Tempo Comum – Anos Ímpares – XXIV Semana – Sábado

Lectio

Primeira leitura: 1 Timóteo 6 13-16

Caríssimo: na presença de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que deu testemunho perante Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé, 14recomendo-te que guardes o mandato, sem mancha nem culpa, até à manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. 15Esta manifestação será feita nos tempos estabelecidos, pelo bem-aventurado e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16o único que possui a imortalidade, que habita numa luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver. A Ele, honra e poder eterno! Ámen!

Paulo insiste em recomendar a Timóteo a fidelidade ao «mandato» do Senhor. Que mandato? À profissão de fé feita por Cristo diante de Pôncio Pilatos. Esta fidelidade deve perdurar até à manifestação escatológica de Cristo, que aliás já se verifica na obra redentora que realizada no mundo actual. Ao recordar-se disso, o Apóstolo não resiste e irrompe num hino de louvor (vv. 15s.).
Ao falar da segunda vinda de Cristo, nas cartas pastorais, Paulo não usa o termo parusia ou “revelação”, mas “manifestação”, termo também usado para indicar a obra redentora (cf. 2 Tm 1, 10; Tt 2, 11; 3, 4).

Evangelho: Lucas 8, 4-15

Naquele tempo, como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: 5«Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. 6Outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. 7Outra caiu no meio de espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. 8Uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu fruto centuplicado.»Dizendo isto, clamava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!» 9Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. 10Disse-lhes: «A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam.» 11«O significado da parábola é este: a semente é a Palavra de Deus. 12Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. 13Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. 14A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. 15E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.»

Lucas transmite-nos abundantes ensinamentos de Jesus em parábolas. Aqui, apresenta-nos a primeira e, para ele, a mais importante: a parábola do bom semeador. Com maior rigor, diríamos: a “parábola da semente”. De facto, a atenção do narrador parece concentrar-se, não tanto nos gestos do semeador, mas no destino das sementes lançadas. O começo da parábola leva-nos também nessa linha: «A semente é a palavra de Deus» (v. 11).
Porque terá Jesus querido marcar o começo do seu ministério público com esta parábola? Já se teria dado conta da dificuldade dos seus contemporâneos em escutar a sua pregação? Parece que sim… Mas a parábola talvez tenha um alcance mais vasto: nos diferentes destinos da semente lançada, podemos entrever, não só os diferentes modos de reacção dos seus ouvintes à sua Palavra, mas também as diferentes atitudes com que, ao longo da história da salvação, a humanidade reagiu e reage à presença das testemunhas de Deus e à sua pregação. Lida assim, a parábola da semente prolonga a sua mensagem ao longo de todos os séculos, antes e depois de Cristo, e chega até nós.

Meditatio

Hoje vivemos no meio de um furacão de palavras: publicidade, propaganda, discursos políticos… As nossas mentes são como pedras polidas, que não deixam penetrar a água. E todavia a palavra humana é uma coisa maravilhosa, que leva a vida. A mãe, depois de ter dado a vida física ao filho, dá-lhe outra vida por meio da palavra. É a mãe que, pela sua palavra, desperta a inteligência da criança, faz nascer nela, pouco a pouco, os pensamentos e os afectos. É uma verdadeira maravilha. Mas raramente pensamos nela, tão habituados estamos a escutar palavras humanas que nada dizem, que nada dão.
Quanto à Palavra de Deus, ela é incomensuravelmente mais rica, porque nos traz a vida divina. Por isso, havemos de estimá-la, de ter fome dela. Ela é fonte de vida, e garantia de vida para nós: «recebei com mansidão a Palavra em vós semeada, a qual pode salvar as vossas almas», escreve Tiago (1, 21). Salvar as almas é o mesmo que salvar a vida.
A palavra de Jesus purificou os Apóstolos e fê-los seus amigos: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15). Jesus ouviu a palavra do Pai e transmitiu-a a nós. Esta palavra deu uma vida nova, uma vida na amizade de Deus, no seu amor.
Não basta, porém, acolher com alegria a Palavra. É preciso permitir-lhe dar fruto em nós pela paciência, pela perseverança. Não basta escutá-la. É preciso guardá-la, não permitir que o inimigo a sufoque em nós. É preciso meditá-la para que nos transforme e renove a nossa vida. A Virgem Maria guardava e meditava a Palavra no seu coração: «Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra; e o Verbo (a Palavra) fez-se carne». O acolhimento perfeito de Maria, em certo sentido, permitiu à Palavra incarnar para salvação do mundo.
«Fiéis à escuta da Palavra… somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração e a anunciar o seu amor que excede todo o conhecimento» (Cst 17).

Oratio

Senhor, dá-nos a graça de acolher a tua Palavra de verdade e de paz, depois de a termos reconhecido nos acontecimentos e nas pessoas encontradas nos caminhos da nossa vida. Que, a exemplo de Maria, a saibamos guardar e meditar no coração, para que se torne vida da nossa vida, e para que inspire os nossos pensamentos e sentimentos, o nosso amor para Contigo, a nossa caridade para com os irmãos. Amen.

Contemplatio

Os Magos, chegados junto de Nosso Senhor, quiseram testemunhar-lhe o seu amor e a sua dedicação. Abriram os seus tesouros e deram-lhe presentes, ouro, incenso e mirra. Estes dons são explicados de diversas maneiras pela tradição. Não são insondáveis os desígnios de Deu
s e impenetráveis os seus caminhos? (Rm 11,33). Como as palavras de Nosso Senhor, as suas obras são tesouros inesgotáveis de luz e de graça, de modo que cada fiel pode crer que elas são reguladas e preparadas somente para ele, para o seu estado, para as suas necessidades. Era assim que S. Paulo aplicava pessoalmente a si as graças da Redenção, dizendo: «O Salvador amou-me e entregou-se por mim» (Gl 2,20). A palavra de Deus tem como o maná todos os sabores, responde aos gostos e às necessidades de cada um. (Leão Dehon, OSP 3, p. 32).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Recebei com mansidão a Palavra em vós semeada» (Tg 1, 21).

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