A cada dia que passa, damo-nos conta que a conversão ecológica não só é necessária como é cada vez mais urgente. Está a aumentar a frequência dos sinais de alerta, dos estudos científicos alarmantes, das estranhas catástrofes… Ainda que nos tenhamos habituado a consultar o telemóvel para saber o tempo, apercebemo-nos também que o clima se mostra mais alterado e imprevisível e de certeza que já escutamos os mais velhos a repetir que «o tempo está muito mudado».
Para que esta conversão ecológica não seja letra morta ou desejo piedoso, ela precisa de ganhar corpo num conjunto de atitudes que «activem um cuidado generoso e cheio de ternura» (LS 220) para com a criação. É certo que já andamos todos cansados de palavras e discursos e que os sonhos aparecem muitas vezes como utopias enganadoras. Fazem falta os gestos determinados e convictos. Não bastam os gestos simbólicos nem é suficiente a vontade política. Precisamos de gestos que expressem uma consciência amadurecida e comprometida, não apenas hoje ou quando dá jeito, mas em todo o tempo.
A primeira atitude é a «gratidão e gratuidade». Na sua génese, encontra-se o «reconhecimento do mundo como dom recebido do amor do Pai, que consequentemente provoca disposições gratuitas de renúncia e gestos generosos, mesmo que ninguém os veja nem agradeça» (LS 220). Descobrir e experimentar o amor de Deus, que se manifesta em cada criatura, torna-nos mais cuidadosos, respeitadores e reverentes para com a natureza. Aliás, é o reconhecimento deste amor que opera em nós o salto da natureza para a criação, precisamente porque nos abrimos a uma outra dimensão que não é evidente à primeira vista.
A segunda atitude é a «consciência amorosa de não estar separado das outras criaturas, mas de formar com os outros seres do universo uma estupenda comunhão universal» (LS 220). Esta atitude forma-se a partir da consciência que «tudo está interrelacionado» e que existe, portanto, uma solidariedade universal entre todos os seres criados, à imagem do mistério da Trindade. Quando sou capaz de descobrir que aquilo que acontece às outras criaturas pode ter implicações directas na minha vida, então pensarei duas vezes, antes de eu próprio fazer algo que possa ferir alguma criatura. S. Francisco de Assis expressa bem esta atitude, ao referir-se aos outros seres como seus irmãos e irmãs.
A terceira atitude é o desenvolvimento da «criatividade e entusiasmo para resolver os dramas do mundo» (LS 220). A conversão ecológica exige que cada um se empenhe em resolver os problemas que afectam o nosso mundo e que tocam directamente a nossa vida diária. Cada um de nós pode fazer alguma coisa para mudar esta situação. Com criatividade, podemos abrir novos caminhos, que promovam uma vida mais responsável.
José Domingos Ferreira, scj