Dia Mundial das Missões na Missão do Luau – Angola

"Chamados a fazer brilhar a Palavra da Verdade". Este era o lema que nos ecoava no coração no inicio deste dia. Principalmente em terra de missão. Temos a alegria de pertencer desde 2004 aos milhares de missionários que fizeram e fazem parte da história deste belo e próspero país que é Angola.

De manhã cedo o Pe. Joaquim e eu partimos juntos para as nossas celebrações. Ele celebrava na sede da Missão (Paróquia de Santa Teresa do Menino Jesus) e eu no Bairro João Gil, a uns 8 km da sede. Na realidade a comunidade cristã é Nossa Senhora de Fátima. O Bairro é que tem o nome de João Gil, porque é o nome do soba daquele bairro.

A comunidade bem cedo se reuniu para preparar a celebração. Pouco antes das 8h00 cheguei com o seminarista Batista. Como habitual fomos recebidos com cânticos, todos eles em tchokwé ou humbundo, as duas línguas mais faladas no Luau.

Depois de confessar alguns cristãos, iniciamos a celebração. A capela era pequena para todos eles. Acotovelando-se lá iam encontrando um lugar, com ou sem cadeira, os lugares pareciam já marcados. As crianças na frente, os mais velhos de seguida, as mamãs ao fundo. Do outro lado o coro, todo ele composto por jovens e adolescentes, que gritavam os cânticos e mexiam-se ao ritmo dos batuques, ferros, e uns tantos instrumentos inventados por eles, mas o que era importante é que soltassem um som que fosse ao encontro dos gestos do "maestro".
A viola não faltou: a caixa era uma lata de leite com o fundo para cima, acompanhada com um pau recortado, mais ou menos imitando um braço de viola, tinha 4 cavilhas, logo quatro cordas, e estas eram 2 de nailon (não sei onde as encontraram) e 2 eram de cabo de bicicleta. Excelente!! Perfeito!! O som que delas saía era harmonioso. A última vez que vi umas obras de arte destas foi no Natal passado aquando a minha estadia, durante uma semana, em Xá-Muteba, Diocese de Malange. Lá as violas eram maiores e tinha de tudo: 4 cordas, 6 e até encontrei violas de 8 cordas. Um dia chegarão aqui estes instrumentos mais evoluídos.


As pessoas pouco percebiam o português. O Batista ía traduzindo o que eu dizia, mas rezamos quase tudo em tchokwé: o acto penitencial, as leituras, o credo, as preces, o Pai-nosso e a acção de graças.

Aqui necessariamente o missionário tem de, pelo menos, aprender a ler o tchokwé. Estudar e falar, isso já depende de cada um, mas existem tantas línguas e dialectos, que o português, por opção do governo, tornou-se a língua que une toda a diversidade cultural do país. As homilias são sempre traduzidas na língua local.

Na hora da comunhão aproximaram-se umas 20 e poucas pessoas, sinal de que há muito trabalho para fazer, não só de evangelização, mas também de promoção e valorização da pessoa, de ajudar a criar em cada adolescente e jovem outras esperanças, outras prioridades que não aquela de ter o filho o mais cedo possível (aos 14 ou 15 anos), mas de estudar, de se formar, de criar condições para que as crianças cresçam mais estáveis e se sintam mais acompanhadas pelos pais… Esta tem sido a preocupação da Igreja Católicas nestes últimos dois anos, mas também do governo nas orientações e intervenções que faz. Esta realidade não difere muito de outros lugares, ou missões.

Aqueles que a comunidade e o catequista já estipularam que podem comungar, aproximam-se para receber a comunhão com umsorriso único de quem leva consigo "Alguém" bem especial.

No fim cantaram pelo menos quatro cânticos de acção de graças, pela comunhão que alguns receberam, pela graça da eucaristia que tiveram, pela visita do padre e pelas pessoas novas quechegaram à comunidade, que um a um íam-se apresentando, dizendo o nome, o lugar de origem e se iam ficar ou estavam de visita.

Regressados a casa, com o ofertório que me deram: um galo e uma bacia de bombó, almoçámos e de tarde fomos visitar umas famílias conhecidos do Pe. Joaquim; umas cristãs, outras são cristãs esporádicas, ou ocasionais. Penso que em todas elas deixamos algum brilho deste dia, que em toda a Igreja nos recorda: os missionários em missão.

O desafio que lançámos foi este: fazer brilhar em cada um de nós a Palavra que lemos, professamos e acreditamos. Se a fizermos brilhar, ou deixar que Ela brilhe em nós, alguma coisa pode mudar nas nossas vidas ou na vida daqueles que nos cercam…

Amândio Rocha, scj

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