Carta do Superior Geral e Conselho para a Solenidade do Coração de Jesus

Prot. N. 0201/2018

Roma, 22 de maio de 2018

O Deus das surpresas

Carta por ocasião da festa do Sagrado Coração de Jesus 2018

A todos os membros da Família Dehoniana

Caros confrades e membros da Família Dehoniana,

foram muitas as comunicações que recebestes ultimamente: sobre a situação da Congregação, a seguir à nomeação do P. Heiner Wilmer, a carta de convocação do XXIV Capítulo Geral, a carta da Comissão Preparatória, a carta ‘de despedida’ do P. Wilmer, etc. As Entidades estão a fazer o seu caminho de preparação para o Capítulo. Com todos estes escritos, poderíamos descuidar-nos na celebração da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Desejamos valorizar esta oportunidade para nos concentrarmos nas nossas raízes neste momento singular da vida da Congregação.

O Deus das surpresas

“O nosso Deus é o Deus das surpresas”[1], dizia o Papa Francisco precisamente no Domingo de Páscoa. A nomeação do P. Wilmer como bispo de Hildesheim e as consequências para a Congregação têm sem dúvida o caráter de surpresa. Depois do espanto inicial e agradável, este acontecimento abriu o espaço do inesperado. Também para nós, membros do Governo Geral, com o passar dos dias, o alcance dos acontecimentos foi-se tornando mais concreto: o assumir do ofício de Superior Geral, a revogação da Conferência Geral de Manila, a convocação do XXIV Capítulo Geral para 14 de julho de 2018, a celebração dos Capítulos das Entidades. Muitos tiveram que modificar a sua agenda, vários assumiram trabalhos não previstos, a todos se pediu uma oração especial. “São as surpresas de Deus, que nos ajudam a dar-nos conta de que todos os nossos planos, todos os nossos pensamentos e tantos aspetos, diante da Palavra viva de Deus, diante da Palavra de vida, do Deus Vivo, caem”[2], ensina-nos uma vez mais o Papa Francisco. Eis o desafio: que vemos neste Hoje da Congregação? Uma surpresa banal, um ‘acidente’ a ultrapassar o mais rápido possível? Ou, pelo contrário, estamos abertos a acolher este momento como uma surpresa de Deus, como uma ‘palavra viva’ que Deus nos oferece para discernir a nossa vida e missão enquanto religiosos dehonianos justamente num momento imprevisto, não escolhido?

O último número das nossas Constituições, mais que uma conclusão, é um convite a caminhar: “Somos obrigados a repensar e a reformular a sua missão, as suas formas de presença e de testemunho… para acolher o Hoje de Deus” (Cst. 147). Nós, Governo Geral, estamos convencidos que, nestas circunstâncias excecionais, Deus está a chamar-nos a um crescimento carismático ulterior. Este crescimento é da responsabilidade de todos os membros da Congregação, porque o carisma existe e persiste na medida em que se realiza e se enriquece na existência de cada um de nós e, mais ainda, na nossa vida de comunhão[3]. É por esta mesma razão que, dentro de um mês, celebraremos o Capítulo Geral, o órgão no qual somos chamados a discernir as vias que o Senhor quer que percorramos, na fidelidade ao dom recebido[4].

Sob o sinal da sinodalidade

Como celebrar o Capítulo? “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio”[5], responde o Papa. Na proximidade ao nosso caminho de Congregação, propomos-vos a leitura do documento da Santa Sé sobre “A sinodalidade na vida e na missão da Igreja”[6] enquanto aprofundamento e encorajamento de um elemento fundamental do nosso ser: as comunidades de vida consagrada “podem oferecer experiências significativas de articulação sinodal da vida de comunhão e dinâmicas de discernimento comunitário realizadas em comunidade, e também estímulos para descobrir novos caminhos de evangelização.”[7] Que o nosso Capítulo Geral possa ser uma experiência e um testemunho desse género: escutar, discernir, eleger, decidir, projetar pensando e sentindo-se Congregação, exercitando não apenas a responsabilidade individual, mas sobretudo a corresponsabilidade de todos na procura do bem comum que nos coloca ao serviço da Igreja e do mundo.

Radicados na comunhão

Um Capítulo Geral vivido sob o sinal da sinodalidade apenas será possível se a corresponsabilidade for responsum, ou seja, resposta à verdadeira surpresa que nos desvela a ferida do Coração aberto: a realidade de comunhão de amor das três pessoas divinas; ela torna-se “a fonte, a forma e a finalidade da sinodalidade”[8].

Sob o sinal do Sint unum, o P. Dehon, nosso Fundador, fala frequentemente do Instituto como “notre Œuvre”, “a nossa Obra”. Com isto não afirma que a Congregação é o resultado de mão humana; bem pelo contrário: o P. Dehon procurava e encontrava sempre sinais da origem divina da Congregação. Ele tinha clara consciência da comunhão de toda a Congregação. Esta comunhão era, por isso, um dom que ele quis conservar com o seu compromisso, sobretudo em tempos difíceis (por exemplo, a seguir à expulsão dos confrades da França ou, há cem anos, durante e depois da Primeira Guerra Mundial).

Esta paragem da vida da Congregação será uma experiência profunda de comunhão, ao serviço da missão, se nos confiarmos ao Coração do Salvador, fonte de comunhão, como discípulos dóceis e alegres.

Pedimos que rezeis pelo Capítulo Geral, para que o Espírito de Jesus nos ajude a dirigir o olhar para o futuro, para ser corajosos e livres artífices do inédito, e a ter mente e coração abertos às exigências da Igreja e do mundo.

 

P. Carlos Enrique Caamaño Martín, scj

Superior Geral e o seu Conselho

 

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[1] Papa Francisco, Homilia 1 de abril de 2018; https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2018/documents /papa-francesco_20180401_omelia-pasqua.html

[2] Papa Francisco, Discurso aos participantes na assembleia plenária da Federação Bíblica Católica (FEBIC), 19 de junho de 2015; https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/june/documents/papa-francesco_20150 619 _febic.html

[3] Cfr. Aitor Jiménez Echave, “Il capitolo realtà giuridica”, in: Aitor Jiménez Echave, Santiago González Silva, Nicla Spezzati (edd.). Nello stile sinodale. Percorsi della collegialità capitolare, Roma 2017, p. 41.

[4] Idem.

[5] Papa Francesco, Discurso por ocasião da comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos, 17 de outubro de 2015: AAS 107 (2015) 1139; https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/october /documents/papa-francesco_20151017_50-anniversario-sinodo.html

[6] Comissão Teológica Internacional, A sinodalidade n avida e na missão da Igreja, 2 de março de 2018; https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_20180302_sinodalita_it.html (nota: não há tradução portuguesa)

[7] Ibid. n.º 74.

[8] Ibid. no. 43.

 

VER CARTA (doc)

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