Anthopologia Cordis: problemática contemporânea

Foi um dia muito intenso, este primeiro do Seminário «Anthropologia Cordis». Do programa fazem parte dois momentos fortes do dia: de manhã, às 7h30, começamos com a adoração na qual incluímos as laudes; no fim da tarde, a eucaristia.

Os trabalhos propriamente ditos começaram com uma grande conferência de fundo sobre a «problemática antropológica contemporânea» feita pelo teólogo italiano G. Corsani. Seguiu-se um tempo de debate com o conferencista, no qual também eu próprio participei, interpelando o conferencista sobre um tema que ele não abordara (quando dissera que se esquecera muita coisa na tradição teológica e que hoje a filosofia tenta recuperar) e que me parecia fundamental como era o caso da «tradição mística e da teologia apofática», com o que ele concordou. Seguiu-se um tempo de trabalho em grupos por continentes, seis grupos, pois da América Latina, dado o maior número dos participantes, foi necessário fazer dois grupos.

Na tarde, foi em plenário, onde todos os grupos partilharam os resultados das suas reflexões, que nos surpreenderam pela impressionante convergência dos temas e das preocupações. É interessante verificar o seguinte: enquanto a Europa se caracteriza pelo sentido critico, cultivado pela filosofia e pela ciência, e onde, por conseguinte, muito do património da tradição espiritual e teológica é posto em causa, nos outros continentes, especialmente na América Latina em geral e no Brasil, em particular, mantém-se viva a tradição em muitos temas que no assim dito mundo ilustrado se perderam. A muitos títulos, sobretudo no que diz respeito à sensibilidade popular, o Brasil e a América Latina em geral, são hoje os garantes de muitas coisas importantes da tradição.

Expressão disso aconteceu no final da celebração eucarística, na qual se celebrou a memória de S. Braz, o santo patrono contra as doenças da garganta. O presidente da celebração anunciou, no final da Eucaristia, que depois da bênção faria o rito da bênção de S. Braz: duas velas cruzadas na garganta do fiel, acompanhadas de uma oração. Depois da bênção e da despedida da assembleia pelo diácono ninguém partiu. E foi interessante ver os confrades do mundo «esclarecido» (Europa, América do Norte)  irem receber a bênção de S. Braz, juntamento com os brasileiros, os africanos e os orientais. Eu também fui, claro. Foi um exemplo de como se deve reconciliar a mais elevada reflexão teológica, que neste seminário se pratica, com a simplicidade do povo que acredita na eficácia da bênção de S. Braz para quem sofre da garganta. Já há décadas que não vivia assim o dia de S. Braz, desde os tempos do Colégio Missionário, quando ainda estas memórias litúrgicas eram celebradas. São verdades esquecidas, que importa recuperar, sem dúvida.

José Jacinto Ferreira de Farias, scj 

plugins premium WordPress