Em Balsamão

Tive recentemente a oportunidade – e a graça – de participar num retiro no Convento de Balsamão, lá para os lados de Macedo de Cavaleiros, nesse interior tão esquecido do nosso país. É um desses lugares em que a força arrebatadora da natureza nos inunda com tanta beleza e com tanta majestade.

Foi, sem dúvida, uma ideia muito feliz escolher este lugar ermo e paradisíaco para viver a semana de retiro. Basta subir aquela estrada pedregosa, íngreme e sinuosa que leva ao convento, para nos darmos conta que já estamos bem longe daquele mundo ensurdecedor e stressante, que nos contamina diariamente. Concordo, por isso, que Balsamão tenha algo a ver com um bálsamo revigorante…

Em Balsamão, podemos contemplar a natureza no seu estado puro. É uma contemplação de olhos bem abertos e onde não são necessárias muitas palavras. Chega a ser estranha a sensação de estarmos no cimo de um monte, rodeados de montes ainda maiores. É fácil compreender aí por que a montanha é símbolo do eterno, do imutável, do imperecível: ela está sempre lá, como quem dormita uma sesta tranquila… durante séculos…

O silêncio que ali habita chega a ser estarrecedor e só não nos consome, porque há outros sons que vão aparecendo aqui e ali: animais, pássaros, água a correr, o vento… A certa altura, apercebemo-nos de que em todo aquele silêncio há efectivamente uma orquestra a tocar com uma serena, mas solene harmonia. Na verdade, «todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus. Quem cresceu no meio de montes, quem na infância se sentava junto do riacho a beber, ou quem jogava numa praça do seu bairro, quando volta a esses lugares sente-se chamado a recuperar a sua própria identidade» (LS 84).

Talvez o mais extraordinário dos espectáculos seja aquele que se manifesta à noite. Tive a sorte de ter sempre um céu limpo e, por isso, podia assistir a um céu densamente estrelado. Comparando com o que estou habituado, tudo aquilo me parecia excessivo, mas era um espectáculo belíssimo e inesquecível. Não era de admirar que alguns dos meus companheiros de retiro se tivessem deitado no chão para contemplar todo aquele panorama nocturno. «Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas, que no céu formaste claras, preciosas e belas» (S. Francisco de Assis).

Ainda que não seja muito dado a pormenores gastronómicos, não consigo deixar de dizer que a comida era especial. Não se trata apenas do mérito das cozinheiras, mas sobretudo daquela experiência tão agradável de uma pêra que sabia a pêra.

Efectivamente, há lugares que nos despertam para o cuidado da natureza e que o fazem de uma forma mais eloquente que todos os livros do mundo.

José Domingos Ferreira, scj

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