É triste, muito triste…

Vivemos dias difíceis e muito duros! A maioria de nós nunca se terá visto no meio de uma tempestade com estas proporções e efeitos. Um vírus veio alterar as nossas rotinas, agendas e hábitos, mas, mais grave ainda, revelou-se uma ameaça séria à nossa vida.

De facto, em cada dia, morrem só no nosso país umas largas dezenas de pessoas, que não são nem melhores nem piores do que nós. Também não eram aqueles que o mereciam ou que andavam a pedi-las. E o que dizer das imagens profundamente desoladoras como essa duma longa fila de ambulâncias à porta do hospital? O que dizer então da falta de espaço, nos mesmos hospitais, para colocar os mortos? Isto é triste…

No meio desta barafunda, não faltam os apelos à responsabilidade e ao cuidado para evitarmos comportamentos de risco e adoptarmos atitudes preventivas. Não faltam as recomendações a pedir que olhemos uns pelos outros, pois, ao protegermo-nos a nós próprios, estamos também a proteger os outros. Não faltam súplicas para que façamos alguns sacrifícios e renúncias, que, podendo custar um pouco, ajudarão a combater o vírus e não serão definitivas. Podia parecer, portanto, que somos um país de adultos responsáveis e comprometidos…

No meio desta barafunda, o nosso parlamento, de uma forma incompreensível, aproveitando precisamente o facto dos holofotes e das câmaras estarem focados noutros lugares, decidiu aprovar a lei da eutanásia. Com tanta gente em grandes dificuldades, desde os idosos aos profissionais de saúde, uns quantos (aqueles que provavelmente já se precaveram com a vacina) lembraram-se de aprovar esta lei numa altura como esta. Isto é uma grave agressão ao povo português! Quero aqui deixar claro que aceito que haja gente a favor da eutanásia e outros contra, o que não consigo aceitar é a forma como tudo isto foi decidido. Há uma enorme falta de respeito pelo povo português, que sofre e geme em hora aflita e que vê aqueles que o deveriam proteger mais interessados em promulgar leis que não contribuem em nada para superar esta tempestade, que desabou abruptamente sobre o nosso mundo. Há uma enorme falta de respeito pelo povo português e ela não vem dos espanhóis ou dos franceses ou dos chineses. Ela vem precisamente de gente nada e criada nesta país. Ora isto é triste, muito triste…

Uma coisa parece assim ter ficado clara: a tempestade é grande, mas o pior de tudo é que nos faltam os líderes capazes de nos guiar nesta hora trágica. Aqueles que temos não parecem estar à altura do momento, pois andam a brincar como se nada tivesse acontecido. A avaliar pela inconsciência que revelam, não posso deixar que concluir que, como em tantas outras coisas, tem razão o nosso poeta maior, quando diz que um rei fraco faz fraca a forte gente…

José Domingos Ferreira, scj

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