O Amor de Nosso Senhor

2 Implete gaudium meum ut idem sapiatis eandem caritatem habentes unanimes id ipsum sentientes 3 nihil per contentionem neque per inanem gloriam sed in humilitate superiores sibi invicem arbitrantes 4 non quae sua sunt singuli considerantes sed et ea quae aliorum 5 hoc enim sentite in vobis quod et in Christo Iesu (Fil 2, 2-5).

2 Completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. 3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. 4 Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. 5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus (Fil 2, 2-5).
 

Primeiro Prelúdio. Primeiro Prelúdio. S. Paulo dá-nos como modelo o interior de Jesus, a sua humildade, a sua caridade; na realidade, é o seu Sagrado Coração.
Segundo Prelúdio. Senhor, dai-me a graça de compreender bem o vosso interior, isto é, o vosso Coração sagrado.

PRIMEIRO PONTO: Na linguagem piedosa, o Sagrado Coração entende-se de todo o interior de Jesus. – Nosso Senhor mesmo no-lo autorizou. Não disse ele: «Aprendei de mim que sou doce e humilde de coração?». Não se trata aqui do seu coração propriamente dito, mas da sua alma, do seu interior, das suas virtudes.
É a linguagem de Margarida Maria e dos seus intérpretes, os Padres de la Colombière e de Gallifet. Sob o nome do Sagrado Coração, Margarida Maria apresenta-nos todas as virtudes de Nosso Senhor, todos os actos da sua vida interior.
«Muitos enganam-se, diz o P. de Gallifet (Liv. 1, c.4). Ao escutarem este nome sagrado, o Coração de Jesus, limitam o seu pensamento ao coração material de Jesus Cristo. Mas como há-de ser diferente e magnífica a ideia que dele devemos ter! É preciso que o consideremos intimamente unido à alma e à pessoa de Jesus Cristo, cheio de vida, de sentimento e de inteligência; como o mais nobre e principal órgão dos afectos sensíveis de Jesus Cristo, do seu amor, do seu zelo, da sua obediência, dos seus desejos, das suas dores, das suas alegrias, das suas tristezas; como o princípio e a sede destes mesmos afectos e de todas as virtudes do Homem-Deus…». – «A oferta do Sagrado Coração, diz o P. de la Colombière, faz-se para honrar o seu divino Coração, a sede de todas as virtudes, a fonte de todas as bênçãos e o retiro de todas as almas santas…».
As ladainhas do Sagrado Coração enumeram também todas as riquezas escondidas /617 na humanidade santa de Nosso Senhor, na sua vida terrestre, na sua Paixão, na Eucaristia e mesmo no céu .

SEGUNDO PONTO: Porque é que é assim? – Primeiro, porque na linguagem comum nós tomamos muitas vezes o coração pela alma toda. É também e muito especialmente porque Jesus é todo amor, porque o seu amor pelo seu Pai e por nós animava toda a sua vida, dirigia todas as suas acções. É o pensamento de Sto. Agostinho, de S. Tomás, de Bossuet. Porquê as dores de Jesus? Porque amou. Que são os seus milagres? Efeitos do seu amor e da sua bondade.
A linguagem corrente está, aliás, baseada em realidades profundas quando liga ao coração toda a vida moral e afectiva do homem: as virtudes como os sentimentos, os princípios de acção e as motivações íntimas. É que o coração é o eco de toda a nossa vida afectiva, é impressionado por todas as nossas disposições morais.
É, portanto, uma extensão legítima e natural conceber a devoção ao Sagrado Coração como indo ao coração real e vivo de Jesus, para aí honrar tudo o que ele é, tudo o que faz, tudo o que ele recorda e representa ao espírito. Deste modo, a devoção ao Sagrado Coração já não é apenas a devoção ao amor do coração de Jesus, ela torna-se a devoção a todo o íntimo do Salvador, enquanto este íntimo tem no coração vivo um eco, um centro de ressonância, um símbolo ou um signo de recordação (Bainvel).

TERCEIRO PONTO: Por extensão, o Sagrado Coração é ainda toda a pessoa de Jesus. – Na linguagem corrente, a palavra coração é muitas vezes utilizada (por uma figura que os gramáticos chamaram com o nome grego de sinédoque) para designar a pessoa. Diz-se: é um grande coração, é um bom coração.
Isto aconteceu muito naturalmente na devoção ao Sagrado Coração. Margarida Maria diz: Este Sagrado Coração, como ela dizia: Jesus. Este uso tornou-se corrente. É preciso notar, todavia, que se considera então especialmente a pessoa de Jesus na sua vida afectiva, no seu íntimo, nos seus princípios de conduta.
Assim entendido, o Sagrado Coração recorda-me Jesus em toda a sua vida afectiva e moral, Jesus íntimo, Jesus todo amante e todo amável, Jesus modelo de todas as virtudes. Toda a vida de Nosso Senhor pode assim concentrar-se no seu coração.
No mesmo sentido, uma estátua do Sagrado Coração é uma estátua na qual Jesus, mostrando-nos o seu coração, procura traduzir aos nossos olhos toda a sua vida íntima, o seu amor sobretudo e as suas amabilidades.
Graças a esta extensão, podemos descrever a devoção ao Sagrado Coração como a devoção a Jesus mostrando-se a nós ou mostrando-nos o seu coração, na sua vida íntima e nos seus sentimentos mais pessoais, os quais mais não dizem, aliás, senão amor e amabilidade. É Jesus revelando-nos o fundo de si mesmo dizendo-nos: «Eis o coração» (Bainvel).

Resolução. – Oh! A admirável devoção, que chama a minha atenção para todo o interior de Jesus, sobretudo para o seu amor, mas também para todas as suas virtudes, todos os seus sentimentos, o princípio e a alma de todos os seus mistérios. É a manifestação da regra de vida traçada por S. Paulo: Formai em vós os sentimentos de Jesus: Hoc sentite in vobis quod et in Christo Jesus.

Colóquio com o Sagrado Coração.
 

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