A festa litúrgica de “A Virgem Santa Maria, Rainha”, ou da realeza de Maria, foi auspiciada por alguns congressos marianos a partir do ano de 1900. Em 1925, Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei. Em 1954, na conclusão do centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, Pio XII anunciou esta festa para o dia 31 de Maio. Na reforma do calendário, promovida pelo Vaticano II, a festa foi fixada na oitava da Assunção de Nossa Senhora, a 22 de Agosto, para manifestar a conexão que existe entre a realeza de Maria e a sua Assunção ao céu.
Lectio
Primeira leitura: Isaías 9, 1-6
O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou sobre eles. 2Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo; alegram-se diante de ti como os que se alegram no tempo da colheita, como se regozijam os que repartem os despojos. 3Pois Tu quebraste o seu jugo pesado, a vara que lhe feria o ombro e o bastão do seu capataz, como na jornada de Madian.4Porque a bota que pisa o solo com arrogância e a capa empapada em sangue serão queimadas e serão pasto das chamas.5Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz. 6Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites, sobre o trono de David e sobre o seu reino. Ele o estabelecerá e o consolidará com o direito e com a justiça, desde agora e para sempre. Assim fará o amor ardente do Senhor do universo.
O nosso texto, expressão da esperança messiânica de Israel, pode ser interpretado sob o ponto de vista cristológico-mariano. Proclamado por Isaías depois do ano 740 a. C., tem um tom de festa e encorajamento, apesar das nuvens negras que pairam sobre Israel. Os vv. 5ss podem ser lidos segundo a chave que a festa de hoje nos sugere. A realeza de Maria permanece ligada e subordinada à realeza do Messias, Cristo Senhor. O Libertador esperado é o menino que “nasceu para nós: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz” (v. 5). Estas imagens aplicadas à realeza de Cristo são alegóricas, porque o seu reino não é deste mundo, e a sua paz é diferente da que o mesmo mundo nos pode dar. Jesus é manso e humilde de coração. O mesmo se pode dizer da realeza de Maria, humilde serva do Senhor.
Evangelho: Lucas 1, 26-38
Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37porque nada é impossível a Deus.» 38Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
Em toda esta bela cena, Deus é o principal ator: fala pelo seu anjo, age de modo criador por meio do Espírito, atualiza-se no “Filho”, que nasce de Maria. Maria é expressão da humildade que se mantém aberta ao mistério de Deus, é enriquecida pelo mesmo Deus, e concretiza a esperança de Israel. Isabel terá toda a razão quando proclamar, dirigindo-se a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?” (Lc 1, 43). O apelativo “bendita” oferece-nos uma pequena janela que nos permite entrever a senhoria ou realeza de Maria. De fato, é “Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor!” (Lc 19, 37) e “Bendito seja o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino do nosso pai David que está a chegar.” (Mc 11, 9s.). Jesus é o fruto “bendito” do ventre de Maria. O clarão que ilumina a consciência de Maria remete para a senhoria do filho concebido por obra do Espírito Santo, e não tanto para qualquer sua soberania pessoal. Por isso, exulta em Deus, seu salvador (cf. Lc 1, 46ss.).
Meditatio
Hoje, somos chamados a contemplar Aquela que, sentada à direita do rei dos séculos, resplandece como rainha e intercede por nós como mãe. A figura da rainha-mãe permanece em muitas culturas populares como protótipo de solenidade, de senhoria, de cordialidade, de benevolência. O culto e a própria iconografia representam espontaneamente Maria na postura de uma rainha, revestida de beleza e de glória, muitas vezes sentada e coroada de estrelas, feita, ela mesma, trono do filho que tem nos braços, o Menino Jesus. A liturgia contempla esse ícone de Maria, mãe e rainha. Contempla a ligação de Maria serva a Senhor Deus como participação na realeza de Cristo. Trata-se de uma realeza que é serviço, colaboração com Cristo na salvação da humanidade. A obra de Cristo exigiu a sua morte no Calvário. Junto dele estava a sua mãe. A realeza de Cristo custou-lhe a Paixão e a Morte. A de Maria custou-lhe as dores que a Paixão e a Morte de Jesus lhe causaram.
O povo cristão costuma invocar Maria como Rainha da Paz. Trata-se de uma conotação com o oráculo de Isaías que fala do “príncipe da paz”. Jesus Cristo é a nossa paz, afirma Paulo (cf. Ef 2, 14). Maria é mãe do príncipe da paz. O Menino que nasceu para nós é o fruto bendito do ventre de Maria, é o Senhor, fonte da paz. A paz é sonho e utopia, que convidam ao acolhimento do Senhor da Paz, Jesus Cr
isto, filho de Maria. Ela é a Virgem pacificada e operadora de paz. O sonho e a utopia convidam-nos a acreditar em Jesus e a realizar obras de paz, que são testamento seu e dom do Espírito.
isto, filho de Maria. Ela é a Virgem pacificada e operadora de paz. O sonho e a utopia convidam-nos a acreditar em Jesus e a realizar obras de paz, que são testamento seu e dom do Espírito.
O privilégio da maternidade divina de Maria, fonte e a causa das suas grandezas, das suas graças, do seu poder e da sua glória, faz dela a Rainha de todas as criaturas. Veneremo-la, tenhamos confiança nela, amemo-la.
Oratio
Salve, Virgem Santa Maria, mãe generosa do Senhor do universo, rei de paz e de justiça. Mulher humilde, acolhida já no céu pelo amor do Pai, inspira o nosso serviço na edificação do reino de Cristo. Mãe feliz, que acreditaste, fica connosco para nos ajudar a guardar e a alimentar a lâmpada da nossa fé. Esposa do Espírito Santo, ensina-nos a perseverar nas obras de misericórdia, de justiça, de paz. Ámen.
Contemplatio
O Profeta real repete o seu admirável cântico: «Vejo à vossa direita, ó meu Príncipe, uma Rainha vestida com um manto de ouro todo adornado de bordados. As virgens, depois dela, apresentam-se ao meu Rei com santa alegria» (Sl 44). – Isaías, transportado pelo espírito de Deus, canta num arroubamento sublime: «Eis a Virgem que devia conceber e dar à luz um Filho». A voz de Deus domina todas as exclamações de alegria: «Vinde minha esposa, diz, vinde, minha bem-amada, vinde do Líbano para ser coroada» (Cântico). A Santíssima Trindade concede a Maria a auréola do Martírio, do doutoramento e da virgindade, ornamenta a sua augusta fronte com a coroa real. Eis a Rainha de glória, mas também Rainha de bondade e de misericórdia. Vinde a ela vós todos que estais em dificuldade. O seu poder não tem outros limites que os do amor que o seu Filho tem por ela. Ela é o asilo dos pecadores, a protetora dos justos, a esperança e o sustentáculo da Igreja, o refúgio dos povos e dos reis. Os espíritos celestes são os seus ministros, o género humano os seus súbditos, as três Igrejas o seu reino. Ela é três vezes Rainha. – O segredo do seu poder é o amor que lhe leva o Coração de Jesus. Se o Coração de Jesus é a fonte das graças e o tesouro do céu, quem melhor do que Maria pode ir até a esta fonte e abrir este tesouro? Este coração, não é feito do sangue e da carne de Maria? Rainha do Sagrado Coração, abençoai-nos – se o Sagrado Coração de Jesus é o sol da cidade celeste, o Coração de Maria é como a lua brilhante que nos transmite os seus raios. (Leão Dehon, OSP 4, p. 159s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“Bendita a Mãe do meu Senhor!” (cf. Lc 1, 42s).
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A Virgem Santa Maria (22 Agosto)