50 anos da inauguração do Seminário Missionário Padre Dehon

Celebrar e fazer memória!

Há 50 anos, no dia 4 de julho de 1971, era inaugurado solenemente o Seminário Missionário Padre Dehon, por intermédio de D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto. E, desde os seus inícios, este Seminário – situado em Fânzeres, concelho de Gondomar – constituiu um dos polos mais significativos da identidade dos dehonianos em Portugal.

No próximo dia 4 de Julho de 2021, celebraremos a eucaristia, às 17 horas, presidida pelo padre João Nélio Pereira, novo superior provincial da congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos). Seguir-se-á o descerramento duma placa comemorativa e a apresentação do livro, que evoca estes 50 anos com os diversos testemunhos daqueles que por aqui passaram e respectivas fotos. Por fim, teremos um porto de honra para fechar um dia tão importante para esta casa, que, apesar desta pandemia do Covid 19, queremos assinalar devidamente, respeitando obviamente as normas da DGS.

Ao longo destes 50 anos, o Seminário Padre Dehon tem oferecido uma colaboração inestimável à Igreja local e à Igreja universal, seja como berço de diversas vocações religiosas, sacerdotais e missionárias, seja como espaço de crescimento para muitos jovens que aqui receberam uma boa formação humana e cristã e que hoje, nas suas famílias, nas suas comunidades paroquiais, nos seus locais de trabalho espalham a fragrância do espírito dehoniano. Por isso é nosso dever celebrar e fazer memória, é nosso dever festejar e sonhar um futuro promissor para esta casa e comunidade.

São 50 anos de história, são 50 anos de empenho de muitas pessoas, de muitas famílias e de muitos religiosos dehonianos. Uns mais exuberantes e com uma ação mais notada; outros que cumpriram a sua missão no silêncio e no escondimento, mas com um coração generoso e uma dedicação abnegada. Uns e outros são os heróis da nossa história.

Ao longo destes 50 anos, muitos de vós acompanhastes a caminhada dos seminaristas, dos sacerdotes e dos religiosos do Seminário Padre Dehon. Todos fazeis parte da nossa família. Há tantas pequenas histórias e momentos que cada um de nós pode recordar e que fazem perceber como esta casa é obra de Deus! Os espaços e as paredes desta casa, bem como os nossos corações, estão repletos de lembranças felizes e de momentos que permanecem nas nossas memórias pessoais e coletivas.

Quem pensou o Seminário Missionário Padre Dehon sonhou-o amplo, airoso, cheio de luz e muito funcional… E este belo edifício surgiu, com uma bela vista sobre a parte oriental da cidade do Porto. Trata-se de um edifício imponente e luminoso, outrora rodeado de campos, hortas e pomares, hoje rodeado de numerosas vivendas que acolhem famílias amigas e vizinhas.

O Seminário Missionário Padre Dehon foi construído em três blocos, que ainda hoje permanecem: um para a comunidade religiosa, outro para os seminaristas, e um terceiro – a capela – no centro de tudo, como que tudo unindo. O solar, herança da antiga casa da família que nos vendeu a propriedade, ainda hoje se mantém, com o seu imponente torreão, no cimo do qual se pode ter a melhor perspetiva da casa e, ao mesmo tempo, estender as vistas até ao Monte da Santa Justa, ao Monte da Virgem, ao rio Douro, à zona de Bonfim, Campanhã e das Antas. A mata e os jardins envolventes são espaços onde se experimenta uma tranquilidade e uma paz indescritíveis; e, ao mesmo tempo, proporcionam a todos os que têm a sorte de poder usufruir desses espaços, uma saudável vida de trabalho, de oração e de convívio.

Nos últimos anos foi-se constatando, progressivamente, que os espaços do Seminário já não se ajustavam às necessidades da comunidade religiosa e do grupo de seminaristas e vocacionados que acompanhávamos.

A comunidade religiosa que residia no Seminário iniciou, então, um diálogo com os responsáveis da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus e com diversas pessoas amigas, para tentar discernir a forma de concretizar uma adaptação dos espaços que capacitasse o Seminário para continuar a responder às necessidades da comunidade religiosa, dos vocacionados e da Igreja local. Depois de alguma reflexão, decidimos deixar a parte sul, anteriormente destinada ao acolhimento dos seminaristas, e fixarmo-nos na ala norte a seguir à capela.

Ao longo destes 50 anos, centenas de jovens passaram pelo Seminário Padre Dehon: cerca de 380 pela Boavista e uns 1450 pela Portelinha. Graças ao empenho dos formadores, assistentes e professores que os acompanharam, esses jovens foram educados para a vida e ajudados no discernimento da sua vocação pessoal. Naturalmente, as equipas educadoras do Seminário não trabalharam sozinhas: procuraram sempre envolver as famílias no processo educativo e no discernimento vocacional dos jovens seminaristas. Muitas famílias dos nossos antigos alunos ainda hoje conservam uma memória grata e feliz dos momentos em que partilharam a vida do Seminário.

Muitos dos rapazes que frequentaram o Seminário Padre Dehon acabaram, na verdade, por optar pela vocação laical e do matrimónio; e hoje, vivendo a vocação a que Deus os chamou, são uma presença viva e ativa nas várias comunidades cristãs onde estão inseridos. Mas outros descobriram no nosso Seminário a sua vocação à consagração na vida religiosa e no sacerdócio.

Do Seminário Missionário Padre Dehon (Portelinha) nasceram, para a Igreja e para a Congregação, 36 sacerdotes, 2 religiosos irmãos, e um pré-postulante. Do Seminário da Boavista, saíram mais três sacerdotes dehonianos (um dos quais é o atual bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas).

Mas tudo isto não teria sido possível, nem no passado nem no presente, sem o apoio dos inúmeros amigos e benfeitores do Seminário. São milhares os amigos, os colaboradores, os benfeitores que, ao longo destes 50 anos, nunca deixaram de ter para connosco gestos de verdadeira amizade, de simpatia e de partilha.

Caríssimos benfeitores do Seminário: neste momento tão feliz, queremos recordar cada um de vós, pois devemos-vos muito. As vossas orações e as vossas ajudas – fruto de tantas renúncias – são uma das colunas que têm sustentado esta casa. Sem vós, nunca teríamos conseguido formar tantos jovens e responder a tantas necessidades. Nas nossas orações comunitárias e individuais, nunca vos esquecemos.

Hoje, num contexto social, religioso e familiar que é muito diferente do de há 50 anos atrás, o acompanhamento e o discernimento vocacional faz-se de outra forma: não já com grandes grupos, mas de uma forma personalizada e individualizada. Apenas alguns jovens entram no Seminário em cada ano (um, dois… Deus chama os que quer, e alguns respondem a esse chamamento). Os jovens que aceitam ficar connosco em processo de discernimento vocacional passam a fazer a vida do dia a dia no seio da comunidade religiosa do Seminário e não numa ala à parte, como acontecia no passado. Os novos tempos exigem que a nossa presença dehoniana mantenha o mesmo entusiasmo e testemunho, mas com nova criatividade e com novos métodos.

Os alunos que frequentaram o Seminário foram para sempre tocados por esta casa, pelos seus superiores e pelo espírito dehoniano.

Para não deixar perder e apagar este espírito foi criada, há mais de 25 anos, a Associação dos Antigos Alunos do Seminário Missionário Padre Dehon. Todos os antigos alunos – seja os que fizeram a sua consagração religiosa, seja os que seguiram outros caminhos – costumam encontrar-se no Seminário, para reviver velhos tempos e para fortalecer os laços que aqui criaram e que os unem para toda a vida. Sentem-se uma família, a família do Seminário Padre Dehon. Trata-se, aliás, de uma “família” cada vez maior, que vai sendo enriquecida com as esposas e os filhos dos antigos seminaristas que optaram pelo casamento. Além de dinamizar esses encontros, a Associação dos Antigos Alunos tem apostado, também, em promover diversas ações culturais e recreativas, como as noites de fados e os jantares de angariação de fundos. Nos últimos anos, tem também procurado apoiar as missões dehonianas com diversas iniciativas de voluntariado em Angola, no âmbito da Associação de Leigos Voluntários Dehonianos.

Uma das apostas pastorais da comunidade do Seminário sempre foi a colaboração com a Igreja local. A capela do Seminário está sempre aberta à comunidade envolvente. Durante a semana, e sobretudo ao sábado e ao domingo, muitas pessoas vêm celebrar a fé connosco; e nas festas e nos tempos litúrgicos fortes, celebrarmos com os nossos vizinhos e amigos os momentos e acontecimentos mais significativos da nossa fé. Além disso, procuramos abrir os nossos espaços às necessidades das comunidades cristãs desta zona.

O funcionamento, nas instalações do Seminário, de um centro de catequese pertencente à paróquia de Rio Tinto, é um bom exemplo disso mesmo. Também temos estado disponíveis, na medida das possibilidades, para acolher encontros e retiros de diversos grupos paroquiais. A própria paróquia de Fânzeres – a paróquia a que o Seminário pertence territorialmente – está entregue aos cuidados pastorais de um sacerdote da comunidade do Seminário (atualmente, o P. Francisco Costa, que é apoiado, na sua ação pastoral, pelos outros sacerdotes da comunidade). Outros religiosos da comunidade – o P. Joaquim Garrido, o P. José Domingos, o P. Antonino Sousa – colaboram, além disso, em diversos setores da nossa diocese e até da Igreja nacional.

Os religiosos da comunidade do Seminário Padre Dehon, testemunhando o carisma dehoniano, procuram ir ao encontro das pessoas mais frágeis, sentindo-se irmãos de todos esses homens e mulheres que se encontram nas nossas ruas ou nas nossas paróquias… E trabalham na Obra ABC (uma casa situada em Rio Tinto, fundada pelo P. Ivo Tonelli, que acolhe jovens institucionalizados), no acompanhamento de jovens vocacionados ou de sacerdotes, da juventude universitária, dos antigos alunos ou dos jovens que partem em missão de voluntariado.

Ultimamente temos estado a implementar, no Seminário, um Centro de Pastoral. Preparamos, nesse âmbito, um programa anual de retiros, de sessões temáticas, de ações de formação, de noites de cinema, entre outras iniciativas. Uma parte desse programa teve de ser suspensa, devido às restrições impostas pela crise do Covid 19. Em compensação, procurámos lançar novas formas de intervenção pastoral, através dos meios digitais. As nossas celebrações têm sido regularmente transmitidas online e criamos uma página de internet para apoio ao Centro Pastoral do Seminário Padre Dehon.

Se é verdade que a atual crise sanitária nos obrigou a desacelerar o nosso dinamismo pastoral e a adiar muitas das habituais atividades de apostolado, também é verdade que nos trouxe novas oportunidades e nos fez inventar novas formas de chegar às pessoas. Por outro lado, este tempo de menor atividade pastoral tem sido uma oportunidade para valorizarmos a vida comunitária, pois temos tido mais disponibilidade para estar uns com os outros, para partilhar a nossa vida, para descobrir a riqueza dos confrades que Deus colocou ao nosso lado. Têm sido dias novos, cheios de desafios, que nos lançam no futuro com muita esperança.

Que esta grande casa continue a acompanhar e a acolher todos aqueles que vêm ao nosso encontro; que transpareça sempre entre nós uma cultura de hospitalidade e de cuidado com os mais frágeis; que aqui se possa encontrar bons dehonianos, homens atenciosos, homens com um coração bom!

Que este Seminário Missionário Padre Dehon possa por mais 50 anos irradiar o seu carisma dehoniano!

 Pe. António Loureiro,
Superior do Seminário Missionário Padre Dehon

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