A Política melhor

A caridade do político «é um amor preferencial pelos últimos, que subjaz a todas as acções realizadas em seu favor» (FT 187). Só com esta caridade «é que os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura e, por conseguinte, verdadeiramente integrados na sociedade» (FT 187).

Esta é, sem dúvida, uma afirmação importante, que recorda que o político não governa apenas para os mais ricos e poderosos, mas deve procurar promover o bem de todos. Pelo contrário, se falta esta caridade, continuaremos a assistir ao uso ideológico dos pobres, ao seu aproveitamento como tema de campanha ou slogan político, a uma estratégia de conquista de eleitorado, sem que verdadeiramente nada seja feito para os retirar da miséria.

Aliás, aquilo que normalmente sucede é um conjunto mais ou menos alargado de tentativas para domesticar os pobres e inclusivamente torná-los inofensivos. O caminho tantas vezes percorrido é o de reduzir os pobres a uma passividade tal que os faça crer que não existe outra solução para eles e que o melhor mesmo será resignar-se ao destino que lhes coube em sorte. A opção é frequentemente a de apoiar os mais ricos e poderosos, com a expectativa – ingénua e irrealista – de que assim os pobres possam sair beneficiados com mais emprego e melhores salários. Retirar esses homens e mulheres da pobreza não é uma tarefa fácil, até porque «pobres sempre os teremos». Mas simplesmente não nos podemos convencer que é uma tarefa de todo impossível…

Nesta linha, recorda o Papa que «os políticos são chamados a cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas» (FT 188). De facto, eles conseguem ter uma perspectiva suficientemente abrangente para se darem conta de quem são verdadeiramente aqueles que estão mais expostos à miséria. Eles podem, portanto, mobilizar pessoas, recursos e meios para responder a um flagelo do qual não nos conseguimos libertar, mas que se tem vindo a agravar ainda mais. «Cuidar da fragilidade quer dizer força e ternura, luta e fecundidade, no meio dum modelo funcionalista e individualista que conduz inexoravelmente à “cultura do descarte”» (FT 188). Não devemos ter ilusões: a nossa sociedade tem vindo progressivamente a colocar à margem aqueles que não interessam, porque não produzem ou porque simplesmente representam um grande dispêndio de dinheiro. Neste sentido, cuidar da fragilidade «significa assumir o presente na sua situação mais marginal e angustiante e ser capaz de ungi-lo de dignidade» (FT 188).

Com as nossas ruas e avenidas atafulhadas de cartazes alusivos à campanha eleitoral, precisamos de pensar um pouco nisto. Enquanto sociedade civil, precisamos de fazer ver à classe política que há caminhos que não contribuem ao nosso crescimento enquanto cidadãos de um mesmo país.

José Domingos Ferreira, scj

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