32º Domingo do Tempo Comum – Ano B [atualizado]

ANO B

32.º DOMINGO DO TEMPO COMUM 

Tema do 32.º Domingo do Tempo Comum

 

A liturgia do 32.º Domingo do Tempo Comum fala-nos do verdadeiro culto, do culto que agrada a Deus. Mais do que rituais litúrgicos solenes e majestosos, Deus espera de nós uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projetos, de escuta atenta das suas indicações, de generosidade, de partilha, de solidariedade para com os nossos irmãos.

A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de uma viúva pobre de Sarepta que, apesar da sua pobreza e necessidade, ouviu o apelo de Deus e repartiu os poucos alimentos que lhe restavam com o profeta Elias. A história dessa mulher garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida abundante.

O Evangelho convida-nos a ver, pelos olhos de Jesus, duas formas diferentes de “dar culto” a Deus. De um lado estão os “escribas”, homens-modelo de uma religião solene e formal, mas também vazia, hipócrita, teatral, fomentadora da exploração dos mais pobres, usada para fins egoístas de promoção pessoal; do outro lado está uma viúva pobre e humilde, mas que tem um coração generoso, que confia plenamente em Deus, que aceita viver num despojamento total de si própria para “dar tudo” a Deus. Jesus propõe-na aos discípulos que estão com Ele no átrio do templo como modelo do culto que devem prestar a Deus.

A segunda leitura oferece-nos o exemplo de Cristo, o sumo-sacerdote perfeito. Cumprindo o projeto do Pai, Ele deu aquilo que tinha de mais precioso: a sua própria vida. Mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e espera de cada um dos seus filhos: a entrega de nós próprios para que o seu projeto para o mundo e para o homem se concretize.

 

LEITURA I – 1 Reis 17,10-16

Naqueles dias,
o profeta Elias pôs-se a caminho e foi a Sarepta.
Ao chegar às portas da cidade,
encontrou uma viúva a apanhar lenha.
Chamou-a e disse-lhe:
«Por favor, traz-me uma bilha de água para eu beber».
Quando ela ia a buscar a água, Elias chamou-a e disse:
«Por favor, traz-me também um pedaço de pão».
Mas ela respondeu:
«Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus,
eu não tenho pão cozido,
mas somente um punhado de farinha na panela
e um pouco de azeite na almotolia.
Vim apanhar dois cavacos de lenha,
a fim de preparar esse resto para mim e meu filho.
Depois comeremos e esperaremos a morte».
Elias disse-lhe:
«Não temas; volta e faz como disseste.
Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui.
Depois prepararás o resto para ti e teu filho.
Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel:
‘Não se esgotará a panela da farinha,
nem se esvaziará a almotolia do azeite,
até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra’».
A mulher foi e fez como Elias lhe mandara;
e comeram ele, ela e seu filho.
Desde aquele dia, nem a panela da farinha se esgotou,
nem se esvaziou a almotolia do azeite,
como o Senhor prometera pela boca de Elias.

 

CONTEXTO

Encontramos no Livro dos Reis um conjunto de tradições ligadas à vida e à ação de uma figura fundamental do profetismo bíblico: o profeta Elias. Essas tradições aparecem, de forma intermitente, entre 1 Re 17,1 e 2 Re 2,12.

Elias (cujo nome significa “o meu Deus é o Senhor” – o que, por si só, constitui logo um programa de vida) atua no Reino do Norte (Israel) durante o século IX a.C., num tempo em que a fé javista é posta em causa pela preponderância que os deuses estrangeiros (especialmente Baal) assumem na cultura religiosa de Israel. Os reis de Israel, apostados em promover o intercâmbio cultural e comercial com as nações da zona, facilitaram a entrada no país de outros deuses. Mas essas razões políticas não foram entendidas nem aceites pelos círculos religiosos de Israel. Elias dá voz aos “fiéis a Javé” que contestam a política religiosa dos reis de Israel. O ministério profético de Elias desenvolve-se sobretudo durante o reinado de Acab (875-853 a.C.), embora a sua voz também se tenha feito ouvir no reinado de Acazias (853-852 a.C.), sucessor de Acab.

Elias é, pois, o grande defensor da fidelidade a Javé. Ele aparece como o representante dos israelitas fiéis que recusavam a coexistência de Javé e de Baal no horizonte da fé de Israel. Num episódio dramático, o próprio profeta chegou a desafiar os profetas de Baal para um duelo religioso que terminou com um massacre de quatrocentos profetas de Baal no monte Carmelo (cf. 1 Re 18). Esse episódio é, certamente, uma apresentação teológica da luta sem tréguas que nessa época se trava entre os fiéis a Javé e os que abrem o coração às influências culturais e religiosas de outros povos.

Para além da questão do culto, Elias defende a Lei em todas as suas vertentes (veja-se, por exemplo, a sua defesa intransigente das leis da propriedade em 1 Re 21, no célebre episódio da usurpação das vinhas de Nabot): ele representa os pobres de Israel, a cada passo vítimas dos aristocratas e dos poderosos comerciantes que subvertem as leis e os mandamentos de Deus.

O ciclo de Elias começa com o anúncio, diante do rei Acab, de uma seca que irá atingir Israel (cf. 1 Re 17,1). Essa seca é apresentada, não tanto como um castigo pelos pecados do rei, mas sobretudo como uma forma de mostrar que é Javé (e não Baal, o deus cananeu que enviava as chuvas e tornava possível a fertilidade dos campos e a abundância das colheitas, cujo culto era favorecido por Jezabel, a esposa fenícia de Acab) o verdadeiro senhor da vida que brota, cada ano, nos campos e nos rebanhos. Fugindo da ira de Acab, Elias dirige-se para norte e chega a Sarepta (hoje Sarafand), uma pequena cidade da costa fenícia, a cerca de 15 quilómetros a sul de Sídon. É aí que o nosso texto nos situa.

 

MENSAGEM

Chegado a Sarepta, Elias dirige-se, por ordem de Deus, a casa de uma viúva que residia na cidade (vers. 8-9). Pede-lhe água para beber e um pedaço de pão para comer (vers. 9). No entanto a viúva – que provavelmente vive de esmolas e, nesse tempo de seca está completamente desprovida de meios de subsistência – apenas tem em casa um punhado de farinha e um pouco de azeite (vers. 10-11). Aliás, quando Elias chegou ela preparava-se para comer com o filho esses parcos alimentos, para depois se deitar, à espera da morte (vers. 12). Elias insiste com a mulher. Pede-lhe que, antes de preparar a comida que tem em casa para ela e para o filho, lhe traga um pequeno pão, feito com a farinha que resta (vers. 13). Garante-lhe, em nome de Deus, que a farinha não se acabará nem o azeite faltará até que a chuva volte a cair sobre a terra (vers. 14). De facto, assim aconteceu: por ação de Deus, durante todo o tempo que Elias permaneceu em casa da viúva, nem a farinha se acabou na panela, nem o azeite faltou na almotolia (vers. 15-16).

Esta bela e expressiva história, de cariz bem popular, serviu aos autores deuteronomistas para comporem alguns importantes ensinamentos catequéticos. Antes de mais, ela garante aos israelitas, tentados pela adesão a Baal, que o trigo, o azeite e todos os outros alimentos que vêm da terra e que servem de alimento aos homens são dom de Javé e não de Baal. Aliás Javé, o Deus de Israel, é infinitamente mais poderoso que Baal, pois o seu poder atua até em casa de Baal e entre os súbditos de Baal (Baal era o deus mais popular entre as gentes da Fenícia, a região onde se situava a cidade de Sarepta).

Em segundo lugar, os catequistas de Israel pretendem chamar a atenção para a predileção de Deus pelos fracos, pelos pequenos, pelos pobres, pelos desprezados. Neste caso concreto, os beneficiários da ação de Deus são uma viúva e um órfão, os exemplos clássicos, na Bíblia, dos débeis, dos desfavorecidos, dos que não têm voz, dos que não têm quem os defenda e os salve. Deus está especialmente ao lado desses – garante a catequese de Israel – manifestando-lhes a sua misericórdia e o seu cuidado de Pai, oferecendo-lhes a sua salvação.

Em terceiro lugar, os catequistas de Israel procuram demonstrar que a partilha nunca empobrece e nunca prejudica seja quem for. O pão e o azeite que aquela mulher partilha com o profeta multiplicam-se milagrosamente durante todo o tempo que a carestia durou. Quando alguém é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar com os irmãos os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A generosidade, a partilha e a solidariedade são sempre geradoras de vida e de vida em abundância.

Finalmente, os catequistas de Israel garantem, com esta história “de salvação” que beneficia uma mulher fenícia, que a graça de Deus é universal e se destina a todos os povos, sem distinção de raças, de fronteiras ou de crenças religiosas.

 

INTERPELAÇÕES

  • A história da viúva de Sarepta é uma das muitas histórias bíblicas que dão conta da predileção de Deus pelos desfavorecidos, pelos débeis, pelos pobres, pelos explorados, por aqueles que são colocados à margem da vida. Essa “opção” de Deus é uma “opção” natural: resulta do seu amor. O coração paternal e maternal de Deus inclina-se de forma especial para os seus filhos e filhas que vivem numa situação dramática de necessidade e precisam especialmente da bondade, da misericórdia e da ajuda de Deus. Para além disso, também é verdade que os pobres, os que não têm outras seguranças além de Deus, estão geralmente mais atentos a Deus e mais disponíveis para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. No lado oposto estão os “ricos”, sempre preocupados com os seus bens, com os seus interesses egoístas, com os seus projetos e preconceitos, que dificilmente têm espaço para acolher as propostas que Deus lhes faz. Como é a nossa atitude diante de Deus? Somos “pobres” que reconhecem o amor e a bondade de Deus, que entregam toda a vida nas suas mãos, que lhe obedecem incondicionalmente, que confiam n’Ele de olhos fechados? Somos “ricos”, com o coração atravancado de certezas, de bens materiais, de apostas humanas, de sonhos de grandeza, que não têm espaço para acolher as propostas e os desafios de Deus?
  • A viúva de Sarepta, a mulher fenícia que acolheu em sua casa o profeta estrangeiro perseguido, tinha apenas uma quantidade mínima de alimento. Destinava-o a si própria e ao filho; mas, desafiada a partilhar, viu esse escasso alimento ser multiplicado uma infinidade de vezes… Esta história convida-nos a não nos fecharmos em esquemas egoístas de acumulação e de açambarcamento, esquecendo os nossos irmãos necessitados. Garante-nos que, quando repartimos, com generosidade e amor, aquilo que Deus colocou à nossa disposição, não ficamos mais pobres; os bens repartidos multiplicam-se e tornam-se fonte de vida e de bênção para nós e para todos aqueles que deles beneficiam. O que significam para nós os bens que Deus pôs à nossa disposição? Um “capital privado” exclusivamente ao nosso serviço, ou bens que Deus me encarregou de administrar e que pertencem a todos os outros filhos e filhas de Deus? O que dirige a minha vida é a preocupação egoísta da posse dos bens, ou é a generosidade e o amor?
  • Numa altura em que os israelitas eram tentados a colocar a sua esperança de vida em falsos deuses, o catequista que nos contou a história da multiplicação miraculosa da farinha e do azeite em favor do profeta Elias, da viúva de Sarepta e do seu filho quis dizer-nos que só Javé, o Deus verdadeiro, pode dar-nos vida em abundância. É uma mensagem que não podemos dar-nos ao luxo de esquecer. Todos os dias somos desafiados a apostar a nossa vida em “deuses” e em propostas de felicidade que não saciam a nossa fome de vida. Os bens materiais que nos dão segurança e bem-estar, as honrarias com que somos distinguidos, os triunfos humanos que conquistamos, a popularidade de que disfrutamos, não saciam a nossa fome de vida. Esses “deuses” – ou outros do mesmo tipo – não podem ser a base à volta da qual construímos a nossa existência. Só Deus nos dá a vida plena e verdadeira. Há na nossa vida “deuses” em quem colocamos a nossa esperança de realização e de plenitude? Quais são? Eles enchem de sentido a nossa existência?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)

Refrão 1:  Ó minha alma, louva o Senhor.

Refrão 2: Aleluia.

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos do cego,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente;
o teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações.

 

LEITURA II – Hebreus 9,24-28

Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas,
figura do verdadeiro,
mas no próprio Céu,
para Se apresentar agora na presença de Deus em nosso favor.
E não entrou para Se oferecer muitas vezes,
como sumo sacerdote que entra cada ano no Santuário,
como sangue alheio;
nesse caso, Cristo deveria ter padecido muitas vezes,
desde o princípio do mundo.
Mas Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos,
para destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo.
E, como está determinado que os homens morram uma só vez
e a seguir haja o julgamento,
assim também Cristo, depois de Se ter oferecido uma só vez
para tomar sobre Si os pecados da multidão,
aparecerá segunda vez, sem a aparência do pecado,
para dar a salvação àqueles que O esperam.

 

AMBIENTE

A reflexão que a tradição cristã intitulou “Carta aos Hebreus” é um sermão de um mestre cristão anónimo – talvez um discípulo do apóstolo Paulo – que, pouco antes do ano 70, o destinou a cristãos que viviam a sua fé em condições muito difíceis e que, por isso, começavam a fraquejar no seu compromisso cristão. Recorrendo a citações e imagens tiradas do Antigo Testamento, o autor apresenta o mistério de Cristo, através de quem os homens têm acesso a Deus e são inseridos na comunhão real e definitiva com Deus. Postos em relação com o Pai por Cristo, o sacerdote que oferece a sua vida em sacrifício pelos seus irmãos, os crentes são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã. Espera-se que eles respondam à ação de Cristo fazendo das suas próprias vidas um sacrifício de louvor, de entrega e de amor. A fé morna, enfraquecida, desmotivada, nunca poderá ser a resposta adequada dos que são chamados a integrar o Povo sacerdotal. Portanto, é preciso que os cristãos despertem da letargia em que vivem e que tratem de revitalizar o seu compromisso com Cristo.

Depois de estabelecer que o sacerdócio de Cristo não lhe vem da linha levítica (os sacerdotes do Antigo Testamento pertenciam à tribo sacerdotal de Levi), mas sim de uma ordem mais antiga, a “ordem de Melquisedec” (cf. Heb 7,1-28), o autor da Carta aos Hebreus apresenta Cristo como o sacerdote perfeito, que preside à liturgia da nova Aliança (cf. Heb 8,1-9,28). Explica em que consiste essa perfeição e quais as suas consequências para a vida dos fiéis.

Cristo, o eterno sacerdote que atravessou os céus e se sentou à direita de Deus, oficia na “tenda verdadeira”, no “novo santuário”, construído por Deus e não pelos homens (cf. Heb 8,1-5). Tornou-se assim o mediador de uma nova Aliança (cf. Heb 8,6-13), de uma Aliança bem mais perfeita do que a antiga Aliança do Sinai. O culto antigo, oficiado pelos sacerdotes levíticos num santuário terrestre, não podia tornar perfeitos aqueles que nele participavam (cf. Heb 9,1-10); mas a entrega de Cristo no altar da cruz, feita uma única vez, purificou os homens das obras mortas do pecado, levando-os a reconciliarem-se com o Deus vivo e a prestarem-lhe culto (cf. Heb 9,11-14). Cristo, o verdadeiro sacerdote, com o sacrifício que ofereceu ao Pai, aproximou definitivamente os homens de Deus e tornou-se o mediador de uma nova Aliança entre Deus e os homens (cf. Heb 9,15-22). O trecho de Heb 9,23-28 (a segunda leitura deste trigésimo segundo domingo comum) conclui esta secção: recapitula vários temas expostos nos versículos anteriores e acrescenta-lhes o tema da parusia (a ação de Cristo no final dos tempos).

 

MENSAGEM

No final da sua caminhada terrena com os homens, Cristo, o sacerdote perfeito, entrou no verdadeiro santuário que é o céu – a própria realidade de Deus, a habitação de Deus. Vivendo na intimidade do Pai, em comunhão com o Pai, Ele intercede continuamente pelos homens e dispõe o coração do Pai em favor dos homens (vers. 24).

O sumo-sacerdote da antiga Aliança entrava no santuário todos os anos (o autor refere-se ao Dia da Expiação – o “Yom Kippur” – o único dia do ano em que o sumo-sacerdote entrava no “Santo dos Santos” do Templo de Jerusalém, a fim de aspergir o “propiciatório” com o sangue de um animal imolado), a fim de obter o perdão de Deus para os pecados do Povo; mas Cristo, depois de caminhar na terra ao lado dos homens e de oferecer a sua vida em sacrifício por todos, entrou uma só vez no santuário perfeito, levando o seu próprio sangue, e obteve a redenção de toda a humanidade – desde a criação do mundo, até ao final dos tempos. A entrega de Cristo, o seu sacrifício consumado no dom da vida, teve uma eficácia total e universal; com ela, Cristo conseguiu a destruição da condição pecadora do homem. A humanidade ficou, a partir desse instante, definitivamente salva (vers. 25-26).

Cristo, o nosso sumo-sacerdote, há de manifestar-se novamente no final dos tempos (parusia). Nessa altura, a sua manifestação não será nem para oferecer um novo sacrifício, nem para condenar o homem; mas será para oferecer a salvação definitiva àqueles que Ele, com o seu sacrifício único e perfeito, libertou do pecado.

 

INTERPELAÇÕES

  • O autor da Carta aos Hebreus utiliza, para explicar a vida e a missão de Cristo, uma chave que lhe é fornecida pela teologia sacrificial véterotestamentária: os sacrifícios expiatórios oferecidos no templo pelos sacerdotes obtinham de Deus o perdão para os pecados do Povo; do mesmo modo, o sacrifício que Cristo fez da sua vida, obteve de Deus o perdão do homem pecador e reconciliou o homem com Deus. Isto corresponde realmente à forma como Jesus entendeu e viveu a sua missão? Jesus mostrou-se sempre consciente de que a missão que o Pai lhe entregou passava por libertar o homem das cadeias de egoísmo e de pecado que o prendiam. Desde o primeiro instante da sua pregação, pediu aos que o escutavam uma “metanoia”, uma transformação radical do coração, da mente, dos valores, das atitudes do homem; propôs, a cada passo, com a sua palavra e com o seu exemplo, que o homem passasse a percorrer o caminho do amor, da partilha, do serviço, do perdão, do dom da vida; lutou objetivamente contra as estruturas religiosas, sociais e políticas que perpetuavam a injustiça e o pecado… A sua morte foi a consequência da sua luta contra as estruturas que oprimiam o homem e que geravam egoísmo e morte. Sim, Ele ofereceu, de facto, a sua vida em sacrifício para nos libertar do pecado. Que impacto tem em nós o sacrifício de Cristo? Aquilo que Jesus nos disse e nos ensinou tem-nos ajudado a superar o egoísmo e a construir uma vida segundo os valores de Deus? Como Jesus, estamos disponíveis para lutar contra todas as estruturas que perpetuam o pecado, que desfeiam o mundo e ferem os nossos irmãos?
  • A primeira leitura e o Evangelho deste domingo tocam a temática do desapego, da partilha, da capacidade para “dar tudo”. Ora Cristo, com a entrega total da sua vida a Deus e aos homens, realizou plenamente esta dimensão. Ele “deu tudo”, até à última gota de sangue. Não se limitou a partilhar alguns bens perecíveis, mas deu aquilo que tinha de mais precioso: a sua própria vida. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e espera de cada um dos seus filhos. Mais do que solenes rituais litúrgicos, orações prolongadas e perfeitas, ou ofertas em dinheiro para os projetos da Igreja, Deus espera de nós o dom da nossa vida, a entrega de nós próprios para que o seu projeto para o mundo e para o homem se concretize. Limitamo-nos a dar a Deus algumas “migalhas” que nos sobram, alguns minutos do nosso dia, ou somos capazes de “dar tudo”, de colocar toda a nossa existência ao serviço do projeto de Deus?
  • O autor da Carta aos Hebreus garante-nos que Jesus Cristo, o sacerdote perfeito, venceu o pecado e está agora junto de Deus, a interceder por nós. Mais: garante-nos também que, no final do nosso caminho, Cristo lá estará à nossa espera para nos oferecer a Vida definitiva. Ora, isto não pode ser uma simples informação que mastigamos e pomos de lado; mas tem de ser algo verdadeiramente impactante, que enche de significado o nosso caminho na terra e que muda o nosso olhar sobre a vida. Faz-nos olhar a vida com confiança e renova em cada passo a nossa esperança. Caminhamos serenamente, sem nos deixarmos derrubar pela nossa fragilidade e pelo nosso pecado, porque sabemos que Cristo está junto do Pai a interceder por nós? Caminhamos em paz, porque sabemos que Cristo, o nosso irmão, está à nossa espera para nos acolher e para nos dar vida?

 

ALELUIA – Mateus 5,3

Aleluia. Aleluia.

Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.

 

EVANGELHO – Marcos 12,38-44

Naquele tempo,
Jesus ensinava a multidão, dizendo:
«Acautelai-vos dos escribas,
que gostam de exibir longas vestes,
de receber cumprimentos nas praças,
de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas
e os primeiros lugares nos banquetes.
Devoram as casas das viúvas
com pretexto de fazerem longas rezas.
Estes receberão uma sentença mais severa».
Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro
a observar como a multidão deixava o dinheiro na caixa.
Muitos ricos deitavam quantias avultadas.
Veio uma pobre viúva
e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.
Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:
«Em verdade vos digo:
Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros.
Eles deitaram do que lhes sobrava,
mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha,
tudo o que possuía para viver».

 

CONTEXTO

Jesus entrou em Jerusalém há três dias. No final de cada dia sai da cidade e vai até Betânia, a aldeia situada no lado oriental do Monte das Oliveiras, onde passa a noite. Mas todas as manhãs desce o monte, acompanhado dos discípulos, passa pelo vale do Cedron, entra novamente em Jerusalém e dirige-se ao Templo. Aí, nos átrios do templo, ensina, conversa, responde a perguntas, discute com todos aqueles que vêm ao seu encontro.

Esses dias têm sido marcados por polémicas com as autoridades judaicas (cf. Mc 11,15-19: a expulsão dos vendilhões do templo; Mc 12,1-12: a parábola dos vinhateiros homicidas; Mc 12,13-17: a questão do pagamento do tributo a César; Mc 12,18-27: a discussão com os saduceus sobre a ressurreição dos mortos). A cada momento vai ficando mais claro que o projeto do Reino, proposto por Jesus, é incompatível com a visão religiosa dos líderes judaicos. Num ambiente carregado de dramatismo, adivinha-se o choque decisivo entre Jesus e a instituição judaica e prepara-se o cenário da Cruz.

Os líderes religiosos judaicos, tinham transformado a religião de Moisés – com os seus ritos, exigências legais, proibições e obrigações – numa proposta vazia e estéril, que não aproximava os homens de Deus. Comodamente instalados nos seus privilégios de classe, empenhados em assegurar os seus proventos e o seu bem-estar, interessados no reconhecimento público e nos aplausos das multidões, os líderes religiosos de Israel tinham posto a religião ao seu serviço e usavam-na para manipular o Povo.

Jesus tinha esse mundo bem à vista quando ensinava nos átrios do Templo, rodeado pelos discípulos. À sua volta desenrolava-se o folclore religioso habitual, feito de rituais externos e de grandes gestos teatrais, frequentemente vazios de conteúdo. Os escribas (ou “doutores da Lei”), com as vestes pomposas que os distinguiam e os “tiques” de quem se julgava com direito a todas as deferências, honras e privilégios, deambulavam por ali, dando o seu espetáculo especial neste quadro religioso de vaidade, de ambição e de mentira.

Em contraponto, Jesus repara no “átrio das mulheres”, onde uma viúva deposita, no tesouro do Templo, a sua humilde oferta (dons voluntários eram feitos com frequência, tendo por finalidade, por exemplo, cumprir votos). As viúvas, no ambiente palestino de então, sobretudo quando não tinham filhos que as protegessem e alimentassem, eram o modelo clássico do pobre, do explorado, do débil.

 

MENSAGEM

Num primeiro momento, Jesus faz incidir a atenção dos seus discípulos sobre os numerosos escribas que circulavam pelo espaço do templo (vers. 38-40). Geralmente do partido dos fariseus, os escribas eram os especialistas da Lei, tanto da Lei escrita, como da Lei oral. Estudavam e memorizavam as Escrituras e ensinavam aos seus discípulos as regras – as “halakot” – que deviam dirigir cada passo da vida dos fiéis israelitas. Eram eles também que julgavam, nos tribunais religiosos, aqueles que eram acusados de não cumprir a Lei. O Povo estimava-os, admirava-os, adulava-os, tinha-os em alto conceito, respeitava humildemente aquilo que eles diziam.

Jesus, no entanto, tinha uma opinião diferente sobre eles. O olhar de Jesus não se detinha nas aparências, mas chegava à verdade última que existe no coração de cada pessoa. Jesus criticava, antes de mais, o exibicionismo dos escribas, que gostavam de usar roupas que os distinguissem e que revelassem, aos olhos do povo simples, o seu alto estatuto religioso e social (vers. 38). Procuravam criar à sua volta uma aura de importância, que só revelava vaidade mesquinha. Jesus também não apreciava a apetência que os escribas tinham pelos lugares de honra (vers. 39), quer em ambientes religiosos (como nas sinagogas), quer em ambientes civis (como nos banquetes, onde o lugar definia o “estatuto” do convidado). Para eles era crucial verem reconhecida a sua “categoria” e a sua importância aos olhos de todos. Jesus criticava, também, que eles se aproveitassem da boa-fé das pessoas para as explorar. Indignava-se especialmente quando os escribas, aproveitando-se da sua posição proeminente e da confiança que inspiravam enquanto intérpretes autorizados da Lei de Deus, exploravam os pobres e aqueles que eram especialmente vulneráveis: extorquiam esmolas e outros donativos, faziam-se pagar bem pelos seus serviços, exploravam e roubavam as viúvas que lhes confiavam a administração dos seus bens. Finalmente, Jesus criticava-os por se exibirem em solenes práticas religiosas (faziam “longas orações” – vers. 40), que não resultavam de uma piedade sincera, mas se destinavam apenas a “vender” uma imagem de proximidade com Deus que os ajudava a imporem-se às pessoas simples do Povo.

Os escribas corporizam a realidade de uma religião hipócrita, mentirosa, interesseira, vazia de conteúdos, que não aproximava o homem de Deus nem mudava os corações. Mais: eram o rosto de uma religião que usava Deus e a santidade de Deus para satisfazer os interesses egoístas de uma classe que, afinal, estava muito afastada de Deus. Deus, naturalmente, não podia aprovar essa religião de fachada. Ao pedir aos seus discípulos “acautelai-vos dos escribas” (vers. 38), Jesus está a deixar claro que esse não é o comportamento que agrada a Deus, não é essa a religião verdadeira que Deus espera dos seus filhos.

Em absoluto contraste com o quadro dos escribas, Jesus aponta aos discípulos a figura de uma mulher, que se aproxima de um dos treze recipientes situados no átrio do Templo, onde se depositavam as ofertas para o tesouro do santuário. Não sabemos o nome daquela mulher nem conhecemos o seu rosto; apenas sabemos que era viúva e pobre. A mulher deposita aí duas simples moedas (dois “leptá”, diz o texto grego. O “leptá” era uma moeda de cobre, a mais pequena e insignificante das moedas judaicas); contudo, aquela quantia insignificante era tudo o que a mulher possuía. A mulher é discreta e não dá nas vistas. A sua oferta humilde passa despercebida a quase todos. Apenas Jesus – que lê os factos com os olhos de Deus e sabe ver para além das aparências – percebe naquelas duas insignificantes moedas oferecidas a marca de um dom total, de um completo despojamento, de uma entrega radical e sem medida.

Algum tempo antes, enquanto caminhava para Jerusalém, Jesus tinha encontrado um homem rico que estava interessado em “alcançar a vida eterna” e que cumpria todos os mandamentos, mas que não quis vender os seus bens, repartir o seu dinheiro com os pobres e tornar-se discípulo (cf. Mc 10,17-22); agora Jesus tem à sua frente uma viúva pobre, sem meios de subsistência, que sem ninguém lhe pedir nada dá “tudo o que tem”. Não dá o que tem a mais, o supérfluo; dá aquilo de que ela própria necessita para viver. Fica sem nada. Com o seu dom a mulher manifesta, simultaneamente, a sua generosidade, o seu desprendimento e a sua confiança em Deus. O “dom total” da viúva de alguma forma anuncia o “dom total” que Jesus se prepara para fazer da sua vida.

O gesto desta mulher tem a marca da religião autêntica. O encontro com Deus, o culto que Deus quer passa por gestos simples e humildes, gestos que talvez ninguém note mas que são sinceros, verdadeiros, e expressam a entrega generosa e o compromisso total. O verdadeiro crente não é o que cultiva gestos teatrais e espampanantes, que impressionam as multidões e que são aplaudidos pelos homens; mas é o que aceita despojar-se de tudo, prescindir dos seus interesses e projetos pessoais, para se entregar completa e gratuitamente nas mãos de Deus, com humildade, generosidade, total confiança, amor verdadeiro. É este o exemplo que os discípulos de Jesus devem imitar; é esse o culto verdadeiro que eles devem prestar a Deus.

 

INTERPELAÇÕES

  • Como nos relacionamos com Deus? O que devemos fazer para nos encontrarmos com Ele? Como respondemos ao seu amor e ao seu cuidado de Pai? Que é que Deus espera de nós? Jesus tinha, sobre isto, ideias bastante claras. Ele estava plenamente convicto de que não se chega ao encontro com Deus através de ritos externos mais ou menos solenes, ou de atos cultuais cuidadosamente encenados mas que não passam de atos formais determinados pelo calendário litúrgico… Jesus achava que a resposta do crente a Deus, a resposta que agrada a Deus e que Deus espera, passa por gestos simples e generosos que expressem a doação total da própria vida, a entrega confiada nas mãos de Deus, a renúncia ao próprio critério para acolher os desafios e indicações de Deus, a obediência incondicional a Deus. O verdadeiro crente é aquele que, no silêncio e na simplicidade dos gestos mais banais, com um coração desprendido e generoso, coloca toda a sua existência nas mãos de Deus. Qual é a nossa resposta ao Deus que nos ama com cuidados de Pai? A nossa “religião” é uma “religião” de gestos externos e de rituais balofos, ou é uma “religião” de escuta de Deus e de obediência incondicional à sua vontade?
  • Jesus, no átrio do templo de Jerusalém, chama a atenção dos discípulos para uma mulher, viúva e pobre, que apesar da sua pobreza deposita no recipiente das esmolas tudo o que tem. Os olhos de Jesus fixam-se muitas vezes em homens e mulheres simples, que são humildes, generosos e capazes de grandes gestos de amor. Na reflexão bíblica, os pobres, pela sua situação de carência, debilidade e necessidade, são considerados os preferidos de Deus, aqueles que são objeto de uma especial proteção e ternura por parte de Deus. Por isso, eles são olhados com simpatia e até, numa visão simplista e idealizada, são retratados como pessoas pacíficas, humildes, piedosas, cheias de “temor de Deus” (isto é, que se colocam diante de Deus com serena confiança, em total obediência e entrega). Este retrato, naturalmente um pouco estereotipado, não deixa de ter um sólido fundo de verdade: somente os “pobres – aqueles que têm um coração despojado, não apenas de bens materiais, mas também de orgulho, de vaidade, de autossuficiência – são capazes de estar disponíveis para acolher os desafios de Deus e para aceitar, com humildade e simplicidade, os valores do Reino. Os nossos corações são corações de “pobre”, sempre disponíveis para escutar Deus e para acolher com generosidade e amor os desafios de Deus?
  • Jesus aponta aos discípulos os escribas que passeiam pelos átrios do templo e diz: “acautelai-vos dos escribas”. É um aviso muito sério, que também nós precisamos de escutar. Na aparência, os escribas praticam ações religiosamente corretas e são pilares da comunidade religiosa israelita; na prática, são pessoas pretensiosas e arrogantes, dominadas por sentimentos de egoísmo, de ambição e de vaidade, que apostam tudo nos bens materiais, mesmo que isso implique explorar e roubar as viúvas e os pobres… Na verdade, nos corações desses pretensos “homens-modelo” da religião não há lugar para Deus e para os outros irmãos; só há lá lugar para os seus interesses mesquinhos e egoístas. Eles são a antítese daquilo que os discípulos de Jesus devem ser. Temos efetivamente de “acautelar-nos”, a fim de não cairmos neste modelo de vivência falsa da fé. Existem ainda hoje destes “escribas” nas nossas comunidades cristãs? Alguma vez nos sentimos, nós próprios, pessoas que vivem uma fé de fachada, com atitudes práticas que não estão em consonância com os valores do Reino de Deus?
  • Por vezes temos a tendência para olhar as pessoas de forma ligeira, fixarmo-nos nas aparências e tirarmos a partir daí as nossas conclusões. Não é um bom método, se estivermos interessados em apreender a realidade profunda das coisas. Jesus não julgava as pessoas pelas aparências. Ele diz-nos que muitas vezes é precisamente aquilo que consideramos insignificante, desprezível, pouco edificante, que é verdadeiramente importante e significativo. O caso da viúva do Evangelho deste dia é paradigmático. Com frequência, Deus chega até nós na humildade, na simplicidade, na debilidade, nos gestos silenciosos e simples de alguém em quem nem reparamos. Temos de aprender a ir ao fundo das coisas e a olhar para o mundo, para as situações, para a história e, sobretudo, para os homens e mulheres que caminham ao nosso lado, com o olhar de Deus. Como é que avaliamos os irmãos e irmãs que se cruzam connosco? Com o olhar ligeiro de quem só está interessado nas aparências, ou com o olhar profundo e verdadeiro de Jesus?
  • Uma das críticas que Jesus faz aos doutores da Lei é que eles se servem da religião, a partir da sua posição de intérpretes oficiais e autorizados da Lei, para obter honras e privilégios. Trata-se de uma tentação sempre presente, ontem como hoje… Em nenhum caso a nossa fé, o nosso lugar na comunidade, a consideração que as pessoas possam ter por nós ou pelas funções que desempenhamos podem ser utilizadas, de forma abusiva, para “levar a água ao nosso moinho” e para conseguir privilégios particulares ou honras que não nos são devidas. Temos consciência de que a utilização da religião para fins egoístas é um comércio ilícito e abominável, que pode constituir um enorme contratestemunho para os irmãos que nos rodeiam?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 32.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 32.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.

Naquele dia, no templo, havia muitos ricos e uma pobre viúva. Só Jesus repara nesta mulher cuja pobreza é dupla, financeira e afetiva. Os ricos fazem barulho com as suas mãos que depositam no tronco grandes somas. A mulher é mais discreta, só Jesus consegue ouvir cair as duas pequenas peças. Uma vez mais, Jesus não se contenta em ver as aparências, procura ver o coração. Ele vê que aquilo que distingue a pobre viúva dos ricos é o seu coração que motiva a primeira a tomar sobre a sua indigência, os segundos sobre o seu supérfluo. Parece que a mulher não contou, não negociou com Deus, ela deu tudo, tudo o que tinha para viver. Os ricos dão com boa consciência, a mulher dá com bom coração. É por isso, diz Jesus, que ela deu mais do que toda a gente, não em quantidade, mas em generosidade.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.

Jesus discreto no templo… Vê os ricos, mas a sua atenção vira-se para a pobre viúva. Olhar curioso, inquiridor? Não! Como seu Pai, Jesus ultrapassa as aparências, vê o coração. A viúva deu toda a sua vida, tudo o que tinha. Não se questiona sobre como vai viver a seguir. Dá um salto no abandono total de si mesma ao Senhor. Ela é verdadeiramente filha de Abraão, o Pai da fé. Espera contra toda a esperança. Lança-se nos braços de Deus. Ao olhar esta pobre viúva, Jesus devia pensar certamente em si mesmo… Também nós somos reenviados a nós mesmos. Não se trata daquilo que damos no peditório, em cada domingo! Trata-se da nossa fé, da confiança que damos ao nosso Pai dos céus. Todos nós conhecemos momentos em que tudo escurece, em que não temos mais apoios, em que a nossa vida parece tremer. É então que se pode verificar a solidez da nossa fé, da nossa confiança. “Senhor, eu creio, mas vem em auxílio da minha pouca fé! Pai, entrego-me nas tuas mãos!”

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

A oração silenciosa… Para nos colocarmos sob o olhar de Jesus, tomemos nesta semana tempo para a oração silenciosa. Esta não deve ser “vazia”. É um tempo em que nos pomos na presença do Senhor e em que, depois de algumas palavras de louvor, o silêncio nos ajuda a sentir o olhar amoroso de Cristo.

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
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