Espanha: Encontro de Leigos Dehonianos

Os desígnios de Deus são misteriosos, e não os devemos questionar. Foi neste espírito, que aceitei o convite que me foi feito, um pouco inesperadamente, de integrar o grupo de representantes portugueses da Família Dehoniana, no encontro de “Laicos Dehonianos” de Espanha, que se realizou nos dias 2 e 3 de Junho, em Salamanca.

Parti de Lisboa com o Pe. Adérito Barbosa e juntámo-nos no Porto ao Pe. Paulo Vieira e à Inês Pinto da JD do Porto, ambos do secretariado da Família Dehoniana, ao José Luís e a Rosa Freire, dos Casais Dehonianos e à Serafina da Companhia Missionária.

O calor que se fazia sentir não nos fez esmorecer, e partimos à descoberta da bela cidade de Salamanca, com as suas duas catedrais, parando na Plaza Mayor para nosrefrescarmos com um gelado e uma “caña” fresquinha, que alguns pensaram ser “sumo de cevada”!

De regresso à Casa Dehoniana de Salamanca, onde ficámos hospedados, celebrámos uma missa, em português só para o nosso grupo, com algumas atrapalhações nas leituras, pois os originais estavam em espanhol.

Após o jantar, esperava-nos um agradável convívio, onde os espanhóis nos presentearam com a sua hospitalidade, canções, poesia, muita brincadeira e alguns doces espanhóis e portugueses acompanhados, como não podia deixar de ser, pelo vinho do Porto que tínhamos levado.

De Espanha, estavam presentes, neste encontro, os gruposde Puente de la Reina, de Novelda, de Madrid, de Alba de Tormes e de Salamanca.

No Sábado, começaram os trabalhos. Após a oração das Laudes, seguiu-se a apresentação da Família Dehoniana Portuguesa. Durante uma hora e meia, demos conta a “nuestros hermanos” de quem somos e como nos organizamos em Portugal.

As dificuldades de compreensão foram ultrapassadas por um expedito tradutor (Pe. Adérito) e por uma comunicação mais visual e expressiva, que culminou com a apresentação da Juventude Dehoniana, com um curto filme montado pela Inês.

Seguiu-se um momento de esclarecimentos, após o que ouvimos os testemunhos das “Laicos Dehonianos”, onde se partilharam as experiências e actividades de cada grupo. Todos os grupos de Leigos Dehonianos de Espanha reúnem-se de 15 em 15 dias em encontros onde a oração tem uma papel importante, assim como a partilha das dificuldades do dia-a-dia.

Foi realçado o papel dos sacerdotes SCJ para a orientação espiritual destes grupos e o apoio espiritual mútuo. À pergunta de como tinham aderido a estes grupos, uma das resposta foi: “pela vontade de seguir Jesus com a comunidade que o tornou presente na nossa vida”.

Foram muito ouvidas palavras como: partilha, participação, compromisso e família. “Queremos ser cristãos comprometidos, sentimo-nos bem, sentimo-nos Dehonianos…”. Este foi um dos testemunhos que ouvimos. A este propósito, foi ainda citado o Pe Dehon: “Os leigos devem ser o sal da terra e a luz da vida social”.

No espaço de diálogo que se seguiu, ficaram à vista algumas dificuldades de integrar nos grupos de “Laicos Dehonianos” existentes, os jovens que fazem a caminhada no grupo de jovens. Sentiu-se alguma tensão, e apesar da receptividade a que os jovens expressassem as suas necessidades para integrar e revitalizar os grupos, muitos continuam a “desaparecer” após esta etapa.

Depois do almoço, organizaram-se 5 grupos que se reuniram para reflectir sobre uma questão: “Que aspectos nos podem ajudar a repensar o futuro e como dinamizar os grupos?”, colocada pelo Pe. Ramon, delegado nacional dos “Laicos Dehonianos”.

Ficaram expressas as seguintes sugestões e preocupações:

Grupo 1: A necessidade de estruturar todos os grupos de uma forma mais unificada, de modo a chegar à Família Dehoniana. Pede-se aosjovens de que sejam criativos.

Grupo 2: A necessidade de corresponsabilidade entre religiosos e leigos; que os grupos sejam “abertos”, de modo a ter continuidade, que todos se sintam bem e se sintam parte da Família.

Grupo 3: A metodologia de trabalhos dos grupos deve ser activa, com uma maior participação de todos, com compromisso, devendo-se celebrar nos grupos a vida e a união; a diferença entre gerações não deve ser impeditiva de que se saiba ir ao encontro de diferentes modos de vida e de espiritualidade.

Grupo 4: Deve-se procurar o encontro entre os jovens e os mais velhos, nos momentos de comunhão, como a quaresma e o advento, onde sedeve aprofundar a Palavra de Deus.

Grupo 5: Este grupo demonstrou uma grande preocupação com a intervenção social, do próprio grupo, em resposta aos problemas da sociedade, deixando, no entanto, claro que se deve ter uma atitude prudente, propondo amparar dentro das suas possibilidades. Dever-se-á seguir uma nova orientação sócio-cristã de apoio aos semelhantes, “chegando até onde o Senhor nos permita”.

Após a apresentação destas conclusões, o delegado nacional dos “Laicos Dehonianos”, Pe Ramon, deixou no ar a conclusão de que: “o que pensamos para o futuro é o que somos hoje e cada grupo deve traçar o seu caminho”.

Seguiram-se os testemunhos de alguns jovens e a leitura de outros que não puderam estar presentes.

Apercebemo-nos que a Pastoral Juvenil em Espanha, pede aos jovens que, após este processo de amadurecimento da fé, façam um discernimento vocacional do caminho que querem seguir, assumindo as suas responsabilidades.

Os testemunhos que ouvimos, foram diversificados, mas todos manifestaram o desejo de continuarem a ser Dehonianos, com espírito de missão e dedicação ao Coração de Jesus.

Apesar de estes sentimentos comuns, alguns jovens sentema necessidade de uma maior pluralidade e diversidade de modo a responder àsnecessidades de cada um e por isso procuram o seu caminho fora dos grupos existentes. Foi sugerido aos jovens que se definam pela positiva e não pelanegativa. Só encontrarão o seu caminho, quando souberem “o que querem” ao invés de “o que não querem”.

Após o jantar, seguiu-se um passeio pela cidade de Salamanca, onde, apesar da chuva, todos queriam ver os pontos mais belos da cidade.

No domingo de manhã, celebrou-se a missa da Santíssima Trindade. Uma celebração que foi oculminar deste encontro de testemunhos, partilha e reflexão, onde todos nossentimos parte da mesma família.

Viveram-se momentos bastante intensos, e cada um de nós viveu-os de forma diferente. O que aqui fica, é só um resumo do que os “Laicos Dehonianos” espanhóis nos proporcionaram.

Em aberto, ficaram futuros momentos de partilha, pois mais forte dos que as fronteiras que nos separam, é aquilo que nos une a todos, sentirmo-nos parte da mesma família, a Família Dehoniana: “Dá-nos segurança saber que há outros em sintonia connosco e unidos no mesmo caminho”.

Impressionou-nos a intensidade e seriedade com que estesgrupos vivem a sua fé, e muitas das suas inquietudes são fruto dessa entrega, feita com alegria e sincera partilha do dia-a-dia.

O encon
tro foi enriquecedor para todas as partes envolvidas, e proporcionando-nos também vários pontos de reflexão, de que esperamos ter deixado aqui algumas pontas soltas.

Partimos, ficando a ecoar nos nossos ouvidos as palavrasde agradecimento do Pe. Adérito, coordenador nacional da Família Dehoniana de Portugal: agradeceu o convite e a hospitalidade da Província SCJ de Espanha, na pessoa do Pe. Ramon. Realçou ainda que todos trilhamos este caminho da espiritualidade Dehoniana baseada no Coração Trespassado, no Lado Aberto, no “ecce venio” e no Deus Amor. Fez votos para que possamos ter outros momentos comuns em ordem à concretização destes sublinhados do evangelho.

Paula Franco

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