Liturgia

Events in Março 2019

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - VII Semana - Sexta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - VII Semana - Sexta-feira


    1 de Março, 2019

    Lectio

    Primeira leitura: Ben Sirá 6, 5-17

    Palavras amáveis multiplicam os amigos, a linguagem afável atrai muitas respostas agradáveis. 6Procura estar de bem com muitos, mas escolhe para conselheiro um entre mil. 7Se queres ter um amigo, põe-no primeiro à prova, não confies nele muito depressa. 8Com efeito, há amigos de ocasião, que não são fiéis no dia da tribulação. 9Há amigo que se torna inimigo, que desvendará as tuas fraquezas, para tua vergonha. 10Há amigo que só o é para a mesa, e que deixará de o ser no dia da desgraça; 11na tua prosperidade mostra-se igual a ti, dirigindo-se com à vontade aos teus servos; 12mas, se te colhe o infortúnio, volta-se contra ti, e oculta-se da tua presença. 13Afasta-te daqueles que são teus inimigos, e está alerta com os teus amigos. 14Um amigo fiel é uma poderosa protecção; quem o encontrou, descobriu um tesouro. 15Nada se pode comparar a um amigo fiel, e nada se iguala ao seu valor. 16Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor acharão tal amigo. 17O que teme o Senhor terá também boas amizades, porque o seu amigo será semelhante a ele.

    O autor sagrado retira do rico tesouro da experiência humana algumas preciosas máximas que nos oferece. Algumas tornaram-se provérbios populares. E conclui com uma pincelada teológica confirmando que o objectivo da literatura sapiencial bíblica é levar-nos a um encontro muito próximo com Deus.
    O primeiro conselho do sábio é que falemos bem aos outros, se quisermos ter amigos. Falar com ira, com sarcasmo, com críticas a tudo e a todos, não alarga o círculo dos nossos amigos. Também é preciso saber escolher os amigos. "Amigalhaços" há muitos. Mas os verdadeiros amigos, os amigos íntimos devem ser bem seleccionados. O autor sagrado sugere, depois destas afirmações gerais, alguns critérios para seleccionarmos os amigos. Há amigos que o são enquanto recebem favores, almoços e jantares grátis. Mas quando surge algum contratempo, imediatamente viram costas e, por vezes, acabam por se tornar inimigos. O verdadeiro amigo há-de ser provado na sua fidelidade, isto é, na sua capacidade de continuar próximo de nós quando surge a tribulação. É esse amigo fiel que constitui para nós «um tesouro» (v. 14), a cujo valor nada se iguala (cf. v. 15).

    Evangelho: Marcos 10, 1-12

    Naquele tempo, Jesus saindo dali, foi para a região da Judeia, para além do Jordão. As multidões agruparam-se outra vez à volta dele, e outra vez as ensinava, como era seu costume. 2Aproximaram-se uns fariseus e perguntaram-lhe, para o experimentar, se era lícito ao marido divorciar-se da mulher. 3Ele respondeu-lhes: «Que vos ordenou Moisés?» 4Disseram: «Moisés mandou escrever um documento de repúdio e divorciar-se dela.» 5Jesus retorquiu: «Devido à dureza do vosso coração é que ele vos deixou esse preceito. 6Mas, desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. 7Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, 8e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só. 9Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.» 10De regresso a casa, de novo os discípulos o interrogaram acerca disto. 11Jesus disse: «Quem se divorciar da sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. 12E se a mulher se divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.»

    A comunidade messiânica deve ultrapassar a moral exclusivamente legalista, característica dos fariseus. Eles, com a pergunta sobre o divórcio, querem «experimentá-lo», pô-lo em apuros. O divórcio hebraico era regulado por Dt 24, 1-4, cujo propósito inicial era tutelar a mulher e garantir-lhe uma certa liberdade. Mas as escolas rabínicas discutiam os motivos de divórcio. As mais liberais achavam que bastava a mulher deixar queimar a comida, ou o marido encontrar outra mais bonita, para haver divórcio. Outras achavam que só o adultério justificava o divórcio. De qualquer modo, o divórcio era concedido pela legislação em vigor com muita facilidade, o que naturalmente acabava por prejudicar a mulher.
    Como é seu costume, Jesus responde à questão com outra questão, obrigando os seus interlocutores a aprofundar o sentido da sua objecção. No juízo moral, há que distinguir o que é regra humana, por muito aceitável que ela seja, e a perspectiva de Deus. As prescrições mosaicas sobre o divórcio reflectem a mediocridade humana e não o projecto primordial de Deus sobre a união do homem e da mulher. A moral farisaica fundamentava-se na não confessada inferioridade da mulher, que era considerada propriedade do homem. Para Jesus, à luz do Génesis, a união do homem e da mulher é a meta de uma plenitude humana. Não é o homem que toma posse da mulher, nem o contrário, mas, ao casarem, ambos se enriquecem mutuamente. A união matrimonial procede de Deus e é um verdadeiro «sacrilégio» contrapor-lhe um projecto de separação e divergência.
    O homem e a mulher levam em si a imagem de Deus-Amor e, ainda que na diferença, são chamados a ser uma só coisa no matrimónio (v. 8). A ninguém é permitido quebrar essa união (v. 9).

    Meditatio

    Para encontrar amigos, há que fazer um bom discernimento. O Sábio oferece-nos conselhos práticos para esse discernimento, lembrando que os verdadeiros amigos são poucos. Há os amigos de viagem, de restaurante, de jogo, de clube, de partido... O verdadeiro amigo manifesta-se nas situações difíceis, quando estamos fragilizados, em crise, quando nada podemos retribuir. É nesses amigos que podemos confiar e apoiar-nos. Muitas amizades são frágeis e superficiais, porque assentes em sentimentos passageiros ou em interesses que, uma vez satisfeitos, fazem esquecer quem os satisfez.
    Um critério para avaliar os amigos é-nos oferecido pela fé: quem ama a Deus, procura alimentar a sua vida com valores que verifica com a vontade divina. Por isso, se pode presumir que também seja capaz de cultivar o valor da amizade. Quantas amizades nasceram e se desenvolveram à sombra da torre da igreja ou nos grupos eclesiais. Sem cair em discursos de "gueto", verificamos que um sentimento religioso comum ajuda a fundar, construir e espalhar o valor da amizade.
    Pode acontecer que andemos convencidos de que amar é sempre algo de agradável. Por isso, quando uma amizade se torna difícil, parece-nos que já não existe amor. Jesus, implicitamente, ensina-nos que o amor traz consigo o sacrifício, a capacidade de suportar o outro. É clara a regra que oferece para o matrimónio: Deus estabeleceu que a união esponsal é indissolúvel. Só por causa da «dureza do coração» humano é que Moisés permitiu passar o «documento de repúdio e divorciar-se» (v. 4).
    Os discípulos também acharam muito duras as palavras de Jes
    us e, por isso, disseram-Lhe: «Se é essa a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casar-se!» (Mt 19, 10). Mas é dele que vem a força, se formos dóceis à sua vontade, para amar de modo verdadeiro e fiel, com paciência e misericórdia. Parece-nos lógico que os outros tenham de ter paciência connosco. Mas nem sempre estamos dispostos a suportar os defeitos dos outros. «Não vos queixeis uns dos outros», recomenda S. Tiago (Tg 5, 9). Deus não se queixa de nós. Ama-nos porque é «rico em misericórdia e compaixão» (Ef 5, 9).
    Muitas comunidades cristãs, e mesmo religiosas, tornam-se ambientes onde se vive como estranhos uns ao lado dos outros, se passa uns ao lado dos outros, mergulhados nas próprias preocupações, nos próprios problemas, sem nos comunicarmos as riquezas, as alegrias, o amor que há em nós. Com este tipo de atitudes, faltam condições para que surjam amizades e possam ser cultivadas.

    Oratio

    Senhor, faz-me amar como Tu me amas. Faz-me caminhar pelas sendas de uma solidariedade forte e generosa, que não desanime perante as dificuldades, porque fundada em Ti e no teu amor oblativo. Conscientes de que fomos gerados, não por semente corruptível, mas pela semente imortal, que é a tua palavra viva e eterna, ajuda-nos a amar-Te intensamente, e a amar-nos uns aos outros, com todo o coração. Amen.

    Contemplatio

    Amor terno e fiel (de S. João). No Cenáculo, é a ternura do amor de S. João por Jesus que se manifesta; no Calvário, é a sua fidelidade. S. João esgota todas as expressões para narrar esta troca de ternura no Cenáculo. «O discípulo, diz, estava deitado sobre o seio do seu Mestre; é um discípulo que Jesus amava particularmente; repousava sobre o peito do Salvador; tinha com o Salvador conversas particulares...». Pode conceber-se maior intimidade, afecto mais puro e ardente! No Calvário, é a fidelidade na amizade que se manifesta. S. João passou pelo sono, é verdade, no Getsémani, menos que Pedro, parece. Está mais pronto que Pedro para um generoso sacrifício. Quando Jesus é preso, segue-o de perto e não somente de longe como S. Pedro. Penetra no átrio da casa do sumo-sacerdote, enquanto que Pedro fica à porta. A amizade fiel não é acessível ao medo. Encontra Jesus no caminho do Calvário com Maria. Mas o triunfo da sua fidelidade é no Calvário. De todos os apóstolos e de todos os discípulos, só resta ele. É o único a enfrentar o perigo. Expõe-se à cólera dos algozes. Será o último a ficar, estará na descida da cruz, no enterro. Acorrerá com Pedro ao túmulo depois da ressurreição. Mas também que belas recompensas recebeu a sua fidelidade! Foi o único a ser aspergido com o sangue redentor e santificador! O único que recebeu Maria como herança, como sua Mãe e companheira da sua vida! O único que assistiu à abertura do Coração de Jesus e dele recebeu as primeiras graças! (Leão Dehon, OSP3, p. 403s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Quem encontrou um amigo, descobriu um tesouro» (Sir 6, 14).

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    Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - VII Semana - Sábado

    Tempo Comum - Anos Ímpares - VII Semana - Sábado


    2 de Março, 2019

    Lectio

    Primeira leitura: Ben Sirá 17, 1-13 (gr 1-15)

    O Senhor criou os homens a partir da terra, e a ela de novo os faz voltar. 2Determinou-lhes um tempo e um número de dias, e deu-lhes domínio sobre tudo o que há na terra. 3Revestiu-os de força como a si mesmo e fê-los à sua própria imagem. 4Fê-los temidos de todo o ser vivo, e impôs o seu domínio sobre os animais e as aves. 5Eles receberam o uso dos cinco poderes do Senhor; como sexto foi-lhes dada a participação da inteligência, e como sétimo, a razão, intérprete dos seus poderes. 6Dotou-os de inteligência, língua e olhos, de ouvidos e dum coração para pensar. 7Encheu-os de saber e de inteligência, e mostrou-lhes o bem e o mal. 8Pôs o seu olhar sobre os seus corações, a fim de lhes mostrar a grandeza das suas obras. 9E lhes concedeu que celebrassem eternamente as suas maravilhas. 10Louvarão o nome de Deus Santo, publicando a magnificência das suas obras. 11Concedeu-lhes a ciência, e deu-lhes em herança a lei da vida. 12Concluiu com eles uma Aliança eterna, e revelou-lhes os seus decretos. 13Viram com os próprios olhos a grandeza da sua glória, os seus ouvidos escutaram a majestade da sua voz. 14Disse-lhes: «Guardai-vos de toda a iniquidade» e impôs a cada um deveres para com o próximo. 15Os seus caminhos estão sempre diante dele, não poderão ficar ocultos aos seus olhos.

    O autor sagrado, inspirando-se na tradição bíblica, que remonta aos dois primeiros capítulos do Génesis, apresenta o homem como vértice da Criação. Mas há uma infinita diferença entre Deus e o homem. E não pode haver qualquer tipo de confusão que leve o homem a cair na tentação da autonomia ou da auto-suficiência perante Deus. Deus é o Criador; o homem é criatura. A maior parte dos verbos tem Deus por sujeito e elenca dons e prerrogativas que tornam grandes e nobres os homens. É Deus que confia aos homens o «domínio» da Criação. O vértice dos dons conferidos aos homens é atingido na expressão: «fê-los à sua própria imagem» (v. 3). É a afirmação mais singular e mais original da antropologia bíblica. Os homens levam impresso em si mesmos algo de divino e são "familiares" de Deus. O v. 7 sugere a ideia de que Deus como que nos emprestou os seus olhos para contemplarmos a Criação com o Seu próprio encanto. Outro excelente dom é o da consciência (cf. v 6b).
    Todos estes benefícios de Deus exigem uma resposta. Os homens hão-de reagir a esses dons com o louvor (cf. v. 8). A Criação revela a grandeza e a magnificência de Deus, que o homem, dotado de inteligência, admira e celebra com amor.

    Evangelho: Marcos 10, 13-16

    Naquele tempo, apresentaram a Jesus uns pequeninos para que Ele os tocasse; mas os discípulos repreenderam os que os haviam trazido. 14Vendo isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: «Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles. 15Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele.» 16Depois, tomou-os nos braços e abençoou-os, impondo-lhes as mãos.

    A renúncia ao orgulho é outra característica da comunidade messiânica. O episódio da apresentação de alguns meninos a Jesus é significativo e claro a este respeito. Os discípulos pretendiam afastar as crianças, não porque incomodavam Jesus, mas porque, como as mulheres, representavam pouco ou mesmo nada. Segundo a mentalidade comum, de que os discípulos naturalmente também partilhavam, o Reino não era para crianças, mas para adultos, capazes de opções conscientes, de obras correspondentes e de adquirir méritos. Para Jesus, era tudo ao contrário: o Reino é um dom de Deus, que é preciso receber com disponibilidade. As crianças são as pessoas mais disponíveis para acolher dons, porque são pequenos e pobres, sem seguranças a defender ou privilégios a reclamar. Assim devem ser os discípulos de Cristo (v. 15), porque o Reino não é uma conquista pessoal, mas dom gratuito de Deus a esperar e a acolher com simplicidade e confiança. Ao abraçar as crianças, Jesus elimina toda a distância entre Ele e as crianças, e torna-se modelo daquela vida a que se chama «infância espiritual». De facto, dirige-se ao Pai com a palavra «abba», submete-se à sua vontade, abandona-se nas suas mãos.

    Meditatio

    A primeira leitura e o evangelho celebram o valor do homem. Vêm, pois, ao encontro da mentalidade que se impôs na sociedade moderna, que proclama os direitos humanos, realça a dignidade do homem e defende a sua liberdade. Infelizmente, na prática, nem sempre assim acontece, pois são ainda demais os atropelos a esses direitos. Na sociedade em que vivemos há pessoas oprimidas e exploradas, que vivem em condições incompatíveis com a dignidade humana: situações de pessoas singulares, de famílias, de grupos. Devemos lutar, conforme as nossas possibilidades, a fim de que a justiça se realize, afim de que o pecado social seja eliminado.
    Mas o autor sagrado está interessado em apresentar o homem, não tanto em geral, mas na sua relação com Deus. Na lectio, notámos que o sujeito de quase todos os verbos é Deus. Como vemos também no Sl 8, é Deus que confere nobreza ao homem e o coloca no vértice da criação. A nobreza do homem é, pois, um dom recebido e não um fruto de sua conquistada. Tudo o que o homem é, tudo o que o homem tem, é dom do amor generoso e gratuito de Deus: a inteligência, língua e olhos, os ouvidos e o coração para pensar, a ciência... O Senhor, acima de tudo, «concluiu com eles uma Aliança eterna e revelou-lhes os seus decretos» (v. 12). O Sábio fala evidentemente da aliança com Moisés e da Lei das duas tábuas. Maior razão temos nós para nos espantarmos diante da bondade divina, ao pensarmos na Nova Aliança selada com o sangue de Cristo e na Nova Lei escrita nos nossos corações, que nos faz viver no Espírito Santo como filhos de Deus.
    No evangelho, Jesus repete a este homem tão grande, por causa dos dons de Deus, que saiba acolher o Reino de Deus com a simplicidade de uma criança. Para sermos "crianças", em sentido evangélico, temos um caminho: ser filhos de Maria. Ela soube ser pequena e estar contente com essa situação: «O meu espírito exulta em Deus, porque olhou para a humildade da sua serva» (cf. Lc 1, 46-48). É difícil sermos felizes com as nossas limitações. O segredo consiste em ser humildes e magnânimos. Por isso, é que Maria pôde falar de si em termos de grandeza e de humildade.
    Maria foi adulta na fé. Como diz o Sábio, soube usar o discernimento para raciocinar. Fez perguntas essenciais ao Anjo da Anunciação para obter respostas precisas. Mas também foi pequena, dócil e confiante para se abandonar a Deus e ao seu projecto, mesmo sem perceber tud
    o.
    Agradeçamos ao Senhor por nos ter dado Maria por Mãe e modelo, que nos ajuda a compreender a necessidade da pequenez e a crescer nela para recebermos as graças divinas.

    Oratio

    Obrigado, meu Deus, por Te teres lembrado de mim, me teres feito à tua imagem e semelhança, me teres coroado de glória e de honra, me teres dado poder sobre as obras das tuas mãos. O teu nome é grande. É santo e glorioso! Bendito sejas, agora e para sempre!
    Que, iluminado pelo teu Espírito, eu saiba reconhecer a minha dignidade e a dos meus semelhantes, respeitar-me e respeitar os outros. Que, animado pela caridade que infundiste no meu coração, eu saiba amar-me e amar todos os meus irmãos, trabalhando pelo reconhecimento dos seus direitos, esforçando-me generosamente pela sua promoção humana e espiritual. Amen.

    Contemplatio

    A realeza de Jesus Cristo é ensinada por todo o Evangelho. Deus uniu o Verbo incarnado à sua realeza e encarregou-o de governar o céu e a terra: «Todo o poder me foi dado no céu e na terra. - Meu Pai entregou-me tudo», diz Nosso Senhor em S. Mateus (Mt 28, 11). «O Pai ama o seu Filho e colocou tudo nas suas mãos. - Meu Pai, os meus discípulos eram vossos, mas vós mos haveis dado», diz ainda Nosso Senhor em S. João (Jo 3; 17). «O seu Pai colocou tudo sob a sua dependência e colocou-o à cabeça de toda a igreja», diz S. Paulo em Efésios (1,22). «Não foi aos anjos que Deus submeteu o mundo futuro, diz S. Paulo aos Hebreus (2,5). Mas é dito numa passagem da Escritura (Sl 8): Que é o homem para que vos lembreis dele? E o que é o filho do homem para que o visiteis? Por pouco tempo, o tornastes inferior aos anjos, e depois coroaste-lo de glória e de honra, destes-lhe o domínio sobre a obra das vossas mãos, colocastes todas as coisas sob os seus pés. Desde que Deus lhe submeteu todas as coisas, acrescenta o apóstolo, nada deixou, portanto, que não lhe esteja submetido». (Leão Dehon, OSP4, p. 185)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele» (Mc 10, 15).

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    Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj

  • S. João de Deus, Religioso

    S. João de Deus, Religioso


    8 de Março, 2019

    S. João de Deus nasceu a 8 de Março de 1495, em Montemor-o-Novo. Aos 8 anos saiu de casa, dirigindo-se para Oropesa, Espanha, onde foi pastor e, mais tarde, soldado de Carlos V. Exerceu outras atividades até descobrir a vocação a que Deus o chamava. Em 1539, assistiu às exéquias da Imperatriz Isabel, mulher de Carlos V, e, à semelhança do Duque de Gandia, futuro S. Francisco de Borja, ficou profundamente impressionado. A pregação e a orientação de S. João de Ávila ajudaram João de Deus a encontrar o caminho a que Deus o chamava. Instalou, em Granada, um hospital para os pobres, aos quais se entregou generosamente, tornando-se para eles, e para todos, um sinal vivo da misericórdia de Deus. Começaram a juntar-lhe colaboradores que, mais tarde, se constituíram em instituto religioso, a "Ordem Hospitaleira dos Irmãos de S. João de Deus", aprovada por Sixto V, em 1583. S. João de Deus faleceu em Granada, a 8 de Março de 1550. É padroeiro dos hospitais católicos, bem como dos enfermeiros católicos e suas associações.
    Lectio
    Primeira leitura: Da féria (ou do Comum)
    Segunda leitura: Mateus 25, 31-40

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. 32Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos. 34O Rei dirá, então, aos da sua direita: 'Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. 35Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, 36estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.' 37Então, os justos vão responder-lhe: 'Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? 38Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? 39E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?' 40E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: 'Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.'

    Jesus, como filho do seu tempo e participante da mentalidade da sua época, tem presente as ideias comuns sobre os acontecimentos extraordinários do fim dos tempos e parte delas para inculcar nos homens a necessária preparação para superarem, com êxito, a provação final. Além disso, pretende afirmar que os homens serão julgados pela atitude que tiverem em relação a Ele.
    A reunião universal dos povos pressupõe a ressurreição dos mortos. Os bons serão colocados à direita, lugar de sorte, e os maus à esquerda, lugar de desgraça. Esta colocação pressupõe que o juízo já foi efetuado. Daí que, logo de seguida, seja proferida a sentença. O Filho do homem revela-se como rei, e convida os da sua direita a receberem o prémio, justificando essa decisão com as obras de caridade feitas por eles aos "irmãos pequeninos" de Jesus (v. 40). O serviço caritativo prestado ao próximo necessitado justifica o prémio, tal como a ausência desse serviço justifica o castigo. Além do mais, o que se faz de bem ao próximo, é a Jesus que se faz, tal como o que não se faz de bem ao próximo é a Jesus que não se faz. Não se fazem distinções sobre a identidade ou a condição de quem faz o bem ou dos necessitados a quem é feito. As obras feitas por amor, praticadas por quem quer que seja, ao próximo necessitado, seja ele quem for, honram a Jesus e são premiadas.
    Meditatio

    "O que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (v. 40). Jesus dirige-se a todos, sem qualquer distinção. Isto significa que, também fora do âmbito visível dos seus discípulos, da sua Igreja, pode haver autêntico reino e verdadeiro "cristianismo". Esta universalidade estende-se também àqueles a quem fazemos os bem: a única condição é que sejam necessitados. Quando fazemos o bem a um necessitado, é a Cristo que o fazemos. Quem faz o bem, por amor, é sempre um sinal, consciente ou inconsciente, e mais ou menos claro, da misericórdia de Deus.
    S. João de Deus foi para os seus contemporâneos, especialmente para os doentes, um rosto da misericórdia de Deus. Ardendo na caridade divina, só podia manifestá-la aos outros. Para salvar os doentes do seu hospital em chamas, não exitou em correr para o meio do fogo: "Ensinando a caridade, demonstrou que o fogo exterior tinha menor força do fogo que o queimava interiormente", - comentava outrora a liturgia da sua festa. Numa das suas cartas, o santo escreve: "Vêm aqui tantos pobres, que até eu me espanto como é possível sustentar a todos; mas Jesus Cristo a tudo provê e a todos alimenta. Vêm muitos pobres à casa de Deus, porque a cidade de Granada é muito fria, e mais agora que estamos no Inverno. Entre todos - doentes e sãos, gente de serviço e peregrinos - há aqui mais de cento e dez pessoas. Como esta casa é geral, recebe gente de todos os géneros e condições: tolhidos, mancos, leprosos, mudos, dementes, paralíticos, tinhosos, alguns já muito velhos e outros muito crianças ainda, e por cima disto muitos peregrinos e viajantes, que cá chegam e aqui encontram lume, água, sal e vasilhas para cozinhar os alimentos. E para tudo isto não se recebe renda especial, mas Cristo a tudo provê". Noutra carta dizia: "Não tenho sequer o espaço de um "creio em Deus Pai" para poder respirar." O seu amor, a sua dedicação e generosidade para com os pobres granjearam-lhe a admiração de Granada inteira. Quando faleceu, a cidade desfilou diante daquele homem-prodígio de humildade e de caridade. Como dizia João Paulo II de S. Camilo de Lellis, também o testemunho de S. João de Deus "constitui, ainda hoje, um forte apelo a amar a Cristo, presente nos irmãos que carregam sobre si mesmos o fardo da doença".
    A nossa união com Cristo, no seu amor pelo Pai e pelos homens manifesta-se também na disponibilidade e no amor para com todos. A escuta da Palavra, e sobretudo a eucaristia que celebramos são um convite diário para nós, dehonianos, a que sejamos pão bom, partido pelos irmãos, de modo especial para os mais fracos e carenciados: "os pequenos e os que sofrem" (cf. Cst 18). As palavras de Cristo, na instituição da eucaristia, "Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 24-25), não se referem apenas à Eucaristia como memorial, mas são um convite a todo o discípulo de Jesus para que seja "pão partido" e "sangue derramado" por todos. Tal como Cristo, também nós...
    Oratio

    Senhor, entre os caminhos que me apontas para me encontrar contigo e unir-me a ti, há o do amor aos irmãos que passam pela difícil fase do sofrimento. Foi esse o caminho percorrido por Jesus, teu Filho divino, o verdadeiro bom samaritano da humanidade. Torna-me cada vez mais consciente de que o serviço aos pequenos e aos que sofrem podem conduzir-me à contemplação do teu rosto, e libertar o amor que derramaste no meu coração para me tornar sinal da tua misericórdia para com todos os homens, particularmente os mais necessitados. Ámen.
    Contemplatio

    (A caridade para com o próximo) é o segundo mandamento e é semelhante ao primeiro. Mas Nosso Senhor fez dele o seu mandamento preferido, porque o outro era evidente. «Este é o meu mandamento, diz, que vos ameis como eu vos amei» (Jo 15, 12). Fez deste mandamento a característica da lei nova e o traço principal dos seus verdadeiros discípulos. «É assim, diz, que reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35)... Que Deus vos faça a graça, dizia S. Paulo, de estardes sempre unidos pelos sentimentos e pelo afeto uns para com os outros, segundo o espírito de Jesus Cristo, e conforme ao seu exemplo. Estai unidos no culto e no amor de Deus, e para permanecerdes unidos suportai-vos uns aos outros: o forte ajudará o fraco, o sábio ajudará o ignorante, o judeu e o gentio serão caridosos entre si. Nosso Senhor não nos suportou? Não nos tomou ele consigo e não nos uniu ao seu corpo místico para nos apresentar ao seu Pai? A caridade para com o próximo é necessária a quem quer amar a Deus. - O amor de Deus e o amor do próximo fazem um só. Pode amar-se a Deus e não amar os homens seus filhos? Estes dois amores não faziam senão um só no coração de Nosso Senhor. Quando pronuncia o Ecce venio ao entrar na sua vida mortal, vinha ao mesmo tempo por amor de seu Pai e por amor dos seus irmãos... O amor do próximo está inscrito em cada página do Evangelho. Nosso Senhor podia fazer mais para o recomendar do que nos dizer que teria como feito a si mesmo o que fizéssemos pelo mais pequeno de entre os seus? Não é sobre esta caridade que consistirá sobretudo o juízo? «Tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber...». (Pe. Dehon, OSP 3, p. 201s.).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "O que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos,
    a mim mesmo o fizestes" (Mt 25, 40).

     

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    S. João de Deus, Religioso (08 Março)

  • S. José, Esposo da Virgem S. Maria

    S. José, Esposo da Virgem S. Maria


    19 de Março, 2019

    O culto litúrgico a S. José celebra-se, pelo menos, desde o século IV, quando Santa Helena lhe dedicou uma igreja. No Oriente, celebrava-se, a partir do século IX, uma festa em sua honra. No Ocidente o culto é mais tardio. No século XII, é celebrado entre os Beneditinos. No século XII, é celebrado entre os Carmelitas, que o propagam na Europa. No século XV, João Gerson e S. Bernardino de Sena são os seus fervorosos propagandistas. Santa Teresa de Jesus era uma devota fervorosa de S. José e muito promoveu o seu culto.

    S. José, descendente de David, era provavelmente de Belém. Por motivos familiares ou de trabalho, transferiu-se para Nazaré e tornou-se esposo de Maria. O anjo de Deus comunicou-lhe o mistério da incarnação do Messias no seio de Maria, e José, homem justo, aceitou-o apesar da dura crise por que passou. Indo a Belém para o recenseamento, lá nasceu o Menino Jesus. Pouco depois, teve de fugir com ele para o Egipto, donde regressou a Nazaré. Quando Jesus tinha doze anos, vemos José e Maria em Jerusalém, onde perdem o filho e acabam por o reencontrar entre os doutores do templo. A partir deste episódio, os evangelhos nada mais dizem sobre José. É possível que tenha morrido antes de Jesus iniciar a sua vida pública.

    S. José é padroeiro da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Samuel 7, 4-5a.12-14a.16

    Naqueles dias, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Natã, dizendo-lhe: 5«Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor: 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino. 13Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu firmarei para sempre o seu trono régio. 14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. 16A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre".»

    A profecia de Natã acena a Salomão, filho de David e construtor do templo. Mas as palavras: "manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino" (v. 12), indicam uma longa descendência no trono de Judá. Esta descendência teve um fim histórico, recebendo força profética na alusão velada ao Messias, descendente de David. Ele reinará para sempre. Mas o seu reino não será deste mundo. Será um reino espiritual para salvação da humanidade. A tradição cristã sempre aplicou este texto a Jesus, Messias descendente de David, e indiretamente também a José, o último elo da genealogia davídica.
    Segunda leitura: Romanos 4, 13.16-18.22

    Irmãos: Não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão, ou à sua descendência, foi feita a promessa de que havia de receber o mundo em herança. 16Por isso, é da fé que depende a herança. Só assim é que esta é gratuita, de tal modo que a promessa se mantém válida para todos os descendentes: não apenas para aqueles que o são em virtude da Lei, mas também para os que o são em virtude da fé de Abraão, pai de todos nós, 17conforme o que está escrito: Fiz de ti o pai de muitos povos. Pai diante daquele em quem acreditou, o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência o que não existe. 18Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência. 22Esta foi exactamente a razão pela qual isso lhe foi atribuído à conta de justiça.

    Paulo evoca a figura de Abraão, pai dos crentes, que reconheceu a sua indigência e se apoiou, isto é, "acreditou" em Deus recebendo o "juízo de salvação", a "justificação". A sua indigência foi superada e pôde realizar a sua "tarefa existencial", a sua "obra", que naquelas circunstâncias consistia na sua paternidade para com Isaac. A liturgia aplica a S. José o elogio de Paulo a Abraão. A fé do esposo de Maria, submetida a duras provas, manteve-se firme, fazendo dele "homem justo", e pai adoptivo de Jesus. A sua resposta de fé manteve-se durante toda a sua vida. Por isso, colaborou com disponibilidade e generosidade no projeto de salvação a que Deus o associou. Se Abraão é "tipo" do cristão, José também o é. Abraão sabia-se condenado à morte, pois não teria descendência. Mas acreditou e recebeu uma grande descendência da mão de Deus. José aceitou ser "pai" de Quem não era seu filho, mas Filho de Deus e de Maria, e colaborou na geração da humanidade nova, nascida da morte e da ressurreição de Cristo.
    Evangelho: Lucas 2, 41-51a

    Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. 42Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. 43Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. 44Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. 45Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. 46Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. 47Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. 48Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!» 49Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» 50Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse. 51Depois desceu com eles, voltou para Nazaré.

    A lei judaica mandava que os primogénitos, sendo sagrados, deviam ser entregues a Deus ou sacrificados. Como o sacrifício humano era proibido, a lei obrigava a fazer uma espécie de troca, de maneira que em vez do menino, era oferecido um animal puro (cordeiros, pombas) (cf. Ex 13 e Lv 12). Lucas parece ter presente que Jesus, primogénito de Maria, era primogénito de Deus. Por isso, com a substituição do sacrifício - oferecem-s duas pombas - é evidenciado o fato de Jesus ser "apresentado ao Senhor", isto é, solenemente oferecido ao Pai. O sentido deste oferecimento só se compreende à luz da cena do calvário, onde Jesus já não pode ser substituído e morrerá como autêntico primogénito, que se entrega ao Pai pela salvação dos homens.

    Como pai adoptivo, José preocupa-se por tudo uanto diz respeito a Jesus. Embora não lhe seja dado penetrar completamente no mistério das relações de Jesus com o Pai, e também não compreendendo tudo quanto Jesus faz e diz, deixa-se no entanto, conduzir por Deus, com uma fé dócil e silenciosa. A sua máxima, à semelhança da de Jesus e da de Maria, poderia ser: "Ecce servus tuus", eis o teu servo.

    Meditatio

    A Igreja convida-nos, hoje, a voltar-nos para S. José, a alegrar-nos e a bendizermos a Deus pelas graças com que o cumulou. S. José é o "homem justo" (Mt 1, 19). A sua justiça vem-lhe do acolhimento do dom da fé, da retidão interior e do respeito para com Deus e para com os homens, para com a lei e para com os acontecimentos. É o que nos sugere a segunda leitura. Não foi fácil para José aceitar uma paternidade que não era dele e, depois, a responsabilidade de ser o mestre e guia d´Aquele que, um dia, havia de ser o pastor de Israel. Respeito, obediência e humildade estão na base da "justiça" de José. Foi esta atitude interior, no desempenho da sua missão única, que guindaram José ao cume da santidade cristã, junto de Maria, a sua esposa.

    As atitudes de José são características dos grandes homens, de que nos fala a Bíblia, escolhidos e chamados por Deus para missões importantes. Embora se considerassem pequenos, fracos e indignos, aceitavam e realizavam a missão, confiando n´Aquele que lhes dizia: "Eu estarei contigo".

    José não procurou os seus interesses e satisfações, mas colocou-se inteiramente aos serviços dos que amava. O seu amor pela esposa, Maria, visava unicamente servir a vocação a ela que fora chamada. Deste modo, o casal chegou a uma união espiritual admirável, donde brotava uma enorme e puríssima alegria. Era a perfeição do amor. O amor de José por Jesus apenas visava servir a vocação de Jesus, a missão de Jesus. Para José, o filho não era uma espécie de propriedade a quem impunha uma autoridade e afeto tirânico, como, por vezes, acontece com alguns pais. José sabia que Jesus não era dele, e nada mais desejava do que prepará-lo, conforme as suas capacidades, para a missão de Salvador, como lhe fora dito pelo Anjo.

    Por intercessão do nosso santo, peçamos a Deus a fé, a confiança, a docilidade, a generosidade e a pureza do amor para nós mesmos e para quantos têm responsabilidades na Igreja, para que as maravilhas de Deus se realizem também nos nossos dias.

    Oratio

    Ó S. José, eu admiro e louvo a vossa perfeição e a vossa santidade. Que exemplos e que méritos! A vossa intercessão no céu é sempre escutada. O Coração de Jesus não pode ficar insensível à vossa oração. Pedi hoje a minha conversão, a minha santificação. Pedi o perdão de todas as minhas faltas e a graça de corresponder ao que Nosso Senhor espera de mim. Fiat! Fiat! (Leão Dehon, OSP 3, p. 309).

    Contemplatio

    José, o justo, o santo, entra simplesmente nos desígnios do céu sobre ele e torna-se esposo de Maria por um casamento virginal; esposo de uma Virgem, de uma Rainha, esposo da Mãe de Deus e da Esposa do Espírito Santo! Mas o seu coração é digno dela. Na sua alma reúnem-se a fé viva dos patriarcas, as nobres aspirações dos profetas, as esperanças das gerações passadas. O seu coração é o mais puro, o mais amável, o mais celeste de todos, depois do Coração de Jesus e do Coração imaculado de Maria. José é o esposo da Virgem Maria, com que respeito a envolve! Que delicadeza, que discrição nas suas relações com ela! Aprendeu de cor a sua sublime missão de castidade e de amor. E quando foi advertido pelo anjo a respeito dos grandes desígnios de Deus sobre o filho de Maria, associou-se de coração à missão de vítima do seu filho adotivo e aceitou sem reserva todos os sofrimentos que daí resultariam para ele. Esposo de Maria! Que conjunto de graças este título supõe. José esteve unido mais do que ninguém neste mundo à Mãe de Deus. Tiveram todos as mesmas vistas, todos as mesmas orações e os mesmos sofrimentos. Os méritos de S. José aproximam-se dos de Maria. Que grandeza e que dignidade! José é o pai nutritivo de Jesus, pai legal e pai putativo. Tem tudo o que pode pertencer à paternidade sem ferir a virgindade. Tem todos os direitos e toda a autoridade de um pai. É o chefe da Sagrada Família. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 308).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Ecce servus tuus! Eis o teu servo!"

     

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    S. José, Esposo da Virgem S. Maria (19 Março)

  • Anunciação do Senhor

    Anunciação do Senhor


    25 de Março, 2019

    A solenidade da Anunciação do Senhor é a celebração do grande mistério cristão da Encarnação do Verbo de Deus. A data de 25 de Março está em função do Nascimento de Jesus, que é celebração exatamente nove meses depois. A catequese sempre fez coincidir a Anunciação e a Encarnação. Estes mistérios começaram a ser celebrados liturgicamente provavelmente depois da edificação da basílica constantiniana sobre a casa de Maria, em Nazaré, no século IV. A celebração no Oriente e no Ocidente data do século VII. Durante séculos, esta solenidade teve sobretudo carácter mariano. Mas Paulo VI devolveu-lhe o título de "Anunciação do Senhor", repondo o seu carácter predominantemente cristológico. Em síntese, trata-se de uma "celebração (que) era e é festa de Cristo e da Virgem: do Verbo que se torna filho de Maria e da Virgem que se torna Mãe de Deus" (Marialis cultus 6).

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 7, 10-14; 8, 10

    Naqueles dias, o Senhor mandou dizer de novo a Acaz: 11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal, quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.» 12Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor.» 13Isaías respondeu: «Escuta, pois, casa de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? 14Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel. 10Traçai planos, que serão frustrados; ordenai ameaças, que não serão executadas, pois temos o Emanuel: «Deus-connosco.»

    Acaz, rei de Jerusalém, vê vacilar o seu trono devido à aproximação de exércitos inimigos. A sua primeira reação é entrar numa política de alianças humanas. Isaías, pelo contrário, propõe a resolução do problema pela confiança em Deus. Convida o rei a pedir um «sinal» (v. 11) que seja confirmação da assistência divina. Acaz recusa a proposta: «não tentarei o Senhor» (v. 12). Fá-lo por hipocrisia, e não por verdadeiro sentido religioso. Isaías insiste que, apesar da recusa do rei, Deus lhe dará um sinal: «a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel: «Deus-connosco». O sentido imediato destas palavras refere-se a Ezequias, filho de Acaz, que a rainha está para dar à luz. O seu nascimento, nesse momento histórico, é interpretado como sinal da presença salvadora de Deus em favor do seu povo aflito. Mais profundamente, as palavras de Isaías são profecia de um futuro rei Salvador. A tradição cristã sempre viu neste oráculo o anúncio profético do nascimento de Jesus, filho de Maria Virgem.

    Segunda leitura: Hebreus 10, 4-10

    Irmãos, é impossível que o sangue dos touros e dos bodes apague os pecados. 5Por isso, ao entrar no mundo, Cristo diz: «Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas reparaste-me um corpo. 6Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados. 7Então, Eu disse: Eis que venho - como está escrito no livro a meu respeito -para fazer, ó Deus, a tua vontade. 8Disse primeiro: Não quiseste nem te agradaram sacrifícios, oferendas e holocaustos pelos pecados - e, no entanto, eram oferecidos segundo a Lei. 9Disse em seguida: Eis que venho para fazer a tua vontade. Suprime, assim, o primeiro culto, para instaurar o segundo. 10E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre.

    Este texto, retirado do seu contexto, procura demonstrar que o sacrifício de Cristo é superior aos sacrifícios do Antigo Testamento. O autor da Carta aos Hebreus relê o Salmo 39 - utilizado pela liturgia desta solenidade como Salmo Responsorial - como se fosse uma declaração de intenções do próprio Cristo ao entrar no mundo, no momento da Incarnação. Esta é também a atitude obediencial do povo da antiga aliança e de todo o piedoso cantor do salmo: «: Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade.». A Incarnação como atitude obediencial acontece no dia da Anunciação do Senhor a Maria. Esse dia inaugura a peregrinação messiânica que conduzirá à doação do corpo de Cristo no sacrifício salvífico, novo e inovador, único e indispensável, que se completa no sacrifício da cruz.

    Evangelho: Lucas 1, 26-38

    Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37porque nada é impossível a Deus.» 38Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

    Uma possível chave de leitura deste texto é ver nele um relato biográfico feito por Lucas que terá ouvido atentamente as confidências de Maria. No diálogo entre Deus e a menina de Nazaré - pela mediação do anjo Gabriel - revela-nos uma relação viva entre o divino e o humano, em que a proposta do alto vai sendo progressivamente esclarecida. O mensageiro respeita a condição humana de uma rapariga virgem que recebe uma proposta inesperada: ser mãe do Messias. Maria, a virgem prometida como esposa a José, aproxima-se progressivamente do mistério, deixando-se conscientemente envolver por ele, disponibilizando-se e adequando à proposta de Deus o seu próprio projeto. E termina pronunciando o seu «Eis-me aqui!» (cf. v. 38).

    Meditatio

    O mistério celebrado hoje é a conceição do Filho de Deus no seio da Virgem Maria. Na basílica nazaretana da Anunciação, diante do altar, há uma placa de mármore que os peregrinos beijam com emoção e onde está escrito: "Aqui de Maria Virgem fez-se carne o Verbo".
    No texto da Carta aos Hebreus, o hagiógrafo refere ou interpreta a anunciação de Cristo; no texto de Lucas, o evangelista narra a anunciação a Maria. Cristo toma a iniciativa de declarar aquilo que Ele mesmo compreende; Maria recebe uma palavra que vem de fora de si mesma, uma palavra cheia de propostas de um Outro. O paralelismo transforma-se em coincidência na explicitação da disponibilidade de ambos para fazerem a vontade divina; é uma disponibilidade separada por qualidade e quantidade de consciência, mas que converge na finalidade de obediência total ao projeto de Deus: Ecce venio, ecce ancilla, eis-me aqui! Eis a serva!
    A atitude de obediência irá aproximar a mãe e o filho, Maria "anunciada" e Jesus Cristo "anunciado". Ambos pronunciam o seu «Eis-me aqui!». Ambos se exprimem com voz quase idêntica: «faça-se em mim segundo a tua palavra», «Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade». Ambos entram na fisionomia de «serva» e de «servo» do Senhor. Esta sintonia encoraja os discípulos à disponibilidade para servir a palavra de Deus, porque o próprio Filho de Deus é servo e porque a Mãe de Deus é serva; ambos são servos de uma palavra que salva quem a serve e que traz salvação.
    Os Sacerdotes do Coração de Jesus são chamados a viver a espiritualidade oblativa, a fazerem da sua vida e obras uma oferta de amor que se concretiza, em primeiro lugar, na disponibilidade para cumprir a vontade de Deus, mesmo quando ela exige renúncia, sacrifício. Unem-se à oblação perfeita de Cristo ao Pai com o sacrifício das suas vidas, "como oblação viva, santa e agradável a Deus" (cf. Rom 12, 1), a realizar-se na contemplação e no apostolado (cf. Cst nn. 24 e 58).
    Esta espiritualidade oblativa é bem expressa, segundo o P. Dehon, pelo "Ecce venio" (Eis-me aqui!) (Heb 10, 7): "Nestas palavras: Ecce venio,.. Ecce ancilla..., encerram-se toda a nossa vocação, a nossa finalidade, o nosso dever, as nossas promessas" (Dir. Esp. I. 3)." (Cst. n. 6; cf. Cst nn. 53.58.85).

    Oratio

    Salve Santa Maria, serva humilde do Senhor, mãe gloriosa de Cristo! Salve, Virgem fiel! Ensina-nos a ser dóceis ao Espírito. Ensina-nos a viver em atitude de escuta da Palavra, atentos às suas inspirações e às suas manifestações na vida dos irmãos, nos acontecimentos da história, no gemido e no júbilo da criação. Virgem da escuta, virgem orante, acolhe as súplicas dos teus servos. Ajuda-nos a abandonar-nos ao Senhor, a unir-nos ao Ecce venio de Jesus e ao teu Ecce ancilla. Ajuda-nos a compreender que já não podemos ter outra vontade que não a do Pai, outra regra que o seu beneplácito. Que, em cada instante, procuremos a vontade de Deus e nos conformemos a ela (cf. Leão Dehon, OSP 3, p. 329).

    Contemplatio

    Ecce venio, regra de vida de Jesus. - Foi neste dia que Nosso Senhor disse o seu Ece venio e que Maria disse o seu Ecce ancilla. O apóstolo S. Paulo regista-o, foi ao entrar neste mundo pela Incarnação que Nosso Senhor formulou o seu abandono ao beneplácito do Pai e a regra de toda a sua vida: Eis que venho, meu Pai, para fazer a vossa vontade (Heb 10,5). Tinha dito por David que tal seria a lei do seu Coração (Sl 39). Colocou esta lei do abandono, da obediência, da conformidade à vontade do seu Pai, no fundo do seu Coração para a consultar sem cessar, para a seguir sempre, para dela fazer a rega de toda a sua vida. E do seu Coração ela subia sem cessar aos seus lábios, como o Evangelho mesmo o indica: «Meu Pai, que a vossa vontade seja feita. - Meu Pai, que assim seja, pois que vós o quereis. - Meu Pai, não a minha vontade, mas a vossa». Estas indicações do Evangelho bastam para mostrar que aí estava para Nosso Senhor uma regra de vida e um pensamento habitual do seu Coração. O que Ele procura sempre, não é nem o interesse nem o prazer, mas a vontade do seu Pai. A única questão que se coloca antes de agir é sempre esta: «Meu Pai, que quereis que Eu faça?» (Leão Dehon, OSP 3, p. 328).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 2, 38).

     

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    Anunciação do Senhor (25 Março)

     

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