Liturgia

6 de Outubro, 2024

27º Domingo do Tempo Comum - Ano B [atualizado]

27º Domingo do Tempo Comum - Ano B [atualizado]


6 de Outubro, 2024

ANO B

27.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 27.º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 27.º domingo comum revela o plano de Deus para o homem e para a mulher: Deus criou-os para se amarem, chamou-os a caminhar de mãos dadas, desafiou-os construir um projeto comum de felicidade baseado na entrega total um ao outro e na comunhão plena das suas vidas.

A primeira leitura diz-nos, com imagens cheias de cor e de poesia, que foi Deus que inventou o amor. Deus criou o homem e a mulher e colocou-os um ao lado do outro para se amarem, para partilharem a vida, para serem auxílio um do outro, para se ajudarem e completarem mutuamente. É no amor que os une que eles encontrarão a sua vocação e a sua plena realização.

No Evangelho Jesus, confrontado com a Lei judaica do divórcio, reafirma o projeto ideal de Deus para o homem e para a mulher: eles foram chamados a formar uma comunidade de amor e a realizarem-se através do amor. Esse projeto exclui, naturalmente, tudo aquilo que é negação do amor: o egocentrismo, o domínio de um sobre o outro, as atitudes e gestos que ferem a dignidade do outro, o uso egoísta do outro. Na “visão” de Deus, o amor verdadeiro não tem prazo; mas tem a marca da eternidade.

A segunda leitura lembra-nos a “qualidade” e a grandeza do amor de Deus pelos homens. Deus amou de tal forma os homens que enviou ao mundo o seu Filho único “em proveito de todos”. Jesus, o Filho, solidarizou-Se com os homens, partilhou a debilidade dos homens e, cumprindo o projeto do Pai, aceitou morrer na cruz para dizer aos homens que a Vida verdadeira está no amor que se dá até às últimas consequências. O amor de Deus pode perfeitamente ser o modelo dos nossos “amores” humanos.

 

LEITURA I – Génesis 2,18-24

Disse o Senhor Deus:
«Não é bom que o homem esteja só:
vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele».
Então o Senhor Deus, depois de ter formado da terra
todos os animais do campo e todas as aves do céu,
conduziu-os até junto do homem,
para ver como ele os chamaria,
a fim de que todos os seres vivos fossem conhecidos
pelo nome que o homem lhes desse.
O homem chamou pelos seus nomes
todos os animais domésticos, todas as aves do céu
e todos os animais do campo.
Mas não encontrou uma auxiliar semelhante a ele.
Então o Senhor Deus fez descer sobre o homem
um sono profundo
e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela,
fazendo crescer a carne em seu lugar.
Da costela do homem o Senhor Deus formou a mulher
e apresentou-a ao homem.
Ao vê-la, o homem exclamou:
«Esta é realmente osso dos meus ossos e a minha carne.
Chamar-se-á mulher, porque foi tirada do homem».
Por isso, o homem deixará pai e mãe,
para se unir à sua esposa,
e os dois serão uma só carne.

 

CONTEXTO

O texto de Gn 2,4b-3,24 – conhecido como relato “javista” da criação – é um texto do séc. X a.C., que deve ter aparecido em Judá na época do rei Salomão. Apresenta-se num estilo exuberante, pitoresco, cheio de vida e parece ser obra de um catequista popular, que ensina recorrendo a imagens sugestivas, coloridas e fortes. Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem realista de acontecimentos passados na aurora da humanidade. A finalidade do autor não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Javé. Trata-se, portanto, de uma página de catequese e não de um tratado destinado a explicar cientificamente as origens do mundo e da vida.

Para apresentar essa catequese aos homens do séc. X a.C., os teólogos javistas utilizaram elementos simbólicos e literários das cosmogonias mesopotâmicas (por exemplo, a formação do homem “do pó da terra” é um elemento que aparece sempre nos mitos de origem mesopotâmicos); no entanto, transformaram e adaptaram os símbolos retirados das narrações lendárias de outros povos, dando-lhes um novo enquadramento, uma nova interpretação e pondo-os ao serviço da catequese e da fé de Israel. Por outras palavras: a linguagem e a apresentação literária das narrações bíblicas da criação apresentam paralelos significativos com os mitos de origem dos povos da zona do Crescente Fértil; mas as conclusões teológicas – sobretudo o ensinamento sobre Deus e sobre o lugar que o homem ocupa no projeto de Deus – são significativamente diferentes: mais maduras, mais ponderadas, mais profundas, mais consistentes.

O texto que nos é hoje proposto como primeira leitura situa-nos no “jardim do Éden”, um espaço ideal onde, segundo o autor javista, Deus colocou o homem que tinha criado. De acordo com o relato, esse “jardim do Éden” é um lugar de água abundante e com muitas árvores (para quem sentia pesar sobre si a ameaça do deserto árido, a ideia de felicidade seria um lugar com muita água, um clima de frescura, um ambiente de árvores e de verdura abundante). O homem tinha, então, tudo para ser feliz? Ainda não. Na perspetiva do catequista javista, o homem não estava plenamente realizado, pois faltava-lhe alguém com quem compartilhar a vida e a felicidade. O homem não foi criado para viver sozinho, mas para viver em relação. É esse problema que Deus, com solicitude e amor, vai resolver.

 

MENSAGEM

Depois de criar o homem e de o colocar no “jardim” da felicidade, Deus constatou a solidão do homem (“não é bom que o homem esteja só” – vers. 18) e quis dar-lhe solução. Como?

Num primeiro momento, Deus fez desfilar diante do homem “todos os animais do campo e todas as aves do céu”, a fim de que o homem os chamasse “pelos seus nomes” (vers. 19). Segundo as ideias vigentes no Médio Oriente antigo, o facto de “dar um nome” era, antes de mais, um ato de domínio e de posse. Por outro lado, o facto de Deus ter trazido os animais para que o homem lhes desse um nome era, na perspetiva do catequista javista, o reconhecimento por parte de Deus da autonomia do homem e a associação do homem à obra criadora e ordenadora de Deus. A autoridade sobre os outros seres criados e a associação do homem à obra criadora de Deus responderá ao desejo de felicidade completa que o homem sente e resolverá o problema da sua solidão? Não. O homem não encontrou, nesse mundo animal que Deus lhe confiou, “uma auxiliar semelhante a ele” (vers. 20). Por muito entusiasmante e desafiador que fosse esse mundo novo que lhe foi apresentado, o homem não encontrou aí a ajuda e o complemento que esperava. Para que o homem se realize completamente, Deus vai intervir de novo.

A nova ação de Deus começa com um “sono profundo” do homem. Depois, Deus, atuando como um hábil cirurgião, tirou parte do corpo do homem (o texto fala da “zela'”, que se tem traduzido como “costela”; contudo, a palavra pode significar “lado” ou “costado”) e com ela fez a mulher (vers. 21-22). Porquê o “sono profundo” do homem”? Porque, de acordo com a conceção do autor javista, criar era segredo de Deus e o homem não podia testemunhar esse momento solene e misterioso; restava-lhe admirar a criação de Deus e adorá-l’O pelas suas obras admiráveis… Depois de ter “construído” a mulher, Javé acompanha-a à presença do homem. A mulher é aqui apresentada como uma noiva conduzida à presença do noivo e Deus como o “padrinho” desse noivado. O homem, desperto do “sono profundo”, acolhe a mulher com um grito de alegria e reconhece-a como a companhia que lhe fazia falta, o seu complemento, o seu outro eu: “Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne” (vers. 23a). O homem (vers. 23b) dá à sua companheira o nome de “mulher” (em hebraico: ‘ishah) porque foi tirada do homem (em hebraico: ‘ish). A proximidade das duas palavras sugere a proximidade entre o homem e a mulher, a sua igualdade fundamental em dignidade, a sua complementaridade, o seu parentesco.

O nosso texto termina com um comentário que não é de Deus, nem do homem, nem da mulher, mas do catequista javista: “por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne” (vers. 24). Este comentário pretende ser a resposta a uma questão bem concreta: de onde vem essa força poderosa que é o amor e que é mais forte do que o primeiro vínculo de todos, o que nos liga aos próprios pais? Para o catequista javista, o amor vem de Deus, que fez o homem e a mulher de uma só carne; por isso, homem e mulher buscam essa unidade e estão destinados, fatalmente, a viver em comunhão um com o outro.

 

INTERPELAÇÕES

  • “Não é bom que o homem esteja só”. Estas palavras, postas pelo autor javista na boca de Deus, sugerem que a realização plena do homem acontece na relação e não na solidão. O ser humano que vive fechado em si próprio, que escolhe percorrer caminhos de egoísmo e de autossuficiência, que recusa o diálogo e a comunhão com aqueles que caminham a seu lado, que tem o coração fechado ao amor e à partilha, é alguém profundamente infeliz, que nunca conhecerá a felicidade plena. Por vezes a preocupação com o dinheiro, com a realização profissional, com o estatuto social, com a busca do êxito, com a procura de uma liberdade sem compromisso, levam os homens a prescindir do amor, a secundarizar a família, a não ter tempo para os amigos… E um dia, depois de terem acumulado muito dinheiro ou de terem colocado o mundo a seus pés, constatam que estão sozinhos e que a sua vida é estéril e vazia. A Palavra de Deus que nos é hoje proposta deixa um aviso claro: a vocação do homem é o amor; a solidão egoísta, mesmo quando compensada pela abundância de bens materiais, não ajuda a que o homem se sinta plenamente realizado. Estamos conscientes disso? As nossas opções fundamentais privilegiam caminhos de egoísmo e autossuficiência, ou caminhos de amor e de comunhão?
  • Por vezes certas filosofias, tingidas de um verniz pretensamente religioso, desvalorizam o amor humano, consideram o casamento como um estado menos perfeito de realização da vocação cristã e veem na sexualidade algo de indecoroso ou até mesmo pecaminoso. Não é esta, de todo, a perspetiva que a Palavra de Deus nos apresenta… Na bela catequese que a primeira leitura deste vigésimo sétimo domingo comum nos apresenta, o amor aparece como algo que está, desde sempre, inscrito no projeto de Deus e que é querido por Deus. Deus criou o homem e a mulher para se ajudarem mutuamente e para partilharem, no amor, as suas vidas. Estamos conscientes de que o amor vem de Deus e está inscrito no plano que Deus tem para cada um de nós? Que responsabilidades é que isso nos traz?
  • O plano de Deus para o homem e para a mulher concretiza-se quando os dois, ligados pelo amor que sentem um pelo outro, se comprometem diante de Deus, da sociedade e da comunidade cristã, a partilhar a vida e o amor, na entrega total um ao outro, na comunhão total de vidas. Esta comunidade de amor, plenamente assumida e sinceramente vivida, sinaliza e testemunha no mundo a ternura, o carinho, a misericórdia que Deus sente pelos seus queridos filhos e filhas. Como é que vamos construindo, todos os dias, a comunidade de amor a que nos chama a vocação matrimonial? No respeito, na ajuda mútua, no dom de nós próprios àqueles que amamos, no amor fiel e dedicado, no apoio firme à pessoa com quem nos comprometemos a partilhar a vida e o amor? E o nosso compromisso com a pessoa que elegemos para viver a aventura do amor e da partilha de vida é total e sem reservas – na saúde e na doença, nos momentos de alegria e nos momentos de tristeza, na juventude e na velhice, por toda a vida?
  • Homem e mulher aparecem, no relato javista da criação, como seres dotados de igual dignidade. São “da mesma carne”, em igualdade de ser. Ora isto exclui, naturalmente, qualquer preponderância ou superioridade de um em relação ao outro. Assim, qualquer relação que implique dominação, discriminação, escravidão, prepotência, uso egoísta do outro, atenta gravemente contra o projeto de Deus. Como tratamos as pessoas que amamos? Respeitando absolutamente a sua dignidade, ou tratando-as com sobranceria, com prepotência, com arrogância, com pouca consideração? Como vemos o papel da mulher na família e na sociedade, à luz do projeto de Deus enunciado na catequese do livro do Génesis que hoje nos foi proposta?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127 (128)

Refrão: O Senhor nos abençoe em toda a nossa vida.

Feliz de ti que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.

Tua esposa será como videira fecunda
no íntimo do teu lar;
teus filhos como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião o Senhor te abençoe:
vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida;
e possas ver os filhos dos teus filhos. Paz a Israel.

 

LEITURA II – Hebreus 2,9-11

Irmãos:
Jesus, que, por um pouco, foi inferior aos Anjos,
vemo-l’O agora coroado de glória e de honra
por causa da morte que sofreu,
pois era necessário que, pela graça de Deus,
experimentasse a morte em proveito de todos.
Convinha, na verdade, que Deus,
origem e fim de todas as coisas,
querendo conduzir muitos filhos para a sua glória,
levasse à glória perfeita, pelo sofrimento,
o Autor da salvação.
Pois Aquele que santifica e os que são santificados
procedam todos de um só.
Por isso não Se envergonha de lhes chamar irmãos.

 

CONTEXTO

O escrito a que chamamos “Carta aos Hebreus” parece ser, mais do que uma carta, um sermão ou discurso destinado a ser proclamado oralmente. Não sabemos quem foi o seu autor. A tradição das Igrejas do oriente atribui-o a Paulo; mas as Igrejas do ocidente há muito que descartaram a autoria paulina deste documento: a forma literária, a linguagem, o estilo, a maneira de citar o Antigo Testamento e mesmo a doutrina exposta estão bastante longe de qualquer outro escrito paulino. Pensa-se que teria sido elaborado por um cristão anónimo – talvez um discípulo de Paulo – que, no entanto, conhecia muito bem o Antigo Testamento.

A tradição antiga põe os “hebreus” como destinatários deste escrito; porém, não há qualquer indicação, ao longo do escrito, de que o texto se destinasse especificamente a cristãos oriundos do mundo judaico. É verdade que refere constantemente o Antigo Testamento; mas o Antigo Testamento já era, por essa altura, património comum de todos os cristãos, seja os de origem judaica, seja os de origem pagã. Tratava-se, em qualquer caso, de comunidades cristãs em situação difícil, expostas a perseguições e que viviam num ambiente hostil à fé… Os membros dessas comunidades perderam já o fervor inicial pelo Evangelho, deixaram-se contaminar pelo desânimo e começam a ceder à sedução de certas doutrinas não muito coerentes com a fé recebida dos apóstolos… O objetivo do autor deste “discurso” é estimular a vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé. Teria sido elaborado nos anos que antecederam a destruição da cidade de Jerusalém (que ocorreu no ano 70), uma vez que o autor se refere à liturgia do Templo como uma realidade ainda atual. É provável, portanto, que tenha aparecido por volta do ano 67, muito perto da altura em que Paulo e Pedro foram martirizados em Roma.

A Carta aos Hebreus apresenta – recorrendo à linguagem da teologia judaica – o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência – através de quem os homens têm acesso livre a Deus e são inseridos na comunhão real e definitiva com Deus. O autor aproveita, na sequência, para refletir nas implicações desse facto: postos em relação com o Pai por Cristo/sacerdote, os crentes são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã e devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Desta forma, o autor oferece aos cristãos um aprofundamento e uma ampliação da fé primitiva, capaz de revitalizar a sua experiência de fé, enfraquecida pela acomodação e pela perseguição.

O texto que nos é proposto como primeira leitura neste vigésimo sétimo domingo comum está incluído na primeira parte da Carta (cf. Heb 1,5-2,18). Aí, o autor recolhe e repete aquilo que a catequese primitiva afirmava sobre o mistério de Cristo: Ele incarnou e fez-se irmão dos homens, experimentou mesmo o sofrimento e a morte, mas foi ressuscitado e glorificado por Deus. Apesar dessa experiência de “abaixamento” que fez, Ele é superior a todas as criaturas, nomeadamente em relação aos anjos.

 

MENSAGEM

O anónimo autor do Salmo 8, refletindo sobre o lugar central que o homem ocupa na criação, dirige-se ao Deus criador e comenta, com admiração: “que é o homem para te lembrares dele, o filho do homem para com ele te preocupares? Quase fizeste dele um ser divino (na versão grega: “fizeste-o pouco inferior aos anjos”); de honra e glória o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos, tudo submeteste a seus pés” (Sl 8,4-7). Ora, o autor da Carta aos Hebreus propõe-se precisamente anunciar que Cristo cumpre plenamente aquilo que o autor do salmo 8 diz sobre o homem.

Deus criou o homem e concedeu-lhe um lugar de honra no seu projeto criador. Mas o homem – o velho Adão – escolheu rebelar-se contra Deus e buscar honra e glória à margem de Deus. Ora, o caminho do egoísmo e da autossuficiência não é o caminho em que o homem pode realizar a vocação à qual foi chamado pelo Deus criador; não é aí que o homem encontra “honra e glória”.

Mas Deus não desistiu do seu projeto. Para ajudar o homem a chegar à meta prevista no Seu plano, deu-lhe um guia: Jesus Cristo. No momento previsto por Deus, Cristo incarnou na história dos homens e tornou-se um ser humano, identificado com os seus irmãos humanos. Ao tornar-se homem, Cristo foi, por um momento, “inferior aos anjos”; mas, pelo dom da sua vida, pela sua entrega na cruz em favor de todos, foi exaltado e foi “coroado de glória e de honra” (vers. 9).

Como é que a humilhação da cruz levou Cristo a ser coroado de honra e de glória? Cristo, desde o primeiro instante da sua incarnação, procurou cumprir plenamente o plano do Pai; e, no cumprimento desse plano, fez da sua vida um dom total de amor aos homens. Viveu, a cada passo, amando e servindo. A cruz foi o momento supremo dessa vida de amor até ao extremo, de entrega total a Deus e aos irmãos. “Convinha” ao plano de Deus que Jesus, na cruz, mostrasse claramente aos homens, como se vive e como se ama; e Cristo fê-lo. Tornou-se, com a forma como viveu e morreu, o protótipo do homem “perfeito”, do homem que constava do plano do Deus criador (vers. 10). Cristo, o novo Adão, o homem que viveu e morreu amando, tornou-se o modelo do homem novo. Ele corresponde plenamente àquele homem que o Deus criador tinha planeado coroar de glória e de honra.

Deus, o criador, é o Pai de todos: daquele que santifica (Cristo, que pela sua entrega e pelo seu testemunho de amor até ao extremo reaproximou os homens de Deus), e dos que são santificados (aqueles que foram transformados por Cristo e que têm Cristo como modelo de vida). Por isso, Cristo não se envergonha de chamar “irmãos” a todos os outros homens e mulheres. Mais: Ele próprio lhes mostra o caminho para que possam integrar de forma plena a família de Deus (vers. 11).

 

INTERPELAÇÕES

  • A história da salvação – essa história que a liturgia nos recorda e nos convida a celebrar em cada domingo – é uma história espantosa. É a história de um Deus que olha para nós com amor infinito e que, por amor, nos enviou o seu Filho Jesus. Para esse Deus com o coração de Pai e de mãe, a nossa salvação, a nossa felicidade plena é muito mais importante do que a incompreensão dos homens, do que a recusa teimosa dos homens, até mesmo do que o horrível sofrimento que a cruz comporta. A paciência que Deus tem demonstrado connosco só tem sido ultrapassada pela grandeza do seu amor. Como é que vemos isto? Sentimo-nos realmente tocados e desafiados pela grandeza do amor de Deus? A consciência do amor que Deus nos tem tem-se traduzido, da nossa parte, em reconhecimento, gratidão e louvor?
  • Desde o início do seu caminho histórico os homens e as mulheres negligenciaram as propostas de Deus e preferiram trilhar caminhos de egoísmo e de autossuficiência. Sabemos onde é que isso nos tem conduzido: a guerras, violências, injustiças, ambição, corrupção, que deixam no nosso mundo um longo rasto de sofrimento e de morte. Por vezes até nos atrevemos, na nossa insensatez e arrogância, a questionar Deus e a perguntar-lhe porquê todo esse sofrimento, como se Ele fosse o culpado das nossas escolhas erradas… Estamos conscientes de que uma fatia muito significativa dos males que nos ferem resultam das nossas opções egoístas? O que necessitaríamos de mudar, na nossa forma de viver, para construirmos um mundo mais pacífico, mais justo e mais humano?
  • Cristo vestiu a nossa humanidade, veio ao nosso encontro, experimentou a nossa fragilidade, acompanhou-nos nos caminhos da vida, falou-nos na nossa linguagem humana, mostrou-nos em gestos como é que devemos viver para correspondermos ao projeto de Deus para o homem e para encontrarmos Vida verdadeira. Tornou-se um “guia” próximo, interessado, digno de crédito, com quem nos identificamos, que temos vontade de escutar e de seguir, mesmo quando Ele nos aponta caminho difíceis de cruz e de dom da vida. Jesus é a nossa referência? Procuramos segui-l’O sem hesitações, mesmo quando Ele nos propõe caminhos contra a corrente? Confiamos n’Ele incondicionalmente?

 

ALELUIA – 1 Jo 4,12

Aleluia. Aleluia.

Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós
e o seu amor em nós é perfeito.

 

EVANGELHO – Marcos 10,2-16

Naquele tempo,
Aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova
e perguntaram-Lhe:
«Pode um homem repudiar a sua mulher?»
Jesus disse-lhes:
«Que vos ordenou Moisés?»
Eles responderam:
«Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio,
para se repudiar a mulher».
Jesus disse-lhes:
«Foi por causa da dureza do vosso coração
que ele vos deixou essa lei.
Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher.
Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa,
e os dois serão uma só carne’.
Deste modo, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, não separe o homem o que Deus uniu».
Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo
sobre este assunto.
Jesus disse-lhes então:
«Quem repudiar a sua mulher e casar com outra,
comete adultério contra a primeira.
E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro,
comete adultério».
Apresentaram a Jesus umas crianças
para que Ele lhes tocasse,
mas os discípulos afastavam-nas.
Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes:
«Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis:
dos que são como elas é o reino de Deus.
Em verdade vos digo:
Quem não acolher o reino de Deus como uma criança,
não entrará nele».
E, abraçando-as, começou a abençoá-las,
impondo a mão sobre elas.

 

CONTEXTO

Despedindo-se da Galileia, Jesus começa a caminhar para Jerusalém, ao encontro do seu destino final. Não seguiu pelo “caminho da montanha”, que passava pelo centro do país e atravessava a Samaria, mas sim pelo caminho que desce ao longo do rio Jordão e que era o caminho habitualmente tomado pelos peregrinos que vinham da Galileia para Jerusalém.

O episódio que o Evangelho deste domingo nos apresenta é colocado por Marcos “na região da Judeia, para além do Jordão” (vers. 1) – isto é, no território transjordânico da Pereia, governado por Herodes Antipas. Este Herodes Antipas, então tetrarca da Galileia e da Pereia, tinha pouco antes mandado executar João Batista, que criticara o tetrarca por este se ter divorciado da esposa legítima para viver maritalmente com Herodíade, sua cunhada (cf. Mc 6,17-29).

No caminho para Jerusalém, Jesus volta a encontrar as multidões e a dirigir-lhes os seus ensinamentos. Os discípulos caminham atrás de Jesus. Mas também aqui, como tinha acontecido na Galileia, voltam a aparecer os fariseus para confrontar Jesus. Desta vez – diz-nos Marcos – trazem-Lhe uma questão relativa ao divórcio: “pode um homem repudiar a sua mulher?”. Marcos esclarece que a razão da pergunta é pôr Jesus à prova.

A questão, formulada nestes exatos termos, não era especialmente controversa. A Lei de Israel permitia que o homem tomasse a iniciativa de despedir a sua mulher, pondo assim fim à relação (“quando um homem tomar uma mulher e a desposar, se depois ela deixar de lhe agradar, por ter descoberto nela algo de inconveniente, escrever-lhe-á um documento de divórcio, entregar-lho-á em mão e despedi-la-á de sua casa” – Dt 24,1). O que se discutia, no entanto, era sobre as razões que poderiam fundamentar a rejeição da mulher por parte do marido. Entre os judeus, duas grandes escolas teológicas divergiam profundamente na interpretação da Lei do divórcio. A escola de Shammai, mais rigorista, defendia que só uma razão muito grave (o adultério ou a má conduta da mulher) dava ao marido o direito de repudiar a sua esposa; mas a escola de Hillel, dominante na época de Jesus, ensinava que qualquer motivo, mesmo o mais fútil (porque a esposa cozinhava mal ou porque, por qualquer razão, tinha deixado de agradar ao marido), servia para o homem despedir a mulher. A mulher, por sua vez, muito dificilmente era autorizada a obter o divórcio em tribunal (somente no caso de o marido estar afetado pela lepra ou exercer um ofício repugnante).

Portanto, a lei judaica do divórcio era altamente discriminatória. O homem podia facilmente obter o divórcio e casar com outra mulher; mas a mulher praticamente não podia tomar a iniciativa de se divorciar do seu marido. Além disso, a mulher divorciada ficava frequentemente numa situação social intolerável: sem meios de subsistência, sem ninguém que a defendesse, se não fosse acolhida na casa do pai ou de um irmão, ficava condenada a pedir esmola ou a prostituir-se.

Os fariseus já tinham percebido que Jesus não alinhava na discriminação da mulher. Jesus defendia as mulheres, respeitava-as, tratava-as com dignidade... Aliás, contradizendo tudo o que era habitual, tinha até acolhido algumas mulheres entre os seus discípulos. Como é que Ele via a lei do divórcio, uma lei que agradava aos homens, mas que provocava tanto sofrimento entre as mulheres judaicas?

 

MENSAGEM

À pergunta dos fariseus (“pode um homem repudiar a sua mulher?” – vers. 2), Jesus responde com outra pergunta: “que vos ordenou Moisés?” (vers. 3). De facto, a lei do divórcio tal como aparece formulada em Dt 24,1-4, é atribuída a Moisés (está incluída numa secção – a de Dt 4,44-28,68 – que começa assim: “Esta é a lei que Moisés expôs aos filhos de Israel. Estes são os mandamentos, as leis e os preceitos que propôs Moisés aos filhos de Israel” – Dt 4,44). É provável, no entanto, que Jesus esteja também a sugerir, desde logo, que a lei do divórcio não vem de Deus e não estava inscrita no projeto inicial de Deus para os homens e para as mulheres.

O facto é que Moisés permitiu ao homem entregar à mulher um “certificado de divórcio”, que determinava o fim da relação (vers. 4). Porquê? De acordo com Jesus, foi para resolver o problema criado pela “dureza do coração” dos homens (vers. 5). O que é que isto significa? Quando um homem decidia abandonar a sua esposa (o que acontecia com frequência), colocava-a numa situação bastante perigosa. Se a mulher não tivesse um documento comprovativo da sua situação, continuava juridicamente ligada àquele homem; e, no caso de posteriormente se envolver noutra relação, era considerada adúltera. Corria o risco de ser lapidada, que era o castigo reservada às adúlteras (cf. Dt 22,22). Necessitava, portanto, de um documento comprovativo de que era livre. Ao admitir que o homem entregasse à mulher um “certificado de divórcio”, Moisés não estava a banalizar o divórcio ou a dizer que o divórcio era uma coisa boa; estava apenas a fazer o possível para que a mulher não ficasse numa situação sem saída.

No entanto, depois de explicar a razão da disposição dada por Moisés, Jesus entende lembrar aos presentes o projeto primordial de Deus para o homem e para a mulher (vers. 6-9). Citando livremente Gn 1,27 e Gn 2,24, Jesus declara que, no projeto original de Deus, o homem e a mulher foram criados um para o outro, para se completarem, para se ajudarem, para se amarem. Unidos pelo amor, o homem e a mulher estão destinados a ser “uma só carne”. Ser “uma só carne” implica viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo. A separação será sempre o fracasso do amor; não está prevista no projeto ideal de Deus, pois Deus não considera um amor que não seja total e duradouro. Só o amor eterno, expresso num compromisso indissolúvel, respeita o projeto primordial de Deus para o homem e para a mulher. Naturalmente, no projeto inicial de Deus para o homem e para a mulher também não estava previsto a discriminação da mulher, a colocação da mulher num plano subalterno, o tratamento da mulher como mero objeto que o marido pode facilmente alienar. Qualquer situação que, no quadro do amor, conduza ao domínio de um sobre o outro ou ao desrespeito pela dignidade do outro, fere gravemente o projeto de Deus.

Para Jesus, que vê a vida pelo prisma luminoso do Reino de Deus, qualquer visão rasteira e egoísta da existência não faz sentido. E isso também se aplica ao projeto de amor que une um homem e uma mulher. Para os que fazem parte da comunidade do Reino a proposta é que entendam o amor na linha do projeto inicial de Deus. A aliança de amor que compromete um homem e uma mulher num projeto de partilha e de comunhão de vida deve ter a marca da eternidade.

Para os discípulos (que anteriormente, em diversas situações, tiveram dificuldade em passar da lógica do mundo para a lógica de Deus), contudo, o discurso de Jesus é difícil de entender; por isso, quando chegam a casa, pedem a Jesus explicações suplementares (vers. 10). Jesus reitera que a relação de amor entre o homem e a mulher se deve enquadrar no projeto inicial de Deus. A perspetiva de Deus é que marido e mulher, unidos pelo amor, formem uma comunidade de vida estável e indissolúvel. O divórcio não entra nesse projeto. Marido e esposa, em igualdade de circunstâncias, são responsáveis pela edificação da comunidade familiar e por evitar o fracasso do amor (vers. 11-12).

No final, o Evangelho deste domingo ainda nos apresenta um outro quadro: trouxeram a Jesus “umas crianças” para que Ele as abençoasse; no entanto os discípulos não aceitaram bem a iniciativa e repreenderam as pessoas que as tinham trazido (vers. 13). Dando uma vez mais mostras de arrogância e de sobranceria, os discípulos consideravam que as crianças não deviam estar ali, onde gente importante discutia coisas importantes. O Reino de Deus era, na perspetiva deles, um projeto para adultos, para gente com créditos provados, para gente segura de si, para gente que estava bem consciente das coisas e que era capaz de tomar decisões relevantes.

No entanto, Jesus uma vez mais desautoriza os discípulos: “deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis”. Ele acha que o Reino de Deus não é para gente “importante”, para gente que tem tiques de arrogância e de soberba, mas é para quem tem atitude de criança (vers. 14-15). Os soberbos, os autossuficientes, os que se consideram superiores aos outros, que que se apresentam convencidos da sua importância e dos seus méritos, não têm espaço para acolher a salvação que Deus oferece gratuitamente, nem estão disponíveis para amar e servir os irmãos com humildade e simplicidade. Quem não for como as crianças, quem não tiver a humildade e a simplicidade das crianças não está apto para fazer parte da comunidade do Reino.

 

INTERPELAÇÕES

  • Como é que Jesus entende o amor humano? Como é que Ele encara o amor que une um homem e uma mulher? A opinião de Jesus sobre o amor humano está profundamente vinculada com o projeto que o Deus criador tinha para o homem e para a mulher. Ora, Deus criou o homem e a mulher iguais em dignidade e quis que eles caminhassem de mãos dadas ao encontro da felicidade. Por isso, convidou-os a amarem-se, a partilharem a vida, a serem apoio um do outro, a completarem-se um ao outro, a viverem um para o outro; pediu-lhes que esse amor se expressasse em doação, em partilha de vida, em entrega um ao outro, em respeito um pelo outro, em fidelidade mútua; assegurou-lhes que o caminho do amor, vivido dessa forma, lhes traria uma felicidade sem fim. Na perspetiva do Deus criador, um amor vivido assim não é um amor “descartável” e com prazo de validade, mas é um amor que tem a marca da eternidade. Como avaliamos um projeto de amor que tem este horizonte? É possível um amor assim?
  • Naturalmente, no projeto de Deus para o homem e para a mulher não cabe o egocentrismo, a arrogância, a prepotência, a submissão que escraviza, o domínio de um sobre o outro, o desrespeito pela dignidade do outro, o tratamento do outro como simples objeto descartável, o aviltamento do outro, a tentativa de controlar a liberdade do outro, o pensamento do outro, os valores do outro. Como é que nos relacionamos com a pessoa com quem um dia nos comprometemos, diante de Deus, da Igreja e da sociedade, a partilhar um projeto de amor? A relação que mantemos com a pessoa que amamos é comandada pelo nosso egoísmo ou pelo respeito que o outro nos merece?
  • As telenovelas fúteis, os influenciadores que ditam os valores da moda, os lobbies ao serviço de interesses diversos, têm procurado convencer-nos de que o fracasso do amor é uma realidade normal, banal, que pode acontecer a qualquer instante. Para os casais cristãos – os casais que se disponibilizaram para seguir Jesus e para viver na dinâmica do Reino de Deus – o fracasso do amor não é uma normalidade, mas uma situação extrema, uma realidade excecional. Para os casais cristãos, o divórcio não deve ser um remédio simples e sempre à mão para resolver as pequenas dificuldades que a vida todos os dias apresenta. Marido e esposa têm que esforçar-se por realizar a sua vocação de amor, apesar das dificuldades, das crises, das divergências e dos problemas que, dia a dia, a vida lhes vai colocando. Como é que vemos tudo isto? Como nos posicionamos em relação a tudo isto?
  • Apesar de tudo, a vida dos homens e das mulheres é marcada pela debilidade própria da condição humana. Nem sempre as pessoas, apesar do seu esforço e da sua boa vontade, conseguem ser fiéis aos ideais que Deus propõe. A vida de todos nós está cheia de fracassos, de infidelidades, de falhas; mas Deus não desiste, apesar disso, de nos tratar como filhos muito queridos. Chamada a ser sinal e testemunha da misericórdia de Deus no mundo, a comunidade cristã deve usar de compreensão para com aqueles que falharam (muitas vezes sem culpa) na vivência do seu projeto de amor. Em nenhuma circunstância as pessoas divorciadas devem ser marginalizadas ou afastadas da vida da comunidade cristã. A comunidade deve, em todos os instantes, acolher, integrar, compreender, ajudar aqueles a quem as circunstâncias da vida impediram de viver o tal projeto ideal de Deus. Não se trata de renunciar ao “ideal” que Deus propõe; trata-se de testemunhar a bondade e a misericórdia de Deus para com aqueles que, por diversas razões, não puderam realizar esse ideal que um dia, diante de Deus e da comunidade, se comprometeram a viver. Como é que a nossa comunidade cristã acolhe aqueles que viram falhar o seu projeto de amor?
  • Os discípulos de Jesus, conscientes do seu papel e da sua importância, julgaram-se no direito de limitar o acesso de determinadas pessoas a Jesus. Para eles, a comunidade do Reino era um clube de gente importante, onde os pequeninos não tinham lugar… Mas Jesus troca-lhes as voltas: ao acolher com amor e ternura as crianças que lhe trouxeram, Jesus está a dizer aos discípulos que no centro da sua comunidade devem estar sempre os mais pequenos, os mais frágeis, os mais débeis, aqueles que são desprezados e ignorados pela gente importante do mundo. Esses, segundo Jesus, são os preferidos de Deus, aqueles que têm um lugar especial no coração de Deus. Como é que são acolhidas e tratadas entre nós as pessoas mais humildes, as mais frágeis, as mais pobres, as que a sociedade ignora, rejeita ou até mesmo condena?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 27.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 27.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.

Quando Jesus pressente que Lhe querem estender uma armadilha, Ele refere-se à vontade de seu Pai. Ora, Deus tem um projeto que submete ao homem, e este, porque foi criado livre, realiza este projeto ou recusa-o. O mais belo projeto de Deus é o homem, a sua criatura. Como Ele o criou à sua imagem, fê-lo como ser de relação. É por isso que Ele cria a humanidade, homem e mulher, e a sua comunhão significa algo de Deus que em si mesmo é comunhão. O que conta numa obra artística não são primeiramente as interpretações ou os comentários que são feitos, mas a intenção do autor. Face ao amor do homem e da mulher, não comecemos por olhar como é vivida hoje a relação, mas contemplemos o sonho de Deus e tenhamos sobre os casais o olhar de Deus, que vê que aquilo que Ele fez é bom ou que oferece a sua misericórdia àqueles que não puderam ou não quiseram interpretar o seu projeto.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.

“Não separe o homem o que Deus uniu…” Jesus coloca o dedo na ferida… O divórcio é sempre um fracasso, um sofrimento. Mas entrou nos costumes como uma realidade normal, um “direito”! Jesus está contra a corrente… Palavra incompreensível para muitos homens e mulheres, qualquer que seja a sua idade! Na sua resposta aos fariseus, Jesus recorre a um critério a que geralmente se presta pouca atenção. Vai ao “princípio da criação”, à vontade primeira, à vontade criadora de Deus. Ora, esta vontade é que os seres humanos se tornem “imagens de Deus”, na medida em que aceitem entrar uns e outros nas relações de amor recíproco, porque Ele, Deus, é eterno movimento de amor no seu Ser mais profundo. O casal humano, antes mesmo da questão da procriação, é chamado por Deus a tornar-se o primeiro lugar de incarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob todas as suas formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É dom de Deus. Quando os homens recusam este dom, impedem Deus de imprimir neles a sua imagem. Na realidade, vão contra a vontade criadora, introduzem uma desordem na criação tal como Deus a quis. Porque Ele escuta plenamente o seu Pai e acolhe sem quaisquer reticências nem recusas a vontade de amor do seu Pai, Jesus, e apenas Ele, pode colocar-nos na luz de Deus Criador e da sua vontade criadora. Mas isso supõe que aceitemos escutar Jesus, tomar Jesus na nossa vida. Só poderemos compreender a exigência de unidade e de fidelidade no amor humano se aceitarmos tornar-nos, dia após dia, discípulos, mais ainda, amigos de Jesus. Para resolver os nossos problemas afetivos, temos razão em recorrer à psicologia, à psicoterapia do casal. Mas isso não basta. A verdadeira falta é uma falta de profundidade espiritual. Não servirá de nada a Igreja repetir sem cessar a sua oposição ao divórcio se, primeiro, não fizer imensos esforços para ajudar a redescobrir um verdadeiro acompanhamento com Jesus, revelador do amor do Pai.

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

Que o Senhor te abençoe… Como seria belo, em cada manhã desta semana, dizer-se bom dia, em família, com as simples palavras do salmista: “Que o Senhor te abençoe…” Fórmula de bênção, em que se deseja apenas o bem. Ultrapassemos qualquer falso pudor, para oferecermos àqueles que amamos a bênção do Senhor.

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

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