Padre Ezio Toller, Missionário em Moçambique…
Com passagens por Portugal
Foi com tristeza que recebemos a notícia do falecimento, esta manhã, do Padre Ezio Toller em Quelimane, Moçambique, na sequência de complicações provocadas pela covid-19.
O P. Toller – assim era conhecido – nasceu a 12 de Setembro de 1936, na Itália, mas dedicou grande parte da sua vida a Moçambique, onde esteve como missionário ao longo de mais de 55 anos. Foi missionário a tempo inteiro, de uma dedicação absoluta, até ao limite das suas forças, que hoje chegaram ao fim.
O P. Toller esteve por duas ocasiões a trabalhar na nossa Província Portuguesa: primeiro quando fez o seu Estágio de Vida Religiosa no Colégio Missionário, no Funchal (1958-1960) e depois no ano 1964-1965, no Seminário Padre Dehon, então na Boavista, Porto, enquanto se preparava para partir para Moçambique.
Em Janeiro de 2020, quando orientei o Retiro à Província de Moçambique, o P. Toller ofereceu-me as suas “Memórias Missionárias”. É delas que cito parte daquilo que o P. Toller diz acerca dessas suas experiências em Portugal:
“Embora estivesse disponível a ser missionário em qualquer parte do mundo, mas com preferência em África, acerca disso lembro que quando em 1958 fui enviado à Ilha da Madeira para fazer os dois anos de estágio entre os cursos de filosofia e teologia (vários daqueles seminaristas chegaram à ordenação sacerdotal, até um é bispo: D. António Braga, Bispo Emérito dos Açores), com o navio passei o estreito de Gibraltar e, de manhã muito cedo, subi sozinho ao cume do navio para ver a África. Assim, pela primeira vez vi com os meus olhos a África. Digo a verdade, fiquei encantado; era o que sonhava desde rapaz.”
“Fui ordenado sacerdote no dia 28 de Junho de 1964 e no dia 5 de Julho fui celebrar a Primeira Missa na minha aldeia. Depois de alguns dias de festa, manifestei à minha mãe a minha partida como missionário para a África, propriamente Moçambique.
(…)
Nos primeiros dias de Setembro, depois de ter conseguido o passaporte, saí da Itália para Portugal, junto com o P. Remo Zanol, meu companheiro de seminário e de ordenação. Fomos de comboio, passando pela França e Espanha; a viagem foi de três dias. Chegados a Portugal, eu fui enviado à cidade do Porto, enquanto o P. Remo Zanol permaneceu nos arredores de Lisboa.
(…) Lá no Porto permaneci 9 meses no nosso seminário, dando aulas aos nossos seminaristas e também frequentando o Seminário Maior da Diocese do Porto para algumas aulas referentes à pastoral. (…) Naquele ano lectivo, que eu estive no nosso seminário do Porto, lembro que entraram como seminaristas o rapaz Adérito Gomes Barbosa e o rapaz António Augusto, aos quais dei aulas e estes dois chegaram ao sacerdócio; de outros, não lembro.
(…) Depois de meses de espera, conseguimos ter os documentos para entrar em Moçambique; assim, no dia 1 de Julho de 1965, embarcámos num grande navio português; como diziam, era o maior de Portugal.”
O resto da história, já a conhecemos: este foi o início duma longa viagem missionária que hoje terminou em Quelimane!
O P. Toller passou por Portugal diversas vezes, a caminho de Itália ou de regresso a Moçambique. Em Março de 2019 esteve por cá vários dias, acompanhado por outro grande missionário e amigo de sempre, o P. Aldo Marchesini. Na ocasião concedeu uma entrevista à Agência Ecclesia, que foi publicada nesta página. Será certamente boa ocasião para a revisitar.
Agradecemos ao Senhor o dom da vida e da missão concedido ao P. Toller. Unimo-nos em oração solidária e fraterna à sua família, à Província de Moçambique e a toda a nossa Congregação. Que descanse em paz, no Reino dos justos!
P. José Agostinho Sousa, scj