Mês do Sagrado Coração e do Santíssimo Sacramento – duas meditações para o retiro do mês

 

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01junho200400.25
 
 
   
 

I. VIDA DE CARIDADE, A EXEMPLO DO SAGRADO CORAÇÃO
 
 
8 Qui non diligit non novit Deum quoniam Deus caritas est 9 in hoc apparuit caritas Dei in nobis quoniam Filium suum unigenitum misit Deus in mundum ut vivamus per eum (1Jo 4, 8-9).
   8 Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. 9 Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigénito ao mundo, para vivermos por meio dele (1Jo 4,8-9)
 

Primeiro Prelúdio. – Verei o Coração de Jesus no Santíssimo Sacramento, todo inflamado de amor pelo seu Pai e todo radiante de amor pelas suas criaturas.
Segundo Prelúdio. – Divino Coração de Jesus, comunicai-me um pouco do vosso amor: infunde amorem cordibus.

PRIMEIRO PONTO: Amar a Deus pelo Coração de Jesus. – O amor do Coração de Jesus pelo seu Pai é o modelo do nosso amor. Jesus é o corifeu do amor das criaturas por Deus. Há certamente o amor dos Anjos e de algumas boas almas, mas o que é isto para Deus? Jesus veio e oferece ao seu Pai um amor digno dele. O seu Pai compraz-se neste amor, disse-o nas margens do Jordão.
Jesus ama o seu Pai, é a sua vida. Amou-o na sua vida mortal, ama-o na Eucaristia e no céu. Cumpre sempre o grande preceito: «Amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a sua alma, com todas as tuas forças».
Entre os homens, Deus é tão pouco amado! Somos ingratos. Esquecemos aquele de quem temos tudo: a vida, o perdão, a graça, a esperança do céu. E, no entanto, pede-nos o nosso coração: Praebe, fili, cor tuum mihi. Incapazes de o amarmos bem por nós mesmos, amemo-lo pelo Coração de Jesus. Este divino Coração pertence-nos, suprirá à nossa impotência. /608
Começarei, portanto, esta vida de amor em união com o Coração de Jesus. Amigo de Deus, amarei tudo o que me aproxima dele: a oração, o recolhimento, a visita ao Santíssimo Sacramento, a santa comunhão.

SEGUNDO PONTO: Amar o próximo como o Coração de Jesus e com ele. – O amor de Jesus pelos homens é o modelo daquele que devemos ter. Quanto Jesus nos amou! Porque é que o Filho de Deus se fez homem? Porque é que escolheu uma vida de pobreza, de trabalho e de sofrimento? Por nós e pela nossa salvação! O seu amor é a única explicação dos mistérios de Belém, de Nazaré, da Agonia e do Calvário. «Amou-me e entregou-se por mim» (Gal 2). Foi por nós também que quis permanecer na Eucaristia, e por nós ainda que intercede no céu.
Jesus é caridade, como Deus é caridade. – A caridade é também o seu mandamento: «Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei», diz-nos (Jo 15). – «Se Jesus, diz S. João, sacrificou por nós a sua vida, devemos também estar prontos a sacrificar a nossa pelos nossos irmãos» (1Jo 3).
Deus pede raramente um tal sacrifício, mas pede ao menos que pratiquemos a doçura e a paciência. Devemos mostrar-nos serviçais, sofrer as contrariedades, assistir aos infelizes, rezar pelos pecadores. Devemos ser afáveis e delicados, prestar serviços ao próximo, não o criticar nem o desprezar.
Examinemo-nos! Foi isto que fizemos até ao presente?
Corrijamo-nos durante este mês de graças dedicado ao Sagrado Coração.

TERCEIRO PONTO: Amor constante e generoso. – A bem-aventurada Margarida Maria recomenda sem cessar o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo e do seu Coração Sagrado, mas ela repete muitas vezes também que Jesus não pode contentar-se com um amor tíbio e indolente. Pede um amor constante e generoso. Quer um amor que se sustenha igualmente nas aflições e nas consolações. «Que fraqueza não amar Nosso Senhor senão quando ele nos acaricia, dizia, e de arrefecer logo que ele nos prova! Isto não é um verdadeiro amor. Quem ama assim, ama-se demasiado a si mesmo para amar Jesus Cristo de todo o seu coração».
«O fruto deste amor constante, generoso e uniforme, dizia ainda, é uma adesão absoluta a todas as vontades de Deus. Quem ama generosamente está pronto a sofrer com paciência os acontecimentos que o desgostam». /609.
«Deus ama aqueles que se dão a ele com alegria e com satisfação», diz-nos S. Paulo (2 Cor 11).
A bem-aventurada dizia também: «A verdadeira marca do espírito de Deus é servi-lo com paz e contentamento. – Fazei todas as coisas, dizia, com um espírito livre na presença de Deus, com o único desejo de lhe agradar».
O sinal do amor de Deus bem consolidado é a alegria calma e pacífica, santificada pela união com o Coração de Jesus.
Resoluções. – Senhor, dai-me (a graça) de vos amar. Da minha parte, quero aplicar-me ao vosso amor. Oferecer-vos-ei todas as minhas acções melhor do que no passado e perguntar-vos-ei muitas vezes o que quereis que eu faça.
Colóquio com o Coração amoroso de Jesus.
 

II. A MORTE DO PECADOR

39 Unus autem de his qui pendebant latronibus blasphemabat eum dicens si tu es Christus salvum fac temet ipsum et nos (Lc 23, 39).
   39 Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também (Lc 23, 39).
 

Primeiro Prelúdio. Consideremos esta morte horrível do mau ladrão, que blasfema no momento de comparecer diante de Deus.
Segundo Prelúdio. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, agora e na hora da nossa morte.
PRIMEIRO PONTO: A morte é ordinariamente semelhante à vida. – O livro do Eclesiástico, tão cheio de graves conselhos, adverte-nos disso: «A árvore cai para o lado a que está inclinada e permanece aí» (c. 11).
Uma vida descuidada deixa temer uma má morte. Uma vida habitualmente culpada prepara uma morte terrível. A morte dos prevaricadores é pavorosa, diz o salmista: Mors peccatorum pessima (Sl 33). Aqueles que não observam a justiça durante a sua vida, diz ainda, têm uma morte miserável: Virum injustum mala capient in interitu (Sl 139).
Que exemplo terrível de má morte, a do mau ladrão! Blasfema! É insensível num momento e diante de um espectáculo em que todas as testemunhas estão emocionadas, em que mesmo a natureza está perturbada. Os judeus batiam no peito, o centurião dizia: «Este condenado era verdadeiramente um justo». A terra tremia, as rochas fendiam-se, o sol /610 ocultava a sua face.
Oh! O endurecimento! A que ponto uma alma pode iludir-se sacrificar, por orgulho ou por baixeza, os seus interesses eternos!

SEGUNDO PONTO: Morte do pecador indiferente. – Há a morte do homem negligente. A sua vida foi tíbia e mundana. O interesse, a recriação, a vida fácil, foram os &uacut
e;nicos cuidados da sua alma.
Rezou? Como é que o fez?
Que vigilância teve sobre os seus olhares, sobre os seus pensamentos, sobre os seus afectos? – «Há homens, diz Job, que bebem a iniquidade como água» (c. 15). Isto quer dizer que pecam com indiferença e sem prestarem atenção. E o autor inspirado acrescenta que isto é uma coisa abominável.
Têm pouco cuidado com as leis da Igreja, com a reputação do próximo. E se recebem os sacramentos, em que disposições os recebem?
Estão instalados na sua tibieza e Deus deixa-os assim. Abusaram tanto da oração, das graças quotidianas, e talvez dos sacramentos, que já nada lhes faz impressão. Tudo isso os deixou frios durante a sua vida e deixa-os frios na morte.
Nosso Senhor exalou a sua amargura a seu respeito no Apocalipse e nas suas revelações à bem-aventurada Margarida Maria. Isso durou demasiado tempo, Nosso Senhor vomitou-os da sua boca. Morrem numa paz aparente, que não é a indiferença glacial das pessoas do mundo descrentes, mas que é a enganadora segurança de uma falsa consciência.

TERCEIRO PONTO: Morte perturbada e desesperada. – Outras almas são agitadas pelas torturas da dúvida, do medo ou da falsa vergonha. Mil pecados que elas consideravam como nada lhes voltam ao espírito. Mil dúvidas se levantam no seu pensamento. Tudo se lhes torna suspeito: os falsos princípios que seguiram sobre certos mandamentos do decálogo ou sobre os compromissos pessoais que assumiram perante Deus; as liberdades que se deram na prática dos seus deveres ou no cumprimento dos votos; os sentimentos que alimentaram contra a caridade; os sacramentos mesmo que receberam mal.
A humildade e o arrependimento salvá-las-iam; a perturbação e o desespero oprimem-nas. Compreendem as suas faltas, mas sem proveito, como Antíoco se recordava na sua morte, dos sacrilégios que tinha cometido em Jerusalém: /611 Nunc reminiscor malorum quae feci in Jerusalém (Mac). E depois, há confissões difíceis, ou então falta o tempo, a morte é muitas vezes brusca, imprevista. Ela chega como um ladrão.
Oh! Como estas mortes são tristes! Como são terríveis! E é um momento decisivo, donde depende uma eternidade!
Como é que eu vou morrer?
Tal vida, tal morte; não é esta a regra ordinária?

Resoluções. – Porque me importa tanto morrer bem, não vou começar a viver bem, a viver no fervor, na amizade com Nosso Senhor, que será o meu juiz?
Quais eram as disposições do Coração de Jesus na sua morte? «Tudo está consumado». Cumpri em tudo a vontade de meu Pai. Morro na paz mais perfeita: «Meu Pai, entrego a minha alma nas vossas mãos». Cumpramos toda a lei, para morrermos na paz.
Colóquio com Jesus morrendo na cruz.

  
 
 
 

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