Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20).----
S. Paulo Miki e Companheiros (6 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Quarta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Quarta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 12, 4-7.11-15
Irmãos: Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado. 5Esquecestes a exortação que vos é dirigida como a filhos:Meu filho, não desprezes a correcção do Senhor, e não desanimes quando és repreendido por Ele, 6porque o Senhor corrige os que ama e castiga todo o que reconhece como filho. 7É para vossa correcção que sofreis. Deus trata-vos como filhos; e qual é o filho a quem o pai não corrige? 11É certo que toda a correcção, no momento em que é aplicada, não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; mais tarde, porém, produz um fruto de paz e de justiça nos que foram exercitados por ela. 12Por isso, levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos enfraquecidos, 13fazei caminhos rectos para os vossos pés, para que o coxo não coxeie mais, mas seja curado. 14Procurai a paz com todos e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. 15Vigiai, para que ninguém venha a estar privado da graça de Deus, nem alguma raiz amarga, crescendo, vos cause dano e, por meio dela, muitos venham a ser contaminados.
O autor da Carta aos Hebreus continua a encorajar na fé os seus destinatários. Sofrimento pelo sofrimento? Não! Seria um absurdo, pois é sempre uma privação, algo de negativo. Por isso, o nosso autor, que já ilustrou a dimensão teológica do sofrimento, vai agora tratar do seu aspecto mais imediato, que é o pedagógico. A provação pode parecer dura, pesada. Mas há uma chave de leitura que nos permite descobri-la como positiva: a provação é fruto de amor. Se o Senhor permite provações, é para nos fazer crescer na dimensão filial. Por isso é que Jesus veio falar-nos do coração de Deus e revelar-nos o rosto do Pai. A relação de Deus connosco é sempre a relação de um Pai bom para com os seus filhos. Se corrige, é para nos educar. É um sinal de amor de Alguém que Se inclina sobre o filho vacilante para o tornar estável e forte. Só quem ama é capaz de intervir em prol do nosso verdadeiro bem, mesmo que nos faça sofrer. O sofrimento momentâneo é prelúdio de uma grande alegria.
Evangelho: Mc 6, 1-6
Naquele tempo, Jesus foi para a sua terra, e os discípulos seguiam-no. 2Chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é esta que lhe foi dada? Como se operam tão grandes milagres por suas mãos? 3Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» E isto parecia-lhes escandaloso. 4Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.» 5E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. 6Estava admirado com a falta de fé daquela gente.
Depois de apresentar alguns milagres de Jesus, Marcos abre uma nova secção do seu evangelho para falar de uma série de viagens, dentro e fora da Galileia. Começa por ir à «sua terra», a Nazaré e, em dia de sábado, entra na sinagoga. Usa o direito de comentar a Escritura na sinagoga, que era reconhecido a qualquer homem adulto. Mas a sua doutrina é diferente da dos outros rabis. Marcos não cita, ao contrário de Lucas (4, 17ss.) os versículos de Isaías lidos por Jesus. Mas regista o espanto de quantos o ouviram. Esse espanto era motivado pela origem das palavras pronunciadas por Jesus, pela sabedoria que demonstrava e pelos prodígios que fazia. Tudo parecia estar em contradição com o conhecimento que tinham dele e da sua família. Mas é nesta contradição que se revela a verdadeira identidade de Jesus (v. 3). Também os profetas foram muitas vezes perseguidos por aqueles que tinham maior obrigação de os compreender (v. 4). A falta de fé dos seus conterrâneos impede Jesus de fazer entre eles milagres e prodígios, como tinha feito noutras terras.
Meditatio
A fé é condição necessária para que Jesus possa actuar e conceder as suas graças. Por isso é que Jesus não pôde realizar prodígios entre os seus conterrâneos: «Não pôde fazer ali milagre algum... Estava admirado com a falta de fé daquela gente» (vv. 5-6).
A primeira leitura lembra que, também nós, podemos deter-nos nas aparências contrárias e não reconhecer as intervenções de Deus na nossa vida e na vida do mundo. Quando nos encontramos no meio de provações, que nos parecem incompreensíveis e mesmo absurdas, ficamos inquietos e facilmente sucumbimos à tentação contra a fé. A Palavra de Deus, hoje, ajuda-nos a permanecer firmes. Não nos dá respostas directas para cada caso de sofrimento, mas convida-nos a reencontrar aquela atitude filial que, nos momentos de dor, nos permite reconhecer a mão de um Deus que é, acima de tudo, Pai. O homem é homem pelo mistério da sua liberdade. Deus jamais lhe retira esse dom, mas ajuda-o a crescer numa atitude de confiança e de abandono n´Ele, mesmo quando nos vemos em situações de lágrimas e sangue. Nem Jesus, o Filho predilecto, santo e inocente foi poupado: «O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas» (Is 53, 5).
Não há provação tão dolorosa que não nos permita lançar sobre Ele o nosso olhar para reencontrarmos nas suas lágrimas de compaixão a certeza de que o sofrimento, a dor, os sofrimentos não são maldição, mas caminho que o próprio Amor nos faz percorrer, no seu abraço sem fim. Não podemos compreender! Deus é Deus e, diante d´Ele, diante dos seus insondáveis caminhos, há apenas que assumir uma atitude de adoração e de fé. O maior escândalo para o nosso coração consiste em que, não só o sofrimento não nos seja retirado, mas que o próprio Deus tenha vindo para meio de nós em pobreza, insignificância, a derramar as suas lágrimas humanas de Filho. A Carta aos Hebreus já nos disse como Jesus quis aprender a obediência pelas coisas que sofreu, quis conhecer aquela educação dolorosa que nos é necessária. Quando, por nosso lado, vivemos estes momentos de dolorosa educação, estamos unidos a Ele de modo especial e podemos crescer muito no seu amor.Oratio
Senhor, faz-me compreender que as provações são razões de esperança, são meios para amar. Que, nas pequenas e grandes dificuldades eu tenha presentes estas perspectivas, para alimentar a minha coragem e a minha fé. Tu não me revelas os modos como queres comunicar-me os teus dons e fazer-me crescer na fé e no amor. Por isso, abre-me os olhos para que saiba ver em tudo a tua presença e a tua fraterna atenção para comigo. Amen.
Contemplatio
Certa ocasião Nosso Senhor apresentou-se a Margarida Maria,
levando numa mão o quadro de uma vida cheia de paz e de consolação interior e exterior, com a estima dos outros; na outra mão, o quadro de uma vida abjecta, crucificada, desprezada, contradita, e sempre sofredora quanto ao corpo e ao espírito, e disse-lhe para escolher aquele que lhe agradasse mais, que lhe daria as mesmas graças na escolha de um como na escolha de outro. Prostrando-se aos seus pés, respondeu: «Ó meu Senhor, só vos quero a vós e a escolha que fizerdes para mim». Pressionada a escolher, disse: «Sois para mim suficiente, ó meu Deus, fazei para mim o que mais vos glorificar, sem terdes consideração aos seus interesses e consolações. Contentai-vos e isso me basta». «Então o Salvador apresentou-lhe o quadro da crucifixão dizendo-lhe: «Eis o que me agrada mais, tanto para o cumprimento dos meus desígnios como para te tornar conforme a mim». - «Aceitei o quadro, diz Margarida Maria, beijando a mão que mo apresentava, embora a natureza tremesse; abracei-o com todo o afecto da minha alma, e apertando-o contra o meu peito, senti-o tão fortemente impresso em mim, que me parecia já não ser mais do que um composto de tudo o que já tinha visto nele representado». Para nós, Nosso Senhor pede-nos sobretudo que levemos a cruz da regra, da vigilância, da fidelidade a todas as nossas resoluções. (Leão Dehon, OSP 4, p. 373).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado» (Heb 12, 4). - As cinco Chagas do Senhor
As cinco Chagas do Senhor
O culto das Cinco Chagas do Senhor, isto é, das feridas que recebeu na cruz e manifestou aos Apóstolos depois da Ressurreição, foi impulsionado por S. Bernardo, e encontrou sentida e profunda adesão no povo português, desde os começos da nacionalidade. Luís de Camões, nos Lusíadas, faz eco dessa devoção (I, 7). Prestando culto às Chagas do Redentor, é para Jesus Cristo que se dirige a nossa adoração, para quem nos amou até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8). A contemplação das Chagas do Senhor deu particular atenção ao Lado aberto, conduzindo os místicos medievais e posteriores à contemplação do Coração trespassado, a mais viva expressão do seu amor. Essa contemplação move-nos espontaneamente à correspondência, "amor com amor se paga".
Lectio
Primeira leitura: Isaías 53, 1-10
Quem acreditou no nosso anúncio?A quem foi revelado o braço do Senhor? 2O servo cresceu diante do Senhor como um rebento, como raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente, 3desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado. 4Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado. 5Mas foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas. 6Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele todos os nossos crimes.7Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador. 8Sem defesa, nem justiça, levaram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino? Foi suprimido da terra dos vivos, mas por causa dos pecados do meu povo é que foi ferido. 9Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios, e uma tumba entre os malfeitores, embora não tenha cometido crime algum, nem praticado qualquer fraude. 10Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimento, para que a sua vida fosse um sacrifício de reparação. Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias, e o desígnio do Senhor realizar-se-á por meio dele.
O quarto cântico do Servo de Javé é um dos momentos mais altos da revelação do Antigo Testamento. Nele encontramos uma interpretação da história de Israel como expiação vicária e redentora do resto em favor de toda a comunidade judaica e de todos os povos da terra. Tudo isto se realiza plenamente em Cristo, membro eminente da comunidade dos que foram salvos, dos Pobres de Israel, do Resto, dos Fiéis. Os evangelistas, inspirados por Deus, leram os acontecimentos da vida de Jesus de Nazaré à luz deste misterioso Servo de que fala o profeta. Jesus é o Servo fiel e sofredor, o "homem das dores" que nos salvou. As suas Chagas são o testemunho mais eloquente do amor, com que realizou a sua intervenção em favor do povo de Deus.
Segunda leitura: João 19, 28-37
Naquele tempo, sabendo Jesus que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: «Tenho sede!» 29Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca. 30Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado.» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.31Como era o dia da Preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. 32Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. 33Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. 34Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. 35Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também. 36É que isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: Não se lhe quebrará nenhum osso. 37E também outro passo da Escritura diz: Hão-de olhar para aquele que trespassaram.
Depois de tudo o que aconteceu na paixão, a sede de Jesus é completamente natural. Mas João na se limita a esse fato. Para ele, a sede de Jesus significa a sua intensa tendência para Deus. O Sl 63, 1 ajuda-nos a compreender a sede de Jesus crucificado: "Ó Deus! Tu és o meu Deus! Anseio por ti! A minha alma tem sede de ti!". O clamor de Jesus era uma oração. Para João, Jesus recitava o salmo 63.
Jesus morre como verdadeiro cordeiro pascal. É por isso que o evangelista fixa a sua morte no dia e na hora em que, no templo, eram sacrificados os cordeiros que, no dia seguinte, eram comidos na ceia pascal.
Do seu Lado aberto "saiu sangue e água". Isto é possível fisiologicamente. Mas, para João, mais uma vez, o que interessa é o símbolo do acontecimento: do Lado de Cristo, morto na cruz, brotam os sacramentos da Igreja: a Eucaristia e o Batismo.
Os homens "hão-de olhar para Aquele que trespassaram", e aqueles que neste olhar de fé, se converterem receberão a água misteriosa do Espírito de Deus. Com o seu sacrifício, o Cordeiro Pascal libertou o seu Povo do pecado. As suas Chagas não são sinais de derrota, mas de triunfo.Meditatio
Nas Chagas do Senhor, particularmente na do seu Lado aberto, contemplamos o caminho do amor de Deus até nós e o nosso caminho de amor até Ele. S. Agostinho realça bem este caminho nos seus discursos: "Cristo é a porta. Esta porta foi aberta para ti quando o Seu Lado foi aberto pela lança. Recorda-te do que saiu e escolhe por onde entrar". Percorrendo este caminho de amor, chegamos à devoção ao Coração de Jesus. Foi este o caminho de Santa Margarida Maria. Desde pequena, teve uma afetuosa devoção à Paixão de Cristo e às cinco Chagas, atraindo particularmente a sua atenção a chaga do Lado. Finalmente, a convite de Jesus, fez a descoberta do Coração, reconhecido como símbolo da Pessoa amante do Redentor. Foi este, também, o caminho "místico" do Pe. Dehon. No "Ano com o Coração de Jesus", escreve: "O profeta não disse: "Verão Aquele que trespassaram", mas "Voltarão o olhar para dentro d'Aquele que trespassaram" ("Videbunt in quem transfixerunt") (Jo 19, 37 - Vulgata). S. João aplica estas palavras à abertura do Lado de Jesus, ao próprio Coração de Jesus que pôde entrever através da chaga do lado aberto...". Para além de todas as questões críticas de tal leitura e interpretação bíblica, a verdade é que "ver em alguém" e muito mais do que "ver alguém". Uma coisa é conhecer uma pessoa só externamente, outra é conhecê-la na sua interioridade e intimidade. O Pe. Dehon fala deste olhar íntimo também na Vida de amor... E põe na boca de Jesus as seguintes palavras: "Eu sou, de verdade, nos mistérios da Minha Paixão, um livro escrito por dentro e por fora (cf. Ap 5, 1) e o que aí está escrito é o Meu amor... Não vos contenteis em ler e admirar esta divina escritura somente do lado de fora, mas penetrai até ao Meu Coração e vereis". E, nas "Coroas de amor"... "Leiamos e voltemos a ler este livro de amor do Coração de Jesus, devoremos este livro de amor que é o próprio amor e, quando ardermos de amor, a nossa oblação será facilmente generosa, pronta, sem cedências". Deste modo, o Pe. Dehon faz eco a S. João: "Hão-de olhar para Aquele que trespassaram" (19, 37); isto não é só uma profecia, é uma exortação, um convite, porque do mistério do Lado aberto (e do Coração Trespassado do Salvador), "nasce o homem de coração novo" (Cst 2-3). "Com S. João, vemos no Lado aberto do Crucificado o sinal do amor que, na doação total de Si mesmo, recria o homem segundo Deus" (Cst 21). Assim contemplamos o Trespassado, no ato supremo da Redenção, não como os israelitas contemplavam a serpente de bronze, elevada no deserto, para curar as mordeduras das serpentes, mas penetramos na realidade suprema do Seu amor, no Seu Coração trespassado, e acolhemos o seu apelo à oblação, à reparação, à imolação, à consolação, àquele "culto de amor e de reparação que o Seu Coração deseja", que nos torna criaturas de coração novo.
Oratio
Rezemos com o P. Dehon: "Meu Senhor e meu Deus! Quero tirar nas vossas chagas a bebida da salvação. Sede condescendente comigo como foste com S. Tomé. Emprestai-me as vossas mãos e os vossos pés para que aí cole os meus lábios. Tenho tanta necessidade de forças. Ousarei mesmo aproximar-me do vosso Coração para daí tirar o arrependimento e o fervor. Perdoai-me!" (OSP 2, p. 296).
Contemplatio
Jesus aparece no meio dos apóstolos, na sua majestade e na sua bondade. Intervém para curar Tomé das suas dúvidas. Pax vobis! A paz esteja convosco, diz. É a saudação habitual de Jesus aos seus amigos, saudação afetuosa e verdadeiramente eficaz. Tomé com dificuldade ousa acreditar nos seus olhos. Está perturbado. É sobretudo para ele que Jesus aparece hoje. Vem cumprir um milagre moral, a mudança das disposições de Tomé, e é pelas suas cinco chagas que Jesus quer fazer este milagre. Dirige-se, de seguida, a Tomé: «Vem, diz-lhe, coloca o teu dedo aqui, vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado», neste lado aberto pela lança e onde se sente bater o mais amável dos corações, - «e não sejas incrédulo, mas fiel». Os apóstolos observam e aguardam. Tomé vai levar mais longe a incredulidade e tocar as chagas do Salvador? Não, coloca-se de joelhos, e exclama: «Meu Senhor e meu Deus!». Nosso Senhor tinha respondido diretamente às palavras de dúvida que tinha formulado. Nada o podia impressionar mais. Aqui está o começo da devoção às cinco chagas, que preludia à do Sagrado Coração. Nosso Senhor tinha querido mostrar-nos a eficácia das suas chagas. Têm um enorme papel na mística cristã. São as fontes misteriosas pelas quais correu o sangue redentor. Estavam figuradas nas fontes do paraíso terrestre, que levavam a toda a parte a fecundidade e a alegria. Foram profetizadas por Isaías: «Bebereis nas fontes do Salvador». Aparecem no Apocalipse sob a forma das fontes que correm sob os pés do Cordeiro divino. Foram reproduzidas nos membros benditos de alguns santos, como S. Francisco de Assis e santa Catarina de Sena. São o objeto de uma das devoções tradicionais da Igreja. (L. Dehon, OSP 3, p. 295s.).Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28).-----
As cinco Chagas do Senhor (07 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Quinta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Quinta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 12, 18-19.21-24
Irmãos: Na verdade, não vos aproximastes de uma realidade palpável, de fogo ardente, das trevas, da obscuridade ou da tempestade, 19nem do som da trombeta ou do ruído das palavras, cujos ouvintes pediam que não se lhes falasse mais; 20de facto, não podiam suportar o que fora ordenado: Até um animal, se tocar a montanha, será apedrejado. 21E o espectáculo era tão terrível, que Moisés disse: Estou apavorado e a tremer. 22Vós, porém, aproximastes-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste, de miríades de anjos, da reunião festiva, 23da assembleia dos primogénitos inscritos nos céus, do juiz que é o Deus de todos, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição, 24de Jesus, o Mediador da Nova Aliança, e de um sangue de aspersão que fala melhor que o de Abel.
O cristão deve estar consciente do seu estado. Para o ajudar, o autor da Carta aos Hebreus propõe-nos uma última oposição entre a antiga e a nova aliança servindo-se de dois lugares simbólicos: o monte Sinai e o monte Sião. Os dois montes expressam dois modos diferentes de se aproximar de Deus.
A primeira teofania aconteceu num lugar impressionante, a montanha do Sinai, com os seus granitos vermelhos, as suas nuvens de tempestade, a queda dos raios, o fulgor dos relâmpagos e o fragor dos trovões impressionaram vivamente o povo habituado às calmas planícies do Egipto. O próprio Moisés se encheu de temor e tremor (cf. Dt 4, 11 e 5, 22 LXX; Ex 19, 16 e 20, 18).
A experiência dos cristãos é muito diferente. Eles aproximaram-se de outro monte, o Sião, alegria de toda a terra (cf. Sl 48, 2-4), da santa Jerusalém (cf. Sl 122), para o qual, desde sempre, Deus queria conduzir o seu povo para fazer comunhão com ele, no encontro festivo dos anjos e dos santos. Os cristãos podem ser admitidos nesse lugar "celeste", graças à conversão e ao baptismo que nos introduziram na morte e na ressurreição do único «Mediador da nova aliança», Jesus Cristo. O seu sangue inocente torna-nos também a nós "perfeitos", isto é, agradáveis ao Pai na obediência e no amor.Evangelho: Mc 6, 7-13
Naquele Tempo, Jesus chamou os Doze e começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. 8Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto; 9que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. 10E disse-lhes também: «Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali. 11E se não fordes recebidos numa localidade, se os seus habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.» 12Eles partiram e pregavam o arrependimento, 13expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos.
A proclamação do reino não se faz de modo ocasional. Jesus cria uma «instituição» que põe em movimento e planifica o anúncio da Boa Nova. São os Doze que, depois da visita a Nazaré, Jesus envia em missão, dando-lhes os seus próprios poderes (cf. v. 7).
Distinguimos no texto três momentos: no primeiro, Jesus dá orientações quanto ao estilo de vida dos missionários: não devem levar provisões, mas confiar na generosidade daqueles a quem se dirigem; no segundo, define o método de pregação: deter-se em casa de quem os acolhe, mas abandonar sem lamentações as daqueles que os não recebam; o terceiro momento é o da execução: os discípulos partem, pregam a conversão, fazem exorcismos e curas com sucesso (vv. 12s.).
Contentar-se com o essencial da vida, que se apoia na absoluta confiança no Senhor, é condição indispensável para estar ao serviço da Palavra. Isto tem a ver com cada um dos missionários, mas também com a própria Igreja que, não só há-de ser Igreja dos pobres, mas também Igreja pobre.Meditatio
O autor da Carta aos Hebreus insiste no privilégio de termos entrado na intimidade divina: «Vós, porém, aproximastes-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste, de miríades de anjos, da reunião festiva, da assembleia dos primogénitos inscritos nos céus, do juiz que é o Deus de todos, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição, de Jesus, o Mediador da Nova Aliança» (vv. 22-24a). A tomada de consciência desta situação há-de encher-nos de alegria. O Mediador da nova aliança, Jesus, possibilitou-nos esta comunhão, esta paz, este amor luminoso. É, sobretudo, na celebração da Eucaristia que vivemos este mistério, aproveitando a presença do Mediador para entrarmos cada vez mais profundamente nele e lhe saborearmos os frutos.
Mas não podemos deter-nos, sempre e só, na intimidade divina. Os Doze, depois de permanecerem com Jesus, foram enviados dois a dois em missão. Para que a nossa vida e o nosso ministério sejam autênticos, precisamos de momentos de intimidade com o Senhor. Mas depois temos de partir ao encontro dos outros para lhes anunciarmos o Evangelho e prestarmos os serviços de que precisam: «enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os doentes» (Lc 9, 2). A vida de amor, que é a vida cristã, tem de ter o mesmo dinamismo da de Cristo: ser um movimento de amor para Deus e para os irmãos. Aquilo que Cristo é e vive determina aquilo que nós devemos ser e viver: «com Cristo e como Cristo» (Cst 21). Este é o modo dehoniano de nos aproximarmos do «mistério de Cristo» (Cst 16). Nas novas Cst, são numerosas e significativas as expressões desta abordagem existencial de Cristo (cf. n. 16). Já encontramos algumas nos nn. 2.6.9. Mas queremos dar especial atenção a duas pequenas fórmulas que lemos no n. 17: «Pelo Pai» e «pelos homens» ou, com maior exactidão teológica: «Ao Pai pelos homens». Nestas duas atitudes de Cristo, contempladas e vividas, descobrimos o caminho para chegar a «uma abordagem comum do mistério de Cristo, sob a guia do Espírito». Consideramo-las com «especial atenção» (Cst 16), para penetrar «na inesgotável riqueza do mistério», segundo a experiência que fizeram o P. Dehon e os primeiros membros da congregação (cf. Cst 16). Da intimidade com o Senhor partimos para a evangelização do mundo: A escuta da Palavra, a oração, a Eucaristia celebrada, comungada e adorada alimentam a nossa intimidade com o Senhor, consagram-nos a Deus, mas também nos lançam incessantemente pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho.Oratio
Nós te louvamos e bendizemos, Senhor Jesus Cristo, autor e consumador da nossa fé, Mediador da Nova Alanca, porque quiseste renovar em Ti todas as coisas. Derrama sobre nós o teu Espírito para que continue a renovar-nos sem cessar. Aceita a contrição sincera das nossas culpas e dá-nos a graça da reconciliação perfeita com o Pai, Contigo e com a tua Igreja. Faz-nos teus colaboradores na renovação do mundo segundo a justiça, a caridade e a paz. Amen.Contemplatio
A cruz pelo reino do Sagrado Coração. - Noutra circunstância, Nosso Senhor pôs ainda à prova a generosidade da sua piedosa serva e ela mostrou a mesma dedicação. Nosso Senhor apresentou-lhe vários corações infiéis e disse-lhe: «Carrega este fardo e participa nas amarguras do meu Coração; derrama lágrimas de dor sobre a insensibilidade destes corações que tinha escolhido para os consagrar ao meu amor, ou então deixa-os abismarem-se na sua perda, e vem gozar as minhas delícias». - «Deixando todas as doçuras, diz, dei largas ao curso das minhas lágrimas, sentindo-me carregada com estes corações que iam ser privados de amor. Escutando continuamente que me convidavam para ir gozar o santo amor, prostrei-me diante da divina bondade apresentando-lhe estes corações para os penetrasse com o seu divino amor; mas foi necessário sofrer muito antes que isso acontecesse». Pressionada a sofrer para fazer reinar o Sagrado Coração, escreve ainda Margarida Maria: «foi-me mostrada a felicidade dos Serafins e foi-me dito: «Não gostarias mais de gozar com eles, do que de sofrer torturas, humilhações, desprezos, para contribuir para o estabelecimento do meu reino nas almas?» - «Abracei avidamente a cruz eriçada de espinhos que me era apresentada, e fiz dela a minha feliz escolha». A nós, são imolações mais modestas que Nosso Senhor nos pede; pequenos sacrifícios, uma vida segundo a regra, recolhimento, trabalho e a aceitação de pequenas penas que se apresentam cada dia. (Leão Dehon, OSP 4, p. 373s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Jesus é o Mediador da Nova Aliança» (Heb 12, 24). - Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Sexta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Sexta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 13, 1-8
Irmãos: Permanecei na caridade fraterna. 2Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos. 3Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos que são maltratados, porque também vós tendes um corpo. 4Seja o matrimónio honrado por todos e imaculado o leito conjugal, pois Deus julgará os impuros e os adúlteros. 5Vivei sem avareza, contentando-vos com o que possuís, porque o próprio Deus disse: Não te deixarei nem te abandonarei. 6Assim, podemos dizer confiadamente:O Senhor é o meu auxílio; não temerei; que poderá fazer-me um homem? 7Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a palavra de Deus; observai o êxito da sua conduta e imitai a sua fé. 8Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos.
Estamos a chegar ao fim da Carta aos Hebreus. O seu autor dá orientações concretas para a vida dos cristãos: perseverança no amor fraterno, hospitalidade, ajuda aos presos e a outros que estão em situação de sofrimento. Todos formam connosco um só corpo. Depois, trata da santidade com que o matrimónio há-de ser vivido. Ele é, de facto, um caminho de santidade. Prossegue alertando para a tentação de nos deixarmos envolver pela avareza. Jesus é a nossa verdadeira riqueza. O Pai sabe do que precisamos.
Finalmente, há que recordar aqueles que nos pregaram o Evangelho e a heroicidade do seu testemunho. A fé em Jesus morto e ressuscitado por nós muda a nossa vida e as relações, dando plenitude à história humana: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos» (v. 8).Evangelho: Mc 6, 14-29
Naquele tempo, o rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: «Este é João Baptista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres»; 15outros diziam: «É Elias»; outros afirmavam: «É um profeta como um dos outros profetas.» 16Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: «É João, a quem eu degolei, que ressuscitou.» 17Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. 18Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» 19Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, 20porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. 21Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. 22Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» 23E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino.» 24Ela saiu e perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» 25Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» 26O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. 27Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; 28depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. 29Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro.
Flávio José diz-nos que Herodes Antipas, temendo possíveis desordens políticas desencadeadas pelo movimento de João Baptista, prendeu o profeta em Maqueronte, onde o mandou executar. O relato de Marcos, mais subjectivo, e menos exacto, levou a ver João Baptista apenas como vítima da vingança de uma mulher irritada.
O segundo evangelho apresenta-nos Herodes que, atormentado pelos remorsos, julga reconhecer em Jesus o profeta que mandara matar (v. 16). E assim começa a narrativa do martírio de João, mais longa que a de Mateus ou a de Lucas: prisão, acusação, denúncia corajosa do rei pelo profeta (vv. 18-20), trama de Herodíades que usa Salomé, fraqueza de Herodes, sentença de morte e execução da mesma (vv. 26-28). Mas o remorso persegue o rei. O relato termina com um toque de piedade: o corpo do profeta é entregue aos discípulos que lhe dão sepultura (v. 29).
Esta narrativa popular realça a atitude ridícula de Herodes, por um lado, escravo das suas paixões, e, por outro, interessado na figura austera de João Baptista. Para Marcos, o martírio de João, e a liquidação do seu movimento, indica que a comunidade cristã, criada por Jesus, era completamente nova, ainda que conservasse a memória veneranda do maior de todos os profetas.Meditatio
Quase a concluir a Carta aos Hebreus, o seu autor exorta aqueles a quem se dirige a viverem na caridade, na castidade, na pobreza e na obediência. É o ideal de uma vida realmente cristã, a que todos os baptizados são chamados. Os religiosos apenas radicalizam a vivência desse ideal.
Em primeiro lugar, a caridade: «Permanecei na caridade fraterna» (v. 1). E o nosso autor concretiza: «Não vos esqueçais da hospitalidade» (v. 2), «lembrai-vos dos presos» (v. 3). A caridade é expressão do amor divino recebido e comunicado, um amor generosos, participativo, constante.
A castidade: «Seja o matrimónio honrado por todos e imaculado o leito conjugal, pois Deus julgará os impuros e os adúlteros» (v. 5). O autor fala da castidade dos casados. A castidade dos casados estimula a dos religiosos. Mas a castidade dos religiosos, por sua vez, é sinal, ajuda, força para os outros.
A pobreza: «Vivei sem avareza, contentando-vos com o que possuís» (v. 5). O espírito de pobreza, próprio de todos os cristãos, e a pobreza dos religiosos, vivida coerentemente, manifestam a nossa confiança em Deus: «Assim, podemos dizer confiadamente:O Senhor é o meu auxílio; não temerei...» (v. 6).
A obediência: «Recordai-vos dos vossos guias» (v. 7), dos vossos chefes. Mas adiante lê-se: «Sede submissos e obedecei aos que vos guiam... que eles o façam com alegria e não com gemidos, o que não seria vantajoso para vós» (v. 17).
Na caridade, na castidade, na pobreza e na obediência, vividas segundo a graça e a vocação de cada um, todos os discípulos de Cristo hão-de tornar-se dom total a Deus e aos irmãos, tal como Jesus. De qualquer modo, cada um de nós é chamado a morrer a si mesmo, ao homem velho, ao egoísmo e ao orgulho que nos impede de viver com a disposição e a atitude de João Baptista que dizia: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir» (Jo 3, 30). Porque Jesus é sempre o mesmo ontem, hoje e sempre, quanto mais nos perdermos n&a
cute;Ele, que é o Amor, mais saborearemos a verdadeira vida.Oratio
Senhor, dá-nos a graça de viver em plenitude o belo ideal de vida cristã que hoje nos apresentas, e de ajudar aqueles que se aproximam de nós a vivê-lo também, com alegria e coragem. Que todos vivamos Contigo e em Ti, entregues ao projecto de salvação que o Pai concebeu para reconduzir todos os homens à verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Que nada anteponhamos ao teu amor. Sê a nossa vida, a nossa santificação e nossa alegria inefável. Que, a exemplo dos Santos, tudo saibamos oferecer por amor da tua glória e bem dos irmãos. Amen.
Contemplatio
A caridade é o dom dos dons. - A caridade é como o único fruto do Espírito Santo. S. Paulo diz aos Gálatas: «O fruto do Espírito é a caridade, a paz, a alegria, etc.». Enumerando os doze frutos, reúne-os num só, porque não diz «os frutos do Espírito Santo são...», mas: «O fruto do Espírito Santo é a caridade, etc.». Ora eis o mistério deste modo de falar: «A caridade de Deus foi espalhada nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5). A caridade é como o fruto único, que tem uma infinidade de excelentes propriedades, que podem enumerar-se em seguida. S. Paulo não quer, portanto, dizer outra coisa senão que o fruto do Espírito Santo é a caridade, a qual é alegre, pacífica, paciente, benigna, boa, longânime, doce, fiel, modesta, continente, casta; isto é, que o divino amor nos dá uma alegria interior com uma grande paz do coração, que se conserva no meio das adversidades pela paciência, e que nos torna graciosos e benignos em socorrer o próximo por uma bondade cordial para com ele, bondade que não é variável e inconstante, mas longânime e sempre leal, e que é acompanhada de simplicidade, de modéstia, de uma continência oposta a todos os excessos e de uma cuidadosa castidade. Não é o mesmo dom de caridade, tão fecundo em frutos, que S. Paulo exalta ainda quando diz aos Coríntios (1Cor 13): «A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, malévola, orgulhosa, egoísta, irascível, isto é, ainda que é pacífica, doce, paciente e boa». Sim, ela é bem o fruto por excelência do Espírito Santo. (Leão Dehon, OSP 3, p. 571s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Permanecei na caridade fraterna» (Heb 13, 1). - Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Sábado
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Sábado
Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 13, 15-17.20-21
Irmãos: Ofereçamos por meio dele, continuamente a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. 16Não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com os outros, pois são esses os sacrifícios que agradam a Deus. 17Sede submissos e obedecei aos que vos guiam, pois eles velam pelas vossas almas, das quais terão de prestar contas; que eles o façam com alegria e não com gemidos, o que não seria vantajoso para vós. 18Rezai por nós, pois estamos convencidos de ter uma boa consciência e desejamos comportar-nos bem em tudo. 19Exorto-vos com maior insistência a que o façais, para que eu vos seja restituído mais depressa. 20O Deus da paz, que ressuscitou dos mortos o grande Pastor das ovelhas, Jesus, Senhor nosso, pelo sangue da Aliança eterna, 21vos torne aptos para todo o bem, a fim de que façais a sua vontade. Que Ele realize em nós o que lhe é agradável, por meio de Jesus Cristo, ao qual seja dada glória pelos séculos dos séculos. Ámen.
Ao concluir a sua carta, o autor alterna a catequese (vv. 12-15) com a exortação (vv. 16s.) e a oração (vv. 20s.). Mas o centro unificador destes versículos é o mistério pascal de Cristo: «o grande Pastor das ovelhas» (v. 20). É Ele o Messias esperado que, pelo seu sangue, se tornou mediador de uma aliança eterna de vida e de paz entre nós e Deus. É desta realidade que brota a novidade fundamental do culto cristão de que trata a carta. Por Jesus, toda a vida do crente se pode tornar oferta agradável a Deus, conforme recomenda Paulo na Carta aos Romanos: «Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus» (12, 1). O sacrifício de louvor prolonga-se e autentica o sacrifício da caridade e da submissão a quem guia a comunidade nos caminhos do Senhor. Esta existência pascal é um dom a pedir e um compromisso a assumir com responsabilidade. É por isso que o autor confia ao Pai os destinatários da sua carta. Só Ele pode dispor os corações a acolher o dom e a colaborar com a graça. A aliança selada na morte e ressurreição de Cristo é premissa e garantia de que o Pai atenderá esta oração. Tal como Deus realizou a nova aliança por meio de Cristo, assim também nos tornará «aptos para todo o bem» (v. 21). A obra começada será completada.
Evangelho: Mc 6, 30-34
Naquele tempo, os Apóstolos reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado. 31Disse-lhes, então: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco.» Porque eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer. 32Foram, pois, no barco, para um lugar isolado, sem mais ninguém. 33Ao vê-los afastar, muitos perceberam para onde iam; e de todas as cidades acorreram, a pé, àquele lugar, e chegaram primeiro que eles. 34Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas.
Na segunda parte do seu evangelho (6, 30-10), Marcos diz-nos que Jesus, apesar de galileu, é profundamente universal: dirige-se aos outros, aos afastados, aos gentios; mas não esquece os clássicos, os eleitos.
O texto que escutamos lembra-nos uma visita «ad limina»: os Apóstolos vêm dos seus lugares de trabalho e contam a Jesus o que fizeram. Jesus escuta-os, mas não quer vê-los cair no triunfalismo do muito que fizeram e fazem, nem no activismo de quem se entrega às coisas do Senhor, esquecendo o próprio Senhor. Por isso, lhes diz: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco». É um momento de intimidade entre Jesus e os seus, um convite ao repouso e ao recolhimento. A comunidade dos Doze, com Jesus no barco, recompõe-se e renova-se em vista da secção dos milagres e da dupla multiplicação dos pães. Estes milagres são preanunciado e introduzidos com a referência à necessidade de alimento, material e simbólico: os discípulos «não tinham tempo para comer» (v. 31); as multidões «eram como ovelhas sem pastor» (v. 34).
É uma pena que a tradição os retiros e exercícios espirituais se tenham convertido em outras coisas que nem sempre contribuem para o bem dos homens e para o bem da Igreja.Meditatio
Ao concluir a Carta aos Hebreus, o seu autor dá-nos um ensinamento muito importante: «Ofereçamos por meio dele, continuamente a Deus um sacrifício de louvor» (v. 15). Um cristão há-de viver sempre em atitude de louvor e de acção de graças. Para isso, havemos de estar conscientes dos grandes dons que Deus nos faz por meio de Cristo. Se estivermos convencidos disso, a gratidão levar-nos-á a realizar com alegria outros sacrifícios que o autor da carta aconselha: «Não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com os outros, pois são esses os sacrifícios que agradam a Deus» (v. 16). É o sacrifício da caridade fraterna, que nos permite continuar a oferta de Cristo ou, melhor dizendo, Lhe permite continuar em nós a sua oblação.
«Obedecei aos que vos guiam» (v. 17). Nem sempre é fácil obedecer. Mas o caminho da caridade e da unidade passa pela submissão e pela obediência aos chefes por Ele escolhidos.
Se vivermos assim, o Deus da paz poderá tornar-nos perfeitos em todo o bem por meio de Jesus Cristo, Nosso Senhor, realizando em nós a sua vontade.
O evangelho fala-nos da ternura de Jesus pelas pessoas que O procuravam e seguiam. Essa ternura é também por nós, hoje. Talvez andemos preocupados em testemunhar o Evangelho e precisemos de repousar o espírito na sua presença. Talvez nos reconheçamos naquelas «ovelhas sem pastor» sem rumo nem segurança. Jesus é «o grande Pastor das ovelhas» (v. 20), guia dos pastores e das ovelhas sem pastor. Para abrir a todos –também a mim - um caminho seguro para o redil do Pai, deu a sua vida. Ele mesmo é «o Caminho, a Verdade e a Vida».Oratio
Ó Jesus, Tu revelas-nos o rosto amoroso do Pai. Vimos ao teu encontro como ovelhas sem pastor. Guia-nos Tu com força e doçura para descobrirmos o caminho da vida na oferta total de nós mesmos a Deus. Transforma os nossos dias em incessantes sacrifícios de louvor ao Pai e de caridade aos irmãos. Faz-nos participar na tua páscoa pela morte ao egoísmo e à presunção, para vivermos em Ti como filhos obedientes, que cumprem a vontade do Pai. A Ele, fonte de misericórdia, confiamos, por Ti, a nossa fraqueza e a nossa miséria, para que faça de nós o que quiser para sua glória e bem dos irmãos. Amen.
Contemplatio
«Desde o instante da sua conversão, Santo Agostinho nunca deixou de louvar a Deus em todas as suas acções, de dia, de noite, bebendo, comendo, falando, escrevendo, cantando os louvores da sua misericórdia e da sua graça. Era tão devoto a esta gra&c
cedil;a divina, diz S. Francisco de Sales, que não podia saciar-se, não somente de a louvar, mas também de falar e de escrever em seu louvor. Vedes, portanto, como este santo dizia muito justamente, depois da sua conversão, estas palavras do salmista: «Rompestes os meus laços, ó meu Deus, oferecer-vos-ei um sacrifício de louvor», e chamarei todas as criaturas a vos louvar em reconhecimento das misericórdias que me fizestes». (Leão Dehon, OSP 4, p. 196s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor» (Heb 13, 4). - 05º Domingo do Tempo Comum – Ano C
05º Domingo do Tempo Comum – Ano C
ANO C
5º DOMINGO DO TEMPO COMUMTema do 5º Domingo do Tempo Comum
A liturgia deste domingo leva-nos a reflectir sobre a nossa vocação: somos todos chamados por Deus e d’Ele recebemos uma missão para o mundo.
Na primeira leitura, encontramos a descrição plástica do chamamento de um profeta – Isaías. De uma forma simples e questionadora, apresenta-se o modelo de um homem que é sensível aos apelos de Deus e que tem a coragem de aceitar ser enviado.
No Evangelho, Lucas apresenta um grupo de discípulos que partilharam a barca com Jesus, que acolheram as propostas de Jesus, que souberam reconhecê-l’O como seu “Senhor”, que aceitaram o convite para ser “pescadores de homens” e que deixaram tudo para seguir Jesus… Neste quadro, reconhecemos o caminho que os cristãos são chamados a percorrer.
A segunda leitura propõe-nos reflectir sobre a ressurreição: trata-se de uma realidade que deve dar forma à vida do discípulo e levá-lo a enfrentar sem medo as forças da injustiça e da morte. Com a sua acção libertadora – que continua a acção de Jesus e que renova os homens e o mundo – o discípulo sabe que está a dar testemunho da ressurreição de Cristo.LEITURA I – Is 6,1-2a.3-8
Leitura do Livro de Isaías
No ano em que morreu Ozias, rei de Judá,
vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime;
a fímbria do seu manto enchia o templo.
À sua volta estavam serafins de pé,
que tinham seis asas cada um
e clamavam alternadamente, dizendo:
«Santo, santo, santo é o Senhor do Universo.
A sua glória enche toda a terra!»
Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos
e o templo enchia-se de fumo.
Então exclamei:
«Ai de mim, que estou perdido,
porque sou um homem de lábios impuros,
moro no meio de um povo de lábios impuros
e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo».
Um dos serafins voou ao meu encontro,
tendo na mão um carvão ardente
que tirara do altar com uma tenaz.
Tocou-me com ele na boca e disse-me:
«Isto tocou os teus lábios:
desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa».
Ouvi então a voz do Senhor, que dizia:
«Quem enviarei? Quem irá por nós?»
Eu respondi:
«Eis-me aqui: podeis enviar-me».AMBIENTE
Estamos em Jerusalém, por volta de 740/739 a.C.. Isaías tem, então, à volta de vinte anos. Enquanto está no Templo em oração, descobre que Deus o chama a ser profeta. O texto de hoje relata-nos essa descoberta e a resposta de Isaías. No entanto, este relato não deve ser visto como uma reportagem jornalística de acontecimentos, mas sim como uma apresentação teológica de uma experiência interior de vocação.
Os pormenores folclóricos – o trono alto e sublime em que o Senhor Se senta, o seu manto que enche o Templo, os “serafins” com seis asas que voam sem cessar à volta e que cobrem a face e os pés, o oscilar das portas nos seus gonzos, o fumo – são elementos simbólicos com que o profeta desenha a grandeza, a omnipotência e a magnificência de Deus. É essa a perspectiva que o profeta tem do Deus que o chamou.MENSAGEM
Nesta catequese sobre a experiência de vocação, encontramos vários passos. Vamos resumi-los brevemente.
Em primeiro lugar (vers. 1-5), Isaías deixa claro que a sua vocação é obra de Jahwéh, o Deus majestoso e santo, infinitamente acima do mundo e distante da realidade pecadora em que os homens vivem mergulhados. Os elementos literários típicos das teofanias (o temor, a voz forte, o fumo) definem o quadro típico das manifestações de Deus no Antigo Testamento: foi esse Deus que se manifestou a Isaías e que o convocou para o seu serviço.
Em segundo lugar (vers. 6-7), temos a objecção e a purificação. A objecção do profeta é um elemento típico dos relatos de vocação (cf. Ex 3,11, no chamamento de Moisés). Manifesta o sentimento de um homem que, chamado por Deus a uma missão, tem consciência dos seus limites e da sua indignidade, ou prefere continuar no seu cantinho cómodo, sem se comprometer. A “purificação” sugere que a indignidade e a limitação não são impeditivos para a missão: a eleição divina dá ao profeta autoridade, apesar dos seus limites bem humanos.
Em terceiro lugar, temos a aceitação da missão pelo profeta. Convém, a propósito, notar o seguinte: Isaías oferece-se sem saber ainda qual a missão que lhe vai ser confiada; manifesta, dessa forma, a sua disponibilidade absoluta para o serviço de Deus.
Temos, aqui, descrito o caminho da verdadeira vocação.ACTUALIZAÇÃO
Nesta reflexão sobre a “vocação”, considerar as seguintes questões:
• Cada um de nós tem a sua história de vocação: de muitas formas Deus entra na nossa vida, desafia-nos para a missão, pede uma resposta positiva à sua proposta. Temos consciência de que Deus nos chama – às vezes de formas bem banais? Estamos atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais Ele nos diz, dia a dia, o que quer de nós?
• A missão que Deus propõe está, frequentemente, associada a dificuldades, a sofrimentos, a conflitos, a confrontos… Por isso, é um caminho de cruz que, às vezes, procuramos evitar. Será que eu consigo vencer o comodismo e a preguiça que me impedem de concretizar a missão?
• É preciso ter consciência, também, que as minhas limitações e indignidades muito humanas não podem servir de desculpa para realizar a missão que Deus quer confiar-me: se Ele me pede um serviço, dar-me-á a força para superar os meus limites e para cumprir o que Ele me pede.
• Isaías aceita o envio, ainda antes de saber, em concreto, qual é a missão. É o exemplo de quem arrisca tudo e se dispõe, de forma absoluta, para o serviço de Deus. No entanto, é difícil arriscar tudo, sem cálculos nem garantias: é o pôr em causa os nossos projectos e esquemas para confiar apenas em Deus, de forma que Ele possa fazer de nós o que quiser. Qual a minha atitude em relação a isto?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 137 (138)
Refrão: Na presença dos Anjos,
eu Vos louvarei, Senhor.De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos Vos hei-de cantar
e Vos adorarei, voltado para o vosso templo santo.Hei-de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma.Todos os reis da terra Vos hão-de louvar, Senhor,
quando ouvirem as palavras da vossa b
oca.
Celebrarão os caminhos do Senhor,
porque é grande a glória do Senhor.A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos.LEITURA II – 1 Cor 15,1-11
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Recordo-vos, irmãos, o Evangelho
que vos anunciei e que recebestes,
no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos,
se o conservais como eu vo-lo anunciei;
aliás teríeis abraçado a fé em vão.
Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi:
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras;
foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras,
e apareceu a Pedro e depois aos Doze.
Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez,
dos quais a maior parte ainda vive,
enquanto alguns já faleceram.
Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos.
Em último lugar, apareceu-me também a mim,
como o abortivo.
Porque eu sou o menor dos Apóstolos
e não sou digno de ser chamado Apóstolo,
por ter perseguido a Igreja de Deus.
Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou
e a graça que Ele me deu não foi inútil.
Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles,
não eu, mas a graça de Deus, que está comigo.
Por conseguinte, tanto eu como eles,
é assim que pregamos;
e foi assim que vós acreditastes.AMBIENTE
A chegada do cristianismo ao mundo grego provocou um choque de mentalidades e de perspectivas culturais. Isso ficou bem evidente na dificuldade dos coríntios em aceitar a ressurreição dos mortos.
A ressurreição dos mortos era relativamente bem aceite no judaísmo, habituado a ver o homem na sua unidade; mas constituía um problema sério para a mentalidade grega. Porquê? Porque a cultura grega, fortemente influenciada por filosofias dualistas (como a filosofia de Platão, por esta altura na moda) que viam no corpo uma realidade negativa e na alma uma realidade ideal e nobre, recusava-se a aceitar a ressurreição do homem integral. Como poderia o corpo – essa realidade material, carnal, sensual, que aprisionava a alma e a impedia de subir ao mundo ideal, na opinião dos filósofos gregos – seguir a alma?
É a esta questão posta pelos Coríntios que Paulo vai responder neste texto.MENSAGEM
A argumentação de Paulo é simples e contundente: nós, cristãos, ressuscitaremos um dia, porque Cristo já ressuscitou.
O texto começa com a evocação de uma fórmula da catequese primitiva sobre esta questão. Paulo não está a inventar: está a transmitir com absoluta fidelidade a catequese que recebeu.
A fórmula paulina, que é ao mesmo tempo reflexo e modelo da primitiva pregação cristã acerca da ressurreição, estrutura-se em três tempos: afirmação do facto (morte/ressurreição), testemunho da Sagrada Escritura, comprovação experimental do mesmo (sepultura/aparições). A comprovação do facto resulta dos outros dois elementos.
No que diz respeito ao testemunho das escrituras, Paulo não cita directamente nenhum texto da Sagrada Escritura em favor da sua tese; mas podemos pensar que Paulo está a referir-se a Is 53,8-12 (o quarto poema do Servo de Jahwéh) e a Os 6,2. No que diz respeito às testemunhas da ressurreição de Jesus, Paulo cita seis manifestações de Jesus ressuscitado: a Pedro, aos Doze, a mais de quinhentos irmãos, a Tiago, aos outros apóstolos e, finalmente, ao próprio Paulo.
Notemos que os apóstolos (Paulo incluído) não testemunharam o momento da ressurreição, mas a experiência de um Jesus que continuou vivo depois da morte. O ressuscitado fez-se presente na vida destes homens e, como tal, converteu-se em objecto de pregação e de fé. Portanto, ao falar da ressurreição de Jesus, não estamos a falar de um “facto histórico”, entendendo por “facto histórico” aquele de que qualquer pessoa pode relatar os pormenores. A ressurreição de Cristo é um facto real, mas ao mesmo tempo sobrenatural e meta-histórico, algo que ultrapassa completamente as categorias humanas de espaço e de tempo, a fim de entrar na órbita da fé. É algo que a ciência histórica não pode demonstrar, porque corresponde a uma experiência de fé. O que, historicamente, podemos comprovar, é a incrível transformação dos discípulos que, de homens cheios de medo, de frustração e de cobardia, se converteram em arautos destemidos de Jesus, vivo e ressuscitado.
Além do mais, a ressurreição é um facto que ocorreu, mas que continua a ocorrer; continua a ter a eficácia primitiva, continua a ser capaz de converter em homens novos, a quantos aceitam Jesus pela fé. A comunidade cristã é convidada a fazer esta descoberta, a partir das Escrituras, do Espírito e da própria vida nova que continuamente vai nascendo nos cristãos.ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão deste texto, considerar as seguintes questões:
• Será um dado adquirido, para qualquer cristão, a ressurreição de Jesus. No entanto, essa ressurreição é, para nós, uma verdade abstracta que afirmamos no credo, ou algo vivo e dinâmico, que todos os dias continua a acontecer na nossa vida e na nossa história, gerando vida nova, libertação, amor, numa contínua manifestação de Primavera para nós e para o mundo?
• A ressurreição de Cristo garante-nos que não há morte para quem aceita fazer da sua vida uma luta pela justiça, pela verdade, pelo projecto de Deus. Temos consciência disso? A certeza da ressurreição encoraja-nos a lutar, sem a paralisia que vem do medo, por um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano?
ALELUIA – Mt 4,19
Aleluia. Aleluia.
Vinde comigo, diz o Senhor,
e farei de vós pescadores de homens.EVANGELHO – Lc 5,1-11
Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
estava a multidão aglomerada em volta de Jesus,
para ouvir a palavra de Deus.
Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré
e viu dois barcos estacionados no lago.
Os pescadores tinham deixado os barcos
e estavam a lavar as redes.
Jesus subiu para um barco, que era de Simão,
e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra.
Depois sentou-Se
e do barco pôs-Se a ensinar a multidão.
Quando acabou de falar, disse a Simão:
«Faz-te ao largo
e lançai as redes para a pesca».
Respondeu-Lhe Simão:
«Mestre, andámos na faina toda a noite
e não apanhámos nada.
Mas, já que o dizes, lançarei as redes».
Eles assim fizeram
e apanharam tão grande quantidade de peixes
que as redes começavam a romper-se.
Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco
para os virem ajudar;
eles vieram e encheram ambos os barcos
de tal modo que quase se afundavam.
Ao ver o sucedido,
Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe:
«Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador».
Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele
e de todos os seus companheiros,
por causa da pesca realizada.
Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu,
que eram companheiros de Simão.
Jesus disse a Simão:
«Não temas.
Daqui em diante serás pescador de homens».
Tendo conduzido os barcos para terra,
eles deixaram tudo e seguiram Jesus.AMBIENTE
Estamos na Galileia, no início do ministério de Jesus. Há algum tempo, Ele apresentou o seu programa na sinagoga de Nazaré como anúncio da Boa Nova aos pobres e proposição da libertação para os prisioneiros… Agora, começam a notar-se os primeiros resultados da actividade de Jesus: à sua volta começa a formar-se o grupo dos que foram sensíveis a essa proposta de salvação e seguiram Jesus.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto como Evangelho é uma catequese que procura apresentar as coordenadas fundamentais da identidade cristã: o que é ser cristão? Como se segue Jesus? O que é que implica seguir Jesus?
Ser cristão é, em primeiro lugar, estar com Jesus “no mesmo barco” (vers. 3). É desse barco (a comunidade cristã), que a Palavra de Jesus se dirige ao mundo, propondo a todos a libertação (“pôs-Se a ensinar, da barca, a multidão”).
Ser cristão é, em segundo lugar, escutar a proposta de Jesus, fazer o que Ele diz, cumprir as suas indicações, lançar as redes ao mar (vers. 4-5). Às vezes, as propostas de Jesus podem parecer ilógicas, incoerentes, ridículas (e quantas vezes o parecem, face aos esquemas e valores do mundo…); mas é preciso confiar incondicionalmente, entregar-se nas mãos d’Ele e cumprir à risca as suas indicações (“porque Tu o dizes, lançarei as redes” – vers. 5).
Ser cristão é, em terceiro lugar, reconhecer Jesus como “o Senhor” (vers. 8): é o que faz Pedro, ao perceber como a proposta de Jesus gera vida e fecundidade para todos. O título “Senhor” (em grego, “kyrios”) é o título que a comunidade cristã primitiva dá a Jesus ressuscitado, reconhecendo n’Ele o “Senhor” que preside ao mundo e à história.
Ser cristão é, em quarto lugar, aceitar a missão que Jesus propõe: ser pescador de homens (vers. 10). Para entendermos o verdadeiro significado da expressão, temos de recordar o que significava o “mar” no ideário judaico: era o lugar dos monstros, onde residiam os espíritos e as forças demoníacas que procuravam roubar a vida e a felicidade do homem. Dizer que os seus discípulos vão ser “pescadores de homens” significa que a missão do cristão é continuar a obra libertadora de Jesus em favor do homem, procurando libertar o homem de tudo aquilo que lhe rouba a vida e a felicidade. Trata-se de salvar o homem de morrer afogado no mar da opressão, do egoísmo, do sofrimento, do medo – as forças demoníacas que impedem a felicidade do homem.
Ser cristão é, finalmente, deixar tudo e seguir Jesus (vers. 11). Esta alusão ao desprendimento do discípulo é típica de Lucas (cf. Lc 5,28;12,33;18,22): Lucas expressa, desta forma, que a generosidade e o dom total devem ser sinais distintivos das comunidades e dos crentes que seguem Jesus.
Uma palavra, ainda, para o papel proeminente que Pedro aqui desempenha: a comunidade lucana é uma comunidade estruturada, que reconhece em Pedro o “porta-voz” de todos e o principal animador dessa comunidade de Jesus que navega nos mares da história.ACTUALIZAÇÃO
Considerar os seguintes dados:
• A reflexão deste texto deve pôr em paralelo o “caminho cristão”, tal como Lucas o descreve aqui, com esse caminho – às vezes não tão cristão como isso – que vamos percorrendo todos os dias. Considerar as seguintes questões:
• O nosso caminho é feito no barco de Jesus, ou, às vezes, embarcamos noutros projectos onde Jesus não está e fazemos deles o objectivo da nossa vida? Por outro lado, deixamos que Jesus viaje connosco ou, às vezes, obrigamo-l’O a desembarcar e continuamos viagem sem Ele?
• Ao longo da viagem, somos sensíveis às palavras e propostas de Jesus? As suas indicações são para nós sinais obrigatórios a seguir, ou fazem mais sentido para nós os valores e a lógica do mundo?
• Reconhecemos, de facto, que Jesus é o “Senhor” que preside à nossa história e à nossa vida? Ele é o centro à volta do qual constituímos a nossa existência, ou deixamos que outros “senhores” nos manipulem e dominem?
• Chamados a ser “pescadores de homens”, temos por missão combater o mal, a injustiça, o egoísmo, a miséria, tudo o que impede os homens nossos irmãos de viver com dignidade e de ser felizes. É essa a nossa luta? Sentimos que continuamos, dessa forma, o projecto libertador de Jesus?
• A nossa entrega é total, ou parcial e calculada? Deixamos tudo na praia para seguir Jesus, porque o seu projecto se tornou a prioridade da nossa vida?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 5º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. DA PALAVRA À EUCARISTIA.
As palavras do nosso Sanctus vêm da primeira leitura deste domingo. Se o Sanctus programado para este dia tiver um refrão, este último poderá ser utilizado como antífona do salmo responsorial. Será um modo simples de valorizar a ligação entre as duas mesas, a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia.3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.No final da primeira leitura:
“Deus Altíssimo, Rei e Senhor do universo, juntamo-nos à imensa multidão celeste das tuas criaturas espirituais para Te aclamar: Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo. Toda a terra está cheia da tua glória!
Pai, que desejas tanto estar próximo de nós e de Te fazer conhecer, nós Te pedimos: envia os teus mensageiros, que o teu Nome seja santificado em toda a terra.”N
o final da segunda leitura:
“Pai, nos Te damos graças pela Boa Nova de Jesus ressuscitado, Ele que foi manifestado aos Apóstolos e revelado a todos aqueles que Te procuram com fé. Bendito sejas pelo testemunho apostólico transmitido de geração em geração.
Jesus, Filho do Deus vivo, salva-nos pela tua ressurreição, acolhe todos os nossos irmãos e irmãs defuntos na tua comunhão, na luz da tua Páscoa eterna”.No final do Evangelho:
“Jesus, Mestre e Senhor, bendito sejas pelos apelos que nos diriges em cada dia, convidando-nos a seguir-Te.
Mestre, nós Te confiamos os nossos desencorajamentos, porque também nós sofremos para avançar ao largo, no teu caminho. Mas na tua Palavra e com o sopro do Espírito, retomaremos o caminho”.4. BILHETE DE EVANGELHO.
Estes pescadores tinham, sem dúvida, ouvido falar de Jesus. O seu ensinamento parecia ter autoridade, mas não era um homem do Lago. Não era Ele que ia dar lições a estes três pescadores experimentados. Então, que se passou? Ele devia inspirar confiança, para que Simão lhe emprestasse a sua barca, fazendo dela lugar de pregação e, mais ainda, para que este mesmo Simão obedecesse à sua ordem, uma ordem insensata: lançar novamente as redes, quando a pesca tinha sido infrutífera toda a noite. Diante da prodigalidade da pesca, Simão lança-se aos pés daquele que reconhece como mestre, enquanto ele mesmo se reconhece como homem pecador. Jesus faz um segundo sinal, um segundo milagre: vai fazer de Pedro um outro homem. De pescador de peixes torna-se pescador de homens, torna-se um homem cheio de confiança. Deixando tudo, como Tiago e João, segue Jesus!5. À ESCUTA DA PALAVRA.
Pedro era um pescador profissional. Conhecia o seu ofício. Aquele dia era um dia “não”, um dia de pesca infrutífera. E chega Jesus, carpinteiro, a dizer-lhe o que fazer, para lançar as redes. A primeira atitude de Simão é, naturalmente, de hesitação. Apesar de tudo, manifesta uma atitude de confiança, ao lançar as redes. A palavra e a personalidade de Jesus inspiraram-lhe alguma confiança. Segundo Lucas, Pedro já tinha tido ocasião para experimentar a presença de Jesus junto da sua sogra, doente com febre. A pesca é verdadeiramente milagrosa. Humanamente, não seria possível! Pedro e os companheiros admitem que este jovem rabino tem poderes sobre-humanos. Pelo menos, é um profeta, um enviado de Deus. Mas para Pedro ficam interrogações: a presença de Deus não acontece no Templo, em Jerusalém, onde são necessários ritos de purificação para se aproximar d’Ele? Daí o grito de Pedro: “afasta-Te de mim, que sou um homem pecador!” Em Jesus, Deus sai do Templo, de todos os templos. Vem caminhar na estrada dos homens. Vem ao encontro dos homens, os mais pequenos, os pescadores e pecadores, independentemente de qualquer purificação. Será isso o mundo ao contrário? Certamente! Jesus vem colocar o mundo face a Deus, numa relação de amor que suprime todas as barreiras e que suscita infinita confiança. Isso continua a ser verdade hoje!6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística I, que recorda o nome dos apóstolos de que fala o Evangelho e na Carta de Paulo. As palavras “na presença da tua glória sobre o teu altar celeste” evocam, de certo modo, o clima da primeira leitura.7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
As últimas palavras do sacerdote na missa são palavras de paz: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!” Eis-nos enviados entre os homens, nossos irmãos, como Isaías, como Simão, como Paulo… E, como eles, não nos sentimos dignos de cumprir a missão que Deus nos confia em cada Eucaristia. Mas, como a Isaías, a Simão, a Paulo, uma palavra forte é dita a cada um de nós: “Não tenhas medo…” Partamos, como Paulo… com a certeza de que não sou eu que trabalho sozinho, “é a graça de Deus, que está comigo!”https://www.youtube.com/watch?v=2GsZWJn8Dos
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org - Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Segunda-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 1, 1-19
No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, 2a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas. 3Deus disse: «Faça-se a luz.» E a luz foi feita. 4Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. 5Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia. 6Deus disse: «Haja um firmamento entre as águas, para as manter separadas umas das outras.» E assim aconteceu. 7Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam sob o firmamento das que estavam por cima do firmamento. 8Deus chamou céus ao firmamento. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia. 9Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu. 10Deus chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom. 11Deus disse: «Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que dêem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies, e contendo semente.» E assim aconteceu. 12A terra produziu verdura, erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas espécies, com a respectiva semente. Deus viu que isto era bom. 13Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia.
14Deus disse: «Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separar o dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos; 15servirão também de luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarem a Terra.» E assim aconteceu. 16Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. 17Deus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a Terra, 18para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. 19Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia.Os relatos da criação descrevem acções divinas que se situam, não na história, mas num "princípio" que ninguém pode conhecer. Daí o uso da linguagem dos "mitos". De facto, ninguém assistiu à criação do mundo para no-la poder narrar: «Onde estavas, quando lancei os fundamentos da terra?» - pergunta Deus a Job (Jb 38, 4). Portanto, o carácter destes relatos não é científico, embora o autor se sirva da noção experimental do mundo corrente no seu tempo; nem é histórico, embora as apresente em movimento e num processo análogo ao da história. Estas afirmações são teológicas: falam de Deus enquanto revelam acção e desígnio no mundo, e enquanto este encontra a plenitude do seu ser na referência a Deus. São teologia de linguagem medida e refinada, e são também mensagem para determinados destinatários, como os pagãos que adoravam o Sol, a Lua e outras criaturas.
No primeiro relato, o autor sagrado refere que Deus tudo criou pela sua palavra e baseia a estrutura da sua narrativa nos sete dias da semana, com os seis dias de trabalho e mais um de repouso, o «sétimo dia» para o qual converge toda a acção semanal, que nele encontra plena realização. Esta estrutura é propositadamente usada, tanto mais que as acções de Deus são mais de sete: a luz, a abóbada celeste, a terra enxuta, a vegetação, os luzeiros, os peixes, as aves, o gado, os répteis, o homem (macho e fêmea). O relato de Gn 1 quer dizer-nos que a criação foi organizada em vista de um fim muito concreto que se resume no sábado, que é dia de repouso para o homem e o dia de louvor para Deus.
Ao terminar esta página lemos: «Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado» (Gn 2, 2). Como pôde concluir a criação se, no mesmo dia cessou toda a actividade? Faltava uma coisa essencial no mundo: o tempo e o espaço para a oração. O sábado vem colmatar essa falta, concluir a obra, porque permite viver, com a periodicidade de uma semana, o tempo todo de Deus criador e salvador, e celebrar de antemão a criação terminada. É uma imagem da meta posta à vista, para iluminar o caminho e assegurar que por ele se chega à realização total e ao repouso de Deus.Evangelho: Marcos 6, 53-56
Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos fizeram a travessia do lago e vieram para a terra de Genesaré, onde aportaram. 54Assim que saíram do barco, reconheceram-no. 55Acorreram de toda aquela região e começaram a levar os doentes nos catres para o lugar onde sabiam que Ele se encontrava. 56Nas aldeias, cidades ou campos, onde quer que entrasse, colocavam os doentes nas praças e rogavam-lhe que os deixasse tocar pelo menos as franjas das suas vestes. E quantos o tocavam ficavam curados.
Jesus acaba de atravessar o lago de Genesaré, unindo a margem leste, onde habitam os pagãos, com a margem oeste, onde habitam os hebreus. A descrição de Marcos lembra-nos as promessas messiânicas: «Acorrerão ao monte do Senhor todas as gentes, virão muitos povos e dirão... Ele nos ensinará os seus caminhos» (cf. Is 2, 2-3); «Virão povos e habitantes de grandes cidades. E os habitantes de uma cidade irão para outra, dizendo: 'Vamos implorar a face do Senhor!» (Zc 8, 21). Todos os que se reconhecem carecidos de salvação dirigem-se a Jesus. Diante dele são expostas todas as misérias humanas. As pessoas não se deixam dominar pela vergonha, mas agem com confiança: basta que os Senhor lhes toque apenas com «as franjas das suas vestes». Assim se cumpre a palavra do profeta: «Assim fala o Senhor do universo: Naqueles dias, dez homens de todas as línguas das nações tomarão um judeu pela dobra do seu manto e dirão: 'Nós queremos ir convosco, porque soubemos que Deus está convosco'» (Zc 8, 23). Não precisamos de nos esforçar para demonstrar que, no Evangelho, se tratava sempre de verdadeiros milagres, e não de casos idênticos àqueles de que fala hoje a parapsicologia. Uma correcta cristologia não exige que Jesus fosse um super-homem. Marcos não usa métodos racionalistas para demonstrar a divindade de Jesus. Aliás, para ele, a fé é um dom gratuito de Deus que geralmente precede os «milagres». O interessante é que as pessoas perceberam que a mensagem do Evangelho não era algo de abstracto de puramente filosófico, mas que implicava a melhoria da sua situação. Se, intuindo que Deus estava com Jesus, acorriam a Ele, depois de estarem com Ele, partiam gritando: Deus está connosco e a nossa favor... em Jesus.
Meditatio
As páginas do Génesis, que nos falam de Deus Criador, suscitam em nós sentimentos de admiração e de grandeza. É pela sua palavra que Deus cria o mundo. Dá uma ordem, e tudo acontece: «Deus disse: «Faça-se», e «assim se fez
». E não falta uma avaliação da obra feita: «E Deus viu que isto era bom» (cf. Gn 1, 25). Deus aprecia as obrs que realiza. Compraz-se nelas.
Sabemos que a Bíblia não pretende explicar cientificamente a criação do mundo. Os relatos do Génesis são uma história religiosa que fala de todas as criaturas, que afirma que todas têm origem em Deus e na sua palavra criadora. O escritor bíblico está claramente cheio de admiração pelas obras de Deus. A nossa admiração, a milénios de distância, há-de ser ainda maior, porque hoje, graças à investigação científica, compreendemos muito melhor a grandeza do universo. O autor bíblico não conhecia a distância da Terra à Lua, nem as quase inimagináveis distâncias medidas em anos luz entre os astros. Continuam a ser descobertas estrelas, vias lácteas, galácias... Nós, agora, temos conhecimento de tudo isso, que não é suficiente, mas é importante, como revelação de Deus. Deus revela-se na criação. É bom e útil para nós deter-nos a contemplar a grandeza e as maravilhas de Deus nas suas obras pequenas e grandes. Os santos comoviam-se profundamente diante da grandeza do universo, mas também diante da simplicidade e da beleza de uma pequena flor. Em tudo descobriam a presença da sabedoria, do poder, do amor de Deus. «Louvai o Senhor porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia», convida-nos o salmo (2 Cr 7, 3).
O cristão cultiva, diante da criação, um olhar de grande optimismo e de respeito. Optimsmo porque, apesar do mal que há no mundo, o conjunto das obras de Deus é bom; de respeito, porque, se tudo foi feito para o homem, ele deve usá-lo na medida das suas reais necessidades, sem destruir nem desperdiçar o que quer que seja.
O encontro com Deus feito homem, com Jesus, possiblita-nos uma cura que nos permite ver a verdade da criação, e a nossa própria verdade.Oratio
Obrigado, Senhor, pela obra maravilhosa da criação. Louvado sejas por todas as tuas criaturas: o Sol, a Lua, as estrelas, o ar, as águas, o fogo e a mãe Terra, com tudo o que a enche, nos sustenta e governa.Obrigado por teres feito o homem como obra-prima da criação. Que ele saiba usá-la com respeito, com amor, com gratidão. Que jamais se limite a perguntar: «Para que serve?»; «Quanto rende?». Mas que tenha consciência de que, o que existe na Terra, é para os que vivem hoje, e hão-de viver no futuro. Amen.
Contemplatio
Chegou o momento de imaginarmos as piedosas conversas de Jesus e de seus pais. Regressavam os três a Nazaré, tão felizes por estarem de novo reunidos. «Desceu com eles», diz-nos S. Lucas, como para nos dizer: meditai sobre as suas conversas. Com que é que Jesus podia entreter-se com os seus pais, senão com a sua missão messiânica e com todos os desígnios de misericórdia que enchiam o seu Coração. Aí conduzia docemente o seu pensamento: «Mãe, dizia, os homens passam mal os dias da sua peregrinação na terra. Deixam-se absorver pelo cuidado dos interesses temporais. E, no entanto, os milagres da criação estão por toda a parte semeados sobre os seus caminhos, mas não se dignam olhá-los. Não consideram quem é que fez crescer e reverdejar esta árvore, quem, com tantos matizes, coloriu este bando alado de graciosas aves, nem quem o alimentou sem que ele se inquiete. Certamente, estes pássaros folgazões não semeiam nem recolhem. - Contemplai, ó minha mãe, ó meu lírio, a vossa irmã, aquela flor ali, branca como a neve. Na verdade, nem a esposa de um rei, nem Salomão mesmo na sua glória foram adornados tão magnificamente. E no entanto não passa de uma flor. (Leão Dehon, OSP3, p. 162s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor» (Sl 136, 57).________
Subsídio Litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj
- Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Terça-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 1, 20-2, 4a
Deus disse: «Que as águas sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus.» 21Deus criou, segundo as suas espécies, os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. 22Deus abençoou-os, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar e multipliquem-se as aves sobre a terra.» 23Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia. 24Deus disse: «Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies.» E assim aconteceu. 25Deus fez os animais ferozes, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. 26Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» 27Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. 28Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.» 29Deus disse: «Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. 30E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra produzir.» E assim aconteceu. 31Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia. 1Foram assim terminados os céus e a Terra e todo o seu conjunto. 2Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado. 3Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação. 4Esta é a origem da criação dos céus e da Terra.
O homem macho e fêmea, homem-mulher, foi criado «à imagem de Deus» (v. 26). Mas, o homem «imagem de Deus», não é qualquer um. À luz da cultura do tempo em que foi escrito o nosso texto, é homem «à imagem de Deus» aquele que está acima de todos os outros, isto é, o rei. A página de Gn 1 foi escrita na Babilónia, onde encontramos um texto bastante eloquente: «A sombra de Deus é o Homem e os homens são sombra do Homem; o Homem é o rei, igual à imagem da divindade». O autor sagrado, é certo, estendeu a todos os homens e mulheres a prerrogativa serem imagem de Deus. Com efeito, a ordem de 'dominar sobre a terra» e sobre os outros seres vivos é dada indistintamente a todos os homens. Mas, insistimos na pergunta: qual é o homem que realiza plenamente esta missão real no interior da criação? Os Padres orientais tentaram responder a esta questão introduzindo uma distinção entre «imagem» e «semelhança». Todos os homens levam em si a imagem divina. Mas, para reinar verdadeiramente, é preciso conseguir também uma certa semelhança com o verdadeiro rei do mundo, que é o Filho, perfeita «imagem de Deus invisível» (Cl 1, 15), assumir as suas opções, entrar nos seus pensamentos. Esta perspectiva patrística, com fundamento bíblico, corresponde à afirmação paulina: «E assim como trouxemos a imagem do homem da terra, assim levaremos também a imagem do homem celeste» (1 Cor 15, 49).
Evangelho: Marcos 7, 1-13
Naquele tempo, reuniram-se à volta de Jesus os fariseus e alguns doutores da Lei vindos de Jerusalém, 2e viram que vários dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. 3É que os fariseus e todos os judeus em geral não comem sem ter lavado e esfregado bem as mãos, conforme a tradição dos antigos; 4ao voltar da praça pública, não comem sem se lavar; e há muitos outros costumes que seguem, por tradição: lavagem das taças, dos jarros e das vasilhas de cobre. 5Perguntaram-lhe, pois, os fariseus e doutores da Lei: «Porque é que os teus discípulos não obedecem à tradição dos antigos e tomam alimento com as mãos impuras?» 6Respondeu: «Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando escreveu:Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. 7Vazio é o culto que me prestam e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos. 8Descurais o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens.» 9E acrescentou: «Anulais a vosso bel-prazer o mandamento de Deus, para observardes a vossa tradição. 10Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; e ainda: Quem amaldiçoar o pai ou a mãe seja punido de morte. 11Vós, porém, dizeis: "Se alguém afirmar ao pai ou à mãe: 'Declaro Qorban' - isto é, oferta ao Senhor - aquilo que poderias receber de mim...", 12nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, 13anulando a palavra de Deus com a tradição que tendes transmitido. E fazeis muitas outras coisas do mesmo género.»
O texto que hoje escutamos parece dar-nos a perceber que Marcos escreve para uma comunidade judeo-cristã que procurava ultrapassar certos dados da sua origem. Provavelmente tratava-se de judeo-cristãos de cultura helenista, isto é, de judeus da dispersão, cujas formas e costumes tinham sido influenciados pela cultura grega. Marcos procura mostrar-lhes que a nova relação entre os discípulos e Jesus de Nazaré também implicava uma nova relação entre os eles e as regras estabelecidas pelos homens para o encontro com Deus, nomeadamente no que se refere à pureza ritual: «Porque é que os teus discípulos não obedecem à tradição dos antigos e tomam alimento com as mãos impuras?» (v. 5). Mais do que nas suas palavras, é na sua Pessoa que encontramos a resposta à questão que Lhe é posta. Ao revelar-se como o Filho de Deus, o Mediador entre Deus e os homens, Jesus relativiza as regras e preceitos humanos. Não os anula, mas mostra que são válidos se estiverem relacionados com Ele. Ele é a norma, Ele é a incarnação do mandamento de Deus, a Palavra viva.
Meditatio
O livro do Génesis dá-nos uma esplêndida imagem do homem. Criado por Deus, à sua imagem e semelhança, o homem é chamado a dominar a terra, a ser seu senhor, a povoá-la: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra... » (v. 28). Verdadeiramente, o homem é a obra-prima de Deus: «Quase fizeste dele um ser di
vino; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos, tudo submeteste a seus pés» (Sl 8, 7-8). À luz da Palavra de Deus, o homem é realmente grande, e há que resistir à tentação de, por qualquer modo, o diminuir. Deus quer o homem grande e glorioso. Deus não é um senhor mesquinho e invejoso. Deus é amor que Se dá, e Se dá com generosidade: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança» (v. 26). Deus é amor oblativo, sempre em expansão: dá generosamente e quer dar sempre mais. Tem grandes ambições para o homem, e não quer que ele se perca em ninharias. Como vemos no evangelho, nem sequer agrada a Deus que o homem se diminua numa religião feita de formalismos, de legalismo tacanho, que dá importância ao que o não merece. É certo que Jesus não ab-rogou a Lei nem os Profetas, mas reconduziu-os às suas intenções originárias, àqueles dados escritos que precedem todas as reelaborações da tradição. Ao fazer isso, recorda a hebreus e a cristãos que a prática da Lei e a obediência à Palavra escrita, é imitação de Deus que restabelece no homem a imagem do mesmo Deus, e a plena semelhança com o seu Criador. Em qualquer dos casos, torna-se claro que a honra que o homem dá a Deus consiste essencialmente em viver a sua vocação original: ser «imagem e semelhança» do Criador. É um enorme desafio que nos é posto. Há que optar e vivê-lo com todas as suas consequências.Oratio
Senhor, torna-me cada vez mais consciente da minha vocação humana, de modo que me orgulhe e encha de alegria por causa dela. Faz-me compreender a grandeza com que me criaste e a enorme ambição que tens em meu favor. Obrigado, Senhor! Obrigado! Quem sou eu, para que te lembres de mim? Mas o teu imenso amor fez com que me criasses pouco inferior aos anjos e ambiciones tornar-me maior do que eles, porque participante da tua natureza divina. Obrigado, Senhor! Que eu saiba corresponder ao ter amor e tornar-me alegria para os teus olhos. Amen.
Contemplatio
Na criação. Deus tinha principalmente em vista o Coração de Jesus. Deus é amor. Criava o mundo para ser amado. Tinha, portanto, necessariamente como objectivo principal o Coração de Jesus: a fornalha ardente de caridade, o rei e o centro de todos os corações, no qual o Pai colocou todas as suas complacências, o desejado das colinas eternas... Deus criador contempla o Coração de Jesus, tudo o resto é acessório. As outras criaturas serão boas, se reflectirem o Coração de Jesus. Deus cria o céu, a terra, o sol, o oceano, as plantas, os animais, e vê que tudo isso é bom, porque tudo isso é feito sobre um tema único, o Coração de Jesus. O céu e o sol vivificante, isso é uma imitação do Coração de Jesus. Os físicos, diz Macróbio, chamam o sol o coração do mundo; a terra e as suas fontes fecundantes, isso é ainda uma imitação do Coração de Jesus; a planta e a seiva que a anima, aí está a imagem do Coração de Jesus e da sua graça santificante. Deus viu que isso é bom. O Coração de Jesus é o coração de Deus sobre a terra, como o Espírito Santo é o coração de Deus no céu. Também o Coração de Jesus é concebido do Espírito Santo. Ele é a obra do Espírito Santo, é animado pelo Espírito Santo, é como a continuação do Espírito Santo. Jesus tem como que três corações: um coração divino, que é o Espírito Santo, amor infinito do Filho pelo seu Pai; um Coração espiritual, que é a parte superior da sua alma santa e que compreende a sua memória, o seu entendimento e a sua vontade e que é particularmente deificada pela sua união hipostática; um coração corporal, que é igualmente deificado pela união hipostática. Eis o tríplice objecto das complacências do Pai. - Ele ama o coração espiritual e o coração corporal do seu Filho, porque são feitos à imagem de Deus: «Façamos o homem à nossa imagem». Ele ama os homens e todas as criaturas, porque aí encontra a mesma imagem e semelhança. (Leão Dehon, OSP4, p. 514).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Façamos o homem à nossa imagem e semelhança» (Gn 1, 26).______________
Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj
- Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Quarta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 2, 4b-9, 15-17
Quando o Senhor Deus fez a Terra e os céus, 5e ainda não havia arbusto algum pelos campos, nem sequer uma planta germinara ainda, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para a cultivar, 6e da terra brotava uma nascente que regava toda a superfície, 7então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. 8Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. 9O Senhor Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer; a árvore da Vida estava no meio do jardim, assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal. 15O Senhor Deus levou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e, também, para o guardar. 16E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: «Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; 17mas não comas o da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás.»
Havia alguma coisa, quando ainda não existia nada? Esta pergunta não é tão ingénua como possa parecer. De facto, não podemos falar das origens do mundo sem ser por paradoxos. O autor de Gn 2 responde assim: havia a terra e o céu, mas não havia o homem para trabalhar a terra. Gn 2 esta centrado na criação do homem, da mulher e dos animais, e não do cosmos, como Gn 1, onde o homem foi criado em vista do serviço litúrgico, do louvor sabático. Gn 1 é um relato "sacerdotal". Em Gn 2, o homem é tirado do pó humedecido, da terra, adamáh, «a avermelhada». Daí o seu nome de Adão. Nascido da terra, para à terra voltar, o homem é destinado ao trabalho agrícola, indispensável para a vida do mundo. É uma perspectiva aparentemente mais «leiga». Mas em hebraico "serviço litúrgico" e «trabalho agrícola» expressam-se com o mesmo termo. Não são duas coisas opostas e inconciliáveis. Para cultivar a terra, o homem é colocado «num jardim», ou «paraíso» como também costumamos dizer. A palavra hebraica gan indica um oásis na estepe (edin). O termo hebraico gan tem um sinónimo pardés, termo com origem na palavra persa pardeiza, que significa propriedade vedada, jardim, pomar. Pardeiza, em grego deu parádeisos, e em latim paradisum, que está na origem do português paraíso. No paraíso, o homem podia dispor de todos os frutos das árvores, excepto do da árvore do «conhecimento do bem e do mal» (v. 17). Porque terá Deus proibido ao homem distinguir o bem do mal? Os exegetas tentam actualmente uma explicação: o bem e o mal são opostos. Com frequência, na linguagem bíblica, usam-se opostos para indicar a totalidade. Assim, por exemplo, «entrar e sair» significa viver. Conhecer o bem e o mal quereria dizer, pouco mais ou menos, conhecer tudo o que é cognoscível. Mas, conhecer tudo é uma prerrogativa divina e não humana. O homem que aspira à omnisciência pretende ocupar o lugar que só a Deus pertence. Daí que lhe seja proibido comer daquela árvore.
Evangelho: Marcos 7, 14-23
Naquele tempo, Jesus chamou de novo a multidão e disse-lhes: «Ouvi-me todos e procurai entender. 15Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. 16Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça.» 17Quando, ao deixar a multidão, regressou a casa, os discípulos interrogaram-no acerca da parábola. 18Ele respondeu: «Também vós não compreendeis? Não percebeis que nada do que, de fora, entra no homem o pode tornar impuro, 19porque não penetra no coração mas sim no ventre, e depois é expelido em lugar próprio?» Assim, declarava puros todos os alimentos. 20E disse: «O que sai do homem, isso é que torna o homem impuro. 21Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios, 22adultérios, ambições, perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios. 23Todas estas maldades saem de dentro e tornam o homem impuro.»
Jesus dirige-se agora ao povo simples e, num segundo momento, apenas aos discípulos. Enfrenta questões legais delicadas para a mentalidade dos judeus piedosos e observantes. Jesus difere dos profetas e dos judeus de cultura helenista. Não se pode distinguir a esfera religiosa, divina, e a vida, como esfera quotidiana, que não pertence a Deus. As coisas do mundo não são «impuras» em si mesmas. São os homens que as podem tornar impuras. A comunidade de Jesus acredita na bondade da criação.
Podemos distinguir no texto três momentos: o ensinamento de Jesus à multidão (vv. 14-16); a sentença de Jesus (v. 15); o ensinamento aos discípulos (vv. 17-23); a verdadeira impureza, o coração, o catálogo dos vícios. Mas o mais importante é o comportamento dos homens diante das exigências do reino de Deus. A pureza ou a impureza das coisas depende do coração do homem. É a atitude do homem perante elas, é o uso que faz delas que as pode tornar impuras. Não há nada sagrado ou profano, puro ou impuro em si. A criação é «secular»: pode ser profana e pode ser sagrada. A sacralidade e a pureza vêm ao homem e ao mundo, não de modo automático pelo contacto com determinadas coisas, lugares ou pessoas, mas unicamente através do canal do diálogo entre Deus e o homem.Meditatio
Mais uma vez, Jesus fala por enigmas: «Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro» (v. 15). Como qualquer enigma, também este não é de fácil compreensão. Por isso é que Jesus começou por dizer: «Ouvi-me todos e procurai entender» (v. 14).
Estas palavras podem ser entendidas em sentido físico. Segundo a lei de Moisés, havia impurezas rituais concernentes aos alimentos e ao comer sem ter lavado as mãos. No evangelho de hoje a discussão partiu exactamente do facto dos Apóstolos comerem sem antes lavar as mãos. Mas havia outras impurezas ligadas aos que «sai do homem», tal como perdas de sangue e outras. A mulher do Evangelho, que tinha perdas de sangue, escondia-se para não tocar outras pessoas e torná-las impuras. Quem fosse tocado por ela, teria de lavar-se e aguardar algum tempo antes de poder participar no culto.
O enigma de Jesus poderia ser entendido no sentido em que Ele dava mais importância ao que sai do homem do que ao que ele come e bebe. Mas não era essa a intenção de Jesus: Ele distinguia o exterior e o interior no sentido do físico e do moral ou espiritual. Queria dizer que as coisas materiais têm menos importância para a pureza religiosa. E isto era uma verdadeira revolução religiosa, uma dessacralização. É certo que,
para Jesus, todas as coisas têm relação com Deus e devem ser santificadas. Mas não devem ser sacralizadas, não se lhes deve dar uma importância desproporcionada. O alimento, o lavar as mãos, têm importância. Mas não devem ser entendidos como realidades sagradas. Uma coisa é a higiene; outra é a pureza religiosa. Há relação entre a limpeza do corpo e o respeito devido a Deus. Mas não se pode considerá-los tão importantes, que permitam esquecer outros aspectos bem mais importantes, e que não são tão facilmente alcançáveis. Purificar o coração é mais difícil do que lavar as mãos!
Jesus revela que a pureza religiosa não é exterior, mas interior. É preciso purificar o coração, o nosso íntimo, o nosso «eu profundo», onde realmente se dá o encontro com Deus, mais do que as mãos. Há que purificar as intenções, os desejos, os actos da vontade e da inteligência, pois é deles que nasce tudo o que é mau: «as prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições, perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios. Todas estas maldades saem de dentro e tornam o homem impuro» (v. 21-23).Oratio
Obrigado, Senhor Jesus, pela luz que trouxeste aos teus discípulos, libertando-os da opressão de práticas religiosas vãs, com a efusão do teu Espírito. Continua a derramar sobre nós esse mesmo Espírito: «Manda, Senhor, o teu Espírito, e tudo é criado», pediam os justos do Antigo Testamento, quando rezavam pela primeira criação. «Manda, Senhor, o teu Espírito, e tudo é criado», rezamos nós, agora, pensando na nova criação, a criação do homem novo, à imagem e semelhança de Deus. Amen.
Contemplatio
Escutemos o grande apóstolo, Paulo: «Desde que pertencemos a Jesus Cristo, tornamo-nos uma nova criatura: o passado já não existe; tudo é renovado. Ora, tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo pelo Cristo e foi a nós que Ele confiou o ministério da reconciliação. Sim, foi Deus quem reconciliou os homens consigo em Jesus Cristo, não lhes imputando os seus pecados, e foi em nós que Ele colocou a palavra da reconciliação. Nós desempenhamos, portanto, as funções de embaixadores de Cristo, como se Deus mesmo vos exortasse pela nossa boca. Oh! Conjuramo-vos, em nome de Cristo, reconciliai-vos com Deus! Por nosso amor, fez pecado (ou vítima do pecado) aquele que não conhecia o pecado, a fim de que nos tornássemos a justiça (ou os justificados) de Deus» (2Cor 5, 17). Senhor, exercei a vossa misericórdia sobre a minha pobre alma. (Leão Dehon, OSP4, p. 222).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Nada há fora do homem que o possa tornar impuro» (cf. Mc 7, 15)._______________
Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj
- S. Cirilo, Monge e S. Metódio, Bispo, Padroeiros da Europa
S. Cirilo, Monge e S. Metódio, Bispo, Padroeiros da Europa
Os Santos Cirilo e Metódio nasceram em Salónica, na primeira metade do século IX. Bizantinos de formação, tornaram-se apóstolos dos povos eslavos, na Morávia, atuais repúblicas Checa e Eslovaca, e na Panónia, atual Croácia. Para eles, traduziram A Bíblia e os livros litúrgicos para a língua paleoeslava, e reuniram discípulos. As suas iniciativas missionárias foram aprovadas pelo Papa Adriano II. Entretanto, Cirilo adoeceu, acabando por morrer na cidade, e sendo sepultado na igreja de S. Clemente. Metódio, ordenado bispo, regressou à Morávia, falecendo aí no ano de 885. Os seus discípulos, expulsos do país, refugiaram-se na Bulgária. Daí a liturgia e a literatura eslava passaram para o reino de Kiev, na Rússia e para todos os países eslavos de rito bizantino.
Lectio
Primeira leitura: Atos 13, 46-49
Naqueles dias, Paulo e Barnabé disseram aos judeus: «Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos,47pois assim nos ordenou o Senhor: Estabeleci-te como luz dos povos, para levares a salvação até aos confins da Terra.»48Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé.49Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região.
Os pagãos escutaram com interesse e entusiasmo Paulo e Barnabé, o que suscitou a inveja e os ciúmes dos Judeus contra os missionários, que são insultados e rejeitados. E dá-se a separação entre o Evangelho e o Judaismo. Os Judeus eram os primeiros destinatários da Boa Nova. Uma vez que a rejeitaram, ela é oferecida aos pagãos, que a aceitam. Nesse contexto, Barnabé e Paulo declaram que vão passar a dirigir-se aos pagãos, baseando a sua dercisão, não só na rejeição dos Judeus, mas também nas palavras da Escritura que falam da luz das nações (Is 49, 6). Quem acolher o Evangelho e abraçar a fé torna-se herdeiro das promessas, seja judeu ou pagão. Fica destinado à "vida eterna" (v. 48).
Evangelho: Lucas 10, 1-9
Naquele tempo, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe.3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho.5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa.8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.'
Além dos Apóstolos, fundamento da missão da Igreja, Jesus escolheu outros setenta e dois discípulos e enviou-os a pregar a Boa Nova. Ao longo dos séculos escolheu muitos outros. Foi o caso de Cirilo e Metódio, enviados a missionar os povos eslavos. Quem acolhe o Reino, sente a necessidade de o anunciar. Por isso, a missão é tarefa de todos os batizados. Isso, todavia, não impede que alguns sejam particularmente destinados a pregar que Deus salva, isto é, que o seu "Reino está no meio de nós". O reino vem como "paz". Por isso, é dever dos missionários invocar a paz de Deus sobre as casas e cidades onde vão. A palavra de Jesus assegura ao missionário a possibilidade da sua mensagem ser ouvida. Mas, quando surgem perseguições, os missionários não têm outro caminho senão o de Jesus, isto é, o que leva à morte, como supremo testemunho do Evangelho.
Meditatio
S. Cirilo e S. Metódio sentiram a urgência de levar a salvação para fora das fronteiras do mundo helénico, tal como Paulo e Barnabé tinham sentido a necessidade de levar a Boa Nova para fora das fronteiras do mundo judaico. Isaías falava de Boa Nova e de um movimento centrípto de todos os povos em direção a Jerusalém. No evangelho o movimento é inverso. Jesus envia os discípulos para todo o mundo: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura... Eles, partindo, foram pregar por toda a parte." (Mc 16, 15.20). São duas dinâmicas diferentes: Isaías pensa em Jerusalém como centro do mundo, para onde devem acorrer todos os povos, e subir ao monte do Senhor, que a todos atrai. No Novo Testamento, o centro do mundo já não é Jerusalém, mas o corpo de Cristo ressuscitado, misteriosamente presente onde estão os seus discípulos. É aí que encontram a unidade todos os que acreditam em Jesus.
S. Cirilo e S. Metódio partiram para meio dos eslavos, apesar das dificuldades das viagens e, sobretudo, do problema que era evangelizar povos que não pertenciam à cultura grega e latina. Estes santos foram verdadeiramente pioneiros naquilo que hoje se chama a "inculturação", isto é, em traduzir a fé para a cultura dos povos a evangelizar, sem querer impôr a própria cultura. Traduziram a Bíblia e os textos litúrgicos para eslavo. Esse atrevimento valeu-lhes ser denunciados em Roma pelos missionários latinos. Tiveram que rumar à cidade eterna, e explicar-se às autoridades. Felizmente foram compreendidos pelo Papa Adriano II, que aprovou o seu método missionário.
Hoje, é questão pacífica que, uma coisa é a fé e outra a cultura, que são realidades separáveis, que a fé deve radicar nas diversas culturas como fermento que as impregna de Evangelho. Mas o mesmo se deve pensar em relação à diferentes gerações: em cada geração a fé deve ser expressa de modo novo. A fé, com efeito, é um fermento de vida que tem de crescer e encontrar novas formas de progresso. Temos de aprender a ir ao encontro dos outros, e não obrigá-los a uniformizar-se com os nosso costumes, ou àquilo que pensamos ser melhor. Há que ir aos outros como Jesus veio até nós, isto é, fazendo-se homem e aceitando tudo o que é humano para se fazer entender por nós, e poder introduzir-nos na sua intimidade.
O P. Dehon recebeu "a graça e a missão de enriquecer a Igreja com um Instituto religioso apostólico que vivesse da sua inspiração evangélica" (Cst 1). A mística oblativa-reparadora, inspirada pela contemplação do Coração trespassado de Cristo, levou-o a viver uma espiritualidade profundamente sacerdotal e eucarística, e a empenhar-se num apostolado característico onde a atividade missionária tem um lugar importante. Essa atividade tem de ser devidamente insculturada entre os povos, "para que a comunidade humana, santificada pelo Espírito, se torne uma oblação agradável a Deus" (Cst 30. 31).Oratio
Resplandeça sobre nós, Senhor, a luz incorrutível da tua sabedoria. Abre-nos os olhos da mente, para podermos entender os teus preceitos evangélicos. Que, desprezados os desejos carnais, possamos levar uma vida verdadeiramente espiritual, pensando e fazendo o que é do teu agrado. Nós to pedimos por intercessão dos Santos Cirilo e Metódio. Ámen.
Contemplatio
Jesus percorria as cidades e as vilas da Galileia, anunciando a boa nova e curando os doentes; mas não podia acorrer tudo sozinho e ao ver todo este povo sofrendo e abatido, foi tomado de compaixão, e disse aos discípulos: «A messe é grande, peçamos ao divino Mestre para lhe enviar operários», depois chamou os seus doze apóstolos e enviou-os dois a dois para pregarem com o poder de expulsarem os demónios e de curarem os doentes... Nosso Senhor indica aos apóstolos três condições requeridas para o sucesso da sua missão. A primeira é o espírito de desinteresse. «Recebestes gratuitamente, dai gratuitamente». Que os vossos ouvintes vejam que não é por ganho, mas pela salvação das almas e pela felicidade dos homens que trabalhais. A segunda é o desapego das coisas da terra e o amor da santa pobreza: «Não leveis convosco nem ouro nem provisões». A terceira é a mais inteira confiança nos cuidados e na proteção da divina Providência: «O trabalhador tem direito ao seu alimento». Estas condições são ainda hoje as do sucesso. (L. Dehon, OSP 4, p. 267s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Rogai ao dono da messe
que mande trabalhadores para a sua messe" (Lc 10, 2).----
S. Cirilo, Monge e S. Metódio, Bispo, Padroeiros da Europa (14 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Quinta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 2, 18-25
O Senhor Deus disse: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele.» 19Então, o Senhor Deus, após ter formado da terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, conduziu-os até junto do homem, a fim de verificar como ele os chamaria, para que todos os seres vivos fossem conhecidos pelos nomes que o homem lhes desse. 20O homem designou com nomes todos os animais domésticos, todas as aves dos céus e todos os animais ferozes; contudo, não encontrou auxiliar semelhante a ele. 21Então, o Senhor Deus fez cair sobre o homem um sono profundo; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das suas costelas, cujo lugar preencheu de carne. 22Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem. 23Então, o homem exclamou: «Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, visto ter sido tirada do homem!» 24Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne. 25Estavam ambos nus, tanto o homem como a mulher, mas não sentiam vergonha.
O homem só, sem companhia nem ajuda, não é homem, nem pode viver como tal. A primeira ajuda vem-lhe dos animais domésticos. O homem adamita é domesticador de animais e cultivador da terra. É o tipo de homem posterior ao neolítico. O homem é superior aos animais, pois é capaz de lhes dar nomes e de lhes destinar um lugar no âmbito dos seus domínios. Mas não é no âmbito do domínio que o homem encontra a ajuda adequada, mas no diálogo com o tu semelhante, não dominado mas igual. O javista situa nesse lugar a mulher, que no caso representa todos os humanos. O sono profundo não permite ao homem assistir ao nascimento do seu semelhante. Encontrá-lo-á já diante de si, como ele, na mesma condição. Só tem que acolhê-lo, aceitá-lo.
O homem só é uma criatura incompleta. Em Gn 1, depois de ter criado o homem macho e fêmea, Deus considerou que tudo «era muito bom» (Gn 1, 31). Em Gn 2, o homem macho, só, não é bom (cf. Gn 2, 18). A solidão do homem não é boa porque ele não é Deus. Só Deus é grande. A solidão implica grandeza, auto-suficiência. O homem é pequeno, deve crescer e multiplicar-se. Deve percorrer um caminho, não pode permanecer só. Para ter uma história, precisa de um partner. A mulher é «uma auxiliar semelhante a ele» (v. 18.20). Uma tradução mais exacta diria: é um auxiliar contra ele, porque lhe resiste, se lhe opõe, rompe a sua solidão, a sua auto-suficiência. É uma ajuda porque o limita no seu desejo de omnipotência, porque o força a sair do seu isolamento. O autor do Génesis é muito realista ao falar da relação homem-mulher. Essa relação pode tornar-se conflituosa, como veremos em Gn 3, 16. Mas é abençoada porque arranca o homem, e arranca a mulher, da sua solidão. É por isso que o primeiro encontro entre um homem e uma mulher tem sempre algo de fascinante.Evangelho: Marcos 7, 24-30
Naquele tempo, Jesus partindo dali, foi para a região de Tiro e de Sídon. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse, mas não pôde passar despercebido, 25porque logo uma mulher que tinha uma filha possessa de um espírito maligno, ouvindo falar dele, veio lançar-se a seus pés. 26Era gentia, siro-fenícia de origem, e pedia-lhe que expulsasse da filha o demónio. 27Ele respondeu: «Deixa que os filhos comam primeiro, pois não está bem tomar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos.» 28Mas ela replicou: «Dizes bem, Senhor; mas até os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos.» 29Jesus disse: «Em atenção a essa palavra, vai; o demónio saiu de tua filha.» 30Ela voltou para casa e encontrou a menina recostada na cama. O demónio tinha-a deixado.
Depois de ter curado muitos doentes e discutido com os fariseus em Genesaré, Jesus prossegue a sua viagens por Tiro, Sídon e Decápole, terras pagãs. E também aí realiza milagres: a cura da filha da mulher cananeia, que escutamos hoje, e a do surdo-mudo, que escutaremos amanhã.
No diálogo com a mulher cananeia emerge a tensão entre o papel proeminente de Israel na história da salvação e o universalismo da mesma salvação. Não só os «filhos», os judeus, mas também os «cães», os pagãos, segundo a metáfora, são chamados à salvação. A única condição é escutar a Boa Nova e acolher Jesus como Senhor: «Dizes bem, Senhor...», exclama a mulher. «Em atenção a essa palavra, - diz-lhe Jesus - vai; o demónio saiu de tua filha» (v. 30). A fé da cananeia dissolveu a tensão e alcançou-lhe o milagre. A filha foi libertada do demónio.
No diálogo entre Jesus e a mulher aparecem as expressões «pão dos filhos» e «migalhas dos cachorrinhos» (v. 28). É já um anúncio do milagre da multiplicação dos pães, que Marcos narrará pouco depois (cf. Mc 8, 1-10).
Jesus também continua a rebater, com palavras e acções, o legalismo dos judeus, dando atenção ao mundo e à cultura grega. Não esqueçamos que Marcos escreve para uma comunidade cristã grega.
MeditatioAs diferenças entre o homem e a mulher sempre suscitaram diversos sentimentos que podem ir desde a irritação, por se ter necessidade de alguém diferente de nós mesmos, até à tentação de desprezar o que é diferente. O desprezo da mulher pelo homem, a misoginia, bem como o desprezo do homem pela mulher, a misantropia, são tentações tão velhas como a humanidade. No nosso tempo, assistimos a algumas tentativas, no mínimo ridículas, para disfarçar as diferenças entre homem e mulher. A Bíblia já reagiu para demonstrar que as diferenças entre o homem e a mulher têm em vista a sua complementaridade e a vocação ao amor na unidade.
O relato bíblico insiste na fundamental igualdade e na profunda unidade entre o homem e a mulher. Deus verifica que o homem precisa de um auxiliar e procura-lho. O homem tem que aceitar serenamente a ideia de não ser completo em si mesmo, de precisar de um auxiliar que lhe seja igual. Neste momento que o autor sagrado insere a criação dos animais. O homem não encontra entre eles um que lhe seja semelhante (cf. v 20). Isto quer dizer que a mulher não é um animal. É certo que em muitas civilizações ela foi, e ainda continua a ser tratada como besta de carga. Mas o relato bíblico mostra que os animais são diferentes do homem, estão a outro nível, onde o homem não encontra, nem pode encontrar, o auxiliar de que precisa. Então, Deus intervém para lhe dar a ajuda de que precisa: «Então, o Senhor Deus fez cair sobre o homem um sono profundo; e, enquanto ele dormi
a, tirou-lhe uma das suas costelas, cujo lugar preencheu de carne. Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem» (v. 21-22). É um modo imaginativo de dizer a profunda unidade entre o homem e a mulher. É esta unidade que o homem reconhece quando afirma: «Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher (em hebraico: ishsha), visto ter sido tirada do homem (em hebraico: ish)!» (v. 23). O homem reconhece que a mulher é o auxiliar de que precisava. "Precisar" é sempre, em certo sentido, ser inferior. A mulher, por sua vez, tem de reconhecer que foi feita para ajudar o homem. Esta é a perspectiva do Antigo Testamento. Com Cristo, algo mudou na relação homem-mulher. S. Paulo afirma que, em Cristo, já não há homem nem mulher, e que a igualdade se tornou muito mais fundamental. Já não há Judeu ou pagão, homem livre ou escravo. Todos são um em Cristo. A unidade em Cristo relativiza qualquer diferença. Noutro passo, o Apóstolo diz que não há homem sem mulher, nem mulher sem homem, no Senhor. A mulher não existe sem o homem. O homem nasce da mulher e tudo isso vem de Deus. Homens e mulheres havemos de estar conscientes de que, a diferença e a complementaridade são necessárias para caminharmos no amor, saindo de nós mesmos e acolhendo o outro. Podemos ser tentados a procurar alguém idêntico a nós, a procurar a nossa imagem noutro. Mas isso pode ser uma forma de narcisismo. Aceitar alguém diferente de si mesmo é sair de si, e dar passos no amor, que é sempre saída de si mesmo. Homens e mulheres, precisamos de ajuda para caminhar no amor.
Os Padres da Igreja viram no relato da criação da mulher, a partir de uma costela de Adão, o nascimento da Igreja do Lado de Cristo, morto na Cruz. As nossas Constituições fazem eco dessa perspectiva, citando um texto do Pe. Dehon: «Do Coração de Cristo, aberto na cruz, nasce o homem de coração novo, animado pelo Espírito e unido aos seus irmãos na comunidade de amor, que é a Igreja (Cst 3; cf. Études sur le Sacré-Coeur, I, p. 114)».Oratio
Senhor, Tu afirmaste, referindo-te ao homem: «Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele» (Gn 2, 18). Assim querias ensinar que nem tudo depende exclusivamente dos homens, que as mulheres não são desprezíveis e que a discriminação entre homens e mulheres, que prevalece em muitas mentes e em numerosas sociedades, não tem qualquer sentido. Quiseste evitar que o homem assumisse atitudes de presunção e de superioridade em relação à mulher por ter sido criado antes dela e por ela ter sido formada por meio dele. Quiseste mostrar que as coisas do mundo precisam da mulher não menos que do homem. Ajuda, pois, todos os homens a vencerem a auto-suficiência e o orgulho masculino, que os impedem de olhar a mulher como igual em dignidade, e como companheira e ajuda no caminho para Ti. Amen.
Contemplatio
S. Paulo teve a missão de nos explicar o sentido místico do matrimónio e a superioridade da virgindade. «O matrimónio, diz, é um grande sacramento ou um grande mistério em Cristo e na Igreja» (Ef 5, 13). O matrimónio foi elevado a esta dignidade, de representar, de figurar a união de Cristo com a Igreja, e participa nas graças que representa. O esposo é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja. Entre eles deve reinar uma união de afecto, de confiança e de respeito. A mulher honra Cristo no seu esposo. É-lhe submissa em tudo o que é segundo Deus. Honra nele o chefe e o protector da família. O esposo ama a sua esposa como Cristo ama a Igreja. Dedica-se por ela. Deve ajudá-la em tudo e sobretudo na sua santificação. O matrimónio é, portanto, a nobre imagem da união de Cristo e da Igreja. (Leão Dehon, OSP4, p. 278).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Aquele que tem uma mulher possui o primeiro dos bens,
uma ajuda condizente e uma coluna de apoio» (Sir 36, 24)»._______________
Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj
- S. Cláudio de La Colombière
S. Cláudio de La Colombière
S. Cláudio de La Colombière nasceu em Saint-Symphorien d´Ozon, França, no ano de 1641. Em 1659 ingressou na Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote em 1669, ensinou retórica e dedicou-se ao ministério da pregação. Prestou auxílio eficaz a S. Margarida Maria Alacoque na difusão do culto ao Sagrado Coração de Jesus. Enviado para Londres, como pregador da Condessa de York, sofreu calúnias, o cárcere e o exílio. Morreu em 1682, na cidade de Paray, em França, onde se pode venerar o seu túmulo. Foi canonizado por João Paulo II, em 1992.
Lectio
Primeira leitura: Efésios 3, 8-9.14-19.
A mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo 9e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas. 14É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai,15do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: 16que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, 18para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... 19a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus.
Paulo, o antigo fariseu, "hebreu descendente de hebreus, circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel" (Fl 3, 5) reconhece que a graça que lhe foi concedida foi precisamente a de fazer tábua rasa do nacionalismo judaico e dirigir-se abertamente aos gentios. Este anúncio, segundo o próprio Paulo, é um mistério, algo que estava escondido nos recônditos da transcendência e que unicamente se descobre por meio de uma gratuita revelação de Deus. Nas gerações passadas não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como agora foi revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas. Paulo considera-se o último desses santos, porque a sua integração no grupo dos responsáveis foi tardia. Mas foi-lhe "concedida a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo".
A Igreja utiliza este testo na memória de S. Cláudio de La Colombière, que recebeu a graça de conhecer e divulgar as revelações do Coração de Jesus feitas a S. Margarida Maria.Evangelho: Mateus, 11, 25-30
Naquele tempo, Jesus tomou a palavra e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos.26Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.» 28«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»
Nesta perícopa encontramos descrito o mistério da filiação de Jesus, Filho de Deus, da sua relação com o Pai, com a terminologia e profundidade peculiares do Quarto Evangelho. Até se diz que esta perícopa teria pertencido inicialmente ao evangelho segundo S. João. Ela consta de três pares: a) a ação de graças ao Pai pela revelação recebida; b) o conteúdo dessa revelação; o convite e chamamento. Os escribas e fariseus recusaram a revelação. O mistério do Reino não é acessível a toda a espécie de sabedoria humana. Só aqueles que se apresentam diante de Deus conscientes da sua pequenez, a podem receber. Jesus é o único revelador do Pai, a plenitude da revelação. Os que acolhem a revelação são chamados a tornar-se discípulos submissos e obedientes, tomando sobre si o "jugo" do Senhor, um jugo suave porque motivado e carregado por amor.
Meditatio
Cláudio de la Colombière, nascido em 1641 em S. Sinfrónio, perto de Lião, foi enviado pelo seu provincial a Paray em 1675 para ser superior da casa que os Jesuítas tinham nessa cidade. Aí conheceu a S. Margarida Maria, tornando-se seu confessor. Era precisamente o momento da grande revelação do Sagrado Coração, que data de 16 de Junho de 1675. Depois de um exame atento e prudente, o P. Cláudio de la Colombière julgou esta revelação autêntica. Adotou a devoção ao Sagrado Coração e tornou-se o seu propagador mais zeloso, depois de ter confirmado Margarida Maria e a sua superiora a Madre de Saumaise. No ano seguinte, teve de partir para Inglaterra, onde inspirou esta bela devoção em muitas almas. Banido da Inglaterra e já doente, passou por Paray, indo para Lião; aí reviu Margarida Maria, confirmou-a, fortaleceu-a; confirmou igualmente a Madre Greyfié, que tinha sucedido a Madre de Saumaise. Deus quis que viesse morrer a Paray, e que pudesse ver ainda e encorajar Margarida Maria. A sua morte aconteceu no dia 15 de Fevereiro de 1682. O próprio Nosso Senhor fez saber a Margarida Maria que tinha escolhido o P. de la Colombière para a secundar na sua missão.
Oh! Como importa ter um bom diretor! E preciso pedi-lo a Deus e escolhê-lo com cuidado. A nossa santificação e a nossa salvação estão fortemente interessadas nisso.
O Padre de la Colombière consagrou-se, ele mesmo, ao Sagrado Coração na sexta-feira 21 de Junho de 1675; era o dia seguinte à oitava do Corpo de Deus, o dia designado por Nosso Senhor para a futura festa. Começou desde então a inspirar esta devoção em todas as suas filhas espirituais em Paray. Chamado a Londres no ano seguinte, como pregador da duquesa de York, deu a conhecer e a amar o Sagrado Coração, a começar pela própria duquesa, que interveio mais tarde com outros príncipes e princesas junto do Papa Inocêncio XII, para o estabelecimento da nova devoção. Ele mesmo fala disso em alguns dos seus sermões da Quaresma. Regressado a França, continuou o seu apostolado, de uma maneira muito persuasiva, nas suas cartas de direção. Pedia aos superiores para a estabelecerem nas suas comunidades. Exercia o mesmo apostolado junto dos jovens religiosos de quem tinha, em Lião, a direção espiritual. É a ele que o Padre de Gallifet faz remontar a sua própria devoção ao Sagrado Coração. Mas seria sobretudo depois da sua morte que o Padre iria cumprir a sua missão. Partiu para o céu no dia 15 de Fevereiro de 1682. Dois anos depois, eram publicados os seus sermões em quatro volumes, e, num volume à parte, o diário dos seus retiros espirituais. Aí lia-se isto: "Reconheci que Deus queria que eu o servisse procurando o cumprimento dos seus desígnios no tocante à devoção que sugeriu a uma pessoa à qual se comunica de modo muito confidencial, e para a qual quis servir-se da minha fraqueza. Depois fazia o relato da grande aparição de 16 de Junho de 1675. Este escrito foi muito lido, porque o seu autor gozava de grande fama de santidade. Anexado ao diário dos retiros estava um belo ato de oferenda ou de oblação ao Sagrado Coração que também teve a sua parte no desenvolvimento da devoção. E eu, o que é que fiz até ao presente para propagar esta bela devoção segundo o desejo de Nosso Senhor? ". (Leão Dehon, OSP 3, p. 171s.).Oratio
Senhor, que farei, senão unir-me à oblação do Padre de la Colombière e fazê-la também? Sim, Senhor, dou-me e consagro-me ao vosso divino Coração. Ofereço-vos tudo aquilo de que posso dispor, e proponho unir-me a vós frequentemente durante o dia (Leão Dehon, OSP 3, p. 173).
Contemplatio
O belo ato do Padre de la Colombière caracteriza admiravelmente a devoção ao Coração de Jesus. Começa por dizer qual o seu fim: «Esta oferenda, diz, faz-se para honrar este divino Coração, a sede de todas as virtudes, a fonte de todas as bênçãos e o retiro de todas as almas santas». «Por todas as suas bondades, diz, este divino Coração não encontra no coração dos homens senão dúvida, esquecimento, desprezo, ingratidão». O santo religioso formula então a sua oferenda: «Para reparação de tantos ultrajes e de tão cruéis ingratidões, ó muito adorável Coração do meu amável Jesus, e para evitar cair numa semelhante infelicidade, ofereço-vos o meu coração com todos os movimentos de que é capaz, e dou-me inteiramente a vós... Ofereço ao vosso divino Coração todo o mérito, toda a satisfação de todas as minhas missas, de todas as orações, de todos os atos de mortificação, de todas as práticas religiosas, de todos os atos de zelo, de humildade, de obediência e de todas as outras virtudes que praticar até ao último momento da minha vida. Não só tudo isto será para honrar o Coração de Jesus, mas ainda lhe peço que aceite a doação inteira que lhe faço, de dela dispor do modo que lhe agradar e em favor de quem lhe agradar». Este belo ato contribuiu muito para determinar e para propagar a verdadeira devoção ao Sagrado Coração. (Leão Dehon, OSP 3, p. 142s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a Palavra do Senhor:
«Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 25, 30).----
S. Cláudio de La Colombière (15 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Sexta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - IV Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 13, 1-8
Irmãos: Permanecei na caridade fraterna. 2Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos. 3Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos que são maltratados, porque também vós tendes um corpo. 4Seja o matrimónio honrado por todos e imaculado o leito conjugal, pois Deus julgará os impuros e os adúlteros. 5Vivei sem avareza, contentando-vos com o que possuís, porque o próprio Deus disse: Não te deixarei nem te abandonarei. 6Assim, podemos dizer confiadamente:O Senhor é o meu auxílio; não temerei; que poderá fazer-me um homem? 7Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a palavra de Deus; observai o êxito da sua conduta e imitai a sua fé. 8Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos.
Estamos a chegar ao fim da Carta aos Hebreus. O seu autor dá orientações concretas para a vida dos cristãos: perseverança no amor fraterno, hospitalidade, ajuda aos presos e a outros que estão em situação de sofrimento. Todos formam connosco um só corpo. Depois, trata da santidade com que o matrimónio há-de ser vivido. Ele é, de facto, um caminho de santidade. Prossegue alertando para a tentação de nos deixarmos envolver pela avareza. Jesus é a nossa verdadeira riqueza. O Pai sabe do que precisamos.
Finalmente, há que recordar aqueles que nos pregaram o Evangelho e a heroicidade do seu testemunho. A fé em Jesus morto e ressuscitado por nós muda a nossa vida e as relações, dando plenitude à história humana: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos» (v. 8).Evangelho: Mc 6, 14-29
Naquele tempo, o rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: «Este é João Baptista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres»; 15outros diziam: «É Elias»; outros afirmavam: «É um profeta como um dos outros profetas.» 16Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: «É João, a quem eu degolei, que ressuscitou.» 17Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. 18Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» 19Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, 20porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. 21Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. 22Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» 23E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino.» 24Ela saiu e perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» 25Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» 26O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. 27Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; 28depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. 29Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro.
Flávio José diz-nos que Herodes Antipas, temendo possíveis desordens políticas desencadeadas pelo movimento de João Baptista, prendeu o profeta em Maqueronte, onde o mandou executar. O relato de Marcos, mais subjectivo, e menos exacto, levou a ver João Baptista apenas como vítima da vingança de uma mulher irritada.
O segundo evangelho apresenta-nos Herodes que, atormentado pelos remorsos, julga reconhecer em Jesus o profeta que mandara matar (v. 16). E assim começa a narrativa do martírio de João, mais longa que a de Mateus ou a de Lucas: prisão, acusação, denúncia corajosa do rei pelo profeta (vv. 18-20), trama de Herodíades que usa Salomé, fraqueza de Herodes, sentença de morte e execução da mesma (vv. 26-28). Mas o remorso persegue o rei. O relato termina com um toque de piedade: o corpo do profeta é entregue aos discípulos que lhe dão sepultura (v. 29).
Esta narrativa popular realça a atitude ridícula de Herodes, por um lado, escravo das suas paixões, e, por outro, interessado na figura austera de João Baptista. Para Marcos, o martírio de João, e a liquidação do seu movimento, indica que a comunidade cristã, criada por Jesus, era completamente nova, ainda que conservasse a memória veneranda do maior de todos os profetas.Meditatio
Quase a concluir a Carta aos Hebreus, o seu autor exorta aqueles a quem se dirige a viverem na caridade, na castidade, na pobreza e na obediência. É o ideal de uma vida realmente cristã, a que todos os baptizados são chamados. Os religiosos apenas radicalizam a vivência desse ideal.
Em primeiro lugar, a caridade: «Permanecei na caridade fraterna» (v. 1). E o nosso autor concretiza: «Não vos esqueçais da hospitalidade» (v. 2), «lembrai-vos dos presos» (v. 3). A caridade é expressão do amor divino recebido e comunicado, um amor generosos, participativo, constante.
A castidade: «Seja o matrimónio honrado por todos e imaculado o leito conjugal, pois Deus julgará os impuros e os adúlteros» (v. 5). O autor fala da castidade dos casados. A castidade dos casados estimula a dos religiosos. Mas a castidade dos religiosos, por sua vez, é sinal, ajuda, força para os outros.
A pobreza: «Vivei sem avareza, contentando-vos com o que possuís» (v. 5). O espírito de pobreza, próprio de todos os cristãos, e a pobreza dos religiosos, vivida coerentemente, manifestam a nossa confiança em Deus: «Assim, podemos dizer confiadamente:O Senhor é o meu auxílio; não temerei...» (v. 6).
A obediência: «Recordai-vos dos vossos guias» (v. 7), dos vossos chefes. Mas adiante lê-se: «Sede submissos e obedecei aos que vos guiam... que eles o façam com alegria e não com gemidos, o que não seria vantajoso para vós» (v. 17).
Na caridade, na castidade, na pobreza e na obediência, vividas segundo a graça e a vocação de cada um, todos os discípulos de Cristo hão-de tornar-se dom total a Deus e aos irmãos, tal como Jesus. De qualquer modo, cada um de nós é chamado a morrer a si mesmo, ao homem velho, ao egoísmo e ao orgulho que nos impede de viver com a disposição e a atitude de João Baptista que dizia: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir» (Jo 3, 30). Porque Jesus é sempre o mesmo ontem, hoje e sempre, quanto mais nos perdermos n&a
cute;Ele, que é o Amor, mais saborearemos a verdadeira vida.Oratio
Senhor, dá-nos a graça de viver em plenitude o belo ideal de vida cristã que hoje nos apresentas, e de ajudar aqueles que se aproximam de nós a vivê-lo também, com alegria e coragem. Que todos vivamos Contigo e em Ti, entregues ao projecto de salvação que o Pai concebeu para reconduzir todos os homens à verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Que nada anteponhamos ao teu amor. Sê a nossa vida, a nossa santificação e nossa alegria inefável. Que, a exemplo dos Santos, tudo saibamos oferecer por amor da tua glória e bem dos irmãos. Amen.
Contemplatio
A caridade é o dom dos dons. - A caridade é como o único fruto do Espírito Santo. S. Paulo diz aos Gálatas: «O fruto do Espírito é a caridade, a paz, a alegria, etc.». Enumerando os doze frutos, reúne-os num só, porque não diz «os frutos do Espírito Santo são...», mas: «O fruto do Espírito Santo é a caridade, etc.». Ora eis o mistério deste modo de falar: «A caridade de Deus foi espalhada nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5). A caridade é como o fruto único, que tem uma infinidade de excelentes propriedades, que podem enumerar-se em seguida. S. Paulo não quer, portanto, dizer outra coisa senão que o fruto do Espírito Santo é a caridade, a qual é alegre, pacífica, paciente, benigna, boa, longânime, doce, fiel, modesta, continente, casta; isto é, que o divino amor nos dá uma alegria interior com uma grande paz do coração, que se conserva no meio das adversidades pela paciência, e que nos torna graciosos e benignos em socorrer o próximo por uma bondade cordial para com ele, bondade que não é variável e inconstante, mas longânime e sempre leal, e que é acompanhada de simplicidade, de modéstia, de uma continência oposta a todos os excessos e de uma cuidadosa castidade. Não é o mesmo dom de caridade, tão fecundo em frutos, que S. Paulo exalta ainda quando diz aos Coríntios (1Cor 13): «A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, malévola, orgulhosa, egoísta, irascível, isto é, ainda que é pacífica, doce, paciente e boa». Sim, ela é bem o fruto por excelência do Espírito Santo. (Leão Dehon, OSP 3, p. 571s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Permanecei na caridade fraterna» (Heb 13, 1). - Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Sábado
Tempo Comum - Anos Ímpares - V Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: Génesis 3, 9-24
O Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: «Onde estás?» 10Ele respondeu: «Ouvi a tua voz no jardim e, cheio de medo, escondi-me porque estou nu.» 11O Senhor Deus perguntou: «Quem te disse que estás nu? Comeste, porventura, da árvore da qual te proibi comer?» 12O homem respondeu: «Foi a mulher que trouxeste para junto de mim que me ofereceu da árvore e eu comi.» 13O Senhor Deus perguntou à mulher: «Por que fizeste isso?» A mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi.» 14Então, o Senhor Deus disse à serpente: «Por teres feito isto, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre os animais selvagens. Rastejarás sobre o teu ventre, alimentar-te-ás de terra todos os dias da tua vida. 15Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar.» 16Depois, disse à mulher: «Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez, entre dores darás à luz os filhos. Procurarás apaixonadamente o teu marido, mas ele te dominará.» 17A seguir, disse ao homem: «Porque atendeste à voz da tua mulher e comeste o fruto da árvore, a respeito da qual Eu te tinha ordenado: 'Não comas dela', maldita seja a terra por tua causa. E dela só arrancarás alimento à custa de penoso trabalho, todos os dias da tua vida. 18Produzir-te-á espinhos e abrolhos, e comerás a erva dos campos. 19Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás.» 20Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela seria mãe de todos os viventes. 21O Senhor Deus fez a Adão e à sua mulher túnicas de peles e vestiu-os. 22O Senhor Deus disse: «Eis que o homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós. Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.» 23O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, a fim de cultivar a terra, da qual fora tirado. 24Depois de ter expulsado o homem, colocou, a oriente do jardim do Éden, os querubins com a espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da Vida.
O Senhor Deus deu esta ordem ao homem: «Não comas o da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás.» (v. 17). Não se trata de uma ameaça de Deus, mas de um aviso: fica a saber que, se fizeres isso, te acontecerá isto e aquilo. Deus revela um nexo de causa e efeito: o pecado produz a morte (cf. Gn 1, 15).
Mas a mulher, quando refere à serpente a palavra de Deus, introduz algumas ligeiras alterações que a mudam: «Deus disse: 'Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis´.» Nestas palavras pressente-se a ameaça de um castigo. Por isso é que a mulher nem sequer ousa tocar na árvore.
É significativo que também nós, hoje, chamemos "interrogatório" ao diálogo entre Deus e o homem, como se se tratasse de um acto judicial. Na realidade, trata-se de um puro acto de misericórdia. Deus procura o homem - «onde estás?» - para lhe dizer que não o abandona, apesar do pecado. Não se trata de perguntas intimidatórias, mas pedagógicas. Deus dirige-se a Adão e Eva como se não soubesse de nada, para os ajudar a tomar consciência do seu pecado. As consequências do pecado são temperadas pela misericórdia. O homem não morre, como estava previsto. A sua vida terrena será penosa, como continuamos a verificar em nós mesmos, mas não é posta sob o signo do castigo e da maldição. A serpente é amaldiçoada. O homem e a mulher, não.Evangelho: Marcos 8, 1-10
Naqueles dias, havia outra vez uma grande multidão e não tinham que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: 2«Tenho compaixão desta multidão. Há já três dias que permanecem junto de mim e não têm que comer. 3Se os mandar embora em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho, e alguns vieram de longe.» 4Os discípulos responderam-lhe: «Como poderá alguém saciá-los de pão, aqui no deserto?» 5Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes?» Disseram: «Sete.» 6Ordenou que a multidão se sentasse no chão e, tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e dava-os aos seus discípulos para eles os distribuírem à multidão. 7Havia também alguns peixinhos. Jesus abençoou-os e mandou que os distribuíssem igualmente. 8Comeram até ficarem satisfeitos, e houve sete cestos de sobras. 9Ora, eram cerca de quatro mil. Despediu-os 10e, subindo logo para o barco com os discípulos, foi para os lados de Dalmanuta.
A crítica interroga-se se esta multiplicação dos pães é, de facto, um novo milagre ou se é uma segunda versão do que foi narrado em Mc 6, 34-44. Mas, mais importante que saber se se trata de um ou de dois prodígios diferentes, é conhecer as intenções querigmáticas do evangelista.
Toda esta secção parece orientada para realçar a finalidade da evangelização, incluindo o seu aspecto taumatúrgico, a saber: libertar o homem da alienação e de tudo o que ameaça a sua existência, não só no limite extremo entre a vida e a morte, mas também na sua acção de cada dia. Nos dois relatos facilmente se pode ver uma alusão à refeição eucarística, tal como era celebrada pela comunidade judeo-helenista de Cesareia, em cujo seio nasceu o evangelho de Marcos. O evangelista parece querer realçar a multiplicação dos pães como prefiguração da eucaristia cristã e das suas implicações a favor dos pagãos. De facto, anota: «alguns vieram de longe» (v. 3b). Além disso, a compaixão de Jesus é suscitada pela miséria física daquela gente que andava com Ele havia três dias. É este sentimento de compaixão que provoca o milagre. É esse mesmo sentimento que há-de levar à partilha na comunidade, em favor dos carenciados.Meditatio
«Arrancarás alimento à custa de penoso trabalho», lemos na primeira leitura (v. 17). O evangelho, ao referir a milagrosa multiplicação dos pães, parece contradizer a palavra de Deus aos nossos primeiros pais. Que significa este contraste entre a primeira leitura e o evangelho? Significa que Jesus vai reparar completamente os pecados do homem, dando-lhe acesso à verdadeira prosperidade.
O relato do Génesis mostra-nos as consequências do pecado. O pecado separa-nos de Deus. Mas também dos nossos semelhantes: «Foi a mulher que trouxeste para junto de mim que me ofereceu da árvore e eu comi» (v. 12). Adão acusa a Deus e acusa a mulher! A mulher, por sua vez, também atira a culpa para a serpente: «A serpente enganou-me e eu comi» (v. 12).
O comportamento de Adão e de Eva é infantil. Não assumem as próprias responsabilidades e procuram atribuí-las a outros. Se pensarmos bem, também nós, por vezes, fazemos esse triste papel, criando separações entre nós. O sofrimento vivido na vontade de Deus une; a alegria vivida fora da vontade de Deus separa. A unidade e a comunhão encontram-se na vontade de Deus ou, se preferirmos, no amor de Deus manifestado na sua vontade, que acolhemos e realizamos.
Mas a primeira leitura, além de situações deploráveis, também contém promessas. Logo que o homem pecou, Deus concebeu um projecto para reparar o pecado do homem e restabelecê-lo na comunhão Consigo e com os outros homens: «Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça », diz Deus à serpente (v. 15). Esta promessa realizou-se na história de Maria, Mãe de Jesus, e na história do próprio Jesus. Segundo a Bíblia hebraica, é a «descendência» da mulher que esmaga a cabeça da serpente; na Vulgata é a própria mulher que esmaga essa cabeça. As duas afirmações estão correctas. No Calvário, Maria foi solidária com Cristo na obra da nossa redenção, e foi solidária connosco, porque não se separou dos pecadores. Aceitou o sofrimento de Cristo, e uniu-se a ele, para redenção dos pecadores. Ofereceu-se com Cristo para glória de Deus e salvação dos homens.Oratio
Senhor, ensina-nos que não podemos viver pelo nosso conhecimento, mas somente pela tua misericórdia. No jardim do Paraíso, o homem e a mulher podem comer de todas as árvores: tudo é dom! Duma só árvore não podem comer. Mas a dinâmica do pecado faz-lhes pensar que o secundário é principal, e que, faltando uma árvore, faltavam todas. Esquecem a tua misericórdia por causa de algo que, eles próprios, queriam alcançar. Mas, só Tu, podes saciar a nossa fome, também aquela que nem ousamos confessar. Sacias-nos abundantemente, gratuitamente, como sinal do teu amor. Que saibamos aceitar e comer agradecidos o alimento que nos dás. Amen.
Contemplatio
O reino dos céus, diz Nosso Senhor (Mt 13), é semelhante a uma pedra preciosa que um negociante descobre. Vende tudo o que tem para a conseguir. Nós temos no tabernáculo o Rei dos reis. Está à nossa disposição com o seu reino que é a sua graça sobre a terra aguardando a sua glória no céu. Não deveríamos deixar tudo e tudo sacrificar por este reino? Infelizmente deixei muitas vezes a Eucaristia e o Coração de Jesus pelas criaturas, como o povo de Israel que sacrificava o serviço de Deus por um bocado de pão (Ez 13, 19). Mas a pedra preciosa não está longe. Ainda é tempo. Posso encontrá-la e comprá-la, se faço os sacrifícios necessários. A Eucaristia está lá, o Coração de Jesus está lá no tabernáculo. Mas Nosso Senhor fixa-me um preço de resgate, é o tal sacrifício que é preciso fazer, é o tal apego que é preciso romper. Conheço este preço pelo meu exame particular, conheço-o pelas minhas confissões habituais. Sei o que é preciso sacrificar, mas a coragem falta-me. Senhor, ajudai-me, peço-vos pela bondade do vosso coração e pela intercessão de Maria. Eis a árvore da vida, continuarei a abandoná-la para correr ao fruto proibido? Eis a fonte de vida, irei ainda beber ao riacho envenenado? Eis a jóia de um preço infinito, vou desdenhá-la /633 por um prazer sensual? Não, quero hoje voltar às minhas resoluções salutares. Hei-de ir buscar a minha força junto do sacrário. (Leão Dehon, OSP3, p. 632s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela» (Gn 3, 15).__________________
Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj
- 06º Domingo do Tempo Comum – Ano C
06º Domingo do Tempo Comum – Ano C
ANO C
6.º DOMINGO DO TEMPO COMUMTema do 6º Domingo do Tempo Comum
A Palavra de Deus que nos é proposta neste domingo leva-nos a refletir sobre o protagonismo que Deus e as suas propostas têm na nossa existência.
A primeira leitura põe frente a frente a autossuficiência daqueles que prescindem de Deus e escolhem viver à margem das suas propostas, com a atitude dos que escolhem confiar em Deus e entregar-se nas suas mãos. O profeta Jeremias avisa que prescindir de Deus é percorrer um caminho de morte e renunciar à felicidade e à vida plenas.
O Evangelho proclama “felizes” esses que constroem a sua vida à luz dos valores propostos por Deus e infelizes os que preferem o egoísmo, o orgulho e a autossuficiência. Sugere que os preferidos de Deus são os que vivem na simplicidade, na humildade e na debilidade, mesmo que, à luz dos critérios do mundo, eles sejam desgraçados, marginais, incapazes de fazer ouvir a sua voz diante do trono dos poderosos que presidem aos destinos do mundo.
A segunda leitura, falando da nossa ressurreição – consequência da ressurreição de Cristo –, sugere que a nossa vida não pode ser lida exclusivamente à luz dos critérios deste mundo: ela atinge o seu sentido pleno e total quando, pela ressurreição, desabrocharmos para o Homem Novo. Ora, isso só acontecerá se não nos conformarmos com a lógica deste mundo, mas apontarmos a nossa existência para Deus e para a vida plena que Ele tem para nós.LEITURA I – Jer 17, 5-8
Leitura do Livro de Jeremias
Eis o que diz o Senhor:
«Maldito quem confia no homem
e põe na carne toda a sua esperança,
afastando o seu coração do Senhor.
Será como o cardo na estepe
que nem percebe quando chega a felicidade:
habitará na aridez do deserto,
terra salobre, onde ninguém habita.
Bendito quem confia no Senhor
e põe no Senhor a sua esperança.
É como a árvore plantada à beira da água,
que estende as suas raízes para a corrente:
nada tem a temer quando vem o calor
e a sua folhagem mantém-se sempre verde;
em ano de estiagem não se inquieta
e não deixa de produzir os seus frutos».AMBIENTE
Os versículos que formam esta leitura fazem parte de um bloco de frases de Jeremias (cf. Jer 17, 5-13), apresentadas ao estilo das máximas sapienciais. Aí o profeta, recorrendo a antíteses, vai desenvolvendo o tema da confiança/esperança.
Estas palavras de Jeremias não nos dão elementos suficientes para as situarmos, inequivocamente, num contexto histórico. No entanto, é possível que o profeta as tenha pronunciado no reinado de Joaquim (609-597 a.C.): é uma época em que o rei desenvolve uma política aventureirística de alianças com potências estrangeiras e confia a segurança da nação, não a Jahwéh, mas aos exércitos egípcios, aliados de Joaquim. O profeta ataca essa política, considerando-a um grave sintoma de infidelidade ao Deus da aliança: Judá já não coloca a sua confiança e esperança em Deus, mas sim nos homens.MENSAGEM
O tema fundamental é, portanto, o da confiança/esperança. A primeira parte da antítese (vers. 5-6) denuncia o homem que se apoia noutro homem e prescinde de Deus. Não se trata de dizer que não devemos confiar nos que nos rodeiam e apoiar-nos neles; trata-se de denunciar essa autossuficiência de uma humanidade que já não precisa de Deus, nem vê n’Ele essa rocha segura que tudo sustenta. Prescindir de Deus e não contar com Ele significa construir uma existência limitada, efémera, raquítica, a que falta o essencial, como um arbusto plantado no deserto, condenado precocemente à morte.
A segunda parte da antítese (vers. 7-8) apresenta, em imagem, a vida daquele que confia em Deus e n’Ele coloca a sua esperança: é como um arbusto plantado à beira da água, que pode mergulhar as suas raízes bem fundas e que encontra vida em plenitude. A imagem sublinha, sobretudo, a segurança, a solidez, a paz, a fecundidade, a abundância de vida.
A oposição entre deserto e várzea pode aludir à oposição entre deserto e Terra Prometida: se Israel confiasse unicamente em Deus, lançaria as suas raízes de forma permanente na Terra Prometida e não experimentaria a aventura do exílio.ATUALIZAÇÃO
Na reflexão e na aplicação à vida, ter em conta os seguintes elementos:
• Todos conhecemos a desilusão e a frustração que resultam da confiança traída. É uma experiência bem dolorosa confiar/esperar e receber traição/ingratidão. Em certos momentos extremos, parece que tudo se desmorona à nossa volta e que perdemos a vontade de continuar a construir a nossa vida. A leitura de hoje põe-nos de sobreaviso: tudo o que é humano é efémero, limitado, finito; só em Deus encontramos o rochedo seguro que não falha e que não nos dececiona.
• O nosso mundo conhece espantosas construções no domínio da arte e da técnica… Abismamo-nos com os progressos da medicina, com os avanços tecnológicos, com a parafernália imensa de instrumentos que nos facilitam a vida e nos permitem alcançar fronteiras nunca antes sonhadas, seja no domínio da conquista espacial, seja no domínio das novas técnicas de manipulação da vida…. No entanto, o que fizemos de Deus? Ele continua a ser a nossa indicação fundamental? É n’Ele que colocamos a nossa esperança? As conquistas da vida moderna, por mais impressionantes que nos possam parecer, são algo de efémero, de árido, de vazio e, às vezes, de monstruoso, se prescindimos dessa dimensão fundamental que é Deus.
• Quais são as referências fundamentais à volta das quais se constrói a nossa vida? Onde está a nossa segurança e a nossa esperança? Na conta que temos no banco? Nos amigos influentes? Na importância da nossa posição social ou profissional? Nas conquistas científicas ou técnicas? Ou nesse Deus que se compromete connosco e encontra mil formas de demonstrar, dia a dia, a sua fidelidade?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 1
Refrão: Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
mas antes se compraz na lei do Senhor,
e nela medita dia e noite.É como árvore plantada à beira das águas:
dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha.
Tudo quanto fizer será bem sucedido.Bem diferente é a sorte dos ímpios:
são como palha que o vento leva.
O Senhor vela pelo caminho dos justos,
mas o caminho dos pecadores leva à perdição.LEITURA II – 1 Cor 15, 12.16-20
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos,
porque dizem alguns no meio de vós
que não há ressurreição dos mortos?
Se os mortos não ressuscitam,
também Cristo não ressuscitou.
E se Cristo não ressuscitou,
é vã a vossa fé, ainda estais nos vossos pecados;
e assim, os que morreram em Cristo pereceram também.
Se é só para a vida presente
que temos posta em Cristo a nossa esperança,
somos os mais miseráveis de todos os homens.
Mas não.
Cristo ressuscitou dos mortos,
como primícias dos que morreram.AMBIENTE
Este texto é a continuação da catequese sobre a ressurreição que Paulo apresenta na Primeira Carta aos Coríntios e que já começámos a ler no passado domingo. Depois de ter afirmado a ressurreição de Cristo (cf. 1 Cor 15, 1-11), Paulo afirma a realidade da nossa própria ressurreição. É preciso recordar, neste contexto, aquilo que dissemos na passada semana: a ressurreição dos mortos, em geral, constituía um sério problema para a mentalidade grega, habituada a ver no corpo uma realidade negativa, que aprisionava a alma no mundo material; sendo assim, o corpo – realidade carnal, sensual – não podia seguir a alma nessa busca da vida plena, da vida divina. Havendo no homem uma realidade negativa, que não podia ascender à vida plena, como admitir a ressurreição do homem integral?
É a esta questão que Paulo vai continuar a responder na leitura que nos é proposta.MENSAGEM
Para Paulo, uma vez admitida a ressurreição de Cristo, a ressurreição dos crentes impõe-se como algo perfeitamente evidente. A fé em Cristo ressuscitado desemboca inexoravelmente na inquebrantável esperança de que também os cristãos ressuscitarão. O inverso também é verdadeiro: não esperar a ressurreição dos mortos equivale a não acreditar na ressurreição de Cristo. Não é possível desvincular uma coisa da outra.
Paulo passa, então, a enumerar as consequências fatais que adviriam, para a vida cristã, se Cristo não tivesse ressuscitado: a vivência da fé e a aceitação das propostas de Jesus não teriam qualquer sentido e os cristãos seriam gente enganada, “os mais miseráveis de todos os homens” (vers. 19). Mas Paulo tem a certeza de que os cristãos não são um rebanho de gente iludida… A partir da ressurreição de Cristo, podemos acreditar nessa vida plena que Deus reserva para todos os que O amam. É essa perspetiva que dá sentido à caminhada que o cristão faz neste mundo.
Chegados aqui, Paulo detém-se para lançar um grito jubiloso de fé e de esperança: “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram” (vers. 20). Jesus ressuscitou não como o único, como um caso excecional, mas como o primeiro de uma longa cadeia da qual fazemos parte. Este “primeiro” não deve ser entendido em sentido cronológico, mas no sentido de que Cristo é o princípio ativo da nossa ressurreição, o princípio que gera essa nova humanidade sobre a qual as forças da morte não têm qualquer poder. Ele arrasta atrás de Si a humanidade solidária com Ele, até à realização plena, à vida definitiva, à salvação total.ATUALIZAÇÃO
Considerar, para a reflexão, as seguintes linhas:
• A certeza da ressurreição garante-nos que Deus tem um projeto de salvação e de vida para cada homem; e que esse projeto está a realizar-se continuamente em nós, até à sua concretização plena, quando nos encontrarmos definitivamente com Deus.
• A nossa vida presente não é, pois, um drama absurdo, sem sentido e sem finalidade; é uma caminhada tranquila, confiante – ainda quando feita no sofrimento e na dor – em direção a esse desabrochar pleno, a essa vida total em que se revelará o Homem Novo.
• Isso não quer dizer que devamos ignorar as coisas boas deste mundo, vivendo apenas à espera da recompensa futura, no céu; quer dizer que a nossa existência deve ser – já neste mundo – uma busca da vida e da felicidade; isso implicará uma não conformação com tudo aquilo que nos rouba a vida e que nos impede de alcançar a felicidade plena, a perfeição última (a nós e a todos os homens nossos irmãos).
• Não é possível viver com medo, depois desta descoberta: podemos comprometer-nos na luta pela justiça e pela paz, com a certeza de que a injustiça e a opressão não podem pôr fim à vida que nos anima; e é na medida em que nos comprometemos com esse mundo novo e o construímos com gestos concretos que estamos a anunciar a ressurreição plena do mundo, dos homens e das coisas.
ALELUIA – Lc 6, 23ab
Aleluia. Aleluia.
Alegrai-vos e exultai, diz o Senhor,
porque é grande no Céu a vossa recompensa.EVANGELHO – Lc 6, 17.20-26
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
Jesus desceu do monte, na companhia dos Apóstolos,
e deteve-Se num sítio plano,
com numerosos discípulos e uma grande multidão
de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sidónia.
Erguendo então os olhos para os discípulos, disse:
Bem-aventurados vós, os pobres,
porque é vosso o reino de Deus.
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome,
porque sereis saciados.
Bem-aventurados vós, que agora chorais,
porque haveis de rir.
Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem,
quando vos rejeitarem e insultarem
e prescreverem o vosso nome como infame,
por causa do Filho do homem.
Alegrai-vos e exultai nesse dia,
porque é grande no Céu a vossa recompensa.
Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.
Mas ai de vós, os ricos,
porque já recebestes a vossa consolação.
Ai de vós, que agora estais saciados,
porque haveis de ter fome.
Ai de vós, que rides agora,
porque haveis de entristecer-vos e chorar.
Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem.
Era assim que os seus antepassados
tratavam os falsos profetas.AMBIENTE
Para entendermos todo o alcance e significado deste texto, devemos recordar que ele está situado na primeira parte do Evangelho de Lucas (“atividade de Jesus na Galileia”, Lc 4, 14 – 9, 50). Nesta primeira parte do Evangelho, Lucas procura apresentar um primeiro anúncio sobre Jesus (“kerigma”) e definir o programa libertador que o Messias vai cumprir em favor dos oprimidos. Aliás, toda a primeira parte do terceiro Evangelho é dominada pelo episódio da sinagoga de Nazaré, onde Jesus enuncia o seu programa: “o Espírito do Senhor está sobre Mim porque Me ungiu, para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-Me a proclamar a libertação aos cativos…” (Lc 4, 18-19).
As bem-aventuranças de Lucas inserem-se em todo este ambiente: a libertação chegou com Jesus e dirige-se aos pobres e aos débeis. Numa planície (Mateus situa o discurso das bem-aventuranças numa montanha), rodeado dos discípulos e por uma multidão “que acorrera para O ouvir e ser curada dos seus males” (Lc 6, 18), Jesus pronuncia o discurso que o Evangelho de hoje nos propõe.MENSAGEM
Lucas inicia este “discurso da planície” com quatro bem-aventuranças (que equivalem às nove de Mateus). Os destinatários destas bem-aventuranças são os pobres, os que têm fome, os que choram, os que são perseguidos. A palavra grega usada por Lucas para “pobres” (ptôchos) traduz certos termos hebraicos (‘anawim, dallim, ebionim) que, no Antigo Testamento, definem uma classe de pessoas privadas de bens e à mercê da prepotência e da violência dos ricos e dos poderosos. São os desprotegidos, os explorados, os pequenos e sem voz, as vítimas da injustiça, que com frequência são privados dos seus direitos e da sua dignidade pela arbitrariedade dos poderosos. Por isso, eles têm fome, choram, são perseguidos. Ora, serão eles, precisamente, os primeiros destinatários da salvação de Deus. Porquê? Porque a proposta libertadora de Deus é para uma classe social, em exclusivo? Não. Mas porque eles estão numa situação intolerável de debilidade e Deus, na sua bondade, quer derramar sobre eles a sua bondade, a sua misericórdia, a sua salvação. Depois, a salvação de Deus dirige-se prioritariamente a estes porque eles, na sua simplicidade, humildade, disponibilidade e despojamento, estão mais abertos para acolher a proposta que Deus lhes faz em Jesus.
As bem-aventuranças manifestam, numa outra linguagem, o que Jesus já havia dito no início da sua atividade na sinagoga de Nazaré: Ele é enviado pelo Pai ao mundo, com a missão de libertar os oprimidos. Aos pequenos, aos privados de direitos e de dignidade, aos simples e humildes, Jesus diz que Deus os ama de uma forma especial e que quer oferecer-lhes a vida e a liberdade plenas. Por isso eles são “bem-aventurados”.
As “maldições” (ou os quatro “ais”) aos ricos que preenchem a segunda parte do Evangelho de hoje são o reverso da medalha. Denunciam a lógica dos opressores, dos instalados, dos poderosos, dos que pisam os outros, dos que têm o coração cheio de orgulho e de autossuficiência e não estão disponíveis para acolher a novidade revolucionária do “Reino”. As advertências aos ricos não significam que Deus não tenha para eles a mesma proposta de salvação que apresenta aos pobres e débeis; mas significam que, se eles persistirem numa lógica de egoísmo, de prepotência, de injustiça, de autossuficiência, não têm lugar nesse “Reino” que Jesus veio propor.ATUALIZAÇÃO
Refletir sobre as seguintes questões:
• A proposta de Jesus apresenta uma nova compreensão da existência, bem distinta da que predomina no nosso mundo. A lógica do mundo proclama “felizes” os que têm dinheiro, mesmo quando esse dinheiro resulta da exploração dos mais pobres, os que têm poder, mesmo que esse poder seja exercido com prepotência e arbitrariedade, os que têm influência, mesmo quando essa influência é obtida à custa da corrupção e dos meios ilícitos. Mas a lógica de Deus exalta os pobres, os desfavorecidos, os débeis: é a esses que Deus Se dirige com uma proposta libertadora e a quem convida a fazer parte da sua família. O anúncio libertador que Jesus traz é, portanto, uma Boa Nova que enche de alegria os corações amargurados, os marginalizados, os oprimidos. Com o “Reino” que Jesus propõe aos homens, anuncia-se um mundo novo, um mundo de irmãos, de onde a prepotência, o egoísmo, a exploração e a miséria serão definitivamente banidos e onde os pobres e marginalizados terão lugar como filhos iguais e amados de Deus.
• Vinte e um séculos depois do nascimento de Jesus, que é feito da sua proposta? Ela mudou alguma coisa no nosso mundo? Às vezes, contemplando o mundo que nos rodeia, somos tentados a crer que a proposta de Jesus falhou; mas talvez seja mais correto colocar a questão nestes termos: nós, testemunhas de Jesus, teremos conseguido passar aos pobres e aos marginalizados esse projeto libertador? Teremos, com suficiente convicção e radicalidade, testemunhado esse projeto, de forma que ele tivesse um impacto real na história dos homens?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 6.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(algumas adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 6.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. PÔR EM DESTAQUE O EVANGELIÁRIO E CONCRETIZAR A ORAÇÃO UNIVERSAL.
Neste domingo em que começa a leitura do “sermão na planície”, pode-se valorizar o Evangeliário, levando-o à frente da procissão no início da celebração ou colocando-o no centro do altar, e rodeando-o com quatro velas ou lamparinas (em referência às quatro bem-aventuranças de Lucas). As “atividades caritativas” são iniciativas que pretendem levar a felicidade aos deserdados e aos marginalizados. Fazer um inventário das atividades caritativas na comunidade pode levar, neste domingo, a que a oração universal esteja mais enraizada nas realidades do terreno.3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.No final da primeira leitura:
“Senhor, Tu és a nossa esperança, em Ti pomos a nossa confiança, bendito sejas. O teu Espírito é como a água que torna verdejante a erva e faz crescer a árvore, ele nos irriga com a tua vida e nos faz produzir os frutos que Tu esperas.
Nós Te confiamos os nossos irmãos e irmãs cuja fé secou. Não permitas que os nossos corações se afastem de Ti”.No final da segunda leitura:
“Deus de vida, nós proclamamos que Jesus Cristo, teu Filho, ressuscitou de entre os mortos, para ser entre os mortos o primeiro ressuscitado; nós Te damos graças pela firme esperança que nos dás, de ressuscitar contigo.
Nós Te confiamos todos os nossos irmãos que duvidam da vida e ignoram ainda a luz da ressurreição em Jesus”.No final do Evangelho:
“Pai dos pobres, Deus de misericórdia, bendito sejas pela esperança que revelas aos pobres, aos pequenos e a todos os feridos da vida, aqueles que a sociedade despreza e negligencia. Tu ofereces-lhes a felicidade do teu Reino.
Tantos companheiros à nossa volta andam à procura da felicidade e não sabemos como os ajudar. Ilumina-os com o teu Espírito”.4. BILHETE DE EVANGELHO.
A felicidade de que fala Jesus está inscrita nos rostos dos seus discípulos. É, de facto, olhando-os que Ele os declara “felizes”. Duas bem-aventuranças estão no presente. Os discípulos são já felizes, porque são pobres: deixaram tudo, barco, família, para inaugurar com Jesus o seu Reino e pregar a sua carta. São felizes porque são já cidadãos deste Reino. São já felizes porque são como o seu Mestre, rejeitados, insultados. O seu discurso incomoda, porque convida a uma mudança, a um regresso a Deus: amar é já sair de si mesmo.5. À ESCUTA DA PALAVRA.
Há diferenças entre as bem-aventuranças na versão de Mateus e na de Lucas. Indiciam duas tradições. Mateus apresenta nove bem-aventuranças, Lucas somente quatro. Mateus diz que Jesus subiu a montanha… Lucas diz que Ele desceu da montanha… Uma contradição apenas aparente. Dois relatos complementares. Para escutar as bem-aventuranças em Mateus, é preciso subir à montanha, elevar-se, subir para Deus. Isso sugere que, para viver segundo o espírito do Evangelho, não nos podemos fechar nos estreitos limites da terra. É preciso subir, respirar um ar mais puro, mais transparente. Isso exige, certamente, um esforço, pois trata-se de deixar o Espírito soprar em nós o ar de Deus. É preciso esforço, como para subir uma montanha, é preciso treino, paciência e também silêncio, atenção interior. Mas isso não significa que devemos desinteressar-nos desta vida muito concreta, da vida ordinária de todos os dias. O Evangelho não é uma droga que nos faria ver um mundo desencarnado. Jesus quer encontrar-nos na planície das nossas vidas muito reais, como está expresso nas situações das bem-aventuranças. Por seu lado, os ricos são infelizes porque, no fundo, se esquecem de sair de si mesmos, de subir à montanha para respirar o ar de Deus.6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III para a Assembleia com Crianças, pelas várias expressões relacionadas com a liturgia da Palavra.7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
Levar para as nossas vidas as palavras de felicidade escutadas neste domingo e transformá-las em atitudes de alegria e de encontro com os outros, transmitindo felicidade àqueles que vivem infelizes ao nosso lado… Fazer com que a vida da próxima semana tenha muitos momentos de alegria e de felicidade… que só o serão se partilhados e sentidos com o próximo, a começar pelos que estão na minha casa, no meu trabalho, na minha escola, na minha comunidade, na minha paróquia…UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org - Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Segunda-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 4, 1-15.25
Adão conheceu Eva, sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: «Gerei um homem com o auxílio do Senhor.» 2Depois, deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor, e Caim, lavrador. 3Ao fim de algum tempo, Caim apresentou ao Senhor uma oferta de frutos da terra. 4Por seu lado, Abel ofereceu primogénitos do seu rebanho e as suas gorduras. O Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, 5mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta. Caim ficou muito irritado e andava de rosto abatido. 6O Senhor disse a Caim: «Porque estás zangado e de rosto abatido? 7Se procederes bem, certamente voltarás a erguer o rosto; se procederes mal, o pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo.» 8Entretanto, Caim disse a Abel, seu irmão: «Vamos ao campo.» Porém, logo que chegaram ao campo, Caim lançou-se sobre o irmão e matou-o. 9O Senhor disse a Caim: «Onde está o teu irmão Abel?» Caim respondeu: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» 10O Senhor replicou: «Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim. 11De futuro, serás amaldiçoado pela terra, que, por causa de ti, abriu a boca para beber o sangue do teu irmão. 12Quando a cultivares, não voltará a dar-te os seus frutos. Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra.» 13Caim disse ao Senhor: «A minha culpa é excessivamente grande para ser suportada. 14Expulsas-me hoje desta terra; obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de andar fugitivo e vagabundo pela terra, e o primeiro a encontrar-me matar-me-á.» 15O Senhor respondeu: «Não! Se alguém matar Caim, será castigado sete vezes mais.» E o Senhor marcou-o com um sinal, a fim de nunca ser morto por quem o viesse a encontrar. 25Adão conheceu de novo a sua mulher, que teve um filho, e deu-lhe o nome de Set, dizendo: «Porque Deus concedeu-me outro no lugar de Abel, morto por Caim.»
Porque terá Deus ficado agradado com a oferenda de Abel e não com a de Caim? Não sabemos. Caim era o irmão mais velho. Abel, o mais novo. Geralmente a Sagrada Escritura revela preferência pelo irmão mais novo, mais fraco, menos avantajado. Basta pensar em Isaac, em Jacob, em José, em Benjamim. Caim era agricultor, enquanto Abel era pastor. O nosso texto pode também reflectir o conflito entre agricultores e pastores. Na verdade, o texto nada diz sobre as razões do agrado ou do desagrado de Deus, nem sobre as razões do conflito entre os dois irmãos. O que fica claro é que Deus pode ter preferências, pode escolher um e não outro. O amor, por vezes, faz mesmo opções que não é fácil motivar. O conflito entre os dois irmãos, que leva ao primeiro homicídio da história, quer explicar o ódio fratricida como efeito do ciúme e da inveja motivados por uma predilecção de Deus. Serão também o ciúme e a inveja que hão-de levar à venda de José pelos irmãos (cf. Gn 37, 26s.). Jesus será entregue a Pilatos por causa da inveja dos chefes dos judeus (cf. Mc 15, 10).
Não é, pois, fácil descobrir os motivos da predilecção divina. As escolhas divinas são gratuitas e incontestáveis. Mas é fácil dar-nos conta das motivações da aversão por este ou por aquele irmão ou irmã. Muitas vezes é o ciúme motivado pelos dons que descobrimos nos outros e não vemos em nós, o que nos parece injusto. A história do fratricídio tem um valor paradigmático.Evangelho: Marcos 8, 11-13
Naquele tempo, apareceram alguns fariseus e começaram a discutir com Ele, pedindo-lhe um sinal do céu para o pôr à prova. 12Jesus, suspirando profundamente, disse: «Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: sinal algum será concedido a esta geração.» 13E, deixando-os, embarcou de novo e foi para a outra margem.
A perícopa que hoje escutamos situa-se na no contexto da «secção dos pães» (Mc 6, 30-8,26) e mais precisamente na reacção dos fariseus (8, 11-13) e dos discípulos (8, 14-21) à revelação cristológica. Os fariseus não reconhecem o valor do milagre da multiplicação dos pães realizado por Jesus. Daí a provocação: dá-nos «um sinal do céu» (v. 11). Jesus apercebe-se imediatamente da intenção dos fariseus e responde-lhes categoricamente: «sinal algum será concedido a esta geração» (v. 12). Não há prodígio (dýnamis) nem sinal (semêion), - aqui Marcos usa o termo sinal -, capaz de convencer quem não quer deixar-se convencer.
A expressão «esta geração» (v. 12), na literatura profética, indica o povo de Israel infiel à Aliança, que exige sempre de Deus novas manifestações do seu poder. A expressão aparece por vezes seguida de adjectivos como «adúltera e pecadora» (8, 38; Mt 12, 39.45;16,4) ou «infiel e perversa» (9, 19; cf. Mt 17, 17). Nesta perícopa a expressão «esta geração» parece indicar, não só os fariseus, mas também todos aqueles que procuram sempre novos sinais para acreditar.Meditatio
A primeira leitura, que nos fala do sacrifício de Abel, prepara-nos para compreendermos o sacrifício de Jesus, que já entrevemos na hostilidade dos fariseus de que nos fala o evangelho.
Segundo os exegetas, Abel, em hebraico, significa "sopro", "vapor", "vaidade". É um nome que indica a precariedade, a fragilidade da existência humana. O Filho de Deus também assumiu essa fragilidade. Abel é a primeira vítima inocente da história. O seu sangue derramado grita por vingança diante de Deus. Segundo a Lei, a morte do inocente só pode ser espiada com a morte do homicida: «o sangue mancha a terra e a terra só pode ser lavada dessa mancha com o sangue daquele que o tiver derramado» (Nm 35, 33). Jesus também é uma vítima inocente. O seu sangue foi derramado, como o de Abel, por causa do ódio dos seus irmãos. Judas reconhece a inocência de Jesus: «Atraiçoei sangue inocente» (Mt 27, 4). Há pois certa semelhança entre o sacrifício de Abel e o de Jesus. Segundo o Cânon romano, o sacrifício de Abel é uma prefiguração do sacrifício de Jesus. Mas a Carta aos Hebreus realça a diferença que também existe entre os dois, entre o sangue de Jesus e o sangue de Abel. O sangue de Abel grita vingança. Caim será expulso da terra que bebeu o sangue do seu irmão. Mas não será morto. Quem o poderia fazer? Andará fugitivo e vagabundo toda a vida, mas com um sinal da protecção de Deus. O sangue de Jesus é «mais eloquente que o sangue de Abel» (Heb 12, 24). Porquê? Porque o sangue de Jesus não se limita a clamar por vingança, por justiça, mas oferece a todos o pe
rdão e a salvação.
S. João, na sua primeira carta, escreve: «Caim, que era do Maligno, assassinou o seu irmão. E porque o assassinou? Porque as suas obras eram más, ao passo que as do irmão eram boas.» (1 Jo 3, 12). O motivo que levou Caim a assassinar o seu irmão foi a malícia, a maldade. O inocente é morto pelo malvado porque faz o bem. Assim aconteceu com Jesus. Assim pode acontecer também com os discípulos de Jesus, que não devem espantar-se com o ódio do mundo.
O autor da Carta aos Hebreus também mostra que Abel, já morto, continua a ser figura de Cristo ressuscitado: «A voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim» (v. 10). Portanto, de algum modo, continua vivo. Quando se fala de Cristo, a voz do seu sangue é anda mais forte, «mais eloquente». O sangue de Jesus grita a sua ressurreição. Grita amor e misericórdia.
O episódio do sacrifício de Abel termina com o nascimento de Set. «Deus concedeu-me outro no lugar de Abel, morto por Caim» - exclama Adão. Os Padres da Igreja vêem nestas palavras uma alusão a Cristo Ressuscitado. Deus, já desde o princípo, entrevê o seu projecto de salvação, a vitória sobre a morte e sobre o mal, que será oferecida ao homem por Jesus morto e ressuscitado.Oratio
Senhor, nosso Deus, olhai com benevolência e agrado para a oferenda de nós mesmos, do que somos, temos, fazemos e sofremos e que, hoje, unidos a Cristo vosso Filho, humildemente vos apresentamos. Dignai-vos aceitá-la como aceitastes os dons do justo Abel, vosso servo, o sacrifício de Abraão, nosso pai na fé, e a oblação pura e santa do sumo sacerdote Melquisedec. Amen. (cf. Cânon romano).
Contemplatio
O sangue do Coração de Jesus, diz S. Paulo, fala mais alto do que o sangue de Abel. O sangue divino convida-nos à penitência. É um grito de guerra contra a sensualidade, a preguiça, a gulodice, a volúpia... Convida-nos à valentia: doravante iremos a Deus por Jesus Cristo; a Jesus Cristo pelo sacrifício; ao sacrifício pelo amor: amemos muito e o sacrifício nos custará pouco... Convida-nos à confiança: estas poucas gotas de sangue teriam bastado já para nos salvar e nos merecer todas as graças e todos os dons de Deus, se Nosso Senhor não nos tivesse querido mostrar a superabundância do seu amor pela efusão de todo seu sangue. Que força e que virtude a do sangue divino! Por ele, os pecadores são purificados; cura-os das suas chagas, ressuscita-os para a vida. Por ele os tíbios são reanimados, os fervorosos são fortalecidos. Por ele, os humildes são encorajados a segui-lo nos caminhos modestos da vida escondida, escapam à fascinação do século e da bagatela. Por ele, as almas castas frustram as maquinações de Satanás e passam intactos na fornalha do mundo, como os três jovens Hebreus na de Babilónia. Por ele, os fortes, embriagados no cálice da vida, não sentem sequer as suas torturas, como diz Santo Agostinho. (Leão Dehon, OSP3, p. 20).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O sangue de Cristo nos purificará» (cf. Heb 9, 14)._________________
Comentários litúrgicos a cargo de Fernando Fonseca, scj
- Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Terça-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 6, 5-8; 7, 1-5.10
O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. 6O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra, e o seu coração sofreu amargamente. 7E o Senhor disse: «Eliminarei da face da Terra o homem que Eu criei, e, juntamente com o homem, os animais domésticos, os répteis e as aves dos céus, pois estou arrependido de os ter feito.» 8Noé, porém, era agradável aos olhos do Senhor. 1O Senhor disse, depois, a Noé: «Entra na arca, tu e toda a tua família, porque só a ti reconheci como justo nesta geração. 2De todos os animais puros levarás contigo sete pares, o macho e a fêmea; dos animais que não são puros levarás um par, o macho e a sua fêmea; 3das aves do céu, também sete pares, macho e fêmea, a fim de conservares a sua raça viva sobre a Terra. 4Porque dentro de sete dias, vou mandar chuva sobre a Terra, durante quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei na superfície de toda a Terra todos os seres que Eu criei.» 5E Noé cumpriu tudo quanto o Senhor lhe ordenara. 10Ao cabo de sete dias, as águas do dilúvio submergiram a Terra.
O pecado começa a alastrar no mundo e parece comprometer a bondade da criação realizada por Deus. Depois do pecado de Adão e Eva, vem o de Caim e os dos «filhos de Deus», provavelmente outros seres humanos e não anjos. E Deus chega a uma dolorosa conclusão: «arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra» (v. 6). Deus não se arrepende da criação em si mesma, mas do pecado dos homens que a inquina e corrompe. O "arrependimento" de Deus corresponde à atitude que os homens deveriam manifestar depois dos seus pecados, mas não manifestam. O "arrependimento" de Deus, se assim se pode dizer, leva-o a pensar no único remédio possível para tão grave situação criada pelos homens rebeldes: destruir, de-criar para re-criar, começar tudo de novo.
O mito do dilúvio é velho como o mundo. Encontramos paralelos literários na antiga Mesopotâmia e versões orais em quase todas as culturas primitivas. O autor bíblico reelabora-o e utiliza-o como única solução para a maldade do homem. Mas não se trata de um castigo indiscriminado de inocentes e culpados. A intenção divina é, sobretudo, de recriar o mundo, de renovar a face da terra. Os que sobrevivem ao dilúvio representam toda a humanidade salva das águas, os pais da nova família humana. Noé é como que um novo Adão, com quem a vida humana recomeça. Na tradição cristã, Noé torna-se figura de Jesus; o dilúvio, esboço do baptismo que nos salva; a arca, onde sobrevivem homens e animais, imagem da "barca eclesial".
O epílogo do dilúvio, com o sacrifício agradável a Deus oferecido por Noé, como veremos amanhã, encerra a perspectiva do aniquilamento da humanidade pecadora e abre a uma promessa de Deus sobre a estabilidade da ordem natural. O Deus de face irada dá lugar ao Deus princípio de vida: a graça sobrepõe-se ao juízo, a bênção suplanta a maldição.Evangelho: Marcos 8, 14-21
Naquele tempo, 14os discípulos tinham-se esquecido de levar pães e só traziam um pão no barco. 15Jesus começou a avisá-los, dizendo: «Olhai: tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes.» 16E eles discorriam entre si: «Não temos pão.» 17Mas Ele, percebendo-o, disse: «Porque estais a discorrer que não tendes pão? Ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido? 18Tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis? E não vos lembrais 19de quantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães para aqueles cinco mil?» Responderam: «Doze.» 20«E quando parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de bocados recolhestes?» Responderam: «Sete.» 21Disse-lhes então: «Ainda não compreendeis?»
Continuamos na mesma «secção dos pães» e, agora, mais concretamente, no contexto da reacção dos discípulos à revelação cristológica (8, 14-21)
Jesus pergunta aos discípulos: «Tendes o vosso coração endurecido?» (v. 17). O tema do coração endurecido, tão dramático e complexo nos Profetas e, de modo geral, no Antigo Testamento, aparece nos Evangelhos a propósito da compreensão e da aceitação do mistério do Reino proposto em parábolas (Mc 4, 10-12; Mt 13, 10-14; Lc 8, 9s.; cf. Jo 12, 37-41). O Reino era novidade com que Deus surpreendia a todos. Só os corações simples, abertos e disponíveis o podiam acolher. Por isso, era necessário não se deixar contaminar «com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes» (v. 15), isto é, com o orgulho e com a soberba dos fariseus e de Herodes. Os fariseus provavelmente esperavam um Messias triunfador que, com prodígios grandiosos, submetesse o mundo ao poder de Israel. Mas não era essa a lógica de Jesus. A salvação que nos oferece será realizada na partilha que multiplica o pão, e na carne «mastigada», que se torna fonte de vida eterna, isto é, na sua passagem pela morte. Será também esse o caminho dos discípulos e da Igreja, se quiserem ser fiéis aos ensinamentos e ao exemplo de Jesus.
MeditatioO coração é o lugar onde se formam os pensamentos e se concebem as acções. Ao iniciar o relato do dilúvio, o autor sagrado avança logo a causa de tal desgraça: «O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal.» (v. 5). Literalmente o texto de Gn 6, 5 diz: «Toda a formação dos pensamentos do seu coração era somente mal todo o dia». A maldade do coração do homem provoca o desencanto e o sofrimento no coração de Deus: «O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra, e o seu coração sofreu amargamente.» (v. 6). O Senhor decide eliminar o homem, e todos os seres vivos, da face da terra. Mas o seu coração não Lhe permite executar completamente uma decisão tão radical e encontra logo um remédio para salvar a humanidade: «Noé, porém, era agradável aos olhos do Senhor» (v. 8). E Deus encarrega-o de construir a arca da salvação.
A história de Noé prefigura a história de Jesus e revela, desde o princípio, a táctica divina, que se compraz em usar instrumentos humildes e quase insignificantes, como Noé e a barca, para salvar a humanidade. Assim acontecerá com a eleição do povo de Israel, pequeno e fraco no meio das nações, mas escolhido por Deus para mediar a salvação do mundo. Quando Israel falha na sua vocação e missão, Deus abandona-o, reservando
apenas uma pequena parte desse povo, o reino de Judá. Quando também Judá se torna infiel, Deus entrega-o ao saque dos Assírios e deixa-o ser levado cativo pelos Babilónios. Mas, ainda assim, o Senhor consegue encontrar no meio desse povo alguns justos, que serão o começo de um povo novo, humilde e berço da salvação. É dessas poucas pessoas que permaneceram fiéis que Deus fará nascer o seu Filho. E a táctica de Deus continua até ao fim. Quando, na paixão de Jesus, tudo se tornou mau, e o próprio Jesus está como que submerso pelo pecado de todos, o seu Coração permanece aquele «pequeno resto» fiel por meio do qual Deus salva o mundo. Esse Coração, morto e e trespassado na cruz, ressuscita ao terceiro dia, manifestando a nossa salvação: Jesus, o único justo, salva o mundo inteiro! É a táctica de Deus!
Essa mesma táctica se manifesta no evangelho. Aos inquietos discípulos com a falta de mantimentos, Jesus lembra a multiplicação dos pães: «Não vos lembrais de quantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães para aqueles cinco mil?» (vv. 18-19). Importante, importante não é ter muitas coisas, mas ter «o pão de Deus», isto é, Jesus!Oratio
Senhor Jesus, ao contemplar o teu Coração, manso e humilde, trespassado na cruz, compreendo a estratégia do Pai que se compraz em fazer grandes coisas, usando instrumentos simples e fracos. É o que já tinha verificado ao reler o Antigo Testamento, desde Noé a João Baptista, e ao pequeno grupo de pobres no meio quais quiseste nascer e crescer. É o que vejo também agora em Ti, servo pobre de Deus e dos homens, meu Salvador. É o que descubro na tua Igreja, ao longo de dois mil anos de história. Na verdade, todas as grandes obras, que efectivamente contribuem para o bem da humanidade, começam na humildade e na insignificância, aos olhos do mundo. Mas Tu tiras delas grandes frutos para todos, quando permanecemos unidos a Ti, único «pão descido do céu» para nossa salvação. Que eu esteja em Ti, e Tu em mim, sempre. Amen.
Contemplatio
A Igreja inspira-se nas virtudes de Nosso Senhor. Estuda-as, medita-as e aplica-se a imitá-las. Mas sob o reino do Sagrado Coração, os fiéis devem remontar mais habitualmente à nascente destas virtudes, aos sentimentos íntimos e profundos do Coração de Jesus. Compreendem agora melhor o conselho de S. Paulo: «Formai em vós os sentimentos do Coração de Jesus» (Fil 2,5). Penetram o Coração de Jesus em todos os seus mistérios. E, em primeiro lugar, nos mistérios da sua vida escondida, que lemos no seu Coração? Aí lemos o aniquilamento, a humildade, o silêncio, a imolação e o amor. O aniquilamento: «Ele que era de condição divina, diz S. Paulo, tomou a forma de um escravo» (Fil 2,6). Aniquilou-se, humilhou-se e fez-se obediente até à morte de cruz.
O exemplo de Jesus ensina-nos o silêncio e a imolação: «Façamos práticas de silêncio interior e exterior, afastando os pensamentos, as leituras, as conversas inúteis». Imolemo-nos à vontade divina manifestada pelos nossos Superiores, pelas nossas regras, pelas inspirações da graça. O amor: apenas isto havemos de encontrar no Coração de Jesus. Fez tudo por amor pelo seu Pai e por nós. Façamos tudo por amor para com ele. (Leão Dehon, OSP3, p. 55s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Deus escolheu o que é fraco para no mundo confundir o que é forte.» (cf. 1 Cor 1, 27)._________________
Comentários litúrgicos a cargo de Fernando Fonseca, scj
- Santos Francisco e Jacinta Marto
Santos Francisco e Jacinta Marto
Francisco Marto nasceu em 11 de Junho de 1908, em Aljustrel, Fátima, vindo a falecer também aí, no dia 4 de Abril de 1919. Muito sensível e contemplativo, Francisco orientou toda a sua oração e penitência para "consolar a Nosso Senhor". Jacinta Marto nasceu em Aljustrel, no dia 11 de Março de 1910 e faleceu em 20 de Fevereiro de 1920, no Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, depois de uma longa e dolorosa doença, oferecendo todos os seus sofrimentos pela conversão dos pecadores, pela paz no mundo e pelo Santo Padre. Os seus restos mortais de Francisco e Jacinta repousam atualmente na Basílica da Cova da Iria. O Santo Padre João Paulo II proclamou-os beatos, em Fátima, a 13 de Maio de 2000.
Lectio
Primeira Leitura: 1Samuel 3, 1.3-10
Naqueles dias, o jovem Samuel servia o Senhor sob a direção do sumo sacerdote Heli. Samuel dormia no templo do Senhor, no lugar onde se encontrava a arca de Deus. O Senhor chamou Samuel e ele respondeu: «Aqui estou». E, correndo para junto de Heli, disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Mas Heli respondeu: «Eu não te chamei; torna a deitar-te». E ele foi deitar-se. O Senhor voltou a chamar Samuel. Samuel levantou-se, foi ter com Heli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Heli respondeu: «Não te chamei, meu filho; torna a deitar-te». Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. O Senhor chamou Samuel pela terceira vez. Ele levantou-se, foi ter com Heli e disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Então Heli compreendeu que era o Senhor que chamava pelo jovem. Disse Heli a Samuel: «Vai deitar-te; e se te chamarem outra vez, responde: 'Falai, Senhor, que o vosso servo escuta'». Samuel voltou para o seu lugar e deitou-se. O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes: «Samuel, Samuel!». E Samuel respondeu: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta».
Samuel é uma figura singular e polifacetada do Antigo Testamento: sacerdote, profeta e juiz. Vive no momento da transição da federação de tribos ao regime monárquico. A vocação de Samuel está enquadrada num cenário de simplicidade e sublimidade, de serenidade e dramatismo, de silêncio e eloquência, de quietude e dinamismo. Essa vocação acontece de noite, hora propícia à revelação. O jovem é chamado três vezes, e ainda uma quarta. Samuel pensa tratar-se de Heli, o sacerdote. Este, fazendo um discernimento da situação, coloca Samuel na presença do Senhor. O seu chamamento de Samuel, o primeiro dos profetas, tem semelhanças ao de João Baptista, o último dos profetas: ambos têm a missão de anunciar uma nova etapa da História da salvação. Ambos tiveram que sofrer a dilaceração que implica romper com uma época que se ama e que vai desaparecer, mas também a dor que acarreta a aurora de uma nova etapa.
Evangelho: Mateus 18, 1-5.10
Naquele tempo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-Lhe: «Quem é o maior no reino dos Céus?». Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, não entrareis no reino dos Céus. Quem for humilde como esta criança, esse será o maior no reino dos Céus. E quem acolher em meu nome uma criança como esta acolhe-Me a Mim. Vede bem. Não desprezeis um só destes pequeninos. Eu vos digo que os seus Anjos vêem continuamente o rosto de meu Pai que está nos Céus».
O texto paralelo de Marcos (9, 33-34) faz-nos supor que o contexto imediato destes ensinamentos do Senhor é uma discussão dos discípulos sobre o lugar que cada um deveria ocupar no reino pregado por Jesus. Jesus Manda-lhes que se tornem como crianças, não tanto no que se refere à inocência, mas no que se refere à humildade: a criança não tem pretensões. A humildade cristã é fruto da alegria de ser filhos de Deus. A filiação divina requer conversão. Os discípulos, particularmente os que são chamados a ser dirigentes da comunidade cristã, devem ser humildes e comportar-se como tais. Essa atitude dá-lhes uma dignidade maior que a dos anjos, que estão ao seu serviço
Meditatio
"Eu te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos". Com estas palavras, Jesus louva os desígnios do Pai celeste: "Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do Teu agrado". Quiseste abrir o Reino aos pequeninos. Por desígnio divino, veio do céu a esta terra, à procura dos pequeninos privilegiados do Pai, uma mulher revestida com o Sol. Fala-lhes com voz e coração de Mãe: convida-os a oferecerem-se como vítimas de reparação, oferecendo-se ela para os conduzir, seguros, até Deus. Foi então que das suas mãos maternais saiu uma luz que os penetrou intimamente, sentindo-se imersos em Deus como quando uma pessoa - explicam eles - se contempla num espelho. Mais tarde, Francisco, um dos três privilegiados, exclamava: nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus? Não se pode dizer. Isto sim que a gente não pode dizer. Deus: uma luz que arde mas não queima. A mesma sensação teve Moisés quando viu Deus na sarça-ardente. Ao beato Francisco, o que mais o impressionava e absorvia era Deus naquela luz imensa que penetrara no íntimo dos três. Na sua vida, dá-se uma transformação que poderíamos chamar radical; uma transformação certamente não comum em crianças da sua idade. Entrega-se a uma vida espiritual intensa que se traduz em oração assídua e fervorosa, chegando a uma verdadeira forma de união mística com o Senhor. Isto mesmo leva-o a uma progressiva purificação do espírito através da renúncia aos seus gostos e até às brincadeiras inocentes de criança. Suportou os grandes sofrimentos da doença que o levou à morte, sem nunca se lamentar. Grande era no pequeno Francisco, o desejo de reparar as ofensas dos pecadores, esforçando-se por ser bom e oferecendo sacrifícios e oração. E Jacinta sua irmã, quase dois anos mais nova que ele, vivia animada pelos mesmos sentimentos. Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio a Fátima, pedir aos homens para não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido. Dizia aos pastorinhos: Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver que se sacrifique e peça por elas. A pequena Jacinta sentiu e viveu como própria esta aflição de Nossa Senhora, oferecendo-se heroicamente como vítima pelos pecadores. Um dia - já ela e Francisco tinham contraído a doença que os obrigava a estarem de cama - a Virgem Maria veio visitá-los a casa, como conta a pequenita: Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito em breve para o céu. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim. E, ao aproximar-se o momento da partida do Francisco, Jacinta recomenda-lhe: Dá muitas saudades minhas a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e diz-lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores. Jacinta ficara tão impressionada com a visão do inferno, durante a aparição de treze de Julho, que nenhuma mortificação e penitência era demais para salvar os pecadores. (João Paulo II, Homilia da Missa da Beatificação de Francisco e Jacinta Marto no dia 13 de Maio 2000, em Fátima)
Oratio
Deus de infinita bondade, que amais a inocência e exaltais os humildes, concedei, pela intercessão da Imaculada Mãe do vosso Filho, que, à imitação dos bem-aventurados Francisco e Jacinta, Vos sirvamos na simplicidade de coração, para podermos entrar no reino dos Céus. Ámen. (Coleta da Missa).
Contemplatio
Jesus acolhia as crianças e abençoava-as... Os apóstolos querem afastar as crianças, mas Jesus não deixa. «Deixai-as vir a mim, diz. São semelhantes aos anjos do céu. A criança é dócil, simples, crente, obediente. Em lugar de afastardes as crianças, imitai as suas qualidades». Abraçava-as, impunha-lhes as mãos e abençoava-as. É uma curta lição de educação cristã. É preciso encorajar as crianças à piedade, abençoá-las e ensinar-lhes a rezar. Alguns dias antes, Jesus já tinha apresentado uma criança aos seus apóstolos como um modelo a imitar, porque a criança é simples, humilde, doce. «Se não tiverdes, dizia Jesus, estas disposições da infância espiritual, não entrareis no reino dos céus». E recomendava-lhes as crianças: «Quem as recebe em meu nome, recebe-me a mim, dizia. Tenho como feito a mim mesmo o que fizerem por elas. Ai daqueles que as escandalizam! Melhor seria que não tivessem nascido» (L. Dehon, OSP 4, p. 278s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"O Senhor exaltou os humildes" (Lc 1, 46).----
Beatos Francisco e Jacinta Marto (20 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Quarta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 8, 6-13.20-22
Decorridos quarenta dias, Noé abriu a janela que havia feito na arca 7e soltou o corvo, que saiu repetidas vezes, enquanto iam secando as águas sobre a terra. 8Depois, soltou a pomba, a fim de verificar se as águas tinham diminuído à superfície da terra. 9Mas, não tendo encontrado sítio para poisar, a pomba regressou à arca, para junto dele, pois as águas cobriam ainda a superfície da terra. Estendeu a mão, agarrou a pomba e meteu-a na arca. 10Aguardou mais sete dias; depois soltou novamente a pomba, 11que voltou para junto dele, à tarde, trazendo no bico uma folha verde de oliveira. Noé soube, então, que as águas sobre a terra tinham baixado. 12Aguardou ainda outros sete dias; depois tornou a soltar a pomba, mas, desta vez, ela não regressou mais para junto dele.13No ano seiscentos e um, no primeiro dia do primeiro mês, as águas começaram a secar sobre a terra. Noé abriu o tecto da arca e viu que a superfície da terra estava seca. 20Noé construiu um altar ao Senhor e, de todos os animais puros e de todas as aves puras, ofereceu holocaustos no altar. 21O Senhor sentiu o agradável odor e disse no seu coração:«De futuro, não amaldiçoarei mais a terra por causa do homem, pois as tendências do coração humano são más, desde a juventude, e não voltarei a castigar os seres vivos, como fiz. 22Enquanto subsistir a terra, haverá sempre a sementeira e a colheita, o frio e o calor, o Verão e o Inverno, o dia e a noite.»
O livro do Génesis apresenta-nos dois relatos do dilúvio, tal como apresentara dois relatos da criação. Só que, enquanto estes estão separados um do outro em Gn 1 e Gn 2, os dois relatos do dilúvio estão embutidos um no outro. Mas é possível distingui-los. Enquanto, para um, o dilúvio dura quarenta dias, número aproximativo para um período bastante longo, para outro dura doze meses lunares com mais onze dias, o que perfaz 365 dias, isto é, um ano solar (cf. Gn 7, 11; 8, 13s.). O importante é que o dilúvio, ainda que tendo durado muito, também teve um termo. As águas acabaram por se retirar. Este facto ilumina-nos sobre o modo de agir de Deus.
Outra diferença que notamos entre os dois relatos é que, enquanto num os animais puros reunidos na arca são sete, ou sete pares por espécie, no outro são apenas dois: um macho e uma fêmea. Eram mesmo precisos sete pares de animais? Não chegavam dois por cada espécie? O problema está no sacrifício de animais e pássaros com que termina o relato. Tal não seria possível se só houvesse um par por cada espécie... Ao sentir o odor deste sacrifício, Deus reconcilia-se com a criação e promete jamais voltar a amaldiçoar a terra por causa do homem. Esta imagem de Deus pode fazer-nos sorrir. Mas é menos primitiva que a do relato paralelo da Mesopotâmia, onde os deuses, ao sentirem o odor do sacrifício, se aproximam como um enxame de moscas.
Depois do dilúvio, e do sacrifício, Deus decide não voltar a amaldiçoar a terra por causa do homem, «pois as tendências do coração humano são más, desde a juventude» (v. 21). A maldade do coração humano esteve na origem do dilúvio, e está no seu termo. Deus apercebe-se de que o remédio tentado não foi eficaz, e desiste de voltar a usá-lo. Assim verificamos que, em Deus, castigo e misericórdia quase se identificam. Nascem da mesma motivação.Evangelho: Marcos 8, 22-26
Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse. 23Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?» 24Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.» 25Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez. 26Jesus mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»
A cura do cego de Betsaida, propositadamente colocada por Marcos num contexto onde se fala da cegueira dos fariseus e dos discípulos, encerra a «secção dos pães».
Jesus, mais uma vez, usa a linguagem táctil, não à maneira dos magos, mas para que a pessoa, que recebe o prodígio, esteja consciente do que se passa. O milagre realiza-se em dois tempos: primeiro o cego vê confusamente: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar» (v. 24); depois, quando a cura está completa, vê claramente: «ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez» (v. 25).
Jesus não quer atitudes triunfalistas. Por isso, ao despedir o cego curado, recomenda-lhe que não entre na aldeia (v. 26). O verdadeiro crente crê nos milagres, e não por causa dos milagres. Os milagres vêm depois da fé, de tal modo que, se não há fé, ou se ela é fraca, nem sequer acontecem milagres. Além disso, os milagres nunca são enquadrados numa cristologia ou eclesiologia triunfalista. São testemunhos da vinda do Messias que hão-de ser contados de modo discreto por aqueles que os receberam. De qualquer modo, Marcos insiste na «reserva messiânica».
Os crentes não têm que medir forças com os não-crentes. Por um lado, podem perfeitamente admitir que muitos «prodígios» foram efeitos de simples forças naturais desconhecidas pela razão humana; por outro lado, estão conscientes de que a sua fé não vem dos milagres, mas que os milagres a pressupõem. Mas também têm todo o direito a pressupor que certos acontecimentos são verdadeiros «prodígios», pois crêem na força «sobrenatural» de Deus, embora não a possam demonstrar racionalmente.Meditatio
O dilúvio termina gradualmente, à medida que as águas vão secando. Noé procura conhecer a situação da terra, soltando repetidas vezes uma pomba. Quando ela volta trazendo no bico um raminho de oliveira, compreende, e nós também compreendemos, que a misericórdia prevaleceu sobre o juízo, e que a terra é de novo habitável. A pomba, com o ramo de oliveira no bico, torna-se um símbolo de paz.
Causa-nos espanto a simplicidade com que Deus muda a sua decisão: «De futuro, não amaldiçoarei mais a terra... e não voltarei a castigar os seres vivos, como fiz» (v. 21). Noutro passo da Escrituras diz-se que Deus nunca se arrepende, que não é um homem, para mudar de opinião. Os filósofos insistem nesta imutabilidade de Deus: sendo perfeição absoluta, Deus não pode mudar. Esta contradição não deriva das limitações de Deus, mas das nossas. Não somos capazes de compreender a Deus. Se o compreendermos, deixará de ser Deus, como diz Santo Agostinho. Precisamos até de juntar coisas contraditoras para fazermos uma ideia menos imperfeita de Deus. Insistir na imutabilidade de Deus, como os filósofos, leva-nos a uma ideia m
ais empobrecida de Deus, que seria, para nós, semelhante a um monte de pedras, que não se move, não tem sentimentos, não vive. Se lermos com simplicidade a Bíblia, vemos que Deus pensa, tem sentimentos, ama profundamente, ira-se com os pecados do povo, muda as suas decisões... E ficamos com a ideia de um ser vivo, cheio de movimento e de riqueza, o que é mais verdadeiro do que a ideia dos filósofos. A Bíblia, por vezes, também fala de Deus como imutável. Mas geralmente mostra-nos um Deus semelhante a nós. A perfeição divina é plenitude e não imobilidade. A imobilidade de Deus encerra todos os movimentos. Deus não tem emoções humanas, mas está acima delas. Não ama como nós, mas ama mais do que nós. Ama de um modo que não podemos compreender.
A humanidade de Jesus revela-nos plenamente o modo de ser e de reagir de Deus. Revela-nos o Coração de Jesus. Jesus, verdadeiro homem, sofreu, amou, reflectiu, fez projectos de vida, foi enganado e traído. Actuou com a simplicidade e a humildade que nos mostra o evangelho de hoje, na cura do cego de Betsaida. Jesus leva-o para fora da cidade, põe-lhe saliva nos olhos, impõe-lhe as mãos e pergunta-lhe: «Vês alguma coisa?» (v. 23). Parece que o milagre ficou a meio, pois o homem afirma: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar» (v. 24). Então, impõe-lhe as mãos e o milagre completa-se. O cego «distinguia tudo com nitidez» (v. 25).
O modo humilde e progressivo como Jesus cura o cego de Betsaida ensina-nos que, na vida espiritual, precisamos de muita paciência. Não podemos estar à espera de resultados imediatos. A nossa compreensão da misericórdia divina avança ao ritmo da nossa cura, que Ele mesmo realiza, com muita paciência.Oratio
Senhor Jesus, abre os meus olhos para que possa ter de Deus, não uma ideia errada e pobre, mas uma ideia verdadeira e rica, uma ideia que suscite em mim o sentido da adoração, da admiração, da gratidão. Compreender alguma coisa do Pai é verdadeira felicidade, porque me coloca, na fé, perante o seu profundo mistério. Toca-me, unge-me com o teu Espírito, cura-me. Iluminado por Ti, avançarei confiante e sereno pelo caminho da fé e da santidade, aberto a todas as surpresas, e seguro mesmo sem compreender. Amen.
Contemplatio
Encontramos, na Sagrada Escritura e nas coisas da criação, admiráveis figuras das relações que deviam existir entre estas três augustas pessoas de Jesus, Maria e José. Se Jesus é a árvore da vida, Maria é o paraíso terrestre regado pelas águas da graça, no meio do qual está plantado, e José o querubim guardião do paraíso e da árvore. Se Maria é a pomba mística, Jesus não é senão o ramo de oliveira que ela leva e o sinal da paz; e José o verdadeiro Noé que introduz em sua casa a pomba e dela recebe o autor da reconciliação entre Deus e os homens? Se Jesus é a arca do Novo Testamento, Maria não é senão o Santo dos santos, onde esta arca está escondida, e José o véu que cobre aos olhos dos Judeus os mistérios que um e outro encerram? Se Jesus é o propiciatório da lei evangélica, Maria e José não são senão os dois querubins que estendem as asas do seu afecto e se olham mutuamente adorando o Salvador? Eis belas figuras da união que existia entre estes três santos Corações, modelo da caridade que deve reinar na comunidades e nas famílias cristãs. Almas piedosas, pronunciai muitas vezes com confiança estes nomes sagrados: Jesus, Maria, José; nomes de paz e de amor, nomes de salvação e de bênção, nomes de majestade e de glória, nomes agradáveis aos anjos, vantajosos para os homens e terríveis para os demónios. Mas não vos contenteis em contemplar. Passai à imitação. (Leão Dehon, OSP3, p. 87).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Felizes vós, que vistes e ouvistes» (Mt 13, 16)._________________
Comentários litúrgicos a cargo de Fernando Fonseca, scj
- Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Quinta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 9, 1-13
Deus abençoou Noé e os seus filhos, e disse-lhes: «Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. 2Sereis temidos e respeitados por todos os animais da terra, por todas as aves do céu, por tudo quanto rasteja sobre a terra e por todos os peixes do mar; ponho-os à vossa disposição. 3Tudo o que se move e tem vida servir-vos-á de alimento; dou-vos tudo isso como já vos tinha dado as plantas verdes. 4Porém, não comereis a carne com a sua vida, o sangue. 5Ficai também a saber que pedirei contas do vosso sangue a todos os animais, por causa das vossas vidas; e ao homem, igualmente, pedirei contas da vida do homem, seu irmão. 6A quem derramar o sangue do homem, pela mão do homem será derramado o seu, porque Deus fez o homem à sua imagem. 7Quanto a vós, sede fecundos e multiplicai-vos; espalhai-vos pela Terra e multiplicai-vos sobre ela.» 8A seguir, Deus disse a Noé e a seus filhos: 9«Vou estabelecer a minha aliança convosco, com a vossa descendência futura 10e com os demais seres vivos que vos rodeiam: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, todos aqueles que saíram da arca. 11Estabeleço convosco esta aliança: não mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio e não haverá jamais outro dilúvio para destruir a Terra.» 12E Deus acrescentou: «Este é o sinal da aliança que faço convosco, com todos os seres vivos que vos rodeiam e com as demais gerações futuras: 13coloquei o meu arco nas nuvens, para que seja o sinal da aliança entre mim e a Terra.
Para o javista, apesar da maldade do homem, a vida e o ritmo da natureza mantêm-se por vontade de Deus. É nessa mesma ordem de ideias que o teólogo sacerdotal insere a aliança de Deus com Noé e com os seus filhos, isto é, com a humanidade pós-diluviana, mas também com todos os seres vivos. Deus promete que não haverá outro dilúvio que destrua a terra ou a vida em qualquer das suas formas. Deus compromete-se; mas também Noé assume compromissos, como é próprio numa aliança. Cada um dos contraentes se compromete em algo a favor do outro, ainda que o objecto ou objectos do compromisso não sejam iguais. Deus depõe o seu arco de guerra sobre as nuvens (v. 13), como sinal de que não quer voltar a pelejar com os homens. O arco-íris que vemos nas nuvens, depois das chuvas, há-de lembrar-nos que o nosso Deus não é um deus de guerra, mas um Deus de paz.
Por nosso lado, a paz que Deus nos oferece há-de levar-nos a respeitar a vida em todas as suas formas, humana e animal, a criar em nós um verdadeiro espírito ecológico. Mais ainda: a vida é sagrada! Mais sagrado ainda é o sangue! Por isso, não se pode derramar o sangue do homem, nem alimentar-se com o sangue dos animais. Segundo o Concílio de Jerusalém (cf. Act 15), este respeito faz parte das coisas necessárias, também para os cristãos provindos do paganismo, que não estão obrigados à observância das leis mosaicas: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas» (Act 15, 25-26).Evangelho: Marcos 8, 27-33
Naquele tempo, Jesus partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» 28Disseram-lhe: «João Baptista; outros, Elias; e outros, que és um dos profetas.» 29«E vós, quem dizeis que Eu sou?» - perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra, e disse: «Tu és o Messias.» 30Ordenou-lhes, então, que não dissessem isto a ninguém. 31Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias. 32E dizia claramente estas coisas. Pedro, desviando-se com Ele um pouco, começou a repreendê-lo. 33Mas Jesus, voltando-se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo-lhe: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens.»
O texto que escutamos é central na teologia do segundo evangelho. Aqui se opõe claramente uma cristologia do filho do homem a uma cristologia e a uma eclesiologia triunfalista, inspirada no conceito político-imperialista do Messias. O povo interrogava-se: «Quem é este?». Agora é o próprio Jesus que pergunta aos discípulos o que é que se diz sobre Ele. Em síntese, os discípulos informam que o povo O vê, não só como um profeta, mas como maior dos profetas, o precursor dos tempos messiânicos. Mas Jesus quer ir mais longe, e interpela directamente os discípulos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (v. 29). Pedro responde em nome da comunidade: «Tu és o Messias» (v. 29). Mas Jesus impõe-lhes novamente o chamado «segredo messiânico» e começa a falar-lhes do mistério da cruz, que está no centro da sua messianidade: Ele é o Servo sofredor que veio carregar sobre si os nossos pecados para nos fazer passar da morte à vida. E quem quiser ser seu discípulo tem de seguir o mesmo caminho da cruz. Pedro parece perceber tudo muito bem, e é o primeiro a reagir ao escândalo da cruz. Mas Jesus chama-o à ordem: «Vai-te da minha frente» (v. 33), isto é, põe-te atrás de Mim se segue-Me.
Pôr-se atrás de Jesus, e segui-Lo como discípulos, é a posição correcta que havemos de tomar para sermos salvos.Meditatio
O texto do Génesis, que hoje escutamos, lembra-nos a aliança universal estabelecida por Deus com Noé e com toda a humanidade depois do dilúvio. O arco-íris é o sinal dessa aliança. A segunda aliança é celebrada com Abraão e os seus descendentes, os israelitas, os ismaelitas, os edomitas, e outras famílias descendentes do patriarca. A circuncisão é o sinal dessa aliança (cf. Gn 17). Mas o círculo vai-se apertando. No Sinai, a aliança é celebrada com o povo de Israel, e tem como sinal o sábado (cf. Ex 31). São passos progressivos, um depois do outro, que não invalidam os anteriores. Finalmente a aliança concentra-se num só homem, um filho de Israel de quem depende a fidelidade de Deus a todas as outras alianças: é a aliança divídica-messiânica que, para nós cristãos tem como sinal a cruz de Jesus. Quando, como Pedro, dizemos: «Tu és o Messias» (v. 29), havemos de ter em conta a extrema particularidade da figura messiânica e, simultaneamente, da sua máxima universalidade, por ser o ponto de convergência da aliança de Deus com Israel, mas também com toda a humanidade. Graças a Jesus, e à sua cruz, a aliança de Deus com todos os homens permanece e renova-se. Por isso, reconheçamos, por palavras e obras, que Jesus é o arco-íris luminoso e definitiv
o, erguido na cruz, no qual o céu e a terra, e tudo quanto existe, é reconciliado.
A nossa resposta ao amor criador e re-criador de Deus, a resposta à aliança consumada em Jesus, na sua cruz e ressurreição, a resposta ao "amor do Coração de Jesus" (Cst 1956 I, 2, parágrafo 2) há-de concretizar no exercício do carisma profético do amor e da reconciliação: "profetas do amor... servidores da reconciliação" (Cst. 7).Oratio
Senhor Jesus, nós Te bendizemos, porque pela tua páscoa remiste o mundo. Hoje, mais uma vez, com toda a tua Igreja, reunida em teu nome, queremos confessar que és o Senhor, o vencedor do pecado e da morte, fonte de vida no Espírito. Unidos ao teu amor redentor, saboreamos o dom da Eucaristia. Que ela alimente a nossa oração, o nosso serviço apostólico e a nossa comunhão fraterna, para que em Ti nos tornemos oferenda agradável a Deus. Torna-nos profetas do amor e humildes servidores da reconciliação, na caminhada para a páscoa eterna do teu Reino. Amen.
Contemplatio
Depois de ter rezado, Jesus disse aos seus discípulos: Que diz este povo acerca do Filho do homem? Sabia bem o que pensavam e o que diziam, mas queria preparar S. Pedro para confessar a sua fé. Designa-se humildemente como o Filho do homem. Os apóstolos responderam: «Esta gente toma-vos por João Baptista ou por Elias ou por algum profeta». O povo via muito bem que Jesus tinha um poder sobre-humano, mas enganado pelos Fariseus e cego pelo preconceito geral, esperava um Messias conquistador e não queria reconhecer o Salvador do mundo num humilde filho do carpinteiro. A visão de Deus é bem diferente da dos homens. (Leão Dehon, OSP4, p. 291s.)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Tu és o Messias» (Mc 8, 29)._________________
Comentários litúrgicos a cargo de Fernando Fonseca, scj
- Cadeira de S. Pedro
Cadeira de S. Pedro
A festa da Cadeira de S. Pedro, colocada no dia 22 de Fevereiro por um martiriológio muito antigo, é uma boa oportunidade para fazermos memória viva e atualizante do primeiro dos Apóstolos, Simão Pedro. Nascido em Cafarnaum, exercia a sua profissão de pescador quando se encontrou com Jesus de Nazaré. Deixou o trabalho, a casa e a família para seguir o Senhor. Os evangelhos deixam-nos entrever a sua personalidade simples, espontânea e simpática. Jesus escolheu-o como primeiro no grupo dos Doze. Com a festa que hoje celebramos, apoiando-nos no símbolo da cadeira, realçamos a missão de mestre e de pastor conferida a Pedro por Cristo. O Senhor fez assentar sobre ele, como sobre uma pedra, todo o edifício da Igreja.
Primeira Leitura: 1 Pedro 5, 1-4
Aos presbíteros que há entre vós, eu - presbítero como eles e que fui testemunha dos padecimentos de Cristo e também participante da glória que se há-de manifestar - dirijo-vos esta exortação: 2Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, governando-o não à força, mas de boa vontade, tal como Deus quer; não por um mesquinho espírito de lucro, mas com zelo; 3não com um poder autoritário sobre a herança do Senhor, mas como modelos do rebanho. 4E, quando o supremo Pastor se manifestar, então recebereis a coroa imperecível da glória.
O texto começa com uma autoapresentação do Apóstolo Pedro, que nos permite colher a sua identidade. Seguem-se algumas recomedações aos ansiãos que, com Pedro, carregam a honra e o peso das responsabilidades que Jesus lhe pôs sobre as costas (vv. 2s.). O Apóstolo transmite, não algo de seu, mas a missão que lhe foi confiada para ser partilhada e participada. Os que, na Igreja, são chamados a exercer um ministério hão-de deixar mover, não por interesse, mas por amor. A sua espiritualidade tem como caraterísticas o total serviço, a plena dedicação, a incondicionada fidelidade. Os que permanecerem fiéis receberão "a coroa imperecível da glória" das mãos do supremo Pastor (cf. v. 4).
Evangelho: Mateus 16, 13-19
Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» 14Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.»15Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» 16Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» 17Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. 18Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. 19Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.»
No nosso texto, Jesus começa por interrogar os discípulos sobre o que se diz sobre Ele. As respostas que dão são parcialmente válidas, mas inexatas. É então que Jesus interroga os discípulos sobre o que pensam dele. Responde Pedro, em nome de todos: "Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo." (v. 16). Estas palavras são uma profissão de fé total, completa, que já tem o sabor da fé pascal. Estas palavras revelam também a identidade de Pedro como crente e representante de todos os crentes.
Na segunda parte do texto, temos temos uma série de palavras com as quais Jesus define a sua relação com Pedro e o ministério do Apóstolo em relação à Igreja (vv. 17-19). Pedro é bem-aventurado porque falou sob inspiração divina. O nome novo que Jesus dá a Pedro indica a sua missão de "pedra" fundamental e sólida do edifício que é a Igreja, a comunidade dos salvos. A entrega das chaves simboliza que é com Pedro e por meio de Pedro que Cristo realiza a salvação de todos.Meditatio
«Quem dizem os homens que é o Filho do homem?»... «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Em nome dos Doze, Pedro responde à pergunta de Jesus, não segundo o ponto de vista dos homens, mas segundo o ponto de vista de Deus: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Por isso, Jesus replica, proclamando-o bem-aventurado: «És feliz, Simão, filho de Jonas». Mas essa resposta é fruto de uma iluminação especial de Deus: «não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu» - diz-lhe Jesus.
Pedro personifica a Igreja. A sua resposta será a da Igreja iluminada pelo Espírito no Pentecostes. Simão Pedro recebeu essa luz antecipadamente, por causa da missão que Cristo lhe queria confiar: «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus, e tudo quanto ligares na terra ficará ligado nos Céus, e tudo quanto desligares na terra será desligado nos Céus" (Mt 16, 18-19).» Bento XVI comenta assim estas palavras do Senhor: «As três metáforas às quais Jesus recorre são muito claras: Pedro será o fundamento, a rocha sobre o qual se apoiará o edifício da Igreja; ele terá as chaves do reino dos céus, para abrir ou fechar a quem melhor julgar; por fim, poderá ligar ou desligar, no sentido em que poderá estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja, que é e permanece a Igreja de Cristo. [...]
Esta posição de preeminência que Jesus decidiu conferir a Pedro verifica-se também depois da ressurreição (Mc 16, 7; Jo, 20, 2. 4-6). [...] Pedro será, entre os Apóstolos, a primeira testemunha de uma aparição do Ressuscitado (Lc 24, 34; 1 Cor 15, 5). Este seu papel, realçado com decisão (Jo 20, 3-10), marca a continuidade entre a preeminência obtida no grupo apostólico e a preeminência que continuará a ter na comunidade que nasceu depois dos acontecimentos pascais. [...] Vários textos-chave relativos a Pedro podem ser relacionados com o contexto da Última Ceia, no decurso da qual Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os seus irmãos (Lc 22, 31ss.). [...] Esta contextualização do primado de Pedro na Última Ceia, no momento da instituição da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido último deste primado: Pedro deve ser, para todos os tempos, o guardião da comunhão com Cristo; deve conduzir à comunhão com Cristo; deve preocupar-se por que a rede não se rompa (Jo 21, 11), para que possa perdurar a comunhão universal. Só juntos, podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro é, pois, a de garantir a comunhão com Cristo pela caridade de Cristo, conduzindo à realização desta caridade na vida de todos os dias».
Oratio
Senhor Jesus, quero hoje dar-te graças porque fundaste a Igreja sobre a pedra que é Pedro, para que seja na terra o sinal vivo da santidade do Pai, e anuncie a todos os povos o Evangelho do reino dos céus. Como Simão Pedro, quero dizer-te: afasta-te de mim que sou pecador, mas à tua palavra lançarei as redes; porque só és o Filho do Deus vivo, só tu tens palavras de vida eterna, só tu és a rocha segura, só tu és o Senhor e o Mestre. Sou fraco, muito fraco, mas com a tua graça darei a minha vida por ti, que sabes tudo, que sabes que te amo. Ámen.
Contemplatio
O dedo de Deus está bem marcado no estabelecimento da Religião cristã em Roma e na sua conservação há dezanove séculos. No seu estabelecimento, porque Deus se serviu de um pobre pescador galileu estranho às ciências profanas, sem recursos e sem apoios temporais para impor o jugo do Evangelho aos espíritos mais orgulhosos que jamais existiram, aos patrícios da velha Roma todos cheios de si mesmos, orgulhosos das suas riquezas e dados à sensualidade e ao prazer. Na sua conservação, porque nem as torrentes de sangue que os tiranos fizeram correr no circo e no coliseu, nem os assaltos da heresia tão frequentemente repetidos, nem o furor nem a corrupção dos homens nem as potências dos infernos conseguiram abalar esta pedra, centro e fundamento da Religião católica. Renovemos a nossa devoção e a nossa confiança para com a Igreja romana. Sejamos dóceis a todos os seus ensinamentos, a todas as suas direções. Amemo-la, veneremo-la tanto mais quanto mais ela for atacada e combatida. Rezemos pelo Soberano Pontífice e pela Igreja. (L. Dehon, OSP 3, p. 69s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16, 18).----
Cadeira de S. Pedro (22 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Sexta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Génesis 11, 1-9
Em toda a Terra, havia somente uma língua, e empregavam-se as mesmas palavras. 2Emigrando do oriente, os homens encontraram uma planície na terra de Chinear e nela se fixaram. 3Disseram uns para os outros: «Vamos fazer tijolos, e cozamo-los ao fogo.» Utilizaram o tijolo em vez da pedra, e o betume serviu-lhes de argamassa. 4Depois disseram: «Vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. Assim, havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da Terra.» 5O Senhor, porém, desceu, a fim de ver a cidade e a torre que os homens estavam a edificar. 6E o Senhor disse: «Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos. 7Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros.» 8E o Senhor dispersou-os dali por toda a superfície da Terra, e suspenderam a construção da cidade. 9Por isso, lhe foi dado o nome de Babel, visto ter sido lá que o Senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da Terra, e foi também dali que o Senhor os dispersou por toda a Terra.
O javista, tal como o P, faz proceder dos três filhos de Noé todos os povos conhecidos. Assim expressa a sua convicção sobre a unidade humana, apesar da diversidade com que se apresenta. Esta unidade na diversidade faz parte do desígnio ordenado à edificação do reino de Deus na história. Deus quer a diversidade e a dispersão das nações sobre a terra. O episódio da cidade e da torre de Babel, por sua vez, representa a tentação humana, sempre recorrente, de fugir ao desígnio original de Deus, ao criar o mundo e o homem. Os homens temem a dispersão. Por isso, querem ter uma cidade e uma torre, um nome e uma fama, uma unidade linguística e política, que evitem ou dificultem a dispersão, e façam deles um "império".
A descida de Deus para lhes confundir a linguagem não é um gesto punitivo, mas um acto de pura condescendência. Deus quer repor o seu projecto original, porque isso é importante para os homens, mesmo que o não compreendam já. A variedade dos povos sobre a terra não é fruto de uma condenação imposta por Deus. É fruto da sua condescendência e benevolência em relação ao homem.Evangelho: Marcos 8, 34 - 9, 1
Naquele tempo, Jesus, chamando a si a multidão, juntamente com os discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 35Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la. 36Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? 37Ou que pode o homem dar em troca da sua vida? 38Pois quem se envergonhar de mim e das minhas palavras entre esta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.» 1Disse-lhes também: «Em verdade vos digo que alguns dos aqui presentes não experimentarão a morte sem terem visto o Reino de Deus chegar em todo o seu poder.»
Jesus quer afastar definitivamente a tentação de uma cristologia e de uma eclesiologia «satânicas», isto é, de uma cristologia e de uma eclesiologia que não aceitassem Jesus como filho do homem, que pretendessem «salvar a vida» por outros caminhos que não o da cruz. Por isso, chama, não só os «discípulos», mas também «a multidão» (v. 34). Estando Jesus nas imediações de Cesareia de Filipe, esta multidão era formada sobretudo por pagãos. Parece, pois, que Jesus queria deixar bem claro, para todos, o futuro que os esperava como discípulos. Quem quiser seguir Jesus não pode pretender para si o lugar central, mas há-de cedê-lo a Jesus, dando-Lhe o primado em tudo, também sobre a própria vida. Há que tomar a cruz e, seguindo os passos de Jesus, sair com Ele da cidade, rumo ao suplício. Só ganha a Vida - que é Jesus - quem estiver disposto a renunciar a si mesmo. E para que serve ter tudo, se não se ganha a Vida?
É agora, durante a nossa vida terrena, «entre esta geração adúltera e pecadora» (v. 37), que somos chamados a dar testemunho de Cristo. Se não nos envergonharmos dele, nem das suas palavras, também Ele não se envergonhará de nós e nos reconhecerá como seus.Meditatio
Os homens, reunidos no vale de Chinear, querem construir uma cidade e uma torre. Provavelmente não querem desafiar a Deus, chegar ao céu. Querem evitar, a todo o custo, a dispersão, porque temem o novo, o diferente, o original. Querem refugiar-se no que lhes é familiar, sempre igual, seguro. Tem medo que a dispersão lhes traga a morte. Querem «tornar-se famosos» para fugirem à morte, para salvarem a própria vida. Deixam-se levar pelo instinto da sobrevivência, pelo instinto do domínio sobre os outros. Querem «salvar a própria vida», como dirá Jesus. Mas é mesmo a dispersão, o dar a vida, que entram no projecto salvífico de Deus. A fama e o poder não passam de um mísero antídoto contra a morte. Não só a não evita, mas aumenta-lhe as dimensões, tornando-as cada vez mais assustadoras. A grandeza do «nome», a fama, apenas aumenta o poder da morte. Jesus ensina aos discípulos esta verdade paradoxal: «Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?» (Mc 8, 36). Que benefícios trazem para os homens as grandes realizações, as empresas gigantescas, as torres de Babel de todas as gerações, se o preço a pagar por elas é a perda da integridade pessoal, e a total desorientação diante da morte? A vocação original do homem está em fazer comunhão na diferença, no fecundo abandono ao projecto inicial de Deus. Por isso é que Deus não pode aceitar iniciativas como as de Babel. Quando o homem quer salvar a sua vida, perde-a. Quando é capaz de a dar, de renegar a si mesmo, salva-a.
Todos queremos afirmar-nos diante dos outros. Por isso, temos dificuldade em aceitar que a verdadeira afirmação passa por se perder, por se entregar por amor. Entregar-se por amor, implica, muitas vezes renegar a si mesmo, Não é conquistá-lo, dominá-lo, mas acolhê-lo com humildade, tal como é.
Perante a reacção dos outros dez apóstolos contra os dois irmãos, para quem a mulher de Zebedeu pedia privilégios, Jesus esclarece que a verdadeira grandeza está em servir, que a Sua missão e a deles é uma missão de entrega, de serviço desinteressado: «Quem quiser ser grande entre vós faça-se vosso servo, e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se escravo de todos. Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos» (Mc 10, 43-45).Oratio
Senhor Jesus, que no
s abriste o mistério da salvação encerrado no teu Coração quando disseste: quem tem sede venha a mim e beba, porque do meu Coração brotarão rios de água viva (Cf. Jo 7, 3-38) - nós Te reconhecemos como nosso Redentor e única fonte de vida para a humanidade submetida ao poder da morte. Do teu Coração trespassado na cruz nasceu o homem de coração novo, animado pelo teu Espírito e liberto da escravidão do pecado. Redimidos como todos os homens, fazemos profissão de tender à caridade perfeita, consagrando-nos inteiramente ao amor do Pai e dos irmãos. Queremos estar disponíveis para servir o teu Reino, onde e como o Pai dispuser. Por isso, novamente nos entregamos a Ti, em espírito de amor, de imolação e de serviço, segundo a nossa vocação. Amen.Contemplatio
S. Francisco Xavier estava em perigo de se perder. Tinha tido sucessos nos seus estudos. Ensinava brilhantemente. A ambição tomava conta dele. Escutava jovens alemães, que faziam propaganda em Paris das doutrinas novas de Lutero. Queria conciliar a vã glória e o amor do mundo com o cristianismo. Mas Santo Inácio ganhou a sua afeição e repetiu-lhe muitas vezes esta palavra: «Que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem depois a perder a sua alma?». Depois de violentos combates interiores, Xavier rendeu-se às impressões da graça e deixou-se guiar por Santo Inácio, que o conduzia à vida de oração e ao desapego do mundo. Fizeram o voto em Montmartre de irem colocar-se ao serviço do Papa para todas as obras que ele achasse por bem confiar-lhes. Em Veneza, Xavier colocado no hospício dos incuráveis, passava as noites em orações, depois de ter empregado o dia a prestar aos doentes os serviços mais humilhantes. Ligava-se de preferência aos que tinham doenças contagiosas. Que abnegação! Que generosidade! Que contraste com a sua vida mundana! Pratiquemos o desprezo pelo mundo segundo a nossa vocação. É assim que conseguimos graças, consolações e frutos de salvação. (Leão Dehon, OSP4, p. 519)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem quiser ser grande entre vós, faça-se escravo de todos» (Mc 10, 43s.)._________________
Comentários litúrgicos a cargo de Fernando Fonseca, scj
- S. Policarpo, Bispo e Mártir
S. Policarpo, Bispo e Mártir
S. Policarpo foi discípulo de S. João Evangelista e por ele colocado à frente da igreja de Esmirna, como bispo. Foi também amigo de S. Inácio de Antioquia, que hospedou em sua casa, quando ele se dirigia para Roma, onde viria a ser martirizado. E foi Inácio que o definiu como "bom pastor com fé inabalável" e "forte atleta por causa de Cristo". Este juízo foi totalmente confirmado no ano 155, quando o corajoso bispo de Esmirna enfrentou o martírio pelo fogo, no estádio da cidade. A sua morte trouxe para a Igreja, como o seu nome indica "muito fruto".
Lectio
Primeira leitura: Apocalipse 2, 8-11
Ao anjo da igreja de Esmirna escreve: «Isto diz o Primeiro e o Último, aquele que estava morto, mas reviveu: 9'Conheço as tuas tribulações e a tua pobreza; no entanto, és rico. Também conheço as calúnias dos que se dizem judeus, mas que não são mais que uma sinagoga de Satanás. 10Não temas nada do que vais sofrer. Eis que o Diabo vai lançar alguns de vós na prisão para vos provar. Sereis atribulados durante dez dias. Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida.' 11Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Aquele que vence não será vítima da segunda morte.
Cristo ressuscitado dita ao vidente do Apocalipse sete cartas para as sete igrejas da Ásia Menor, dirigindo-as aos seus "anjos", isto é, aos seus bispos. Hoje escutamos a mensagem enviada à igreja de Esmirna, que foi bem aceite por Policarpo, seu bispo na época imediatamente sucessiva à dos apóstolos. O santo bispo enfrentou corajosamente os sofrimentos, superou a provação, foi fiel até à morte. Assim se tornou participante do mistério pascal de Cristo. Depois de o celebrar durante muitos anos no sacrifício eucarístico, tornou-o visível no seu próprio corpo, pelo martírio.
Evangelho: da féria ou do Comum
Meditatio
S. Policarpo teve a felicidade de conhecer e de abraçar a religião cristã desde a juventude. Foi nela instruído pelos próprios apóstolos, e particularmente por S. João evangelista, que o estabeleceu depois bispo de Esmirna. Governou a Igreja de Esmirna durante sessenta e dois anos. O brilho das suas virtudes fazia com que fosse visto como o chefe e o primeiro dos bispos da Ásia. Os fiéis reverenciavam-no, esforçavam-se por lhe tirarem os seus sapatos no regresso das suas viagens apostólicas, considerando uma graça prestarem-lhe um pequeno serviço. Formou vários discípulos, como ele mesmo tinha sido formado pelos apóstolos. Santo Ireneu, bispo de Lião, foi deste número. «Tenho ainda presente no espírito, diz este santo, a gravidade do seu caminhar, a majestade do seu rosto, a pureza da sua vida e as santas exortações com que alimentava o seu povo. Parece-me que ainda o ouço dizer como tinha conversado com S. João, e com vários outros que tinham visto Jesus Cristo, as palavras que tinha escutado das suas bocas e as particularidades que tinha aprendido dos milagres e da doutrina deste divino Salvador. Tudo o que acerca disto dizia era absolutamente conforme às divinas Escrituras, como sendo transmitido por aqueles que tinham sido as testemunhas oculares do Verbo, da palavra de vida» ... A virtude é sempre provada. Nosso Senhor, no Apocalipse, descreve as provações do nosso grande santo: «Conheço a tua tribulação e a tua pobreza - e no entanto és rico - e sei que és difamado pelos que se dizem judeus, mas não são mais do que uma sinagoga de Satanás. Não temas os sofrimentos que te esperam. O diabo vai meter alguns de vós na prisão, para serdes postos à prova; e sereis atribulados durante dez dias. Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida.» O povo enganado pediu a sua morte, como tinha feito para Cristo. Procuraram o santo no seu modesto quarto. Teria podido salvar-se, mas não quis. «Que se faça a vontade de Deus!», diz. Os guardas queriam persuadi-lo a oferecer incenso aos ídolos e a César para salvar a sua vida. «Não posso», disse-lhes simplesmente. Como Jesus, foi conduzido ao suplício, bruscamente e sem considerações. Caiu e levantou-se pelo caminho. No anfiteatro, ouviram uma voz do céu que dizia: «Coragem, Policarpo, sê firme!» O magistrado pressionou-o em vão para que renunciasse a Jesus Cristo. «Há oitenta e seis anos que o sirvo, diz o santo, e nunca me fez mal». O povo gritava: «É o chefe dos cristãos, o destruidor dos nossos deuses; foi ele que ensinou a muitos a não mais os adorarem". Teriam querido que o entregassem aos leões, mas o espetáculo público tinha terminado. Condenaram-no ao fogo. O povo correu a procurar madeira nas lojas e nos banhos públicos e preparou uma grande fogueira. (Leão Dehon, OSP 3, p. 92s.).
Policarpo, segundo a palavra de Paulo, "oferecei os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus" (Rm 12, 1), fez de si mesmo, uma oblação a Deus. A eucaristia que celebrava no altar plasmou totalmente a sua vida e a sua morte. O seu martírio foi uma verdadeira celebração litúrgica.Oratio
Grande santo, ajudai-me. Vós sois uma testemunha do amor do Coração de Jesus, aceso na vossa alma pelo apóstolo S. João. Ajudai-me a amar o Coração de Jesus, a imitar as suas virtudes de humildade, de mansidão, de generosidade, a sofrer com Ele e por Ele, esperando a hora de ir gozar na sua presença. (Leão Dehon, OSP 3, p. 94).
Contemplatio
Aconteceu a S. Policarpo o que tinha acontecido ao seu mestre S. João, o fogo do seu coração ultrapassou e extinguiu o fogo material com que o envolviam. Tinha-se entregue ao suplício. Como o quisessem pregar a um poste, disse: «Deixai-me; aquele que me dá a força para sofrer o fogo, dar-me-á a graça de permanecer firme na fogueira, sem o socorro dos vossos pregos». Contentaram-se em ligá-lo com cordas. Assim amarrado, ergueu os seus olhos ao céu e disse: «Senhor, Deus todo poderoso, dou-vos graças pelo que me haveis concedido neste dia, por entrar no número dos vossos mártires e tomar parte no cálice do vosso Cristo, a fim de que eu ressuscite para a vida eterna. Que eu seja admitido hoje com eles na vossa presença, como uma vítima de agradável odor, tal como a haveis preparado, predito e cumprido, vós que sois o verdadeiro Deus; eu vos bendigo, vos glorifico pelo pontífice eterno e celeste, Jesus Cristo vosso filho, ao qual seja dada glória, assim como a vós e ao Espírito Santo, agora e em toda a eternidade. Ámen!» Quanto disse ámen, acenderam o fogo, mas por um milagre surpreendente, a chama, em vez de consumir o santo mártir, estendeu-se à volta dele como a vela de um barco enfunada pelo vento. Os pagãos, vendo que o fogo se recusava a servi-los, mandaram ferir o santo com um golpe de espada e o seu sangue extinguiu a fogueira. (Leão Dehon, OSP 3, p. 93s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Recebei-me, Senhor, como oblação de suave odor" (S. Policarpo).----
S. Policarpo, Bispo e Mártir (23 Fevereiro)Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - SábadoTempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 11, 1-7
Irmãos: A fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem. 2Foi por ela que os antigos foram aprovados. 3Pela fé, sabemos que o mundo foi organizado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê provém de coisas não visíveis. 4Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício maior que o de Caim; com base nela, foi declarado justo, porque Deus aceitou os seus dons e, por meio dela, fala ainda depois da morte. 5Pela fé, Henoc foi arrebatado, para não ver a morte, e não foi encontrado porque Deus o tinha levado. Porém, antes de ser levado, obtivera o testemunho de que tinha agradado a Deus. 6Ora, sem a fé é impossível agradar-lhe; e quem se aproxima de Deus tem de acreditar que Ele existe e recompensa aqueles que o procuram. 7Pela fé, Noé, avisado acerca de coisas que ainda se não viam, e, tomando o aviso a sério, construiu uma Arca para salvar a sua família; por essa fé, condenou o mundo e tornou-se herdeiro da justiça que se obtém pela fé.
O autor da carta aos Hebreus resume toda a história da salvação fazendo desfilar diante de nós as suas principais figuras e protagonistas. Porque está preocupado em dar-nos uma definição de fé, o autor sublinha apenas esse aspecto. As figuras apresentadas são nossos pais e mães na fé. Partindo da história das origens, passando pelos Patriarcas, Moisés e, mais sumariamente, os profetas e reis, chega finalmente a Jesus, que é o «autor e consumador da fé» (Heb 12, 2). «Autor e aperfeiçoador», como dizem mais eloquentemente os textos gregos, equivale a "princípio e fim": Jesus é o ponto inicial e o ponto terminal da história. Só Ele nos permite resumi-la, recapitulá-la de modo sintético e eficaz. Isto quer dizer que a fé de Jesus, a fé actuada e levada à plenitude por Ele, já actuava nas personagens bíblicas que, historicamente, O precederam.
O nosso texto menciona três "justos", que encontramos na história das origens da humanidade, antes da vocação de Abraão: Abel, Henoc e Noé. Todos se tornaram herdeiros da «justiça que se obtém pela fé» (v. 7), fruto da sua capacidade de ver para além do visível. A história das origens (cf. Gn 1-11) pretende ligar o génesis e os desenvolvimentos do pecado humano à graça de Deus que o previne e perdoa. Mas só quem sabe olhar mais além do que o aparente senhorio das forças do mal, é um homem de fé, capaz de organizar a sua vida de modo contrário ao do mundo, isto é, e viver na justiça.Evangelho: Marcos 9, 2-13
Naquele tempo, Jesus, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, só a eles, a um monte elevado. E transfigurou-se diante deles. 3As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma da terra as poderia branquear assim. 4Apareceu-lhes Elias, juntamente com Moisés, e ambos falavam com Ele. 5Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: «Mestre, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.» 6Não sabia que dizer, pois estavam assombrados. 7Formou-se, então, uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.» 8De repente, olhando em redor, já não viram ninguém, a não ser só Jesus, com eles. 9Ao descerem do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, senão depois de o Filho do Homem ter ressuscitado dos mortos. 10Eles guardaram a recomendação, discutindo uns com os outros o que seria ressuscitar de entre os mortos.11E fizeram-lhe esta pergunta: «Porque afirmam os doutores da Lei que primeiro há-de vir Elias?» 12Jesus respondeu-lhes: «Sim; Elias, vindo primeiro, restabelecerá todas as coisas; porém, não dizem as Escrituras que o Filho do Homem tem de padecer muito e ser desprezado? 13Pois bem, digo-vos que Elias já veio e fizeram dele tudo o que quiseram, conforme está escrito.»
Pedro professou a sua fé, em nome da Igreja. Jesus anunciou a cruz como seu destino e daqueles que O quisessem seguir. Agora intervém o Pai para confirmar a missão do Filho. Jesus vai a caminho de Jerusalém onde irá dar a sua vida para glória do Pai e nossa salvação. A Transfiguração confirma a justeza da sua decisão e da decisão dos discípulos em segui-l´O.
Na narração encontramos os elementos típicos das teofanias: o monte alto, a glória, a nuvem luminosa, as tendas, a voz. A presença de Moisés e de Elias confirmam que Jesus é o profeta definitivo, o Messias esperado. A voz que se ouve é dirigida, não só ao Filho, mas também a todos quantos a ouvem e é a apresentação oficial que o Pai faz aos discípulos chamados a ser testemunhas da agonia. O destino de Jesus está a realizar-se. O segredo messiânico será completamente revelado na Ressurreição.
Mas os discípulos, testemunhas privilegiadas da intimidade filial entre Jesus e o Pai, e com os grandes amigos de Deus do Antigo Testamento, não conseguem acreditar que o Messias deva morrer e ressuscitar. Jesus tem de intervir para afirmar que Elias já veio na pessoa de João Baptista, e que já passou pelo sofrimento e pela morte, que são passagem obrigatória para quem pretende alcançar a glória.Meditatio
O autor da Carta aos Hebreus vê a fé em todas as páginas do Antigo Testamento. Depois de nos dar uma definição muito sintética e sugestiva da mesma fé, faz desfilar diante de nós, como exemplo e como estímulo, uma série de figuras e protagonistas da história da salvação. «A fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem» (v. 1), afirma o autor. É o fundamento consistente de tudo: do sacrifício de Abel, do arrebatamento de Henoch - que é figura da ressurreição de Cristo - e da salvação de Noé, que, pela fé na palavra de Deus, construiu uma arca de salvação para a sua família. Tudo tem fundamento na fé. Pela fé, tornam-se desde já actuais, ainda que de modo imperfeito, as coisas esperadas. A fé permite ver mesmo aquilo que não se vê, ainda que de modo enigmático, como num espelho.
A definição da fé como garantia e como certeza, ou, se preferirmos, como fundamento e como prova das coisas que se esperam, é importante para compreendermos o mistério da transfiguração de Jesus. De facto, na transfiguração de Jesus, a glória futura, a glória esperada, é já possuída, por uma singularíssima antecipação. E as realidades invisíveis, como a contemporaneidade de Moisés, Elias e Jesus no reino dos céus, tornam-se experienciáveis. Mas, tudo isto, na fé de Jesus, e também na nossa. Na vida dos discípulos, como na do Mestre, podem dar-se antecipa
ções da glória a que estamos destinados, momentos de real experiência das coisas invisíveis. Tudo depende da graça de Deus e da nossa fé. Podem ser apenas cintilas de luz. Mas serão suficientes para esclarecer tantas dúvidas, para iluminar toda a nossa existência, até ao momento de vermos as coisas que ainda não vemos, e estarmos certos daquelas que esperamos.
Segundo o autor da Carta aos Hebreus, Jesus é o «autor e consumador da fé» (12, 2). Na Transfiguração, a visão esplendorosa de Jesus, luz do mundo que tudo ilumina, enche Pedro, Tiago e João, de uma felicidade que jamais tinham experimentado, e deu maior consistência à sua fé em Jesus. As cintilações do Senhor, em determinados momentos da nossa vida, fazem-nos sentir a mesma alegria indescritível e irradiante de que fala Pedro (1 Pe 1, 8), e dão apoio à nossa fé no Senhor. Apoiados em Jesus, podemos estar em comunhão com Pai, em verdadeiro amor. Sem o fundamento da fé em Jesus, o nosso amor é vão. Se pretendemos caminhar para a perfeição, sem nos apoiarmos em Jesus, jamais a alcançaremos: «Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me» (Mt 19, 21).Oratio
Senhora, Mãe de Jesus e minha mãe, faz crescer em mim uma fé profunda em Jesus. Que a comunhão com Ele esteja na base de todos os meus pensamentos e acções. Que eu saiba renegar a mim mesmo para me apoiar unicamente no autor e consumador da fé, o teu bendito Filho, Jesus. N´Ele reencontrarei tudo, com a alegria irreprimível e gloriosa, semelhante àquela que experimentarem os três Apóstolos, no alto do Tabor. Ajuda-me, Senhora, mestra e mãe da fé, Amen.
Contemplatio
S. Pedro ainda falava, quando uma nuvem luminosa, símbolo da presença e da Majestade divina, envolveu Jesus e os profetas. Os apóstolos foram tomados de medo ao verem Moisés e Elias entrarem na nuvem, e desta saiu uma voz que dizia: «Este é o meu Filho bem-amado, no qual pus todo o meu enlevo, escutai-o». Era a voz de Deus Pai, que afirmava de novo a missão messiânica de Jesus, como já o tinha feito na margem do Jordão. - É o meu filho, escutai-o, isto é: proclamo hoje diante de vós que Ele é o soberano legislador e profeta, falando aos homens com a autoridade de um Deus, e ao qual deveis fé e obediência. Escutai-O. Ele promulgará a lei nova; fundará a Igreja para suceder à sinagoga; dará as regras da fé e da vida moral e ascética, escutai-O. Os três apóstolos assustados tinham-se prostrado com a face por terra. Mas Jesus aproximou-se, tocou-lhes e disse: Levantai-vos, não temais. - E eles, reanimados pela doce voz do seu divino Mestre, ergueram os olhos e não viram mais ninguém, senão Jesus. Escutai-O. É todo o fruto deste mistério. Como os três apóstolos ficaram por ele penetrados! E eu, será que eu escuto o divino Mestre? Será que eu o escuto praticamente? Ele fala-me pela Igreja, pela tradição, pela graça, pelos meus superiores e directores. (Leão Dehon, OSP3, p. 251s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«A fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem» (Heb 11, 1)._________________
Comentários litúrgicos a cargo de Fernando Fonseca, scj
- 07º Domingo do Tempo Comum – Ano C
07º Domingo do Tempo Comum – Ano C
ANO C
7.º DOMINGO DO TEMPO COMUMTema do 7.º Domingo do Tempo Comum
A liturgia deste domingo exige-nos o amor total, o amor sem limites, mesmo para com os nossos inimigos. Convida-nos a pôr de lado a lógica da violência e a substituí-la pela lógica do amor.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo concreto de um homem de coração magnânimo (David) que, tendo a possibilidade de eliminar o seu inimigo, escolhe o perdão.
O Evangelho reforça esta proposta. Exige dos seguidores de Jesus um coração sempre disponível para perdoar, para acolher, para dar a mão, independentemente de quem esteja do outro lado. Não se trata de amar apenas os membros do próprio grupo social, da própria raça, do próprio povo, da própria classe, partido, igreja ou clube de futebol; trata-se de um amor sem discriminações, que nos leve a ver em cada homem – mesmo no inimigo – um nosso irmão.
A segunda leitura continua a catequese iniciada há uns domingos atrás sobre a ressurreição. Podemos ligá-la com o tema central da Palavra de Deus deste domingo – o amor aos inimigos – dizendo que é na lógica do amor que preparamos essa vida plena que Deus nos reserva; e que o amor vivido com radicalidade e sem limitações é um anúncio desse mundo novo que nos espera para além desta terra.LEITURA I – 1 Sam 26, 2.7-9.12-13.22-23
Leitura do Primeiro Livro de Samuel
Naqueles dias,
Saul, rei de Israel, pôs-se a caminho
e desceu ao deserto de Zif
com três mil homens escolhidos de Israel,
para irem em busca de David no deserto.
David e Abisaí penetraram de noite no meio das tropas:
Saul estava deitado a dormir no acampamento,
com a lança cravada na terra à sua cabeceira;
Abner e a sua gente dormia à volta dele.
Então Abisaí disse a David:
«Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo.
Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança
e não terei de o atingir segunda vez».
Mas David respondeu a Abisaí:
«Não o mates.
Quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor
e ficar impune?»
David levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil
e os dois foram-se embora.
Ninguém viu, ninguém soube, ninguém acordou.
Todos dormiam, por causa do sono profundo
que o Senhor tinha feito cair sobre eles.
David passou ao lado oposto
e ficou ao longe, no cimo do monte,
de sorte que uma grande distância os separava.
Então David exclamou:
«Aqui está a lança do rei.
Um dos servos venha buscá-la.
O Senhor retribuirá a cada um segundo a sua justiça e fidelidade.
Ele entregou-te hoje nas minhas mãos
e eu não quis atentar contra o ungido do Senhor».AMBIENTE
A primeira leitura, tirada do primeiro Livro de Samuel, faz parte de um conjunto de tradições que descrevem a história da ascensão de David ao trono (1 Sam 16 – 2 Sam 6). Neste texto, apresenta-se um episódio emblemático que precede a chegada de David ao poder. Escolhido por Deus, mas perseguido pelo ciumento rei Saul, David tem de fugir para salvar a sua vida, enquanto espera que se cumpram os desígnios de Deus. Um dia, David tem a possibilidade de matar Saul e acabar com a perseguição; mas recusa-se a erguer a mão contra “o ungido do Senhor”. Este quadro situa-nos por volta de 1015 a.C.
O livro de Samuel não é, primordialmente, um livro de história, mas um livro de teologia; assim, é impossível dizer o que é rigorosamente histórico neste conjunto de tradições e o que é catequese. Podemos dizer, a propósito do episódio que a liturgia de hoje nos propõe, que os autores deuteronomistas, responsáveis pela redação e edição da obra histórica que vai de Josué a 2 Reis, estão, sobretudo, preocupados com uma finalidade teológica: apresentar David como o rei ideal, corajoso mas de coração magnânimo, o protótipo do homem que não se afasta dos caminhos de Deus, que pela sua bondade e misericórdia atrai para si e para o seu Povo as bênçãos de Jahwéh.MENSAGEM
O texto põe frente a frente duas formas de lidar com aquilo que nos agride e nos violenta. De um lado, está a atitude agressiva, que paga na mesma moeda, que responde à violência com uma violência igual ou ainda maior e que pode chegar, inclusive, à eliminação física do nosso agressor… Esta é a atitude de Abisai.
Do outro lado, está a atitude de quem recusa entrar numa lógica de agressão e se propõe perdoar, evitando que a espiral de violência atinja níveis incontroláveis… Essa é a atitude de David.
É evidente que é a atitude de David que os teólogos deuteronomistas sugerem aos crentes. David é apresentado como o protótipo do homem bom, que pode vingar-se do agressor, mas não o faz, pois sabe que a vida do outro é sagrada e inviolável. Não é espantoso que, cerca de mil anos antes de Cristo, numa época de grande brutalidade, a catequese de Israel ensine que o perdão é a única saída para a violência? Não é espantosa esta certeza de que a vida do outro – mesmo a do nosso agressor – pertence a Deus e que só Deus tem direitos sobre ela?ATUALIZAÇÃO
Ter em conta as seguintes linhas:
• A lógica da violência tem feito parte da história humana. Nos últimos cem anos conhecemos duas guerras mundiais e um sem número de conflitos resultantes dessa lógica. Como resultado, foram mortos muitos milhões de seres humanos e o mundo conheceu sofrimentos inqualificáveis. Depois disso, o medo de um holocausto nuclear traz-nos em suspenso e a violência quotidiana atinge, todos os dias, um número significativo de pessoas inocentes. Onde nos leva esta lógica? Ela não provou já os seus limites? Ainda acreditamos que a violência seja o princípio de um mundo melhor?
• É necessário também aplicarmos a reflexão sobre a violência à nossa vida pessoal… Como me situo face à lógica da violência e da agressão? Quando alguém tem pontos de vista diferentes dos meus, grito mais alto para o vencer, ou utilizo a violência física? Agrido-o na sua honra e na sua dignidade, se não puder vencê-lo pela força dos argumentos? A minha lógica é a do “olho por olho, dente por dente”, ou é a lógica do perdão e do amor?
• Qual a minha atitude face a esse valor supremo que é a vida humana? Há algo que justifique a morte do inimigo, a cadeira elétrica, a injeção letal, o tiro na nuca, o atentado terrorista, o enforcamento? À luz da Palavra de Deus que hoje nos é proposta, justifica-se a eliminação legal de pessoas (pena de morte)?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103)
Refrão 1: O Senhor é clemente e cheio de compaixão.
Refrão 2: Senhor, sois um Deus clemente e compassivo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades;
salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia.O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade;
não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas.Como o Oriente dista do Ocidente,
assim Ele afasta de nós os nossos pecados;
como um pai se compadece dos seus filhos,
assim o Senhor Se compadece dos que O temem.LEITURA II – 1 Cor 15, 45-49
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
O primeiro homem, Adão, foi criado como um ser vivo;
o último Adão tornou-se um espírito que dá vida.
O primeiro não foi o espiritual, mas o natural;
depois é que veio o espiritual.
O primeiro homem, tirado da terra, é terreno;
o segundo homem veio do Céu.
O homem que veio da terra
é o modelo dos homens terrenos;
O homem que veio do Céu
é o modelo dos homens celestes.
E assim como trouxemos em nós a imagem do homem terreno,
procuremos também trazer em nós a imagem do homem celeste.AMBIENTE
O texto que nos é proposto como segunda leitura integra uma passagem mais ampla (cf. 1 Cor 15, 35-53), onde Paulo reflete sobre o “modo” da ressurreição. Como ressuscitarão os mortos? As crenças judaicas do tempo concebiam o mundo dos ressuscitados como uma continuação do mundo presente; no momento da ressurreição, dizia a crença judaica, todos recuperarão o corpo que tinham neste mundo. Evidentemente, tais representações não podiam ser facilmente aceites pelos espiritualistas de Corinto (recordar que, para os gregos, o corpo era uma realidade material, sensual, carnal, que não podia ter acesso ao mundo ideal e espiritual).
Que pensa Paulo de tudo isto? Ainda que saiba estar a mover-se num terreno misterioso, Paulo não se esquiva à questão e apresenta uma série de reflexões que podem ser clarificadoras para os seus interlocutores coríntios.MENSAGEM
A afirmação básica de Paulo é que os mortos serão objeto de uma profundíssima transformação para chegar ao estado de ressuscitados. Não se pode falar, sem mais, de uma simples continuidade entre o corpo terrestre e o corpo ressuscitado. Ambos são corpos, mas as suas caraterísticas são claramente distintas, opostas até.
Para explicar isto, Paulo recorre à figura de Adão. De um lado, está o primeiro Adão, tirado do barro, homem terreno e mortal, que é o modelo da nossa humanidade enquanto caminhamos neste mundo. Do outro, está o segundo Adão (Cristo ressuscitado) que, por ação do Espírito, se torna “corpo espiritual”. O modelo a que devem equiparar-se os crentes é o do segundo Adão, Jesus ressuscitado: incorporados pelo batismo em Cristo, os crentes equiparar-se-ão a Cristo ressuscitado e serão, como Ele, um “corpo espiritual”. O que é esse “corpo espiritual”? Paulo não o explica; mas, na tradição bíblica, “espírito” não é sinónimo de imaterialidade, mas sim de força, de vitalidade, de poder, de criatividade.
Portanto, falar da nossa ressurreição é falar desse estado em que seremos um “corpo espiritual”, à imagem de Cristo ressuscitado. Nesse “corpo espiritual” estará presente o homem inteiro, dotado de novas qualidades – as qualidades do Homem Novo.ATUALIZAÇÃO
Considerar, para reflexão, as seguintes questões:
• A ressurreição aparece, nesta perspetiva, como a passagem para uma nova vida, onde continuaremos a ser nós próprios, mas sem os limites que a materialidade do nosso corpo nos impõe. Será a vida em plenitude ou, como diz Karl Rahner, “a transposição no modo de plenitude daquilo que aqui vivemos no modo de deficiência”. A morte é o fim da vida; mas fim entendido como meta alcançada, como plenitude atingida, como nascimento para um mundo infinito, como termo final do processo de hominização, como realização total da utopia da vida plena. Sendo assim, haverá alguma razão para temermos a morte ou para vermos nela o fim de tudo – uma espécie de barreira que põe definitivamente fim à comunhão com aqueles que amamos?
• Mais uma vez convém recordar que ver a morte e a ressurreição na perspetiva da fé é libertarmo-nos do medo: medo de agir, medo de atuar, medo de denunciar as forças de morte que oprimem os homens e desfeiam o mundo… Que temos a perder, quando nos espera a vida plena, o mergulho no horizonte infinito de Deus – onde nem o ódio, nem a injustiça, nem a morte podem pôr fim a essa vida total que Deus reserva aos que percorreram, neste mundo, os caminhos do amor e da paz?
ALELUIA – Jo 13, 24
Aleluia. Aleluia.
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.EVANGELHO – Lc 6, 27-38
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
Jesus falou aos seus discípulos, dizendo:
«Digo-vos a vós que Me escutais:
Amai os vossos inimigos,
fazei bem aos que vos odeiam;
abençoai os que vos amaldiçoam,
orai por aqueles que vos injuriam.
A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra;
e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica.
Dá a todo aquele que te pedir
e ao que levar o que é teu, não o reclames.
Como quereis que os outros vos façam,
fazei-lho vós também.
Se amais aqueles que vos amam,
que agradecimento mereceis?
Também os pecadores amam aqueles que os amam.
Se fazeis bem aos que vos fazem bem,
que agradecimento mereceis?
Também os pecadores fazem o mesmo.
E se emprestais àqueles de quem esperais receber,
que agradecimento mereceis?
Também os pecadores emprestam aos pecadores,
a fim de receberem outro tanto.
Vós, porém, amai os vossos inimigos,
fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca.
Então será grande a vossa recompensa
e sereis filhos do Altíssimo,
que é bom até para os ingratos e os maus.
Sede misericordiosos,
como o vosso Pai é misericordioso.
Não julgueis e não sereis julgados.
Não condeneis e não sereis condenados.
Perdoai e sereis perdoados.
Dai e dar-se-vos-á:
deitar-vos-ão no regaço uma boa medida,
calcada, sacudida, a transbordar.
A medida que usardes com os outros
será usada também convosco».AMBIENTE
Continuamos no horizonte do “discurso da planície” que começámos a ler no passado domingo. As “bem-aventuranças” (cf. Lc 6, 20-26) propunham aos seguidores de Jesus uma dinâmica nova, diferente da dinâmica do mundo; na sequência, Jesus exige aos seus uma transformação dos próprios sentimentos e atitudes, de forma que o amor ocupe sempre o primeiro lugar.
MENSAGEM
A exigência de amar e perdoar não é uma novidade radical inventada por Jesus. O Antigo Testamento já conhecia a exigência de amar o próximo (cf. Lv 19, 18); no entanto, essa exigência aparecia com limitações. Normalmente, o amor e o perdão ao inimigo apareciam limitados aos adversários israelitas (cf. 1 Sam 24, 26), aos compatriotas, àqueles a quem o crente vétero-testamentário estava ligado por laços étnicos, sociais, familiares, religiosos. Em contrapartida, o ódio ao inimigo – a esse que não fazia parte do mesmo povo nem da mesma raça – parecia, para o Antigo Testamento, algo natural (cf. Sal 35).
Jesus vai muito mais além do que a doutrina do Antigo Testamento. Para Ele, é preciso amar o próximo; e o próximo é, sem exceção, o outro – mesmo o inimigo, mesmo o que nos odeia, mesmo aquele que nos calunia e amaldiçoa, mesmo aquele de quem a história ou os ódios ancestrais nos separam (cf. Lc 10, 25-37). Os exemplos concretos que Jesus dá a este propósito (cf. Lc 6, 29-30) sugerem que não basta evitar responder às ofensas; é preciso ir mais além e inventar uma dinâmica de amor que desarme a violência, a agressividade, o ódio. Ele não nos pede, possivelmente, que tenhamos uma atitude cobarde, passiva ou colaborante perante a injustiça e a opressão; o que Ele nos pede é que sejamos capazes de gestos concretos que invertam a espiral de violência e de ódio: trata-se de não responder “na mesma moeda”; trata-se de estar sempre disposto a acolher o outro, mesmo o que nos magoou e ofendeu; trata-se de estar sempre de mão estendida para o irmão, sem nunca cortar as vias do diálogo e da compreensão. O amor é a única forma de desarmar o ódio e a violência… Só assim os crentes imitarão a bondade, o amor e a ternura de Deus.
A afirmação de Lc 6, 31 costuma ser chamada a “regra de ouro” da caridade cristã: “o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho vós também”. Indica que o amor não se limita a excluir o mal, mas que implica um compromisso sério e objetivo para fazer o bem ao próximo. Devemos, no entanto, rejeitar qualquer compreensão “mercantilista” desta regra: o que se procura é o bem do outro e não a estrita reciprocidade. Os versículos seguintes (cf. Lc 6, 32-35) acentuam esta perspetiva e garantem que só quem faz o bem de forma gratuita, sem cálculos e sem esperar nada em troca, pode ser “filho de Deus”.ATUALIZAÇÃO
Na reflexão e aplicação à vida, considerar as seguintes coordenadas:
• No mundo em que vivemos, é um sinal de fraqueza e de cobardia não responder a uma agressão ou não pagar na mesma moeda a quem nos faz mal; e é um sinal de coragem e de força pagar o mal com o mal – se possível, com um mal ainda maior. Achamos, assim, que defendemos a nossa honra e o nosso orgulho e conquistamos a admiração dos que nos rodeiam. Estes princípios geram, inevitavelmente, guerras entre os povos, separações e divisões entre os membros da mesma família, inimizades e conflitos entre os colegas de trabalho, relacionamentos difíceis e pouco fraternos entre membros da mesma comunidade cristã ou religiosa. Porque não descobrimos, ainda, que este caminho é desumano? É possível acreditar que esta dinâmica de confronto nos torna mais livres e mais felizes?
• A nossa força e a nossa coragem manifestam-se, precisamente, na capacidade de inverter esta lógica de violência e de orgulho e de estender a mão a quem nos magoou e ofendeu. O cristão não pode recorrer às armas, à violência, à mentira, à vingança para resolver qualquer situação de injustiça que o atingiu. Esta é a lógica dos seguidores de Jesus, desse que morreu pedindo ao Pai perdão para os seus assassinos.
• A lógica de Jesus – a lógica dos seguidores de Jesus – é precisamente a única que é capaz de pôr um travão à violência e ao ódio. A violência gera sempre mais violência; só o amor desarma a agressividade e transforma os corações dos maus e dos violentos.
• Isto não significa ter uma atitude passiva e conivente diante das injustiças e das arbitrariedades; significa estar sempre disposto a dar o primeiro passo para o reencontro, para acolher o que falhou; significa ter gestos de bondade e de compreensão, mesmo para quem nos fez mal. Também não significa, obrigatoriamente, esquecer (felizmente, ou infelizmente, temos memória e não a podemos desligar quando nos apetece); mas significa não deixar que as falhas dos outros nos afastem irremediavelmente; significa ter o coração aberto ao nosso próximo – mesmo quando Ele é ou foi um “inimigo”.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 7.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(algumas são adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 7.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. MOMENTO PENITENCIAL: O DEUS DA MISERICÓRDIA…
Neste domingo em que o Evangelho nos apresenta como modelo o Pai de misericórdia, o sacerdote poderá chamar a atenção para a fórmula que ele pronuncia no final do momento penitencial: “Deus todo-poderoso tenha compaixão…” Sem ser uma absolvição sacramental no sentido estrito, estas palavras oferecem o perdão de Deus a cada membro da assembleia. Isso permitirá ao sacerdote recordar que, se o recurso ao sacramento da reconciliação se impõe para as faltas graves, a Igreja dispõe de outros meios para levar o perdão de Deus aos cristãos que se reconhecem pecadores. O momento penitencial na Eucaristia é um desses momentos.3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.No final da primeira leitura:
“Deus de bondade, nós Te damos graças pela paciência e pelo respeito de que fez prova David para com Saul que o perseguia.
Nós Te pedimos pela nossa terra, invadida pelo ódio, pela mentalidade de vingança, pela inveja e pelo ciúme. Converte-nos e purifica os nossos corações e os nossos espíritos, para que sejamos construtores de paz e de reconciliação”.No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pelo teu Filho Jesus, novo Adão, ser espiritual vindo de junto de Ti para nos dar a vida, a nós, os herdeiros do primeiro Adão, votados à terra e à morte.
Nós Te pedimos pelos nossos defuntos. Pelo batismo, Tu os recriaste à imagem do novo Adão, o Cristo. Associa-os à sua ressurreição”.No final do Evangelho:
“Pai misericordioso, bom para os ingratos e os maus, bendito sejas pela revelação da tua bondade sem limites que Jesus nos faz pelo seu ensinamento e pelo seu comportamento.
Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos ajude a nos comportarmos como filhos e filhas dignos de Ti, Deus Altíssimo”.4. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus não dá lições de filantropia, mas convida os seus interlocutores a erguer os olhos para Deus seu Pai, a fim de se tornarem semelhantes a Ele. Porque Deus é bom para com os ingratos e os maus, o homem deve procurar ser bom para com todos. Porque Deus é misericordioso, o homem é convidado a perdoar. Não é uma lição de moral, mas fundamentalmente um ato de fé do qual decorre um conjunto de comportamentos. Jesus, o Filho de Deus Altíssimo, veio tirar o homem de tudo aquilo que o pode afastar da semelhança com Deus, o pecado. Jesus é a perfeita imagem de Deus. Dirá mesmo: “Quem Me viu, viu o Pai”. As suas palavras são palavra de Deus, os seus gestos são gestos de Deus. O desafio está em procurarmos ser semelhantes a Jesus, ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito.5. À ESCUTA DA PALAVRA.
É uma verdadeira ladainha de desesperança e de culpabilização. Ninguém pode obedecer a todos estes mandamentos de Jesus. Mas não podemos apagar estas palavras tão desconcertantes. O Senhor dá-nos uma luz: Jesus constata que mesmo os pecadores são capazes de agir bem uns para com os outros. Nem tudo está corrompido no ser humano. Já é bom amar os que nos amam, fazer bem aos que nos fazem bem. Mas aos olhos de Jesus, isso não basta. É preciso ir mais longe. Porquê? Porque somos filhos e filhas do Deus Altíssimo. Somos da família de Deus, que é bom para os ingratos e os maus. Então, somos convidados a imitar a maneira de agir do nosso Pai. Ele não ama apenas aqueles que O amam. Ama a todos, bons e maus. E mesmo quando os homens O colocam à margem da sua vida, Ele não deixa de os amar. Jesus, que é o Filho bem-amado, a perfeita imagem de Deus, conformou-Se à moral de seu Pai. Na cruz, rezou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Amou os seus inimigos. Nunca rejeitou ninguém. O que Jesus nos diz hoje não são normas culpabilizantes e impraticáveis. São convites, urgentes e exigentes, é verdade, para que manifestemos, pela nossa maneira de agir, que somos da família do nosso Pai dos céus. Cristãos, somos convidados a colocar a nossa vida na luz de Jesus e da sua palavra, a não nos contentarmos do que fazem os pecadores. É somente num estreito acompanhamento com Jesus que recebemos do Espírito a força de ir sempre mais além no caminho, rude, mas exaltante, do amor, como o de Jesus e do Pai.6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
A Oração Eucarística IV celebra muito bem a infinita misericórdia do Deus da Aliança ao longo da história do mundo.7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
No Evangelho deste domingo, Jesus convida-nos a amar como nos ama o Pai dos céus que é bom para os ingratos e os maus. Nesta semana, qual será a minha atitude para com determinado vizinho, colega, próximo… que me magoou ou feriu profundamente? Nesta semana, saberei permanecer no amor ao outro, quando tudo me pede para lhe responder na mesma moeda? Ao longo da semana, podemos retomar, de forma meditativa, o Evangelho deste domingo, pedindo a Deus mais sinceridade nas nossas atitudes e ações.UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org