Liturgia

Events in Maio 2020

  • S. José, Operário

    S. José, Operário


    1 de Maio, 2020

    A "festa do trabalho", criada pela Internacional Socialista em 1889, é celebrada, na Europa, no dia 1 de Maio. A Igreja quis dar-lhe uma dimensão cristã. Por isso, Pio XII, em 1955, instituiu a festa de S. José Operário, colocando-a nesse dia. Ninguém mais do que o humilde trabalhador de Nazaré pode ensinar aos outros trabalhadores a dignidade do trabalho, e protegê-los com a sua intercessão junto de Deus.

    Lectio

    Primeira leitura: Génesis 1, 26-2, 3

    Disse Deus: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» 27Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. 28Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.» 29Deus disse: «Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. 30E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra produzir.» E assim aconteceu.31Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia. 1Foram assim terminados os céus e a Terra e todo o seu conjunto.2Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado.3Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação.

    A criação do homem é o auge da criação, porque, só ele, foi criado à imagem e semelhança de Deus. Deus invisível reflete-se no rosto frágil do homem. Homem e mulher são imagem de Deus: "Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher." (v. 27). Como Deus trino, o homem é capaz de uma relação interpessoal de amor. Mas a imagem de Deus no homem reflete-se também na autoridade sobre o universo e na inteligência criativa, com que pode dominar a natureza, desenvolvê-la e transformá-la. A capacidade de trabalho permite ao homem tornar-se colaborador de Deus na obra da criação. É sobretudo este aspeto que a liturgia de hoje põe à nossa meditação.

    Evangelho: Mateus 13, 54-58

    Naquele tempo, Jesus foi à sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga deles, de modo que todos se enchiam de assombro e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres? 55Não é Ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56Suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem, pois, tudo isto?» 57E estavam escandalizados por causa dele. Mas Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa.» 58E não fez ali muitos milagres, por causa da falta de fé daquela gente.

    A condição familiar e laboral de Jesus impediu os seus concidadãos de o reconhecerem como enviado de Deus, como profeta. Era "o filho do carpinteiro" (v. 55). Segundo Lucas, ele mesmo era carpinteiro: "Não é Ele o carpinteiro?..." (13, 55). O Filho de Deus feito homem quis ser membro de uma família operária. Os seus conterrâneos não conseguiram ver mais do que isso, desprezando-o, e não o reconhecendo como o Messias. Mas não somos nós que havemos de ditar as condições do Reino, que pode realizar-se em qualquer condição social e em qualquer trabalho. E Deus gosta de surpreender-nos.

    Meditatio

    Na família humilde e operária de Nazaré, o trabalho era expressão de amor. José foi carpinteiro toda a vida. Jesus exerceu também essa profissão durante os anos de vida escondida, em Nazaré. Depois do reencontro com os pais, em Jerusalém, Jesus "desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso" (Lc 2, 51). A submissão e a obediência de Jesus, em Nazaré, deve entender-se como participação no trabalho de José. Se a família de Nazaré é exemplo para as famílias humanas na ordem da salvação e da santidade, também o é no trabalho de Jesus, ao lado do carpinteiro José. O trabalho humano, particularmente o trabalho manual, tem especial acentuação no Evangelho. Com a humanidade do Filho de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da Incarnação, tal como foi particularmente redimido, no mistério da Redenção. Trabalhando ao lado de Jesus, José aproximou o trabalho humano da Redenção. A virtude da laboriosidade teve especial importância no crescimento humano de Jesus "em sabedoria, em estatura e em graça" (Lc 2, 52), uma vez que o trabalho é um bem do homem, que transforma a natureza e torna o homem, em certo sentido, mais homem. O trabalho sincero, humilde, disponível no amor, une-nos a Cristo, filho do carpinteiro, Filho de Deus.
    Como religiosos, pelo nosso trabalho, além do mais, colaboramos na obra do Criador, damos o nosso pequeno contributo pessoal para a transformação do mundo e para a realização do projeto de Deus na história (cf. GS 34). O trabalho é uma das expressões da nossa vida de pobreza. Os pobres trabalham para viver... No trabalho, além do mais, precisamos de estar enamorados por Cristo-pobre, trabalhador, "Filho do carpinteiro" (Mt 13, 55). Assim, como Ele, teremos um coração pobre, sóbrio, com poucas exigências, aberto aos outros, capaz de partilhar o que é e o que tem.

    Oratio

    Ó S. José, que, trabalhando com Jesus, aproximastes o trabalho humano do mistério da Redenção, vinde em auxílio de todos quantos se afadigam nas mais diversas profissões. Ajudai-nos a compreender que o trabalho é um bem para quem o faz, pois, em certo sentido, nos torna mais homens, mais imagem e semelhança de Deus, e é um bem para quem dele beneficia. Ajudai-nos a conhecer e a assimilar os seus conteúdos, para ajudar todos os homens a aproximarem-se mais de Deus, criador e redentor, a participarem nos seus planos de salvação do homem e do mundo, e aprofundarem a própria amizade com Cristo. Ámen.

    Contemplatio

    Na casa do pobre operário, as privações sucediam às privações, e o pão devia faltar muitas vezes. José acabou por encontrar trabalho como carpinteiro, e Maria fiava a lã ou o algodão. Quantas graças prepararam aí para os trabalhadores e para os pobres! Não é que a lei evangélica seja contrária à prosperidade dos povos, ela é, pelo contrário, a condição mais favorável e a garantia, porque recomenda o trabalho, a justiça, a temperança, que são as condições de sucesso; mas ao lado da lei, há os conselhos, propostos às almas generosas. A Sagrada Família caminhou pela via dos conselhos, na obediência, na pobreza, nas privações. O coração de Jesus menino comprazia-se nestas cruzes pela nossa salvação, e as almas generosas seguem hoje o mesmo caminho, completando, como diz S. Paulo, o que falta à Paixão de Jesus, pela salvação do mundo.(L. Dehon, OSP 3, p. 136).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos" (da Liturgia).
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    S. José, Operário (1 Maio)

  • S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja

    S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja


    2 de Maio, 2020

    S. Atanásio nasceu em Alexandria do Egito, no ano de 295. De formação grega, foi bispo da sua cidade natal de 328 a 373. Participou no Concílio de Niceia, no ano 325. A sua oposição ao arianismo causou-lhe cinco exílios. Visitou Roma e Tréveris. Visitou os monges que viviam nos desertos do Egito. A vida de Santo Antão, que escreveu, teve enorme influência na difusão do monaquismo e no estilo de vida dos monges. Atanásio faleceu em Alexandria a 2 de Maio de 373.

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 5, 1-5

    Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Cristo nasceu de Deus; e todo aquele que ama quem o gerou ama também quem por Ele foi gerado. 2É por isto que reconhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos; 3pois o amor de Deus consiste precisamente em que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são uma carga, 4porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé. 5E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?

    Em João, "mundo" é sinónimo de "mal", indicando tudo o que se opõe à Vida, Luz e Verdade de Deus. O que está em Deus, pertence a Deus e vem de Deus, é amor, é comunhão, harmonia. É como a água fresca que brota borbulhante da fonte, ou como o esplendor de um céu limpo e com sol. Vida é a que venceu o mundo, e é a nossa fé e a verdade que nos mantém em comunhão de amor com Aquele que é Trindade, para onde o Filho nos transferiu. Quem aí se mantém e apoia vence o pecado, as trevas, a mentira: o mundo.

    Evangelho: Mateus 10, 22-25

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo. 23Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo: Não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes de vir o Filho do Homem.» 24«O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do senhor. 25Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo ser como o senhor. Se ao dono da casa chamaram Belzebu, o que não chamarão eles aos familiares!

    Jesus chamou os seus discípulos para os enviar a anunciar a verdade, o bem e o amor. Mas nunca os iludiu com falsas expetativas. Disse-lhes claramente que teriam de enfrentar fortes oposições, porque o mundo odeia o que não é seu. Mais do que preocupar-se em ser bem acolhido, em ter sucesso nos seus trabalhos apostólicos, o missionário do Evangelho há-de ser humilde, fiel e forte no cumprimento da sua missão.

    Meditatio

    S. Atanásio aparece-nos como um homem de enorme importância para a definição do dogma cristão. Quando alguns quiseram reduzir Jesus a simples criatura humana, o bispo de Alexandria interveio vigorosamente para defender a fé católica. Foi o que sucedeu com a heresia de Ario, que afirmava que Jesus era simplesmente um homem grande, santo, adotado por Deus, mas não Filho de Deus. Havia bispos e imperadores que aceitavam esta teoria, porque era mais fácil de aceitar, porque não exigia, a adesão a um mistério inefável, incompreensível. Atanásio defendeu, sem hesitações, e arcando com as consequências - perseguições, exílios - esta verdade de fé, garantindo que se trata de um mistério do qual depende a nossa salvação. De fato, se Jesus não é Filho de Deus, nós não estamos nem redimidos nem salvos, pois a salvação é obra de Deus. O fiel tem uma existência atribulada e, para cúmulo, sem a evidência humana da vitória. É difícil acreditar que Jesus tenha vencido o mundo quando se sofrem perseguições. Mas não há vitória sem luta, sem passar pela paixão do Senhor. Acreditamos no mistério "total" de Jesus: o mistério de uma morte que desembocou na ressurreição. Um cristão não pode ficar espantado se, como Jesus, for perseguido. É condição para a vitória da fé, isto é, para continuar a acreditar, nas tribulações, que Deus nos ama e, se nos prova, é para nos dar bens maiores.

    Oratio

    Rezemos com S. Atanásio:
    "Os querubins são excelsos, mas, tu, ó Virgem, és mais excelsa do que eles; os querubins sustentam o trono de Deus, mas tu sustentas a Deus, nos teus braços. Os serafins estão diante de Deus, mas tu está mais do que eles: os querubins cobrem com as asas o próprio rosto, porque não pode olhar a glória perfeita, mas tu, não só contemplas o seu rosto, mas o acaricias e amamentas a sua boca santa. (Elogio da Mãe de Deus, de uma homilia de S. Atanásio).

    Contemplatio

    A consolação começa na terra. É inspirada pela fé. É uma consolação nas nossas mágoas, nos nossos sofrimentos, nas nossas provações, pensar que a nossa paciência apaga as nossas faltas e nos prepara graças e uma recompensa sempre crescente. A paciência é sempre encorajada pela esperança, diz S. Paulo: um ligeiro sofrimento prepara uma grande recompensa (2Cor 4, 17). - Se sofremos, se morremos com Jesus, diz-nos muitas vezes, havemos de ressuscitar e seremos glorificados com Ele (Rom 8, 17). Esta santa esperança dá uma verdadeira alegria, um começo de beatitude celeste às almas generosas no sofrimento: «Bendito seja o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação, diz S. Paulo; consola-nos em todas as nossas tribulações, a fim de que também nós possamos consolar aqueles que estão nas angústias, pelos mesmos motivos de encorajamento que Deus nos dá; porque, à medida que os sofrimentos de Cristo abundam em nós, Cristo faz abundar em nós a consolação» (2Cor 1, 3). Mas a consolação definitiva será no céu: «Deus, diz S. João, enxugará todas as lágrimas dos seus eleitos» (Ap 7, 17). Já não haverá incomodidades da terra, da fome, da sede e das intempéries; mas o Cordeiro que reina lá provirá a tudo e abrirá a todos as fontes da vida e da alegria (Ap 7; Is 49). (Leão Dehon, OSP 4 p. 40s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quem acredita que Jesus é o Cristo nasceu de Deus" (1 Jo 5, 1).

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    S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja (2 Maio)

  • S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos

    S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos


    3 de Maio, 2020

    Como S. Pedro e S. André, Filipe era natural de Betsaida. O seu nome grego deixa supor que pertencia à comunidade helenista. Foi dos primeiros discípulos a ouvir o chamamento do Senhor: "Segue-me". Pôs-se imediatamente ao serviço do Senhor e, bem depressa, começou a dedicar-se à missão. Segundo a tradição, S. Filipe evangelizou a Turquia, onde morreu mártir.

    S. Tiago, o Menor, filho de Alfeu, era primo de Jesus e escreveu a Carta de Tiago. Foi testemunha privilegiada da ressurreição do Senhor (cf. 1 Cor 17, 7), ocupando um lugar proeminente na comunidade de Jerusalém. Depois da dispersão dos Apóstolos, nos anos 36-37, aparece como chefe da igreja-mãe (At 21, 18-26). Morreu mártir por volta do ano 62, sendo precipitado pelos Judeus do Templo e lapidado como Estêvão. Na sua carta, deixou-nos o testemunho da prática da Unção dos Enfermos já nos tempos apostólicos.

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Coríntios 15, 1-8

    Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes 2e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. 3Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; 4foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5apareceu a Cefas e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. 7Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. 8Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto.

    Paulo deixa-nos perceber a importância que a tradição tinha nos começos da comunidade cristã: "Transmiti-vos o que eu próprio recebi" (v. 3). É através da tradição apostólica que chegam até nós as notícias referentes ao evento histórico-salvífico da Páscoa do Senhor. Através dela, podemos ligar-nos ao fluxo salvífico daquela graça. O nosso texto contém uma profissão de fé que remonta aos primeiros momentos da comunidade cristã: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras;apareceu a Cefas e depois aos Doze." (vv. 3-5). Anunciar ao mundo esta Boa Nova é a missão dos Apóstolos e de todos os cristãos. Só pela participação na Páscoa de Cristo, os homens podem ser salvos.

    Evangelho: João 14, 6-14

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim. 7Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.» 8Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» 9Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'?10Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras.11Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras.12Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. 14Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei."

    O evangelho transmite-nos o diálogo entre Jesus e Filipe, precedido da autorevelação de Jesus a Tomé: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (v. 6), para chegar ao Pai. Jesus também fala a Filipe do Pai. Por meio de Jesus, podemos conhecer o Pai, desde já, podemos "vê-lo" e assim acreditar na total comunhão que une Jesus a Deus Pai. As palavras de Jesus revelam-nos a comunhão que o liga ao Pai. Acolhê-las é aplanar a estrada para chegar ao Pai. O mesmo se diga das obras de Jesus. Acolhidas na fé, também são caminho para compreender a identidade de Jesus, a sua relação com o Pai e a nossa relação com ambos.

    Meditatio

    "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim." (v. 6). Atraindo-nos para Jesus - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair" (Jo 6, 44) - o Pai revela-nos que, para ir para Ele, é preciso passar pelo Filho, porque o Filho é o caminho, Aquele que revela o Pai, comunica a vida do Pai e conduz até Ele.
    No evangelho, Jesus revela-nos o seu coração, o desejo ardente de nos fazer conhecer o Pai, e a consciência que tem de ser o verdadeiro revelador do mesmo Pai: "Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?" (vv. 9-10).
    Em todo o homem há um desejo vivo de ver a Deus. Os salmos fazem eco desse anseio profundo: "Quando poderei contemplar a face de Deus?" (Sl 42, 3); "Quero contemplar-te... para ver o teu poder e a tua glória." (Sl 63, 3). Conhecer alguém por ouvir dizer, é pouco. Encontrar-se com uma pessoa, vê-la, dá um conhecento mais profundo da mesma. Lemos no seu rosto os seus sentimentos, o seu amor, a sua bondade, tudo o que há de vivo nela. É a partir desta experiência humana que nasce em nós o anseio profundo de ver a Deus.
    O Novo Testamento diz-nos que a visão de Deus, que nos permite contemplar o invisível, o inacessível e continuar vivos, é possível vendo Jesus, o Filho de Deus feito homem, imagem do Deus invisível, rosto humano de Deus. Jesus é o revelador do Pai. É este o seu mistério mais profundo. O Pai está em Jesus e Jesus está no Pai. O Pai manifesta em Jesus, não só na sua presença no meio de nós, mas também, e sobretudo, na sua morte e ressurreição. A primeira leitura sugere esta aproximação. Jesus ressuscitado manifestou-se, apareceu: "Cristo ressuscitou ao terceiro dia e apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez... apareceu a Tiago. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto." (vv. 4-8). Jesus ressuscitado mostrou-se e mostrou o Pai. Ele é a mais completa visão de Deus: "Quem me vê, vê o Pai" (v. 9). É claro que, para nós, Jesus ressuscitado não é uma pessoa que se veja como outra qualquer. A nós, aplica-se a frase com que João encerra o seu evangelho: "Felizes os que crêem sem terem visto!" (Jo 20, 29). A nossa visão de Jesus não é uma visão sensível, mas de fé. Contemplar as imagens de Jesus pode ajudar-nos. Mas são os olhos do coração que O alcançam. A visão de Deus é uma visão do coração. Só se pode vê-lo com o coração, o Coração de Jesus!

    Oratio

    Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto e seremos salvos! Queremos acolher a salvação contemplando o vosso rosto, paterno e materno, cheio de misericórdia. Contemplando-o, queremos penetrar na ternura do vosso coração. Procuro o vosso rosto, Senhor! Mostrai-me o vosso rosto. A vossa glória, Senhor, refulge no rosto do vosso Cristo, que tem um rosto humano, semelhante ao meu, semelhante ao dos meus irmãos. Que eu saiba contemplar o vosso rosto também no rosto dos meus irmãos e irmãs, dos que vivem comigo, trabalham comigo, daqueles para quem eu vivo e trabalho. Ámen.

    Contemplatio

    S. Tiago deixou-nos a sua bela epístola dirigida a todas as Igrejas. Nela descreve, de um modo luminoso, a vida cristã, tal como a praticava diariamente. Estabeleceu a necessidade das boas obras, recomenda a constância nas provações, a caridade para com o próximo, o bom uso da língua. Fala do sacramento da Santa Unção, que se dá aos doentes. Resume toda a vida cristã sob o nome de sabedoria que vem do alto, como S. Paulo a resumiu sob o nome de caridade. «A sabedoria é casta, diz, é modesta, pacífica, dócil aos sábios conselhos, cheia de misericórdia, dedicada às boas obras. Evita os juízos temerários, as mentiras, a duplicidade. É sobretudo amiga da paz interior e do recolhimento que são a condição para escutar a voz de Deus e para praticar a justiça na pureza de intenção». Sim, é na paz interior, na união com o Sagrado Coração, que poderei praticar a vida de amor e de reparação que Nosso Senhor espera de mim. (Leão Dehon, OSP 3, p. 506).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quem me vê, vê o Pai!" (Jo 14, 9).

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    S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos (3 Maio)

  • Nossa Senhora de Fátima

    Nossa Senhora de Fátima


    13 de Maio, 2020

    A 13 de Maio de 1917, Nossa Senhora apareceu aos Três Pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta. Nos meses seguintes, até Outubro inclusive, a Virgem Maria voltaria a manifestar-se nos dias 13, exceto em Agosto, quando se manifestou no dia 19, nos Valinhos. Nesses encontros, Nossa Senhora recordou, em linguagem muito simples, acessível aos pastorinhos, as verdades fundamentais do Evangelho. A sua mensagem pode resumir-se nos termos de "oração e penitência", oração e conversão. As aparições foram reconhecidas pela Igreja como dignas de fé. Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI foram peregrinos de Fátima.
    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 21, 1-5a

    Eu, João, vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. 2E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. 3E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia:«Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. 4Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» 5O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.»

    A grande utopia da ressurreição do homem e do mundo chegará a ser realidade. A cidade nova não tem nada da antiga: nem da Jerusalém israelita, nem sequer da Igreja cristã. É algo de novo que integra aquilo que o antigo tinha de melhor numa espécie de continuidade descontínua. João admira-se de não haver templo na cidade nova. Para o cristianismo, todo o universo é templo: Deus pode revelar-se onde quiser.
    A liturgia aplica este texto a Maria. Deus revelou-se nela. Ela foi a verdadeira Arca de Deus no meio do seu povo. Glorificada no Céu, não esquece aqueles que lhe foram confiados como filhos. Daí, as suas numerosas intervenções ao longo da história, como as de Fátima, em 1917. Ela faz tudo para que, em cada um dos seus filhos, se realize o que já se realizou n´Ela.

    Evangelho: João 19, 25-27

    Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. 26Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» 27Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.

    A mãe de Jesus aparece no princípio e no fim da vida pública de Jesus, ou seja, nas bodas de caná (Jo 2, 1ss.) e junto à cruz do Senhor (Jo 19, 1ss.). Nas bodas de Caná, Jesus dirige-lhe palavras que devem entender-se no sentido de separação: Jesus diz-lhe que não intervenha na fase da sua vida pública, que estava a iniciar. A partir desse momento, Maria como que desaparece de cena. Mas, agora que chegou a hora de Jesus, Maria reaparece, pois é também a sua hora. Em ambas as situações Jesus se lhe dirige chamando-a "mulher" e não mãe, como seria normal. O Senhor parece querer apresentá-la como a mulher estreitamente unida a Ele na realização da obra da redenção, a mulher de que se fala no Génesis (Gn 3, 15) e no Apocalipse (Ap 12). As palavras que Jesus dirige a Maria: "Eis o teu filho!" têm um sentido mais profundo do que o imediatamente literal. A Igreja encarregou-se de aprofundá-lo. O afeto e a relação maternal - a maternidade espiritual de Maria - concentrar-se-ão naqueles por quem o seu Filho está a dar a vida. João personifica todos os seguidores de Jesus. Segundo a teologia paulina, os crentes são "irmãos" de Cristo, participantes da sua filiação.

    Meditatio
    "Por ocasião das cerimónias religiosas que têm lugar nestes dias em Fátima, Portugal, em honra da Virgem Mãe de Deus, onde acorrem numerosas multidões de fiéis para venerarem o seu coração maternal e compassivo, desejamos mais uma vez chamar a atenção de todos os filhos da Igreja para o inseparável vínculo que existe entre a maternidade espiritual de Maria e os deveres que têm para com Ela os homens resgatados. Julgamos ser de grande utilidade para as almas dos fiéis considerar duas verdades muito importantes para a renovação da vida cristã. A primeira verdade é esta: Maria é Mãe da Igreja, não só por ser Mãe de Jesus Cristo e sua íntima colaboradora na nova economia da graça, quando o Filho de Deus n'Ela assumiu a natureza humana para libertar o homem do pecado mediante os mistérios da sua carne, mas também porque brilha à comunidade dos eleitos como admirável modelo de virtude. Depois de ter participado no sacrifício redentor de seu Filho, e de maneira tão íntima que mereceu ser por Ele proclamada Mãe não somente do discípulo João, mas - seja consentido afirmá-lo - do género humano, por este de algum modo representado, Ela continua agora no Céu a desempenhar a sua função materna de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Mas de que modo coopera Maria no crescimento da vida da graça nos membros do Corpo Místico? Antes de tudo, pela sua oração incessante, inspirada por uma ardentíssima caridade. A Virgem Santa, de facto, gozando embora da contemplação da Santíssima Trindade, não esquece os seus filhos que caminham, como Ela outrora, na peregrinação da fé; pelo contrário, contemplando-os em Deus e conhecendo bem as suas necessidades, em comunhão com Jesus Cristo que está sempre vivo para interceder por nós, deles se constitui Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. No entanto, a cooperação da Mãe da Igreja no desenvolvimento da vida divina nas almas não consiste apenas na sua intercessão junto do Filho. Ela exerce sobre os homens remidos outra influência importantíssima, a do exemplo, segundo a conhecida máxima: as palavras movem, o exemplo arrasta. Realmente, tal como os ensinamentos dos pais adquirem maior eficácia quando são acompanhados pelo exemplo duma vida conforme as normas da prudência humana e cristã, assim também a suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem irresistivelmente as almas para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais perfeita imagem. Mas nem a graça do divino Redentor nem a poderosa intercessão de sua e nossa Mãe espiritual poderiam conduzir-nos ao porto da salvação, se a tudo isso não correspondesse a nossa perseverante vontade de honrar Jesus Cristo e a Virgem Mãe de Deus com a fiel imitação das suas sublimes virtudes. É, pois, dever de todos os cristãos imitar religiosamente os exemplos de bondade que lhes deixou a Mãe do Céu. É esta a segunda verdade sobre a qual nos agrada chamar a vossa atenção. É em Maria que os cristãos podem admirar o exemplo que lhes mostra como realizar, com humildade e magnanimidade, a missão que Deus confiou a cada um neste mundo, em ordem à sua eterna salvação e à do próximo. Uma mensagem de suma utilidade parece chegar hoje aos fiéis da parte d'Aquela que é a Imaculada, a toda santa, a cooperadora do Filho na restauração da vida sobrenatural das almas. A santa contemplação de Maria incita-os, de facto, à oração confiante, à prática da penitência, ao santo temor de Deus, e recorda-lhes com frequência aquelas palavras com que Jesus Cristo anunciava estar perto o reino dos Céus: Arrependei-vos e acreditai no Evangelho, bem como a sua severa advertência: Se não vos arrependerdes, perecereis todos de maneira semelhante. Comemorando-se este ano o vigésimo quinto aniversário da solene consagração da Igreja a Maria Mãe de Deus e ao seu Coração Imaculado, feita pelo Nosso Predecessor Pio XII no dia 31 de Outubro de 1942, por ocasião da Radiomensagem à Nação Portuguesa - consagração que Nós mesmo renovámos no dia 21 de Novembro de 1964 - exortamos todos os filhos da Igreja a renovar pessoalmente a sua própria consagração ao Coração Imaculado da Mãe da Igreja e a viver este nobilíssimo ato de culto com uma vida cada vez mais conforme à vontade divina, em espírito de serviço filial e devota imitação da sua celeste Rainha. (Paulo VI, 13 de Maio de 1967).

    Oratio

    Pai Santo, nós vos louvamos e bendizemos, ao celebrarmos a festa da Virgem Santa Maria. Recebendo o vosso Verbo em seu Coração Imaculado, ela mereceu concebê-lo em seu seio virginal e, dando à luz o Criador do universo, preparou o nascimento da Igreja. Junto à cruz, aceitou o testamento da caridade divina e recebeu todos os homens como seus filhos, pela morte de Cristo gerados para a vida eterna. Enquanto esperava, com os Apóstolos, a vinda do Espírito Santo, associando-se às preces dos discípulos, tornou-se modelo admirável da Igreja em oração. Elevada à glória do Céu, assiste com amor materno a Igreja ainda peregrina sobre a terra, protegendo misericordiosamente os seus passos a caminho da pátria celeste, enquanto espera a vinda gloriosa do Senhor. Nós vos louvamos e bendizemos, Senhor! Ámen. (cf. Prefácio da Missa).

    Contemplatio

    Ó Coração sagrado do meu Jesus, eu vos adoro e vos dou graças infinitas por terdes dirigido para a minha salvação o martírio que suportastes à vista dos sofrimentos do santíssimo Coração de Maria ao pé da cruz, porque ma destes como soberana e como mãe. Tal é o vosso amor por mim que lhe pedistes para me tomar como seu filho em vosso lugar, para me amar, para ter compaixão das minhas misérias, para me assistir, para me proteger, para me guardar e para me governar como seu filho. Talvez, ó meu Salvador, não encontrastes maior consolação para a vossa divina Mãe do que dar-lhe filhos perversos e pecadores, a fim de que ela empregue o seu poder e a imensa caridade do seu Coração em conseguir a sua conversão e salvação. Sede bendito e louvado para sempre, ó Coração sagrado do meu Redentor, por terdes querido que nenhum dos vossos sofrimentos, e os de vossa santa Mãe, fosse perdido por mim, mas que todos servissem para curar as minhas feridas e enriquecer-me com verdadeiros bens. (Leão Dehon, OSP 4, p. 262s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Esta é a morada de Deus entre os homens." (Ap 21, 3).

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    Nossa Senhora de Fátima  (13 Maio)

  • S. Matias

    S. Matias


    14 de Maio, 2020

    S. Matias não pertencia ao grupo dos Doze escolhidos por Jesus para seus companheiros e mensageiros (Mc 3, 14). Mas provavelmente era um dos setenta e dois discípulos que Jesus enviou em missão (Lc 10, 1ss.). De qualquer modo, como firma S. Pedro, estava entre aqueles que, após o batismo de Jesus por João Batista, não tinham deixado de acompanhar os Apóstolos e haviam sido testemunhas da Ressurreição (At 1, 22-23). Quando após a Ascensão se tornou necessário escolher um substituto para Judas, Matias foi agregado ao Colégio Apostólico. O seu nome encontra-se no segundo elenco do Cânon Romano.

    Lectio

    Primeira leitura: Atos dos Apóstolos 1, 15-17, 20-26

    Por aqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos - encontravam-se reunidas cerca de cento e vinte pessoas - e disse: 16«Irmãos, era necessário que se cumprisse o que o Espírito Santo anunciou na Escritura pela boca de David a respeito de Judas, que foi o guia dos que prenderam Jesus. 20Está realmente escrito no Livro dos Salmos:'Fique deserta a sua habitação e não haja quem nela resida'. E ainda: 'Receba outro o seu encargo.'21Portanto, de entre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, 22a partir do baptismo de João até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto, é indispensável que um deles se torne, connosco, testemunha da sua ressurreição.»23Designaram dois: José, de apelido Barsabas, chamado Justo, e Matias. 24Fizeram, então, a seguinte oração: «Senhor, Tu que conheces o coração de todos, indica-nos qual destes dois escolheste  25para ocupar, no ministério apostólico, o lugar abandonado por Judas, que foi para o lugar que merecia.» 26Depois, tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias, que foi incluído entre os onze Apóstolos.

    Pedro, ao iniciar o seu ministério, preocupa-se em recompor o número dos apóstolos, - Doze -, explicando à comunidade as motivações de tal preocupação. Para entrar no Colégio Apostólico, o candidato deve ter partilhado as experiências do ministério público de Jesus. Exige-o o testemunho eficaz da Ressurreição do Senhor. Para o cristão, a fé enxerta-se na história e a história abre-se a Deus que visita e salva. A oração dos Apóstolos (vv. 24-25) sugere claramente que a escolha não é obra deles, mas é confiada à vontade e à intervenção do Senhor.

    Segunda leitura: João 15, 9-17

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. 12É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhes-tes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. 17É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.

    O apóstolo partilha a missão de Jesus, que o escolhe e envia. Mas, ainda antes disso, Jesus e os seus discípulos partilham o mesmo amor que Deus, o Pai, lhes deu. O primeiro dever do apóstolo é permanecer no amor, no amor de Jesus para com ele, e no amor de Jesus para com o Pai. É viver na comunhão simultaneamente horizontal e vertical, isto é, com os irmãos na fé e com Deus, meta última do nosso amor. O discípulo de Jesus, porque se sente amado e partilha com Jesus o amor do Pai, sabe que tem um mandamento a observar, o mandamento do amor. Este mandamento não inibe a nossa liberdade, mas exalta-a. O verdadeiro discípulo de Jesus tem plena consciência de ser seu amigo, e sente-se chamado a viver essa amizade "até ao fim", até ao dom de si mesmo.

    Meditatio

    S. Matias foi escolhido para ser amigo de Jesus e seu apóstolo. Como aos Onze, que restavam do Colégio Apostólico, Jesus diz: "És meu amigo, se fizeres o que Eu te mando." (cf. v. 14). Os temas do mandamento e o do amor repetem-se, hoje, no evangelho: "Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor." (vv. 9-10); "É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei." (v. 12). Esta insistência no mandamento, a propósito do amor, pode causar-nos estranheza. O amor, pensamos, só pode ser livre, uma vez que é algo de espontâneo e se desenvolve por leis próprias. Não são precisos mandamentos para o observar. Mas o cristão sabe que o verdadeiro amor não é pura espontaneidade, mas dom de Deus, derramado nos nossos corações. Para Jesus o verdadeiro amor leva a cumprir a vontade do outro: "Eu tenho guardado os mandamentos do meu Pai, e permaneço no seu amor" cf. (v. 10). Para amar o Pai, Jesus vive em permanente adesão à sua vontade. O Pai, e Jesus, querem que também nós amemos. Trata-se de uma espécie de círculo, que não é vicioso, mas de progresso no amor. A verdadeira adesão à vontade de Deus realiza-se no amor e, para que o nosso amor progrida, é preciso que seja adesão à vontade divina. Esta é a lei fundamental da vida espiritual: para amar, procuramos a vontade de Jesus, a vontade do Pai; procurando e cumprindo esta vontade, progredimos no amor.
    A oblação de amor, a que somos chamados, como dehonianos, concretiza-se na obediência amorosa à vontade de Deus. Lemos nas Constituições: "Jesus submeteu-Se amorosamente à vontade do Pai: disponibilidade particularmente manifesta na sua atenção e abertura às necessidades e aspirações dos homens. "O meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e realizar a sua obra" (Jo 4,34). Queremos, a seu exemplo, pela profissão da obediência, fazer o sacrifício de nós mesmos a Deus e unir-nos, de uma maneira mais firme, à sua vontade de salvação". (Cst 53).

    Oratio

    Senhor Jesus, quero ser teu amigo. Não olhes para os meus méritos, mas para a misericórdia do teu coração. Perdoa o meu pecado e olha-me com predileção. Sei que precisas de colaboradores livres e alegres. Quero ser um deles. Tenho muito que aprender de ti e tu tens muito para me ensinar e entregar. Eis-me aqui! Quero ser teu amigo, um dos teus prediletos, um daqueles a quem confias quanto tens no coração e, como tu, fazer em tudo a vontade do Pai. Ámen.

    Contemplatio

    É preciso, diz S. Pedro, substituir o traidor e escolher um outro apóstolo. Procuremos, portanto, um discípulo fiel, um discípulo que tenha estado todo o tempo connosco, desde o começo da vida pública do Salvador até à sua morte. E escolheram dois, os mais fiéis, os mais zelosos discípulos do Salvador, José Barsabas, chamado o Justo, e Matias. Este não tinha o sobrenome de Justo, mas tinha a sua reputação. Ambos tinham seguido assiduamente o Salvador; não o tinham deixado; tinha escutado e posto em prática os seus ensinamentos. Eram os mais dedicados, os mais assíduos, os mais fiéis depois dos doze. Tinham visto tudo, ouvido tudo, meditado tudo... Podiam receber a imposição das mãos, o sacerdócio, o carácter episcopal e a missão apostólica. Mas, qual dos dois vão escolher? ... S. Pedro tem a piedosa inspiração de confiar a escolha a Deus reportando-se à sorte. E a sorte caiu em Matias. É, portanto, ele o fiel por excelência, o discípulo perfeito, que melhor ensinará a doutrina de Cristo e que melhor reproduzirá as virtudes do seu divino Coração. Se quero ter os favores divinos, eis o caminho: seguir fielmente Jesus, meditar em todos os seus mistérios, do começo até ao fim, deixar-me compenetrar dos sentimentos do seu Coração sagrado e reproduzir as suas virtudes. (Leão Dehon, OSP 3, p. 213).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Permanecei no meu amor" (Jo 15, 9).

    (14 maio)

  • 7ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    7ª Semana - Segunda-feira - Páscoa


    25 de Maio, 2020

    7ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 19, 1-8

    1Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, depois de atravessar as regiões do interior, chegou a Éfeso. Encontrou alguns discípulos 2e perguntou-lhes: «Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?» Responderam: «Mas nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo.» 3E indagou: «Então, que baptismo recebestes?» Responderam eles: «O baptismo de João.» 4«João - disse Paulo - ministrou apenas um baptismo de penitência e dizia ao povo que acreditasse naquele que ia chegar depois dele, isto é, Jesus.» 5Quando isto ouviram, baptizaram-se em nome do Senhor Jesus. 6E, tendo-lhes Paulo imposto as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles e começaram a falar línguas e a profetizar. 7Eram, ao todo, uns doze homens. 8Paulo foi, em seguida, à sinagoga, onde, durante três meses, falou desassombradamente e argumentava de forma a persuadir os seus ouvintes sobre o que dizia respeito ao Reino de Deus.

    As afirmações de Lucas neste texto mostram-nos que a situação nas primitivas comunidades cristãs foi muito mais complexa do que pensamos e mesmo de quanto Lucas nos deixa entrever. Havia muita gente com um pé no judaísmo e outro no cristianismo, meio discípulos de João Baptista e meio discípulos de Jesus. A pregação do Baptista tinha ultrapassado as fronteiras da Palestina e tinha feito discípulos entre os judeus da Diáspora. Estes ouviram falar de Jesus e aceitaram-no como Messias. Mas faltava-lhes uma informação completa sobre a doutrina e as exigências do Mestre. Tinham abraçado a fé, eram cristãos, mas apenas tinham recebido o baptismo de João, e nem tinham ouvido falar do Espírito Santo. Precisavam de receber o baptismo de Jesus para serem inseridos na comunidade cristã. Não sabemos se foi Paulo quem os baptizou. Mas foi ele quem lhes impôs as mãos, renovando o Pentecostes, como acontecera noutras circunstâncias, especialmente com Pedro e com João na Samaria. Lucas quer mostrar que Paulo tem o mesmo poder que os Doze.

    Evangelho: João 16, 29-33

    Naquele tempo, 29disseram os discípulos a Jesus: «Agora, sim, falas claramente e não usas nenhuma comparação. 30Agora vemos que sabes tudo e não precisas de que ninguém te faça perguntas. Por isso, cremos que saíste de Deus!»
    31Disse-lhes Jesus: «Agora credes? 32Eis que vem a hora - e já chegou - em que
    sereis dispersos cada um por seu lado, e me deixareis só, se bem que Eu não esteja só, porque o Pai está comigo. 33Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!»

    Os discursos de Jesus, ao longo do quarto evangelho, são quase sempre incompreendidos. Hoje, ouvimos os discípulos que, com entusiasmo, dizem a Jesus:
    «Agora, sim, falas claramente e não usas nenhuma comparação» (v. 29). É verdade
    que Jesus, nos discursos de adeus (Jo 14-16) falou mais claro. Mas também é verdade que, quando João escreve essas palavras, elas já eram iluminadas pela luz da Ressurreição e que, sobre a vida da Igreja, também já se projectava a luz do

    Pentecostes. Com a Ressurreição, tinha começado a nova era, e o Espírito Santo, o mestre interior, permitia aos discípulos a compreensão das palavras de Jesus. Ainda antes da Ressurreição, os discípulos pensaram conhecer a pessoa de Jesus, e ter uma fé adulta em Deus. Mas Jesus tem de lhes fazer compreender que a sua fé ainda é fraca e incompleta para enfrentar as provações que estão para vir (cf. v. 31). O Mestre anuncia, com amargura, que os seus amigos, que agora se afirmam crentes, O hão-de abandonar, porque não resistirão à prova da sorte humilhante a que será submetido. Mas o Senhor termina com palavras de esperança: «tende confiança: Eu já venci o mundo!» (v. 33).

    Meditatio

    Os apóstolos estavam convencidos de que tinham compreendido Jesus e o que Ele lhes dissera. Na verdade, não era assim: nem tinham compreendido a pessoa de Jesus nem a sua mensagem. A sua fé era ainda muito frágil. Precisavam mesmo do Espírito Santo. É o próprio Jesus que lhes faz notar a ilusão em que tinham caído:
    «Agora credes? Eis que vem a hora - e já chegou - em que sereis dispersos cada um por seu lado, e me deixareis só» (vv. 31-32). A provação estava próxima e revelaria a fragilidade da sua fé. Quando a fé se apoia em seguranças humanas, não resiste à provação. Mas, quando a provação encontra alguém devidamente ancorado na palavra do Senhor, e no abandono a Ele, então é purificada e lança-o no caminho de Jesus que afirma: «Eu não estou só, porque o Pai está comigo» (v. 32), e faz-nos tomar a sério as palavras do Senhor: «Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (v.
    33).
    As palavras de Jesus tinham um alcance que os discípulos não atingiam. Jesus ia voltar para o Pai através da paixão. Esse «regresso» é um mistério que transforma toda a natureza humana, para que os homens possam acreditar. Quando Jesus tiver realizado, pelo sofrimento e pela morte, essa transformação, poderá enviar o Espírito Santo, que fará dos Apóstolos uma nova criação. Então poderão acreditar plenamente, compreender toda a verdade.
    Nós já recebemos o Espírito Santo, e já acreditamos. Mas podemos e devemos
    crescer na fé. Há sempre novos horizontes que se abrem e que havemos de procurar atingir, como vemos na vida dos santos. Por isso, precisamos sempre de novos dons do Espírito, que nos revelem a superficialidade da nossa adesão a Cristo nas fases anteriores e a necessidade de enfrentar novas tribulações e de receber novas graças que nos façam crescer na intimidade e na união com Ele.
    Acolhamos em todos os momentos, em todas as situações o Espírito com os
    Seus dons. Só Ele nos fará conhecer, cada vez mais, a pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração. Só Ele nos fará compreender a sua mensagem. Só Ele nos fará caminhar no amor, mesmo no meio das tribulações, irradiando os Seus frutos (cf. Gal
    5, 22). Só Ele nos fará crescer à imagem de Cristo, fazendo-nos Eucaristia, para glória e alegria de Deus, e para salvação dos nossos irmãos. Poderemos, então, dizer com S. Paulo: «Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em Mim. A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e Se entregou por mim» (Gal 2, 20).
    Foi
    esta «experiência de fé do P. Dehon» (Cst 2). E há ser também a nossa! Tornar-nos-emos homens novos em Cristo «Homem novo» (Ef 4, 24). E «o seu Caminho será o nosso caminho» (Cst 12).

    Oratio

    Senhor Jesus, que na tua imensa bondade nos preparas para sermos uma nova criação no teu Espírito, e para aderirmos a Ti com fé profunda, dá-nos a graça de participarmos no teu mistério de sofrimento e de alegria, no teu mistério de caridade. Nós o pedimos por intercessão de S. João Evangelista, teu Apóstolo muito amado, e nosso preceptor na contemplação do teu Lado aberto e do teu Coração trespassado. Que ele nos ensine também o espírito de reparação, de expiação, de sacrifício, para repararmos os pecados dos outros e especialmente os nossos próprios pecados. Queremos consagrar-Te a nossa vida e fazer dela uma eucaristia para Glória e Alegria do Pai. Amen.

    Contemplatio

    S. João não apenas compadeceu no martírio de Jesus, ele mesmo foi mártir. Nosso Senhor tinha-lhe predito: «Bebereis o mesmo cálice que eu, tinha-lhe dito, e sereis baptizados no mesmo baptismo».
    S. João foi, como Jesus, preso, encadeado e condenado. Sofreu o suplício do azeite a ferver. Foi enviado em exílio para Patmos.
    Diz-nos no Apocalipse: «Eu, João, vosso irmão, participei nas tribulações dos mártires e na sua paciência; fui atirado para a ilha de Patmos para dar testemunho de Jesus Cristo, cujo Evangelho pregava» (Ap 1, 9).
    S. João é para nós o modelo da reparação e da imolação, como é o modelo do amor do Salvador.
    Amou a reparação e o sacrifício. Esteve no martírio com alegria. Tinha ouvido Jesus dizer aos apóstolos: «Devo ser baptizado com o baptismo do meu sangue e tenho pressa que isso aconteça». Tinha ouvido também o «Surgite eamus», - levantai-vos e vamos ao encontro do traidor». Como é que não teria desejado também as provações que deviam torná-lo semelhante ao seu bom Mestre? (Leão Dehon, OSP 3, p. 407).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 33).

  • 7ª Semana - Terça-feira - Páscoa

    7ª Semana - Terça-feira - Páscoa


    26 de Maio, 2020

    7ª Semana - Terça-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 20,17-27

    Naqueles dias, 17estando Paulo em Mileto, mandou chamar os anciãos da igreja de Éfeso. 18Quando chegaram junto dele, disse-lhes: «Sabeis como, desde o primeiro dia em que cheguei à Ásia, procedi sempre convosco. 19Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio das provações, que as ciladas dos judeus me acarretaram. 20Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil. Preguei e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas,
    21afirmando a judeus e gregos a necessidade de se converterem a Deus e de
    acreditarem em Nosso Senhor Jesus. 22E agora, obedecendo ao Espírito, vou a Jerusalém, sem saber o que lá me espera; 23só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me avisa de que me aguardam cadeias e tribulações. 24Mas, a meus olhos, a vida não tem valor algum; basta-me poder concluir a minha carreira e cumprir a missão que recebi do Senhor Jesus, dando testemunho do Evangelho da graça de Deus. 25Agora sei que não vereis mais o meu rosto, todos vós, no meio de quem passei, proclamando o Reino. 26Por isso, tomo-vos hoje por testemunhas de que estou limpo do sangue de todos, 27pois jamais recuei, quando era preciso anunciar-vos todos os desígnios de Deus.

    Ao terminar a sua actividade evangelizadora em Mileto, Paulo faz um comovente discurso de adeus, onde se revela como missionário ideal e dirigente excepcional da comunidade cristã. Trata-se de um discurso cheio de densidade humana e inteligência espiritual. Emerge a figura de um homem totalmente dedicado ao serviço do Senhor, um serviço prestado com humildade, coragem e desinteresse. Espera-o um futuro onde não faltarão cadeias e tribulações. Mas conforta-o a presença iluminadora do Espírito por quem se sente seduzido. Nada o detém na corrida para a meta, porque o testemunho do «Evangelho da graça de Deus» (v. 24) é urgente.
    Neste discurso, Lucas acentua a exemplaridade de Paulo. Esta exemplaridade tem fundamento real na vida do apóstolo (cf. 1 Cor 4, 16; 11, 1; Gál 4, 12; 2 Cor 3, 1), mas o evangelista parece carregar as tintas para o apresentar como modelo e exemplo de missionário e pastor para as gerações futuras.

    Evangelho: João 17, 1-11a

    Naquele tempo, 1Jesus ergueu os olhos ao céu e disse: «Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, 2segundo o poder que lhe deste sobre toda a Humanidade, a fim de que dê a vida eterna a todos os que lhe entregaste. 3Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste. 4Eu manifestei a tua glória na Terra, levando a cabo a obra que me deste a realizar. 5E agora Tu, ó Pai, manifesta a minha glória junto de ti, aquela glória que Eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir.
    6Dei-te a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos entregaste e têm guardado a tua palavra. 7Agora ficaram a saber que tudo quanto me deste vem de ti, 8pois as palavras que me transmitiste Eu lhas tenho transmitido. Eles receberam-nas e reconheceram verdadeiramente que Eu vim de ti, e creram que Tu me enviaste. 9É por eles que Eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que

    me confiaste, porque são teus. 10Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu; e neles se manifesta a minha glória. 11Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti.

    Começamos, hoje, a escutar a chamada «oração sacerdotal» de Jesus. Ao contrário dos Sinópticos, que a colocam no Getsémani, João contextualiza-a no Cenáculo. Depois dela, Jesus começa o caminho da paixão e da morte.
    A primeira parte desta oração é composta por dois textos (vv. 1-5 e 6-11ª), ligados entre si pelo tema do dom de todos os homens feito a Jesus pelo Pai. Os vv.
    1-5 concentram-se no pedido da glória pela Filho. Estamos no momento mais solene
    do colóquio de Jesus com os discípulos. Jesus sabe que a sua hora está a chegar, e que a sua missão está próxima do fim. E, «levantando os olhos ao céu» (v. 1), dá início à sua oração.
    Em primeiro lugar, Jesus pede que a sua missão atinja o seu mais elevado objectivo: a sua glorificação, para que o Pai seja glorificado (v. 1-2). O Pai tinha colocado nas mãos do seu Filho Jesus todo o poder, até o de dar a própria vida por aqueles que Lhe confiou. A vida eterna consiste em conhecer o único verdadeiro Deus e Aquele que por Ele foi enviado aos homens, o Filho (v. 3). Esta vida eterna não é a contemplação de Deus, mas aquela que se adquire pela fé. Ao concluir a sua missão na terra, Jesus declara ter glorificado o Pai, realizando a missão que Ele Lhe confiou. Aqueles que acolheram o Filho, e cumprem a sua palavra, também O glorificam.

    Meditatio

    A liturgia oferece-nos, a partir de hoje, a escuta da «oração sacerdotal» que Jesus rezou antes da sua paixão. Essa oração deixa-nos entrever algo da unidade que existe entre Ele e o Pai: «Pai, manifesta a glória do teu Filho... manifesta a minha glória junto de ti...» (v. 1). Jesus pede ao Pai que O glorifique. Está consciente de que
    «chegou a hora», isto é, o tempo da sua paixão, que é também o tempo da sua
    glorificação, porque é a suprema manifestação do amor do Pai, que «entregou o
    Filho» (cf. Jo 3, 15), e do Filho que nos amou e se entregou por nós (cf. Ef 5, 1).
    Noutro capítulo do evangelho de João, lemos: «Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de Eu dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente para esta hora é que Eu vim! Pai, manifesta a tua glória!» (Jo 12, 27-28). Manifestar a glória do Pai é manifestar o Filho, para que o Filho possa glorificar o Pai: «Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória» (v. 1). O Pai não pode ser glorificado, se o Filho o não for. Por isso, quando Jesus pede ao Pai que O glorifique, não está a manifestar qualquer espécie de orgulho, mas, sim, o seu infinito amor pelo Pai. Essa manifestação acontece na sua paixão e morte, em que o Pai intervém para dar a vitória ao Filho, que assume, então, o poder sobre toda a criatura humana e lhe comunica a vida eterna.
    Podemos perguntar: que é a vida eterna? Jesus responde: «Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste» (v. 3). Conhecer o Deus de Jesus Cristo, conhecer o Filho e o Espírito Santo, conhecê-los não só com a mente, mas também com o coração, conhecê-los estando em comunhão com Eles, conhecê-los esquecendo tudo o mais,
    esta é a «vida eterna». O resto pertence ao mundo das coisas que passam, à infinita vaidade de tudo, ao que não tem consistência, ao que tem vida efémera, ao que não vale a pena apegar-se. A vida do cristão há-de ser um contínuo progresso no conhecimento de Deus, um perene crescimento na ciência de Cristo, um permanente caminhar no Espírito. Isto também é a vida eterna... desde já!
    A glorificação do Filho acontece particularmente no Pentecostes, quando o
    Espírito Santo renova os Apóstolos e toda a Igreja. A relação entre o Pai e o Filho não

    é uma relação fechada, mas aberta, fecunda, tendente a transformar toda a criatura.
    A nossa vocação leva-nos a unirmos ao amor oblativo com que Jesus Cristo se entregou por nós, fazendo-nos novas criaturas, animadas pelo Espírito, levando-nos a entregar-nos também, de corpo e alma, ao serviço da glória de Deus e à salvação dos irmãos. Foi essa a maravilhosa «experiência de fé do Pe. Dehon» (cf. Cst 2-8), e há- de ser essa «a nossa experiência de fé» (Cst 9), «a nossa vocação religiosa» (Cst 15) e, portanto, «a nossa resposta» de «Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus» (Cst
    16), doando-nos ao Pai «pelos nossos irmãos com e como Cristo» (Cst 21), «para Glória e Alegria de Deus» (Cst 25). No Antigo Testamento, a palavra «glória» (kabod em hebraico; doxa em grego) indica tudo aquilo que manifesta Deus aos homens, sobretudo como amor gratuito e salvador.

    Oratio

    Senhor Jesus, que pela tua oblação reparadora, me fizeste nova criatura, animada pelo teu Espírito, na comunidade de amor que é a Igreja, dá-me a graça de participar no teu mistério de sofrimento e de alegria, no teu mistério de caridade, para que, em mim e por mim, se manifeste a glória do Pai e a tua glória.
    Infunde no meu coração os dons da ciência e da sapiência, para que possa conhecer-te, saborear-te, amar-te e possuir-te cada vez mais. Infunde em mim o dom do conselho, para que Te procure e conheça no meio das ocupações e preocupações, que enchem a minha vida. Infunde em mim o dom do discernimento, para que possa escolher-Te, no meio de tudo quanto me envolve. Faz-me ver a luz do teu rosto em cada rosto humano, para que sempre busque e encontre a Ti. Que sejas glorificado e conhecido, primeiro e acima de quanto eu mesmo possa ser glorificado. Amen.

    Contemplatio

    Depois que o Salvador deu aos apóstolos as suas últimas recomendações, ergueu os olhos ao céu e rezou pelos sacerdotes:
    Meu Pai, diz, consumei a obra que me havíeis confiado, agora glorificai-me,
    glorificai a minha humanidade. Recomendo-vos também os meus discípulos. Separei- os do mundo, dei-lhes a conhecer a minha origem e a minha missão, peço-vos insistentemente por eles. Em breve deixá-los-ei para ir para Vós, não os abandoneis, protegei-os por causa de mim. Conservai-os no vosso amor e na caridade fraterna. Que sejam um entre si e connosco. Deverão viver no mundo pelo apostolado, mas peço-vos que os preserveis de toda a influência má. Protegei-os contra o demónio, conservai-os na verdade e na santidade, para que sejam capazes de cumprirem a sua missão. Envio-os ao mundo para o converterem e santificarem, como Vós me enviastes a mim mesmo. Vou agora sacrificar-me e imolar-me por eles, a fim de fecundar o seu ministério. Pelos méritos do meu sacrifício, receberão o Espírito Santo, que será o seu guia, a sua força e o seu santificador (Jo 17) (Leão Dehon, OSP
    4, p. 259).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Pai, manifesta a glória do teu Filho» (Jo 17, 1).

  • 7ª Semana - Quarta-feira - Páscoa

    7ª Semana - Quarta-feira - Páscoa


    27 de Maio, 2020

    7ª Semana - Quarta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 20, 28-38

    Naqueles dias, Paulo disse aos anciãos da Igreja de Éfeso: 28«Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue. 29Sei que, depois de eu partir, se hão-de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho 30e que, mesmo no meio de vós, se hão-de erguer homens de palavras perversas para arrastarem discípulos atrás de si. 31Estai, pois, vigilantes e recordai-vos de que, durante três anos, de noite e de dia, não cessei de exortar, com lágrimas, cada um de vós. 32E agora, confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados. 33Jamais cobicei prata, nem ouro, nem o vestuário de alguém. 34E bem sabeis que foram estas mãos que proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros. 35Em tudo vos demonstrei que deveis trabalhar assim, para socorrerdes os fracos, recordando-vos das palavras que o próprio Senhor Jesus disse: 'A felicidade está mais em dar do que em receber.'»
    36Depois destas palavras, ajoelhou-se com todos eles e orou. 37Todos romperam em pranto e, lançando-se ao pescoço de Paulo, começaram a abraçá-lo, 38consternados, sobretudo, com as palavras que lhes dissera: que não veriam mais o seu rosto. Em seguida, acompanharam-no ao barco.

    O discurso de Mileto tem um carácter intemporal que o torna válido para todos os tempos. Dirigindo-se aos presbíteros, Paulo pede-lhes zelo, humildade renúncia ao próprio egoísmo. Depois de ter falado do seu empenho e responsabilidade na fundação e direcção das comunidades cristãs, o Apóstolo parece querer inculcar esse mesmo empenho e responsabilidade nos presbíteros da Igreja. Eles foram colocados como pastores do rebanho que Deus adquiriu para Si.
    Paulo insiste no dever da vigilância. De facto, perspectivam-se tempos difíceis,
    com perigos internos e externos à comunidade, sobretudo o despontar de falsas doutrinas: «Sei que, depois de eu partir, se hão-de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho e que, mesmo no meio de vós, se hão-de erguer homens de palavras perversas para arrastarem discípulos atrás de si» (vv.
    29.30). Mesmo com sofrimento, o pastor deve vigiar, dia e noite, sobre si, mas também sobre os que lhe estão confiados, para os defender dos inimigos. O Apóstolo está consciente de que pede algo de superior às forças humanas. Por isso, confia os pastores da Igreja «a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício» (v. 32).
    Com este discurso, Lucas encerra a narração das actividades de Paulo no mundo grego. Esperam o Apóstolo outros trabalhos e provações.

    Evangelho: João 17, 11b-19

    Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos ao céu e orou deste modo: Pai santo, guarda-os no teu nome, que Tu me deste, para serem um só, como Nós somos!
    12Enquanto estava com eles, Eu guardava-os no teu nome, que Tu me deste.

    Guardei-os e nenhum deles se perdeu, a não ser o homem da perdição, cumprindo-se desse modo a Escritura. 13Mas agora vou para ti e, ainda no mundo, digo isto para que eles tenham em si a plenitude da minha alegria. 14Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. 16De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 17Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. 18Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, 19e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade.

    A segunda parte da «oração sacerdotal» começa com um pedido de Jesus ao
    Pai, para que proteja aqueles que acreditaram ou hão-de vir a acreditar n´Ele:
    «guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos!» (v. 11b). O texto subdivide-se em duas partes: começa por desenvolver o tema da oposição entre os discípulos e o mundo (vv. 11b-16); depois fala da santificação deles na verdade (vv. 17-19). E o Mestre pede ao Pai que proteja os seus amigos contra a oposição do mundo. Mas aparecem outros temas: a união entre os seus (v. 11), a sua guarda, com excepção de Judas (cf. v. 12), a preservação do maligno e do ódio do mundo (vv. 14s.). Depois vem o tema da santificação dos discípulos: «Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra» (v. 17). Numa palavra, Jesus pede ao Pai
    «santo» que torne santos aqueles que Lhe pertencem, para que continuem no mundo a sua missão, sem se deixarem vencer pela força do maligno.

    Meditatio

    As palavras de Paulo, como as de Jesus, são «discursos de adeus». Paulo vê aproximar-se a hora do martírio; Jesus vê aproximar-se a hora de voltar para junto do Pai. Enquanto o discurso de Paulo é dramático, o de Jesus é sereno e cheio de paz. Paulo está preocupado com aqueles a quem confia as comunidades que fundou; Jesus está preocupado com os seus Apóstolos. Tanto Jesus como Paulo querem preservar os discípulos dos perigos e lançá-los como continuadores da missão.
    Paulo lembra aos pastores da Igreja de Éfeso as suas responsabilidades, e fala- lhes dos perigos que os espreitam: «lobos temíveis...homens de palavras perversas...» (v. 29.30). Jesus envia os seus discípulos para o mundo, apesar de saber que o mundo é o lugar do maligno, e que os odeia: «Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo» (v. 18). Paulo confia os pastores ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para edificar e conceder a herança a todos os santificados (cf. v 32), imitando Jesus que confia os discípulos ao Pai: «Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos!» (v. 11).
    Os discípulos devem permanecer no mundo, sem se deixar contaminar por ele. Não é coisa fácil. Por isso, Jesus reza: «Por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade» (v. 19). Os discípulos não devem ter medo. O desafio é grande, mas o poder de Deus é maior. S. Agostinho comenta: «Que quer dizer «por eles totalmente me entrego», se não que os santifico em mim mesmo enquanto eles são eu? De facto, Ele fala dos que são membros do seu corpo».
    Tudo isto nos leva a reflectir, mais uma vez, sobre o poder do mundo, mas
    também sobre a
    sua fraqueza. O mundo tem poder sobre quem se deixa seduzir por ele. Mas é fraco para quem se deixa guiar pela palavra de Jesus e pelo seu Espírito. A palavra e o Espírito de Jesus ajudam a discernir os vários rostos do mundo, a distinguir os apelos do Espírito dos subtis enganos do maligno, as mensagens de Deus

    da mentira do inimigo. E é maior a segurança quando a Palavra e o Espírito não são acolhidos e geridos individualmente, mas recebidos na comunidade dos discípulos, na Igreja.

    Oratio

    Ó Senhor, meu Salvador, com o teu servo Leão Dehon, quero pedir-Te a graça da união, o espírito de união. O lugar propício para essa união é o teu divino Coração. Compreendi que esta união é a fonte de toda a vida espiritual. Daqui em diante, aplicar-me-ei em não lhe pôr obstáculos. Fugirei da dissipação, da tibieza, da negligência. Ajuda-me, meu Deus, e perdoa-me todas as minhas negligências passadas.
    Por mim, quero também confiar-me à tua palavra. Lembra-me que não sou
    deste mundo, que Te pertenço. Santifica-me na tua verdade, assimila-me à tua mentalidade, à tua vida! Tu, que rezaste por mim, torna-me santo na verdade, para que eu siga sempre pelos teus caminhos, e use este mundo como Tu mesmo o usarias. Amen.

    Contemplatio

    Um dos frutos mais preciosos da vinda do Espírito Santo é a nossa união com Deus, união que será consumada na glória... Para confirmar esta união, Nosso Senhor comunicou-nos a sua vida sobrenatural. A sua vida manifesta-se em nós: agora fui glorificado neles. E como tudo é comum entre o seu Pai, o Espírito Santo e ele, como membros do corpo místico do qual é a cabeça, nós somos participantes da vida divina e, de algum modo, da natureza divina, participantes da natureza divina.
    Mas não esqueçamos as condições desta união: ela é um dom gratuito, é a obra da graça. É preciso, portanto, que sempre nos disponhamos a ela e lhe correspondamos. É por Nosso Senhor, pelo seu amor e pela sua imitação que lá havemos de chegar: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. É por ele que vamos ao Pai.
    Procuremos sempre esta união que é a condição de toda a vida sobrenatural. É nesta união que havemos de encontrar a luz nas nossas dúvidas, a consolação nas provações e a força nas dificuldades; evitemos tudo o que se opõe a esta união, o pecado, a tibiez, a negligência, a dissipação, a sensualidade.
    Esta união receberá a sua consumação na vida futura. Nosso Senhor no-la prometeu. Não se afastou de nós senão por um tempo. Voltará para nos levar e nos reunir a ele e nos fazer participar a sua glória na ressurreição, na união eterna com ele. Regressarei e tomar-vos-ei comigo para que, onde Eu estiver, estejais vós também. (Leão Dehon, OSP 3, p. 485s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Pai, que todos sejam um como Nós» (Jo 17, 11).

  • Visitação da Virgem Santa Maria

    Visitação da Virgem Santa Maria


    31 de Maio, 2020

    A Festa de Visitação começou a ser celebrada no século XIII, pelos Franciscanos. Bonifácio IX (1389-1384) introduziu-a no calendário universal da Igreja. Tradicionalmente celebrada a 2 de Julho, a festa foi antecipada pelo novo calendário para o dia 31 de Maio, ficando assim entre a Solenidade da Anunciação (25 de Março) e o Nascimento de João Batista (24 de Junho). Depois da Anunciação, Maria foi visitar a prima Isabel, partilhando com ela a alegria que experimentava perante as "maravilhas" n´Ela operadas pelo Senhor. Impele-a também a essa visita a sua caridade feita disponibilidade e discrição. Para Lucas, Maria é a verdadeira Arca da Aliança, a morada de Deus entre os homens. Isabel reconhece esse fato e reverencia-o. Toda a visitação de Maria é um acontecimento de Jesus.

    Lectio

    Primeira leitura: Sofonias 3, 14-18ª

    Rejubila, filha de Sião,solta gritos de alegria, povo de Israel! Alegra-te e exulta com todo o coração, filha de Jerusalém!15O Senhor revogou as sentenças contra ti, e afastou o teu inimigo. O Senhor, rei de Israel, está no meio de ti. Não temerás mais a desgraça. 16Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: «Não temas, Sião! Não se enfraqueçam as tuas mãos! 17O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa, 18como nos dias de festa.»

    O reinado de Josias (séc. VI a. C.) foi marcado por permanentes infidelidades de Israel a Deus. O povo, esquecendo a Aliança com Deus, fazia alianças humanas e deixava-se levar pelas modas, cedendo ao culto de deuses estrangeiros. Perante esta situação, Sofonias ergue a voz para proclamar "o dia terrível de Javé" em que o pecado dos povos, também de Judá, seria manifestado e julgado. Mas o profeta sabe que o juízo de Deus é sempre um convite à conversão. Assim, abre uma perspetiva de luz e de esperança. A "filha de Sião" deve alegrar-se com a perspetiva desse dia (cf. 16b), o dia messiânico, dia de misericórdia e de um amor novo entre Deus e o seu povo. A presença de Deus entre o seu povo será motivo de renovada esperança, porque Deus é "poderoso salvador" (v. 17).

    Evangelho: Lucas 1, 39-56

    Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.43E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» 46Maria disse, então: «A minha alma glorifica o Senhor47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome.50A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.51Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.52Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.54Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,55como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.

    Maria e Isabel acolhem em si a ação de Deus. Maria acolhe-a de modo ativo, dando o seu consenso. Isabel acolhe-a de modo passivo. Ambas experimentam a ação poderosa do Espírito Santo. Isabel tem no ventre o Precursor. Graças a essa presença, pode já indicar, na Mãe, o Filho e proclamar bendita Aquela que "acreditou" (v. 45). Maria responde ao cântico de Isabel com o Magnificat, que revela a ação poderosa de Deus nela, aquela ação que realiza as promessas feitas a Abraão e à sua descendência. O Magnificat é a primeira manifestação pública de Jesus, ainda escondido, mas atuante naqueles que, como Maria, o acolhem na fé e com amor.

    Meditatio

    Maria ensina-nos a acolher o Senhor. Acolhe-o com louvor: "A minha alma glorifica o Senhor!" Assim fizera David que acolheu a Arca de Deus com exultação e a colocou na sua cidade, Jerusalém, no meio do júbilo do seu povo.
    Como David e, sobretudo, como Maria, precisamos de acolher a Deus e dar-lhe o lugar a que tem direito na nossa vida. Somos pequenos e fracos, é certo. Mas Deus chama-nos a acolhê-lo, a recebê-lo em nossa casa com alegria e disponibilidade. Não podemos deixá-lo à porta. Não podemos recebê-lo continuando fechados nas nossas preocupações, nos nossos interesses mais ou menos egoístas. Não podemos receber a Deus como se recebe alguém que vem negociar connosco, ou como se recebe um fornecedor, um cobrador, ou um qualquer serviçal. Há que recebê-lo com a honra a que tem direito, com alegria, com cânticos de júbilo, com exultação. Maria acolheu o Senhor, não para ser servida, mas para servir. Acolheu-o cantando: "A minha alma glorifica o Senhor!". Maria e Isabel ensinam-nos também a acolher os outros. Para acolher alguém, precisamos de sair de nós mesmos. Maria saiu fisicamente de sua casa e deslocou-se à montanha da Judeia para visitar Isabel. Isabel, para acolher a Maria, saiu de si mesma e reconheceu, na jovem mulher que a visitava, a Mãe do seu Senhor. Maria acolhera a palavra do Anjo acerca da prima e foi visitá-la como a alguém abençoado pelo Senhor. Acolher uma pessoa é sempre acolher aquilo que Deus realiza nessa pessoa, acolher a sua vocação profunda.
    Peçamos a Maria que, como o Pe. Dehon, e no seu "seguimento", saibamos contribuir para instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo (cf. Souvenirs XI). Um sinal dos tempos muito apreciado, pelos crentes e pelos não crentes, é a solidariedade com os carenciados, sejam eles da nossa família ou vivam mais perto ou mais longe de nós. O mesmo se diga da ajuda aos povos em vias de desenvolvimento, muitas vezes atormentados pela fome, causada por guerras crónicas ou por catástrofes e calamidades naturais (Cf. A.A., n. 14).

    Oratio

    Senhor, hoje, quero rezar-te com o P. Dehon: "A minha alma glorifica o Senhor por todos os seus benefícios: pela sua vinda na Incarnação, pelos seus ensinamentos luminosos, pela efusão do seu sangue, pela instituição da Eucaristia, pelo dom do seu Coração, sobretudo, e pelas graças pessoais com que me cumula todos os dias." (OSP 3, p. 22s.)

    Contemplatio

    Maria entoa o cântico de ação de graças que ficará como expressão de ação de graças de todos os filhos de Deus. Como dizer o enlevo do seu Coração? Ela atribui tudo à glória de Deus, esquecendo-se de si mesma. É o sentido de todo o cântico. Foi Deus quem fez nela grandes coisas. É a obra da sua misericórdia. Veio no poder do seu braço para humilhar os soberbos e para levantar os pequenos. Veio despojar os que se agarravam aos bens da terra e enriquecer com os seus dons os que estavam em necessidade. - Veio cumprir as promessas feitas aos patriarcas. Em todo este mistério da Visitação transbordam a caridade do Coração de Jesus que derrama as suas graças sobre aqueles que visita, e o humilde reconhecimento do coração de Maria, que nos ensina a dizer a Deus toda a nossa gratidão atribuindo-lhe fielmente todo o bem que opera em nós, seus pobres servidores bem humildes e bem pequenos. O Magnificat servir-nos-á de cântico de ação de graças para agradecermos ao Sagrado Coração de Jesus as suas visitas e a sua permanência em nós pela Eucaristia e pela graça. (Leão Dehon, OSP 3, p. 22).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "A minha alma glorifica o Senhor" (Lc 1, 46).

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    Visitação da Virgem Santa Maria (31 Maio)

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