Liturgia

Events in Maio 2024

  • 5ª Semana –Quarta-feira - Páscoa

    5ª Semana –Quarta-feira - Páscoa

    1 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 1-6

    Naqueles dias, 1alguns homens que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: «Se não vos circuncidardes, de harmonia com o uso herdado de Moisés, não podereis ser salvos.» 2Depois de muita confusão e de uma controvérsia bastante viva de Paulo e Barnabé contra eles, foi resolvido que Paulo, Barnabé e mais alguns outros subissem a Jerusalém para consultarem, sobre esta questão, os Apóstolos e os Anciãos. 3Então, depois de despedidos pela igreja, atravessaram a Fenícia e a Samaria, relatando a conversão dos pagãos, o que causava imensa alegria a todos os irmãos. 4Chegados a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos Apóstolos e Anciãos e contaram tudo o que Deus fizera com eles. 5Levantaram-se alguns do partido dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que era preciso circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. 6Os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão.

    O conflito que levou ao Concílio de Jerusalém, julgado do nosso ponto de vista, pode parecer-nos infantil. Mas, observado a partir do contexto que o provocou, revela- se mais sério, e podemos compreender melhor a angústia dos irmãos de Jerusalém. Esta narração do livro dos Actos (capítulo 15) é o eixo à volta do qual gira toda a obra de Lucas. O Concílio de Jerusalém resolveu, ou lançou as bases para a resolução, do maior problema e da crise que afectava a Igreja, pois afirmou a liberdade do Evangelho, salvando, ao mesmo tempo, a unidade da mesma Igreja. As questões eram várias entre os judeo-cristãos: que valor tinha o Antigo Testamento, particularmente a Lei, em relação ao novo povo de Deus? Há continuidade no plano de Deus, supondo a novidade radical do cristianismo? Mas, do ponto de vista dos étnico-cristãos, também havia questões: para ser cristão, havia que aceitar a Lei judaica? O caminho que leva ao cristianismo terá necessariamente de passar pelo judaísmo? Quem quer tornar-se cristão terá de tornar-se antes judeu? É preciso aceitar o rito da circuncisão e outros pormenores legais? Se o cristianismo queria ser universal, não podia impor práticas específicas de um determinado povo. Estas e outras questões exigiam a reflexão aprofundada da Igreja. Por isso, «os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão» (v. 6).

    Evangelho: João 15, 1-8

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. 2Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. 3Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. 4Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. 6Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. 7Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos

    acontecerá. 8Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.»

    A palavra-chave deste texto é claramente «permanecer», até pelas vezes que é repetida. O «discurso de adeus» de Jesus centra-se, agora, na sua relação com os Apóstolos e sobre a comunhão real e profunda que há entre Ele e os que acreditam nele.
    Enquanto o capítulo 14 de João se caracterizava pelo imperativo de «acreditar» em Jesus, agora caracteriza-se pela exigência de permanecer n' Ele. Encontramos esta mesma imagem de «permanecer» a propósito da Eucaristia (6, 56). Este «permanecer» deve portanto entender-se em conexão com a Eucaristia.
    Jesus está para enfrentar a morte. Mas continua a ser, para os seus, fonte de vida e de santidade. Unidos a Ele podem muito fruto (15, 6).
    Ao contrário de Israel, videira infecunda e resistente aos cuidados de Deus (cf. Is 5), Jesus é a videira verdadeira, que produz frutos e corresponde aos cuidados do Pai. Com esta imagem, Jesus quer explicar a surpreendente união vital que oferece aos que nele acreditam, os compromissos que essa união implica e as expectativas de Deus sobre ela. Jesus é o primogénito da nova humanidade em virtude do sacrifício redentor oferecido na cruz. Ele é a cepa santa donde brota a seiva que dá vida às varas e que nelas produz frutos. Quem permanece unido a Ele, vive e pode dar frutos. Quem produzir frutos será purificado para produzir ainda mais. Esta purificação é realizada pela palavra acolhida no coração.

    Meditatio

    As duas leituras, que hoje escutamos, têm uma ligação entre elas que, à primeira vista parece não existir. O evangelho apresenta-nos a alegoria da videira, que nos introduz num clima de profunda intimidade: «Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós» (v. 4). A primeira leitura fala de exigências legais. Paulo e Barnabé chegam a Jerusalém contam as maravilhas operadas por Deus entre os pagãos e, alguns do partido dos fariseus insistem que é preciso «circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés». Qual é, então, a ligação entre as duas leituras? O evangelho leva-nos a compreendê-la quando recorda as palavras de Jesus: «Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim» (v. 4). Sem Jesus nada se pode fazer. Só Ele é o fundamento da nossa vida. E não temos o direito de procurar outro fundamento para ela, ou de acrescentar a Cristo outra realidade que não seja Ele. Era o que pretendiam fazer os cristãos vindos do judaísmo. Não percebiam que, tendo aderido a Cristo, deviam abandonar as antigas perspectivas, porque não há dois fundamentos, nem duas fontes de vida, mas uma só: Cristo. É nele que havemos de pôr toda a nossa fé e toda a nossa confiança. O baptismo, que nos une a Cristo, como varas à cepa, é quanto basta. De Cristo recebemos a seiva divina, que é o Espírito Santo, que nos dá a vida, e produz em nós os seus frutos, a começar pela da caridade.
    As nossas Constituições citam a alegoria da videira para falar da união a Cristo, que é o princípio e o centro da nossa vida, o nosso caminho de santidade, tal como foi para o Pe. Dehon (cf. Cst 17): «A vara não pode dar fruto por si mesma, se não permanece na cepa... permanecei em Mim» (Jo 15, 4). O mesmo n. 17 indica os meios para tornar frutuosa a nossa vida de varas: permanecer na «escuta da Palavra» e «na partilha do Pão». O n. 18 acrescenta o amor e o serviço aos irmãos, especialmente aos mais fracos. O n. 20 fala da contemplação do Lado aberto e do Coração trespassado. São os «lugares» para vivermos e crescermos na união a Cristo, para que Ele «habite» cada vez mais intimamente "pela fé" nos nossos "corações, de sorte que, enraizados e fundados no amor" possamos "compreender... a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer, enfim, o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para sermos repletos da plenitude de Deus" (cf. Ef 3, 17-19).

    Oratio

    Senhor Jesus, a união Contigo é, de facto, o princípio e o centro da minha vida. Contigo estou vivo; sem Ti estou morto. Contigo, envolve-me o rio imortal da vida divina, que me leva ao oceano divino e sem limites, onde jamais se põe o sol. Contigo sou tudo; sem Ti sou nada!
    Dou-Te graças, Senhor, porque vieste ligar-me ao Pai, fonte de vida perene. Liga-me fortemente a Ti, para que não me torne uma vara separada, uma vara sem fruto. Faz-me compreender que a união Contigo é o caminho para a santidade e ajuda-me a vivê-la e a aprofundá-la na escuta da palavra, na celebração da Eucaristia, no amor aos irmãos e na contemplação do teu Lado aberto e do teu coração trespassado. E que a união Contigo permita ao teu Espírito produzir em mim todos os seus frutos, particularmente um ardente amor ao Pai e um generoso amor aos irmãos. Amen.

    Contemplatio

    «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor». Jesus passa junto das vinhas que eram podadas naquela estação. Vê os ramos vivos carregados de botões e os ramos cortados caídos por terra, é um belo tema para uma parábola. «Eu sou a videira verdadeira, diz, a videira cheia de seiva e de vida». Pensava no seu sangue, semelhante ao vinho da vinha, que ia muito em breve correr sob a prensa da agonia.
    «O meu Pai, diz, é o agricultor, que cultiva com amor a videira e os ramos». - Os frutos que o agricultor celeste espera da sua vinha são aqueles que a alma leva unida a Jesus Cristo, como os ramos estão unidos à cepa. A alma cristã está enxertada em Jesus Cristo, regenerada por ele, e elevada até a esta perfeição que faz dos seus actos outros tantos frutos divinos: frutos de humildade, de paz, de modéstia, de piedade, de pureza, de zelo, de silêncio, de recolhimento, de sacrifício, de morte para si mesmo; frutos de vida interior e de união constante.
    A vinha vulgar da nossa natureza humana não produz nada de tudo isto. São necessários o enxerto e a seiva divina.
    «Permanecei em mim». Permaneçamos agarrados à videira. O agricultor corta da videira os ramos mortos e aqueles que não dão frutos. Limpa as varas que dão frutos, para que produzam ainda mais.
    «É assim que fará o Pai celeste, diz-nos Nosso Senhor: todo o ramo que não der fruto em mim, cortá-lo-á; atirá-lo-á para longe de mim, será privado da seiva que é a graça e cairá na morte espiritual. Mas os que prometem fruto, podá-los-á, purificá-los-á através de alguma prova e curá-los-á das suas inclinações depravadas, para que dêem ainda mais frutos».
    «Quanto a vós, dizia ainda Nosso Senhor, estais todos podados e purificados pelas instruções que vos dei; mas para que esta purificação se conserve e complete, para que a vossa fecundidade em obras de salvação se desenvolva, uni-vos sempre mais intimamente a mim, permanecei em mim e eu, por minha parte, permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na vinha, se não está aderente à cepa donde tira a seiva vivificante, assim não podeis produzir nada, se não permanecerdes em mim» (Leão Dehon, OSP 3, p. 457s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    ,,Permanecei em mim,, (Jo 15, 4).

  • 5ª Semana –Quinta-feira - Páscoa

    5ª Semana –Quinta-feira - Páscoa

    2 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 7-21

    Naqueles dias, 7depois de longa discussão, Pedro ergueu-se e disse-lhes:
    «Irmãos, sabeis que Deus me escolheu, desde os primeiros dias, para que os pagãos ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho e abraçassem a fé. 8E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, concedendo-lhes o Espírito Santo como a nós. 9Não fez qualquer distinção entre eles e nós, visto ter purificado os seus corações pela fé. 10Porque tentais agora a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem os nossos pais nem nós tivemos força para levar? 11Além disso, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos que seremos salvos, exactamente como eles.» 12Toda a assembleia ficou em silêncio e se pôs a ouvir Barnabé e Paulo a descrever os milagres e prodígios que Deus realizara entre os pagãos, por intermédio deles.
    13Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: «Irmãos, escutai-me. 14Simão contou como Deus, desde o princípio, se dignou intervir para tirar de entre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu nome. 15E com isto concordaram as palavras dos profetas, conforme está escrito: 16Depois disto, hei-de voltara reconstruir a tenda de David, que estava caída; reconstruirei as suas ruínas e erguê-la-ei de novo, 17a fim de que o resto dos homens procure o Senhor, bem como todos os povos que foram consagrados ao meu nome - diz o Senhor, que dá a conhecer 18 estas coisas desde a eternidade. 19Por isso, sou de opinião que não se devem importunar os pagãos convertidos a Deus. 20Que se lhes diga apenas para se absterem de tudo quanto foi conspurcado pelos ídolos, da imoralidade, das carnes sufocadas e do sangue. 21Desde os tempos antigos, Moisés tem em cada cidade os seus pregadores e é lido todos os sábados nas sinagogas.»

    Ao contrário do que seria de esperar, quem toma a palavra para defender o ponto de vista mais liberal não é Paulo, mas Pedro. O apóstolo defende-o usando os seguintes argumentos: foi ele mesmo quem inaugurou a missão entre os pagãos, ao baptizar Cornélio e a sua família, tendo a igreja de Jerusalém aprovado a sua actuação (Act 10-11); o próprio Deus aprovou e confirmou essa actuação, ao enviar o Espírito Santo sobre os pagãos; o próprio Deus, mediante a fé, purificou os corações dos gentios, que os judeus julgavam impuros; se a fé toma o lugar da Lei, como meio de purificação, não é preciso suportar o seu jugo, tão pesado para os próprios judeus; finalmente, o homem salva-se, não pela Lei, mas pela graça de Jesus Cristo.
    Os discursos de Pedro e de Tiago têm, como intermezzo, o testemunho de Barnabé e de Paulo, e vêm depois de uma longa discussão. Podem considerar-se os discursos conclusivos de um longo processo de discernimento comunitário. E assim se salvaguarda a liberdade do Evangelho, mas também a unidade da Igreja.

    Evangelho: João 15, 9-11

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 9«Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa.

    O amor de Jesus pelos seus discípulos tem origem no amor que circula entre o Pai e o Filho. É essa comunhão de amor que está na origem de todas as intervenções maravilhosas de Deus para salvar o homem: «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor» (v. 9). Os discípulos devem corresponder a este amor, observando os mandamentos de Jesus, permanecendo no seu amor, obedecendo ao Pai como Jesus obedeceu: até à morte e morte de cruz (Fil 2, 8). A lógica é simples: o Pai amou o Filho, e este, vindo ao mundo, permaneceu unido no amor ao Pai por uma atitude constante de obediência à sua vontade. O mesmo deve acontecer entre Jesus e os discípulos. Estes devem realizar fielmente o que Jesus realizou durante a sua vida, e testemunhar o amor de Jesus permanecendo unidos no seu amor. Mais importante do que amar a Jesus é deixar-se amar por Ele, acolher o amor que o Pai, por Jesus, oferece a cada um de nós. Para isso, há que observar docilmente os mandamentos, a exemplo de Jesus.

    Meditatio

    O evangelho de hoje começa com uma afirmação que é, por assim dizer, uma definição do Coração de Jesus: «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós» (v. 9). Jesus sabe que a fonte do amor não é Ele, mas o Pai. Mas também sabe que Ele é a perfeita expressão humana desse amor: é o rosto do amor do Pai por nós. Jesus recebeu no seu coração humano o amor que tem origem no Pai, e viveu-o de modo único, perfeitíssimo. Por isso, se quisermos conhecer o amor do Pai, devemos contemplar o Coração de Jesus, que se entregou por nós, e «permanecer no seu amor».
    Para permanecermos no amor de Jesus, há que observar os seus mandamentos (cf. v. 10). Se quisermos saciar a infinita sede de amor que há em nós, havemos de procurar continuamente a vontade do Senhor e realizá-la. «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito» (Mt 11, 29), diz o Senhor. O jugo do Senhor não deixa de ser jugo. Mas é um jugo suave e leve, porque é o jugo dos «seus» mandamentos, e não o jugo dos mandamentos e prescrições da antiga Lei.
    A primeira leitura mostra-nos como os primeiros cristãos perceberam que estavam livres de uma série infinita de leis e preceitos, e que o mais importante era permanecer unidos a Cristo pela fé e pelo cumprimento da sua vontade.
    «Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa» (v. 11). Todo o discípulo é chamado a deixar-se possuir pela alegria de Jesus, depois de se ter deixado possuir pelo amor de Deus. A minha existência de discípulo consiste em dar espaço a este amor divino, que é amor «descendente», amor que leva o Pai a «dar o Filho» (Jo 3, 15), amor que leva o Filho a dar-se a si mesmo, e que leva os discípulos a fazer o mesmo entre eles. É este o amor que garante a «felicidade».
    Esta nova maneira de amar vem de Deus. É o próprio amor de Deus que actua em mim e em cada um dos discípulos do Senhor. Mais ainda: cada um dos discípulos recebe de Jesus a «sua» felicidade, a alegria que vem de amar como Deus ama, no impulso e na imitação de Jesus. Não estamos pois ao nível do moralismo, mas nos cumes da mística, da m iacute;stica da acção, que implica o dom de si mesmo, que comporta estar completamente possuídos pelo amor de Deus.
    Acolhamos o ardente convite de Jesus: "Permanecei no Meu amor" (Jo 15, 19).
    "Permanecer" é deixar-se penetrar pelo amor de Jesus, deixar-se envolver, levar, permear; repousar no amor de Jesus. É ser fiéis ao amor de Jesus, perseverar no Seu amor, ser testemunhas dele na vida, irradiá-lo.

    As nossas Constituições entendem tudo isto, quando falam da "presença activa" do amor de Jesus (n. 2), da correspondência activa ao amor (cf. n. 7), do conhecimento progressivo do amor (cf. nn. 16-18.23).
    A interioridade recíproca (cf. Jo 15, 4) ou união íntima com Cristo, é condição essencial para a vida de oblação. Permanecer em Jesus é permanecer no Pai (cf. Jo 14, 10; 1 Jo 4, 16): "Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele" (1 Jo 4, 16). "Permanecer no amor" é fazer e aceitar tudo por amor, especialmente as cruzes de cada dia (cf. Lc 9, 23), é amar-nos uns aos outros como Cristo nos amou (cf. Jo 15, 12).

    Oratio

    Ó Jesus, hoje, quero rezar-te usando as palavras do teu servo Leão Dehon: «Senhor, permanece em mim e eu permanecerei em Ti. Sim, Tu és a videira, e quando me separo de Ti, sinto-me morrer. Mantém-me unido a Ti na graça santificante, na recordação assídua da tua presença, na meditação dos teus mistérios. Quero permanecer no teu coração. Lá está toda a minha vida e a minha felicidade». Amen.

    Contemplatio

    «É assim que fará o Pai celeste, diz-nos Nosso Senhor: todo o ramo que não der fruto em mim, cortá-lo-á; atirá-lo-á para longe de mim, será privado da seiva que é a graça e cairá na morte espiritual. Mas os que prometem fruto, podá-los-á, purificá-los-á através de alguma prova e curá-los-á das suas inclinações depravadas, para que dêem ainda mais frutos».
    «Quanto a vós, dizia ainda Nosso Senhor, estais todos podados e purificados pelas instruções que vos dei; mas para que esta purificação se conserve e complete, para que a vossa fecundidade em obras de salvação se desenvolva, uni-vos sempre mais intimamente a mim, permanecei em mim e eu, por minha parte, permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na vinha, se não está aderente à cepa donde tira a seiva vivificante, assim não podeis produzir nada, se não permanecerdes em mim» (Leão Dehon, OSP 3, p. 457s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Permanecei no meu amor» (Jo 15, 9).

  • 5ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    5ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    3 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 22-31

    Naqueles dias, os Apóstolos e os Anciãos, de acordo com toda a Igreja, resolveram escolher alguns de entre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé. Foram Judas, chamado Barsabas, e Silas, homens respeitados entre os irmãos. 23E mandaram a seguinte carta por intermédio deles:«Os Apóstolos e os Anciãos, vossos irmãos, aos irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações!
    24Tendo conhecimento de que, sem autorização da nossa parte, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras, 25resolvemos, de comum acordo, escolher delegados e enviar-vo-los com os nossos queridos Barnabé e Paulo, 26homens estes que expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. 27Enviamos, pois, Judas e Silas, que vos transmitirão verbalmente as mesmas coisas. 28O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: 29abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas e da imoralidade. Procedereis bem, abstendo-vos destas coisas. Adeus.» 30Eles, então, depois de se despedirem, desceram a Antioquia e, reunindo a assembleia, entregaram a carta. 31Depois de a lerem, todos ficaram satisfeitos com o encorajamento que lhes trazia Do Concílio de Jerusalém saiu uma resolução oficial sobre a questão da obrigatoriedade da Lei para os pagãos que se convertiam à fé, e foi escolhida uma delegação que, com Paulo e Barnabé, fosse comunicá-la, pessoalmente e por escrito, à igreja de Antioquia. O documento escrito repete os pontos essenciais do acordo obtido. Além de ser enviado a Antioquia, é também remetido às igrejas vizinhas que, de algum modo, tinham sido envolvidas na polémica dos judaizantes.
    A decisão de aceitar o princípio da liberdade do Evangelho diante da Lei foi tomada pelo Espírito Santo e pela comunidade cristã através dos seus representantes. A Igreja, desde o princípio, experimentou a presença do Espírito e transmitiu-a ao longo dos séculos. O Espírito falou de modo particular por meio de Tiago, que centrou a sua intervenção na Sagrada Escritura. Mas também falou pelas moções que suscitou na comunidade. O Espírito actua na Igreja, particularmente nos momentos difíceis, quando se devem tomar decisões graves.
    O comunicado oficial causou grande alegria, pois se ficou a saber claramente que as profecias do Antigo Testamento se tinham cumprido nos acontecimentos que os afectavam directamente. Notem-se também as palavras de apreço por Paulo e Barnabé, «homens que expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo» (v. 26).

    Evangelho: João 15, 12-17

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. 17É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.»

    «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). Nesta perícopa, a relação entre Jesus e os discípulos assume particular intensidade, quando o Senhor fala do mandamento do amor fraterno. Os mandamentos da comunidade messiânica resumem-se ao amor fraterno. A vivência do amor fraterno glorifica o Pai, revela os verdadeiros discípulos e produz muitos frutos. O amor fraterno tem o seu modelo no amor oblativo de Jesus por nós, que O leva a dar a vida pelos seus amigos (v. 13). A resposta que Jesus pede aos seus é um amor oblativo e sem reservas, para com Ele e para com os irmãos, um amor total, de grande qualidade.
    Este amor, que pode levar ao dom da própria vida, tem outras características: é um amor de intimidade e gratuito. A revelação dos segredos mais íntimos é sinal de verdadeira e profunda amizade. Jesus partilha connosco os segredos do seu coração, ajudando-nos a crescer no amor e na intimidade com Ele. Esse amor e essa intimidade, que são dom, têm por objectivo a nossa salvação, e permitem-nos alcançar do Pai tudo quanto Lhe pedirmos, em nome de Jesus.

    Meditatio

    O mandamento do amor fraterno enche o texto evangélico que hoje escutamos: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). Jesus já tinha afirmado que há dois mandamentos: o mandamento de amar a Deus com todo o coração e o mandamento de amar o próximo como a nós mesmos. Repetia o Antigo Testamento (cf. Dt 6, 5; Lv 19, 18). Aqui, Jesus vai mais longe: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). «Como eu vos amei». Amar o próximo como a nós mesmos é já muito. Mas, amar o próximo como Jesus nos ama, é muito mais. É o amor cristão. Como é que Jesus nos ama? Ama-nos com delicadeza e com força. Chama-nos amigos, porque nos faz entrar na sua intimidade. Não nos trata como servos, mas como amigos. Conta-nos segredos da sua família: «Dei-vos a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (v. 15).
    Este amor delicado é também muito forte: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13). O modelo do amor cristão é um homem-Deus crucificado e ressuscitado, que nos amou até ao sacrifício de Si mesmo. É também assim que havemos de amar os nossos irmãos. Ser discípulo de Cristo consiste em amar o irmão até dar a vida por ele, tal como fez Jesus, o Filho que desceu do Céu para dar a vida por nós. Dar a vida não significa necessariamente sofrer o martírio. Essa pode ser uma graça especial, concedida a alguns. Dar a vida é gastar-se na atenção e no serviço àqueles que estão ao nosso lado, que precisam de nós. Significa também interrogar-se, cada manhã, sobre o modo como não se tornar um peso para os outros. Significa ainda suportar os silêncios, os amuos e os limites de carácter de quem vive ao nosso lado. Significa não escandalizar-nos com as suas contradições e pecados. Significa aceitar cada um como é e não como gostaríamos que fosse.
    Uma das finalidades da vida religiosa é unir as pessoas. As nossas Constituições dizem: «Deixamo-nos penetrar pelo amor de Cristo e escutamos a sua prece do &quot ;Sint unum...»(cf. n. 63). Mas - perguntam - «como consegui-lo, a não ser aprofundando no Senhor as nossas relações, mesmo as mais normais, com cada um dos nossos irmãos?» (n. 64). Por vezes, corre-se o risco de viver separados, isolados... Devemos então recordar o mandamento do Senhor: «Quem ama a Deus, ame também o seu irmão» (1 Jo 4, 21); quem procura a intimidade com Deus, também procura a intimidade com o irmão, cultiva a amizade com um ou outro, multiplica as ocasiões de encontros familiares: como pode alguém dizer que ama a Deus que não vê, se não ama o irmão que vê? (cf. 1 Jo 4, 20).
    Temos que examinar a nossa consciência, para ver se alimentamos o fogo ou se o deixamos apagar, isto é, se alimentamos o amor real, o calor humano, necessários para o verdadeiro espírito de família e para fazer germinar a verdadeira amizade. Os irmãos e, mais ainda, os amigos são dons do Pai celeste; por meio dos irmãos e, sobretudo, por meio dos amigos, Ele fala-nos e enriquece-nos: «Toda a boa dádiva e todo o bem perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes» (Tgo 1, 17); «Um amigo fiel é uma poderosa protecção; quem o encontra, encontra um tesouro» (Sir 6, 14; cf. Sir 6, 5-17).
    Se queremos ser amados, amemos e, como Deus, tomemos a iniciativa de amar (cf. 1 Jo 4, 19). Como o amor é dom e fruto do Espírito (cf. Rom 5, 5), assim também a verdadeira amizade provém certamente do Espírito e é sustentada por Ele.

    Oratio

    Senhor, mais uma vez, quero rezar-te com as palavras do teu servo Leão Dehon: «Senhor, tu queres ser meu amigo; mas a amizade é uma troca de ternura e de benevolência. Gostaria de competir Contigo nesta amizade, embora seja incapaz de fazer por Ti o que fazes por mim. Serei assíduo junto de Ti. Manter-me-ei unido a Ti pelas minhas obras de cada dia. Consumir-me-ei por Ti no trabalho e no zelo». Amen.

    Contemplatio

    «Amai-vos uns aos outros». Jesus recomenda-nos de novo o seu mandamento preferido. Quer que a caridade mútua caracterize os seus discípulos. «O meu mandamento, diz, é que vos ameis uns aos outros como eu vos amei». Estas palavras dizem muito, e Nosso Senhor explica-as acrescentando: «Ninguém pode ter maior amor do que dar a vida pelos seus amigos». É o que ia fazer dentro de algumas horas. Mas já desde a sua incarnação, não tinha feito outra coisa do que consumir-se por nós. S. Paulo resumiu bem a sua vida: «Amou-me e entregou-se por mim». Amou-me até assumir a natureza humana para se fazer meu irmão, minha caução, meu Redentor. Amou-me até se fazer meu preceptor pelos seus exemplos, pelos seus discursos, pelas suas parábolas. Amou-me até se fazer minha caução e a vitima da minha salvação na sua paixão e na sua morte.
    E eu, devo por minha vez amar o meu próximo e dedicar-me aos seus interesses espirituais e temporais. Devo manifestar esta caridade pelas suas virtudes de doçura e de paciência e pela prática de todas as obras de misericórdia. Que hei- de fazer hoje para isso?
    «Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando». - «Vós me chamais vosso Mestre, não quero mais este título; o amor eleva-vos de algum modo até mim: Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor, não é chamado aos conselhos do seu senhor, obedece sem ter nenhuma intimidade com o seu mestre. Não deve ser assim entre vós, acrescenta Nosso Senhor: chamo-vos meus amigos e trato-vos como tais. Tudo o que ouvi de meu Pai, vo-lo dei a conhecer; revelei-vos os mistérios do reino de Deus, dei-vos a conhecer os desígnios de meu Pai para a redenção do mundo, na qual deveis cooperar».

    Entre nós e Nosso Senhor, há, portanto, um regime de amizade, de cooperação e de comunhão de bens, análoga à união de Nosso Senhor com o seu Pai. Tudo é comum entre nós e ele: «Mea omnia tua sunt, et tua mea sunt»: «Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu» (Jo 17,10). - Regime de amor, de santa liberdade e de familiaridade: «Pedireis tudo o que quiserdes, e ser-vos-á concedido» (Jo 15, 16).
    Amou-me até se dar, se entregar, se trair. É tudo por mim nas suas condutas providenciais: «É tudo para os eleitos, tudo concorre para o bem daqueles que amam Deus». É bom mesmo quando me pune, é para o meu bem. Jesus revela-me esta amizade para me cumular de alegria: «Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa».
    Que é que fiz até agora para responder a uma tão admirável amizade? Tive para com o Salvador a confiança e a dedicação de um amigo? Que hei-de fazer para responder à sua amizade? (Leão Dehon, OSP 3, p. 460s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12).

  • 5ª Semana - Sábado - Páscoa

    5ª Semana - Sábado - Páscoa

    4 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 16, 1-10

    Naqueles dias, 1Paulo chegou em seguida a Derbe e, depois, a Listra.Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente e de pai grego, 2que era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icónio. 3Paulo resolveu levá-lo consigo e, tomando-o, circuncidou-o, por causa dos judeus existentes naquelas regiões, pois todos sabiam que o pai dele era grego. 4Nas cidades por onde passavam, transmitiam e recomendavam aos irmãos que cumprissem as decisões tomadas pelos Apóstolos e pelos Anciãos de Jerusalém. 5Dessa forma, as igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia. 6Paulo e Silas atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o Espírito Santo impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia. 7Chegando à fronteira da Mísia, tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. 8Atravessaram, então, a Mísia e desceram para Tróade. 9Ora, durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé diante dele e fazia-lhe este pedido: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!» 10Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa-Nova.

    A partir do capítulo 16 do livro dos Actos, Lucas centra a sua atenção na actividade missionária de Paulo. O texto que escutamos hoje apresenta-nos a segunda viagem missionária do Apóstolo, já sem a companhia de Barnabé, com quem se desentendera devido a uma diferente avaliação da pessoa de João Marcos. Mas Paulo não parte sozinho para a nova viagem, mais alargada que a primeira. Vai com Timóteo, seu discípulo, que lhe permanecerá sempre fiel. Para evitar conflitos com os judeus, fá- lo circuncidar, embora reconhecesse que isso não era necessário.
    O Espírito Santo é o guia dos missionários, corrigindo-lhes mesmo a rota. Para Lucas, o Espírito Santo é o grande protagonista e estratega da evangelização. Os seus planos nem sempre coincidem com os dos homens. É o caso em que impele Paulo a passar à Europa, em vez de penetrar nas regiões da Ásia menor. Na acção missionária de Paulo não havia muita organização, mas havia muita disponibilidade à acção do Espírito. Um exemplo sempre actual!

    Evangelho: João 15, 18-21

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18«Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. 19Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. 21Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou.

    Os discípulos de Jesus terão de enfrentar o ódio do mundo, tal como Ele o enfrentou. Esse ódio caracteriza o mundo (v. 18), tal como o amor caracteriza a comunidade cristã. Os discípulos serão perseguidos pelo mundo, porque ele não suporta aqueles que se opõem aos seus princípios. Os que optaram por Cristo são considerados estranhos e inimigos pelo mundo. A sua vida é uma acusação permanente às obras perversas do mundo. É por isso que o homem de fé é odiado. O ódio do mundo manifesta-se na perseguição contra a comunidade dos discípulos de Cristo. Mas estes não devem desanimar na sua vida de fé e no cumprimento da missão de evangelizar. A perseguição e o sofrimento hão-de ser vividos em união com o Senhor. A sorte dos discípulos é idêntica à de Cristo: «Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós» (v. 20).

    Meditatio

    É o Espírito Santo que conduz a Igreja e a sua acção missionária. Paulo e Timóteo atravessavam a Frigia e a Galácia, mas o Espírito Santo proibiu-lhes pregar a palavra na Ásia (cf. v. 6). Depois tentaram dirigir-se à Bitínia, «mas o Espírito de Jesus não lho permitiu» (v. 7). O Espírito Santo parece criar obstáculos à acção dos apóstolos. Mas, em Tróade, irão compreender que o Espírito tinha um plano muito mais ambicioso e vasto: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!», diz-lhe um macedónio. E, assim, Paulo entra na Europa.
    A docilidade de Paulo ao Espírito Santo é uma lição para nós, que nem sempre nos damos conta que as dificuldades ao nosso apostolado e a nossa acção pastoral podem vir de Deus. É que os nossos projectos podem não coincidir com os projectos de Deus, porque não fizemos um bom discernimento, ou por causa de outros nossos limites. Também é possível que os nossos bons projectos estejam inquinados de ambição, de egoísmo, de vaidade. As dificuldades, postas por Deus às nossas obras, são boa ocasião para trabalharmos com generosidade, mas também com desinteresse, deixando-nos a alegria de servir a Deus com docilidade e rectidão.
    O evangelho lembra-nos que «o servo não é mais que o seu senhor» (v. 20). Não devemos espantar-nos se, ao nosso lado, verificarmos indiferença e hostilidade. É sinal de que somos fiéis a Cristo perseguido e à sua palavra de cruz. Não devemos entrar em crise se muitos não pensam como nós, se nos atacam por todos os meios antigos e modernos. A fé é sempre algo fora de moda. Por isso, há-de ser procurada e vivida na oblatividade, que consiste no apelo à cruz, ao sacrifício, a saber amar, à justiça paga com a própria pele. A hostilidade, mais ou menos aberta, do mundo que nos rodeia, não há-de levar-nos a um testemunho soft, a abaixar o nível das exigências da fé, ou a silenciar o que mais compromete ou é impopular.
    Fortalecidos pela presença de Cristo, e dóceis ao seu Espírito, devemos empenhar-nos, como dehonianos, em denunciar o pecado, em trabalhar para que o mundo dos homens, o nosso mundo actual, com as suas forças, os seus dramas, se abra ao Reino de Deus.
    A Eucaristia que celebramos, comungamos e adoramos, sugere-nos espontaneamente a ideia e a realidade da imolação da vítima, e é um tácito e insistente convite a vivermos a nossa vocação baptismal (cf. Cst 13) e a nossa profissão religiosa de oblação, reparação, imolação em união com a Vítima divina e com o Sacerdote eterno, para fazermos da nossa vida &ldq uo;uma missa permanente" (Cst. 5; cf. nn. 6.22.24). Porque é tempo que o nosso pão se torne Corpo de Cristo e o nosso vinho Seu Sangue e nós, que dele comemos e bebemos, nos tornemos Corpo de Cristo.

    Oratio

    «Ó Jesus, Sacerdote soberano, multiplica os sacerdotes santos, os sacerdotes segundo o teu Coração. Quero rezar por essa intenção, como Tu mesmo pediste. Contigo tenho piedade dos rebanhos sem pastores. Envia-lhes pastores que juntem a fecundidade das obras à santidade da vida». Assim rezava o teu servo, Leão Dehon. Que acrescentarei às suas palavras? Peço-te que me ajudes a viver como Tu queres, no meio das dificuldades produzidas pela hostilidade do mundo. Que jamais me acobarde quando for preciso dar testemunho de Ti. Que jamais me falte a coragem perante as reacções que vêm do facto de eu dizer o que Tu mesmo dirias, e de fazer as coisas que Tu mesmo farias. Que a hostilidade do mundo jamais me leve a diluir a tua mensagem e o testemunho que devo ao teu santo nome. Amen.

    Contemplatio

    Durante três anos, o Salvador envolve os seus apóstolos com os mais assíduos cuidados. Está totalmente dedicado à sua formação, à sua preparação. No fim, pode dizer-lhes: «Não vos chamo meus servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Vós sois meus amigos: transmiti-vos tudo o que meu Pai me disse. Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi, e que vos estabeleci para que deis fruto e que este fruto permaneça». O bom Mestre acrescenta: «Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vo-lo dará. Se o mundo vos odeia, não vos admireis, odiou-me primeiro. Ele odiar-vos-á, porque não sois do mundo, porque vos constituí acima do mundo. - Enviar-vos-ei o meu espírito, o espírito de verdade que será o vosso guia. - Sofrereis perseguições. Expulsar-vos-ão das vossas casas e dos vossos santuários, porque os perseguidores não conhecem o meu Pai e não me conhecem. Mas antes de vos deixar, previno-vos, a fim de que nada vos surpreenda» (Jo 15).
    O bom Mestre instruiu os seus discípulos até ao fim, com uma caridade inefável.
    Que sorte invejável esta de serem os amigos de Jesus, os seus íntimos, os ministros das suas obras e mesmo os seus companheiros de labor e de expiação sob a cruz! (Leão Dehon, OSP 4, p. 256).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «O servo não é mais que o seu senhor» (Jo 15, 20).

  • 6ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    6ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    6 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 16, 11-15

    Naqueles dias, embarcámos em Tróade e fomos directamente a Samotrácia; no dia seguinte, fomos a Neápoles 12e de lá, a Filipos, cidade de primeira categoria deste distrito da Macedónia, e colónia. Estivemos aí durante alguns dias. 13No dia de sábado, saímos fora de portas, em direcção à margem do rio, onde era costume haver oração. Depois de nos sentarmos, começámos a falar às mulheres que lá se encontravam reunidas. 14Uma das mulheres chamada Lídia, negociante de púrpura, da cidade de Tiatira e temente a Deus, pôs-se a escutar. O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia. 15Depois de ter sido baptizada, bem como os de sua casa, fez este pedido: «Se me considerais fiel ao Senhor, vinde ficar a minha casa.» E obrigou-nos a isso.

    Deus conduziu Paulo e seus companheiros para um novo campo de acção, a Macedónia, já na Europa. Em Filipos, os missionários sentem-se como estranhos. A cidade tinha um acentuado carácter romano, pois se tornara colónia do Império desde o ano 42 aC. Com o grego, também se falava o latim. A administração civil ajustava-se ao padrão romano, e não ao grego. Os judeus eram muito poucos, como denota o facto de não haver sinagoga e o costume de se reunirem, no dia de sábado, junto ao rio. Paulo parece encontrar lá apenas mulheres. Entre elas, destaca-se Lídia, uma rica comerciante de púrpura, que parece ter aderido ao judaísmo, pelo menos como ouvinte. Para Lucas, ela é o paralelo feminino de Cornélio, é «uma crente em Deus».
    Ao contrário do que acontecera em Antioquia da Pisídia, onde algumas mulheres tinham tomado parte na revolta contras os missionários, Lídia acolhe-os na sua casa, provavelmente espaçosa, pois «o Senhor lhe abriu o coração para aderir ao que Paulo dizia» (v. 14). É sempre o Senhor que acompanha os seus missionários e torna eficaz a sua palavra.

    Evangelho: João 15, 26 - 16, 4a

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 26Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. 27E vós também haveis de dar testemunho, porque estais comigo desde o princípio.» 1«Dei-vos a conhecer estas coisas para não vos perturbardes. 2Sereis expulsos das sinagogas; há-de chegar mesmo a hora em que quem vos matar julgará que presta um serviço a Deus! 3E farão isto por não terem conhecido o Pai nem a mim. 4Deixo-vos ditas estas coisas, para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que Eu vo-las tinha dito.

    A perseguição é praticamente a primeira experiência da Igreja. Os discípulos de Jesus foram perseguidos, primeiro pelos judeus e, depois, também pelos pagãos. Jesus tinha-os advertido para essas situações. O mundo opôs-se a Cristo, e irá opor-se também aos cristãos, porque não são do mundo, porque são de Cristo. Além disso, o servo não é mais do que o seu senhor. O ódio do mundo e a perseguição dos discípulos são considerados inevitáveis. Até se julgam fazerem parte daquela intensificação do mal, que preludia o juízo.
    Jesus viveu entre a animosidade e a perseguição. Que podem esperar os seus discípulos, chamados a anunciar a mensagem que O levou à morte? É verdade que nem todos recusaram Jesus e a sua palavra. Alguns amaram-no por causa do testemunho de João Batista, e por causa do testemunho que o próprio Jesus deu de Si mesmo. Por isso, é preciso continuar a testemunhar o Senhor, para que aumente o número dos que O amam. Nessa tarefa, os discípulos são ajudados pelo testemunho do Espírito de verdade que Jesus enviará do Pai. E a poderosa acção do Espírito irá manifestar-se exactamente nas perseguições. Há que não esquecê-lo, quando chegar a hora.

    Meditatio

    Paulo, depois da visão do macedónio que lhe suplicava: «Vem ajudar-nos!» (Act 16, 9), embarca em Tróade e vai para Neápoles, cidade próxima de Filipos, na Macedónia. As primeiras pessoas que escutam a palavra de Deus são mulheres. Entre elas destaca-se «Lídia, negociante de púrpura, e temente a Deus» (v. 14). Esta mulher, não só aderiu às palavras de Paulo e dos seus companheiros, mas, uma vez baptizada, recebeu-os em sua casa.
    A primeira criatura humana a acolher a Palavra foi Maria. Quando a Palavra chegou à Europa, foi também uma mulher, Lídia, que, por primeira, a acolheu, com outras mulheres. Isto é bonito e dá alegria, principalmente às próprias mulheres.
    A vida cristã é tempo de tentação e tempo de testemunho, tempo de luta e tempo de colaboração com o Espírito no testemunho de Cristo Ressuscitado. Como Cristo foi incompreendido, também os seus discípulos o são. Como Cristo foi perseguido e morto, também os cristãos estão sujeitos a sê-lo. O texto evangélico que escutamos hoje dá-nos uma perspectiva «heróica» da vida cristã. O cristão é chamado a dar testemunho em sentido pleno. É chamado a ser «mártir». A realidade de Cristo é tão decisiva para a humanidade e, ao mesmo tempo, tão estranha ao modo comum de pensar, que todo aquele que alinha por Cristo é quase inevitavelmente marginalizado e, por vezes, chega a ser eliminado. A história dos mártires mostra claramente essa realidade.
    Também hoje, os discípulos de Cristo, particularmente os missionários, sofrem, não só pelas dificuldades normais da vida e do apostolado, mas também pela incompreensão e pela hostilidade do mundo, em nome do progresso, da emancipação e da modernização, da libertação de tabus, dos direitos humanos, etc., etc.
    Já o Pe. Dehon recordava, no seu Diário, os seus muitos missionários que sacrificaram a vida: «Alguns morreram generosamente na missão, no Congo, no Brasil» (Diário XLV, 41: Fevereiro de 1925.). E, em Março de 1912, escreve nas Memórias: «Os nossos mortos do Congo, do Brasil, do Equador! No Congo 17 deram a vida pela conversão dos negros. Um santo cardeal dizia-me que só pelo simples facto de irem lá para baixo, expondo-se ao perigo de uma morte iminente, merecer-lhe-ia a palma do martírio» (LC n. 381).
    Se todo o nosso apostolado deve ser «uma oblação agradável a Deus» (Cst. 31), deve sê-lo, de modo muito particular, o apostolado missionário. Se o convite do n. 22 das Constituições: «oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável», vale para todos os religiosos do Pe. Dehon, deve realizar-se, de modo particular, naqueles que se consagram ao apostolado missionário.

    Oratio

    Senhor, quero hoje, mais uma vez rezar-te com o teu servo Leão Dehon: Dá- me, a força de que preciso. Toca o meu coração pelo teu amor, a fim de que esteja preparado para ultrapassar todas as dificuldades e todas as provações. Sei que nada custa àquele que ama. Para me fortalecer, procurarei o teu amor e recordar-me-ei constantemente das bondades do teu divino Coração. Amen. (OSP 3, p. 447).

    Contemplatio

    O Espírito Santo recordar-nos-á o exemplo de Nosso Senhor o qual nos sustentará.
    Nosso Senhor escolheu-nos como seus apóstolos, para espalharmos o seu amor, para trabalharmos no reino do seu Coração. Atacaremos a corrupção do mundo, o mundo corrompido levantar-se-á contra nós. Mas, se o mundo nos odeia, sabemos que primeiro odiou Nosso Senhor. O servo não é maior que o seu senhor.
    Se perseguiram Nosso Senhor, também nos hão-de perseguir. Como ele, havemos de suportar com paciência as perseguições. As provações hão-de servir para o nosso avanço na virtude, para a nossa santificação.
    As promessas de Nosso Senhor suster-nos-ão também. Sabemos que o socorro nos virá em tempo conveniente e que seremos recompensados por tudo o que tivermos sofrido.
    Nosso Senhor preveniu-nos para que não nos escandalizemos, e para que as provas não nos desencorajem nem nos abatam. O Espírito Santo fortificar-nos-á, iluminar-nos-á. Convencerá o mundo do pecado. Propagando a verdade e a virtude pelos ministros do Evangelho, manifestará a iniquidade do mundo e a justiça cristã.
    Confessaremos a sua doutrina, seguiremos os seus ensinamentos, imitaremos os seus exemplos. Confessá-lo-emos com o coração, com a boca e com a acção. Dirigiremos os nossos pensamentos, os nossos desejos, os nossos projectos para tudo o que possa contribuir para a glória de Deus e para a salvação das almas. Regularemos as nossas palavras segundo a sua lei, evitando tudo o que fira a caridade, a verdade, a humildade. Agiremos como ele fazendo unicamente a vontade do Pai.
    Tenhamos coragem na acção e no sofrimento. As tentações virão e as quedas também. O demónio e o mundo não repousam. A vida tem as suas provas inevitáveis. O Espírito Santo fortificar-nos-á para a luta e para a paciência. Dar-nos-á a força da lei, a da esperança e sobretudo a do amor. Recordar-nos-á a necessidade da expiação, a brevidade da vida, a recompensa do céu; mas acima de tudo unir-nos-á a Nosso Senhor pela caridade. Amando-o, conformar-nos-emos aos seus sentimentos. Sofreremos de boamente com ele e por ele. Nada custa àquele que ama.
    Tenhamos coragem. A vida de amor exclui a tristeza. Vivamos no fervor e no puro amor. O Espírito de amor nos sustentará, se soubermos ir buscá-lo ao Coração de Jesus (Leão Dehon, OSP 3, p. 446s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Dei-vos a conhecer estas coisas para não vos perturbardes» (Jo 16, 1).

  • 6ª Semana - Terça-feira - Páscoa

    6ª Semana - Terça-feira - Páscoa

    7 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 16, 22-34

    Naqueles dias, 22a multidão amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes, mandaram-nos açoitar. 23Depois de lhes terem dado muitas vergastadas, lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. 24Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e prendeu-lhes os pés no cepo.
    25Cerca da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os presos escutavam-nos. 26De repente, sentiu-se um violento tremor de terra que abalou os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e as cadeias de todos se desprenderam. 27Acordando em sobressalto, o carcereiro viu as portas da prisão abertas e puxou da espada para se matar, pensando que os presos se tinham evadido. 28Paulo, então, bradou com voz forte: «Não faças nenhum mal a ti mesmo, porque nós estamos todos aqui.» 29O carcereiro pediu luz, correu para dentro da masmorra e lançou-se a tremer, aos pés de Paulo e de Silas. 30Depois, trouxe-os para fora e perguntou: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» 31Eles responderam:
    «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo tu e os teus.» 32E anunciaram-lhe a palavra do Senhor, assim como aos que estavam na sua casa. 33O carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas e imediatamente se baptizou, ele e todos os seus. 34Depois, levando-os para cima, para a sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus.

    Lucas quer suscitar nos seus leitores a confiança em Deus, que tem mais poder que os homens, e pode transformar as dificuldades em graça. Por isso, «romanceia» muito o seu relato. Paulo e Silas tinham expulsado o espírito pitónico de uma escrava bruxa. Os seus senhores, que assim viram desaparecer uma fonte de rendimento, arrastaram os missionários à presença dos magistrados, e acusaram-nos de criar desordem na cidade, apregoando usos contrários aos dos romanos. Os magistrados, sem grandes investigações, mandaram açoitar os acusados e puseram-nos na prisão, bem vigiados. Mais tarde, invocando a sua cidadania romana, Paulo irá protestar contra os abusos cometidos contra ele. Entretanto, dá-se a clamorosa conversão narrada no texto que hoje escutamos. O testemunho sereno dos prisioneiros, a sua lealdade, a série de eventos extraordinários, impressionam o carcereiro, que pergunta aos apóstolos:
    «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» (v. 30). A resposta é simples e directa:
    «Acredita no Senhor Jesus» (v. 31). Assim, depois de Lídia, prosélita judaica, um funcionário romano, entra a fazer parte da comunidade de Filipos, tão cara a Paulo.

    Evangelho: João 16, 5-11

    «Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5«Agora vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me pergunta: 'Para onde vais?' 6Mas, por vos ter anunciado estas coisas, o vosso coração ficou cheio de tristeza. 7Contudo, digo-vos a verdade: é melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei. 8E, quando Ele vier, dará ao mundo provas irrefutáveis de uma culpa, de uma inocência e de um julgamento: 9de uma culpa, pois não creram em mim; 10de uma inocência, pois Eu vou para o Pai, e já não me vereis; 11de um julgamento, pois o dominador deste mundo ficou condenado.»

    Jesus anuncia a sua partida deste mundo, e afirma que ela é conveniente para os discípulos. Jesus fala da sua morte, que só poderá ser entendida à luz do Espírito Santo. O testemunho de Jesus, que os discípulos hão-de dar, só será possível depois de entenderem quem é Jesus, o que significou a sua presença no meio de nós, e qual foi o sentido da sua morte e da sua ressurreição. E só o Espírito lhes pode dar esse entendimento. Os discípulos hão-de sofrer perseguições. Mas elas serão intoleráveis se não estiverem convencidos e seguros daquilo pelo qual serão perseguidos.
    Além de dar testemunho de Jesus, o Espírito também acusará o mundo de pecado por O ter rejeitado. Os crentes ficarão esclarecidos sobre o erro do mundo, sobre o seu pecado de incredulidade. A condenação de Cristo foi inconsistente. A sua ressurreição condenou o príncipe deste mundo para sempre. Jesus, morto e ressuscitado, é o verdadeiro vencedor.

    Meditatio

    A pregação, em Filipos, teve um começo prometedor. Mas acabou de modo desastroso, quando se levantou um motim contra os missionários, que foram acusados perante as autoridades e lançados na prisão. Paulo, como cidadão romano, estava isento destes processos sumários feitos pelas autoridades locais. Mas, dessa vez, não invocou tal direito. E seguiu-se todo o episódio descrito por Lucas. Enquanto Paulo e Silas cantam os louvores de Deus na prisão, dá-se um terramoto que escancara as portas da mesma. Os apóstolos podiam ter fugido, como pensou o carcereiro. Mas permaneceram na prisão, confiando em Deus e no seu poder para transformar as dificuldades e problemas dos seus missionários em ocasiões de graça. E foi o que aconteceu. O carcereiro converteu-se. E a Igreja teve o primeiro encontro com Roma, representada pelas autoridades da colónia romana de Filipos. Lucas quer mostrar que o cristianismo nunca foi um perigo para a lei e para a ordem no Império. Por isso, Roma deve reconhecer-lhe liberdade para pregar o Evangelho.
    A acção missionária da Igreja está sempre sujeita a vicissitudes idênticas às que Paulo e Silas tiveram de enfrentar. Mas há que prosseguir a missão, confiando em Deus e no seu poder. A história da Igreja mostra-nos como Deus, pela persistência e pela fé dos missionários, faz maravilhas. Lembro-me concretamente da Igreja que está em Moçambique e do que teve de enfrentar, seja durante a guerra colonial, seja durante os primeiros anos da independência do país. Não faltaram dificuldades de toda a ordem, incluindo acusações de colaborar com uma ou outra força durante a guerra colonial, ou de ser um instrumento do imperialismo, depois da independência. Mas a Igreja não se deixou impressionar e permaneceu em nome da fidelidade a Deus, e em nome da fidelidade ao povo. O seu notável papel acabou por ser reconhecido.
    O evangelho faz-nos ver como, enquanto o mundo condena os discípulos de Jesus, o Espírito inverte a situação, revelando o verdadeiro ser do mundo, o seu erro, a sua nulidade. É uma luz que emerge no critério do juízo divino, diferente e até oposto ao do mundo. Perseguidos e condenados pelos tribunais do mundo, os discípulos podem julgar e condenar o mundo, enquanto esperam o juízo final que revelará os termos exactos do entendimento divino.
    Precisamos muito, hoje, deste Espírito que reforça os corações, que torna evidentes as razões para crer, e que dá coragem para nos opormos à mentalidade deste mundo cada vez mais seguro de si, e mais sedutor. Precisamos, sobretudo, que o Espírito nos mostre que muitos sectores do mundo «mundano» têm em si componentes diabólicas, que a batalha entre Cristo e o príncipe deste mundo continua, e que somos chamados a participar nessa luta decisiva dentro de nós, entre nós e à nossa volta.
    É verdade que todos somos criaturas frágeis, cansadas e fatigadas: "cansadas" pela luta contra o mal; "fatigadas" pelo peso da nossa carne fraca, e pelo peso das nossas culpas. Mas Cristo, com misericordiosa bondade, convida-nos a ir a Ele para termos força na luta: «Vinde a Mim, todos vós, que vos estais cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei... Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração e achareis alívio para as vossas almas, pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve» (Mt 11, 28-30).
    A nossa luta contra o mal passa pelo anúncio do Evangelho, mas também pelo empenhamento em favor da justiça e da paz entre os homens. Foi que fez o Pe. Dehon, com o seu intenso apostolado social, em S. Quintino. Isto é importante para as pessoas pobres e desprotegidas, mas também é importante para a Igreja, frequentemente sentida como "um corpo estranho", mas que se torna credível quando se compromete seriamente em favor do homem, e na luta pela sua libertação de todas as formas de opressão.

    Oratio

    Veni Sancte Spiritus! Vem Espírito Santo, para que resistamos ao poder do mundo. Vê como somos fracos, como somos tímidos, e como as razões do mundo avançam na conquista dos corações dos jovens e dos menos jovens. Que poderemos fazer, se não vieres em nosso auxílio? Os nossos argumentos passam ao lado de muitos dos nossos contemporâneos, sem lhes beliscar a couraça das seguranças em que põem a sua confiança. Sem o teu Espírito, tornamo-nos como o sal que não salga, ou como a luz que não alumia. Sem o teu Espírito, corremos o risco de nos sentir defensores de uma causa perdida. Enche-nos do teu Paráclito, do teu Advogado, do teu Arguente, do teu Defensor, do teu Consolador, para que não fujamos à luta, não fiquemos desarmados, não nos afoguemos no difuso paganismo que nos envolve. Faz- nos profetas críticos deste mundo, profetas entusiastas do teu mundo, da tua verdade. Amen.

    Contemplatio

    Também neste ponto Nosso Senhor não nos deixará órfãos. Suster-nos-á pelo seu Espírito. As provas virão e muito grandes. Estaremos à mercê do ódio do mundo e das perseguições, mas não tenhamos medo, as perseguições não impedirão nem o cumprimento dos desígnios de Deus nem o estabelecimento do seu reino. O Espírito Santo dará testemunho a Nosso Senhor pela verdade que há-de propagar e pelas obras que há-de inspirar; e nós, fortificados pelo Espírito Santo, daremos também testemunho a Nosso Senhor pregando a verdade e suportando por ela todas as provas e contradições.
    Devemos ser os instrumentos do Espírito Santo para a renovação do mundo. Encontraremos nele todos os socorros necessários para cumprirmos dignamente a nossa missão apostólica. Fortificar-nos-á na verdade, no zelo e na paciência.
    A oração será o canal da nossa força. Rezaremos a Deus com uma fé íntegra e uma viva confiança pelo sucesso das nossas obras, pela salvação das almas e pelo reino do Sagrado Coração. «Pedi e recebereis, diz-nos Nosso Senhor, e a vossa alegria será completa. Pedi em meu nome, com a ajuda do Espírito Santo, meu Pai vos ama, porque vós me amais e vos atenderá» (Leão Dehon, OSP 3, p. 445).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    ,,Se Eu for, Eu enviar-vos-ei O Consolador,,: (Jo 16, 7).

  • 6ª Semana - Quarta-feira - Páscoa

    6ª Semana - Quarta-feira - Páscoa

    8 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Act 17, 15. 22-18,1

    Naqueles dias, 15os que acompanhavam Paulo levaram-no a Atenas e regressaram, incumbidos de transmitir a Silas e a Timóteo a ordem de irem reunir-se a Paulo o mais rapidamente possível.
    22De pé, no meio do Areópago, Paulo disse, então: «Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. 23Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: 'Ao Deus desconhecido.' Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio. 24O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra, Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, 25nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. 26Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, 27a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tacteando, embora não se encontre longe de cada um de nós. 28É nele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos, como também o disseram alguns dos vossos poetas: 'Pois nós somos também da sua estirpe.'
    29Se nós somos da raça de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem. 30Sem ter em conta estes tempos de ignorância, Deus faz saber, agora, a todos os homens e em toda a parte, que todos têm de se arrepender, 31pois fixou um dia em que julgará o universo com justiça, por intermédio de um Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de o ter ressuscitado de entre os mortos.» 32Ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez.» 33Foi assim que Paulo saiu do meio deles. 34Alguns dos homens, no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé, entre os quais Dionísio, o areopagita, e também uma mulher de nome Dâmaris e outros com eles. 1Depois disso, Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto.

    Em Atenas, Paulo utiliza uma nova técnica para anunciar o Evangelho. Não começa por citar as Escrituras, como entre os judeus, mas começa por referir a religiosidade dos gregos. O discurso no Areópago de Atenas é um exemplo de inculturação, que não atraiçoa a originalidade da mensagem cristã. Mesmo dirigindo-se a estóicos e epicuristas, mesmo citando poetas gregos, Paulo faz um discurso de profeta, anunciando um homem «ressuscitado de entre os mortos» (v. 31). Ainda que se insira na linha dos filósofos e dos poetas, que tinham criticado a idolatria, diz o que eles nem sequer podiam imaginar: a verdade alcança-se por meio de um homem ressuscitado de entre os mortos, que também será o juiz final, isto é, o critério definitivo do bem e do mal.
    Um discurso, tão pouco racional, divide, mais uma vez, o auditório. Muitos afastam-se de riso nos lábios. Mas alguns aderem à mensagem.
    Ao citar este discurso de Paulo, Lucas quer dar um exemplo de como se pode apresentar o Kerygma aos pagãos cultos. Os resultados são sempre idênticos: há quem acolha a Palavra e quem a rejeite. Apesar de tudo, nasce uma comunidade cristã na capital da cultura daquele tempo.

    Evangelho: Jo 16, 12-15

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12«Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. 13Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir.
    14Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. 15Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: 'Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer'.»

    Jesus, durante a sua vida terrena, não pôde ensinar muitas coisas aos discípulos, porque não eram capazes de as entender, pelo menos em profundidade. Só o Espírito Santo é o mestre interior e o guia para a verdade completa. A vinda do Espírito Santo inaugurará uma nova fase do conhecimento da palavra de Jesus. O seu ensinamento será dado no íntimo do coração de cada discípulo. Por ele, hão-de conhecer os segredos da verdade de Cristo e interiorizá-los.
    A missão do Espírito será semelhante à de Jesus, mas dirigida para o passado e para o futuro. Como durante a sua vida terrena o Filho nada fez sem o consenso e a unidade do Pai, assim também o Espírito há-de agir em perfeita dependência de Jesus, na Igreja pós-pascal. O Espírito será guia na compreensão da palavra de Jesus e do próprio Jesus; fará ver a realidade de Deus e dos homens como o Pai e o Filho a vêem; fará conhecer a mundo e a história na perspectiva da novidade iniciada com a morte e a ressurreição de Cristo.

    Meditatio

    Paulo verifica que os atenienses são muito religiosos, que sabem muito de religião, que se tinham preocupado em honrar todos os deuses e que, entre muitos erros, tinham tido uma boa inspiração, ao de dedicar um altar «ao Deus desconhecido» (v. 23). A consciência da sua ignorância podia ser uma preparação para acolher a revelação do verdadeiro Deus. Mas, para isso, ainda precisavam do Espírito de verdade, que só é dado por meio do Ressuscitado. Muitos, todavia, não estavam preparados para isso. De facto, «ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez» (v. 32). Mas houve quem estivesse preparado para acolher o Espírito de verdade, concordando com Paulo: «Alguns dos homens, no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé» (v. 34).
    Uma coisa é saber muito sobre religião e repeti-lo como uma teoria qualquer, e outra é fazer experiência de fé, tomando consciência profunda do que é ser salvo por Jesus. Essa experiência e essa consciência são uma graça do Espírito Santo, o Espírito de verdade, segundo as palavras de Jesus. É o Espírito que nos permite fazer a exegese das palavras do Senhor, para caminharmos pela história com a «mente de Deus», isto é, com o seu modo de ver e de julgar, de sentir e de actuar. Essa «mente de Deus» coloca, muitas vezes, os discípulos em confronto com a mentalidade do mundo. O verdadeiro sentido das coisas, da história, dos acontecimentos está reservado àqueles que têm o Espírito, o deixam falar e escutam a sua voz num coração purificado: «Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt. 5, 8). As épocas mais criativas da história, para a fé, foram aquelas em que os cristãos se empenharam seriamente na libertação interior, na oração, na santidade.

    As palavras do Senhor realizam-se maximamente nos santos, e são eles que melhorem compreendem as coisas de Deus e o momento histórico em que vivem. Conhecer a realidade segundo Deus é algo de diferente do conhecimento simplesmente racional: é deixar que o Espírito fale num coração vazio de coisas demasiadamente terrenas.
    O Pe. Dehon foi um desses homens que soube ler a realidade à luz de Deus.
    Estudou atentamente as causas dos males da Igreja e da sociedade do seu tempo. Mas não o fez como simples sociólogo ou pastoralista. Fê-lo como verdadeiro místico. Daí que tenha visto no pecado, entendido como recusa do amor, que Deus a todos oferece, e com que pretende ser amado, e quer que nos amemos uns aos outros, a causa mais profunda das deficiências da Igreja e das injustiças sociais. Por essa razão é que, ao falar aos noviços, chegou a afirmar que «a reparação por meio do amor puro é a salvação da Igreja e dos povos, é a solução da actual questão social» (CF III, 46: 25.7.1880). Esta afirmação, desligada da experiência de vida e especialmente do intenso apostolado social do Pe. Dehon, pode-nos parecer, hoje, espiritualismo abstracto. Mas não se trata disso: o Pe. Dehon tinha um sentido muito concreto das realidades que o rodeavam. O seu olhar místico permitia-lhe ver a realidade, mas também os meios concretos, as iniciativas mais adequadas para a transformar segundo Deus.

    Oratio

    Senhor, purifica o meu coração, pela infusão do teu Espírito. Assim poderei compreender «Verdade completa», não só sobre Ti e sobre os teus projectos, mas também sobre o mundo e sobre a história. Purifica o meu olhar interior para que possa ver os teus caminhos, e o meu ouvido interior para que possa escutar a tua vontade. Purifica o meu instinto, para que se oriente para Ti.
    Dá-me um coração desapegado e vazio para Te deixar falar. Dá-me um coração humilde para escutar a voz da tua Igreja. Dá-me a tua luz divina para que saiba julgar o mundo, a sua mentalidade e as suas obras. Purifica-me e ilumina-me, Senhor. Amen.

    Contemplatio

    Nosso Senhor prodigalizou-nos os dons do Espírito como os dons do coração. Enquanto vivia com os seus discípulos, iniciava-os ele mesmo na verdade: Eu sou a verdade. Deixando-os, prometeu-lhes o Espírito da verdade, que os consolaria da sua ausência. É para nós um dom totalmente celeste. Não é somente o dom da fé, é a inteligência e o gosto das verdades reveladas, cuja contemplação luminosa e completa fará a nossa felicidade no céu. É uma luz acrescentada à nossa razão, um horizonte novo e infinito, aberto diante dela, para que ela aí encontre não apenas a resposta às questões do nosso futuro eterno, mas mesmo a solução de uma multidão de problemas naturais. Este dom é múltiplo, compreende a inteligência, a sabedoria e a ciência. É uma participação na vida dos espíritos celestes.
    «Se me amais, guardai os meus mandamentos, disse Nosso Senhor, e enviar-vos-ei o Espírito de verdade, o Espírito santificador, cheio de todas as luzes, de todas as graças e de toda a vida espiritual, o Espírito de verdade, que une os homens a Deus pelo conhecimento e pelo amor. O mundo culpado e corrompido não o pode receber. Sendo dominado pelos sentidos, não o vê nem o conhece; mas vós, vós o conhecereis, ele permanecerá convosco e estará em vós para vos iluminar, vos dirigir, vos fortificar» (Leão Dehon, OSP 3, p. 430).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    ,,Q Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa .. (Jo 16, 13).

  • 6ª Semana - Quinta-feira - Páscoa

    6ª Semana - Quinta-feira - Páscoa

    9 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 18, 1-8

    Naqueles dias, 1Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto. 2Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália com Priscila, sua mulher, porque um édito de Cláudio ordenara que todos os judeus se afastassem de Roma. Paulo foi procurá-los 3e, como eram da mesma profissão - isto é, fabricantes de tendas - ficou em casa deles e começou a trabalhar. 4Todos os sábados dissertava na sinagoga e esforçava-se por convencer, tanto a judeus como a gregos. 5Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedónia, Paulo entregou-se à pregação, afirmando e provando aos judeus que Jesus era o Messias. 6Mas, perante a oposição e as blasfémias deles, sacudiu as suas vestes e disse-lhes: «Que o vosso sangue recaia sobre as vossas cabeças. Eu não sou responsável por isso. De futuro, dirigir-me-ei aos pagãos.» 7Retirou-se dali e foi para casa de um certo Tício Justo, homem temente a Deus, cuja casa era contígua à sinagoga. 8No entanto, Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor, ele e todos os da sua casa; e muitos dos coríntios que ouviam Paulo pregar abraçavam também a fé e recebiam o Baptismo.

    Corinto era uma cidade cosmopolita, mais romana do que grega. Com uma boa situação geográfica, era notável pelo seu comércio, mas também pela sua corrupção. Pela Palavra que lá foi anunciada, surgiu uma das comunidades cristãs mais florescentes. Todavia, essa mesma comunidade, também veio a dar grandes desgostos a Paulo.
    A actividade de Paulo em Corinto foi mais complicada do que Lucas deixa supor. Neste texto, o autor do Actos revela-nos alguns pormenores da vida quotidiana de Paulo e dos primeiros evangelizadores. O Apóstolo sabe um ofício e exerce-o, coisa considerada indigna de um homem culto entre os gregos, mas habitual entre os rabis de Israel, para quem o trabalho era uma boa ocasião para estar com as pessoas e ensinar. Paulo habita com um casal de judeus expulsos de Roma por Cláudio, pelos anos 49-50 da nossa era. Com a chegada de Silas e de Timóteo, Paulo dedica-se exclusivamente à pregação. Começa sempre pelos judeus e, só depois de ser recusado, mais uma vez, é que se volta para os pagãos. Lucas parece continuar preocupado em justificar a passagem aos pagãos. Mas, como sempre acontece, há alguém, mesmo entre os judeus, que acolhe a Palavra. Desta vez é o próprio chefe da sinagoga, com a sua família. E começa a colheita abundante entre os pagãos.

    Evangelho: João 16, 16-20

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16«Ainda um pouco, e deixareis de me ver; e um pouco mais, e por fim me vereis.» 17Disseram entre si alguns dos discípulos: «Que é isso que Ele nos diz: 'Ainda um pouco, e deixareis de me ver, e um pouco mais, e por fim me vereis'? E também: 'Eu vou para o Pai'?» 18Diziam, pois:
    «Que quer Ele dizer com isto: 'Ainda um pouco'? Não sabemos o que Ele está a anunciar!» 19Jesus, percebendo que o queriam interrogar, disse-lhes: «Estais entre vós a inquirir acerca disto que Eu disse: 'Ainda um pouco, e deixareis de me ver, e um pouco mais, e por fim me vereis'? 20Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria!

    «Ainda um pouco, e deixareis de me ver; e um pouco mais, e por fim me vereis» (v. 16). Estas frases são, no mínimo, ambíguas. Como entendê-las correctamente? Elas referem-se à morte-ressurreição de Jesus, à sua glorificação pelo Pai, à vinda do Espírito e à nova ordem de coisas criada pelo acontecimento de Jesus. João recorre à incompreensão dos discípulos para provocar um esclarecimento posterior das palavras de Jesus. A vida terrena do Mestre está a terminar. A sua vida gloriosa vai começar na ressurreição. O regresso de Jesus não acontecerá só com as aparições depois da ressurreição, mas vai prolongar-se pela sua presença no coração dos crentes. Os discípulos não entendem as palavras de Jesus. Fazem perguntas (cf. v. 17). Jesus responde tentando remover-lhes da alma a tristeza que os assalta e procurando infundir-lhes confiança com uma nova revelação: «a vossa tristeza há-de converter-se em alegria» (v. 20). Depois da tormenta virá a acalmia. A alegria surgirá da mesma causa que provocou a tristeza.

    Meditatio

    As palavras de Jesus, como noutras ocasiões são susceptíveis de várias aplicações. Com uma frase enigmática, Jesus falou de um tempo em que os discípulos não O hão-de ver e de outro tempo em que O hão-de ver, porque Ele vai para o Pai.
    Estas palavras são pronunciadas durante o «discurso de adeus» e aplicam-se, em primeiro lugar, à paixão e à morte de Jesus. Os discípulos vão deixar de vê-lo brevemente porque estará no sepulcro. Será um tempo de tristeza para os amigos de Jesus, e um tempo de triunfo para os seus inimigos: «haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar» (v. 20). Todavia a ausência de Jesus durará pouco: ao terceiro dia ressuscitará. «Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor», anota João ao descrever a aparição de Jesus na tarde do primeiro dia da semana (Jo 20, 20).
    Estas palavras também se aplicam ao mistério da Ascensão e do Pentecostes.
    Ao subir ao Céu, Jesus deixa de estar visivelmente entre os seus, mas, no Pentecostes, inaugura uma nova forma de presença no meio deles, na Igreja. O Espírito santo torna Jesus presente no coração dos fiéis e na comunidade dos mesmos. Já não O vêem como durante a vida terrena, nem sequer como nas aparições depois da Ressurreição, mas vêem-no com o olhar do coração, onde o Espírito O torna presente. E, mais uma vez, a tristeza se transforma em alegria.
    As formas de presença de Jesus entre os seus discípulos vão-se transformando, tornando-se cada vez menos gratificantes sob o ponto de vista humano, mas bem mais profundas, produzindo alegria e paz cada vez maiores. A presença do Espírito estabelece os discípulos na alegria, na paz e no amor.
    Mas as palavras do Senhor podem aplicar-se também à nossa vida: a ausência-presença de Cristo marca o ritmo da nossa vida espiritual. Se é verdade que temos fases em que sentimos a sua ausência, também é verdade que, depois de cada uma delas, voltamos a sentir a sua presença de um modo novo. Essas fases de ausência- presença fazem crescer a nossa relação com Ele. Quando experimentamos a tristeza da sua ausência, interrogamo-nos sobre as razões da mesma e lançamos mão dos meios para O reencontrar. Por outro lado, Jesus quer dar-nos a alegria de reencontrarmos a sua presença. A tristeza da ausência produz a alegria do reencontro: «a vossa tristeza há-de converter-se em alegria!» (v. 20). Há que lembrar- nos deste ritmo quando estamos alegres e quando estamos tristes. Nem a alegria nem a tristeza duram sempre. Sucedem-se para nos fazer caminhar na união a Cristo e, por Ele, na união com o Pai. A meta é o Pai: quando a atingirmos, então sim, a nossa alegria será total e eternamente duradoira.
    O dehoniano, como todo o cristão vive alegre, manifestando a alegria e a bondade de Deus para com todos os homens, porque o Senhor está perto (cf. Fil 4, 4-
    5), o esposo, logo que chegue, o há-de introduzir na alegre festa das núpcias (cf. Mt 25, 10).
    A nossa alegria, e a alegria de Deus, é certamente consequência de uma vida boa, vivida para glória de Deus, nos bons e nos maus momentos, quando sentimos a presença do Senhor e quando sofremos com a sua ausência.
    Paulo lembra-nos a predilecção de Deus por aqueles que, em todas as circunstâncias, são generosos e viver o amor oblativo na relação com Ele e com os irmãos: «Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7). Viver e irradiar a alegria é a nossa missão de filhos «do Deus da esperança que nos enche de toda a alegria no Espírito Santo» (Rom 15, 13); que quer ser servido «na alegria» (Sl 100(99), 2) e espera ser agradecido «com alegria» (Col 1, 12), porque «o Reino de Deus... não é questão de comida ou de bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rom 14, 17).
    É esta, de modo especial, a nossa missão, o nosso estilo de vida de dehonianos, tendo presente o exemplo do Pe. Dehon.

    Oratio

    Obrigado, Senhor, pela alegria das tuas visitas. Obrigado pela tristeza das tuas ausências. Sê bendito para sempre, porque me conheces e sabes orientar a minha vida e atrair-me para Ti. Mas tem compaixão de mim: não me abandones demoradamente à provação para que não desespere da tua consolação. Vem em meu auxílio também quando este mundo me causa excessiva satisfação, para que não me deixe inebriar por ele. Ajuda-me a buscar em Ti a minha consolação e a minha alegria, em todo o tempo e lugar. Amen.

    Contemplatio

    Não vos deixarei sem apoio, sem conselho, sem guia, sem afecto. Prometo-vos o Espírito Santo para me substituir, e, além disso, eu próprio virei de diversos modos. Virei visitar-vos depois da minha ressurreição. O mundo não me verá mais, a minha missão terrestre está terminada; mas vós, vós me vereis ainda vivente.
    Hei-de visitar-vos também pela graça. Iluminados pelo Espírito Santo, acreditareis na minha divindade, reconhecereis que eu estou no meu Pai, que sou um só com Ele na unidade da essência divina; e vós estareis em mim, estareis unidos a mim pela vida da graça, como os membros estão unidos ao seu chefe, como os ramos da vinha estão unidos à cepa, cuja seiva os alimenta; e eu estarei em vós, iluminando-vos, dirigindo-vos, santificando-vos pelo Espírito Santo que vos hei-de enviar.
    Ao deixar-vos corporalmente e segundo as aparências, não vos abandono por isso, fico ainda convosco de diversas maneiras, pela fé, pelo amor, pela graça santificante e pela Eucaristia. Não vos deixo órfãos (Leão Dehon, OSP 3, p. 451).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A vossa tristeza há-de converter-se em alegria» (Jo 16, 20).

  • 6ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    6ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    10 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Act 18, 9-18

    Quando Paulo estava em Corinto, 9certa noite, o Senhor disse a Paulo, numa visão: «Nada temas, continua a falar e não te cales, 10porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade.» 11Então, ele ficou lá durante um ano e seis meses, a ensinar-lhes a palavra de Deus.
    12Sendo Galião procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus, de comum acordo, contra Paulo e levaram-no ao tribunal. 13«Este homem - disseram eles - induz as pessoas a prestar culto a Deus de uma forma contrária à Lei.» 14Paulo ia abrir a boca, quando Galião disse aos judeus: «Se se tratasse de uma injustiça ou grave delito, escutaria as vossas queixas, ó judeus, como é meu dever. 15Mas como se
    trata de um conflito doutrinal sobre palavras e nomes e acerca de vossa própria Lei, o assunto é convosco. Recuso-me a ser juiz em semelhante questão.» 16E mandou-os sair do tribunal. 17Então todos se apoderaram de Sóstenes, o chefe da sinagoga, e puseram-se a bater-lhe diante do tribunal. E Galião não se importou nada com isso.
    18Depois de se ter demorado ainda algum tempo em Corinto, Paulo despediu- se dos irmãos e embarcou para a Síria, com Priscila e Áquila, rapando a cabeça em Cêncreas, por causa de um voto que tinha feito.

    Galião foi procônsul, isto é, governador da província da Acaia, a partir de Maio do ano 51. Paulo esteve em Corinto até ao Verão de 51. O episódio narrado por Lucas situa-se nesse breve espaço de tempo. Os judeus querem captar a benevolência do governador, acusando Paulo. Mas Galião actua de modo inteligente e diplomático, recusando intrometer-se em questões internas ao judaísmo. Lucas quer, mais uma vez, mostrar a neutralidade do Império em relação aos cristãos. Inicialmente não há hostilidade das autoridades romanas, e Paulo é mesmo salvo por elas, algumas vezes. Estava ainda longe o tempo das perseguições.
    Paulo continua a ter uma vida difícil, mas o Senhor confirma-o na missão que lhe confiou entre os pagãos. Discretamente, o Apóstolo, acompanhado pelo casal de Priscila e Áquila, que lhe dera trabalho, embarca para a Síria, rumo a Jerusalém e a Antioquia. Permanecera 18 meses em Corinto, onde teve algum sucesso, entre os judeus e entre os pagãos. O Senhor afirmou ter lá «um povo numeroso» (v. 9). Mas Paulo não tinha feitio para se demorar muito tempo no mesmo lugar.

    Evangelho: Jo 16, 20-23a

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 20Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria! 21A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque chegou a sua hora; mas, quando deu à luz o menino, já não se lembra da sua aflição, com a alegria de ter vindo um homem ao mundo. 22Também vós vos sentis agora tristes, mas Eu hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. 23Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará.

    A alegria dos discípulos vem da liberdade que o afastamento do mundo lhes dá (cf. Jo 8, 32). O encontro «espiritual» com Cristo ressuscitado produz a liberdade e a alegria nos crentes. E nada nem ninguém lhas podem tirar. Essa liberdade e essa alegria, que vem da reconciliação do homem com Deus, realizada por Cristo, e expressa sobretudo na oração comunitária, vêem-se ilustradas nos capítulos 20-21 de João. Tal como acontece à mulher, que deu à luz, está feliz porque terminaram os seus sofrimentos, e deu ao mundo uma nova criatura, também o cristão está contente porque a sua alegria, fundada na dor, desabrochou na nova vida que é a páscoa do Senhor. A morte infame de Jesus transformou-se em alegria retumbante, alegria que ninguém pode tirar aos discípulos, porque se fundamenta na fé n´Aquele que vive glorioso à direita de Deus. A partir da ressurreição, a comunidade cristã, iluminada pelo Espírito, terá uma visão nova da vida e das coisas, e o mesmo Espírito lhe fará compreender tudo quanto precisar.

    Meditatio

    Paulo experimenta a presença de Jesus. Experimenta-a na forma inaugurada com o Pentecostes. Experimenta-a em si mesmo, pela força que sente no anúncio do Evangelho, mesmo quando as circunstâncias são difícieis. Sente-a nas comunidades que estão vivas e crescem: «Nada temas, continua a falar e não te cales, porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade» (v. 10). O sofrimento do missionário é condição necessária e lugar privilegiado da alegria eclesial. Paulo será mestre e protagonista dessa alegria:
    «Estou cheio de consolação e transbordo de alegria no meio de todas as nossas tribulações» (2 Cor 7, 4). A seu exemplo, os convertidos acolhem «a Palavra em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo» (1 Ts 1, 6). Os ministros da Palavra são tidos «por tristes, nós que estamos sempre alegres;por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10).
    Jesus, ao subir ao Céu, não se afastou dos discípulos, mas inaugurou uma forma de presença mais profunda no meio deles. A Ascensão libertou-O dos limites da condição terrena e possibilitou-Lhe um contacto pessoal e íntimo com cada um de nós, possibilitou-Lhe estar connosco, com todos, todos os dias: «Eu estou contigo».
    «Hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (v. 22). É a alegria da intimidade com o Senhor, da vida com o Senhor: amar com Ele, actuar com Ele, estar sempre com Ele. «Com Jesus e como Ele», sintetizam as nossas Constituições (n. 21).
    Sabemos da importância que o Pe. Dehon dava à vida de união com Cristo, presente em nós. A «união permanente com Jesus» (Diário, 2 Janeiro de 1867) foi o seu caminho de santidade. «Deixemos viver em nós Nosso Senhor. Ele continua a viver na terra em cada um dos seus membros» (Diário, 25 de Abril de 1867). Esta união íntima com Cristo, como vara unida à cepa, era a sua vida e a força do seu apostolado.

    Oratio

    Obrigado, Senhor, pela tua presença, de tantos modos, no meio de nós. Posso encontrar-te na Palavra, na Eucaristia, na comunidade fraterna, na hierarquia da Igreja, no necessitado, e também na tua presença cósmica, que agora enche o universo. Posso viver na alegria da liberdade porque estou repleto da tua presença. Posso dar testemunho corajoso de Ti, porque o teu Espírito é a minha força.
    Perdoa-me, porque nem sempre vivo e actuo consciente desta realidade. Perdoa-me porque não Te dou suficientes graças por ela. Perdoa-me porque não me empenho suficientemente na missão, temendo o fracasso.
    Dá-me um coração atento às necessidades dos meus irmãos, especialmente à necessidade de Ti. Ajuda-me a levar a todos a tua alegria e a tua paz, para que esses dons da tua Ressurreição também possam crescer em mim. Amen.

    Contemplatio

    «Chorareis e gemereis». - «O vosso coração encheu-se de tristeza», diz Nosso Senhor aos seus apóstolos. Anunciou-lhes, de facto, acontecimentos bem tristes: a sua partida para o céu, a sua morte próxima, a traição de Judas, a negação de Pedro. Estão tristes e acabrunhados. Consola-os e anuncia-lhes que voltará.
    Temos também as nossas tristezas: A ausência de Nosso Senhor que por vezes deixa a nossa alma na obscuridade e na aridez, - os nossos pecados passados, que se representam à nossa memória. - O perigo contínuo de pecar e a nossa fraqueza, que nos é conhecida, - os escândalos que reinam no mundo, - as mágoas e provações desta vida.
    Suportemos estas provas com coragem. Os filhos de Deus guardam a serenidade nas suas mágoas. Oferecem-nas a Deus, unem-nas aos sofrimentos do Coração de Jesus, e tornam-se-lhes leves. Oferecem-nas para a reparação, pela expiação dos seus pecados e dos do mundo. Se são fervorosos, vão até ao ponto de se alegrarem levando a cruz com Jesus.
    «A vossa tristeza mudar-se-á em alegria». - Esta promessa devia ter cumprimento próximo para os apóstolos. Três dias, e eles veriam Jesus ressuscitado. Poderiam apalpar as feridas das suas mãos e do seu coração. Vê-lo-iam muitas vezes durante quarenta dias. Depois um outro consolador viria enchê-los de uma alegria sobrenatural, de uma alegria que ultrapassa todas as deste mundo, é o Espírito Santo, o grande dom do Coração de Jesus. E alguns anos mais tarde seria o triunfo do martírio e a entrada triunfal no céu.
    Para nós também, a alegria sucederá à tristeza. A tristeza das nossas almas culpadas apaga-se, quando nós quisermos, pelo arrependimento e pela penitência. A tristeza da aridez e da provação passa bastante rapidamente; Jesus não estava longe e volta.
    Há uma santa tristeza, a que vem de um coração penitente; esta é acompanhada por uma real doçura que nos faz conhecer que Deus é o seu autor.
    O mesmo se passa com aquela que tem por causa os pecados do mundo. Esta tristeza é agradável a Deus o qual no-la inspira.
    A tristeza que vem do sofrimento, da doença ou dos acidentes da vida é de ordem natural, mas pode ser santificada pela virtude da paciência e do sacrifício.
    A tristeza do mundo, pelo contrário, não tem remédio, e a sua alegria não é sã. O mundo alegra-se com os prazeres maus e a sua alegria termina na amargura.
    Senhor, mudai a minha tristeza em alegria pelo dom do arrependimento, do sacrifício, do espírito de imolação e de reparação. (Leão Dehon, OSP 4, p. 466s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A vossa tristeza há-de converter-se em alegria!» (Jo 16, 20).

  • 6ª Semana - Sábado - Páscoa

    6ª Semana - Sábado - Páscoa

    11 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 18, 23-28

    23Depois de ter passado algum tempo em Antioquia, Paulo voltou a partir e percorreu sucessivamente a Galácia e a Frígia, fortalecendo todos os discípulos. 24Entretanto, chegara a Éfeso um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e muito versado nas Escrituras. 25Fora instruído na «Via» do Senhor e, com o espírito cheio de fervor, pregava e ensinava com precisão o que dizia respeito a Jesus, embora só conhecesse o baptismo de João. 26Começou a falar desassombradamente na sinagoga. Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram- no consigo e expuseram-lhe, com mais precisão, a «Via» do Senhor. 27Como ele queria partir para a Acaia, os irmãos encorajaram-no e escreveram aos discípulos, para que o recebessem amigavelmente. Quando lá chegou, pela graça de Deus, prestou grande auxílio aos fiéis; 28pois refutava energicamente os judeus, em público, demonstrando pelas Escrituras que Jesus era o Messias.

    Paulo prossegue a sua viagem missionária pela Galácia e pela Frigia. Os seus companheiros, Priscila e Áquila, ficam em Éfeso, onde conhecem Apolo, notável pregador, teólogo e missionário que, todavia, não tinha uma boa formação cristã. A sua pregação sobre Jesus era incompleta. E é o casal amigo de Paulo que lhe expõe «com mais precisão, a «Via» do Senhor» (v. 26). É interessante esta intervenção de dois leigos, em relação a um teólogo missionário com a envergadura de Apolo. Toda a Igreja participa na obra da evangelização, cada um com os seus limites, mas sempre com o apoio e as achegas dos irmãos. Apolo, uma vez «actualizado» vai dar um contributo notável para o enraizamento da fé na Grécia.

    Evangelho: Jo 16, 23b-28

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 23Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará. 24Até agora não pedistes nada em meu nome; pedi e recebereis. Assim, a vossa alegria será completa.» 25«Até aqui falei-vos por meio de comparações. Está a chegar a hora em que já não vos falarei por comparações, mas claramente vos darei a conhecer o que se refere ao Pai. 26Nesse dia, apresentareis em meu nome os vossos pedidos ao Pai, e não vos digo que rogarei por vós ao Pai, 27pois é o próprio Pai que vos ama, porque vós já me tendes amor e já credes que Eu saí de Deus. 28Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e vou para o Pai.»

    Os discípulos não estavam acostumados a rezar em nome de Jesus (v. 24). A vinda do Espírito Santo inaugura um tempo novo no qual poderão dirigir-se ao Pai em nome de Jesus, porque o seu Senhor, em força da sua passagem para o Pai, se tornou verdadeiro mediador entre Deus e os homens.
    Depois, Jesus lança um olhar ao passado, para dizer que se serviu de palavras e imagens, que encerravam um significado profundo, que nem sempre os discípulos podiam compreender. Mas, de futuro, depois da páscoa, as suas palavras serão compreendidas e atingirão o íntimo dos corações, graças à intervenção do Espírito Santo.
    A oração será o «lugar» onde os discípulos conhecerão a relação profunda que existe entre Jesus e o Pai, e de Jesus e do Pai com eles. O perfeito entendimento no amor e na fé com Jesus, fará com que a oração dos discípulos seja feita de modo conveniente e, por isso, aceite pelo Pai.

    Meditatio

    «Pedi e recebereis... a vossa alegria será completa». Estas palavras de Jesus mostram-nos o seu amor por nós. Ele está disposto a dar-nos tudo o que desejamos. Só temos que apresentar os nossos pedidos ao Pai, em seu nome. E garante-nos que Pai nos ama, porque nós amamos a Ele, Jesus, e acreditamos que Ele saiu de Deus (cf. v. 27).
    «Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e vou para o Pai», afirma Jesus (v. 28).
    Jesus volta para o Pai, levando-nos com Ele. Assim, a nossa oração de súplica é uma entrada no amor recíproco do Pai e do Filho. O que pedimos ao Pai é-nos concedido em nome do Filho. E nós devemos pedir em nome do Filho, porque Ele está junto do Pai, vivo a interceder por nós. O Pai escuta-nos, mas também o Filho nos escuta: «O que me pedirdes, Eu o farei». Estamos envolvidos no amor do Pai e do Filho. É essa a nossa alegria.
    Esta página de João provoca-me: porque alcanço tão pouco? Porque sou tão pouco eficaz? Porque é que a minha alegria é tão raramente plena? Mais: como é que o mistério da união do Filho com o Pai me atrai tão pouco? Como é que sinto tão pouco o poder de Deus na minha acção? Não estarão os meus olhos demasiadamente voltados para a realidade deste mundo e pouco voltados para o mistério de Deus, para o amor do Pai para com o Filho e do Filho para com os discípulos? O olhar para o mundo é certamente necessário; mas não me ajudará a salvá-lo, se não o olhar com os olhos e com o coração do Pai que deu o Filho para salvar o mundo e quer envolver-nos nessa aventura decisiva. O olhar de Deus levar-me-á a ver as necessidades muitas vezes escondidas das pessoas e a encontrar, para elas, não só remédio humano, mas também remédio divino, a alegria completa de lhes apresentar o amor que tudo redime.
    A oração perene tem a sua fonte na oração de intimidade, que é a experiência pessoal do amor de Deus: sentir-se amados e possuídos por Ele. É a oração contemplativa. E se o meu problema central fosse um défice de contemplação? A amorosa contemplação das relações intra-trinitárias, e a contemplação do mistério de Cristo, particularmente do seu Lado aberto e do seu Coração trespassado, é para nós um chamamento à confiança, ao abandono, à oblação. Ao mesmo tempo, é uma poderosa fonte de força para o nosso apostolado. Contemplando o amor oblativo de Deus, sentimo-nos estimulados a vivê-lo, não só na relação com Deus, mas também na relação com os nossos irmãos.

    Oratio

    Ó Jesus: Tu ensinas-me a pedir em teu nome, a fazer minha a tua causa, a ver o mundo com os teus olhos, e dar-me como Tu te deste ao Pai pelos homens. Como estou longe de tudo isso! É por essa razão que tantas vezes me sinto desiludido na minha oração, e desanimo no meu apostolado e no serviço aos meus irmãos.
    Olha, Jesus, com piedade, as minhas veleidades em Te servir. Vem ao encontro das minhas ilusórias esperanças de gratificação. Ampara-me, purifica-me.

    Dá-me um coração semelhante ao teu. Dá-me o impulso desinteressado do teu amor. Ajuda-me a amar Contigo e como Tu. Amen.

    Contemplatio

    O encorajamento à oração é um dos primeiros ensinamentos do Sermão da montanha.
    Nosso Senhor rezava muito. Juntava o exemplo às suas exortações. Retirava-se para a solidão para rezar. Passava lá muitas vezes a noite. Passou quarenta dias no deserto a rezar.
    Rezava por nós; rezava também para nos dar o exemplo da oração. Muitas vezes recomendava-a aos seus discípulos. Dizia-lhes como é preciso rezar sempre e sem cessar.
    A fim de lhes mostrar como a perseverança na oração é eficaz para obter o que se pede, propunha-lhes a parábola do juiz e da viúva.
    A pobre viúva viera várias vezes pedir justiça, mas em vão. No fim, o juiz diz para consigo mesmo: «Se bem que eu não queira saber nem de Deus nem dos homens, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, com receio que no fim ela não venha fazer-me alguma afronta».
    Pensais, acrescentava o Salvador, que Deus não fará justiça aos seus eleitos que clamam para Ele de dia e de noite?
    Propunha-lhes também este outro exemplo do amigo o qual pela sua importunidade pede ao seu amigo que lhe empreste os pães de que tem necessidade (Lc 11).
    Encorajava a sua confiança dizendo-lhe: «Pedi e recebereis» (Leão Dehon, OSP 3, p. 69).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Pedi e recebereis... a vossa alegria será completa». (Jo 16, 24).

plugins premium WordPress