Liturgia

Week of Jun 12th

  • Solenidade da Santíssima Trindade - Ano C

    Solenidade da Santíssima Trindade - Ano C


    12 de Junho, 2022

    ANO C
    SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

    Tema da Solenidade da Santíssima Trindade

    A Solenidade que hoje celebrámos não é um convite a decifrar a mistério que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
    A primeira leitura sugere-nos a contemplação do Deus criador. A sua bondade e o seu amor estão inscritos e manifestam-se aos homens na beleza e na harmonia das obras criadas (Jesus Cristo é “sabedoria” de Deus e o grande revelador do amor do Pai).
    A segunda leitura convida-nos a contemplar o Deus que nos ama e que, por isso, nos “justifica”, de forma gratuita e incondicional. É através do Filho que os dons de Deus/Pai se derramam sobre nós e nos oferecem a vida em plenitude.
    O Evangelho convoca-nos, outra vez, para contemplar o amor do Pai, que se manifesta na doação e na entrega do Filho e que continua a acompanhar a nossa caminhada histórica através do Espírito. A meta final desta “história de amor” é a nossa inserção plena na comunhão com o Deus/amor, com o Deus/família, com o Deus/comunidade.

    LEITURA I – Prov 8,22-31

    Leitura do Livro dos Provérbios

    Eis o que diz a Sabedoria de Deus:
    «O Senhor me criou como primícias da sua actividade,
    antes das suas obras mais antigas.
    Desde a eternidade fui formada,
    desde o princípio, antes das origens da terra.
    Antes de existirem os abismos e de brotarem as fontes das águas,
    já eu tinha sido concebida.
    Antes de se implantarem as montanhas e as colinas,
    já eu tinha nascido;
    ainda o Senhor não tinha feito a terra e os campos,
    nem os primeiros elementos do mundo.
    Quando Ele consolidava os céus,
    eu estava presente;
    Quando traçava sobre o abismo a linha do horizonte,
    quando condensava as nuvens nas alturas,
    quando fortalecia as fontes dos abismos,
    quando impunha ao mar os seus limites
    para que as águas não ultrapassassem o seu termo,
    quando lançava os fundamentos da terra,
    eu estava a seu lado como arquitecto,
    cheia de júbilo, dia após dia,
    deleitando-me continuamente na sua presença.
    Deleitava-me sobre a face da terra
    e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens».

    AMBIENTE

    O Livro dos Provérbios apresenta uma colecção de “ditos”, de “sentenças”, de “máximas”, de “provérbios” (“mashal”), onde se cristaliza o resultado da reflexão e da experiência (“sabedoria”) dos “sábios” antigos (israelitas e alguns não israelitas), empenhados em definir as regras para viver bem, para ter êxito, para ser feliz. Alguns dos materiais aí apresentados podem ser do séc. X a. C.; outros, no entanto, são bem mais recentes.
    O texto que nos é hoje proposto faz parte de um bloco de “instruções” e “advertências” que vai de 1,8 a 9,6. Trata-se da parte mais recente do “Livro dos Provérbios” (segundo os especialistas, não pode ser anterior ao séc. IV ou III a. C.).
    O capítulo 8 do “Livro dos Provérbios” (do qual é retirado o texto que hoje nos é proposto) apresenta-nos um discurso posto na boca da própria “sabedoria”, como se ela fosse uma pessoa: trata-se de um artifício literário, através do qual o autor pretende dar força e intensidade dramática ao convite que ele lança no sentido de acolher e amar a “sabedoria”. Na primeira parte desse discurso (vers. 1-11), o autor apresenta o “púlpito” de onde a “sabedoria” vai discursar (o cume das montanhas, a encruzilhada dos caminhos, as entradas das cidades, os umbrais das casas), os destinatários da mensagem (todos os homens) e apela à escuta das palavras que ela vai pronunciar; na segunda parte (vers. 12-21), o autor apresenta as “credenciais” da “sabedoria” (ela possui a ciência, a reflexão, o conselho, a equidade, a força) e o prémio reservado àqueles que a acolhem; na terceira parte (vers. 8,22-31) – que é a que nos interessa directamente – o autor reflecte sobre a origem da sabedoria e a sua função no plano de Deus.

    MENSAGEM

    Em primeiro lugar, diz-se que a “sabedoria” tem origem em Deus. O autor do texto põe na boca da “sabedoria” a forma hebraica “qânâny” (“gerou-me”) para expressar a responsabilidade de Deus na origem da “sabedoria” (vers. 22).
    Afirma também que ela é a primeira das obras de Deus. Antes de serem lançadas as estruturas do cosmos, a “sabedoria” já existia (vers. 24-29); mais, ela estava lá, tendo um papel interveniente na criação: no vers. 30, a “sabedoria” é apresentada como “arquitecto” (“amon”), isto é, como assistente activo de Deus na obra criadora (embora certas versões antigas leiam como “amun” – “criança” – o que sugere a ideia da “sabedoria” como uma “criança” feliz que brinca e se deleita no meio da obra criada).
    Em terceiro lugar, a “sabedoria” afirma que o seu interesse e deleite é estar “junto dos filhos dos homens” (vers. 31): ela dirige-se aos homens e o seu objectivo é “ser para os homens”. Ela desempenha, portanto, um papel em favor dos homens.
    Qual é esse papel? A perícopa está dominada por três palavras, que aparecem no princípio, no meio e no fim: “Jahwéh” (vers. 22), “sabedoria” (“eu” – vers. 30) e “homens” (vers. 31). Esta “coluna vertebral” revela, desde já, o objectivo do autor do texto: ao dizer que a “sabedoria” tem origem em Jahwéh, está em íntima relação com Deus e se destina aos homens, está a sugerir-se que ela tem a capacidade de pôr os homens em relação e contacto com Deus. Através dessa realidade criada que a “sabedoria” viu nascer, ela espevita a inteligência dos homens, leva-os a Deus, atrai-os para Deus. A “sabedoria”, presente desde sempre na criação, revela aos homens a grandeza e o amor do Deus criador.
    A tradição judaica acabará por identificar esta “sabedoria” com a Torah (cf. Ba 3,38-4,1; Pirkê Rabbí Eliezer, III, 2). Por outro lado, os autores neo-testamentários, conhecedores dos livros sapienciais, atribuirão a Jesus algumas das características que este texto atribui à “sabedoria”: Paulo chama a Jesus “sabedoria” e “sabedoria de Deus” (cf. 1 Cor 1,24.30); considera também que Jesus, como a “sabedoria” de Prov 8, existe antes de todas as coisas e desempenhou um papel privilegiado na criação do mundo (cf. Col 1,16-17); por sua vez, o “prólogo” do Quarto Evangelho atribui ao “Lógos”/Jesus os traços da “sabedoria” criadora de Prov 8 (diz que Jesus é anterior à criação – cf. Jo 1,1) e que Ele deu existência a todas as obras criadas – cf. Jo 1,3).
    Os Padres da Igreja verão nesta “sabedoria”, pré-criada e anterior à restante obra de Deus, traços de Jesus Cristo ou do Espírito Santo.

    ACTUALIZAÇÃO

    Ter em conta, na reflexão, os seguintes desenvolvimentos:

    • A referência ao Deus que tudo criou para nós com sabedoria faz-nos pensar num Pai providente e cuidadoso, que tem um projecto bem definido para os homens e para o mundo. Contemplar a criação é descobrir, na beleza e na harmonia das obras criadas, esse Pai cheio de bondade e de amor. Somos capazes de nos sentirmos “provocados” pela criação de forma que, através dela, descubramos o amor e a bondade de Deus?

    • Olhando para a obra de Deus, aprendemos que o homem não é um concorrente de Deus, nem Deus um adversário do homem. Ao homem compete reconhecer o poder e a grandeza de Deus e entregar-se, confiante, nas mãos desse Pai que tudo criou com cuidado e que tudo nos entrega com amor. Entregamo-nos nas mãos d’Ele, não como adversários, mas como crianças que confiam incondicionalmente no seu pai?

    • O desenvolvimento desordenado e a exploração descontrolada dos recursos da natureza põem em causa a harmonia desse “mundo bom” que Deus criou e que nos confiou. Temos o direito de pôr em causa, por egoísmo, a obra de Deus?

    • A contemplação da obra criada leva ao espanto e ao louvor. Somos capazes de nos extasiarmos diante das coisas que Deus nos oferece e de deixarmos que a nossa admiração se derrame em louvor e agradecimento?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 8

    Refrão: Como sois grande em toda a terra,
    Senhor, nosso Deus!

    Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos,
    a lua e as estrelas que lá colocastes,
    que é o homem para que Vos lembreis dele,
    o filho do homem para dele Vos ocupardes?

    Fizestes dele quase um ser divino,
    de honra e glória o coroastes;
    destes-lhes poder sobre a obra das vossas mãos,
    tudo submetestes a seus pés:

    Ovelhas e bois, todos os rebanhos,
    e até os animais selvagens,
    as aves do céu e os peixes do mar,
    tudo o que se move nos oceanos.

    LEITURA II – Rom 5,1-5

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos

    Irmãos:
    Tendo sido justificados pela fé,
    estamos em paz com Deus,
    por Nosso Senhor Jesus Cristo,
    pelo qual temos acesso, na fé,
    a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos,
    apoiados na esperança da glória de Deus.
    Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações,
    porque sabemos que a tribulação produz a constância,
    a constância a virtude sólida,
    a virtude sólida a esperança.
    Ora a esperança não engana,
    porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações
    pelo Espírito Santo que nos foi dado.

    AMBIENTE

    Quando Paulo escreve aos romanos, está a terminar a sua terceira viagem missionária e prepara-se para partir para Jerusalém. Tinha terminado a sua missão no oriente (cf. Rom 15,19-20) e queria levar o Evangelho ao ocidente. Sobretudo, Paulo aproveita a carta para contactar a comunidade de Roma e apresentar aos romanos e a todos os crentes os principais problemas que o ocupavam (entre os quais sobressaía a questão da unidade – um problema bem presente na comunidade de Roma, afectada por alguma dificuldade de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos). Estamos no ano 57 ou 58.
    Paulo aproveita, então, para sublinhar que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Depois de notar que todos os homens vivem mergulhados no pecado (cf. Rom 1,18-3,20), Paulo acentua que é a “justiça de Deus” que dá vida a todos sem distinção (cf. Rom 3,1-5,11). Neste texto, que a segunda leitura de hoje nos propõe, Paulo refere-se à acção de Deus, por Cristo e pelo Espírito, no sentido de “justificar” todo o homem.

    MENSAGEM

    Paulo parte da ideia de que todos os crentes – judeus, gregos e romanos – foram justificados pela fé. Que significa isto?
    Na linguagem bíblica, a justiça é, mais do que um conceito jurídico, um conceito relacional. Define a fidelidade a si próprio, à sua maneira de ser e aos compromissos assumidos no âmbito de uma relação. Ora, se Jahwéh Se manifestou na história do seu Povo como o Deus da bondade, da misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo não significa dizer que Ele aplica os mecanismos legais quando o homem infringe as regras; significa, sim, que a bondade, a misericórdia, o amor, próprios do “ser” de Deus, se manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correcto no seu proceder. Paulo, ao falar do homem justificado, está a falar do homem pecador que, por exclusiva iniciativa do amor e da misericórdia de Deus, recebe um veredicto de graça que o salva do pecado e lhe dá, de modo totalmente gratuito, acesso à salvação. Ao homem é pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma graça que não depende dos seus méritos e que se entregue completamente nas mãos de Deus. Este homem, objecto da graça de Deus, é uma nova criatura (cf. Gal 6,15): é o homem ressuscitado para a vida nova (cf. Rom 6,3-11), que vive do Espírito (cf. Rom 8,9.14), que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo (cf. Rom 8,17; Gal 4,6-7).
    Quais os frutos que resultam deste acesso à salvação que é um dom de Deus? Em primeiro lugar, a paz (vers. 1). Esta paz não deve ser entendida em sentido psicológico (tranquilidade, serenidade), mas no sentido teológico semita de relação positiva com Deus e, portanto, de plenitude de bens, já que Deus é a fonte de todo o bem.
    Em segundo lugar, a esperança (vers. 2-4). Trata-se desse dom que nos permite superar as dificuldades e a dureza da caminhada, apontando a um futuro glorioso de vida em plenitude. Não se trata de alimentar um optimismo fácil e irresponsável, que permita a evasão do presente; trata-se de encontrar um sentido novo para a vida presente, na certeza de que as forças da morte não terão a última palavra e que as forças da vida triunfarão.
    Em terceiro lugar, o amor de Deus ao homem (vers. 5-8). O cristão é, fundamentalmente, alguém a quem Deus ama. Como prova desse amor que age em nós através do Espírito, está Jesus de Nazaré a quem Deus “entregou à morte por nós quando ainda éramos pecadores”.
    Tudo aquilo que enche a vida do crente, que lhe dá sentido, é um dom de Deus Pai que, através de Jesus, demonstra o seu amor e que, pelo Espírito, derrama continuamente esse amor sobre nós.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão da Palavra, considerar as seguintes coordenadas:

    • Na Solenidade da Santíssima Trindade, somos convidados a contemplar o amor de um Deus que nunca desistiu dos homens e que sempre soube encontrar formas de vir ao nosso encontro, de fazer caminho connosco. Apesar de os homens insistirem, tantas vezes, no egoísmo, no orgulho, na auto-suficiência, no pecado, Deus continua a amar e a fazer-nos propostas de vida. Trata-se de um amor gratuito e incondicional, que se traduz em dons não merecidos, mas que, uma vez acolhidos, nos conduzem à felicidade plena.

    • A vinda de Jesus Cristo ao encontro dos homens é a expressão plena do amor de Deus e o sinal de que Deus não nos abandonou nem esqueceu, mas quis até partilhar connosco a precariedade e a fragilidade da nossa existência para nos mostrar como nos tornarmos “filhos de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.

    • A presença do Espírito acentua no nosso tempo – o tempo da Igreja – essa realidade de um Deus que continua presente e actuante, derramando o seu amor ao longo do caminho que dia a dia vamos percorrendo e impelindo-nos à renovação, à transformação, até chegarmos à vida plena do Homem Novo.

    • Está em moda uma certa atitude de indiferença face a Deus, ao seu amor e às suas propostas. Em geral, os homens de hoje preocupam-se mais com os resultados da última jornada do campeonato de futebol, ou com as últimas peripécias da “telenovela das nove” do que com Deus ou com o seu amor. Não será tempo de redescobrirmos o Deus que nos ama, de reconhecermos o seu empenho em conduzir-nos rumo à felicidade plena e de aceitarmos essa proposta de caminho que Ele nos faz?

    ALELUIA – cf. Ap 1,8

    Aleluia. Aleluia.

    Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
    ao Deus que é, que era e que há-de vir.

    EVANGELHO – Jo 16,12-15

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos seus discípulos:
    «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer,
    mas não as podeis compreender agora.
    Quando vier o Espírito da verdade,
    Ele vos guiará para a verdade plena;
    porque não falará de Si mesmo,
    mas dirá tudo o que tiver ouvido
    e vos anunciará o que está para vir.
    Ele Me glorificará,
    porque receberá do que é meu
    e vo-lo anunciará.
    Tudo o que o Pai tem é meu.
    Por isso vos disse
    que Ele receberá do que é meu
    e vo-lo anunciará».

    AMBIENTE

    Estamos no contexto da última ceia e do discurso de despedida que antecede a “hora” de Jesus.
    Depois de constituir a comunidade do amor e do serviço (cf. Jo 13,1-17) e de apresentar o mandamento fundamental que deve dar corpo à vida dessa comunidade (cf. Jo 15,9-17), Jesus vai definir a missão da comunidade no mundo: testemunhar acerca de Jesus, com a ajuda do Espírito (cf. Jo 15,26-27).
    Jesus avisa, no entanto, que o caminho do testemunho deparará com a oposição decidida da religião estabelecida e dos poderes de morte que dominam o mundo (cf. Jo 16,1-4a); mas os discípulos contarão com o Espírito: Ele ajudá-los-á e dar-lhes-á segurança no meio da perseguição (cf. Jo 16,8-11). De resto, a comunidade em marcha pela história encontrar-se-á muitas vezes diante de circunstâncias históricas novas, diante das quais terá de tomar decisões práticas: também aí se verá a presença do Espírito, que ajudará a responder aos novos desafios e a interpretar as circunstâncias à luz da mensagem de Jesus (cf. Jo 16,12-15).

    MENSAGEM

    O tema fundamental desta leitura tem, portanto, a ver com a ajuda do Espírito aos discípulos em caminhada pelo mundo.
    Jesus começa por dizer aos discípulos que há muitas outras coisas que eles não podem compreender de momento (vers. 12). Será o “Espírito da verdade” que guiará os discípulos para a verdade, que comunicará tudo o que ouvir a Jesus e que interpretará o que está para vir (vers. 13). Isto significa que Jesus não revelou tudo o que havia para revelar ou que a sua proposta de salvação/libertação ficou incompleta?
    De forma nenhuma. As palavras de Jesus acerca da acção do Espírito referem-se ao tempo da existência cristã no mundo, ao tempo que vai desde a morte de Jesus até à “parusia”. Como será possível aos discípulos, no tempo da Igreja, continuar a captar, na fé, a Palavra de Jesus e a guiar a vida por ela? A resposta de Jesus é: “pelo Espírito da verdade, que fará com que a minha proposta continue a ecoar todos os dias na vida da comunidade e no coração de cada crente; além disso, o Espírito ensinar-vos-á a entender a nova ordem que se segue à cruz e à ressurreição e a discernir, a partir das circunstâncias concretas diante das quais a vida vos vai colocar, como proceder para continuar fiel às minhas propostas”. O Espírito não apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a Palavra de Jesus seja sempre a referência da comunidade em caminhada pelo mundo e que essa comunidade saiba aplicar a cada circunstância nova que a vida apresentar, a proposta de Jesus.
    Aonde irá o Espírito buscar essa verdade que vai transmitir continuamente aos discípulos? A resposta é: ao próprio Jesus (“receberá do que é meu e vo-lo anunciará” – vers. 14). Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia com os discípulos, comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. Tal é a função do Espírito: realizar a comunhão entre Jesus e os discípulos em marcha pela história.
    A última expressão deste texto (vers. 15) sublinha a comunhão existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus e tornado realidade na vida da Igreja, por acção do Espírito.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar os seguintes desenvolvimentos:

    • O Espírito aparece, aqui, como presença divina na caminhada da comunidade cristã, como essa realidade que potencia a fidelidade dinâmica dos crentes às propostas que o Pai, através de Jesus, fez aos homens. A Igreja de que fazemos parte tem sabido estar atenta, na sua caminhada histórica, às interpelações do Espírito? Ela tem procurado, com a ajuda do Espírito, captar a Palavra eterna de Jesus e deixar-se guiar por ela? Tem sabido, com a ajuda do Espírito, continuar em comunhão com Jesus? Tem-se esforçado, com a ajuda do Espírito, por responder às interpelações da história e por actualizar, face aos novos desafios que o mundo lhe coloca, a proposta de Jesus?

    • Sobretudo, somos convidados a contemplar o mistério de um Deus que é amor e que, através do plano de salvação/libertação do Pai, tornado realidade viva e humana em Jesus, e continuado pelo Espírito presente na caminhada dos crentes, nos conduz para a vida plena do amor e da felicidade total – a vida do Homem Novo, a vida da comunhão e do amor em plenitude.

    • A celebração da Solenidade da Trindade não pode ser a tentativa de compreender e decifrar essa estranha charada de “um em três”. Mas deve ser, sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto, comunidade. Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas numa família – pai, mãe e filho – é afirmar três deuses e é negar a fé; inversamente, dizer que o Pai, o Filho e o Espírito são três formas de apresentar o mesmo Deus, como três fotografias do mesmo rosto, é negar a distinção das três pessoas e é, também, negar a fé. A natureza divina de um Deus amor, de um Deus família, de um Deus comunidade, expressa-se na nossa linguagem imperfeita das três pessoas. O Deus família torna-se trindade de pessoas distintas, porém unidas. Chegados aqui, temos de parar, porque a nossa linguagem finita e humana não consegue “dizer” o mistério de Deus.

    • As nossas comunidades cristãs são, realmente, a expressão desse Deus que é amor e que é comunidade – onde a unidade significa amor verdadeiro, que respeita a identidade e a especificidade do outro, numa experiência verdadeira de amor, de partilha, de família, de comunidade?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Santíssima Trindade, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. DAR LUGAR AO SILÊNCIO.
    É sempre difícil falar da Trindade, de explicá-la, de descrevê-la… Daí a importância de prever algum (ou alguns) momento forte de interiorização e de adoração durante a celebração: depois da homilia… depois da comunhão… Dar espaço ao silêncio para que a Trindade ecoe em nós.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Deus eterno, Pai e criador de todo o universo, contemplamos o céu, a terra, os oceanos e todas as suas maravilhas, onde vemos a obra admirável da tua Sabedoria. Por todas as tuas obras, nós Te bendizemos.
    Nós Te confiamos as nossas inquietações quanto ao futuro da tua criação e ao equilíbrio da natureza, que as nossas técnicas violentas já muito perturbaram.

    No final da segunda leitura:
    Pai, nós Te damos graças pelos dons incomparáveis com que nos gratificaste: a justiça, a paz, a fé, a esperança e, sobretudo, o teu amor, que derramaste nos nossos corações pelo Espírito Santo que Tu nos deste.
    Nós Te pedimos pela unidade das Igrejas, outrora quebrada por diferentes compreensões da justificação. Ilumina-nos com o teu Espírito.

    No final do Evangelho:
    Deus fiel, Pai revelado pelo teu Filho no teu Espírito, nós Te damos graças, porque nos introduzes na comunhão da tua glória e na verdade do teu amor.
    Nós Te pedimos: Deus, Espírito de verdade, guia-nos para a verdade completa e dá-nos a força de levar as mensagens do Evangelho.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    O pintor crente Roublev tentou mostrar, numa troca de olhares, a relação de amor que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito: quando o Pai e o Filho se olham, cada um guarda a sua personalidade e revela ao mesmo tempo a personalidade do outro, e esta relação de amor faz existir o Espírito que olha o Pai e o Filho, eles próprios deixando-se olhar, olhando ao mesmo tempo o Espírito de Amor que faz a sua unidade. Muitas vezes basta um olhar para dizer muitas coisas, basta um olhar para dar de novo esperança, confiança e vida, basta um olhar para dizer “amo-te!” e ouvir dizer em eco: “amo-te!” A Trindade é um intercâmbio de “amo-te!” Há unidade e, ao mesmo tempo, personalidades diferentes: cada um diz “amo-te!” e pode acrescentar “eu sou amado!” Tal é o segredo da sua existência e da sua eternidade. Mistério! Não por ser incompreensível, mas por, sem cessar, merecer ser melhor compreendido. E a Trindade não é o único mistério, a humanidade também o é, porque criada à imagem de Deus, homens e mulheres capazes de dizer “amo-te!” e capazes de dizer “eu sou amado!”

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Esta passagem de São João retoma o que Jesus nos dizia domingo passado na Solenidade do Pentecostes sobre o Espírito de verdade que nos guiará para a verdade total… É o Espírito que nos dará a força para a compreender. Domingo passado, reflectimos sobre a verdade que o Espírito Santo desvela progressivamente, ao longo da história da Igreja. Hoje, estamos atentos ao facto de a verdade do Evangelho nos atingir enquanto seres em crescimento de humanidade e de fé. Ora a fé, contrariamente ao que por vezes se imagina, não é uma luz que cega. Ela é uma espécie de luz obscura, uma confiança dada na noite. Ela implica um salto no desconhecido. Isto verifica-se particularmente a propósito do mistério da Santíssima Trindade. A palavra não se encontra na Bíblia, mas a realidade que quer exprimir está muito presente no ensino de Jesus. Assim, hoje, vemos com que insistência Jesus fala de seu Pai e do Espírito de verdade. Jesus diz, o mais explicitamente possível, que entre o Pai, o Espírito e Ele tudo é comum… Deus que é Pai, Filho e Espírito, Deus Único mas não solitário, Deus comunhão eterna de Amor infinito no mais profundo do seu mistério, é a pedra angular da fé cristã, a diferença, sem dúvida, fundamental em relação às outras concepções de Deus. O nosso acto de fé é aqui decisivo e determina se somos verdadeiramente “de Cristo”. “Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé”.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística IV, que traça todo o plano de salvação, da criação à vinda de Cristo, e situa-o sob o signo da Aliança que é comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    Mergulhar no coração do mistério… Uma festa para celebrar a relação de Amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Um mistério imenso que ultrapassa as nossas concepções humanas e no qual somos convidados a entrar. Durante a próxima semana podemos dedicar um tempo à oração, à contemplação, para nos deixarmos mergulhar no coração deste mistério de Amor da Trindade… e um tempo para recentrar de novo as nossas vidas de baptizados: a vida, o amor, a paz, o serviço… passam livremente através de nós? Ou estamos desgarrados do conjunto?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    scj.lu@netcabo.pt – www.ecclesia.pt/dehonianos

  • S. António de Lisboa, Presbítero e Doutor da Igreja

    S. António de Lisboa, Presbítero e Doutor da Igreja


    13 de Junho, 2022

    S. António nasceu em Lisboa, em 1195. No batismo, recebeu o nome de Fernando. Em 1210 entrou para os Cónegos Regulares de S. Agostinho, no mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa. Dois anos depois, desejando uma vida mais recolhida, transferiu-se para o Mosteiro de S. Cruz, em Coimbra. Ordenado sacerdote, em 1220, ao ver os restos mortais dos primeiros mártires franciscanos, mortos em Marrocos, sentiu um novo apelo vocacional e mudou-se para a Ordem dos Frades Menores, tomando o nome de António. Em 1221 participou no "Capítulo das Esteiras", junto à Porciúncula, e viu Francisco de Assis. Depois de alguns anos no escondimento e na oração, começou a pregar com grande sucesso e frutos. Converteu hereges em Itália e em França. Morreu aos 33 anos de idade, perto de Pádua, onde foi sepultado. No dia do Pentecostes de 1232, um ano depois da sua morte, foi canonizado pelo Papa Gregório IX.

    Lectio

    Primeira leitura: Sir 39, 8-14 (gr. 6-11)

    Aquele que medita na lei do Altíssimo, for a vontade do Soberano Senhor, ele será repleto do espírito de inteligência; então, ele derramará, como chuva, as palavras da sabedoria; e louvará o Senhor, na sua oração. 7Possuirá a rectidão do julgamento e da ciência e ele meditará nos mistérios de Deus. 8Ensinará ele próprio a doutrina que aprendeu e porá a sua glória na Lei da Aliança do Senhor. 9Muitos louvarão a sua sabedoria, que jamais ficará no esquecimento. A sua recordação não desaparecerá e o seu nome viverá de geração em geração. 10As nações proclamarão a sua sabedoria, a assembleia publicará o seu louvor.

    Segundo o Ben Sirá, o sábio adquire a sabedoria não apenas pelo estudo, pela tradição e pela experiência pessoal, mas sobretudo pelas súplicas e pela oração. Se o Altíssimo o quiser, o sábio ver-se-á gratuita e copiosamente cheio do dom da inteligência, de maneira que ele mesmo se possa converter em fonte de sabedoria para os outros. Isto levá-lo-á a dar graças a Deus. Graças à sabedoria recebida de Deus, o sábio saberá conduzir-se retamente e poderá aprofundar, na oração, os mistérios divinos. Ver-se-á capacitado para instruir os outros e a sua glória será a aliança do Senhor. Como recompensa do seu ministério, o sábio receberá o elogio dos seus contemporâneos, e das gerações sucessivas, incluindo os pagãos: nunca esquecerão a sua inteligência e a sua fama transmitir-se-á de geração em geração.

    Evangelho: Mateus 5, 13-19
    Naquele tempo, disse Jesusaos seus discípulos: "Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. 14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; 15nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. 16Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.» 17«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. 18Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra. 19Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu.

    Dois provérbios, em forma de parábolas definem, no nosso texto, a missão dos discípulos de Cristo: sal e luz. Temperamos os alimentos com o sal: os discípulos hão de ser, no mundo, como o sal que dá sabor, que preserva da corrução. No mundo judaico, a metáfora do sal significava também a sabedoria. Os discípulos possuem a sabedoria do Evangelho. Se, quimicamente falando, o sal não pode perder o sabor, à força de se usado, pode deixar de salgar. Se a Palavra de Deus perdeu a sua força no antigo Israel, tem de conservá-la no novo Israel, a Igreja.
    A metáfora da luz também se refere à Palavra. Jesus, que é a luz, tem a Palavra (Jo 8, 12.31s.; 14, 9-10). O mesmo se pode dizer dos discípulos de Cristo: são a luz do mundo (Fl 2, 15); são a cidade edificada sobre o monte (v. 14); têm a luz, a palavra de Deus (Mc4, 21; Lc 8, 16; 11, 33).

    Meditatio

    Ao fazer memória dos mártires e dos outros santos, a Igreja proclama o mistério pascal realizado naqueles homens e mulheres que sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propondo aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus (cf CIC, 1173).
    S. António de Lisboa, que hoje celebramos, foi dotado de extraordinária preparação intelectual e de grandes capacidades de comunicação. Com a sua sabedoria evangélica provocou admiração, confundiu os hereges, converteu os pecadores. Com as suas virtudes e milagres, fascinou o povo. Pregador itinerante, S. António incarnou o Evangelho de Cristo, levando de cidade em cidade a sua paz, no estilo de uma vida obediente à vontade de Deus, disponível para os incómodos e canseiras da missão, e compassivo para todas as realidades humanas provados pelo sofrimento em qualquer das suas muitas formas. Atribuía tudo ao poder da oração. O testemunho de vida de S. António reflete a envolvente beleza de quem vive permanentemente em íntima comunhão com Deus, unicamente impelido pelo desejo de cumprir a sua vontade e de manifestar o seu imenso amor por todas as criaturas. S. António, humilde e pobre, e, por isso mesmo, digno filho do Pobrezinho de Assis, deixa transparecer os grandes prodígios de Deus: os milagres físicos e espirituais que o Altíssimo realiza naqueles que confiam n´Ele, apoiados numa fé quotidiana, autêntica e inabalável.
    A luz e a criatividade da Palavra escutada, meditada e rezada, produzem em S. António os frutos de uma caridade incansável, paciente, sem preconceitos e tenaz diante das dificuldades. O que mais anseia é anunciar a ternura de Deus, a sua bondade e a infinita misericórdia com que nos revela o seu coração de Pai. S. António alerta-nos para o essencial, para a amizade com Deus, fonte de todo o bem, da paz e da alegria, que nada nem ninguém nos pode jamais tirar. Meditando na sua vida, descobrimos as maravilhas da fidelidade de Deus, que segue com amor o caminho de quem procura o seu rosto, tornando-o participante dos seus dons e colaborador do seu projeto de vida sobre a humanidade.

    Oratio

    Grande santo, éreis pelo vosso ardente amor a Nosso Senhor um santo do Sagrado Coração, ajudai-nos a fazer reinar o Coração de Jesus nos nossos corações e na sociedade. (Leão Dehon, OSP 3, p. 649).

    Contemplatio

    Santo António foi um apóstolo do Coração de Jesus. A Providência não quis que chegasse a Marrocos, foi lançado sobre as costas da Sicília. Vai aquecer ainda o seu coração junto do de S. Francisco de Assis. O seu talento revela-se, fazem-no professor, depois missionário. Ganha almas inumeráveis ao amor de Nosso Senhor. Foi, no séc. XIII, diz o P. Marie-Antoine, o doutor e o escritor do Coração de Jesus. Conduz sempre os seus ouvintes ao pensamento do amor, como objetivo final da vida cristã, e é no Coração do Salvador que mostra a fonte e o trono deste amor. Diz: «Sim, a ferida do lado de Jesus é um sol que ilumina todo o homem. Pela abertura do Sagrado Coração foi aberta a porta do paraíso donde nos vem toda a luz. É lá que está o asilo assegurado da arca da paz e da salvação. O Salvador abriu o seu lado e o seu Coração à pomba, isto é, à alma religiosa, a fim de que pudesse encontrar um lugar de refúgio. Sede como a pomba que estabelece o seu ninho no mais profundo da pedra. Se Jesus Cristo é a pedra, a cavidade da pedra é a chaga do lado de Jesus, que leva ao seu Coração. Havia na antiga lei dois altares, o altar de bronze ou dos holocaustos, que estava fora do santuário, e o altar de ouro do santuário mesmo. O altar de bronze da lei nova é o corpo sangrento de Cristo imolado em presença do povo; o altar de ouro é o seu Coração ardente de amor, e lá está o incenso que sobe para o céu». Os seus sucessos eram maravilhosos. Se queremos ganhar almas para Nosso Senhor, é preciso primeiro excitar-nos ao seu amor. O fervor do nosso coração comunicar-se-á facilmente àqueles que estiverem em relação connosco. (Leão Dehon, OSP 3, p. 649s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo" (Mt 5, 13-14).

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    S. António de Lisboa, Presbítero e Doutor da Igreja (13 Junho)

    XI Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XI Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    13 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XI Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Reis 21, 1-6

    Naquele tempo, 1Nabot de Jezrael tinha uma vinha junto ao palácio de Acab, rei da Samaria. 2Disse então Acab a Nabot: «Cede-me a tua vinha para que eu a transforme em horta, pois fica junto da minha casa. Dar-te-ei em troca uma vinha melhor; ou, se te convier, pagar-te-ei o seu valor em dinheiro.» 3Nabot disse a Acab: «Pelo Senhor! Seria um sacrilégio ceder-te a herança de meus pais!» 4Acab voltou para casa triste e irritado, pelo facto de Nabot lhe ter dito: «Não te darei a herança de meus pais.» Deitou-se na cama, voltou o rosto para a parede e não quis mais comer. 5Sua esposa veio ter com ele e perguntou-lhe: «Por que razão estás assim irritado e não queres comer?» 6Ele respondeu-lhe: «Porque falei a Nabot de Jezrael, dizendo-lhe: 'Cede-me a tua vinha por dinheiro ou, se mais te convier, dar-te-ei por ela outra vinha', e ele respondeu-me: 'Não te darei a minha vinha.' 7Então Jezabel, sua esposa, disse-lhe: «Não és tu o rei de Israel? Levanta-te, come, não te aflijas! Eu mesma te darei a vinha de Nabot de Jezrael.» 8Escreveu cartas em nome de Acab, selando-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e aos magistrados da cidade, concidadãos de Nabot. 9Nelas lhes dizia: «Proclamai um jejum e fazei sentar Nabot na primeira fila da assembleia. 10Fazei vir à sua presença dois homens malvados que o acusem dizendo: 'Tu blasfemaste contra Deus e contra o rei!' Levai-o, depois, para fora da cidade e apedrejai-o até ele morrer.» 11Os homens da cidade, os anciãos e os magistrados, concidadãos de Nabot, fizeram o que lhes mandara Jezabel, conforme o conteúdo da carta que ela lhes enviara. 12Proclamaram um jejum e fizeram Nabot sentar-se em lugar de honra. 13Vieram então os dois malvados, puseram-se na presença de Nabot e depuseram contra ele perante o povo, dizendo: «Nabot blasfemou contra Deus e contra o rei!» Fizeram-no sair da cidade, apedrejaram-no e ele morreu. 14Mandaram então dizer a Jezabel: «Nabot foi apedrejado e morreu.» 15Quando Jezabel teve conhecimento que Nabot fora apedrejado e já estava morto, disse a Acab: «Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael recusara ceder-te por dinheiro; Nabot já não é vivo! Morreu!» 16Mal Acab ouviu dizer que Nabot tinha morrido, levantou-se logo para descer até à vinha de Nabot de Jezrael, a fim de tomar posse dela.

    O rei Acab confia mais em manobras políticas do que na protecção de Deus. Instigado pela mulher, mancha-se com um duplo crime: a morte de Nabot, um honesto israelita, que se recusava a ceder por venda ou por troca uma vinha, que possuía junto da residência real de verão; o roubo da vinha, que o proprietário, agora morto, se negara a vender por ser património da família. Este homicídio, e este furto, revelam a degradação moral da monarquia, apesar da encenação com que se pretendia conferir legalidade à acção de Acab: proclamação de um jejum, convocação da assembleia, como era costume fazer em tempos de calamidade pública. O próprio Nabot foi designado para presidir à assembleia. Tudo estava preparado por Jezabel para fazer recair sobre Nabot a responsabilidade da calamidade, possivelmente mais uma seca prolongada. E assim foi, com a colaboração de dois malvados, que acusaram Nabot de blasfémia, fazendo cair sobre ele a maldição. A maldição do rei, tal como a de Deus, comportava a lapidação (Ex 22, 27; Lv 24, 16), sempre que fosse sufragada por duas testemunhas (Nm 35, 30; Dt 17, 6), que, neste caso, são falsas.
    Neste relato, ressaltam uma série de paixões e de atropelos, tais como a ambição e o cinismo da rainha, e o abuso do poder, que se notam no tom provocador das suas palavras a Acab: «Não és tu o rei de Israel?» (v. 7).

    Evangelho: Mateus 5, 38-42

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38«Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. 39Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. 40Se alguém quiser litigar contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa. 41E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. 42Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado.»

    A quinta antítese consiste na chamada «lei de Talião» (Ex 21, 24; Lv 14, 19s.; Dt 19, 21). Essa lei, que já encontramos no Código de Hamurabi (séc. XVIII a. C. ), foi necessária numa cultura em que a vingança não tinha limite. Baseava-se no princípio da retribuição e na exigência de reparação. Quando foi dada, era uma lei «progressista», pois punha freio à retorsão (cf. Gn 4, 23s.). Não deve ser julgada à luz do Evangelho. Os próprios judeus se sentiam embaraçados perante tão horrendo princípio. Por isso, em vez de a aplicarem à letra, substituíam-na por sanções pecuniárias.
    Jesus ensina a ser longânimes, a não responder com a vingança ou com a intolerância às ofensas. Assim se quebra a espiral da violência e da prepotência. Isto vale também quando é posta em causa a nossa integridade física e a integridade dos nossos bens, a começar pelo tempo: a capa (v. 40) servia para se defender das intempéries e para cobrir o corpo durante as horas de repouso; a milha (v. 41) era o caminho permitido em dia de sábado. Paulo retomará este ensinamento de Cristo e escreverá: «Não pagueis a ninguém o mal com o mal... Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (Rm 12, 17.21).
    Estas exigências de Jesus não são contrárias à ordem que deve existir na sociedade. Ele próprio dá o exemplo: pede explicações a quem lhe bateu (Mc 14, 48; Jo 18, 23) e sofre a humilhação; Paulo, para se defender da injustiça, invoca a sua qualidade de cidadão romano, recorrendo mesmo ao supremo tribunal, a César. Uma coisa é a defesa dos próprios direitos, outra é a violência, a intolerância.

    Meditatio

    A história de Nabot ilustra a vitória da violência sobre o pobre. Não teria feito melhor em ceder a vinha a Acab, que até lhe oferecia dinheiro por ela, ou a troca por outra? Não, porque não se tratava simplesmente de uma propriedade, ou de uma propriedade qualquer. Vender ou trocar aquela vinha era por em risco a sua vocação de israelita, que tinha ao seu cuidado uma parte da terra, herança sagrada. É por isso que Nabot responde a Acab: «Pelo Senhor! Seria um sacrilégio ceder-te a herança de meus pais!» (v. 3). Opor-se à injustiça é normal quando se trata de outros. Quando se trata de nós mesmos, Jesus ensina-nos a ser mansos, indulgentes e generosos até ao extremo: «se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra» (Mt 5, 39). A violência não se combate com a viol&ec
    irc;ncia. Só o bem pode vencer o mal. Só o amor é sempre vitorioso.
    Mas a história de Nabot lembra-nos que há um limite para a condescendência perante as injustiças: a fidelidade à vontade de Deus. Jesus, que se opõe fortemente a toda a injustiça e abuso, para ser fiel à vontade do Pai, sujeita-se à máxima injustiça, que foi a sua morte na cruz. «Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudoe lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome» (Fl 2, 9). Quem quer participar na sua glória, há-de participar primeiro no mistério da sua caridade.
    Participar no mistério da caridade de Cristo não é uma piedosa abstracção. O amor activo não é fraco; é muito mais forte do que a violência, que caracteriza a cega brutalidade e é indigna do homem. A preferência pelos métodos não violentos pode levar-nos a reflectir sobre o enorme poder da opinião pública. Bem o conhecem e usam com exagero, até se tornarem sub-repticiamente violentos, os políticos, os industriais, o mundo do comércio, bombardeando o povo por meio dos mass media, a fim de alcançarem determinados objectivos políticos, económicos, financeiros, comerciais.
    Há também que mobilizar-se para promover uma opinião pública favorável à justiça e à paz, ao respeito pelo ambiente e pela vida. O caminho da não-violência, como já demonstrou Gandhi na independência da Índia e, mais recentemente, o demonstraram os Países do Leste europeu, na conquista das liberdades fundamentais do homem, é tudo menos passividade e ineficácia.
    Um dos objectivos da vida e acção do Pe. Dehon foi elevar "massas populares, por meio do reino da justiça e da caridade cristã». Segundo o Fundador, é «um trabalho a continuar» pelos membros da Congregação (CC nn. 386-388).

    Oratio

    Senhor, bem sabes como tenho dificuldade em perder, como estou agarrado ao meu tempo, às minhas coisas, às minhas ideias. Tenho dificuldade em ceder, em condescender, em entrar no jogo dos outros. Muitas vezes, me barrico nas minhas defesas e tutelo os meus direitos, reais ou presumidos, com a ilusão de ter sempre razão, de não reconhecer os meus erros, de conseguir sempre impor-me. Mas tu pedes que viva desarmado. Se com alguma coisa me devo medir, é com a tua cruz. Faz-me compreender que, só quem decide perder, acaba por encontrar o melhor de si mesmo. Amen.

    Contemplatio

    Nosso Senhor não veio destruir a lei; explicou, desenvolveu a lei moral com mais clareza, mais extensão; deu-lhe o sentido verdadeiro; purificou-a das falsas interpretações farisaicas; acrescentou-lhe o que faltava, e elevou-a a um ideal de perfeição que nunca tivera até então, e que deve conservar até ao fim dos séculos.
    Deus tinha-nos dado a lei sumariamente no Sinai: resumia-se em dois preceitos: amarás o teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
    Era necessária a delicadeza do Coração de Jesus para bem compreender toda a plenitude do mandamento divino e todo o seu alcance, e para o explicar sem mistura de vistas terrestres.
    Só Ele tinha poder para acrescentar ao preceito a força do exemplo no cumprimento perfeito de toda a lei, de maneira a poder dizer: dei-vos o exemplo, para que façais como me vistes fazer. Nosso Senhor restabeleceu-a em vários pontos.
    A lei prescrevia o amor do próximo. Os Judeus entendiam isto somente a respeito dos membros da sua raça, e ainda assim é hoje. Nosso Senhor diz-nos que isso se aplica a todos os homens, e que é preciso amar os nossos próprios inimigos e fazer o bem àqueles que nos odeiam, como o nosso Pai do céu que faz brilhar o sol sobre os bons e sobre os maus. (Leão Dehon, OSP4, p. 27s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra
    «Dá a quem te pede.» (Mt 5, 42).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XI Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XI Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    14 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XI Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Reis 21, 17-29

    Depois de Nabot de Jezrael ter sido assassinado, por não querer vender a sua vinha ao rei Acab, 17a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, dizendo: 18«Desce e vai ter com Acab, rei de Israel, que vive na Samaria; ele está agora a descer para se apossar da vinha de Nabot. 19Diz-lhe: Assim fala o Senhor: 'Cometeste um homicídio e agora vais ainda apoderar-te do alheio?' Acrescentarás ainda: 'Isto diz o Senhor: No mesmo lugar onde os cães lamberam o sangue de Nabot, hão-de lamber também o teu!'» 20Então Acab respondeu a Elias: «Tornaste a apanhar-me, meu inimigo!» Elias replicou: «Sim, tornei a apanhar-te porque te prestaste a uma perfídia, fazendo o que é mal aos olhos do Senhor. 21Farei cair uma desgraça sobre ti, varrer-te-ei e hei-de exterminar todos os homens da casa de Acab, sejam escravos ou homens livres em Israel. 22Tornarei a tua casa semelhante à casa de Jeroboão, filho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías, porque provocaste a minha ira e fizeste pecar Israel.» 23O Senhor falou também para Jezabel: «Os cães hão-de devorar Jezabel na propriedade de Jezrael. 24Todos os membros da casa de Acab que morrerem na cidade, os cães os hão-de devorar; e todos os membros que morrerem no campo, comê-los-ão as aves do céu. 25Não houve nunca ninguém como Acab que se prestasse à perfídia para fazer o mal aos olhos do Senhor. E a sua esposa Jezabel incitava-o ainda mais. 26Ele cometeu graves abominações, seguindo os ídolos exactamente como os amorreus, a quem o Senhor despojara diante dos filhos de Israel.» 27Ao ouvir estas palavras, Acab rasgou as vestes, cobriu-se de saco e jejuou; dormia sobre um saco e caminhava pensativo. 28Então a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, dizendo: 29«Viste como Acab se humilhou na minha presença? Já que ele procedeu assim, não o castigarei durante a sua vida, mas nos dias de seu filho mandarei o castigo sobre a sua casa.»

    Os profetas são homens de Deus, e a sua missão é essencialmente religiosa. Mas isso não os impede de denunciar as injustiças sociais e de emitir juizos sobre situações políticas. Quando o fazem, é também por razões religiosas, porque tudo vêem e tudo ajuizam na perspectiva da Lei e da Aliança. Não actuam por razões meramente políticas, por sentimentalismo ou simples reivindicações sociais.
    A intervenção de Elias junto de Acab faz lembrar a de Natan, junto de David. Deus, por meio dos seus profetas, vinga a injustiça e defende o oprimido. Jezabel será a primeira a pagar pelos seus crimes (2 Rs 9, 30ss.). O princípio da retribuição, ainda que férreo, inclui atenuantes em virtude do arrependimento do culpado e da misericórdia divina. Mas, na lógica do Antigo Testamento, impõe-se sempre a reparação (cf. 2 Rs 9ss.).
    Os dois últimos capítulos do 1 Rs ilustram as infelizes empresas bélicas em que o rei Acab se mete, contra a opinião do profeta Miqueias. Tudo termina com a morte miserável do soberano, cujo sangue é lambido pelos cães. A dinastia de Acab é destruída.

    Evangelho: Mateus 5, 43-48

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 43«Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. 44Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. 45Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois Ele faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores. 46Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os cobradores de impostos? 47E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? 48Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.»

    A sexta antítese refere-se ao maior dos mandamentos: o amor para com o próximo, já formulado no Levítico (19, 18). Todavia, no Antigo Testamento, o amor ao próximo limitava-se ao povo de Israel e àqueles que, de algum modo, tivessem sido integrados nele.
    Jesus cita também o ódio aos inimigos: «odiarás o teu inimigo» (v. 43). É verdade que esse preceito não estava escrito em qualquer página da Bíblia. Mas estava presente nas franjas do judaísmo mais extremista. Em Qunran, prescrevia-se o ódio a todos os filhos das trevas.
    Jesus torna universal o preceito do amor ao próximo. Se assim não fosse, os seus discípulos ficavam ao nível dos publicanos que, por solidariedade estavam unidos e se amavam uns aos outros; ou ao nível dos pagãos. Jesus, apoiando-se num princípio aceite pelos judeus - «deve imitar-se o comportamento de Deis» -, instaura o princípio do amor universal. Deus não faz distinções, faz erguer o Sol, e cair a chuva, para todos. Com esta afirmação, Jesus também deita por terra a pretensa preferência, e quase exlcusividade, do amor de Deus para com eles.

    Meditatio

    «Amai os vossos inimigos ...tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu ... sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste». O Baptismo tornou-nos filhos de Deus. Mas há que crescer e desenvolver essa condição. O Espírito impele-nos para a plenitude da vida filial. Há que acolher docilmente os seus impulsos. O Espírito faz crescer em nós o amor para com todos, também para com os inimigos: «Amai os vossos inimigos». Não há palavra que revele mais profundamente o coração de Jesus e o coração do Pai. É mais do que «perdoar as vossos inimigos», que já é muito. Amar quer dizer responder ao ódio com o amor. Trata-se, diríamos, de um excesso de amor. Porque, «se amar os amigos é de todos, amar os inimigos é só dos cristãos», como escreveu Tertuliano. «Jesus viveu e morreu em vão, se não aprendemos d´Ele a regular as nossas vidas pela lei eterna do amor», escreveu Gandhi. Ele quere-nos perfeitos no amor para com Deus e para com o próximo, ainda que seja um perseguidor. Jesus perdoou àqueles que o crucificaram. É por isso que Paulo, ao inculcar o amor entre os tessalonicenses, escreve: «vós próprios aprendestes de Deus a amar-vos uns aos outros» (1 Ts 4, 9). Como filhos de Deus, somos chamados a difundir o amor generosamente. Onde não há amor, onde nos damos conta de que não somos amados, amemos um pouco mais, com o amor que Jesus nos deu. Por isso é que mandou amar sempre.
    Infelizmente nas comunidades cristãs, também nas comunidades religiosas, podem nascer inimizades, pequenas, mesquinhas, geralmente provenientes de corações tacanhos, feridos pelo ciúme e pela inveja. São inimizades que provocam muito sofrimento em quem deles é objecto, sem culpa. Valem, então, as palavras de Jesus: «Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam (ou que, sem um verdadeiro ódio, são
    invejosos, ciumentos), bendizei aqueles que vos amaldiçoam (no sentido de que falam mal de vós), rezai por aqueles que vos maltratam» (não fisicamente, mas moralmente) (Lc 6, 27-28). Tudo isto, «para que sejais filhos do vosso Pai celeste, que faz nascer o sol para os bons e para os maus, e manda a chuva para os justos e os injustos... Sede, portanto, perfeitos como é perfeito o Pai celeste» (Mt 5, 45-46).

    Oratio

    Ó Jesus, mestre de mansidão, de humildade e de paciência, ensina-me a ser como Tu. Dá-me a graça de reagir à violência com mansidão, ao orgulho com humildade, às aflições com paciência. Que eu saiba amar com o coração, com os lábios e com as obras, não só os amigos, mas também os inimigos, aqueles que não me querem bem. Que a todas faça só o bem. Que por todos reze com fervor. Assim serei, por tua graça, acolhido entre os filhos do Pai, que está no céu, e contado entre os eleitos. Amen.

    Contemplatio

    S. João era o primogénito e o modelo das vítimas do Sagrado Coração. O tempo entre a tomada do hábito e a sua profissão não foi longo. No entanto, passou por um noviciado, por um tempo de prova, durante o qual aprendeu mais, avançou mais em virtude e em perfeição, sofreu mais no seu coração e no seu espírito do que a razão humana pode conceber. Lá aprendeu até onde vai o verdadeiro, santo e puro amor de Deus e que a medida deste amor é amar sem medida.
    Na noite da Ceia viu como Nosso Senhor se deu inteiramente no mistério da Eucaristia. No dia seguinte, foi testemunha da oferta dolorosa da vítima sangrenta sobre a cruz. Pela sua presença, pela sua fidelidade e constância, testemunhou abertamente que conhecia Nosso Senhor, que era e queria permanecer seu discípulo. Nesta hora solene, fez no seu coração cheio de amor, de reconhecimento, de compaixão e de zelo, as promessas mais santas para o futuro. Tomou a resolução de nunca abandonar Jesus nem a sua doutrina. Depois recebeu em partilha o Coração ferido de Jesus, o Coração sobre a cruz, envolvido com os espinhos da humilhação, do ultraje, da dor, da ingratidão, da infidelidade e da cobardia dos seus discípulos, daqueles de então e dos do futuro.
    Viu como Nosso Senhor era ao mesmo tempo sacrificador e vítima, como deve ser todo o verdadeiro sacerdote da nova lei. (Leão Dehon, OSP3, p. 521).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XI Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XI Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    15 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XI Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Reis 2, 1.6-14

    Naqueles dias, 1quando o Senhor quis levar o profeta Elias para o céu, Elias e Eliseu partiram de Guilgal. 6Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me ao Jordão.» Mas Eliseu respondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E partiram juntos. 7Seguiram-nos cinquenta filhos dos profetas, que pararam ao longe, voltados para eles, enquanto Elias e Eliseu se detinham na margem do Jordão. 8Elias tomou o seu manto, dobrou-o e bateu com ele nas águas, que se separaram de um e de outro lado, de modo que passaram os dois a pé enxuto. 9Tendo passado, Elias disse a Eliseu: «Pede o que quiseres, antes que eu seja separado de ti. Que posso fazer por ti?» Eliseu respondeu: «Seja-me concedida uma porção dupla do teu espírito.» 10Elias replicou: «Pedes uma coisa difícil. No entanto, se me vires quando estiver a ser arrebatado de junto de ti, terás aquilo que pedes; mas, se não me vires, não o terás.» 11Continuando o seu caminho, entretidos a conversar, eis que, de repente, um carro de fogo e uns cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho. 12Eliseu viu tudo isto e exclamou: «Meu pai, meu pai! Carro e condutor de Israel!» E não o voltou a ver mais. Tomando, então, as suas vestes, rasgou-as em duas partes. 13Eliseu apanhou o manto que Elias deixara cair e, voltando, parou na margem do Jordão. 14Pegou no manto que Elias deixara cair, bateu com ele nas águas e disse: «Onde está agora o Senhor, o Deus de Elias? Onde está Ele?» Ao bater nas águas, estas separaram-se para um e outro lado, e Eliseu passou.

    O Primeiro Livro dos Reis termina a falar dos imediatos sucessores de Acab, e das últimas vicissitudes de Elias. O Segundo Livro dos Reis começa com o Ciclo de Eliseu, cuja vocação fora antecipada em 1 Rs 19, 19-21, mas é renovada no texto que hoje escutamos (2 Rs 2, 1-18). Em ambos os relatos encontramos um elemento comum, de grande significado: o manto de Elias. Mas também encontramos diferenças devidas às diferentes fontes donde provêm: 1 Rs 19, 19-21 provém do Ciclo de Elias; 2 Rs 2, 1-18 provém do Ciclo de Eliseu.
    Tal como Elias, também Eliseu desempenhará um importante papel político (2 Rs 3, 11ss.; 6, 8ss.; 8, 7ss; 9, 1ss.; 13, 14ss.) e irá revelar-se o maior taumaturgo do Antigo Testamento. Em 2 Rs 2, 14-7, 20 e 13, 20s., encontramos uma dezena de acções milagrosas, também depois da morte do profeta. Tudo isso explica a importância da sua investidura profética, que pagará com uma fidelidade a toda a prova ao seu mestre Elias. Eliseu está na primeira linha dos «filhos dos profetas». Segundo a lei da progenitura (cf. Dt 21, 17), Eliseu reivindica dois terços do espírito de Elias, que lhe são concedidos como preço pela sua clarividência: «se me vires quando estiver a ser arrebatado de junto de ti, terás aquilo que pedes» (v. 10).
    Depois da subida ao céu de Elias, Eliseu rasgou as próprias vestes, e tomou as do profeta de Tisbé. Com este gesto, manifesta a investidura realizada e a aquisição das faculdades a ela ligadas. Então, Eliseu, deixando para trás os outros «filhos dos profetas» percute as águas do Jordão com o manto de Elias, tal como Moisés percutira as do Mar Vermelho com o seu bastão.
    O arrebatamento de Elias, semelhante ao de Henoc (Gn 5, 24), manifesta o beneplácito divino para com a sua pessoa, mas, sobretudo, refere-se a uma missão futura... Elias deveria voltar... Na interpretação feita pelo próprio Jesus (Mt 17, 12), ele já veio, na pessoa de João Baptista.

    Evangelho: Mateus 6, 1-6.16-18

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1«Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu. 2Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. 3Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, 4a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.» 5«Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. 6Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te. 16«E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. 17Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, 18para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.»

    Em Mt 4, 6.8, encontramos o princípio da interiorização («no segredo»). Agora, Jesus aponta outro importante princípio, o de «superar» a justiça dos doutores da Lei e dos fariseus (5, 20). E seguem-se as aplicações práticas no que se refere à esmola, à oração, ao jejum, que resumem as práticas religiosas tradicionais. Jesus não censura essas práticas, mas a forma e o objectivo com que eram realizadas, particularmente pelos fariseus. O discípulo de Cristo comporta-se de modo diferente dos fariseus, os «hipócritas» (vv. 2.5.16). Ainda que não mantenha as suas boas obras «no segredo» (Mt 5, 14), só o faz para que a soberania divina seja reconhecida. Segundo o princípio da retribuição, quem faz boas obras para ser estimado e louvado pelos outros, já recebe a sua recompensa; quem as faz por Deus, obtém d´Ele a retribuição.
    O valor da esmola (Sir 3, 29; 29, 12; Tb 4, 9-11) pode ser posto em causa pela ostentação com que é feita. O mesmo se diga da oração, muitas vezes exibida «nos cantos das ruas» (v. 5). Quanto ao jejum, Cristo partilha a posição dos profetas (cf. Is 58, 5-7). O verdadeiro jejum implica conversão a Deus, e deve ser feito com alegria, como indicam os sinais festivos indicados no evangelho: perfumar a cabeça, lavar o rosto (v. 17). E como a conversão é um assunto pessoal, entre Deus e o pecador, deve manter-se secreta entre ambos. E Deus não deixará de retribuir o que bem conhece.

    Meditatio

    O arrebatamento de Elias, elevado da terra ao céu, prefigura o mistério de Jesus. A narrativa de 2 Rs 2,1.6-14 sublinha a importância de ser testemunha do facto. Elias diz a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me ao Jordão» (v. 1). Mas Eliseu pressente que algo está para acontecer e responde: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei» (v. 2). Enquanto passam milagrosamente para a
    lém do Jordão, Elias pergunta: «Pede o que quiseres, antes que eu seja separado de ti. Que posso fazer por ti?» (v. 9). Então, Eliseu pede: «Seja-me concedida uma porção dupla do teu espírito» (v. 9). Elias observa-lhe que fora exigente no pedido. Mas acrescenta: «se me vires quando estiver a ser arrebatado de junto de ti, terás aquilo que pedes» (v. 10). Eliseu devia ter os olhos postos em Elias. E chegou o carro de fogo e os cavalos de fogo. Eliseu pôs-se a gritar: «Meu pai, meu pai!» (v. 12). «Olhava» e, assim, pôde recolher o manto de Elias e ser cheio do espírito do profeta.
    Pensemos na cena do Calvário. João, depois de narrar a transfixão do lado de Jesus, comenta: «isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: Não se lhe quebrará nenhum osso. E também outro passo da Escritura diz: Hão-de olhar para aquele que trespassaram» (Jo 19, 36s.). É importante contemplar Jesus, quando é arrebatado da cruz pelo Pai. Foi assim que o centurião reconheceu a identidade de Jesus: «O centurião que estava em frente dele, ao vê-lo expirar daquela maneira, disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!»» (Mc 15, 39). Contemplar Jesus no momento mais puro e generoso do seu amor, é condição para entrar no seu mistério.
    A contemplação do Crucificado, de Lado aberto, é essencial na experiência de fé de S. João, mas também na do Pe Dehon e na nossa. «Ver», «contemplar» é penetrar com o olhar da fé, permanecer absortos em contemplação, para descobrir a verdadeira identidade de Jesus e «acreditar», isto é, aderir com toda a nossa pessoa ao Crucificado e ser testemunhas d´Ele, ser profetas, junto dos irmãos. Escrevem as nossas Constituições: «Com S. João, vemos no Lado aberto do Crucificado o sinal do amor que, na doação total de Si mesmo, recria o homem segundo Deus» (n. 21).

    Oratio

    S. João evangelista, ensinai-me a contemplar a Cristo no acto supremo do seu amor quando, ao morrer na cruz, o Pai o vem arrebatar para O introduzir na sua glória. Já largara tudo o que possuía. Mas, no momento derradeiro, ainda «entregou o espírito». Pouco depois, confirmou esse dom, deixando jorrar do Lado aberto sangue e água. Se o espírito de Elias transformou Eliseu num profeta corajoso e realizador de prodígios, quanto mais o Espírito de Jesus Cristo me pode transformar também a mim. Ajuda-me, discípulo amado do Senhor, a fixar o meu olhar no Crucificado, particularmente no seu Lado aberto e no seu Coração trespassado, para que me torne, cada vez mais, profeta do amor e servidor da reconciliação. Amen.

    Contemplatio

    Vamos ao Calvário, depois da morte de Jesus. A multidão afastou-se, os amigos ficam. Alguns soldados vêm verificar ou, se é o caso, apressar a morte dos pacientes, para que o espectáculo do seu suplício prolongado não entristeça o dia do sabbat.
    Um dos soldados adiantou-se, portanto, e abriu o lado de Jesus com uma lança. É um grande mistério da história sagrada, onde tudo é mistério e acção divina. A ferida exterior é aqui a revelação simbólica da ferida interior, a do amor. O amor, eis o algoz de Jesus! Cristo morreu porque quis, foi o amor quem o matou... É assim que a Igreja canta, para saudar o Coração trespassado do seu esposo: «Ó Coração vítima de amor, Coração ferido por amor. Coração morrendo de amor por nós! O Cor amoris victima, amore nostro saucium, amore nostri languidum! (Hino do Sagrado Coração).
    Nosso Senhor permitiu este golpe de lança para chamar a nossa atenção para o seu coração, para nos fazer pensar no seu amor que é a fonte de todos os mistérios da salvação: as promessas do Éden, as profecias e as figuras da antiga lei, a acção providencial sobre o povo de Deus, a incarnação, a vida, os ensinamentos e a morte do Salvador. A abertura do lado de Jesus, é como a fonte que regava o paraíso terrestre, é como a fenda do rochedo que deu a água para saciar o povo de Israel. (Leão Dehon, OSP3, p. 367).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Se me vires quando for arrebatado, terás o que pedes» (2 Rs 2, 10).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – Ano C

    Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – Ano C


    16 de Junho, 2022

    ANO C
    Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

    Tema da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

    No centro da Solenidade deste domingo está quer a celebração de Deus que alimenta o seu povo e que, no seu Filho, dá-lhe o alimento supremo e eterno, quer a grande Eucaristia dos crentes.
    Para exprimir esta oração de louvor e de agradecimento, que dirigimos ao Senhor acolhendo o dom do seu amor, a Escritura emprega duas palavras: a bênção (primeira leitura) e a ação de graças (segunda leitura).
    Estas duas dimensões de oração estão intimamente ligadas e devem habitar a nossa vida para além da missa, para testemunhar todo o amor com o qual Cristo ama os homens (Evangelho).
    A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é a festa da Pessoa de Cristo. Ao levantarmos os olhos para o Pão e o Vinho consagrados, só podemos dizer: «É mesmo Ele! Meu Senhor e meu Deus!»

    LEITURA I – Gen 14, 18-20

    Leitura do Livro do Génesis

    Naqueles dias,
    Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho.
    Era sacerdote do Deus Altíssimo
    e abençoou Abraão, dizendo:
    «Abençoado seja Abraão pelo Deus Altíssimo,
    criador do céu e da terra.
    Bendito seja o Deus Altíssimo,
    que entregou nas tuas mãos os teus inimigos».
    E Abraão deu-lhe a dízima de tudo.

    Breve comentário à primeira leitura.
    Na história do povo de Deus, o rei Melquisedec só intervém uma vez, no seu encontro com Abraão. Mas este episódio teve uma importância decisiva para a ação de Jesus.
    O Antigo testamento está cheio de sacrifícios sangrentos. Mas eis aqui um sacrifício sem qualquer efusão de sangue. Melquisedec, um rei sacerdote, oferece diante de Abraão pão e vinho. Os cristãos reconheceram nesse gesto um anúncio da Eucaristia e muitas vezes representaram este sacrifício nas pinturas e vitrais das igrejas, na proximidade do altar. Reconhecemos também neste episódio antigo um traço da pedagogia divina, que provocou continuamente o seu Povo a purificar as suas práticas sacrificiais, para prepará-lo para acolher a ação definitiva do seu Filho.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 109 (110)

    Refrão 1: O Senhor é sacerdote para sempre.

    Refrão 2: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

    Disse o Senhor ao meu Senhor:
    «Senta-te à minha direita,
    até que Eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés».

    O Senhor estenderá de Sião
    o cetro do teu poder
    e tu dominarás no meio dos teus inimigos.

    A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste
    nos esplendores da santidade,
    antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei».

    O Senhor jurou e não Se arrependerá:
    «Tu és sacerdote para sempre,
    segundo a ordem de Melquisedec».

    LEITURA II – 1 Cor 11, 23-26

    Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

    Irmãos:
    Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti:
    o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue,
    tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse:
    «Isto é o meu Corpo, entregue por vós.
    Fazei isto em memória de Mim».
    Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse:
    «Este cálice á a nova aliança no meu Sangue.
    Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim».
    Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão
    e beberdes deste cálice,
    anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha».

    Breve comentário à segunda leitura.
    As dificuldades surgidas na primeira comunidade de Corinto tinham incitado o apóstolo Paulo a recordar por escrito o que comporta a celebração do grande mistério da fé, a Eucaristia.
    Nesta narração da instituição da Eucaristia, Paulo põe na boca de Jesus uma dupla «ordem de reiteração». Depois da fração do pão, e mesmo antes de lhes dar o cálice, Jesus diz aos Apóstolos: «Fazei isto em memória de Mim». Palavra explícita, fundadora da nossa prática eucarística. E Jesus explica todo o alcance deste memorial, tal como o canta a anamnese: proclamar o que Jesus fez por nós (dom da sua vida), celebrar a sua Ressurreição que nos salva, esperar a sua vinda na glória.
    O que os Apóstolos nos dizem da Eucaristia está nestas breves linhas de uma carta de São Paulo. Que diferenças entre as primeiras celebrações e as nossas, atualmente. Paulo dá-nos indicações importantes: refere-se, em primeiro lugar, à tradição que ele mesmo recebeu, e esta tradição vem do próprio Senhor, que deu a ordem de «refazer isso em memória dele»; indica, em seguida, que esta celebração recebida da tradição está integrada numa refeição, como a fração do pão na última Ceia e as refeições do Ressuscitado com os seus discípulos, em Emaús e em Jerusalém. Esta refeição coloca-nos em situação de esperança, sempre na espera do regresso do nosso Mestre Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor.

    SEQUÊNCIA

    Terra, exulta de alegria,
    Louva o teu pastor e guia,
    Com teus hinos, tua voz.

    Quanto possas tanto ouses,
    Em louvá-l’O não repouses:
    Sempre excede o teu louvor.

    Hoje a Igreja te convida:
    O pão vivo que dá vida
    Vem com ela celebrar.

    Este pão – que o mundo creia –
    Por Jesus na santa Ceia
    Foi entregue aos que escolheu.

    Eis o pão que os Anjos comem
    Transformado em pão do homem;
    Só os filhos o consomem:
    Não será lançado aos cães.

    Em sinais prefigurado,
    Por Abraão imolado,
    No cordeiro aos pais foi dado,
    No
    deserto foi maná.

    Bom pastor, pão da verdade,
    Tende de nós piedade,
    Conservai-nos na unidade,
    Extingui nossa orfandade
    E conduzi-nos ao Pai.

    Aos mortais dando comida,
    Dais também o pão da vida:
    Que a família assim nutrida
    Seja um dia reunida
    Aos convivas lá do Céu.

    ALELUIA – Jo 6,51

    Aleluia. Aleluia.

    Eu sou o pão vivo descido do Céu, diz o Senhor.
    Quem comer deste pão viverá eternamente.

    EVANGELHO – Lc 9, 11b-17

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus
    e a curar aqueles que necessitavam.
    O dia começava a declinar.
    Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe:
    «Manda embora a multidão
    para ir procurar pousada e alimento
    às aldeias e casais mais próximos,
    pois aqui estamos num local deserto».
    Disse-lhes Jesus:
    «Dai-lhes vós de comer».
    Mas eles responderam:
    «Não temos senão cinco pães e dois peixes…
    Só se formos nós mesmos
    comprar comida para todo este povo».
    Eram de facto uns cinco mil homens.
    Disse Jesus aos discípulos:
    «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta».
    Assim fizeram e todos se sentaram.
    Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes,
    ergueu os olhos ao Céu
    e pronunciou sobre eles a bênção.
    Depois partiu-os e deu-os aos discípulos,
    para eles os distribuírem pela multidão.
    Todos comeram e ficaram saciados;
    e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.

    Breve comentário ao Evangelho.
    A refeição da fração do pão, que Jesus celebrou com os seus discípulos, é destinada ao conjunto do seu povo. O próprio Jesus significou isso alimentando a multidão que O seguia, como Deus o havia feito outrora no deserto.
    Para viver, é preciso comer. E como Deus nos quer vivos, Ele próprio intervém. Como um Pai que cuida dos seus filhos, quando estes não encontram o alimento necessário. A tradição de Israel tinha guardado a memória de uma intervenção providencial, em que Deus tinha alimentado o seu povo no deserto, depois da saída do Egipto, com o maná e as codornizes (Ex 16); era um pão vindo do céu, portanto, de Deus.
    Por seu lado, Jesus alimenta o povo que está quase a fracassar. Vários detalhes anunciam a Eucaristia: Jesus parte os pães e fá-los distribuir pelos seus discípulos, como na comunhão: o povo está organizado, os Apóstolos fazem o serviço, é a Igreja; no deserto, o maná era apenas suficiente, mas aqui, no banquete do Senhor, restam cestos cheios, porque o pão de Jesus é-nos oferecido generosamente, para que tenhamos a vida em abundância (Jo 10,10).
    É impossível isolar a «ordem de reiteração» da Eucaristia propriamente dita de outras ordens que Jesus nos deu: muito próximo da Eucaristia, há o «exemplo» do lava-pés; há ainda o «mandamento do amor» e a necessidade primordial de amar o nosso próximo; e hoje, o apelo a darmos nós mesmos de comer àqueles que nada têm que comer. Significando já o Reino onde todos os bens superabundam, Jesus recorda que Ele quer associar desde já todos os batizados à sua construção, ao seu anúncio. E para isso, Ele santifica-nos com a sua própria vida.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO

    1. A PALAVRA meditada ao longo da semanA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. VALORIZAR ESPAÇOS E GESTOS EUCARÍSTICOS.
    Valorizar os espaços e gestos eucarísticos, assim como os que se relacionam com a Palavra, é atitude de sempre. Mas isso pode ser relevado em particular neste domingo: cuidar com mais atenção da preparação do altar e seus elementos, podendo prever-se uma procissão das oferendas; valorizar o momento penitencial em ligação com o Batismo que nos conduz à Eucaristia; proclamar a oração eucarística n.º 4, que evoca as alianças sucessivas até à Nova Aliança; dar realce aos grandes gestos da oração eucarística, como a elevação do Corpo de Cristo e do cálice, a doxologia final, assim como a fração do pão; preparar hoje a distribuição da comunhão sob as duas espécies; prever, no momento de ação de graças, uma oração em que alguém possa testemunhar de que modo concreto a Eucaristia o faz viver no quotidiano; proclamar a bênção solene e o envio final, recordando a nossa missão de «dar de comer» a todos os que têm necessidade.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.
    A fé da Igreja na presença do seu Senhor ressuscitado no mistério da Eucaristia remonta à origem da comunidade cristã. São Paulo transmite o que recebeu da tradição, cerca de 25 anos depois da morte de Jesus. É a narração mais antiga da Eucaristia. A Igreja nunca abandonou esta centralidade.
    A Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo foi instituída em meados do século XIII, numa época em que se comungava muito pouco e onde se levantavam dúvidas sobre a «presença real» de Jesus na hóstia consagrada depois da celebração da Eucaristia. A Igreja respondeu, não com longos discursos, mas com um ato: Sim, Jesus está verdadeiramente presente mesmo depois do fim da missa. E para provar esta fé, criou-se o hábito de organizar procissões com a hóstia consagrada pelas ruas, fora das igrejas.
    Hoje, não é raro encontrar católicos que põem em dúvida esta permanência da presença Jesus no pão eucarístico. As palavras de Jesus esclarecem-nos: «Este é o meu Corpo… Este cálice é a nova
    Aliança no meu sangue». Estas afirmações de Jesus, na noite de quinta-feira santa, não dependiam nem da fé nem da compreensão dos apóstolos. É Jesus que se compromete, que dá o pão como sendo o seu corpo, o cálice de vinho como sendo o cálice da nova Aliança no seu sangue. Só Ele pode ter influência neste pão e neste vinho.
    Hoje, é o sacerdote ordenado que pronuncia as palavras de Jesus, mas não é ele que lhes dá sentido e realidade. É sempre Jesus ressuscitado que se compromete, exatamente como na noite de quinta-feira santa. O sacerdote e toda a comunidade com ele são convidados a aderir na fé a esta ação de Jesus. Mas não têm o poder de retirar a eficácia das palavras que não lhes pertencem. A Igreja tem razão em celebrar esta permanência da presença de Jesus. Que esta seja para nós fonte de maravilhamento e de ação de graças!

    4. PALAVRA PARA O CAMINHO: COMER PARA VIVER.
    É a lei biológica da nossa condição humana: é preciso comer para viver. A nossa vida espiritual exige também ser alimentada e cuidada, para crescer e ser fecunda. Ao multiplicar os pães e os peixes para a multidão que tinha vindo escutar o seu ensinamento, Jesus respondia, certamente, a uma necessidade física imediata. Mas revelava já todo o seu amor pelos homens e o seu desejo de os saciar com o verdadeiro alimento: a sua própria vida, o seu corpo entregue como Pão da Vida, o seu sangue derramado como sangue da Aliança.
    Assim, comungar é ser alimentado pela vida de Jesus, enriquecido pelas suas próprias forças, ser capaz do seu amor. Do mesmo modo que comemos para viver, comungamos na Eucaristia para viver como discípulos de Jesus… Que fazemos das nossas comunhões? Que vidas fazem elas crescer em nós?
    Para meditar estas interrogações, perguntemo-nos verdadeiramente sobre o que nos faltaria se não tivéssemos Eucaristia…
    A Eucaristia é verdadeiramente «vital» para nós? Se assim não for, um período de «jejum eucarístico», um tempo de retiro espiritual para lhe descobrir o sentido, podem ajudar a reencontrar a grandeza deste sacramento. Se assim for, procuremos rezar por aqueles que são privados da Eucaristia e sofrem, e peçamos ao Senhor para lhes dar de novo a graça do seu amor.
    E como andamos de adoração? Com a Festa do Corpo de Deus vem também a questão das procissões e da adoração eucarísticas. Se a ocasião se proporcionar, vivamos este tempo de adoração em ligação com a própria celebração, como prolongamento desta e para melhor nos prepararmos ao serviço dos nossos irmãos.
    Na próxima sexta-feira celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Mais uma relevante coincidência que nos impele a recentrar o nosso coração no Coração de Jesus, de modo essencial na Eucaristia celebrada e adorada!

    Anexo 1.
    MEDITAÇÃO: O PÃO DA VIDA

    O dia começava a declinar.
    Os Doze aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe:
    Manda embora esta multidão…
    Aqui estamos num local deserto…

    Manda embora esta multidão…
    Durante todo o dia, a multidão escutou-Te longamente.
    Alimentou-se da tua Palavra
    a ponto de esquecer o alimento corporal…
    Felizmente que estamos aí, pensam talvez os teus Apóstolos.
    Porque a noite chega: é preciso encontrar uma solução!
    Eles têm uma:Manda embora esta multidão…
    É a solução humana bem indicada:
    nas aldeias dos arredores, as pessoas poderão alojar-se e alimentar-se.

    É a solução de facilidade. Mas não é o teu ponto de vista.
    Dai-lhes vós mesmos de comer!
    É demasiado fácil dar conselhos aos outros
    sem se comprometer a si mesmo|
    O teu discípulo Tiago retomará o teu pensamento, Senhor, escrevendo:
    «Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano,
    e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”,
    mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?» (Tg 2,15-16)
    Tu pedes-nos para fazer qualquer coisa
    para ir em ajuda aos outros.
    Por vezes a nossa ação não será muito grande,
    mas tu queres ter necessidade dela.
    A ação dos apóstolos, nesse dia, foi simplesmente
    de Te trazer os cinco pães
    e de convidar as pessoas a instalarem-se na erva.

    Todos comeram…
    e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
    Os apóstolos terão cada um cesto cheio do «dom de Deus»
    para levar aos famintos o alimento essencial, o Pão de vida…
    E isso até aos fim dos tempos, até ao teu regresso!

    Pelo alimento eucarístico, obrigado, Senhor!
    Os homens têm fome, sabe-lo bem,
    e Tu queres que ninguém caia no caminho…
    Mas muitos já não sentem mais esta fome…
    Tem piedade deles, Senhor!
    Tu queres também ter necessidade de ajuda para partilha o teu Pão
    a todas as multidões de todos os lugares…
    Dá à tua Igreja, Senhor,
    os sacerdotes que continuarão a missão
    e o trabalho dos Apóstolos em favor dos famintos de hoje.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
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  • XI Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XI Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    17 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XI Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Reis 11, 1.4.9-18.20ª

    Naqueles dias, 1Atália, mãe de Acazias, ao ver seu filho morto, decidiu exterminar toda a descendência real. 2Joseba, porém, filha do rei Jorão e irmã de Acazias, tomou Joás, filho de Acazias, e livrou-o do massacre dos filhos do rei, escondendo-o, com a sua ama de leite, no quarto de dormir. Ocultaram-no, assim, de Atália, de modo que pôde escapar à morte. 3Esteve seis anos escondido com Joseba no templo do Senhor, no tempo em que Atália reinava no país. 4No sétimo ano, Joiadá convocou os centuriões dos cários e os guardas e introduziu-os no templo do Senhor. Fez com eles um pacto, e, depois de os fazer jurar no templo do Senhor, mostrou-lhes o filho do rei. 9Os centuriões executaram fielmente as ordens do sacerdote Joiadá. Tomaram cada um os seus homens, tanto os que começavam o serviço ao sábado, como os que terminavam, e foram ter com o sacerdote Joiadá. 10Este deu-lhes a lança e os escudos do rei David, que se encontravam no templo do Senhor. 11Os guardas postaram-se à volta do rei, todos de armas na mão, ao longo do altar e do templo, desde o lado sul até ao lado norte do templo. 12Então, Joiadá trouxe para fora o filho do rei, pôs-lhe o diadema na cabeça e entregou-lhe o documento da aliança. Proclamaram-no rei, ungiram-no e todos o aplaudiram, gritando: «Viva o rei!» 13Atália, ao ouvir a gritaria que faziam os guardas e o povo, entrou no templo do Senhor pelo meio da multidão. 14E viu surpreendida que o rei estava de pé sobre o estrado, segundo o costume, tendo ao seu lado os cantores e as trombetas, enquanto o povo se alegrava, tocando trombetas. Então, ela rasgou as vestes, gritando: «Conspiração! Conspiração!» 15Mas o sacerdote Joiadá ordenou aos centuriões que comandavam as tropas: «Levai-a para fora do recinto do templo e, se alguém a seguir, matai-o com a espada.» Pois o pontífice proibira que a matassem no templo do Senhor. 16Agarraram-na, por conseguinte, e ao chegarem ao palácio real, pelo caminho da entrada dos cavalos, ali a mataram. 17Joiadá fez uma aliança com o Senhor, o rei e o povo, segundo a qual o povo devia ser o povo do Senhor. Fez também uma aliança entre o rei e o povo. 18Todo o povo da terra entrou então no templo de Baal e destruiu-o; derrubaram os altares, partiram em bocados as imagens e assassinaram Matan, sacerdote de Baal, diante do altar. O sacerdote Joiadá colocou guardas no templo do Senhor. 20Todo o povo da terra se alegrou e a cidade ficou em paz. Atália tinha sido morta à espada no palácio real.

    A liturgia, deixando para trás a secção de 2 Rs 3-10, onde se trata dos reinados de Jorão e de Jeú, que erradicou o culto de Baal de Israel (841-814), e cuja unção fora anunciada por Elias (1 Rs 19, 16), e onde se ilustra a actividade de Eliseu, propõe-nos alguns textos adequados a uma leitura teológica da história de Israel.
    Atália, filha de Acab e Jezabel, quis continuar a política anti-javista e a promoção do culto de Baal, agora no Sul. Tendo morrido Acazias (841), legítimo herdeiro do trono, apoderou-se do reino de Judá, e eliminou a restante família real. Mas Joseba, filha do rei Jorão e mulher do sumo-sacerdote Jóiada (2 Cr 22, 11), tomou Joás, filho de Acazias, e livrou-o do massacre dos filhos do rei, escondendo-o no templo. Passados sete anos, e após uma bem preparada conjura, Joás é proclamado rei (835-796) e entronizado.
    A linha baalista de Jezabel é destroçada pela reacção da casta sacerdotal, e o templo de Baal, erguido no centro de Jerusalém, é destruído. A própria rainha é morta e, finalmente, a aliança é renovada: «Joiadá fez uma aliança com o Senhor, o rei e o povo, segundo a qual o povo devia ser o povo do Senhor» (v. 17). A renovação da aliança repetia-se nos momentos cruciais da história de Israel (cf. 2 Rs 23).

    Evangelho: Mateus 6, 19-23

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 19«Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. 20Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. 21Pois, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. 22A lâmpada do corpo são os olhos; se os teus olhos estiverem sãos, todo o teu corpo andará iluminado. 23Se, porém, os teus olhos estiverem doentes, todo o teu corpo andará em trevas. Portanto, se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão essas trevas!

    À primeira vista, Jesus condena a propriedade privada. Mas, observando o Evangelho, verificamos que Jesus permitia aos seus discípulos a propriedade de casa e campos (Mc 10, 29-30), as mulheres que Lhe prestavam assistência tinham os seus bens (Lc 8, 3; 10, 38) e os casos de Levi (Mc 2, 15) e de Zaqueu (Lc 19, 8) apontam na mesma direcção. O jovem rico é um caso à parte (Mc 10, 21).
    As palavras de Jesus compreendem-se a partir da oposição tesouro na terra e tesouro no céu. Quem agir segundo a justiça, praticar o bem, der esmola ... terá um tesouro no céu. Era a mentalidade comum no tempo de Jesus, e que devemos ter em conta. Mas a afirmação de Jesus tem uma profundidade maior: a propriedade terrena é passageira e incerta... Como é que se obtém o tesouro no céu? Orientando o coração, isto é, a afectividade, o homem todo, com os seus apetites e desejos mais íntimos e profundos, para Deus. Esse é o tesouro que permanece seguro.
    Os olhos são a lâmpada do corpo porque nos permitem ver. Se estiverem sãos, isto é, postos em Deus, que é a luz fonte de toda a luz, será iluminado o mistério da escuridão humana. Se estiverem doentes, isto é, não postos em Deus, viveremos nas trevas, no mistério da nossa própria escuridão.

    Meditatio

    Apesar da tentativa de Atália para destruir todos os possíveis descendentes de David, Deus intervém e salva um rebento dessa estirpe, que leva em si a esperança do Messias. No Antigo Testamento, a promessa de Deus ao povo escolhido liga intimamente a vida religiosa e a vida política. No Novo Testamento, é a Igreja, novo povo de Deus, que acolhe todos os povos. As suas relações, também em campo político, visam o bem de todos os homens. A Igreja não procura o poder político: é chamada, por causa da missão que Deus lhe confiou, a trabalhar para o advento do seu Reino e, portanto, para que cresçam entre todos os povos relações de fraternidade, de respeito e estima, e pelo progresso da vida religiosa. Trata-se de uma proposta difícil, que comporta riscos de compromissos, de instrumentalização por parte das autoridades políticas, e mesmo de perseguições, como acontece ainda hoje em muitos países. Mas é inegável a ajuda, que o trabalho cansativo, paciente e clarividente da Igreja tem trazido ao bem e à
    liberdade dos povos.
    Jesus, no Sermão da Montanha, insistente repetidamente em referir-se ao Reino. Há que procurar o reino de Deus (Mt 6, 10.33), as coisas boas (Mt 7, 11), o «tesouro nos céus» (Mt 6, 20), que consiste nos bens eternos e incorruptíveis. Para discernir sobre esses bens, há que ter aquele «olho interior dotado de recta intenção que dirige as acções humanas», como dizia Nicolau de Lira. É indispensável um olhar simples, unificado e puro («unus et purus»), segundo a Glosa medieval. «A luzerna», que ilumina as trevas, «é a fé» (Cromácio de Aquileia).
    O círio pascal, símbolo cristão da luz por excelência, ajuda-nos a aprofundar esta palavra.
    O consagrado vê tudo e vê todos à luz de Cristo. E Cristo mostra como nos havemos de relacionar com a natureza, com as coisas, com os homens e as mulheres: Ele respeitou tudo e todos, amou tudo e todos com serenidade. A sua pobreza e a sua obediência manifestam esse respeito e esse amor profundamente livre e libertador. A castidade consagrada, mas também a pobreza e a obediência, profundamente vividas e amadas, são fonte de uma grande liberdade interior.

    Oratio

    Senhor, dá-me um coração semelhante ao teu. Dá-me um coração simples que saiba discernir o verdadeiro bem, e não se deixe sugestionar pelos bens aparentes, ilusórios e passageiros.
    Dá-me, Senhor, um coração unificado, que não alimente aversões, não se dobre ao mal, não se torne escravo da sensualidade e do capricho. Faz-me compreender que só Tu és o tesouro do meu coração. Faz-me experimentar isso, quando te recebo na Eucaristia. Amen.

    Contemplatio

    «Não vos deixarei órfãos, diz Nosso Senhor, deixar-vos-ei outro director, o Espírito de verdade». - «Iluminados por ele, diz-nos Nosso Senhor, reconhecereis que estou no meu Pai, que somos um só na unidade da essência divina; e vós estareis em mim, estareis unidos a mim pela vida da graça, pela docilidade do espírito; e eu estarei em vós para vos iluminar, para vos dirigir, para vos santificar».
    É o Espírito Santo que vos une ao coração de Jesus.
    «Não vos podia dizer tudo por mim mesmo», diz-nos Nosso Senhor. A minha morte, a minha ressurreição, a minha ascensão deviam intervir para darem autoridade à minha palavra. Dou-vos o meu Espírito, para continuar o meu ensinamento. Tem de mim e de meu Pai toda a verdade. Ele há-de introduzir-vos depois de mim no santuário das verdades reveladas. Iluminará o vosso espírito, dar-vos-á a inteligência do que vos ensinei. Não vos há-de ensinar outra doutrina, porque recebe tudo de meu Pai e de mim. Nós somos um. Falo-vos pelo Espírito Santo, como meu Pai vos fala pela minha boca. Dará testemunho de mim. Ajudar-vos-á a compreender a minha divindade, os meus mistérios, a minha vida, o meu Coração, o meu amor por vós. (Leão Dehon, OSP3, p. 431.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Se os teus olhos estiverem sãos, todo o teu corpo andará iluminado.» (Mt 6, 22).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XI Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares

    XI Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares


    18 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XI Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Crónicas 24, 17-25

    17Depois da morte de Joiadá, os chefes de Judá vieram e prostraram-se diante do rei, que os ouviu. 18Abandonaram o templo do Senhor, Deus de seus pais, e prestaram culto aos troncos sagrados e aos ídolos. E essas faltas atraíram a ira divina sobre Judá e Jerusalém. 19O Senhor enviou-lhes profetas para que eles se convertessem ao Senhor com as suas exortações. Mas eles não lhes deram ouvidos. 20Então, o espírito de Deus desceu sobre Zacarias, filho do sacerdote Joiadá, que se apresentou diante do povo e disse: «Assim fala Deus: 'Porque transgredis os mandamentos do Senhor? Nada conseguireis. Já que abandonastes o Senhor, o Senhor há-de abandonar-vos'.» 21Mas eles revoltaram-se contra ele e apedrejaram-no, por ordem do rei, no átrio do templo do Senhor. 22O rei Joás esquecera a lealdade de Joiadá, pai de Zacarias, e mandou matar o filho. Zacarias, ao morrer, disse: «Que o Senhor veja e faça justiça.» 23No fim do ano, o exército dos arameus marchou contra Joás; invadiu Judá e Jerusalém, massacrou os chefes do povo e enviou todos os seus despojos ao rei de Damasco. 24Embora os arameus fossem em pequeno número, o Senhor entregou-lhes um enorme exército, porque Judá abandonara o Senhor, Deus de seus pais. Assim, os arameus fizeram justiça a Joás. 25Mal os arameus se afastaram, deixando-o em grandes sofrimentos, os seus homens revoltaram-se contra ele, por causa da morte do filho do sacerdote Joiadá, e mataram-no na sua cama. Morreu e foi sepultado na cidade de David, mas não no sepulcro dos reis.

    O princípio da retribuição percorre toda a história deuteronomista: os bons recebem prémios e os maus, castigos. Esse mesmo princípio serve para explicar a destruição de Jerusalém, do templo e o exílio, que são consequências dos pecados colectivos e reiterados do povo.
    É à luz do princípio da retribuição que é lida a queda de Samaria, em 721, prelúdio da queda de Jerusalém. Morto o sumo-sacerdote Jóiada, o rei Joás, consagrado por ele, cedeu às tendências sincretistas dos «chefes de Judá», caindo na idolatria. Em vão o profeta Zacarias, filho de Jóiada, tentou evitar esse crime. Foi apedrejado até à morte. Mas a justiça divina, segundo o princípio da retribuição, não se fez esperar: veio a invasão dos arameus e a morte do rei, na própria cama, às mãos dos seus homens, que conservavam grande respeito por Jóiada, e não concordaram com a morte do seu filho, Zacarias.

    Evangelho: Mateus 6, 24-34

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 24«Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» 25«Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? 26Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas? 27Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? 28Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! 29Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. 30Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? 31Não vos preocupeis, dizendo: 'Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?' 32Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. 33Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. 34Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.»

    A última secção do capítulo 6 de Mateus refere a alternativa de opção perante a qual se encontra o cristão: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» Há pois que decidir-se pelo «senhor» a quem se quer servir: ou Deus, ou dinheiro, isto é, o lucro e, portanto, os bens do homem, mas também «a avidez» com que o homem os procura e os possui. A ânsia na busca de bens materiais revela «pouca fé», frequentemente denunciada por Mateus (8, 26¸14, 31; 16, 8; 17, 20), mas também pouca confiança na providência divina. Para inculcar essa confiança, Jesus aponta as aves do céu e os lírios dos campos. Se essas criaturas, que hoje vivem e amanhã estarão mortos, são alimentados pela providência de Deus, quanto os homens, a quem foi prometida a eternidade, serão alimentados por Deus! Há que hierarquizar as nossas necessidades e os bens: o primeiro lugar pertence aos bens espirituais, que dão o sentido e o justo valor aos bens materiais. A verdadeira preocupação do homem há-de ser «o Reino de Deus e a sua justiça» (v. 33), permanecer nele, permanecer no senhorio de Deus.

    Meditatio

    A primeira leitura refere com muita clareza o erro em que incorreu Judá, e que levou à queda de Jerusalém: «Abandonaram o templo do Senhor, Deus de seus pais, e prestaram culto aos troncos sagrados e aos ídolos» (v. 18). Trata-se, pois, da idolatria. Que terá isto a ver connosco? É verdade que não adoramos troncos sagrados nem ídolos. Mas, não tomamos, tantas vezes, como fins, realidades que são apenas meios para chegar ao nosso fim? Jesus, no evangelho, denuncia a idolatria do dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (v. 24).
    A idolatria do dinheiro é bastante espontânea. É verdade que não podemos viver sem dinheiro, e que devemos trabalhar para ganhá-lo para nós, para a família, para partilhar com os outros. Mas o fim do nosso trabalho não pode ser só ganhar dinheiro. Há outros valores, como a nossa própria realização pessoal, e o progresso do reino de Deus: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33). O cristão há-de estar consciente de que, quando trabalha, está a servir. E há-de servir com amor. O dinheiro deve permanecer no seu lugar de servidor, e não tornar-se patrão, um ídolo.
    Para evitar essa id
    olatria, Jesus convida-nos à confiança na providência divina: «Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir... o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso.» (v. 25.33). As nossas preocupações materiais não podem sufocar as espirituais, principalmente o crescimento no amor. Na medida em que estes valores forem penetrando na sociedade, vai progredindo a justiça e a paz, a liberdade e a fraternidade.
    Os problemas fundamentais do homem: o sentido da vida, o modo como valorizá-la, o destino da nossa existência, a aspiração pelo infinito, infundida no coração do homem, não podem encontrar resposta nas coisas materiais ou nas pessoas, todas elas limitadas e caducas, frágeis canas agitadas pelo vento, que mal se governam a si mesmas. Aqui nasce a exigência de Deus... O valor do homem não está em "ter" muito, mas no "ser", e o "ser" do homem é tanto mais perfeito quanto mais experimenta a intimidade de Deus: «Procurai primeiro o Reino dos Céus e tudo o resto vos será dado por acréscimo» (Mt 6, 33).

    Oratio

    Senhor, ensina a buscar o verdadeiro tesouro, não na terra, mas no céu. Liberta-me do domínio e da servidão do mundo, da carne e do demónio, de modo que possa voltar o olhar para a contemplação das realidades celestes. Acrescenta à minha estatura natural um «côvado» de graça na vida presente e de glória na futura. Torna-me atento aos lírios do campo, aos filhos da Igreja revestidos de virtude. Concede-me procurar primeiro o Reino de Deus e a sua justiça para que, depois de caminhar sereno e confiante sobre a terra, Te encontre à minha espera no reino celeste. Amen.

    Contemplatio

    Livremo-nos das solicitudes da vida. - Como Nosso Senhor também nos recomendou que nos não embaracemos com os cuidados deste mundo e que guardemos o nosso espírito bem livre para irmos para Ele. «Não podeis, dizia, servir a dois senhores ao mesmo tempo, o vosso Deus e a avareza» (Mt 6, 25). «Dai, portanto, a Deus antes de tudo o que lhe deveis dar, Ele vos ajudará no resto» (Lc 12, 31).
    Para as necessidades da vida, depois de terdes feito o vosso dever, abandonai-vos à solicitude do vosso Pai celeste; Ele tomará cuidado de vós. Recordai-vos da parábola do semeador. A semente é a palavra de Deus. Aí onde os cuidados da vida absorvem as almas, a semente cai num campo obstruído pelos espinhos.
    Recordemo-nos ainda da censura de Nosso Senhor a Marta em Betânia: «Marta, Marta, agitai-vos demasiado e perturbai-vos demasiado». Os apóstolos foram de tal modo impregnados por este ensinamento, que o repetiram em cada página das suas epístolas. S. Pedro primeiro: «Conjuro-vos a que vos guardeis das cobiças carnais, que se opõem à vida da alma» (1Pd 2, 11). E S. João: «Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Só encontrareis lá a concupiscência e o orgulho» (Jo 2, 15). E S. Tiago: «O amor do mundo é oposto ao amor de Deus» (Tg 4, 4). Escutemos finalmente S. Paulo: «Procuremos as coisas do céu e não as da terra» (Col 3). «Os discípulos de Cristo crucificam a sua carne» (Gal 5). Levemos sempre no nosso corpo a mortificação de Cristo, para que a vida de Jesus se manifeste em nós (2Cor 4, 10). Seria necessário citar S. Paulo todo.
    Não é justo que reservemos a Nosso Senhor o melhor do nosso espírito e do nosso coração? Se formos ter com Ele com um espírito distraído, com um coração apaixonado pelas coisas da terra, pode estar satisfeito? Quem quiser ver na amizade de Jesus o seu melhor tesouro não terá as suas preferências? Digamos com Sto. Agostinho: «Toda a riqueza que não é o meu Deus é para mim a pobreza» (Med 18). (Leão Dehon, OSP4, p. 501s).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça,
    e tudo o mais se vos dará por acréscim » (Mt 6, 33).

    | Fernando Fonseca, scj |

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