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04º Domingo da Páscoa – Ano C
04º Domingo da Páscoa – Ano C
8 Maio 202204º Domingo da Páscoa – Ano C
ANO C
4º DOMINGO DA PÁSCOATema do 4º Domingo do Tempo Pascal
O 4º Domingo do Tempo Pascal é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos a liturgia propõe um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como Bom Pastor. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus hoje nos propõe.
O Evangelho apresenta Cristo como o Bom Pastor, cuja missão é trazer a vida plena às ovelhas do seu rebanho; as ovelhas, por sua vez, são convidadas a escutar o Pastor, a acolher a sua proposta e a segui-l’O. É dessa forma que encontrarão a vida em plenitude.
A primeira leitura propõe-nos duas atitudes diferentes diante da proposta que o Pastor (Cristo) nos apresenta. De um lado, estão essas “ovelhas” cheias de auto-suficiência, satisfeitas e comodamente instaladas nas suas certezas; de outro, estão outras ovelhas, permanentemente atentas à voz do Pastor, que estão dispostas a arriscar segui-l’O até às pastagens da vida abundante. É esta última atitude que nos é proposta.
A segunda leitura apresenta a meta final do rebanho que seguiu Jesus, o Bom Pastor: a vida total, de felicidade sem fim.LEITURA I – Act 13,14.43-52
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias,
Paulo e Barnabé seguiram de Perga até Antioquia da Pisídia.
A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se.
Terminada a reunião da sinagoga,
muitos judeus e prosélitos piedosos
seguiram Paulo e Barnabé,
que nas suas conversas com eles
os exortavam a perseverar na graça de Deus.
No sábado seguinte,
reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra do Senhor.
Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja
e responderam com blasfémias.
Corajosamente, Paulo e Barnabé declararam:
«Era a vós
que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus.
Uma vez, porém, que a rejeitais
e não vos julgais dignos da vida eterna,
voltamo-nos para os gentios,
pois assim nos mandou o Senhor:
‘Fiz de ti a luz das nações,
para levares a salvação até aos confins da terra’».
Ao ouvirem estas palavras,
os gentios encheram-se de alegria
e glorificavam a palavra do Senhor.
Todos os que estavam destinados à vida eterna
abraçaram a fé
e a palavra do Senhor divulgava-se por toda a região.
Mas os judeus,
instigando algumas senhoras piedosas mais distintas
e os homens principais da cidade,
desencadearam uma perseguição contra Paulo e Barnabé
e expulsaram-nos do seu território.
Estes, sacudindo contra eles o pó dos seus pés,
seguiram para Icónio.
Entretanto, os discípulos
estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.AMBIENTE
A partir do capítulo 13, os “Actos dos Apóstolos” apresentam o “caminho” da Igreja no mundo greco-romano. O protagonista humano desta nova etapa será Paulo (embora sempre animado e conduzido pelo Espírito do Senhor ressuscitado).
Tudo começa quando a comunidade cristã de Antioquia da Síria, ansiosa por fazer a Boa Nova de Jesus chegar a todos os povos, envia Barnabé e Paulo a evangelizar. Entre 13,1 e 15,35, o autor dos “Actos” descreve o “envio” dos missionários, a viagem, a evangelização de Chipre e da Ásia Menor (Perga, Antioquia da Pisídia, Icónio, Listra, Derbe) e os problemas colocados à jovem Igreja pela entrada maciça de gentios.
Este texto, em concreto, situa-nos na cidade de Antioquia da Pisídia, no interior da Ásia Menor. Nos versículos anteriores, o autor dos “Actos” pôs na boca de Paulo um longo discurso, que resume a catequese primitiva sobre Jesus e que enquadra no plano de Deus a proposta de salvação que Jesus veio trazer (cf. Act 13,16-41). Qual será a resposta ao anúncio, quer por parte dos judeus, quer por parte dos pagãos que escutaram a mensagem?MENSAGEM
A questão central gira, portanto, à volta da reacção de judeus e pagãos ao anúncio de salvação apresentado por Paulo e Barnabé.
O texto põe em confronto duas atitudes diversas diante da proposta cristã: a daqueles que pensavam ter o monopólio de Deus e da verdade, mas que estavam instalados nas suas certezas, no seu orgulho, na sua auto-suficiência, nas suas leis definidas e comodamente arrumadas e não estavam, realmente, dispostos a “embarcar” na aventura do seguimento de Cristo (judeus); e a daqueles que, no desafio do Evangelho, descobriram a vida verdadeira, aceitaram questionar-se, quiseram arriscar e responderam com alegria e entusiasmo à proposta libertadora que Deus lhes fez por intermédio dos missionários (pagãos).
A Boa Nova de Jesus é, portanto, uma proposta que é dirigida a todos os homens, de todas as raças e nações; não se trata de uma proposta fechada, exclusivista, destinada a um grupo de eleitos, mas de uma proposta universal, que se destina a todos os homens, sem excepção. O que é decisivo não é ter nascido neste ou naquele ambiente, mas é a capacidade de se deixar desafiar pela proposta de Jesus, de acolher com simplicidade, alegria e entusiasmo essa proposta e de partir, todos os dias, para esse caminho onde o nosso Deus nos propõe encontrar a vida nova, a vida verdadeira, a vida total.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e a actualização da Palavra podem partir das seguintes linhas:
• Os judeus de que se fala nesta leitura representam aqueles que se acomodaram a uma religião “morninha”, segura, feita de hábitos, de leis, de devoções, de ritos externos, de fórmulas fixas, mas que não põe verdadeiramente em causa o coração e a consciência, nem tem um impacto real na vida de todos os dias. É a religião dos “certinhos” e acomodados, dos que têm medo da novidade de Deus (que mexe com os esquemas feitos e, constantemente, põe tudo em causa, obriga a arriscar e a converter-se).
• Os pagãos de que se fala nesta leitura representam aqueles que, tendo tantas vezes uma história pessoal complicada e uma caminhada de fé nem sempre exemplar, estão abertos à novidade de Deus e se deixam questionar por Ele. Eles não têm medo de se desinstalar, de arriscar partir para uma vida nova e mais exigente, de procurar novos caminhos, de seguir Jesus no seu percurso de amor e de entrega – ainda que seja um caminho de cruz e de perseguição.
• Onde é que eu me situo? Na atitude de quem nasceu cristão sem ter feito muito para isso e que vive a sua religião sem riscos, sem exigências de radicalidade e de autenticidade, ou na atitude de quem se deixa continuamente desafiar, se deixa questionar por Deus, aceita viver numa dinâmica contínua de conversão e sente que a sua caminhada em direcção à vida nova nunca está acabada?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 99 (100)
Refrão 1: Nós somos o povo de Deus,
somos as ovelhas do seu rebanho.Refrão 2: Nós somos o povo do Senhor;
Ele é o nosso alimento.Refrão 3: Aleluia.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
servi o Senhor com alegria,
vinde a Ele com cânticos de júbilo.Sabei que o Senhor é Deus,
Ele nos fez, a Ele pertencemos,
somos o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.O Senhor é bom,
eterna é a sua misericórdia,
a sua fidelidade estende-se de geração em geração.LEITURA II – Ap 7,9.14b-17
Leitura do Livro do Apocalipse
Eu, João, vi uma multidão imensa,
que ninguém podia contar,
de todas as nações, tribos, povos e línguas.
Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro,
vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão.
Um dos Anciãos tomou a palavra para me dizer:
«Estes são os que vieram da grande tribulação,
os que lavaram as túnicas
e as branquearam no sangue do Cordeiro.
Por isso estão diante do trono de Deus,
servindo-O dia e noite no seu templo.
Aquele que está sentado no trono
abrigá-los-á na sua tenda.
Nunca mais terão fome nem sede,
nem o sol ou o vento ardente cairão sobre eles.
O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor
e os conduzirá às fontes da água viva.
E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos».AMBIENTE
A liturgia do passado domingo apresentava-nos “o cordeiro” (Jesus), o Senhor da história, que Se preparava para abrir e ler o livro dos sete selos – o livro onde, simbolicamente, estava escrita a história humana.
De acordo com o autor do “Apocalipse”, a abertura dos selos desse livro vai expor a realidade do mundo: na caminhada histórica dos homens, está presente Cristo vitorioso continuamente em combate contra tudo o que escraviza e destrói o homem (1º selo – o cavaleiro branco); mas está também presente a guerra e o sangue (2º selo – o cavaleiro vermelho), a fome e a miséria (3º selo – o cavaleiro negro), a morte, a doença, a decomposição (4º selo – o cavaleiro esverdeado). No fundo deste quadro, jazem os mártires que sofrem perseguições por causa da sua fé e que, dia a dia, clamam a Deus por justiça (5º selo); por isso, prepara-se o “grande dia da ira”, que anuncia a intervenção de Deus na história para destruir o mal (6º selo). A revelação final apresenta o combate definitivo, em que as forças de Deus derrotarão as forças do mal (7º selo).
O texto de hoje situa-nos no contexto do 6º selo (o anúncio do “dia do Senhor”). Aos mártires que clamam por justiça, o autor do “Apocalipse” descreve o que vai resultar da intervenção de Deus: a libertação definitiva, a vida em plenitude.MENSAGEM
O texto que nos é proposto apresenta-nos uma multidão imensa, inumerável, universal, pois pertence a todas as nações. Os que a compõem estão de pé, em sinal de vitória, pois participam da ressurreição de Cristo; levam túnicas brancas, o que indica que pertencem à esfera de Deus (o branco é a cor de Deus); aclamam com palmas (alusão à festa das tendas, uma festa celebrada no final das colheitas, marcada pela alegria e pelo louvor. Recorda o êxodo – quando os israelitas viveram em “tendas” – e, por influência de Zac 14,16, assume claras ressonâncias escatológicas. Na liturgia dessa festa, a multidão entrava em cortejo no recinto do Templo, agitando palmas e cantando) e louvam Deus e o “cordeiro”.
Quem são estes? São os que “vieram da grande tribulação e que branquearam as vestes no sangue do cordeiro”, isto é, que suportaram a perseguição mais feroz e alcançaram a redenção pela entrega de Jesus (vers. 14).
Que fazem eles? Estão diante de Deus tributando-Lhe o culto, dia e noite. Esse culto não é o somatório de um conjunto de ritos mas, antes de mais, a permanente e gozosa presença diante de Deus e do “cordeiro”.
A “Festa das Tendas” fazia alusão à marcha do Povo de Deus pelo deserto, desde a terra da escravidão até à terra da liberdade. A referência a esta festa neste contexto significa que se cumpre, agora, o novo e definitivo êxodo: depois da intervenção final de Deus na história, a multidão dos que aderiram ao “cordeiro” e acolheram a sua proposta de salvação, alcançaram a libertação definitiva, foram acolhidos na “tenda” de Deus; aí, não os alcançará mais a morte, o sofrimento, as lágrimas… Cristo ressuscitado, sentado no trono, é o pastor deste novo Povo, e que o conduz para “as fontes de águas vivas” – isto é, em direcção à plenitude dos bens definitivos, onde brota a fonte da vida plena.
Em conclusão: aos “santos” que gritam por justiça, anuncia-se uma mensagem de esperança. O quadro antecipa o tempo escatológico: da acção de Deus, da sua definitiva intervenção na história, resultará a libertação definitiva do Povo de Deus; nascerá a comunidade escatológica, a comunidade dos libertados, que estarão para sempre em comunhão com Deus e que gozarão em plenitude a vida definitiva.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:
• Em cada dia que passamos neste mundo, fazemos a experiência da alegria e da esperança, mas também da dor, da incompreensão, do medo, do sofrimento, do desespero… Com frequência, é o pessimismo que nos agarra, que nos limita, que nos escraviza e que nos impede de saborear o dom da vida. O autor do “Apocalipse” deixa-nos uma mensagem de esperança e diz-nos que não estamos condenados ao fracasso, mas sim à vida plena, à libertação definitiva, à felicidade total.
• O que é preciso para aí chegar? Apenas acolher o dom da salvação que nos é feito pelo nosso Deus. Se aceitarmos a proposta de Jesus e seguirmos atrás d’Ele no caminho do amor, da entrega, do dom da vida, se virmos n’Ele o pastor que nos conduz às fontes de água viva, chegaremos indubitavelmente à vida definitiva, à comunhão com Deus, à felicidade plena.
• A resposta positiva à oferta de salvação que Deus nos faz introduz em nós um novo dinamismo; esse dinamismo fortalece a nossa coragem e permite-nos continuar a lutar, desde já, pela concretização do novo céu e da nova terra.
ALELUIA – Jo 10,14
Aleluia. Aleluia.
Eu sou o bom pastor, diz o Senhor:
conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me.EVANGELHO – Jo 10,27-30
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus:
«As minhas ovelhas escutam a minha voz.
Eu conheçoas minhas ovelhas e elas seguem-Me.
Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão-de perecer
e ninguém as arrebatará da minha mão.
Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos
e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai.
Eu e o Pai somos um só».AMBIENTE
O capítulo 10 do 4º Evangelho é dedicado à catequese do Bom Pastor. O autor utiliza esta imagem para apresentar uma catequese sobre a missão de Jesus: a obra do “Messias” consiste em conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas de onde brota a vida em plenitude.
A imagem do Bom Pastor não foi inventada pelo autor do 4º Evangelho. Literariamente falando, este discurso simbólico está construído com materiais provenientes do Antigo Testamento. Em especial, este discurso tem presente Ez 34 onde se encontra a chave para compreender a metáfora do pastor e do rebanho. Falando aos exilados na Babilónia, Ezequiel constata que os líderes de Israel foram, ao longo da história, falsos pastores que conduziram o Povo por caminhos de morte e de desgraça; mas – diz Ezequiel – o próprio Deus vai, agora, assumir a condução do seu Povo; Ele porá à frente do seu Povo um Bom Pastor (Messias), que o livrará da escravidão e o conduzirá à vida.
A catequese que o 4º Evangelho nos oferece do Bom Pastor sugere que a promessa de Deus afirmada por Ezequiel se cumpre em Jesus.MENSAGEM
O texto que nos é proposto acentua, sobretudo, a relação estabelecida entre o Pastor (Cristo) e as ovelhas (os seus discípulos).
A missão desse Pastor (Cristo) é dar vida às ovelhas. Ao longo do Evangelho, João descreve, precisamente, a acção de Jesus como uma recriação e revivificação do homem, no sentido de fazer nascer o Homem Novo (cfr. Jo 3,3.5-6), o homem da vida em plenitude, o homem total, o homem que, seguindo Jesus, se torna “filho de Deus” (cf. Jo 1,12) e que é capaz de oferecer a vida por amor. Os que aceitam a proposta de vida que Jesus lhes faz não se perderão nunca (“nunca hão-de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão” – Jo 10,28), pois a qualidade de vida que Jesus lhes comunica supera a própria morte (cf. Jo 3,16;8,51). O próprio Jesus está disposto a defender os seus até dar a própria vida por eles (cf. Jo 10,11), a fim de que nada nem ninguém (os dirigentes, os que estão interessados em perpetuar mecanismos de egoísmo, de injustiça, de escravidão) possa privar os discípulos dessa vida plena.
As ovelhas (os discípulos), por sua vez, têm de escutar a voz do Pastor e segui-l’O (cf. Jo 10,27). Isto significa que fazer parte do rebanho de Jesus é aderir a Ele, escutar as suas propostas, comprometer-se com Ele e, como Ele, entregar-se sem reservas numa vida de amor e de doação ao Pai e aos homens.
O texto termina com uma referência à identificação plena entre o projecto do Pai e o projecto de Jesus: para ambos, o objectivo é fazer nascer uma nova humanidade. Em Jesus está presente e manifesta-se o plano salvador do Pai de dar vida eterna (vida plena) ao homem; através da acção de Jesus, a obra criadora de Deus atinge o seu ponto culminante.ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na actualização da Palavra, os seguintes elementos:
• Na nossa cultura urbana, a imagem do pastor é uma parábola de outras eras, que pouco diz à nossa sensibilidade; em contrapartida, conhecemos bem a figura do líder, do presidente, do chefe: não raras vezes, é alguém que se impõe, que manipula, que arrasta, que exige… Mas o Evangelho que hoje nos é proposto convida-nos a descobrir a figura bíblica do Pastor: uma figura que evoca doação, simplicidade, serviço, dedicação total, amor gratuito. É alguém que é capaz de dar a própria vida para defender das garras das feras as ovelhas que lhe foram confiadas.
• Para os cristãos, o Pastor é Cristo: só Ele nos conduz para as “pastagens verdadeiras”, onde encontramos vida em plenitude. Nas nossas comunidades cristãs, temos pessoas que presidem e que animam. Podemos aceitar, sem problemas, que eles receberam essa missão de Cristo e da Igreja, apesar dos seus limites e imperfeições; mas convém igualmente ter presente que o nosso único Pastor, aquele que somos convidados a escutar e a seguir sem condições, é Cristo.
• As “ovelhas” do rebanho de Jesus têm de “escutar a voz” do Pastor e segui-l’O… Isso significa, concretamente, percorrer o mesmo caminho de Jesus, numa entrega total aos projectos de Deus e numa doação total, de amor e de serviço aos irmãos.
• Como distinguimos a “voz” de Jesus, o nosso Pastor, de outros apelos, de propostas enganadoras, de “cantos de sereia” que não conduzem à vida plena? Através de um confronto permanente com a sua Palavra, através da participação nos sacramentos onde se nos comunica a vida que o Pastor nos oferece e num permanente diálogo íntimo com Ele.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 4º DOMINGO DO TEMPO PASCAL
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 4º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. PALAVRA DE ABERTURA.
Nas palavras de boas vindas, o presidente da assembleia procure não fazer deste domingo unicamente um “domingo das vocações”; é Cristo morto e ressuscitado que é festejado e cantado ao longo de todos os domingos da Páscoa. Hoje, é-nos apresentado com traços de Pastor, que nos precede e nos guia para as fontes de vida. O Ressuscitado é o Caminho, a Verdade e a Vida.3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.Pai, nós Te damos graças pelo teu Filho Jesus, que se revelou como Luz das nações, e pelos teus Apóstolos, que comunicaram esta Luz, para que a tua salvação chegue até aos confins da terra.
Nós Te pedimos por todos os novos baptizados e pelos jovens que redizem pessoalmente a fé do seu Baptismo.No final da segunda leitura:
Nosso Pai dos céus, nós Te bendizemos pela multidão imensa de todas as nações, raças, povos e línguas, que está diante do teu trono e diante do Cordeiro: juntamo-nos ao grande louvor que eles Te dirigem.
Jesus, que és o Cordeiro e o Pastor, nós Te pedimos pelas Igrejas, ainda em peregrinação: conduz-nos a todos, juntos para a fonte da vida.No final do Evangelho:
Jesus nosso Bom Pastor, nós Tedamos graças pela tua voz que nos chama, porque Tu conheces-nos e dás-nos a vida eterna.
Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos torne atentos à tua voz, para que a possamos conhecer e possamos seguir-Te. Que nada nos afaste da tua mão, que é a do Pai, porque vós sois um.4. BILHETE DE EVANGELHO.
Como está feliz, a criança a quem damos a mão! Sente-se em segurança, já não tem medo, é considerada como uma pessoa. Jesus, na parábola do Bom Pastor, evoca a ligação que existe entre o verdadeiro pastor e as suas ovelhas. Elas parecem estar na sua mão porque, diz Ele, “ninguém as arrancará da minha mão”. Jesus veio tomar a humanidade pela mão para dela cuidar, curar, conduzir, erguer, numa palavra, “salvar”. Ora, se Ele veio tomar a humanidade pela mão, é porque o Pai O enviou, como os dois fazem UM, é na mão do Pai que se encontra a humanidade, e, afirma Jesus, ninguém pode arrancar nada da mão do Pai. Que segurança para nós! Saber que estamos em segurança na mão de Deus: criando-nos e recriando-nos, tal como o oleiro, modela-nos e renova-nos. Perdoando-nos, tal como o pai do filho pródigo, reconcilia-nos com Ele, connosco mesmos e com os outros. Guiando-nos, tal como o Bom Pastor, faz-nos caminhar no caminho da felicidade. Oferecendo-nos a sua vida, tal como o Filho na cruz, faz de nós vivos.5. À ESCUTA DA PALAVRA.
“Sou Eu!” Quem de nós não exclamou tantas vezes esta expressão? Nem é necessário dizer o nome… Hoje, diz Jesus: “Eu sou o Bom Pastor..:” Coloca-Se num registo de uma relação de intimidade para falar da sua ligação com os discípulos. Foi isso que Ele viveu com eles durante três anos. Tornaram-se seus amigos. Várias vezes, Jesus só precisou deste grito para Se fazer reconhecer: “Sou Eu!” Os discípulos não podiam enganar-se: esta voz era a sua, única no mundo. Não serve de nada dizer a um desconhecido: “Sou Eu!” Para entrar na intimidade de alguém, é preciso uma relação longa, um “viver-com”, uma familiaridade, no sentido pleno da palavra. Isso só se pode viver na duração, na fidelidade, na paciência. Com Jesus, é exactamente a mesma coisa. Não é o meu nervo auditivo que vibra à sua voz, mas a “audição do coração” que me torna atento quando a sua Palavra é proclamada em Igreja, quando leio e medito esta Palavra. É ela que vem fazer vibrar o meu ser profundo, que me toca o coração. Torno-me então, pouco a pouco, capaz de integrar na minha vida, na minha maneira de pensar e de agir, a sua maneira própria de falar e de agir. Pouco a pouco, a minha vida toma uma cor evangélica, a minha consciência afina-se, torno-me discípulo de Jesus, reconheço a sua presença na minha vida. Aí está um trabalho de longo alcance, de toda a vida. Então, pouco a pouco também, é um pouco d’Ele que trespassará através da minha vida para tocar os outros. Não está aí a vocação própria de todo o baptizado: fazer-se eco da sua voz no coração do mundo?6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III para as circunstâncias especiais, com a intercessão nº 1.7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
A minha participação no serviço das vocações… Neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, cada um de nós é chamado a fazer o ponto da situação:
– Qual é a minha parte ao serviço das vocações e da missão?
– Alguns euros na altura do peditório?
– Uma oração uma vez por ano? Ou com mais frequência?
– Um compromisso bem concreto – mesmo pequeno – num serviço da Igreja?
– E, se sou pai ou mãe, que forma de despertar uma vocação possível nos próprios filhos?https://youtu.be/nbFHcbkcSGg
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org -
4ª Semana - Segunda-feira - Páscoa
4ª Semana - Segunda-feira - Páscoa
9 Maio 20224ª Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Actos 11, 1-18
Naqueles dias, 1os Apóstolos e os irmãos da Judeia ouviram, entretanto, dizer que também os pagãos tinham recebido a palavra de Deus. 2E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os circuncisos começaram a censurá-lo, 3dizendo-lhe: «Tu entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles.» 4Pedro expôs-lhes, então, o caso, do princípio ao fim, dizendo: 5«Estava eu em oração na cidade de Jope quando, em êxtase, tive uma visão: um objecto semelhante a uma grande toalha, descia do céu, preso pelas quatro pontas, e chegou até junto de mim. 6Fitando os olhos nele, pus-me a observar e vi os quadrúpedes da terra, os animais ferozes, os répteis e as aves do céu. 7Ouvi também uma voz que me dizia: 'Vamos, Pedro, mata e come.' 8Mas eu respondi: 'De modo algum, Senhor! Nunca entrou na minha boca nada de profano ou impuro!' 9A voz fez-se ouvir do Céu, pela segunda vez: 'O que Deus purificou não o consideres tu impuro.' 10Isto repetiu-se três vezes; depois, tudo foi novamente elevado ao Céu. 11Nesse instante, apresentaram-se três homens na casa em que estávamos, enviados de Cesareia à minha presença. 12O Espírito disse-me que os acompanhasse, sem hesitar. Vieram também comigo os seis irmãos, aqui presentes, e entrámos em casa do homem. 13Ele contou-nos que tinha visto um anjo apresentar-se em sua casa, dizendo-lhe: 'Envia alguém a Jope e manda chamar Simão, cujo sobrenome é Pedro; 14ele dir-te-á palavras que te hão-de trazer a salvação, a ti e a toda a tua casa.' 15Ora, quando principiei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós, ao princípio. 16Recordei-me, então, da palavra do Senhor, quando Ele dizia: 'João baptizou em água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo.' 17Se Deus, portanto, lhes concedeu o mesmo dom que a nós, por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para me opor a Deus?»
18Estas palavras apaziguaram-nos, e eles deram glória a Deus, dizendo: «Deus também concedeu aos pagãos o arrependimento que conduz à Vida!»O baptismo de Cornélio e da sua família, passo decisivo na abertura do evangelho aos pagãos, foi oficialmente comunicado às autoridades da Igreja de Jerusalém. Mas os ambientes judeo-cristãos levantaram problemas e, quando Pedro chegou a Jerusalém, pediram-lhe explicações. Embora sendo a máxima autoridade na Igreja, o Apóstolo não queria agir de modo independente e caprichoso. Por isso, explica o passo dado e as motivações do mesmo. Não conta todo o episódio, mas apenas os pormenores que julga necessários para a sua compreensão. Além do seu próprio testemunho, acrescenta o dos seis irmãos que o acompanham, e lembra as palavras de Jesus, antes da ascensão: «vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo». A efusão do Espírito incluía os pagãos.
Os argumentos de Pedro acalmam os seus opositores. Estes reconhecem a acção de Deus e verificam que a penitência em ordem à vida também é concedida aos gentios, que não precisam de se tornar previamente judeus, nem de ser circuncidados e observar a Lei. A missão entre os pagãos ficava oficialmente autorizada. A acção de Pedro, que inicia a missão entre os gentios, uma vez aprovada pela Igreja, torna-se acção da própria Igreja. Mais ainda: sendo Cornélio romano, Lucas também insinua a boa relação entre os primeiros cristãos e as autoridades romanas, a tolerância do Estado frente à Igreja, decisiva na história do cristianismo.Evangelho: João 10, 1-10
Naquele tempo, disse Jesus: 1«Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lado, é um ladrão e salteador. 2Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A esse o porteiro abre-a e as ovelhas escutam a sua voz. E ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair. 4Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas, e as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz. 5Mas, a um estranho, jamais o seguiriam; pelo contrário, fugiriam dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos.» 6Jesus propôs-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que lhes dizia.
7Então, Jesus retomou a palavra: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. 8Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes prestaram atenção. 9Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. 10O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.Esta parábola é dirigida por Jesus, não aos judeus, mas aos fariseus com quem mantinha controvérsias por causa da sua dignidade divina, da fé exigida aos homens e da atitude de recusa que, em relação a Ele, mantinham os dirigentes de Israel. Os fariseus são os pastores que não entraram pela porta. São, pois, ladrões e salteadores. Jesus é o único pastor, que entra pela porta, que é a própria porta do redil.
As diversas analogias, que aparecem na alegoria, têm por fim realçar a autoridade de Jesus, cuja finalidade é apenas o bem-estar das suas ovelhas, a quem se entrega sem reserva. Dá a vida por elas. A autoridade dos fariseus não é legítima, porque se baseava numa interpretação da Lei que esmagava o povo em vez de o libertar. Os fariseus buscavam o seu próprio interesse e não o do povo (cf. Mt 23; Mc 12, 38ss.). Jesus é pastor legítimo, porque está preocupado com as ovelhas. Veio
para servi-las, e não para ser servido por elas. Conhece-as e elas conhecem-no; conhecem a sua voz. Têm dele um conhecimento amoroso. Jesus, o Bom Pastor, não procura dominar, não exige renúncia a nossa dignidade. Apenas pede que tenhamos confiança n´Ele para chegarmos à meta, às pastagens eternas.Meditatio
O Evangelho, de vez em quando, fala de mortificação. Podemos até cair na tentação de pensar que o Senhor veio para nos complicar a vida, para nos fazer sofrer e morrer, e que a vida cristã é mutilação. Hoje, o Senhor, tira-nos todas as dúvidas: «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10, 10). Se nos pede algum sacrifício, se nos convida a carregar a cruz, é por razões positivas, é para termos uma vida de maior plenitude. É o que nos diz na alegoria da videira: «Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele... poda o ramo que dá fruto, para que dê mais fruto ainda» (Jo 15, 1-2).
«Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10, 10). No evangelho de hoje, Jesus apresenta-se como Bom Pastor. Não é um pastor à maneira dos dirigentes de Israel que «dispersam e extraviam o rebanho» (Jr 23, 1) e «que se apascentam a si mesmos» (Ez 34, 2). É um pastor plenamente solidário com as suas ovelhas, a ponto de dar a vida por elas. É um pastor que conhece as pastagens eternas e o caminho para lá chegar. É um pastor diferente! Podemos deixar-nos guiar por Ele, porque não pretende dominar, não quer fazer-nos seus súbditos, não pede renúncia à nossa própria dignidade. Apenas pede que nos fiemos dele, que confiemos nele, para chegarmos à meta. É um pastor desapegado do poder e completamente entregue à orientação mansa e segura das ovelhas, pelas quais dá a sua vida.
Para o rebanho de Jesus são convidados todos os povos da terra. É o que nos mostra a conversão de Cornélio, um pagão romano. Como afirma Pedro, «Deus não faz acepção de pessoas» (Act 10, 34). Para Ele não há discriminação por razões sociais, raciais ou de qualquer outro tipo. Pedro, como judeu, sabia que era ilegal entrar na casa de um pagão, do modo como o fez. Mas a visão que teve em Jope fez- lhe dar-se conta de que essa ilegalidade tinha desaparecido com a morte e a ressurreição do Senhor. A salvação realizada por Jesus é para todos. Ninguém é excluído. Jesus ressuscitado é o Senhor de todos e, a todo o que n´Ele crê, são perdoados os pecados (cf. Act 10, 34-36). Pedro tem uma prova clara de tudo isso quando, ao discursar em casa de Cornélio, vê realizar-se um novo Pentecostes:
«quando principiei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós, ao princípio» (11, 15). É o Pentecostes «pagão» (em comparação com Pentecostes judeu). Trata-se de um acontecimento decisivo para a missão entre os pagãos. Como poderiam negar-se as águas do baptismo àqueles a quem Deus concedera o Espírito? Será o argumento de Pedro diante da igreja de Jerusalém.
Se a vocação à fé e ao baptismo é para todos, então também todos os que já têm fé e são baptizados têm o dever da missão, particularmente os consagrados. Como lembrava o nosso Superior Geral, no encerramento da VII Conferência Geral, compreendemos que a abertura universal do coração à missão não pode ser apenas de alguns, mas deve ser vocação de todo o dehoniano. Ainda que nem todos sejam chamados a trabalhar concretamente fora do seu país, a todos se pede que não reduzam a missão à realização de "serviços religiosos" para aqueles que já frequentam as nossas igrejas, mas façam da sua consagração um testemunho e um anúncio de Cristo à nossa sociedade.Oratio
Ó Jesus, Bom pastor, quando vezes, também eu, tenho medo de me deixar guiar por Ti, preferindo outros pastores. Querendo fugir ao teu rebanho, deixo-me envolver pelo rebanho dos que caminham sem rumo e sem esperança. Quanto sou condicionado pelo pensamento do ambiente que me rodeia! Como é difícil escapar da manada dos que vivem tranquilamente o dia a dia, sem se preocuparem com o que virá depois!
Dá-me a tua luz, para que compreenda que Tu és a luz, o guia, o caminho. Ilumina-me também para compreenda que fazer parte do teu rebanho não significa renunciar à minha inteligência, mas fazê-la penetrar pelos caminhos da vida, que só Tu conheces, porque só Tu desceste do Céu. Amen.Contemplatio
O verdadeiro pastor não tem senão uma preocupação, sustentar e desenvolver a vida do seu rebanho. O seu coração é absorvido por esta preocupação. A sua vida desenvolve-se na oração, no zelo, nas obras de pregação e de caridade. É um exemplo vivo das virtudes que ensina. É assim que dá a sua vida pelas suas ovelhas. Não se preocupa com os lucros em dinheiro, com as comodidades que o seu lugar pode proporcionar. Basta-lhe viver dia a dia, de receber o pão que sustenta as forças do corpo. Não conhece os cuidados da avareza, do luxo ou da ambição. Os que vivem assim amam verdadeiramente a Nosso Senhor; e o amor que lhe dedicaram é o segredo do seu zelo e do seu desinteresse.
O zelo pelas almas é inseparável do amor de Nosso Senhor, Jesus é devorado pelo zelo pela glória de seu Pai e pela salvação dos homens seus irmãos. Estes dois zelos não fazem senão um só. O bom padre deve como ele estar animado desde duplo zelo, e por isso basta-lhe amar Nosso Senhor e tudo reportar ao seu amor. O amor que testemunhamos a Nosso Senhor toca-o no coração e inclina-se a comunicar-se àquele que o ama. É assim que os padres que dão como móbil de todas as suas acções o amor do Sagrado Coração produzem os maiores frutos. Obrigam-no por uma doce coacção a substituir-se a eles, a viver neles e tornar-se pastor por seu intermédio.
Mas, para que penetre assim numa alma sacerdotal, é preciso que não encontre nela nenhuma resistência. É preciso que se agrade nela e que nela se encontre em casa: Já não sou eu que vive; é Cristo que vive em mim. Que os seus padres o amem portanto! Pede-lhes o seu coração em troca do dele. Quando eles estiverem bem na frente do seu coração, fará brilhar à sua volta a sua divina influência; espalhará por eles ondas de graças. O seu ministério será abençoado (Leão Dehon, OSP 3, p. 469s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Eu vim para que tenham vida... em abundância» (Jo 10, 10). -
4ª Semana –Terça-feira - Páscoa
4ª Semana –Terça-feira - Páscoa
10 Maio 20224ª Semana - Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Actos 11, 19-26
19Naqueles dias, os irmãos que se tinham dispersado, devido à perseguição desencadeada por causa de Estêvão, adiantaram-se até à Fenícia, Chipre e Antioquia, mas não anunciavam a palavra senão aos judeus. 20Houve, porém, alguns deles, homens de Chipre e Cirene que, chegando a Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando-lhes a Boa-Nova do Senhor Jesus. 21A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que abraçaram a fé e se converteram ao Senhor. 22A notícia chegou aos ouvidos da igreja de Jerusalém, e mandaram Barnabé a Antioquia. 23Assim que ele chegou e viu a graça concedida por Deus, regozijou-se com isso e exortou-os a todos a que se conservassem unidos ao Senhor, de coração firme; 24ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Assim, uma grande multidão aderiu ao Senhor. 25Então, Barnabé foi a Tarso procurar Saulo.
26Encontrou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro, mantiveram-se
juntos nesta igreja e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de «cristãos.»A perseguição que levou à morte de Estêvão, e provocou a dispersão dos
«helenistas», foi providencial para a vida da Igreja. Os discípulos dispersos tornaram-se missionários entre os pagãos. Pregaram na Samaria, na Fenícia, em Chipre e Antioquia, dirigindo-se, não só às comunidades judaicas, mas também aos gregos, que eram pagãos. Antioquia, na Síria, torna-se uma comunidade cristã importante, pólo de difusão da fé entre os gregos. Os habitantes de Antioquia dão-se conta da diferença entre a comunidade dos discípulos de Jesus e a comunidade dos judeus. Por isso, começam a chamar cristãos aos discípulos de Cristo. O nome novo afirma eloquentemente que se trata de uma realidade nova.
A comunidade de Jerusalém está atenta ao que se passa em Antioquia e manda dois emissários para que verificassem o que estava a acontecer. Felizmente envia Barnabé «homem bom, cheio do Espírito Santo», que é capaz de fazer um bom discernimento e acaba por compreender e estimular a acção da comunidade. Para ajudar, vai chamar Paulo a Tarso e introdu-lo na comunidade de Antioquia.Evangelho: João 10, 22-30
Naquele Tempo, 22celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação do templo. Era Inverno. 23Jesus passeava pelo templo, debaixo do pórtico de Salomão.
24Rodearam-no, então, os judeus e começaram a perguntar-lhe: «Até quando nos deixarás na incerteza? Se és o Messias, di-lo claramente.» 25Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, mas não credes. As obras que Eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho a meu favor; 26mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas.
27As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me. 28Dou-
lhes a vida eterna, e nem elas hão-de perecer jamais, nem ninguém as arrancará da minha mão. 29O que o meu Pai me deu vale mais que tudo e ninguém o pode arrancar da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos Um.»Jesus vai ao Templo, na festa da Dedicação, e passeia debaixo do pórtico de
Salomão. Os judeus ansiosos rodeiam-no e disparam a pergunta que os atormentava:
«Até quando nos deixarás na incerteza? Se és o Messias, di-lo claramente» (v. 24). As palavras de Jesus deixavam entender que ele é o Messias. Mas podiam ser mal entendidas. Daí o chamado «segredo messiânico» no evangelho de Marcos. Jesus impõe silêncio a todos aqueles que, a ver as obras de Jesus, podiam directa ou indirectamente afirmar que Ele era o Messias. Desta vez, Jesus responde que a pergunta já está suficientemente respondida. Basta ouvir as suas palavras e, mais ainda, observar as suas obras. O problema é que eles não estão dispostos a acreditar. E não querem acreditar, isto é, aderir a Jesus, porque não lhe pertencem, não são seus, não são suas ovelhas. Não são atraídos pelo Pai (cf. Jo 6, 4). Pelo contrário, quem O escuta, dá prova de que pertence ao novo povo de Deus, é ovelha Jesus, escuta a sua voz, segue-O, não perecerá jamais (cf. vv. 27-28).
Os discípulos de Jesus terão de sofrer como Ele sofreu. Mas, tal como Ele venceu a morte, também os seus discípulos, que vivem unidos a Ele, a hão-de vencer. Estão protegidos pelo Pai (cf. vv. 28-30).Meditatio
Os pioneiros da igreja de Antioquia foram missionários anónimos, tal como aconteceu em Éfeso (18, 1), em Alexandria (18, 24) e em Roma (28, 14) e em tantas outras comunidades cristãs ao longo dos séculos. Essas igrejas são monumentos a tantos missionários desconhecidos que, mesmo sem missão oficial, sem organização e sem propaganda, assumiram a sua condição de baptizados e, animados pelo Espírito Santo, levaram por diante o trabalho da evangelização. Um exemplo e um estímulo para todos nós, hoje.
No evangelho reencontramos a relação com Deus como condição de adesão a
Cristo. Para acreditarmos, é preciso que o Pai nos atraia para Jesus. Por outras palavras, para que alguém se torne ovelha do rebanho de Jesus, e O escute, é preciso que o Pai lho dê. «Vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas» (v.
26), isto é: não credes porque o Pai ainda não vos deu a mim. Por isso, não sois minhas ovelhas, não acreditais e não me reconheceis. Quando Jesus se apresenta a uma alma que lhe foi dada pelo Pai, acontece algo de semelhante ao que se passa quando duas pessoas se encontram pela primeira vez e se descobrem apaixonadas. Há um reconhecimento mútuo, há a descoberta de que se pertencem um ao outro. E a vida torna-se mais bela. Quando o Pai apresenta uma alma a Jesus, ela reconhece o seu Mestre e o Mestre reconhece a ovelha que o Pai lhe dá.
«As minhas ovelhas escutam a minha voz» (v. 27). Há ainda muitas ovelhas que não estão no rebanho, na Igreja, porque ainda não ouviram a voz do Pastor. Quando a ouvirem, vão reconhecê-la, porque o Pai lhas deu, e vão aderir a Jesus em amor recíproco.
Nós, que pertencemos ao rebanho, temos a responsabilidade de fazer ouvir a voz do Senhor, de modo perceptível, àqueles que ainda não a ouviram. Para isso, havemos de dar um testemunho coerente e puro.
O Pe. Dehon sentiu pessoalmente a vocação missionária desde a primeira
infância. Escreve no último caderno do seu Diário: " O ideal da minha vida, o voto que formulava entre lágrimas
na minha adolescência era o de ser missionário e mártir. Parece-me que este voto se realizou por meio dos mais de cem missionários que tenho em todas as partes do mundo".
Numa carta escrita aos seus missionários, o Pe. Dehon mostra-se orgulhoso por
esses seus filhos, porque vão para terras longínquas alargar o Reino do Coração de Jesus, para viver a vida de reparação e de imolação, que a sua vocação exige. Devem desejar morrer na missão, para que o sacrifício seja mais completo e sem reservas,para fazer conhecer e amar a Deus, e para fazer conhecer o amor do Coração de
Jesus.Oratio
Ó Jesus, Bom Pastor, ilumina o meu coração e abre a minha inteligência para compreender a tua palavra. Na complexidade do mundo em que vivo, batido por tantas propostas religiosas, diante do pulular de tantas divindades, velhas e novas, sinto-me, às vezes, abalado, e compreendo a incerteza, o desencanto e o cepticismo de tantos irmãos. São muitas as vozes que lhes dificultam ouvir e discernir a tua voz.
Tem compaixão de mim. Confirma no mais íntimo do meu coração a tua
palavra, com aquela certeza que só o Espírito Santo pode dar. Tem compaixão dos meus irmãos, perdidos e confusos, como ovelhas sem pastor. Fala-lhes ao coração. Faz que Te escutem, não como um dos tantos mestres que por aí andam, mas como o Mestre, porque Tu e o Pai são Um. Amen.Contemplatio
Como Nosso Senhor é amável sob o título de Bom Pastor, um título que resume tão bem todas as bondades do seu Coração para connosco! Foi ele que deu a si mesmo este título e que nos recordou todas as solicitudes, todas as ternuras, todas as dedicações de um bom pastor. O bom pastor conhece todas as suas ovelhas. Chama-as uma a uma. Caminha diante delas. Condu-las às melhores pastagens.
Espiritualmente, temos por alimento da nossa alma a palavra viva de Nosso Senhor, e para o nosso coração o alimento celeste da Eucaristia. O bom Pastor dá os seus cuidados mais diligentes a todas as suas ovelhas. Se vê algumas que sofrem, feridas, cansadas, toma-as sobre os seus ombros, leva-as para o redil e cuida delas amorosamente. Nosso Senhor faz isto por nós pela confissão, pela direcção (espiritual) e pela sua Providência, tão assídua e tão delicada.
O bom Pastor não perde de vista as suas ovelhas, a sua solicitude é extrema.
Vela pela sua segurança, preserva-as da malícia dos maus e defende-os contra os embustes do demónio. Para as salvar, dá até à última gota do seu sangue. Não é verdadeiramente o Salvador com o seu Coração cheio de uma bondade inesgotável? (Leão Dehon, OSP 3, p. 472)Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«As minhas ovelhas escutam a minha voz» (Jo 10, 27). -
4ª Semana –Quarta-feira - Páscoa
4ª Semana –Quarta-feira - Páscoa
11 Maio 20224ª Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Actos 12, 24 - 13, 5a
Naqueles dias, 24a palavra de Deus crescia e multiplicava-se. 25Barnabé e Saulo, depois de terem cumprido a sua missão, regressaram de Jerusalém, levando consigo João, de sobrenome Marcos.
1Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado 'Níger', Lúcio de Cirene, Manaen, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. 2Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» 3Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir. 4Enviados, pois, pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco, rumo à ilha de Chipre. 5Chegados que foram a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham também João como auxiliar.Com esta pequena secção, começa mais um dos resumos característicos de Lucas. Este trata do avanço do Evangelho. E vem uma notícia surpreendente: Barnabé e Saulo foram a Jerusalém, onde a comunidade dos discípulos passava por grave crise económica, para levarem ajuda da igreja de Antioquia. É o começo da partilha de bens entre as igrejas. Nessa mesma altura, Herodes desencadeou a perseguição que levou Tiago à morte. Pedro também foi preso, mas acabou por ser libertado. Segundo Lucas, Barnabé e Saulo, parecem ter escapado ilesos, o que não parece verosímil, pelo menos no caso de Saulo, cordialmente odiado pelos judeus. Mas o autor do Actos não está interessado em contar a sucessão exacta e cronológica dos acontecimentos. Interessa- lhe particularmente referir Antioquia como a igreja da qual vai partir a grande missão cujos protagonistas serão precisamente Barnabé e Saulo, acompanhados por João Marcos, uma excelente conquista feita em Jerusalém.
A comunidade de Antioquia, viva e cheia de dinamismo, estava empenhada na evangelização da enorme cidade. Distinguiam-se, nessa tarefa, Saulo, Barnabé e João Marcos. Mas o Espírito tinha outros projectos. Um dia, enquanto jejuavam e rezavam manifestou a sua vontade por meio de um profeta: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei» (v. 2). Esse trabalho era a evangelização do mundo mediterrânico, particularmente da Grécia e de Roma.Evangelho: João 12, 44-50
Naquele tempo, 44Jesus levantou a voz e disse: «Quem crê em mim não é em mim que crê, mas sim naquele que me enviou; 45e quem me vê a mim vê aquele que me enviou. 46Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em mim não fique nas trevas. 47Se alguém ouve as minhas palavras e não as cumpre, não sou Eu que o julgo, pois não vim para condenar o mundo, mas sim para o salvar. 48Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras tem quem o julgue: a palavra que Eu anunciei, essa é que o há-de julgar no último dia; 49porque Eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, é que me encarregou do que devo dizer e anunciar. 50E Eu bem sei que este seu mandato traz consigo a vida eterna; por isso, as coisas que Eu anuncio, anuncio-as tal como o Pai as disse a mim.»
Esta perícopa encerra o «livro dos sinais», no evangelho de João. Jesus lança um clamor, um grito, que introduz uma declaração sobre a sua identidade. Já o fizera na festa dos Tabernáculos (Jo 7, 28) e no dia mais solene da mesma (Jo 7, 37). Aqui fá-lo, pela última vez, numa espécie de resumo dos temas tratados na primeira parte do evangelho de João: 1º - acreditar em Jesus, vê-lo, significa acreditar e ver Aquele que O enviou; é o tema da unidade: o Pai e Jesus são uma só coisa; Jesus é o resplendor do Pai, aproxima-O do homem, dá-lho a conhecer, comunica-O; 2º - Jesus é a luz; a missão de Jesus é portadora de salvação; 3º - o destino do homem joga-se no dilema fé-incredulidade, o acolhimento ou recusa de Jesus, na escuta ou não escuta da sua palavra. A fé, o acolhimento, a escuta de Jesus salvam o homem; a incredulidade, a recusa, a não escuta de Jesus, condenam o homem. Jesus não veio para julgar, mas para salvar. Será a Lei, em que os judeus põem toda a confiança, que os há-de julgar no último dia (cf. v. 48). 4º - a vinda de Jesus, a sua acção e a sua palavra, tinham um único objectivo: comunicar a vida. Foi esse o mandamento recebido do Pai (v. 50).
Meditatio
A igreja da Antioquia era viva e dinâmica. Tinha profetas e doutores, entre os quais se distinguiam Barnabé e Saulo, e estava empenhada na evangelização da grande cidade. Era uma igreja fervorosa e atenta à voz do Espírito. Assim: «estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo:
«Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir». Assim começou a grande missão: «Enviados, pois, pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco, rumo à ilha de Chipre. Chegados que foram a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham também João como auxiliar». A igreja de Antioquia, que tinha ainda tanto para fazer na sua cidade, organiza uma missão pelas regiões vizinhas, confiando-a a dos seus mais destacados membros. Um exemplo que continua actual para todas as igrejas, mas também para as ordens e congregações, que fazem parte da vida e santidade da Igreja!
Jesus não veio «para condenar o mundo» (v. 47). Mas a sua palavra e a sua missão realizam automaticamente um juízo e tornam-se critério último de verdade e de acção. A minha atitude diante de Jesus, e da sua palavra, realiza o juízo em relação a mim mesmo, agora e no futuro. Na pessoa de Jesus está presente a realidade definitiva. E eu devo confrontar-me, aqui e agora, com essa realidade, porque é o definitivo que avalia o transitório. É hoje que eu decido o meu destino eterno. É hoje que a minha vida está suspensa entre a vida e a morte, entre a luz e as trevas, entre o tudo e nada, porque é hoje que me confronto com Jesus e com a sua palavra, e é hoje que tenho de optar.
O momento presente é sumamente importante, porque é o hoje de Deus, que podemos acolher ou rejeitar. Desse acolhimento ou rejeição derivam consequências eternas. O Hoje de Deus salvador está personificado em Jesus: "Hoje nasceu para vós na cidade de David um Salvador" (Lc 2, 11); "Hoje - diz Jesus na sinagoga de Nazaré - cumpriu-se esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir" (Lc 4, 21); "Hoje tenho de ficar em tua casa" - diz Jesus a Zaqueu (Lc 19, 5); e ainda "Hoje a salvação entrou nesta casa" (Lc 19, 9); "Hoje estarás comigo no Paraíso" (Lc 23, 43), promete Jesus ao bom ladrão. Hoje é Jesus, é a salvação: "Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre" (Heb 13, 8).
A este Hoje de Deus, que é Jesus, deve responder cada homem com um "sim" de amor, que é «sim» à salvação, à verdade, à vida, ao bem, à santidade.Oratio
Pai santo, que enviaste o teu Filho ao mundo, não para o condenar, mas para o salvar, faz com que eu, carregado de misérias, jamais perca a confiança, e me afaste de Ti, triste e desanimado. Infunde o teu Espírito no mais íntimo de mim mesmo para que, iluminado pela tua luz, ganhe força e coragem para retomar o caminho. As tuas palavras, por vezes, são duras. Mas sei que, com elas, apenas queres recuperar-me e salvar-me, dar-me ajuda para que não perca a vida eterna que me preparaste. Sei que és benevolente, mesmo quando te mostras severo. Por isso, imprime no meu coração as palavras do teu Filho para que possa saborear hoje, amanhã e sempre, a tua salvação. Amen.
Contemplatio
Santa Gertrudes faz comparecer a alma com o amor seu poderoso advogado diante da verdade e da justiça divina.
– Ó verdade! Ó justiça divina! Como comparecer na vossa presença, eu que estou esmagado sob o peso da minha iniquidade, sob o fardo da minha vida que perdi, sob a carga de todas as minhas negligências? Não soube fazer valer, infelizmente, o tesouro da fé cristã e da vida espiritual.
Sei o que vou fazer: tomarei o cálice da salvação, o cálice de Jesus. Colocá-lo- ei sobre o prato vazio da verdade e da justiça. Por este meio, acorrerei a tudo o que me falta, cobrirei todos os meus pecados. Este cálice levantará as minhas ruínas, por ele suprirei e muito além à minha indignidade.
– Ó amor divino, emprestai-me o meu Jesus, vosso real cativo, Ele que foi levado por mim de tribunal em tribunal, Ele que foi condenado por me ter amado, e entregado à morte por minha causa.
Ó Jesus, amável penhor da minha redenção, vinde portanto comigo ao juízo. Julgai-me, tendes esse direito, mas vós sois também o meu advogado. Para que eu seja justificado, não tereis senão que relatar o que fizestes por mim e o preço pelo qual me adquiristes. Tomastes a minha natureza a fim de que eu não pereça; levastes o fardo dos meus pecados, morrestes por mim para que eu não morra da morte eterna; querendo enriquecer-me de méritos, destes-me tudo. Julgai-me, portanto, na hora da minha morte de acordo com esta inocência e esta pureza que me conferistes pagando toda a minha dívida e deixando-vos condenar em meu lugar (Leão Dehon, OSP 4, p. 486s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Eu não vim condenar o mundo, mas salvá-lo» (Jo 12, 47). -
4ª Semana –Quinta-feira - Páscoa
4ª Semana –Quinta-feira - Páscoa
12 Maio 20224ª Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Actos 13, 13-25
Naqueles dias, Paulo e os seus companheiros, largaram de Pafos, e dirigiram- se a Perga da Panfília. João, porém, separando-se deles, voltou para Jerusalém.
14Quanto àqueles, deixaram Perga e, caminhando sempre, chegaram a Antioquia da Pisídia.
A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. 15Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga mandaram-lhes dizer: «Irmãos, se tiverdes alguma exortação a dirigir ao povo, falai.»16Então, Paulo, levantando-se, fez sinal com a mão e disse:«Homens de Israel e vós os tementes a Deus, escutai: 17O Deus deste povo, o Deus de Israel, escolheu os nossos pais e engrandeceu este povo durante a sua permanência no Egipto. Depois, com a força do seu braço, retirou-o de lá 18e, durante uns quarenta anos, sustentou-o no deserto. 19A seguir, exterminando sete nações na terra de Canaã, conferiu-lhes a posse do seu território, 20por cerca de quatrocentos e cinquenta anos. Depois disso, deu-lhes juízes até ao profeta Samuel. 21Em seguida, pediram um rei, e Deus concedeu-lhes, durante quarenta anos, Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim. 22Pondo este de parte, Deus elevou David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: 'Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.'
23Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. 24João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25Quase a terminar a sua carreira, João dizia:
'Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.'Lucas empenhou-se em realçar a importância e a transcendência decisiva do momento em que a igreja de Antioquia organizava oficialmente a grande missão. Barnabé, Saulo e João Marcos partem. Em Chipre alcançam a conversão do procurador romano, Sérgio Paulo. Saulo passa a ser chamado com o nome romano de Paulo e, torna-se o chefe da expedição, até aí dirigida por Barnabé. E começam os chamados «Actos de Paulo». De facto, o centro da narrativa recai sobre o discurso de Paulo em Antioquia da Pisídia, perto da Galácia. Este discurso, que tem um tom programático, faz lembrar o discurso de Jesus na sinagoga de Nazaré. A história de Israel é apresentada nas suas linhas gerais, centrando-se em David, a quem ficou ligada a promessa do Salvador. A alusão a João Baptista tem dois objectivos: situar no tempo a actividade de Jesus e apresentar João como precursor e testemunha. Paulo quer chegar rapidamente a Jesus, Aquele em quem se realizam as promessas. As comunidades da Diáspora estavam mais preparadas para acolherem a mensagem dos primeiros missionários cristãos. É, pois, a elas que Paulo se dirige, em primeiro lugar. Só depois, quando se sente recusado, se dirige aos pagãos.
Evangelho: João 13, 16-20
Naquele tempo, depois de ter lavado os pés aos discípulos, Jesus disse-lhes:
16Em verdade, em verdade vos digo, não é o servo mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia. 17Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática. 18Não me refiro a todos vós. Eu bem sei quem escolhi, e há-de cumprir-se a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim o calcanhar.
19Desde já vo-lo digo, antes que isso aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu sou. 20Em verdade, em verdade vos digo: quem receber aquele que Eu enviar é a mim que recebe, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.»Este texto conclui a secção do lava-pés. Esse gesto de Jesus, para além de muitas outras lições, quer ser uma explicação do provérbio que diz: «o servo não é maior do que o seu Senhor» (cf. Jo 15, 20; Mt 10, 24). O discípulo não experimentará menos perseguições do que o seu mestre. Provavelmente este provérbio surgiu do silêncio ou dos protestos diante das palavras de Jesus: «dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também», tomadas muito à letra (Jo 13, 15). O provérbio que vem a seguir: «não é o servo mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia» (v. 16) acrescenta um outro aspecto que ilustra a relação entre Jesus e os discípulos. Maltratar um embaixador, constitui uma gravíssima injúria àquele que representa, àquele que o envia. Esta analogia é aplicada por Jesus aos seus discípulos, que são enviados por Ele, tal como Ele foi enviado pelo Pai. Quem receber um enviado de Jesus, não só recebe o próprio Jesus que envia, mas também o Pai que enviou Jesus. Assim se chega à raiz última da missão. Um dos melhores modos de lavar os pés aos outros, talvez o mais importante, é anunciar-lhes Cristo, tornando-O presente no meio deles.
Meditatio
Deus prepara-nos para os acontecimentos da vida, por meio das Escrituras, por meio da história do povo eleito, por meio da história de Jesus. Sem essa preparação, correríamos o risco de ficarmos desconcertados, escandalizados, de não os compreendermos de modo justo. Mas se os enfrentarmos e vivermos à luz de Deus, podemos dar-nos conta da graça que o Senhor nos oferece em cada um deles. Esta afirmação não é uma teoria mais ou menos rebuscada. É o próprio Jesus que o diz:
«Desde já vo-lo digo, antes que isso aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu sou» (v. 19).
Jesus disse estas palavras referindo-se à traição de Judas evocada nas palavras: «Não me refiro a todos vós. Eu bem sei quem escolhi» (v. 18). Entre os discípulos há alguém que não será fiel, que trama traição. A fé dos restantes receberá um rude golpe. Parece que Jesus se enganou ao escolher um deles. Na verdade, apenas obedeceu ao Pai, para que se cumprissem as Escrituras. Era preciso que Cristo enfrentasse o mal e o vencesse. Era preciso que o mal chegasse muito perto de Jesus, e que a acção do maligno se verificasse também no grupo dos mais íntimos do Senhor. Deviam cumprir-se as Escrituras: «Aquele que come do meu pão levantou contra mim o calcanhar» (v. 18). Quando os discípulos verificaram que tudo se tinha realizado, puderam compreender o desígnio de Deus e verificar como, por meio da traição, esse projecto se realizou. Puderam dar-se conta de como o amor vence o ódio.
Paulo, ao pregar em Antioquia da Pisída, revela a mesma mentalidade. Para falar de Jesus, da sua morte e da sua ressurreição, ao seu povo, começa muito longe; começa pela eleição do mesmo povo, percorrendo a sua história, até chegar a David. Aí repete a promessa de Deus: «Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração... Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus» (vv. 22-23).
Esta longa história é o fundamento da nossa fé. A morte e a ressurreição de Jesus não foram obra do acaso. Foram longamente preparadas por Deus na história. Por isso, iluminam toda a história futura. Mergulhados como estamos nos acontecimentos, nem sempre nos damos conta do seu sentido, correndo o risco de ficarmos desorientados. Por isso, devemos meditar demoradamente no Antigo Testamento e no mistério de Cristo, sempre disponíveis a fazer o que Ele quer, aqui e agora, ainda que seja algo de imprevisto. A fé robusta e consistente não vem de fórmulas mais ou menos perfeitas, que lemos ou ouvimos. Vem da experiência da vida, iluminada pela palavra de Deus. Algo de parecido ao que aconteceu aos discípulos de Emaús, na tarde da Páscoa. Estavam desiludidos e desorientados pelos acontecimentos. Mas, uma vez iluminados esses acontecimentos pela Palavra, logo adquiriram sentido, se lhes aqueceu o coração e se lhes abriram os olhos.Oratio
Pai santo, infunde em mim uma fé robusta, uma confiança inabalável. Sei que jamais faltas às tuas promessas, porque és um Deus fiel. Dá-me olhos para ver, na vida e nos acontecimentos que me envolvem, a realização do teu projecto de salvação, apesar de tantos sinais contrários. Faz-me compreender que continuas a salvar o mundo e cada um dos homens, também na conturbada situação histórica em que nos encontramos, e que o mistério de Cristo, teu Filho, continua a realizar-se. Amen.
Contemplatio
Havia em Antioquia um grupo de padres, de profetas e de doutores. O Espírito Santo revelou-lhes positivamente a missão de Paulo e de Barnabé para a conversão dos gentios. Enviaram, portanto, estes dois apóstolos para os países do ocidente. Barnabé e Paulo passaram na ilha de Chipre onde fizeram maravilhas e ganharam para a fé o próprio procônsul, Sérgio Paulo. De lá foram para a Ásia Menor e pregaram em Pisídia, em Perga, em Antioquia, em Icónio, em Listra. Foi uma alternativa de sucessos e de perseguições.
Em Listra um curioso incidente mostra bem como os dois apóstolos eram admiráveis no seu zelo, no poder da sua palavra e na sua dignidade de vida. O povo, testemunha dos seus milagres, tomou-os por deuses. Paulo, o brilhante orador devia ser Mercúrio, Barnabé, o santo levita com porte majestoso parecia ser Júpiter. Já lhes queriam oferecer sacrifícios. Tiveram de se desembaraçar para impedirem este sacrilégio. Mas no dia seguinte Judeus de Antioquia e de Icónio vêm persegui-los com as suas calúnias, e o povo tão móvel nos seus sentimentos expulsa-os à pedrada. Regressaram a Antioquia e separaram-se em seguida. Barnabé voltou a passar por Chipre e aí consolidou as cristandades que tinha fundado precedentemente. Foi em seguida pregar na Itália, e depois regressou a Chipre onde morreu (Leão Dehon, OSP 3, p. 644s.).Actio
19).
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Já vo-lo digo, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu sou» (Jo 13, -
4ª Semana - Sexta-feira - Páscoa
4ª Semana - Sexta-feira - Páscoa
13 Maio 20224ª Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Actos 13, 26-33
Naqueles dias, disse Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia: 26Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação. 27Sem dúvida, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-o, cumpriram, sem disso se aperceberem, as profecias que são lidas todos os sábados. 28Embora não tivessem encontrado nele motivo algum de morte, exigiram a Pilatos que o mandasse matar. 29Quando cumpriram tudo o que acerca dele estava escrito, desceram-no do madeiro e sepultaram-no. 30Mas Deus ressuscitou-o dos mortos 31e, durante muitos dias, apareceu aos que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do povo. 32E nós estamos aqui para vos anunciar a Boa-Nova de que a promessa feita a nossos pais, 33Deus a cumpriu em nosso benefício, para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo segundo: Tu és meu filho, Eu hoje te gerei!
O discurso de Paulo, em Antioquia da Pisída, pode resumir-se assim: o evangelho é a consumação de tudo quanto Deus fez, anunciou e prometeu ao seu povo. No fundo, Paulo usa os mesmos argumentos de Pedro no seu primeiro discurso, no dia de Pentecostes. Provavelmente era um esquema habitual para quem anunciava o Evangelho em ambientes judaicos. Jesus, injustamente condenado, foi reconhecido justo por Deus na ressurreição. É esta a palavra de salvação, a boa nova, a realização da promessa feita aos pais (cf. v. 32). Deus é suficientemente forte para vencer o mal, ainda o mais horrível. Deus salva aqueles que acreditam no seu poder, esse poder com que ressuscitou Jesus.
Ao anunciar a ressurreição, Paulo fundamenta-se em «testemunhas» (v. 30), transmitindo aquilo que recebeu. Sabe que não é testemunha, como Pedro e os outros Apóstolos, mas tem consciência de pertencer ao grupo dos missionários. Por isso, acrescenta: «nós estamos aqui para vos anunciar a Boa-Nova de que a promessa feita a nossos pais».Evangelho: João 14, 1-6
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. 2Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? 3E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também. 4E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho.» 5Disse-lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?» 6Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim».
As primeiras palavras de Jesus, no quarto evangelho, «Que procurais?»(1, 38), têm resposta neste capítulo 14: «Na casa de meu Pai há muitas moradas» (v. 2). Jesus anunciara a sua partida no capítulo 13. A afirmação de fidelidade, por parte de Pedro, é contrabalançada pelo anúncio da sua negação. Os discípulos estavam decepcionados. No capítulo 14, João apresenta-nos Jesus a inculcar-lhes segurança e confiança. Eles devem acreditar em Jesus como acreditam em Deus. E devem confiar que a sua partida os favorece. Mais ainda: conhecendo a Jesus, conhecem o caminho para o Pai, porque é Ele o caminho. É tudo o que o homem precisa para se salvar, porque o Pai está em Jesus para salvação do homem.
A partida de Jesus implica o seu regresso, para completar a missão que o Pai lhe confiou. Jesus voltará aos seus amigos depois da crucifixão; Ele e o Pai viverão naqueles ques os amam e guardam as suas palavras; não se trata de uma manifestação expectacular, mas de uma manifestação captada pela fé, através do Espírito; ainda que Jesus volte, depois da sua morte, permanece em pé a sua vinda no fim dos tempos.
«Na casa de meu Pai há muitas moradas» (v. 2), dizia Jesus. Na mentalidade da época, o mais além tinha uma capacidade limitada. Por isso, havia que pesar os vícios e as virtudes dos candidatos à entrada. Só entraria quem tivesse um peso de virtudes superior ao dos vícios. Jesus afirma que, na vida do além, há lugar para todos os seus discípulos. Estarão com Ele. E Ele é o caminho que leva à vida eterna:
«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim».Meditatio
«Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim» (v. 1). A crucificação de Jesus causará grande perturbação aos discípulos. Por isso, Jesus prepara-os dizendo-lhes palavras de consolação e de esperança. Irá repeti-las depois da ressurreição. Essas palavras mostram aos apóstolos que a paixão era o meio querido por Deus para renovar e salvar o homem. Também para nós chegará, mais cedo ou mais tarde, o momento da perturbação, motivado pelos ódios, pelas vinganças, pelas violências, pela corrupção, pela indiferença, pela fome de dinheiro e de poder que campeiam pelo mundo. As nossas cidades tornaram-se semelhantes a Sodoma e a Gomorra. Como é possível não ficar perturbados? A perturbação do coração acrescenta dificuldades às dificuldades. É uma reacção natural. Mas o Senhor diz-nos que podemos ultrapassar tudo com uma atitude de fé, apoiando-nos no seu poder, na sua riqueza. Somos fracos e pobres. Mas as riquezas do Senhor são também nossas, e Ele está connosco sempre. Quando diz que nos vai preparar um lugar, não quer dizer que nos abandona, mas que sofrerá para transformar o homem, para o tornar capaz de se aproximar de Deus. «Em Cristo, mediante a fé nele, temos a liberdade e coragem de nos aproximarmos de Deus com confiança», escreve Paulo aos Efésios (3, 12). E acrescenta «por isso, peço-vos que não desanimeis com as tribulações que sofro por vós; elas são a vossa glória» (3, 13). Graças à morte e à ressurreição do Filho, o homem pode aproximar-se de Deus sem tremer, e cheio de um amor confiante e agradecido. Foi desse modo que Jesus nos preparou um lugar na casa do Pai. Ele continua a ser para nós, hoje, o caminho a verdade e a vida. Só com Ele podemos ultrapassar os ciclones da ganância e da sensualidade sem limites, e os ventos gélidos da injustiça e do cinismo. Se alguém nos quiser levar por outros caminhos, não esqueçamos que só Ele é o caminho. Se nos propuserem soluções mais avançadas, lembremo-nos que só Ele é a verdade.
Se nos quiserem ensinar a viver mais intensamente e com mais liberdades, recordemo-nos de que só Ele é a vida.Oratio
Senhor, ampara o meu coração vacilante. Como é difícil resistir a tantos vendavais que parecem varrer da face da terra o património espiritual acumulado durante séculos pelo trabalho generoso dos teus missionários e pastores. As nossas comunidades envelhecem, declina a prática religiosa, são cada vez menos as vocações. Vem, Senhor, em auxílio da minha fé vacilante. Não quero abandonar-te, porque és tudo para mim. Apoia a minha esperança fraca, que gostava de ver os novos tempos iluminados pela tua verdade. Atiça a frágil chama do meu amor pelos irmãos, que gostaria de ajudar a pôr em contacto Contigo. Sê para mim o caminho, a verdade e a vida. Amen.
Contemplatio
Jesus é o caminho. «Para onde vou, vós sabeis e sabeis o caminho». A questão de Tomé é surpreendente, Jesus falou sempre tão claramente!
Para onde vai? Vai para o seu Pai, disse-o muitas vezes e acaba de o repetir:
«Vou preparar-vos um lugar na casa de meu Pai».
Jesus é o caminho. Não disse ele a todos os que chamava: «Sequere me, segui-me? Mostrou-nos o caminho que conduz ao céu, é aquele que ele mesmo percorreu primeiro. É o caminho da humildade e da doçura, é o caminho do desapego e da renúncia, a via da penitência e da reparação, é a via da dedicação e do sacrifício.
É também a via de união e de amor. Quantas vezes, Nosso Senhor nos disse:
«Vivo no meu Pai, e o meu Pai em mim; faço sempre a vontade de meu Pai; amo o meu Pai, observo os seus preceitos e permaneço no seu amor». Eis o caminho: manter-nos unidos a Jesus, ao seu divino Coração: fazer em tudo a sua vontade, permanecer no seu amor; aprender dele que é doce e humilde, que foi sacrificado e imolado, que se abandonou nas mãos do Pai (Leão Dehon, OSP 3, p. 441s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Eu sou o Caminho» (Jo 14, 6).Nossa Senhora de FátimaNossa Senhora de Fátima
13 Maio 2022A 13 de Maio de 1917, Nossa Senhora apareceu aos Três Pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta. Nos meses seguintes, até Outubro inclusive, a Virgem Maria voltaria a manifestar-se nos dias 13, exceto em Agosto, quando se manifestou no dia 19, nos Valinhos. Nesses encontros, Nossa Senhora recordou, em linguagem muito simples, acessível aos pastorinhos, as verdades fundamentais do Evangelho. A sua mensagem pode resumir-se nos termos de "oração e penitência", oração e conversão. As aparições foram reconhecidas pela Igreja como dignas de fé. Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI foram peregrinos de Fátima.
LectioPrimeira leitura: Apocalipse 21, 1-5a
Eu, João, vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. 2E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. 3E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia:«Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. 4Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» 5O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.»
A grande utopia da ressurreição do homem e do mundo chegará a ser realidade. A cidade nova não tem nada da antiga: nem da Jerusalém israelita, nem sequer da Igreja cristã. É algo de novo que integra aquilo que o antigo tinha de melhor numa espécie de continuidade descontínua. João admira-se de não haver templo na cidade nova. Para o cristianismo, todo o universo é templo: Deus pode revelar-se onde quiser.
A liturgia aplica este texto a Maria. Deus revelou-se nela. Ela foi a verdadeira Arca de Deus no meio do seu povo. Glorificada no Céu, não esquece aqueles que lhe foram confiados como filhos. Daí, as suas numerosas intervenções ao longo da história, como as de Fátima, em 1917. Ela faz tudo para que, em cada um dos seus filhos, se realize o que já se realizou n´Ela.Evangelho: João 19, 25-27
Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. 26Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» 27Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.
A mãe de Jesus aparece no princípio e no fim da vida pública de Jesus, ou seja, nas bodas de caná (Jo 2, 1ss.) e junto à cruz do Senhor (Jo 19, 1ss.). Nas bodas de Caná, Jesus dirige-lhe palavras que devem entender-se no sentido de separação: Jesus diz-lhe que não intervenha na fase da sua vida pública, que estava a iniciar. A partir desse momento, Maria como que desaparece de cena. Mas, agora que chegou a hora de Jesus, Maria reaparece, pois é também a sua hora. Em ambas as situações Jesus se lhe dirige chamando-a "mulher" e não mãe, como seria normal. O Senhor parece querer apresentá-la como a mulher estreitamente unida a Ele na realização da obra da redenção, a mulher de que se fala no Génesis (Gn 3, 15) e no Apocalipse (Ap 12). As palavras que Jesus dirige a Maria: "Eis o teu filho!" têm um sentido mais profundo do que o imediatamente literal. A Igreja encarregou-se de aprofundá-lo. O afeto e a relação maternal - a maternidade espiritual de Maria - concentrar-se-ão naqueles por quem o seu Filho está a dar a vida. João personifica todos os seguidores de Jesus. Segundo a teologia paulina, os crentes são "irmãos" de Cristo, participantes da sua filiação.
Meditatio
"Por ocasião das cerimónias religiosas que têm lugar nestes dias em Fátima, Portugal, em honra da Virgem Mãe de Deus, onde acorrem numerosas multidões de fiéis para venerarem o seu coração maternal e compassivo, desejamos mais uma vez chamar a atenção de todos os filhos da Igreja para o inseparável vínculo que existe entre a maternidade espiritual de Maria e os deveres que têm para com Ela os homens resgatados. Julgamos ser de grande utilidade para as almas dos fiéis considerar duas verdades muito importantes para a renovação da vida cristã. A primeira verdade é esta: Maria é Mãe da Igreja, não só por ser Mãe de Jesus Cristo e sua íntima colaboradora na nova economia da graça, quando o Filho de Deus n'Ela assumiu a natureza humana para libertar o homem do pecado mediante os mistérios da sua carne, mas também porque brilha à comunidade dos eleitos como admirável modelo de virtude. Depois de ter participado no sacrifício redentor de seu Filho, e de maneira tão íntima que mereceu ser por Ele proclamada Mãe não somente do discípulo João, mas - seja consentido afirmá-lo - do género humano, por este de algum modo representado, Ela continua agora no Céu a desempenhar a sua função materna de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Mas de que modo coopera Maria no crescimento da vida da graça nos membros do Corpo Místico? Antes de tudo, pela sua oração incessante, inspirada por uma ardentíssima caridade. A Virgem Santa, de facto, gozando embora da contemplação da Santíssima Trindade, não esquece os seus filhos que caminham, como Ela outrora, na peregrinação da fé; pelo contrário, contemplando-os em Deus e conhecendo bem as suas necessidades, em comunhão com Jesus Cristo que está sempre vivo para interceder por nós, deles se constitui Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. No entanto, a cooperação da Mãe da Igreja no desenvolvimento da vida divina nas almas não consiste apenas na sua intercessão junto do Filho. Ela exerce sobre os homens remidos outra influência importantíssima, a do exemplo, segundo a conhecida máxima: as palavras movem, o exemplo arrasta. Realmente, tal como os ensinamentos dos pais adquirem maior eficácia quando são acompanhados pelo exemplo duma vida conforme as normas da prudência humana e cristã, assim também a suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem irresistivelmente as almas para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais perfeita imagem. Mas nem a graça do divino Redentor nem a poderosa intercessão de sua e nossa Mãe espiritual poderiam conduzir-nos ao porto da salvação, se a tudo isso não correspondesse a nossa perseverante vontade de honrar Jesus Cristo e a Virgem Mãe de Deus com a fiel imitação das suas sublimes virtudes. É, pois, dever de todos os cristãos imitar religiosamente os exemplos de bondade que lhes deixou a Mãe do Céu. É esta a segunda verdade sobre a qual nos agrada chamar a vossa atenção. É em Maria que os cristãos podem admirar o exemplo que lhes mostra como realizar, com humildade e magnanimidade, a missão que Deus confiou a cada um neste mundo, em ordem à sua eterna salvação e à do próximo. Uma mensagem de suma utilidade parece chegar hoje aos fiéis da parte d'Aquela que é a Imaculada, a toda santa, a cooperadora do Filho na restauração da vida sobrenatural das almas. A santa contemplação de Maria incita-os, de facto, à oração confiante, à prática da penitência, ao santo temor de Deus, e recorda-lhes com frequência aquelas palavras com que Jesus Cristo anunciava estar perto o reino dos Céus: Arrependei-vos e acreditai no Evangelho, bem como a sua severa advertência: Se não vos arrependerdes, perecereis todos de maneira semelhante. Comemorando-se este ano o vigésimo quinto aniversário da solene consagração da Igreja a Maria Mãe de Deus e ao seu Coração Imaculado, feita pelo Nosso Predecessor Pio XII no dia 31 de Outubro de 1942, por ocasião da Radiomensagem à Nação Portuguesa - consagração que Nós mesmo renovámos no dia 21 de Novembro de 1964 - exortamos todos os filhos da Igreja a renovar pessoalmente a sua própria consagração ao Coração Imaculado da Mãe da Igreja e a viver este nobilíssimo ato de culto com uma vida cada vez mais conforme à vontade divina, em espírito de serviço filial e devota imitação da sua celeste Rainha. (Paulo VI, 13 de Maio de 1967).Oratio
Pai Santo, nós vos louvamos e bendizemos, ao celebrarmos a festa da Virgem Santa Maria. Recebendo o vosso Verbo em seu Coração Imaculado, ela mereceu concebê-lo em seu seio virginal e, dando à luz o Criador do universo, preparou o nascimento da Igreja. Junto à cruz, aceitou o testamento da caridade divina e recebeu todos os homens como seus filhos, pela morte de Cristo gerados para a vida eterna. Enquanto esperava, com os Apóstolos, a vinda do Espírito Santo, associando-se às preces dos discípulos, tornou-se modelo admirável da Igreja em oração. Elevada à glória do Céu, assiste com amor materno a Igreja ainda peregrina sobre a terra, protegendo misericordiosamente os seus passos a caminho da pátria celeste, enquanto espera a vinda gloriosa do Senhor. Nós vos louvamos e bendizemos, Senhor! Ámen. (cf. Prefácio da Missa).
Contemplatio
Ó Coração sagrado do meu Jesus, eu vos adoro e vos dou graças infinitas por terdes dirigido para a minha salvação o martírio que suportastes à vista dos sofrimentos do santíssimo Coração de Maria ao pé da cruz, porque ma destes como soberana e como mãe. Tal é o vosso amor por mim que lhe pedistes para me tomar como seu filho em vosso lugar, para me amar, para ter compaixão das minhas misérias, para me assistir, para me proteger, para me guardar e para me governar como seu filho. Talvez, ó meu Salvador, não encontrastes maior consolação para a vossa divina Mãe do que dar-lhe filhos perversos e pecadores, a fim de que ela empregue o seu poder e a imensa caridade do seu Coração em conseguir a sua conversão e salvação. Sede bendito e louvado para sempre, ó Coração sagrado do meu Redentor, por terdes querido que nenhum dos vossos sofrimentos, e os de vossa santa Mãe, fosse perdido por mim, mas que todos servissem para curar as minhas feridas e enriquecer-me com verdadeiros bens. (Leão Dehon, OSP 4, p. 262s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Esta é a morada de Deus entre os homens." (Ap 21, 3).----
Nossa Senhora de Fátima (13 Maio) -
4ª Semana - Sábado - Páscoa
4ª Semana - Sábado - Páscoa
14 Maio 20224ª Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: Actos 13, 44-52
44No segundo sábado em que Paulo e Barnabé estiveram em Antioquia da Pisídia, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra do Senhor. 45A presença da multidão encheu os judeus de inveja, e responderam com blasfémias ao que Paulo dizia. 46Então, desassombradamente, Paulo e Barnabé afirmaram: «Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos, 47pois assim nos ordenou o Senhor: Estabeleci-te como luz dos povos, para levares a salvação até aos confins da Terra.» 48Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé. 49Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região. 50Mas os judeus incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade, desencadeando uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e expulsaram-nos do seu território. 51Estes, sacudindo contra eles o pó dos pés, foram para Icónio. 52Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.
É breve o intervalo que separa o discurso de Paulo em Antioquia e a continuação do seu ensino, no sábado seguinte, na sinagoga. Mas este intervalo tem por fim mostrar o interesse que a pregação do Apóstolo desperta entre judeus e pagãos. Querem ouvir mais, e Paulo exorta-os a permanecerem na graça de Deus, isto é, na escuta do Evangelho. De facto, no sábado seguinte «quase toda a cidade» (v. 44) acorre a escutar a Palavra de Deus. Mas os judeus encheram-se de inveja e «judeus incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade» contra Paulo e Barnabé, que são expulsos do território. É nesse momento que se dá a separação definitiva entre o Evangelho e o Judaísmo.
Paulo reafirma o direito dos judeus a serem evangelizados antes de mais ninguém... Mas, uma vez que recusavam o evangelho, era a vez de o anunciarem aos pagãos. Em Antioquia, os missionários declaram que se voltam para os pagãos, não só por causa da recusa dos judeus, mas também por causa das palavras de Isaías que fala da luz para todos os povos (49, 6). Os cristãos são herdeiros do destino glorioso que estava reservado a Israel, que se tornou incapaz de o realizar, uma vez que recusou Jesus Cristo. Lucas termina a narrativa de um modo positivo: «Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo» (v. 52).Evangelho: João 14, 7-14
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «7Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.» 8Disse-lhe Filipe:
«Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» 9Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'? 10Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras. 11Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras. 12Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. 14Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei.»«Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!». Jesus, no quarto evangelho, fala frequentemente da sua relação com o Pai, da sua união com Ele, do facto de ter sido enviado por Ele. Os discípulos, agora representados por Filipe, queriam algo mais: uma visão directa do Pai. Mas esse desejo estava em contradição com aquilo que já nos aparece no prólogo de João: «A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer» (Jo 1, 18). Mas os discípulos não souberam reconhecer na presença visível do seu Mestre as palavras e as obras do Pai (cf. v. 9) porque, para ver o Pai no Filho, é preciso acreditar na união recíproca que existe entre ambos. Só pela fé se reconhece a mútua imanência entre o Jesus e o Pai. Por isso, a única coisa que havemos de pedir é a fé, esperando confiadamente esse dom. Jesus ao apelar para a fé, apoia os seus ensinamentos em duas razões: a sua autoridade pessoal, tantas vezes experimentada pelos discípulos, e o testemunho das suas obras (cf. v. 11).
A obra de Jesus, inaugurada pela sua missão de revelador, é apenas um começo. Os discípulos hão-de continuar a sua missão de salvação, farão obras iguais e mesmo superiores às suas. Jesus quer mesmo dar coragem, aos seus e a todos os que hão-de acreditar n´Ele, para que se tornem participantes convictos e decididos na sua própria missão.Meditatio
Jesus falou muito do Pai. Filipe entusiasmou-se e pediu a Jesus que lhe mostrasse o Pai. Mas o Senhor respondeu-lhe: «Quem me vê, vê o Pai». Filipe queria ver o Pai, mas não conseguiu vê-lo em Jesus. Ao contemplar o Mestre ficou pela realidade externa, não conseguindo atingir o interior, a sua realidade íntima, com o olhar penetrante da fé. O verbo «ver», para João, indica duas ordens de realidades: a do sinal visível (a realidade natural) e o da glória do Verbo (realidade sobrenatural).
«Quem me vê, vê o Pai... Eu estou no Pai e o Pai está em mim». Jesus é a revelação de amor, de um amor generoso que quer espalhar-se sem limites, que não tem ciúmes: «quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas» (v. 12). Nós pensaríamos que, sendo Jesus o Filho de Deus vindo ao mundo, é a Ele que pertence fazer as obras maiores. Mas não é essa a lógica do amor de Deus, que é generoso e enriquece de modo ilimitado aqueles nos quais se derrama.
Deus não tem ciúmes. Mas os judeus têm-nos. É o que nos mostra a página dos Actos que hoje escutamos. Quando vêem a multidão, que o discurso de Paulo atraiu, enchem-se de inveja. A mensagem deve ser reservada para eles, é seu privilégio. Ao verem que era oferecida a «quase toda a cidade» organizaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé. Os judeus não toleravam que a fé fosse oferecida também aos pagãos. Mas Deus não cede e, Paulo, atento à vontade de Deus (cf. v. 47), declara: «Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos».
Há que alegrar-nos com o bem dos outros, para estarmos com o Senhor.
Quando vemos o bem que Deus faz a outros, não há que ficar invejosos, mas que dar graças.Infelizmente nas comunidades cristãs, e até mesmo nas comunidades religiosas, também nascem inimizades geralmente causadas pela mesquinhez, pela tacanhez de espírito, pelo ciúme e pela inveja. São inimizades que provocam muito sofrimento em quem delas é objecto, sem culpa. Valem, então, as palavras de Jesus: "Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam (ou que, sem um verdadeiro ódio, são invejosos, ciumentos), bendizei aqueles que vos amaldiçoam (no sentido de que falam mal de vós), rezai por aqueles que vos maltratam (não fisicamente, mas moralmente) (Lc 6, 27-28). "Para que sejais filhos do vosso Pai celeste, que faz nascer o sol para os bons e para os maus, e manda a chuva para os justos e os injustos... Sede, portanto, perfeitos como é perfeito o Pai celeste" (Mt 5, 45-46).
Oratio
Senhor, dá-me aquela abertura de coração que é fonte de alegria perene, que é dom de amor generoso, que se alegra com o bem e com a felicidade dos outros, com todo o bem que há no mundo. Dá-me também aquele olhar penetrante da fé que me permite observar a tua presença e acção no mundo. Ensina-me a ler os sinais dos tempos para que não oscile entre o pessimismo e o optimismo. Ensina-me a arte do discernimento, para que Te veja onde actuas e como actuas. Purifica o meu coração, para que me deixe guiar, não pelos meus estados de espírito, mas pela tua luz, que me mostra onde estás. Então poderei tornar-me teu colaborador na obra da redenção que realizas no coração do mundo, e amar-Te como queres e tens direito a ser amado. Amen.
Contemplatio
«Se me tivésseis conhecido como devíeis, diz Jesus, teríeis também conhecido o meu Pai, porque o meu Pai e eu somos um; mas em breve o conhecereis, ao receberdes o Espírito Santo, e já, ao me verdes, o vistes.
– Senhor, disse-lhe Filipe, mostrai-nos o Pai celeste, por alguma visão miraculosa, e isso nos basta. –
O quê? diz-lhe Jesus, com uma doce censura, há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheceis? Não sabeis ainda que eu sou o Filho único e consubstancial do Pai? Filipe, quem me vê, vê também o Pai, e não tem necessidade de outra revelação, porque o Pai e eu somos um só na unidade da essência divina. Como dizeis então: Mostrai-nos o Pai? Não credes que eu estou no Pai e que o meu Pai está em mim? As palavras, que vos digo, não as digo de mim mesmo; elas não são o fruto de uma inteligência humana; e os milagres que eu faço são a obra de meu Pai que permanece em mim. São a prova da minha missão e da minha natureza divina. Não credes que eu estou no meu Pai e que o meu Pai está em mim? Ainda uma vez, se não crerdes nas minhas palavras, crede ao menos por causa das obras que faço».
– Somos cegos como os apóstolos. Vendo as obras de Nosso Senhor, deveríamos ver claramente que é o nosso Deus (Leão Dehon, OSP 3, 448).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem crê em mim fará obras maiores do que estas» (Jo 14, 12)».S. MatiasS. Matias
14 Maio 2022S. Matias não pertencia ao grupo dos Doze escolhidos por Jesus para seus companheiros e mensageiros (Mc 3, 14). Mas provavelmente era um dos setenta e dois discípulos que Jesus enviou em missão (Lc 10, 1ss.). De qualquer modo, como firma S. Pedro, estava entre aqueles que, após o batismo de Jesus por João Batista, não tinham deixado de acompanhar os Apóstolos e haviam sido testemunhas da Ressurreição (At 1, 22-23). Quando após a Ascensão se tornou necessário escolher um substituto para Judas, Matias foi agregado ao Colégio Apostólico. O seu nome encontra-se no segundo elenco do Cânon Romano.
Lectio
Primeira leitura: Atos dos Apóstolos 1, 15-17, 20-26
Por aqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos - encontravam-se reunidas cerca de cento e vinte pessoas - e disse: 16«Irmãos, era necessário que se cumprisse o que o Espírito Santo anunciou na Escritura pela boca de David a respeito de Judas, que foi o guia dos que prenderam Jesus. 20Está realmente escrito no Livro dos Salmos:'Fique deserta a sua habitação e não haja quem nela resida'. E ainda: 'Receba outro o seu encargo.'21Portanto, de entre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, 22a partir do baptismo de João até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto, é indispensável que um deles se torne, connosco, testemunha da sua ressurreição.»23Designaram dois: José, de apelido Barsabas, chamado Justo, e Matias. 24Fizeram, então, a seguinte oração: «Senhor, Tu que conheces o coração de todos, indica-nos qual destes dois escolheste 25para ocupar, no ministério apostólico, o lugar abandonado por Judas, que foi para o lugar que merecia.» 26Depois, tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias, que foi incluído entre os onze Apóstolos.
Pedro, ao iniciar o seu ministério, preocupa-se em recompor o número dos apóstolos, - Doze -, explicando à comunidade as motivações de tal preocupação. Para entrar no Colégio Apostólico, o candidato deve ter partilhado as experiências do ministério público de Jesus. Exige-o o testemunho eficaz da Ressurreição do Senhor. Para o cristão, a fé enxerta-se na história e a história abre-se a Deus que visita e salva. A oração dos Apóstolos (vv. 24-25) sugere claramente que a escolha não é obra deles, mas é confiada à vontade e à intervenção do Senhor.
Segunda leitura: João 15, 9-17
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. 12É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhes-tes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. 17É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.
O apóstolo partilha a missão de Jesus, que o escolhe e envia. Mas, ainda antes disso, Jesus e os seus discípulos partilham o mesmo amor que Deus, o Pai, lhes deu. O primeiro dever do apóstolo é permanecer no amor, no amor de Jesus para com ele, e no amor de Jesus para com o Pai. É viver na comunhão simultaneamente horizontal e vertical, isto é, com os irmãos na fé e com Deus, meta última do nosso amor. O discípulo de Jesus, porque se sente amado e partilha com Jesus o amor do Pai, sabe que tem um mandamento a observar, o mandamento do amor. Este mandamento não inibe a nossa liberdade, mas exalta-a. O verdadeiro discípulo de Jesus tem plena consciência de ser seu amigo, e sente-se chamado a viver essa amizade "até ao fim", até ao dom de si mesmo.
Meditatio
S. Matias foi escolhido para ser amigo de Jesus e seu apóstolo. Como aos Onze, que restavam do Colégio Apostólico, Jesus diz: "És meu amigo, se fizeres o que Eu te mando." (cf. v. 14). Os temas do mandamento e o do amor repetem-se, hoje, no evangelho: "Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor." (vv. 9-10); "É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei." (v. 12). Esta insistência no mandamento, a propósito do amor, pode causar-nos estranheza. O amor, pensamos, só pode ser livre, uma vez que é algo de espontâneo e se desenvolve por leis próprias. Não são precisos mandamentos para o observar. Mas o cristão sabe que o verdadeiro amor não é pura espontaneidade, mas dom de Deus, derramado nos nossos corações. Para Jesus o verdadeiro amor leva a cumprir a vontade do outro: "Eu tenho guardado os mandamentos do meu Pai, e permaneço no seu amor" cf. (v. 10). Para amar o Pai, Jesus vive em permanente adesão à sua vontade. O Pai, e Jesus, querem que também nós amemos. Trata-se de uma espécie de círculo, que não é vicioso, mas de progresso no amor. A verdadeira adesão à vontade de Deus realiza-se no amor e, para que o nosso amor progrida, é preciso que seja adesão à vontade divina. Esta é a lei fundamental da vida espiritual: para amar, procuramos a vontade de Jesus, a vontade do Pai; procurando e cumprindo esta vontade, progredimos no amor.
A oblação de amor, a que somos chamados, como dehonianos, concretiza-se na obediência amorosa à vontade de Deus. Lemos nas Constituições: "Jesus submeteu-Se amorosamente à vontade do Pai: disponibilidade particularmente manifesta na sua atenção e abertura às necessidades e aspirações dos homens. "O meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e realizar a sua obra" (Jo 4,34). Queremos, a seu exemplo, pela profissão da obediência, fazer o sacrifício de nós mesmos a Deus e unir-nos, de uma maneira mais firme, à sua vontade de salvação". (Cst 53).Oratio
Senhor Jesus, quero ser teu amigo. Não olhes para os meus méritos, mas para a misericórdia do teu coração. Perdoa o meu pecado e olha-me com predileção. Sei que precisas de colaboradores livres e alegres. Quero ser um deles. Tenho muito que aprender de ti e tu tens muito para me ensinar e entregar. Eis-me aqui! Quero ser teu amigo, um dos teus prediletos, um daqueles a quem confias quanto tens no coração e, como tu, fazer em tudo a vontade do Pai. Ámen.
Contemplatio
É preciso, diz S. Pedro, substituir o traidor e escolher um outro apóstolo. Procuremos, portanto, um discípulo fiel, um discípulo que tenha estado todo o tempo connosco, desde o começo da vida pública do Salvador até à sua morte. E escolheram dois, os mais fiéis, os mais zelosos discípulos do Salvador, José Barsabas, chamado o Justo, e Matias. Este não tinha o sobrenome de Justo, mas tinha a sua reputação. Ambos tinham seguido assiduamente o Salvador; não o tinham deixado; tinha escutado e posto em prática os seus ensinamentos. Eram os mais dedicados, os mais assíduos, os mais fiéis depois dos doze. Tinham visto tudo, ouvido tudo, meditado tudo... Podiam receber a imposição das mãos, o sacerdócio, o carácter episcopal e a missão apostólica. Mas, qual dos dois vão escolher? ... S. Pedro tem a piedosa inspiração de confiar a escolha a Deus reportando-se à sorte. E a sorte caiu em Matias. É, portanto, ele o fiel por excelência, o discípulo perfeito, que melhor ensinará a doutrina de Cristo e que melhor reproduzirá as virtudes do seu divino Coração. Se quero ter os favores divinos, eis o caminho: seguir fielmente Jesus, meditar em todos os seus mistérios, do começo até ao fim, deixar-me compenetrar dos sentimentos do seu Coração sagrado e reproduzir as suas virtudes. (Leão Dehon, OSP 3, p. 213).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Permanecei no meu amor" (Jo 15, 9).(14 maio)