Alto Molocuè, 12 de Agosto

O Padre Renato que estava encarregado de orientar o retiro à Província Moçambicana pediu-me para ser eu a orientar o retiro, já que eu estava de passagem. Assim, às 6.00horas da manhã, arrancámos os padres dehonianos de Nampula comigo e o Gil.
Podemos dizer que foi um expresso. Já que só parámos no Alto Molocuè às 8.40h. Aí encontrámos a comunidade do Alto Molocuè, a comunidade de Milevane, do Noviciado, com o Mestre e os noviços que são três. Fiquei admirado de não estar ninguém do Centro Polivalente Leão Dehon do Guruè. Estavam ainda as voluntárias portuguesas e um grupo de quatro voluntários italianos da ONLUS.
Tomámos um café forte para acordar.
E às 9.00 horas em ponto, iniciámos o nosso retiro com uma meditação por mim proferida intitulada a experiência do Coração de Deus.
Durante 70 minutos, procurei dar algumas dicas de meditação. Houve depois algumas perguntas sobre o conteúdo. Seguiu-se uma hora de adoração.
A eucaristia começou às 11.30h presidida por D. Tomé Makweliwa, arcebispo de Nampula, também ele como sabemos dehoniano.
Fiquei um bocado atrapalhado, já que era eu a fazer a homilia e o bispo escutava.
Foram mais ou menos estas as minhas palavras na homilia:

“Cada um de nós tem um coração humano (ligado à relação com as pessoas, ligado à relação com a natureza), um coração divino (ligado a Deus, a todos os sinais de Deus, lugar onde se encontra a espiritualidade pessoal de cada um).
Cada um de nós tem ainda um coração dehoniano que nos leva a estarmos em sintonia com o P. Dehon, cujo 83º aniversário da sua morte celebramos hoje, em sintonia com o carisma dehoniano, marcado pela realidade da fé: indiferença religiosa; marcado pela situação da Igreja do seu tempo: o clero pouco culto. O P. Dehon vem escandalizado do Concílio Ecuménico Vaticano I com a pouca culura religiosa do clero, marcado pela pobreza das pessoas (alguma viviam debaixo da terra), marcado pela injustiça social, marcado por uma educação escolar sem fé.
Resumindo: as missões e as obras sociais são caras ao P. Dehon e temos reflectido bastante sobre elas.
A educação, tão cara ao P. Dehon, tem tido poucos desenvolvimentos reflexivos. O encontro de educadores em Salamanca no mês de Julho de 2008 deixou-me uma alegria e uma tristeza; alegria por haver este movimento na Congregação; mágoa, porque as coisas são vistas pela rama e não pelas raízes. Eu, especializado em educação, perguntei a um educador espanhol, se tinha lido alguma coisa de Adela Cortina, um grande nome da educação em Espanha. Respondeu-me que nem a conhecia. Impressionante!
O P. Dehon pede-nos raízes, troncos, não folhas; pede-nos flores, não simples pétalas.
É que a grandeza da pessoa humana mede-se pela capacidade de enfrentar situações delicadas com respeito, com bondade, com equilíbrio. No fundo, a grandeza do ser humano mede-se pela capacidade de amar. E sabem o que é o amor?
– Eu não amo, porque sou amado. Isso é egoísmo.
– Eu sou amado porque amo. Isto é altruísmo.
Voltando ao P. Dehon, ele renova o seu coração à luz da Palavra de Deus. É a Palavra de Deus que molda o barro da sua vida, que faz dele uma obra de arte em que o criador é Deus.
Para o P. Dehon, a falta de conhecimento de Deus é a raiz, é a causa de todos os males. Sem Deus, criam-se deuses, ídolos: poder, riqueza, corrupção, ambição, egoísmo, individualismo…
O P. Dehon apresenta-nos dois desafios:
– O primeiro é acreditar em Deus, acreditar em Jesus Cristo. Acreditar não é só dizer ou mesmo fazer coisas. Acreditar é uma convicção. É cimentar a fé no nosso coração.
E esta fé para o P. Dehon traduziu-se na contemplação do coração trespassado como nos afirma Jo 19,31-37.
O coração trespassado é um coração aberto: para nos receber, para nos acolher, para nos dar também o seu amor.
O coração trespassado é um coração sacrificado que deu a sua vida pela humanidade, que se esforçou que se empenhou para salvar a humanidade.
É um exemplo para todos nós.
Os centros de espiritualidade dehoniana poderão ser uma forma de presença terna, bondosa, uma forma de experimentar a experiência de Deus, a bondade de Deus, através do seu coração.
– Esta contemplação de Deus traduz-se numa acção concreta de serviço a Deus e aos irmãos.
Jesus Cristo teve um projecto de intervenção concreta. O P. Dehon teve um projecto de intervenção concreta. Cada um de nós, na nossa comunidade, na nossa vida tem um projecto de intervenção concreta: atitudes, comportamentos, acções…
O P. Dehon deu-nos um exemplo limpo e claro da relação de respeito, de colaboração com o papa. Ele foi muito admirado por Leão XIII que lhe pede para propagar a Rerum Novarum. Paulo VI dizia que o P. Dehon foi o profeta que o seu tempo necessitava.
O P. Dehon respeitou e colaborou com os bispos.
Numa palavra, apesar de algum sofrimento, o P. Dehon amou a Igreja universal. O P. Dehon amou a Igreja local. Amou os leigos, criando a Associação. Amou os consagrados. Amou os padres e a Diocese”.
Terminada a Eucaristia, fomos comer um bom bacalhau preparado pela Vera e pela Sónia. Após algum momento de convívio, regressamos a Nampula.
Parámos ainda em Murrupula para cumprimentar o Sr. Cartaxo que é um voluntário dos padres de S. João Baptista.

| Adérito Barbosa, scj |

 

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