O bem de todos também é o meu bem…

Assistimos – a cada dia que passa – a vários sinais que dão conta da instabilidade que se apoderou do nosso mundo. As pessoas estão a sair à rua para se manifestarem, com ou sem coletes amarelos. Continuam a chegar ao Mediterrâneo imensos imigrantes vindos de África (e estamos no inverno). Há países a sofrer conflitos armados e outros respiram um ar que propiciará o seu aparecimento.

Não admira que vários políticos, perante estas graves ameaças, se mostrem preocupados com a segurança. Infelizmente, a resposta que propõem limita-se a fechar fronteiras, construir muros, expulsar os imigrantes, dar armas à população…

Há uma coisa, no entanto, que parece certa: estamos a esquecer-nos do «princípio que desempenha um papel central e unificador na ética social» (LS 156): o bem comum. Ao pressupor «o respeito pela pessoa humana», ele «exige os dispositivos de bem-estar e segurança social e o desenvolvimento dos vários grupos intermédios, aplicando o princípio de subsidiariedade». É evidente que é uma obrigação da sociedade e do Estado «defender e promover o bem comum» (LS 157), mas isto só se concretizará quando cada um de nós entrar num processo que o leve a sair da sua consciência isolada para se abrir ao outro, à comunidade, a um nós…

O bem comum não esquece as gerações futuras, pois «não se pode falar de desenvolvimento sustentável sem uma solidariedade intergeracional. Quando pensamos na situação em que se deixa o Planeta às gerações futuras, entramos noutra lógica: a do dom gratuito, que recebemos e comunicamos. Se a terra nos é dada, não podemos pensar apenas a partir dum critério utilitarista de eficiência e produtividade para lucro individual. Não estamos a falar duma atitude opcional, mas duma questão essencial de justiça, pois a terra que recebemos pertence também àqueles que hão-de vir» (LS 159). Dito de outro modo, segundo um provérbio hindu, «a terra não é uma herança de nossos pais, mas um empréstimo dos nossos filhos».

Neste sentido, não podemos pensar que as previsões catastróficas são ficção, pois corremos o risco de «deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo» (LS 161) às próximas gerações. No entanto, também não podemos ignorar que nos estamos a degradar ética e culturalmente, o que coloca sérias dificuldades para assumir este desafio. Parece que nos estamos a tornar profundamente individualistas, pois «muitos problemas sociais de hoje estão relacionados com a busca egoísta duma satisfação imediata, com as crises dos laços familiares e sociais, com as dificuldades em reconhecer o outro. […] O consumo excessivo e míope dos pais prejudica os filhos, que sentem cada vez mais dificuldade em comprar casa própria e fundar uma família. Além disso, esta falta de capacidade para pensar seriamente nas futuras gerações está ligada com a nossa incapacidade de alargar o horizonte das nossas preocupações e pensar naqueles que permanecem excluídos do desenvolvimento» (LS 162).

José Domingos Ferreira, scj

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