Centenário do Pe. Ivo
Memória do Pe. Ivo Tonelli, scj
Pobre ao serviço dos pobres
Fundador da Obra ABC (Rio Tinto)
– O Pe. Ivo Tonelli nasceu a 25 de janeiro de 1921, em Casteluccio Montese, Módena, centro-norte da Itália.
– Em 1938 entrou para o seminário dehoniano em Albino (Bérgamo)
– Fez a profissão Religiosa a 29 de setembro de 1943.
– Por causa da guerra regressou a sua casa paterno, como outros seus confrades estudantes, até ao fim da guerra.
– Foi ordenado sacerdote a 24 de junho de 1951.
– Em abril de 1958 veio para Portugal, para trabalhar no Colégio Camões, em Coimbra, dirigido pelos dehonianos, e depois no Colégio São João fundado pelos mesmos padres.
– Em 1961 foi para Ermesinde onde fundou em 1963 uma instituição para acolhimento de crianças e jovens, órfãos sociais – Obra ABC (Amici Boni Consilli).
– A partir de 1968 pôde dedicar-se completamente à Obra ABC.
– Em janeiro de 1975 aceitou o pedido do Bispo do Porto para dirigir também a Obra do Pe. Grilo, em Matosinhos, que em 1980 passou para a direção do Pe. Miguel Corradini, também dehoniano.
– A 21 de março de 1982, faleceu aos 61 anos, vítima de cancro no esófago.
O seu exemplo de dedicação total às crianças pobres e abandonadas foi assumido pela Província dos Sacerdotes do Coração de Jesus, que ainda hoje mantem e dirige a Obra ABC.
Pobre ao serviço dos pobres
No dia da sua missa nova, na sua terra natal, em julho de 1951 o Pe. Ivo foi assim recebido:
Partisti gnorato piccino
e nessuno s’accorse
fra i poveri che ne mancasse uno,
Ma ora che dopo anni e anni retorni,
te vediamo piú grande di tutti.
Sappiamo il tuo nome
DON IVO TONELLI
Partiste pequeno e ignorado
e ninguém se apercebeu
que, entre os pobres, faltava um.
Mas agora depois de tantos anos regressas
e vemos-te maior que os outros.
Sabemos como te chamas:
Pe. IVO TONELLI
Pobre entre os pobres
assim nasceu, cresceu, viveu e morreu.
Hoje reconhecemos a sua grandeza,
o seu nome
o seu valor
e queremos manter a sua memória,
acarinhando a obra
e os pobres que nos deixou.
Vocação do Pe. Canova
No centenário do seu nascimento, algumas memórias que o Pe. Gastão Canova escreveu sobre a origem da sua vocação:
a) Vou ser semeador
Tinha eu uns dez anos e frequentava a Escola Comercial Zanotti. Da escola até à minha casa havia um bom pedaço de estrada e, o que mais interessa, umas tantas igrejas, todas elas grandes e bonitas. Costumava eu depois das aulas, na parte da tarde, entrar numa ou noutra. Lá, com a igreja vazia, pensava nas minhas coisas.
Naquela tarde entrei, por acaso, na igreja de S. Salvatore; mas, não sei como, estava cheia de gente e havia um pregador famoso a falar do Semeador.
“Saiu o Semeador… Uma semente caiu… outra deu cem por um…”
Saí com a minha sacola dos livros, tomei um caminho mais longo para chegar a casa e fui pensando: é necessário muita semente… e também muitos semeadores… muita semente ficará perdida… mas alguma dará cem por um… O importante é que se semeie. Vou ser semeador.
Estava decidido.
b) Vou ser dehoniano
Estava decidido. Queria ser Padre e dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos). Diziam-me: “Podes ser Padre diocesano…” ou “Os Conventuais aceitam-te…”
Não queria. E teimei.
Ao início, não me quiseram. Esperei dois longos anos. Enquanto, estudei fora. Depois aceitaram-me, mas sempre repetindo a cantiga: “és filho único…” até ao noviciado… até à profissão perpétua. Fui teimoso. Porém não sabia que a Providência me teria pedido muto mais do que eu imaginava.
Não foi coincidência, mas Previdência esta ligação ao Pe. Dehon:
Era eu criança (seis ou sete anos) quando comecei a frequentar, como menino do coro, a nossa igrejinha da Via Nosadella (Bolonha). Nas dependências desta pequena igreja, o nosso Padre Fundador tinha obtido do Cardeal Della Chiesa (futuro Papa Bento XV) a possibilidade de iniciar o que viria a ser o “Studentato delle Missioni” para os estudos de Teologia dos alunos da Província Italiana SCJ.
c) Vou ser missionário
Eu queria ser dehoniano para ser missionário como o meu conterrâneo Pe. Albani.
Fazia parte dum dos primeiros grupos dos alunos deste Studentato de Bolonha um certo Albani de quem toda a Via Nosadella falava. Virá a ser o primeiro sacerdote missionário da Província; mas terá que ser, como outros, agregado a missões de outras Províncias. Ele irá para os Camarões, território da Província Francesa.
O Pe. Albani era conhecido e admirado pela rua inteira, quer pelo seu feitio próprio, quer pelo facto de ser missionário. Era o missionário enviado pela Rua Nosadella.
O Pe. Albani tinha um feitio todo especial. Em criança, traquina como era, foi muitas vezes ameaçado de expulsão do nosso seminário de Albino. E um dia os superiores tomaram as coisas a sério e executaram as ameaças. Encarregaram um tal Sr. Carrara, devotado empregado do seminário, de acompanhar o rapaz, bem agarradinho pela mão, na viagem de comboio e de o entregar em casa da família.
O pequeno Albano, muito dócil, deixou-se levar até à estação mas, quando estava para subir para o comboio, reparou que tinha os atacadores desapertados. Deixa subir o bom Carrara e, muito lentamente, com o pé apoiado no estribo, vai ligando e desligando os atacadores que parecem mesmo não quererem deixar-se amarrar. O comboio apita para a partida, o pequeno tira o pé o estribo, fecha bem a porta pelo lado de fora, deixa o comboio arrancar, cumprimenta o Carrara que, sem saber o que fazer, segue o seu destino. Ele, o traquinas, desata a correr até à sua amada Escola Apostólica de Albino. Teremos um missionário mais.
Eu queria ser Padre como ele.
E teimei como só o Pe. Albani sabia mais.
d) Vou para a Madeira
Durante os meus estudos participei, com todo o entusiasmo, nas esperanças da Província Italiana ter uma missão própria.
Estava eu no quinto ano de seminário e a Itália tinha, há pouco, conquistado a Abissínia (Etiópia). Havia a esperança de termos uma missão naquelas terras.
Um dia, chamou-me o Pe. Torresani, nosso prefeito de disciplina. Enquanto caminhava para o quarto do Padre ia pensando: Basta que não me fale de filho único… pode virar o disco. Já sei a cantiga de cor
Entro e o padre pergunta-me:
– Tens alguma coisa para dizer?
– Eu, nada.
– Nem eu.
Fico à espera e, entretanto, olho para todos aqueles mapas que o padre tinha por cima da mesa.
– A nossa Missão parece ser esta aqui do Dossiè…
E assim iniciámos uma boa hora de conversa acerca da provável Missão da Abissínia, tirando medidas, fazendo cálculos, imaginando igrejas cheias de cristãos… Sonhos!
Dias depois, soubemos que a missão teria sido confiada a outros, porque nós éramos de origem francesa.
Outra ilusão foi em 1940.
Tinham-nos oferecido uma missão na Índia (Renché).
Muitos sonhavam como crianças.
Afinal tudo se concluiu numa desilusão… éramos italianos.
Estava eu no fim da Teologia quando o Padre Provincial me chamou:
– Estás destinado à Argentina.
Fui, cheio de alegria, tratar do passaporte.
Mas havia um obstáculo. O tal obstáculo de sempre!
– Não podes ir: És filho único.
Fiquei triste, mas tive que aceitar.
Sabia lá eu das brincadeiras da Providência.
Um dia, pelas quatro horas da tarde, estava a trabalhar como Secretário do Provincial.
– Sabes – diz ele – pensei que tu fazias um jeitão lá Madeira, na Escola de Artes e Ofícios… sabes de eletricidade.
E assim fui parar à Madeira.
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Recordar para imitar
No dia 4 de janeiro assinalou-se o centenário do nascimento do Pe. Gastão Canova, co-fundador da presença dehoniana em Portugal (Sacerdotes do Coração de Jesus).
– Gastão Canova nasceu a 04 de janeiro de 1921 na Via Nosadella, Bolonha, Itália.
– Foi batizado a 16 de abril de 1921.
– Crismado a 15 de maio de 1927.
– Fez a Primeira Profissão Religiosa como SCJ (Dehonianos) a 29 de setembro de 1938.
– Foi ordenado Sacerdote a 14 de julho de 1947.
– Fez escala em Lisboa a 27 de dezembro de 1946.
– Chegou ao Funchal a 17 de janeiro de 1947.
– Fundou o Colégio Missionário juntamente com o Pe. Colombo a 17 de outubro de 1947.
– Superior do Colégio Missionário de 15 de julho de 1951 a 1952.
– Superior do Instituto Missionário (Coimbra) de 15 de julho de 1952 a 1963.
– Superior de Ermesinde de 15 de julho de 1963 a1965.
– Ecónomo da Região Portuguesa SCJ a partir de 15 de julho de 1965.
– Superior da Província Portuguesa de 1 de fevereiro de 1970 a 1973.
– Superior de Coimbra de 1974 a 1980.
– Ecónomo de Coimbra a partir de 1980.
– Morreu em Coimbra a 6 de setembro de 1985
Não há coincidência, apenas Providência
“O Padre Dehon, num dos seus escritos, repensando nas datas mais importantes da sua vida, especialmente na do Batismo, interrogava-se: Será tudo isso simples coincidência? (NQ 1925 – 52/45)
Nas frequentes meditações que tantas vezes fiz deambulando pelos corredores e na capela de Coimbra, repeti a mim mesmo esta pergunta: A bela obra, que é atualmente a Província Portuguesa SCJ, é fruto de coincidência ou dum plano da Providência de Deus?
Com estas notas, gostaria de conseguir demonstrar a ação contínua, diria quase exclusiva, da Providência. Isto sem esquecer o sacrifício e o lindo trabalho de tantos dehonianos (padres e irmãos) nestes longos anos de criação da Província. Sacrifício e trabalho que resumiria numa só expressão: Abandono em Deus.”
(CF. Gastão Canova, Erudimini (Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, seus inícios e desenvolvimento) Notas pessoais, Lisboa, 1985)
Padre José David Quintal Vieira
Do nascimento do Pe. Ivo:
https://quintalvieira.blogspot.com/2021/01/centenario-do-pe-ivo.html
Do nascimento do Pe. Canova
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