Liturgia

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  • 05º Domingo da Páscoa - Ano B [atualizado]

    05º Domingo da Páscoa - Ano B [atualizado]

    28 de Abril, 2024

    ANO B

    5.º DOMINGO DA PÁSCOA

    Tema do 5.º Domingo da Páscoa

    A liturgia do quinto Domingo da Páscoa fala-nos de Jesus como a fonte da Vida autêntica. Os discípulos de Jesus, unidos a Ele, bebem d’Ele essa Vida e testemunham-na em gestos concretos de amor. É assim que a proposta de Vida nova de Deus alcança o mundo e a vida dos homens.

    No Evangelho Jesus, em contexto de despedida, apresenta-se aos discípulos como “a verdadeira videira” e convida-os a permanecerem ligados a Ele para receberem d’Ele Vida. Jesus (a videira) e os discípulos (os ramos) produzirão frutos bons, os frutos que Deus espera. Enquanto se mantiverem unidos a Jesus, os discípulos serão testemunhas verdadeiras, no meio dos homens, da Vida nova de Deus.

    A primeira leitura, a pretexto de nos contar a inserção de Paulo de Tarso na comunidade cristã de Jerusalém, lembra-nos que a experiência cristã é um caminho feito em comunidade: é no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece. A comunidade cristã deve ser uma casa de portas abertas, onde todos têm lugar e onde todos podem fazer, de mãos dadas com os outros irmãos, uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado.

    A segunda leitura lembra que na base da vida cristã autêntica está o “acreditar em Jesus” e o amar os irmãos “como Ele mandou”. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo. Se testemunharmos em gestos concretos o amor de Jesus, estamos unidos a Jesus e a vida de Jesus circula em nós.

     

    LEITURA I – Atos dos Apóstolos 9,26-31

    Naqueles dias,
    Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos.
    Mas todos os temiam, por não acreditarem que fosse discípulo.
    Então, Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos Apóstolos
    e contou-lhes como Saulo, no caminho,
    tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado,
    e como em Damasco tinha pregado com firmeza
    em nome de Jesus.
    A partir desse dia, Saulo ficou com eles em Jerusalém
    e falava com firmeza no nome do Senhor.
    Conversava e discutia também com os helenistas,
    mas estes procuravam dar-lhe a morte.
    Ao saberem disto, os irmãos levaram-no para Cesareia
    e fizeram-no seguir para Tarso.
    Entretanto, a Igreja gozava de paz
    por toda a Judeia, Galileia e Samaria,
    edificando-se e vivendo no temor do Senhor
    e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo.

     

    CONTEXTO

    A secção de At 9,1-30 é dedicada a um acontecimento que marcará a história do cristianismo: a vocação/conversão de Paulo. Foi depois de se encontrar com Jesus ressuscitado que Paulo, convertido à Boa Nova de Jesus, abraçou a missão de levar a Boa Nova da salvação ao encontro de outras culturas e realidades; e o projeto de Jesus “viajou” com Paulo desde as fronteiras do mundo judaico até ao coração do mundo greco-romano.

    De acordo com At 9,1 Paulo, pouco depois da morte do diácono Estevão, pôs-se a caminho de Damasco, mandatado pelo Sinédrio, para prender e trazer algemados para Jerusalém os membros da comunidade judaica que tivessem aderido a Jesus; mas, no caminho, viu-se “envolvido por uma luz intensa” e fez a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. Percebeu, então, que estava a perseguir o próprio Jesus. Isso abalou todas as suas certezas e levou-o a questionar o caminho que estava a seguir (cf. At 9,1-9). Entrando em Damasco, Paulo encontrou-se com Ananias, membro da comunidade cristã dessa cidade, que o ajudou a situar as coisas, a esclarecer as dúvidas que tinha e a posicionar-se face a Jesus (cf. At 9,10-19a). Paulo ficou em Damasco, integrado na comunidade cristã, dando testemunho de Jesus (cf. At 9,20-22); mas, ao fim de algum tempo, os judeus da cidade conspiraram para o matar e Paulo teve que fugir (cf. At 9,23-25). Dirigiu-se, então, para Jerusalém, indo apresentar-se à comunidade cristã da cidade.

    Pensa-se que a conversão de Paulo terá acontecido por volta do ano 36 e que ele permaneceu em Damasco cerca de três anos. O regresso de Paulo a Jerusalém deve ter acontecido, portanto, por volta do ano 39 (cf. Gal 1,18).

    O texto que nos é proposto como primeira leitura neste quinto domingo da Páscoa situa-nos em Jerusalém, logo após o regresso do regresso de Paulo. Inclui, além disso, num versículo final, um breve sumário da vida da Igreja: é um dos tantos sumários típicos de Lucas, através dos quais o autor dos Atos faz um balanço da situação e prepara os temas que vai tratar nas secções seguintes.

     

    MENSAGEM

    Na sua narração, o autor dos Atos dos Apóstolos apresenta um conjunto de informações históricas sobre a forma como Paulo foi acolhido pela comunidade cristã de Jerusalém, depois da sua fuga de Damasco. Mas percebe-se que Lucas pretende ir um pouco mais além da simples informação histórica: nas entrelinhas, ele deixa aos membros das comunidades cristãs – do seu tempo e de todos os tempos – algumas interrogações e desafios sobre a forma de viver e de testemunhar, em comunidade, a fé em Jesus. Vamos sublinhar algumas dessas interrogações.

    1. A desconfiança da comunidade cristã de Jerusalém em relação a Paulo (“todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo” – vers. 26) é um dado verosímil e que é, muito provavelmente, histórico. Decorre, naturalmente, daquilo que os cristãos de Jerusalém sabiam do passado de Paulo. Mas, por outro lado, sem ser demasiado direto, Lucas põe as comunidades cristãs de sobreaviso para um “perigo” bem real: o medo do risco, a excessiva prudência, a instalação cómoda nos velhos esquemas de sempre, podem ser obstáculos que não deixam acontecer o “hoje” de Deus. Se a comunidade cristã de Jerusalém tivesse decidido, por medo ou prudência excessiva, fechar as portas a Paulo, teria fechado as portas ao dom de Deus e à novidade do Espírito; e isso teria empobrecido consideravelmente a Igreja de Jesus.
    2. O esforço de Paulo em integrar-se (“chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos” – vers. 26) mostra a importância que ele dava ao viver em comunidade, à partilha da fé com os irmãos. O cristianismo não é apenas um encontro pessoal com Jesus Cristo; mas é também uma experiência de partilha da fé e do amor com os irmãos que aderiram ao mesmo projeto e que são membros da grande família de Jesus. É no diálogo e na partilha comunitária que nos questionamos sobre os limites dos nossos entendimentos pessoais, que nos enriquecemos com a experiência dos outros irmãos, que nos ajudamos mutuamente a vencer as dificuldades, que discernimos os caminhos do Espírito e que purificamos a nossa experiência de fé.
    3. O papel de Barnabé na integração de Paulo é muito significativo (“Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor” – vers. 27a): ele não só acredita em Paulo, como consegue que o resto da comunidade cristã o acolha. Mostra-nos o papel que cada cristão pode ter na integração comunitária dos irmãos, inclusive daqueles que, pelo seu percurso de vida, foram rotulados e afastados; e mostra, sobretudo, que é tarefa de cada crente questionar a sua comunidade e ajudá-la a descobrir os desafios sempre novos de Deus.
    4. Outro elemento sublinhado por Lucas é o entusiasmo com que Paulo dá testemunho de Jesus e a coragem com que ele enfrenta as dificuldades e oposições resultantes do seu testemunho (vers. 27b-28). Trata-se, aliás, de uma atitude que vai caracterizar toda a vida apostólica de Paulo. O encontro com Jesus, se é verdadeiro, tem de resultar no testemunho do Evangelho. Paulo está consciente de que foi chamado por Jesus, que recebeu de Jesus a missão de anunciar a salvação a todos os homens; por isso, nada nem ninguém será capaz de arrefecer o seu zelo no anúncio do Evangelho. Lucas está a sugerir, com esta “notícia”, que todos aqueles que se encontram com Jesus e aderem à sua proposta devem tornar-se testemunhas credíveis e corajosas do Evangelho.
    5. A pregação cristã suscita, naturalmente, o conflito com os poderes interessados em perpetuar as trevas, a mentira, a opressão. A fidelidade ao Evangelho e a Jesus provoca sempre a oposição de quem teme a luz e a verdade do Evangelho (vers. 29). O caminho do discípulo de Jesus é sempre um caminho marcado pela cruz (não é, no entanto, um caminho de morte, mas de Vida). Convém que os discípulos de Jesus estejam bem conscientes desta realidade e que não se deixem paralisar pelo medo.
    6. O sumário final (vers. 31) recorda um elemento que está sempre presente no horizonte da catequese de Lucas: é o Espírito Santo que conduz a Igreja na sua marcha pela história. É o Espírito que lhe dá estabilidade (“como um edifício”), que lhe alimenta o dinamismo (“caminhava no temor do Senhor”) e que a faz crescer (“ia aumentando”). A certeza da presença e da assistência do Espírito Santo deve fundamentar a nossa esperança.

     

    INTERPELAÇÕES

    • A comunidade cristã de Jerusalém colocou algumas reticências ao acolhimento de Paulo. Trata-se de uma “precaução” que podemos compreender, considerando o historial de Paulo. Mas a verdade é que a comunidade cristã não é um condomínio fechado, com direito de admissão reservado; mas é uma casa de portas abertas, onde todos podem entrar, onde todos são acolhidos como irmãos e onde todos podem fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado. Como é a nossa comunidade cristã? É uma comunidade fechada, pouco acolhedora, cheia de preconceitos, criadora de exclusão, ou é uma comunidade aberta, fraterna, solidária, disposta a acolher?

     

    • Paulo, mal chega a Jerusalém, procura imediatamente a comunidade cristã. Já tinha, então, percebido, que a vivência da fé é uma experiência comunitária. É no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece; é na comunidade, unida por laços de amor e de fraternidade, que a nossa vocação se realiza plenamente; é na comunidade e sempre em referência comunitária que celebramos ritualmente a fé. Como é que nós vivemos a fé? Como experiência isolada (“eu cá tenho a minha fé”), ou como experiência comunitária? Consideramos que a comunidade, apesar das tensões e conflitos que possa ter, é a “casa de família” onde nos sentimos bem e onde podemos fazer, de forma privilegiada, a experiência do encontro com o nosso irmão Jesus?
    • Barnabé assume, na comunidade cristã de Jerusalém, o papel de questionar os preconceitos, o fechamento, a atitude defensiva da comunidade em relação a Paulo. Faz-nos pensar no papel que Deus reserva a cada um de nós, no sentido de ajudarmos a nossa comunidade cristã a crescer, a sair de si própria, a viver com mais coerência o seu compromisso com Jesus Cristo e com o Evangelho. Nenhum membro da comunidade é detentor de verdades absolutas; mas todos os membros da comunidade devem sentir-se responsáveis para que a comunidade dê, no meio do mundo, um verdadeiro testemunho de Jesus e do seu projeto de salvação. Somos, nas nossas comunidades cristãs, pessoas envolvidas e comprometidas, que questionam, que propõem caminhos, que colaboram na procura comum da verdade de Deus e do Espírito?
    • O encontro com Jesus ressuscitado no caminho de Damasco foi um momento transformador. A partir desse encontro, Paulo tornou-se o arauto entusiasta e imparável do projeto libertador de Jesus. A perseguição dos judeus, a oposição das autoridades, a indiferença dos não crentes, a incompreensão dos irmãos na fé, os perigos dos caminhos, as incomodidades das viagens, não conseguiram desencorajá-lo e desarmar o seu testemunho. O exemplo de Paulo recorda-nos que ser cristão é dar testemunho de Jesus e do Evangelho. A experiência que fazemos de Jesus e do seu projeto libertador não pode ser calada ou guardada apenas para nós; mas tem de se tornar um anúncio libertador que, através de nós, chega a todos os nossos irmãos. Procuramos assumir, no dia a dia, este papel de “missionários” (“enviados”), de testemunhas da Boa Notícia de Jesus?
    • A Igreja é uma comunidade formada por homens e mulheres e, portanto, marcada pela debilidade e fragilidade; mas é, sobretudo, uma comunidade que marcha pela história assistida, animada e conduzida pelo Espírito Santo. O “caminho” que percorremos como Igreja pode ter avanços e recuos, infidelidades, quedas e vicissitudes várias; mas é um caminho que conduz a Deus, à Vida definitiva à salvação. A presença do Espírito dirigindo a caminhada dá-nos essa garantia. Confiamos na ação do Espírito? Acreditamos que a Igreja, apesar da fragilidade dos seus membros, será sempre “sacramento universal de salvação”, pois é conduzida pelo Espírito de Deus?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 21 (22)

    Refrão 1: Eu Vos louvo, Senhor, na assembleia dos justos.

    Refrão 2: Eu Vos louvo, Senhor, no meio da multidão.

     

    Cumprirei a minha promessa na presença dos vossos fiéis.
    Os pobres hão de comer e serão saciados,
    louvarão o Senhor os que O procuram:
    vivam para sempre os seus corações.

    Hão de lembrar-se do Senhor e converter-se a Ele
    todos os confins da terra;
    e diante d’Ele virão prostrar-se
    todas as famílias das nações.

    Só a Ele hão de adorar
    todos os grandes do mundo,
    diante d’Ele se hão de prostrar
    todos os que descem ao pó da terra.

    Para Ele viverá a minha alma,
    Há de servi-l’O a minha descendência.
    Falar-se-á do Senhor às gerações vindouras
    e a sua justiça será revelada ao povo que há de vir:
    «Eis o que fez o Senhor».

     

    LEITURA II – 1 João 3,18-24

    Meus filhos,
    não amemos com palavras e com a língua,
    mas com obras e em verdade.
    Deste modo saberemos que somos da verdade
    e tranquilizaremos o nosso coração diante de Deus;
    porque, se o nosso coração nos acusar,
    Deus é maior que o nosso coração
    e conhece todas as coisas.
    Caríssimos, se o coração não nos acusa,
    tenhamos confiança diante de Deus
    e receberemos d’Ele tudo o que Lhe pedirmos,
    porque cumprimos os seus mandamentos
    e fazemos o que Lhe é agradável.
    É este o seu mandamento:
    acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo,
    e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou.
    Quem observa os seus mandamentos
    permanece em Deus e Deus nele.
    E sabemos que permanece em nós
    pelo Espírito que nos concedeu.

     

    CONTEXTO

    Já vimos, nos domingos anteriores, que a Primeira Carta de João é um escrito dirigido às Igrejas joânicas da Ásia Menor, destinado a intervir na controvérsia levantada por hereges pré-gnósticos a propósito de pontos fundamentais da teologia cristã. Nesse contexto, o autor da Carta procura fornecer aos cristãos (algo confusos diante das proposições heréticas) uma síntese da vida cristã autêntica.

    Uma questão que tem um tratamento desenvolvido na Primeira Carta de João é a questão do amor ao próximo. Os hereges pré-gnósticos afirmavam que o essencial da fé residia na vida de comunhão com Deus; mas, ocupados a olhar para o céu, negligenciavam o amor ao próximo (cf. 1 Jo 2,9). Ora, de acordo com o autor da Primeira Carta de João, o amor ao próximo é uma exigência central da experiência cristã. A essência de Deus é amor; e ninguém pode dizer que está em comunhão com Ele se não se deixou contagiar e embeber pelo amor. Jesus demonstrou isso mesmo ao amar os homens até ao extremo de dar a vida por eles, na cruz; e exigiu que os seus discípulos O seguissem no caminho do amor e do dom da vida aos irmãos (cf. 1 Jo 3,16). Em última análise, é o amor aos irmãos que decide o acesso à Vida: só quem ama alcança a Vida verdadeira e eterna (cf. 1 Jo 3,13-15). A realização plena do homem depende da sua capacidade de amar os irmãos.

    O texto que a liturgia deste quinto domingo da Páscoa nos apresenta como segunda leitura pertence a uma secção que poderíamos intitular “viver como filhos de Deus” (3,1-24). Conclui a reflexão sobre o tema do amor aos irmãos, que é apresentado como consequência da filiação divina.

     

    MENSAGEM

    No versículo que antecede o texto (um versículo que a liturgia deste domingo não apresenta), o autor da Carta coloca aos crentes uma questão muito concreta: “se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele?” (1 Jo 3,17). E, logo de seguida, o nosso “catequista” conclui (e é aqui que começa o nosso texto): o amor aos irmãos não é algo que se manifesta em declarações solenes de boas intenções, mas em gestos concretos de partilha e de serviço. É com atitudes concretas em favor dos irmãos que se revela a autenticidade da vivência cristã e se dá testemunho do projeto salvador de Deus (vers. 18).

    Quando, efetivamente, deixamos que o amor conduza a nossa vida, podemos estar seguros de que estamos no caminho da verdade; quando temos o coração aberto ao amor, ao serviço e à partilha, podemos estar tranquilos porque estamos em comunhão com Deus. Na verdade, a nossa consciência pode acusar-nos dos erros passados e reprovar algumas das nossas opções; mas, se amarmos, sabemos que estamos perto de Deus, pois Deus é amor (vers. 19). O amor autêntico liberta-nos de todas as dúvidas e inquietações, pois dá-nos a certeza de que estamos no caminho de Deus; e se Deus “é maior do que o nosso coração e conhece tudo” (vers. 20), nada temos a recear. Viver no amor é viver em Deus e estar entregue à bondade e à misericórdia de Deus.

    Com a consciência em paz, e sabendo que Deus nos aceita e nos ama (porque nós aceitamos o amor e vivemos no amor), podemos dirigir-Lhe a nossa oração com a certeza de que Ele nos escuta. Deus atende a oração daquele que cumpre os seus mandamentos (vers. 21-22).

    Os dois versículos finais apenas recapitulam e resumem tudo o que atrás ficou dito… A exigência fundamental do caminho cristão é “acreditar em Jesus” e amar os irmãos (vers. 23). “Acreditar” deve ser aqui entendido no sentido de aderir à sua proposta e segui-l’O; ora, seguir Jesus é fazer da vida um dom total de amor aos irmãos. “Acreditar em Jesus” e cumprir o mandamento do amor são a mesma e única questão.

    Quem guarda os mandamentos (especialmente o mandamento do amor, que tudo resume) vive em comunhão com Deus e já possui algo da natureza divina (o Espírito). É o Espírito de Deus que dá ao crente a possibilidade de produzir obras de amor (vers. 24).

     

    INTERPELAÇÕES

    • O autor da primeira Carta de João define a vida cristã autêntica como “acreditar no Nome” de Jesus Cristo e amar os irmãos “como Jesus nos mandou”. Aliás, parece evidente que uma coisa não “vai” sem a outra. É possível “acreditar” em Jesus e aceitar a marginalização dos “diferentes”, dos que não têm voz nem vez no nosso mundo? É possível “acreditar” em Jesus e não nos sentirmos profundamente comovidos quando encontramos alguém caído e abandonado na berma da estrada (cf. Lc 10,33)? É possível “acreditar” em Jesus sem nos dispormos a servir, com simplicidade e humildade, os nossos irmãos (cf. Jo 13,13-17)? É possível “acreditar” em Jesus e recusar o perdão a quem fez opções erradas, mas busca uma vida nova, um recomeço (cf. Lc 19,8-10)? É possível “acreditar” em Jesus e vivermos fechados na nossa vida cómoda, ignorando a sorte daqueles que têm fome, ou que não conseguem garantir uma vida digna aos seus filhos? A minha adesão a Jesus traduz-se em gestos semelhantes aos que Ele fazia e que levavam Vida e esperança aos pobres, aos doentes, aos abandonados, aos condenados que Ele encontrava pelos caminhos da Galileia e da Judeia? Como é que vivemos o mandamento do amor? Com declarações inconsequentes de boas intenções, ou com ações concretas que dão significado às vidas?
    • Por vezes, apesar do nosso esforço e da nossa vontade em acertar, sentimo-nos indignos e longe de Deus. Como é que sabemos se estamos no caminho certo? Qual é o critério para avaliarmos a força da nossa relação e da nossa proximidade com Deus? A vida de uma árvore vê-se pelos frutos que ela dá… Se realizamos obras de amor, se os nossos gestos de bondade e de solidariedade curam o sofrimento dos nossos irmãos, se a nossa ação torna o mundo um pouco melhor, é porque estamos em comunhão com Deus e a vida de Deus circula em nós. O nosso amor a Deus vê-se nos nossos gestos? Os nossos gestos reproduzem e anunciam o amor e a bondade de Deus na vida daqueles que caminham ao nosso lado?
    • Muitas vezes somos testemunhas de espantosos gestos proféticos realizados por pessoas que fizeram opções religiosas diferentes das nossas ou até por parte de pessoas que assumem uma aparente atitude de indiferença face a Deus… No entanto, não tenhamos dúvidas: onde há amor, aí está Deus. O Espírito de Deus está presente até fora das fronteiras da Igreja e atua no coração de todos os homens de boa vontade. De resto, certos testemunhos de amor e de solidariedade que vemos surgir nos mais variados quadrantes constituem uma poderosa interpelação aos crentes, convidando-os a uma maior fidelidade a Jesus e ao seu projeto. Sou capaz de reconhecer e de agradecer o “toque” de Deus nos gestos de amor, de bondade, de misericórdia que vejo acontecer à minha volta? Deixo-me interpelar pelo exemplo e testemunho daqueles que procuram tornar o mundo mais belo e mais humano, mesmo quando se trata de pessoas que não se consideram membros da minha Igreja ou da minha família cristã?

     

    ALELUIA – João 15,4a-5a

    Aleluia. Aleluia.

    Diz o Senhor:
    «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós;
    quem permanece em Mim dá muito fruto».

     

    EVANGELHO – João 15,1-8

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos seus discípulos:
    «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor.
    Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto
    e limpa todo aquele que dá fruto,
    para que dê ainda mais fruto.
    Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei.
    Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós.
    Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo,
    se não permanecer na videira,
    assim também vós, se não permanecerdes em Mim.
    Eu sou a videira, vós sois os ramos.
    Se alguém permanece em Mim e Eu nele,
    esse dá muito fruto,
    porque sem Mim nada podeis fazer.
    Se alguém não permanece em Mim,
    será lançado fora, como o ramo, e secará.
    Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem.
    Se permanecerdes em Mim
    e as minhas palavras permanecerem em vós,
    pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido.
    A glória de meu Pai é que deis muito fruto.
    Então vos tornareis meus discípulos».

     

    CONTEXTO

    O Evangelho do quinto domingo da Páscoa situa-nos em Jerusalém, numa noite de quinta-feira, um dia antes da celebração da Páscoa judaica, por volta do ano 30. Jesus está reunido com os seus discípulos à volta de uma mesa. Consciente de que os dirigentes judaicos tinham decidido dar-Lhe a morte e que a cruz estava no seu horizonte próximo, Jesus organizou uma ceia especial de despedida. Queria preparar os seus discípulos para os acontecimentos dramáticos que se avizinhavam. Não queria que a sua morte lançasse os discípulos num desespero sem esperança. Naquela hora, de certeza que algumas perguntas pairavam no ar… Que iria acontecer àquele grupo de discípulos quando Jesus lhes fosse tirado? O projeto do Reino seria viável sem Jesus? Os discípulos conseguiriam, sozinhos no mundo, viver e testemunhar aquilo que tinham aprendido enquanto caminhavam atrás de Jesus? Como é que os discípulos poderiam manter uma ligação a Jesus e continuar a receber d’Ele a Vida de que necessitavam para continuar o caminho?

    Nessa noite, Jesus conversou longamente com os discípulos e deu-lhes indicações para o caminho… Lembrou-lhes que deviam ser sempre uma comunidade de serviço (cf. Jo 13,3-17), recomendou-lhes que colocassem no centro de tudo o mandamento do amor (cf. Jo 13,33-35), deixou-lhes a promessa do Espírito (cf. Jo 14,15-6. 25-26; 15,26-27; 16,5-15), transmitiu-lhes a sua paz (cf. Jo 14,27-31), prometeu-lhes que nunca os abandonaria e que não os deixaria órfãos (cf. Jo 14,18-21), pediu-lhes que continuassem unidos a Ele (cf. Jo 15,1-8). Os gestos e as palavras de Jesus, nessa noite, foram o seu “testamento”. No Quarto Evangelho, o “discurso de despedida” de Jesus vai de 13,1 a 17,26.

    O texto que a liturgia deste domingo nos propõe integra esse “discurso de despedida”. É designado como a “alegoria da videira e dos ramos”. Diz aos discípulos o que devem fazer para que, pelo tempo fora, se mantenham em comunhão com Jesus.

     

    MENSAGEM

    A “alegoria da videira e dos ramos” tem profundas conotações véterotestamentárias e assume um significado especial no universo religioso judaico. No Antigo Testamento – e de forma especial na mensagem profética – a “videira” e a “vinha” eram símbolos do Povo de Deus. Israel era apresentado como uma “videira” que Javé arrancou do Egipto, que transplantou para a Terra Prometida e da qual cuidou sempre com amor (cf. Sl 80,9.15); era também apresentado como “a vinha”, que Deus plantou com cepas escolhidas, que Ele cuidou e da qual esperava frutos abundantes, mas que só produziu frutos amargos e impróprios (cf. Is 5,1.7; Jr 2,21; Ez 17,5-10; 19,10-12; Os 10,1). A antiga “videira” ou “vinha” de Javé revelou-se como uma verdadeira desilusão. Israel nunca produziu os frutos que Deus esperava.

    Agora, Jesus apresenta-Se como a “verdadeira videira” (vers. 1). A Ele, a “verdadeira videira”, estão ligados os “ramos”. Os “ramos” são, nesta alegoria, os discípulos de Jesus. Esta “verdadeira videira” e estes ramos são, portanto, o novo Povo de Deus. Da ação criadora e vivificadora de Jesus irá nascer o novo Povo de Deus, a comunidade do Reino. Hoje, como ontem, Deus continua a ser o agricultor que cuida da sua vinha.

    Da “verdadeira videira” (Jesus) e dos “ramos” (discípulos) a ela ligados vão nascer bons frutos, os frutos que Deus espera ver na sua “vinha”. Esses bons frutos são os mesmos que o próprio Jesus produziu quando andava pelos caminhos da Galileia e da Judeia a anunciar o Reino de Deus, a curar os doentes, a libertar os que viviam prisioneiros, a dar Vida a todos aqueles que estavam privados de Vida. Se algum dos “ramos” não der bons frutos – frutos condizentes com a Vida que lhe é comunicada –, o “agricultor” (Deus) não poderá fazer mais nada senão cortá-lo. Esse “ramo” não está a receber Vida da “videira” ou não está a deixar que essa Vida se traduza nos frutos que Deus espera. Está, portanto, a autoexcluir-se da comunidade de Jesus (vers. 2a). Não pertence a essa “videira”; o seu lugar não é ali. Em contrapartida Deus, o “agricultor” cuidará de todos os “ramos” que dão bons frutos para que eles, através de um processo de limpeza (conversão) nunca terminado, se libertem cada vez mais do egoísmo e deem frutos, cada vez mais abundantes, de amor e de Vida (vers. 2b).

    Naturalmente, para que todo este dinamismo de Vida se concretize, os “ramos” devem permanecer ligados à “videira”. Eles não têm vida própria e não podem produzir frutos por si próprios; necessitam da seiva que lhes é comunicada pela “videira”. Por isso, os discípulos têm de “permanecer” em Jesus (vers. 4). O verbo “permanecer” (“ménô”) é uma das palavras-chave do nosso texto (do vers. 4 ao vers. 8, aparece sete vezes). Expressa a confirmação ou renovação de uma atitude já anteriormente assumida. Supõe que o discípulo tenha já aderido anteriormente a Jesus e que essa adesão adquira agora estatuto de solidez, de estabilidade, de constância, de continuidade. É um convite a que o discípulo mantenha a sua adesão a Jesus, a sua identificação com Ele, a sua comunhão com Ele. Se o discípulo mantiver a sua adesão, Jesus, por sua vez, permanece no discípulo – isto é, continuará fielmente a oferecer ao discípulo a sua Vida/Espírito.

    Como é que o discípulo se mantém unido a Jesus? O discípulo “permanece” em Jesus se continua a escutar as suas palavras, a acolhê-las no coração, a pautar a sua vida por elas; o discípulo “permanece” em Jesus se continua a “ver” os gestos que Ele fazia e a desenhar, a partir deles, a sua maneira de viver; o discípulo “permanece” em Jesus se não perde Jesus de vista e caminha atrás d’Ele, numa adesão todos os dias renovada. Há, no Quarto Evangelho, uma afirmação de Jesus, feita no “discurso do Pão da Vida”, que pode iluminar o sentido do “permanecer” unido a Jesus: “Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo 6,56). A “carne” de Jesus é a sua vida, o “sangue” de Jesus é a sua entrega por amor até à morte. Assim, “comer a carne e beber o sangue” de Jesus é assimilar a Sua existência, feita serviço e entrega por amor, até ao dom total de si mesmo; é acolher a sua proposta de vida e comprometer-se com uma existência feita entrega a Deus e aos irmãos, até à doação completa da vida por amor. Na eucaristia comemos a carne e bebemos o sangue de Jesus: é a celebração, sempre renovada, da nossa comunhão e do nosso compromisso com Jesus, que se traduz em compromisso com o seu estilo de vida.

    É preciso dizer ainda que a união com Jesus não é algo automático, que nos chega no Batismo e que fica para sempre; mas é algo que depende da decisão livre e consciente do discípulo, uma decisão que tem de ser, aliás, continuamente renovada e assumida.

    Voltemos a uma das questões que pairava no ar quando Jesus, à mesa da Última Ceia, se despedia da sua comunidade: é possível que os discípulos se mantenham ligados a Jesus e recebam d’Ele Vida, mesmo depois de Ele deixar de caminhar fisicamente no meio deles? É sim. Ele garantiu-lhes, nessa noite, que seria sempre a “verdadeira videira” onde os discípulos (os “ramos”) encontram Vida em abundância. Mas os discípulos têm de permanecer ligados a Jesus; têm de continuar a escutar as suas indicações e de continuar a assumir, em cada passo, o seu estilo de viver e de amar.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Jesus é “a verdadeira videira”; é n’Ele e nas suas propostas que os homens podem encontrar a Vida. Ele permanece sempre no centro, como nossa referência fundamental, como fonte inesgotável de Vida; e nós dispomo-nos à volta d’Ele, atentos à suas palavras, aos seus gestos, às suas indicações. À nossa volta ecoam, a cada instante, mil e uma outras propostas que nos oferecem acesso rápido ao sucesso, à realização, aos triunfos humanos, à concretização de todos os nossos sonhos e anseios… Mas, quase sempre, essas outras propostas deixam-nos frustrados e insatisfeitos: são efémeras e fúteis e não matam a nossa sede de Vida autêntica. O Evangelho deste domingo, através da alegoria da videira e dos ramos, garante-nos: na nossa busca de uma vida com sentido, é para Cristo que devemos olhar. Temos consciência de que é em Cristo que podemos encontrar uma proposta de Vida autêntica? Ele é, para nós, a verdadeira “árvore da Vida”, ou preferimos trilhar caminhos de autossuficiência e colocamos a nossa confiança e a nossa esperança noutras “árvores”, noutras propostas, noutras sugestões?
    • Hoje Jesus, “a verdadeira videira”, continua a oferecer ao mundo e aos homens os seus frutos; e fá-lo através dos seus discípulos. A missão da comunidade de Jesus é produzir esses mesmos frutos de justiça, de amor, de verdade, de paz, de reconciliação que Ele produzia quando andava pela Galileia a proclamar a Boa Nova do Reino e a curar os que sofriam. Jesus não criou um gueto fechado onde os seus discípulos podem viver tranquilamente sem “incomodarem” os outros homens e mulheres; mas criou uma comunidade viva e dinâmica, que tem como missão testemunhar em gestos concretos o amor e a salvação de Deus. Se ficamos indiferentes diante das injustiças, se não procuramos curar as feridas dos que sofrem, se não abraçamos aqueles que a sociedade abandonou e condenou, se não somos arautos da paz e da reconciliação, se não defendemos a verdade contra todas as formas de mentira e de manipulação, se não lutamos com todas as nossas forças para construir um mundo mais são e mais humano, estamos a trair Jesus e a missão que Ele nos confiou. A Vida de Jesus – essa Vida de que se alimentam os que estão unidos a Ele – transparece nos nossos gestos, nas nossas causas, nas nossas apostas, na nossa vida?
    • No entanto, o discípulo só pode produzir bons frutos se permanecer unido a Jesus. No dia do nosso Batismo, optámos por Jesus e assumimos o compromisso de O seguir no caminho do amor e da entrega; quando celebramos a Eucaristia, acolhemos e assimilamos a vida de Jesus – vida partilhada com os homens, feita entrega e doação total por amor, até à morte. O cristão identifica-se com Jesus, vive em comunhão com Ele, segue-O a cada instante. Nunca interrompe a sua ligação a Jesus. O cristão vive de Cristo, vive com Cristo e vive para Cristo. Reavivamos e alimentamos a cada passo a nossa união a Cristo através da escuta da Palavra, da oração, dos sacramentos?
    • A comunidade cristã é o lugar privilegiado para o encontro com Cristo, “a verdadeira videira” da qual somos os “ramos”. É no âmbito da comunidade que celebramos, experimentamos e acolhemos – no Batismo, na Eucaristia, na Reconciliação – a Vida nova que brota de Cristo. A comunidade cristã é o Corpo de Cristo; e um membro amputado do Corpo é um membro condenado à morte… Por vezes, a comunidade cristã, com as suas misérias, fragilidades e incompreensões, dececiona-nos e magoa-nos; por vezes sentimos que a comunidade segue caminhos onde não nos revemos… Sentimos, então, a tentação de nos afastarmos e de vivermos a nossa relação com Cristo à margem da comunidade. Contudo, não é possível continuar unido a Cristo e a receber vida de Cristo, em rutura com os nossos irmãos na fé. É a mesma Vida de Cristo que nos alimenta a todos e que nos une a todos. Como é que sentimos e vivemos a ligação à comunidade cristã de que fazemos parte?
    • O que é que pode interromper a nossa união com Cristo e tornar-nos ramos secos e estéreis? Tudo aquilo que nos impede de responder positivamente ao desafio de Jesus no sentido do O seguir provoca em nós esterilidade e privação de Vida: o egoísmo, a autossuficiência, o orgulho, a vaidade, a arrogância, a preguiça, o comodismo, a ganância, a instalação, o amor ao dinheiro ou aos aplausos… O que é que, na minha maneira de ser ou no meu estilo de vida constitui obstáculo para que eu permaneça unido a Jesus?
    • A escuta da Palavra de Deus tem um papel decisivo no processo (de conversão) destinado a eliminar tudo aquilo que impede a nossa união com Cristo. Precisamos de escutar a Palavra de Jesus, de a meditar, de confrontar a nossa vida com ela, de olhar para os desafios que ela nos deixa… Então, por contraste, vão tornar-se nítidas as nossas opções erradas, os valores falsos e essas mil e uma pequenas infidelidades que nos impedem de ter acesso pleno à Vida que Jesus oferece. Que espaço é que tem na minha vida a escuta da Palavra de Deus? Ela é, para mim, critério para afinar e redimensionar as minhas opções e apostas?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5.º DOMINGO DE PÁSCOA
    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 5.º Domingo de Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus…

    2. BILHETE DE EVANGELHO.

    Como seriam as nossas relações humanas se em cada um dos nossos encontros exclamássemos: “eu não faço senão passar” sem permanecer? Como seria a nossa relação com Deus se na nossa oração não fizéssemos senão passar, sem permanecer? Algumas horas antes da sua morte, Jesus emprega várias vezes o verbo “permanecer”, “morar”. Não esqueçamos que, pela sua incarnação, Ele veio morar no meio dos homens, escutando-os, olhando-os, caminhando diante ou no meio deles, parando para fazer milagres. Ele permaneceu com o seu Pai, rezando-Lhe e fazendo a sua vontade até ao fim. Ele pode, então, pedir-nos para permanecer n’Ele, pondo em prática o seu mandamento do amor e rezando. É uma questão de vida ou de morte, porque, não o esqueçamos, “sem Ele nada podemos fazer”.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.

    “Eu sou a vinha e meu Pai o vinhateiro”. Eis outra imagem muito presente no Antigo Testamento. Desta parábola, retivemos muitas vezes as palavras “ameaçadoras”: “Os ramos secos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem”. Mas isso é para quem “não permanece em Jesus”. É o verbo “permanecer” que é o mais importante. Ele aparece mais de dez vezes neste capítulo de João. Trata-se, antes de mais, de “estar com” o Senhor, porque Ele, o primeiro, é “Emanuel – Deus connosco”. Esta presença não é fugitiva. Inscreve-se na duração, na fidelidade. Quando Deus se une à humanidade no seu Filho feito homem, é para sempre. A Ressurreição de Jesus é garante de que este “estar com os homens” não acabará jamais. Se aceitamos permanecer com Jesus, Ele introduz-nos na sua intimidade. Segundo a imagem dos sarmentos, Ele faz correr em nós a seiva da sua própria vida. Então podemos dar frutos que terão o sabor de Jesus. Isso cumpre-se de modo pleno na Eucaristia. Jesus alimenta-nos com o seu corpo e o seu sangue de Ressuscitado. Ele coloca em nós o poder da sua Vida. Esta passa pelo pão e pelo vinho, que vão vivificar cada célula do nosso corpo, isto é, finalmente, cada detalhe da nossa vida, cada uma das relações que criamos com os outros. Tornamo-nos assim seus discípulos. É assim que se constrói e cresce a Vinha do Senhor, o Corpo de Cristo, que é a Igreja.

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

    É por vezes difícil… O ato de amor mais difícil de praticar é, sem dúvida, o perdão. Mas perdoar é amar de verdade… Se vivemos uma situação “bloqueada”, em que o perdão é necessário, não será a ocasião de o praticar nesta semana? Não seria um belo fruto da vida de Cristo em nós?

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

     

  • 5ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    5ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    29 de Abril, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 14, 5-18

    Naqueles dias, surgiu em Icónio um movimento da parte dos pagãos e dos judeus, conduzidos pelos respectivos chefes, levantou-se um movimento para os maltratar e apedrejar. 6Logo que tiveram conhecimento disso, refugiaram-se nas cidades da Licaónia, Listra e Derbe, e arredores, 7onde começaram a anunciar a Boa- Nova 8Havia em Listra um homem aleijado dos pés, coxo de nascença e que nunca tinha andado. 9Um dia, ouviu Paulo falar. Este, fitando nele os olhos e vendo que tinha fé para ser curado, 10disse-lhe em voz alta: «Ergue-te, direito sobre os teus pés!» Ele deu um salto e começou a andar. 11Ao ver o que Paulo acabava de fazer, a multidão gritou em licaónio: «Os deuses tomaram forma humana e desceram até nós!» 12E chamavam Zeus a Barnabé, e Hermes a Paulo, pois este é que lhes dirigia a palavra. 13Então, o sacerdote do templo de Zeus, venerado junto da cidade, trazendo touros e grinaldas para as portas da cidade, pretendia, juntamente com a multidão, oferecer-lhes um sacrifício. 14Ao terem conhecimento disso, os Apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as vestes e precipitaram-se para a multidão, gritando: 15«Amigos, que fazeis? Também nós somos homens da mesma condição que vós, homens que vos anunciam a Boa-Nova de que deveis abandonar os ídolos vãos e voltar-vos para o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles se encontra. 16Nas gerações passadas, permitiu que todos os povos seguissem os seus próprios caminhos, 17mas nem por isso deixou de dar testemunho da sua generosidade, dispensando-vos do céu chuvas e estações de fertilidade, enchendo os vossos corações de alimento e de felicidade.» 18Mesmo depois de terem assim falado, foi a custo que impediram a multidão de lhes oferecer um sacrifício.

    Lucas, no livro dos Actos, narra algumas curas de paralíticos: duas realizadas por Pedro (Act 3, 1ss; Act 9, 32ss.) e uma realizada por Paulo (Act 14, 8ss.). Já no evangelho narrara uma outra realizada por Jesus (Lc 5, 18ss.). Quer assim mostrar que os Apóstolos continuam as obras de Jesus, ao proclamarem o Evangelho aos judeus em Jerusalém (milagres de Pedro) e aos pagãos no seu próprio mundo (milagre de Paulo). Lucas realça também um certo paralelismo entre os «actos de Pedro» e os «actos de Paulo», como são conhecidos alguns capítulos dos Actos dos Apóstolos, devido ao protagonismo que neles tem um ou outro.
    A reacção do público é que é diferente: enquanto em ambiente judaico o milagre leva a glorificar a Deus (cf. 4, 21), em ambiente pagão leva a glorificar os homens. Uma antiga lenda, conhecida na região de Listra, falava de dois camponeses que, sem saberem, tinha dado hospitalidade a Zeus e a Hermes. Hermes era o deus da saúde, e Paulo, acompanhado por Barnabé, tinha curado o paralítico. Não andariam por aí novamente os deuses? De qualquer modo, não convinha punir impensadamente aqueles que os não aceitavam. Daí a atitude em relação aos apóstolos.
    O discurso que vem a seguir é importante, porque é o primeiro directamente dirigido aos pagãos. Não são citadas as Escrituras, mas convidam-se os pagãos a converterem-se dos ídolos ao Deus vivo e verdadeiro, criador de todas as coisas. É um exemplo de inculturação e de adaptação à situação concreta dos ouvintes.

    Evangelho: João 14, 21-26

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor; e quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele.» 22Perguntou-lhe Judas, não o Iscariotes: «Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao mundo?» 23Respondeu-lhe Jesus: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. 24Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou.» 25«Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; 26mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.»

    Os discípulos de Jesus são amados pelo Pai. Porquê? Porque o amor do Pai por Jesus também atinge os seus discípulos. Por Jesus, os crentes participam no amor do Pai pelo Filho.
    Jesus tinha prometido manifestar-se aos seus discípulos. Judas, irmão de Tiago, não entendia o modo como Jesus se manifestava. Pensava certamente numa manifestação gloriosa e messiânica diante de todos. Mas, durante o seu ministério terreno, o Mestre tinha tomado uma aparência humilde. Por isso, tinha provocado uma certa indiferença em relação à sua pessoa, e mesmo atitudes de recusa. Mas, agora, como dizia o próprio Jesus, esse período tinha terminado. Tinha começado a sua «glorificação». Por que é que não se manifestava de modo sensacional ao mundo? Jesus aproveita a ocasião para voltar a falar da presença de Deus na vida do crente. Só quem ama é capaz de observar a palavra de Jesus e de acolher a sua manifestação espiritual e interior. E quem observa a palavra é amado pelo Pai. Mais ainda: quem ama a Jesus, recebe a sua presença no seu íntimo, juntamente com a do Pai e a do Espírito Santo.
    A manifestação de Jesus será espiritual, sem milagres e sem sensacionalismos exteriores. É que a manifestação de Jesus só é possível na obediência e no amor. Por isso é que se manifesta aos crentes, e não ao mundo.
    A perícopa termina com a promessa do Espírito que tudo recordará e fará entender. Graças a Ele, os crentes poderão aprofundar e interpretar as palavras, a vida e a pessoa de Jesus em todas as dimensões e com todo o alcance para a vida da Igreja.

    Meditatio

    Barnabé e Paulo continuam a obra de Jesus: anunciam a Boa Nova e realizam curas prodigiosas. A sua pregação é inculturada. A reacção dos ouvintes é diferente. Os judeus glorificam a Deus. Os pagãos tentam glorificar os apóstolos. Estes resistem. Sabem que as maravilhas que realizam apenas acontecem pelo poder de Jesus que está com eles. Como seria bom que todos os agentes pastorais tivessem a mesma consciência e reagissem como Barnabé e Paulo...
    O evangelho leva-nos a meditar no mistério da inabitação da Trindade com um grande sentido de intimidade e de realismo. «Nós viremos a ele e nele faremos morada», diz o Senhor. Estas palavras revelam-nos a impensável intimidade que Deus quer ter com os homens. É nessa intimidade que Jesus se revela a nós, e nos revela os seus segredos por meio do Espírito Santo, o Mestre da vida espiritual. Noutros tempos este tema da inabitação era muito caro aos cristãos. Uma vida «habitada» por Deus é bem diferente de uma vida deserta, sem Deus, encerrada nos estreitos limites humanos.

    A vida do crente é visitada por Deus. Ele habita no mais íntimo do coração de cada um. É, na verdade, o doce hóspede da alma. Como é possível viver distraídos, fora de si, com um tão grande hóspede na alma?
    Mas o evangelho também nos leva ao realismo. O amor do cristão não paira nas nuvens. É um amor muito concreto: «Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor» (v. 21). O amor que Jesus espera de nós não se manifesta em palavras ou sentimentos vagos mas na vontade de amarmos a sua vontade. Assim foi o seu amor pelo Pai. Sem união de vontades não há verdadeiro amor. Quem ama a Jesus, ama cumprir a sua vontade. E quem ama a Jesus, cumprindo a sua vontade, é amado pelo Pai, que quer a glorificação do Filho.
    «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada». (Jo 14, 23). Quantas vezes, procuramos a Deus fora de nós ou acima de nós. Mas Deus está dentro de nós: «mais íntimo do que o meu íntimo...», como afirma Santo Agostinho (Confissões 3.6.11). Realiza-se deste modo a palavra de S. Paulo: «Cristo habite pela fé, nos vossos corações de sorte que, enraizados e fundados no amor, possais compreender... qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer (fazer a experiência), enfim, o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para serdes repletos da plenitude de Deus» (Ef 3,17-19).
    Experimentar o mistério de Cristo no mais íntimo de nós mesmos, no eu profundo, no "coração" entendido biblicamente". O "coração" é o lugar teológico da verdadeira oração, do encontro de amor com Cristo.

    Oratio

    Senhor Jesus, eu te bendigo e Te dou graças porque, hoje, me fazes compreender a maravilha da inabitação da Trindade em mim. Dá-me a graça de apreciar esse magnífico dom e de desejar, com todo o meu coração, viver Contigo numa intimidade cada vez mais profunda. Faz-me amar o que me ordenas, de modo que possa viver e experimentar o teu amor sem medida.
    Perdoa-me por ter superlotado o meu coração de pessoas e de coisas, que não deixam lugar para Ti, que monopolizam a minha atenção, fazendo-me esquecer de Ti. Quantas vezes, sofro de solidão, porque não me lembro da tua presença.
    Que, em todos os momentos da minha vida, possa ver-te e sentir-te como o meu Tu, e estabelecer Contigo um perene diálogo de amor. Amen.

    Contemplatio

    Jesus quer ser amado pelos homens e sobretudo por aqueles que estão consagrados ao seu Coração. Mas é preciso não esquecer que é por Jesus que vamos ao Pai. «Se alguém me ama, disse, observará a minha palavra, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele a nossa morada» (Jo 14,23). Jesus e o seu Pai comprazem-se em habitar nos corações que os amam e a enchê-los com graças do Espírito Santo. Deus Pai quer esta união de amor com o seu Filho. É por esta união que há-de estender-se o reino do Sagrado Coração.
    Basta ao amor de Nosso Senhor que a massa dos fiéis lhe dedique o afecto que uma criança amorosa dá ao seu pai. Mas pede mais, ou antes, oferece mais às almas privilegiadas, aos padres, às almas consagradas. Quer que estas almas o amem com uma grande ternura, que vão ter com Ele com o abandono de um amigo que vai ter com o seu amigo, de um irmão que ama o seu irmão.

    Pensar n' Ele uma vez por dia, no momento em que a regra prescreve uma meditação, isso pode bastar à salvação e à santificação, mas não basta para o seu amor. A meditação de uma alma unida ao Coração de Jesus é incessante; ela prolonga-se mesmo nas ocupações mais variadas. Jesus é de tal modo o objecto dos afectos desta alma, que ela se compraz em procurá-lo por toda a parte. Encontra-O sempre.
    Este género de meditação não exige uma tensão fatigante do espírito. Aliás quem ama verdadeiramente não se cansa a pensar no objecto do seu amor. - Um sábio persegue a ideia que o preocupa, mesmo no meio do barulho; um poeta contempla o seu sonho favorito, mesmo no meio das circunstâncias mais absorventes; um amigo pensa no seu amigo ausente, um filho no seu pai, uma esposa no seu esposo.
    Para os amigos do seu Coração, Nosso Senhor é o pai, o amigo, o esposo. Devem pensar com o seu coração nas circunstâncias da sua vida. As promessas que Nosso Senhor fez à devoção ao seu Coração sagrado devem entender-se neste sentido. É preciso amar no seu coração o coração de um pai, de um amigo, de um irmão, o coração de um Deus que se fez homem para permitir aos homens abordá-lo com os sentimentos humanos e por aquilo que há de melhor nestes sentimentos: os afectos do coração. - As almas consagradas ao Coração de Jesus devem contrair sem embaraço e sem constrangimento, esta união habitual, sempre respeitosa, mas constante e afectuosa com o Coração de Jesus (Leão Dehon, OSP 4, p.574s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Viremos a ele e nele faremos morada» (Jo 14, 23).

    S. Catarina de Sena, Virgem e doutora da Igreja, padroeira da Europa

    S. Catarina de Sena, Virgem e doutora da Igreja, padroeira da Europa


    29 de Abril, 2024

    S. Catarina nasceu em Sena, Itália, a 25 de Março de 1347. Dotada por Deus com graças especiais, desde a sua infância, cortou o cabelo e cobriu a cabeça com um véu branco, em sinal de consagração, quando tinha apenas 12 anos e pretendiam casá-la. Sofreu muito com essa decisão, mas manteve-se fiel. Vestiu o hábito das religiosas dominicanas, mantendo-se na família e na cidade, e dedicando-se ao exercício das obras de misericórdia e procurando restabelecer a paz entre as famílias desavindas. Sendo analfabeta, em breve começou a ditar a diversos amanuenses as suas experiências místicas, reflexões e conselhos. Ditou cartas para prelados, pais de família, magistrados, reis e até para o próprio Papa, que, nessa época, se encontrava em Avinhão, incitando-o a regressar a Roma. A 13 de Outubro de 1376 Gregório XI iniciou a viagem de regresso a Roma, acompanhado por Catarina. Depois da morte de Gregório XI, a santa foi conselheira do seu sucessor, Urbano VI. O seu ideal era pacificar a Pátria (a Itália) e purificar a Igreja. Faleceu, em Roma, a 29 de Abril de 1380. Com S. Brígida e S. Teresa Benedita da Cruz, é padroeira da Europa.
    Lectio
    Primeira leitura: Primeira de João 1, 5 - 2, 2

    Caríssimos: esta é a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. 6Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. 7Pelo contrário, se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado. 8Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. 9Se confessamos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade. 10Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. 1Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, 2pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo.

    Jesus disse-nos que Deus é luz. O cristão deve caminhar na luz, que alegra, ilumina e é símbolo de tudo o que há de bom e puro (cf. Jo 3, 19-20). O contrário, o mal, é simbolizado pelas trevas. Mas, mais do que fazer especulações sobre a natureza de Deus, o autor da Carta lança as bases necessárias para extrair as implicações morais, que o fato de ser de Deus impõe ao cristão. Luz/trevas, bem/mal, verdade/mentira, graça/pecado... são incompatíveis, não podem estar juntos no mesmo sujeito. Mas, estar em comunhão com Deus e andar na luz não significa ser impecáveis. Também o cristão peca e tem consciência disso. A Igreja não é uma comunidade de puros e perfeitos, que nunca pecaram, mas uma comunidade que acredita que os seus pecados não são obstáculo permanente para nos aproximarmos de Deus. O pecado é superável pela ação de Deus em Cristo. É a partir dessa ação que surge o imperativo de lutar contra o pecado. Se o cristão se dá conta de que a sua comunhão com Deus foi quebrada pelo pecado, deve recordar que Jesus Cristo é seu intercessor e defensor diante do Pai. Mais ainda, que é o meio de expiação pelos pecados cometidos.
    Evangelho: Mateus 25, 1-13

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: O Reino do Céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. 2Ora, cinco delas eram insensatas e cinco prudentes. 3As insensatas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; 4enquanto as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias. 5Como o noivo demorava, começaram a dormitar e adormeceram. 6A meio da noite, ouviu-se um brado: 'Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!' 7Todas aquelas virgens despertaram, então, e aprontaram as candeias. 8As insensatas disseram às prudentes: 'Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias estão a apagar-se.' 9Mas as prudentes responderam: 'Não, talvez não chegue para nós e para vós. Ide, antes, aos vendedores e comprai-o.' 10Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o noivo; as que estavam prontas entraram com ele para a sala das núpcias, e fechou-se a porta. 11Mais tarde, chegaram as outras virgens e disseram: 'Senhor, senhor, abre-nos a porta!' 12Mas ele respondeu: 'Em verdade vos digo: Não vos conheço.' 13Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora."

    A parábola de Jesus encerra uma dinâmica que leva a um evento culminante: o encontro das virgens com o esposo, decisivo para a sua felicidade ou infelicidade, irrevogável. Não sabemos quando será esse encontro, mas sabemos como prepará-lo. A parábola pretende ajudar-nos na preparação.
    As virgens, prudentes ou imprudentes, adormecem todas. A nossa vida tem momentos de flexão, de abaixamento do fervor, de relaxamento espiritual. Quando o Senhor não está presente é sempre noite, e é fácil que as provações e as preocupações da vida nos distraiam, dificultando-nos estar vigilantes. Mas a vigilância, mais do que um estado físico ou mental, é uma atitude do coração. É o que nos indica o Cântico dos Cânticos: "Durmo, mas o meu coração vigia!" (5, 2). Para estar prontos, de lâmpadas acesas, havemos de frequentar o Evangelho, para com ele alimentarmos os nossos pensamentos, os nossos sentimentos, a nossa ação, para vivermos a Palavra e perseverarmos na fé.
    Meditatio

    O v.1 do segundo capítulo da 1 Jo parece-nos particularmente adequado à memória de Santa Catarina de Sena, que hoje celebramos: "escrevo-vos estas coisas para que não pequeis" (2, 1). Como S. João, Santa Catarina de Sena escreveu para que fosse evitado o pecado. Entre as muitas cartas que escreveu, também se dirigiu aos padres para os incitar a viver em maior fidelidade ao Senhor, evitando as desordens, que ela notava, tais como a procura dos prazeres, o apego ao dinheiro... Ansiava por reconduzir todos à vivência da vida cristã, à fidelidade a Cristo: "escrevo-vos estas coisas para que não pequeis". Mas, sobretudo, estava convencida de que Jesus nos salvou pelo seu sangue, que temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo justo, vítima de expiação pelos nossos pecados: "o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado" (1 Jo 1, 8). Catarina tinha uma grande devoção ao sangue de Cristo, e falava dele muito frequentemente: fogo e sangue, fogo e sangue... Fogo do amor, alusão ao sangue de Cristo que nos cobre para nos lavar dos nossos pecados e nos unir na caridade divina.
    "Se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros" (1 Jo 1, 7). Santa Catarina caminhava na luz. Mas a sua vida impecável não a separou dos pecadores, mas uniu-a profundamente a eles. Como aconteceu com tantas Santas, Catarina de Sena soube unir em si mesma a vocação de Marta e de Maria. Ao mesmo tempo, estava aos pés de Jesus, e mergulhada nas necessidades e lutas dos homens do seu tempo. Rezava, mas também se ocupava na reconciliação das fações em luta no seu país, de lançar a paz na igreja italiana, de fazer regressar o Papa de Avinhão a Roma, de que era bispo. Cuidou pessoalmente dos encarcerados, dos condenados, e andou por todo o lado. Vivia na paz do Senhor e na agitação do mundo.
    Hoje apetece-nos deixar-nos iluminar pela sua luz e permanecer aos pés de Santa Catarina, reconhecer nela a "filha da luz" de que nos fala a Escritura, para que "vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu" (Mt 5, 16). Gostamos de contemplá-la na sua incansável caminha ao encontro da Igreja e de Cristo, para nos deixarmos envolver nesse mesmo movimento. Olhando-a, parece-nos repetir, ela mesma, como que um convite ou mandato: "Ide ao seu encontro!" (v. 6).
    A exemplo de Santa Catarina de Sena, e conforme o desejo do P. Dehon, "sejam profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens e do mundo em Cristo" (Cst 7).
    Oratio

    Oh abismo, oh Trindade eterna, oh Divindade, oh mar profundo! Que mais podíeis dar do que dar-Vos a Vós mesmo? Sois um fogo que arde sempre e não se consome. Sois Vós que consumis com o vosso calor todo o amor profundo da alma. Sois um fogo que dissipa toda frialdade e iluminais as mentes com a vossa luz, aquela luz com que me fizestes conhecer a vossa verdade... Sois a veste que cobre toda minha nudez; e alimentais a nossa fome com a vossa doçura, porque sois doce sem qualquer amargor. Oh Trindade eterna. (S. Catarina de Sena).
    Contemplatio

    O coração da virgem de Sena partia-se diante dos crimes do mundo e das paixões humanas, que se agitavam como ondas tumultuosas, nos tempos difíceis em que vivia... Ela teria querido dar até à última gota do seu sangue pelos interesses de Nosso Senhor. Consumia a sua vida nas austeridades e na oração, oferecendo-se como que vítima das iniquidades da terra. Suportou longos sofrimentos, que somente a comunhão acalmava um pouco. Da quarta-feira de cinzas ao dia da Ascensão, não tomava nenhum alimento exceto a adorável Eucaristia. Nosso Senhor deu-lhe os seus estigmas sem os deixar aparecer. Exercia a caridade com heroísmo para com os pobres e os doentes. Um dia em que a sua natureza estava revoltada à vista de uma úlcera repugnante, levou até lá os lábios para vencer a sua sensibilidade. Nosso Senhor apareceu-lhe na noite seguinte, e para a recompensar descobriu-lhe a chaga do seu lado e permitiu-lhe que lhe aplicasse a sua boca. Nosso Senhor apresentou à sua escolha uma coroa de ouro enriquecida de pedrarias e uma coroa de espinhos. Ela escolheu a coroa de espinhos, a coroa da reparação. A humilde religiosa consumiu-se em caminhadas penosas para fazer cessar o cisma do Ocidente. Convenceu o Papa Gregório XI a deixar Avinhão para voltar a Roma. Ofereceu a sua vida pelo bem da Igreja e morreu santamente no dia 29 de Abril de 1382. (Leão Dehon, OSP 2, p. 494s.).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Escrevo-vos estas coisas para que não pequeis" (1 Jo 2, 1).
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    S. Catarina de Sena, virgem e doutora da igreja, padroeira da Europa (29 de Abril)

  • 5ª Semana –Terça-feira - Páscoa

    5ª Semana –Terça-feira - Páscoa

    30 de Abril, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 14, 19-28

    Naqueles dias, 19apareceram, então, vindos de Antioquia e de Icónio, alguns judeus que aliciaram o povo, apedrejaram Paulo e, julgando-o morto, arrastaram-no para fora da cidade. 20Mas, como os discípulos o tivessem rodeado, ele ergueu-se e voltou para a cidade. No dia seguinte, partiu para Derbe com Barnabé.
    21Depois de terem anunciado a Boa-Nova àquela cidade e de terem feito numerosos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, Icónio e Antioquia.
    22Fortaleciam a alma dos discípulos, encorajavam-nos a manterem-se firmes na fé, porque, diziam eles: «Temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus.» 23Depois de lhes terem constituído anciãos em cada igreja, pela imposição das mãos, e de terem feito orações acompanhadas de jejum, recomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. 24A seguir, atravessaram a Pisídia, chegaram à Panfília e, 25depois de anunciarem a palavra em Perga, desceram a Atália. 26De lá, foram de barco para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para o trabalho que agora acabavam de realizar. 27Assim que chegaram, reuniram a igreja e contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé. 28E demoraram-se bastante tempo com os discípulos.

    O mundo pagão aceitou com facilidade e entusiasmo o Evangelho. Mas os judeus continuam a reagir com hostilidade aos evangelizadores. É o que revela o episódio narrado no início da perícopa que escutamos hoje. Paulo salvou-se porque os discípulos o rodearam (v. 20), isto é, o defenderam.
    Antes de fazer regressar os missionários à igreja mãe de Antioquia, Lucas oferece-nos alguns dados da máxima importância. Paulo e Barnabé repetem a visita às comunidades já evangelizadas para as ajudar na consolidação da fé. Trata-se de uma verdadeira «visita pastoral», em que os apóstolos encorajam os fiéis e lançam as bases de uma organização eclesiástica (v. 23), que permite a continuidade das igrejas, que lhes custaram «muitas tribulações» (v. 22). A viagem de regresso é descrita de modo sucinto. Ao chegarem a Antioquia prestaram contas do seu trabalho aos irmãos:
    «contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé» (v. 27). Para a comunidade de Antioquia, a abertura do Evangelho aos pagãos, era dado adquirido. Mas, na igreja mãe, de Jerusalém nem todos partilhavam dessa opinião. Vão surgir novas tensões, mas também esclarecimentos decisivos.

    Evangelho: João 14, 27-31a

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 27«Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde. 28Ouvistes o que Eu vos disse: 'Eu vou, mas voltarei a vós.' Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. 29Digo-vo-lo agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer.
    30Já não falarei muito convosco, pois está a chegar o dominador deste mundo; ele nada pode contra mim, 31mas o mundo tem de saber que Eu amo o Pai e actuo como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui!»

    Jesus, ao despedir-se dos seus discípulos, dirige-lhes palavras de adeus e de conforto. O nosso texto começa com o dom da paz (shalom), que inclui todos os bens messiânicos: «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz» (v. 27). A partida de Jesus não deve causar perturbação ou medo nos seus: «Não se perturbe o vosso coração» (v. 27). Jesus liberta-se da humilhação do seu ministério terreno e caminha para a glória do Pai. Ao anunciar a sua morte, Jesus quer apoiar a fé dos discípulos e fazer-lhes ver que o que vai acontecer entra nos planos de Deus.
    O tempo do ministério terreno de Jesus está a terminar, porque «está a chegar o dominador deste mundo» (v. 30). Mas, ainda que ele venha precipitar o fim de Jesus, por meio de Judas Iscariotes, Satanás não tem poder sobre Ele. O poder do Demónio sobre o homem depende dos seus pecados, e Jesus não tem pecado. Por outro lado, o mundo deve saber que Jesus ama o Pai. Ama e obedece. Cumpre o mandamento que recebeu dele e, por isso, entrega a vida. Este é um argumento para que o mundo saiba que Jesus ama o Pai.

    Meditatio

    «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz» (v. 27). A paz é um dom que Jesus derrama nos nossos corações. Jesus vive em nós e, com Ele, está o Pai e está o Espírito Santo. Quem nos pode perturbar? Paulo, apedrejado, e julgado morto, ergue-se, volta à cidade, anuncia a Boa Nova, faz numerosas conversões e parte para animar na fé e encorajar as comunidades de Listra, Icónio e Antioquia, que também passavam por dificuldades: «Temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus», – dizia-lhes. O Apóstolo resiste e está tranquilo porque tem em si a paz do Senhor, uma paz que o mundo não pode compreender. Essa paz leva-o a afirmar: «Comprazo-me nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10). Pedro também dirá: «Alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória» (1 Pe 4, 13).
    Vivemos num mundo cheio de ameaças, as nossas paixões não dão tréguas, tudo parece avançar como se Deus não existisse. E, como os discípulos que, na escuridão da noite, se debatiam contra os ventos e contra as ondas do mar, também nós nos enchemos de pavor. Assaltam-nos as dúvidas e a nossa fé entra em crise. Deus cala-se dentro de nós. Parece jogar às escondidas. Não responde aos nossos gritos. É a noite escura da fé. É o momento de a exercitarmos para sentirmos o que não sentimos e vermos o que não vemos. É essa a fé que está na base da paz, que vem da comunhão com Deus. Fé em Deus presente, mas ainda não completamente possuído, fé que amadurece na ausência do Esposo, que se aperfeiçoa na busca do Esposo, fé que se purifica nos momentos mais duros e atrozes. As vidas dos Santos mostram-nos tantos exemplos do que estamos a dizer!
    A paz vem-nos de um olhar de fé sobre a realidade de um Deus presente, mas procurado com o ardor de um coração ferido pela sua ausência. A paz vem quando se aceita o mistério da ausência de Deus, o seu silêncio, o sofrimento e o mistério da cruz como o momento mais alto do amor de Deus e do testemunho do nosso amor por Ele.
    As nossas Constituições lembram-nos: «A vida reparadora será, por vezes, vivida na oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (n. 24); «Para Glória e Alegria de Deus» (n. 25). Há que não esquecê-lo, quando a tribulação nos bate à porta. Só assim manteremos a paz.

    Oratio

    Senhor Jesus Cristo, dá-me a paz, dá-me a tua paz. Quantas vezes, procuro paz onde ela não se pode encontrar: longe da cruz, fugindo de tudo o que me incomoda, evitando quem me faz perder a paciência, esquivando-me do que me pode causar aborrecimento e fechando os olhos ao sofrimento dos outros! São tentações que me assaltam frequentemente, como sabes, Senhor! São tentações que me fazem afastar o olhar de Ti, fonte da paz, que me fazem esquecer as tuas palavras construtoras da paz sólida e perene.
    Vence, Senhor, as minhas tentações. Que a tua voz ecoe no meu coração perturbado e me ensine os teus caminhos, aqueles que levam à tua paz. Amen.

    Contemplatio

    O Espírito Santo é o espírito de paz. É como tal que Nosso Senhor no-lo deixa. Dar-nos-á a paz, não aquela do mundo que é falsa, baseada na ilusão e na cegueira, mas uma paz verdadeira, a dos filhos de Deus; uma paz que acalma todas as inquietações da consciência, que consola de todas as mágoas da vida; uma paz que o mundo não conhece, que nada pode perturbar e que é um antegozo das doçuras celestes.
    Esta paz é o fruto do Espírito Santo; repousa sobre a contrição, a humildade, o amor do Sagrado Coração e sobre o abandono. «Ne turbetur cor vestrum. Não vos entristeçais, não vos perturbeis por causa da minha ausência. Estou ainda convosco», diz-nos Nosso Senhor. «O meu Espírito vos consolará. Ele alimentará e fortificará a vossa fé. Dir-vos-á que se fui para o Céu, foi para vo-lo abrir e para lá vos preparar uma morada eterna, junto de mim e de meu Pai, vado parare vobis locum... accipiam vos ad meipsum. Ele vos há-de ensinar o caminho que conduz ao céu, é aquele que eu segui. Sou eu mesmo que sou o vosso caminho. Se me amais, seguir-me-eis na paz, na consolação e na alegria» (Leão Dehon, OSP 3, p. 436).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz» (Jo 14, 27).

  • 5ª Semana –Quarta-feira - Páscoa

    5ª Semana –Quarta-feira - Páscoa

    1 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 1-6

    Naqueles dias, 1alguns homens que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: «Se não vos circuncidardes, de harmonia com o uso herdado de Moisés, não podereis ser salvos.» 2Depois de muita confusão e de uma controvérsia bastante viva de Paulo e Barnabé contra eles, foi resolvido que Paulo, Barnabé e mais alguns outros subissem a Jerusalém para consultarem, sobre esta questão, os Apóstolos e os Anciãos. 3Então, depois de despedidos pela igreja, atravessaram a Fenícia e a Samaria, relatando a conversão dos pagãos, o que causava imensa alegria a todos os irmãos. 4Chegados a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos Apóstolos e Anciãos e contaram tudo o que Deus fizera com eles. 5Levantaram-se alguns do partido dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que era preciso circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. 6Os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão.

    O conflito que levou ao Concílio de Jerusalém, julgado do nosso ponto de vista, pode parecer-nos infantil. Mas, observado a partir do contexto que o provocou, revela- se mais sério, e podemos compreender melhor a angústia dos irmãos de Jerusalém. Esta narração do livro dos Actos (capítulo 15) é o eixo à volta do qual gira toda a obra de Lucas. O Concílio de Jerusalém resolveu, ou lançou as bases para a resolução, do maior problema e da crise que afectava a Igreja, pois afirmou a liberdade do Evangelho, salvando, ao mesmo tempo, a unidade da mesma Igreja. As questões eram várias entre os judeo-cristãos: que valor tinha o Antigo Testamento, particularmente a Lei, em relação ao novo povo de Deus? Há continuidade no plano de Deus, supondo a novidade radical do cristianismo? Mas, do ponto de vista dos étnico-cristãos, também havia questões: para ser cristão, havia que aceitar a Lei judaica? O caminho que leva ao cristianismo terá necessariamente de passar pelo judaísmo? Quem quer tornar-se cristão terá de tornar-se antes judeu? É preciso aceitar o rito da circuncisão e outros pormenores legais? Se o cristianismo queria ser universal, não podia impor práticas específicas de um determinado povo. Estas e outras questões exigiam a reflexão aprofundada da Igreja. Por isso, «os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão» (v. 6).

    Evangelho: João 15, 1-8

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. 2Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. 3Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. 4Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. 6Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. 7Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos

    acontecerá. 8Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.»

    A palavra-chave deste texto é claramente «permanecer», até pelas vezes que é repetida. O «discurso de adeus» de Jesus centra-se, agora, na sua relação com os Apóstolos e sobre a comunhão real e profunda que há entre Ele e os que acreditam nele.
    Enquanto o capítulo 14 de João se caracterizava pelo imperativo de «acreditar» em Jesus, agora caracteriza-se pela exigência de permanecer n' Ele. Encontramos esta mesma imagem de «permanecer» a propósito da Eucaristia (6, 56). Este «permanecer» deve portanto entender-se em conexão com a Eucaristia.
    Jesus está para enfrentar a morte. Mas continua a ser, para os seus, fonte de vida e de santidade. Unidos a Ele podem muito fruto (15, 6).
    Ao contrário de Israel, videira infecunda e resistente aos cuidados de Deus (cf. Is 5), Jesus é a videira verdadeira, que produz frutos e corresponde aos cuidados do Pai. Com esta imagem, Jesus quer explicar a surpreendente união vital que oferece aos que nele acreditam, os compromissos que essa união implica e as expectativas de Deus sobre ela. Jesus é o primogénito da nova humanidade em virtude do sacrifício redentor oferecido na cruz. Ele é a cepa santa donde brota a seiva que dá vida às varas e que nelas produz frutos. Quem permanece unido a Ele, vive e pode dar frutos. Quem produzir frutos será purificado para produzir ainda mais. Esta purificação é realizada pela palavra acolhida no coração.

    Meditatio

    As duas leituras, que hoje escutamos, têm uma ligação entre elas que, à primeira vista parece não existir. O evangelho apresenta-nos a alegoria da videira, que nos introduz num clima de profunda intimidade: «Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós» (v. 4). A primeira leitura fala de exigências legais. Paulo e Barnabé chegam a Jerusalém contam as maravilhas operadas por Deus entre os pagãos e, alguns do partido dos fariseus insistem que é preciso «circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés». Qual é, então, a ligação entre as duas leituras? O evangelho leva-nos a compreendê-la quando recorda as palavras de Jesus: «Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim» (v. 4). Sem Jesus nada se pode fazer. Só Ele é o fundamento da nossa vida. E não temos o direito de procurar outro fundamento para ela, ou de acrescentar a Cristo outra realidade que não seja Ele. Era o que pretendiam fazer os cristãos vindos do judaísmo. Não percebiam que, tendo aderido a Cristo, deviam abandonar as antigas perspectivas, porque não há dois fundamentos, nem duas fontes de vida, mas uma só: Cristo. É nele que havemos de pôr toda a nossa fé e toda a nossa confiança. O baptismo, que nos une a Cristo, como varas à cepa, é quanto basta. De Cristo recebemos a seiva divina, que é o Espírito Santo, que nos dá a vida, e produz em nós os seus frutos, a começar pela da caridade.
    As nossas Constituições citam a alegoria da videira para falar da união a Cristo, que é o princípio e o centro da nossa vida, o nosso caminho de santidade, tal como foi para o Pe. Dehon (cf. Cst 17): «A vara não pode dar fruto por si mesma, se não permanece na cepa... permanecei em Mim» (Jo 15, 4). O mesmo n. 17 indica os meios para tornar frutuosa a nossa vida de varas: permanecer na «escuta da Palavra» e «na partilha do Pão». O n. 18 acrescenta o amor e o serviço aos irmãos, especialmente aos mais fracos. O n. 20 fala da contemplação do Lado aberto e do Coração trespassado. São os «lugares» para vivermos e crescermos na união a Cristo, para que Ele «habite» cada vez mais intimamente "pela fé" nos nossos "corações, de sorte que, enraizados e fundados no amor" possamos "compreender... a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer, enfim, o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para sermos repletos da plenitude de Deus" (cf. Ef 3, 17-19).

    Oratio

    Senhor Jesus, a união Contigo é, de facto, o princípio e o centro da minha vida. Contigo estou vivo; sem Ti estou morto. Contigo, envolve-me o rio imortal da vida divina, que me leva ao oceano divino e sem limites, onde jamais se põe o sol. Contigo sou tudo; sem Ti sou nada!
    Dou-Te graças, Senhor, porque vieste ligar-me ao Pai, fonte de vida perene. Liga-me fortemente a Ti, para que não me torne uma vara separada, uma vara sem fruto. Faz-me compreender que a união Contigo é o caminho para a santidade e ajuda-me a vivê-la e a aprofundá-la na escuta da palavra, na celebração da Eucaristia, no amor aos irmãos e na contemplação do teu Lado aberto e do teu coração trespassado. E que a união Contigo permita ao teu Espírito produzir em mim todos os seus frutos, particularmente um ardente amor ao Pai e um generoso amor aos irmãos. Amen.

    Contemplatio

    «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor». Jesus passa junto das vinhas que eram podadas naquela estação. Vê os ramos vivos carregados de botões e os ramos cortados caídos por terra, é um belo tema para uma parábola. «Eu sou a videira verdadeira, diz, a videira cheia de seiva e de vida». Pensava no seu sangue, semelhante ao vinho da vinha, que ia muito em breve correr sob a prensa da agonia.
    «O meu Pai, diz, é o agricultor, que cultiva com amor a videira e os ramos». - Os frutos que o agricultor celeste espera da sua vinha são aqueles que a alma leva unida a Jesus Cristo, como os ramos estão unidos à cepa. A alma cristã está enxertada em Jesus Cristo, regenerada por ele, e elevada até a esta perfeição que faz dos seus actos outros tantos frutos divinos: frutos de humildade, de paz, de modéstia, de piedade, de pureza, de zelo, de silêncio, de recolhimento, de sacrifício, de morte para si mesmo; frutos de vida interior e de união constante.
    A vinha vulgar da nossa natureza humana não produz nada de tudo isto. São necessários o enxerto e a seiva divina.
    «Permanecei em mim». Permaneçamos agarrados à videira. O agricultor corta da videira os ramos mortos e aqueles que não dão frutos. Limpa as varas que dão frutos, para que produzam ainda mais.
    «É assim que fará o Pai celeste, diz-nos Nosso Senhor: todo o ramo que não der fruto em mim, cortá-lo-á; atirá-lo-á para longe de mim, será privado da seiva que é a graça e cairá na morte espiritual. Mas os que prometem fruto, podá-los-á, purificá-los-á através de alguma prova e curá-los-á das suas inclinações depravadas, para que dêem ainda mais frutos».
    «Quanto a vós, dizia ainda Nosso Senhor, estais todos podados e purificados pelas instruções que vos dei; mas para que esta purificação se conserve e complete, para que a vossa fecundidade em obras de salvação se desenvolva, uni-vos sempre mais intimamente a mim, permanecei em mim e eu, por minha parte, permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na vinha, se não está aderente à cepa donde tira a seiva vivificante, assim não podeis produzir nada, se não permanecerdes em mim» (Leão Dehon, OSP 3, p. 457s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    ,,Permanecei em mim,, (Jo 15, 4).

    S. José, Operário

    S. José, Operário


    1 de Maio, 2024

    A "festa do trabalho", criada pela Internacional Socialista em 1889, é celebrada, na Europa, no dia 1 de Maio. A Igreja quis dar-lhe uma dimensão cristã. Por isso, Pio XII, em 1955, instituiu a festa de S. José Operário, colocando-a nesse dia. Ninguém mais do que o humilde trabalhador de Nazaré pode ensinar aos outros trabalhadores a dignidade do trabalho, e protegê-los com a sua intercessão junto de Deus.

    Lectio

    Primeira leitura: Génesis 1, 26-2, 3

    Disse Deus: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» 27Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. 28Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.» 29Deus disse: «Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. 30E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra produzir.» E assim aconteceu.31Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia. 1Foram assim terminados os céus e a Terra e todo o seu conjunto.2Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado.3Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação.

    A criação do homem é o auge da criação, porque, só ele, foi criado à imagem e semelhança de Deus. Deus invisível reflete-se no rosto frágil do homem. Homem e mulher são imagem de Deus: "Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher." (v. 27). Como Deus trino, o homem é capaz de uma relação interpessoal de amor. Mas a imagem de Deus no homem reflete-se também na autoridade sobre o universo e na inteligência criativa, com que pode dominar a natureza, desenvolvê-la e transformá-la. A capacidade de trabalho permite ao homem tornar-se colaborador de Deus na obra da criação. É sobretudo este aspeto que a liturgia de hoje põe à nossa meditação.

    Evangelho: Mateus 13, 54-58

    Naquele tempo, Jesus foi à sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga deles, de modo que todos se enchiam de assombro e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres? 55Não é Ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56Suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem, pois, tudo isto?» 57E estavam escandalizados por causa dele. Mas Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa.» 58E não fez ali muitos milagres, por causa da falta de fé daquela gente.

    A condição familiar e laboral de Jesus impediu os seus concidadãos de o reconhecerem como enviado de Deus, como profeta. Era "o filho do carpinteiro" (v. 55). Segundo Lucas, ele mesmo era carpinteiro: "Não é Ele o carpinteiro?..." (13, 55). O Filho de Deus feito homem quis ser membro de uma família operária. Os seus conterrâneos não conseguiram ver mais do que isso, desprezando-o, e não o reconhecendo como o Messias. Mas não somos nós que havemos de ditar as condições do Reino, que pode realizar-se em qualquer condição social e em qualquer trabalho. E Deus gosta de surpreender-nos.

    Meditatio

    Na família humilde e operária de Nazaré, o trabalho era expressão de amor. José foi carpinteiro toda a vida. Jesus exerceu também essa profissão durante os anos de vida escondida, em Nazaré. Depois do reencontro com os pais, em Jerusalém, Jesus "desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso" (Lc 2, 51). A submissão e a obediência de Jesus, em Nazaré, deve entender-se como participação no trabalho de José. Se a família de Nazaré é exemplo para as famílias humanas na ordem da salvação e da santidade, também o é no trabalho de Jesus, ao lado do carpinteiro José. O trabalho humano, particularmente o trabalho manual, tem especial acentuação no Evangelho. Com a humanidade do Filho de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da Incarnação, tal como foi particularmente redimido, no mistério da Redenção. Trabalhando ao lado de Jesus, José aproximou o trabalho humano da Redenção. A virtude da laboriosidade teve especial importância no crescimento humano de Jesus "em sabedoria, em estatura e em graça" (Lc 2, 52), uma vez que o trabalho é um bem do homem, que transforma a natureza e torna o homem, em certo sentido, mais homem. O trabalho sincero, humilde, disponível no amor, une-nos a Cristo, filho do carpinteiro, Filho de Deus.
    Como religiosos, pelo nosso trabalho, além do mais, colaboramos na obra do Criador, damos o nosso pequeno contributo pessoal para a transformação do mundo e para a realização do projeto de Deus na história (cf. GS 34). O trabalho é uma das expressões da nossa vida de pobreza. Os pobres trabalham para viver... No trabalho, além do mais, precisamos de estar enamorados por Cristo-pobre, trabalhador, "Filho do carpinteiro" (Mt 13, 55). Assim, como Ele, teremos um coração pobre, sóbrio, com poucas exigências, aberto aos outros, capaz de partilhar o que é e o que tem.

    Oratio

    Ó S. José, que, trabalhando com Jesus, aproximastes o trabalho humano do mistério da Redenção, vinde em auxílio de todos quantos se afadigam nas mais diversas profissões. Ajudai-nos a compreender que o trabalho é um bem para quem o faz, pois, em certo sentido, nos torna mais homens, mais imagem e semelhança de Deus, e é um bem para quem dele beneficia. Ajudai-nos a conhecer e a assimilar os seus conteúdos, para ajudar todos os homens a aproximarem-se mais de Deus, criador e redentor, a participarem nos seus planos de salvação do homem e do mundo, e aprofundarem a própria amizade com Cristo. Ámen.

    Contemplatio

    Na casa do pobre operário, as privações sucediam às privações, e o pão devia faltar muitas vezes. José acabou por encontrar trabalho como carpinteiro, e Maria fiava a lã ou o algodão. Quantas graças prepararam aí para os trabalhadores e para os pobres! Não é que a lei evangélica seja contrária à prosperidade dos povos, ela é, pelo contrário, a condição mais favorável e a garantia, porque recomenda o trabalho, a justiça, a temperança, que são as condições de sucesso; mas ao lado da lei, há os conselhos, propostos às almas generosas. A Sagrada Família caminhou pela via dos conselhos, na obediência, na pobreza, nas privações. O coração de Jesus menino comprazia-se nestas cruzes pela nossa salvação, e as almas generosas seguem hoje o mesmo caminho, completando, como diz S. Paulo, o que falta à Paixão de Jesus, pela salvação do mundo.(L. Dehon, OSP 3, p. 136).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos" (da Liturgia).
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    S. José, Operário (1 Maio)

  • 5ª Semana –Quinta-feira - Páscoa

    5ª Semana –Quinta-feira - Páscoa

    2 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 7-21

    Naqueles dias, 7depois de longa discussão, Pedro ergueu-se e disse-lhes:
    «Irmãos, sabeis que Deus me escolheu, desde os primeiros dias, para que os pagãos ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho e abraçassem a fé. 8E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, concedendo-lhes o Espírito Santo como a nós. 9Não fez qualquer distinção entre eles e nós, visto ter purificado os seus corações pela fé. 10Porque tentais agora a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem os nossos pais nem nós tivemos força para levar? 11Além disso, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos que seremos salvos, exactamente como eles.» 12Toda a assembleia ficou em silêncio e se pôs a ouvir Barnabé e Paulo a descrever os milagres e prodígios que Deus realizara entre os pagãos, por intermédio deles.
    13Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: «Irmãos, escutai-me. 14Simão contou como Deus, desde o princípio, se dignou intervir para tirar de entre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu nome. 15E com isto concordaram as palavras dos profetas, conforme está escrito: 16Depois disto, hei-de voltara reconstruir a tenda de David, que estava caída; reconstruirei as suas ruínas e erguê-la-ei de novo, 17a fim de que o resto dos homens procure o Senhor, bem como todos os povos que foram consagrados ao meu nome - diz o Senhor, que dá a conhecer 18 estas coisas desde a eternidade. 19Por isso, sou de opinião que não se devem importunar os pagãos convertidos a Deus. 20Que se lhes diga apenas para se absterem de tudo quanto foi conspurcado pelos ídolos, da imoralidade, das carnes sufocadas e do sangue. 21Desde os tempos antigos, Moisés tem em cada cidade os seus pregadores e é lido todos os sábados nas sinagogas.»

    Ao contrário do que seria de esperar, quem toma a palavra para defender o ponto de vista mais liberal não é Paulo, mas Pedro. O apóstolo defende-o usando os seguintes argumentos: foi ele mesmo quem inaugurou a missão entre os pagãos, ao baptizar Cornélio e a sua família, tendo a igreja de Jerusalém aprovado a sua actuação (Act 10-11); o próprio Deus aprovou e confirmou essa actuação, ao enviar o Espírito Santo sobre os pagãos; o próprio Deus, mediante a fé, purificou os corações dos gentios, que os judeus julgavam impuros; se a fé toma o lugar da Lei, como meio de purificação, não é preciso suportar o seu jugo, tão pesado para os próprios judeus; finalmente, o homem salva-se, não pela Lei, mas pela graça de Jesus Cristo.
    Os discursos de Pedro e de Tiago têm, como intermezzo, o testemunho de Barnabé e de Paulo, e vêm depois de uma longa discussão. Podem considerar-se os discursos conclusivos de um longo processo de discernimento comunitário. E assim se salvaguarda a liberdade do Evangelho, mas também a unidade da Igreja.

    Evangelho: João 15, 9-11

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 9«Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa.

    O amor de Jesus pelos seus discípulos tem origem no amor que circula entre o Pai e o Filho. É essa comunhão de amor que está na origem de todas as intervenções maravilhosas de Deus para salvar o homem: «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor» (v. 9). Os discípulos devem corresponder a este amor, observando os mandamentos de Jesus, permanecendo no seu amor, obedecendo ao Pai como Jesus obedeceu: até à morte e morte de cruz (Fil 2, 8). A lógica é simples: o Pai amou o Filho, e este, vindo ao mundo, permaneceu unido no amor ao Pai por uma atitude constante de obediência à sua vontade. O mesmo deve acontecer entre Jesus e os discípulos. Estes devem realizar fielmente o que Jesus realizou durante a sua vida, e testemunhar o amor de Jesus permanecendo unidos no seu amor. Mais importante do que amar a Jesus é deixar-se amar por Ele, acolher o amor que o Pai, por Jesus, oferece a cada um de nós. Para isso, há que observar docilmente os mandamentos, a exemplo de Jesus.

    Meditatio

    O evangelho de hoje começa com uma afirmação que é, por assim dizer, uma definição do Coração de Jesus: «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós» (v. 9). Jesus sabe que a fonte do amor não é Ele, mas o Pai. Mas também sabe que Ele é a perfeita expressão humana desse amor: é o rosto do amor do Pai por nós. Jesus recebeu no seu coração humano o amor que tem origem no Pai, e viveu-o de modo único, perfeitíssimo. Por isso, se quisermos conhecer o amor do Pai, devemos contemplar o Coração de Jesus, que se entregou por nós, e «permanecer no seu amor».
    Para permanecermos no amor de Jesus, há que observar os seus mandamentos (cf. v. 10). Se quisermos saciar a infinita sede de amor que há em nós, havemos de procurar continuamente a vontade do Senhor e realizá-la. «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito» (Mt 11, 29), diz o Senhor. O jugo do Senhor não deixa de ser jugo. Mas é um jugo suave e leve, porque é o jugo dos «seus» mandamentos, e não o jugo dos mandamentos e prescrições da antiga Lei.
    A primeira leitura mostra-nos como os primeiros cristãos perceberam que estavam livres de uma série infinita de leis e preceitos, e que o mais importante era permanecer unidos a Cristo pela fé e pelo cumprimento da sua vontade.
    «Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa» (v. 11). Todo o discípulo é chamado a deixar-se possuir pela alegria de Jesus, depois de se ter deixado possuir pelo amor de Deus. A minha existência de discípulo consiste em dar espaço a este amor divino, que é amor «descendente», amor que leva o Pai a «dar o Filho» (Jo 3, 15), amor que leva o Filho a dar-se a si mesmo, e que leva os discípulos a fazer o mesmo entre eles. É este o amor que garante a «felicidade».
    Esta nova maneira de amar vem de Deus. É o próprio amor de Deus que actua em mim e em cada um dos discípulos do Senhor. Mais ainda: cada um dos discípulos recebe de Jesus a «sua» felicidade, a alegria que vem de amar como Deus ama, no impulso e na imitação de Jesus. Não estamos pois ao nível do moralismo, mas nos cumes da mística, da m iacute;stica da acção, que implica o dom de si mesmo, que comporta estar completamente possuídos pelo amor de Deus.
    Acolhamos o ardente convite de Jesus: "Permanecei no Meu amor" (Jo 15, 19).
    "Permanecer" é deixar-se penetrar pelo amor de Jesus, deixar-se envolver, levar, permear; repousar no amor de Jesus. É ser fiéis ao amor de Jesus, perseverar no Seu amor, ser testemunhas dele na vida, irradiá-lo.

    As nossas Constituições entendem tudo isto, quando falam da "presença activa" do amor de Jesus (n. 2), da correspondência activa ao amor (cf. n. 7), do conhecimento progressivo do amor (cf. nn. 16-18.23).
    A interioridade recíproca (cf. Jo 15, 4) ou união íntima com Cristo, é condição essencial para a vida de oblação. Permanecer em Jesus é permanecer no Pai (cf. Jo 14, 10; 1 Jo 4, 16): "Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele" (1 Jo 4, 16). "Permanecer no amor" é fazer e aceitar tudo por amor, especialmente as cruzes de cada dia (cf. Lc 9, 23), é amar-nos uns aos outros como Cristo nos amou (cf. Jo 15, 12).

    Oratio

    Ó Jesus, hoje, quero rezar-te usando as palavras do teu servo Leão Dehon: «Senhor, permanece em mim e eu permanecerei em Ti. Sim, Tu és a videira, e quando me separo de Ti, sinto-me morrer. Mantém-me unido a Ti na graça santificante, na recordação assídua da tua presença, na meditação dos teus mistérios. Quero permanecer no teu coração. Lá está toda a minha vida e a minha felicidade». Amen.

    Contemplatio

    «É assim que fará o Pai celeste, diz-nos Nosso Senhor: todo o ramo que não der fruto em mim, cortá-lo-á; atirá-lo-á para longe de mim, será privado da seiva que é a graça e cairá na morte espiritual. Mas os que prometem fruto, podá-los-á, purificá-los-á através de alguma prova e curá-los-á das suas inclinações depravadas, para que dêem ainda mais frutos».
    «Quanto a vós, dizia ainda Nosso Senhor, estais todos podados e purificados pelas instruções que vos dei; mas para que esta purificação se conserve e complete, para que a vossa fecundidade em obras de salvação se desenvolva, uni-vos sempre mais intimamente a mim, permanecei em mim e eu, por minha parte, permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na vinha, se não está aderente à cepa donde tira a seiva vivificante, assim não podeis produzir nada, se não permanecerdes em mim» (Leão Dehon, OSP 3, p. 457s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Permanecei no meu amor» (Jo 15, 9).

    S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja

    S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja


    2 de Maio, 2024

    S. Atanásio nasceu em Alexandria do Egito, no ano de 295. De formação grega, foi bispo da sua cidade natal de 328 a 373. Participou no Concílio de Niceia, no ano 325. A sua oposição ao arianismo causou-lhe cinco exílios. Visitou Roma e Tréveris. Visitou os monges que viviam nos desertos do Egito. A vida de Santo Antão, que escreveu, teve enorme influência na difusão do monaquismo e no estilo de vida dos monges. Atanásio faleceu em Alexandria a 2 de Maio de 373.

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 5, 1-5

    Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Cristo nasceu de Deus; e todo aquele que ama quem o gerou ama também quem por Ele foi gerado. 2É por isto que reconhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos; 3pois o amor de Deus consiste precisamente em que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são uma carga, 4porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé. 5E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?

    Em João, "mundo" é sinónimo de "mal", indicando tudo o que se opõe à Vida, Luz e Verdade de Deus. O que está em Deus, pertence a Deus e vem de Deus, é amor, é comunhão, harmonia. É como a água fresca que brota borbulhante da fonte, ou como o esplendor de um céu limpo e com sol. Vida é a que venceu o mundo, e é a nossa fé e a verdade que nos mantém em comunhão de amor com Aquele que é Trindade, para onde o Filho nos transferiu. Quem aí se mantém e apoia vence o pecado, as trevas, a mentira: o mundo.

    Evangelho: Mateus 10, 22-25

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo. 23Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo: Não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes de vir o Filho do Homem.» 24«O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do senhor. 25Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo ser como o senhor. Se ao dono da casa chamaram Belzebu, o que não chamarão eles aos familiares!

    Jesus chamou os seus discípulos para os enviar a anunciar a verdade, o bem e o amor. Mas nunca os iludiu com falsas expetativas. Disse-lhes claramente que teriam de enfrentar fortes oposições, porque o mundo odeia o que não é seu. Mais do que preocupar-se em ser bem acolhido, em ter sucesso nos seus trabalhos apostólicos, o missionário do Evangelho há-de ser humilde, fiel e forte no cumprimento da sua missão.

    Meditatio

    S. Atanásio aparece-nos como um homem de enorme importância para a definição do dogma cristão. Quando alguns quiseram reduzir Jesus a simples criatura humana, o bispo de Alexandria interveio vigorosamente para defender a fé católica. Foi o que sucedeu com a heresia de Ario, que afirmava que Jesus era simplesmente um homem grande, santo, adotado por Deus, mas não Filho de Deus. Havia bispos e imperadores que aceitavam esta teoria, porque era mais fácil de aceitar, porque não exigia, a adesão a um mistério inefável, incompreensível. Atanásio defendeu, sem hesitações, e arcando com as consequências - perseguições, exílios - esta verdade de fé, garantindo que se trata de um mistério do qual depende a nossa salvação. De fato, se Jesus não é Filho de Deus, nós não estamos nem redimidos nem salvos, pois a salvação é obra de Deus. O fiel tem uma existência atribulada e, para cúmulo, sem a evidência humana da vitória. É difícil acreditar que Jesus tenha vencido o mundo quando se sofrem perseguições. Mas não há vitória sem luta, sem passar pela paixão do Senhor. Acreditamos no mistério "total" de Jesus: o mistério de uma morte que desembocou na ressurreição. Um cristão não pode ficar espantado se, como Jesus, for perseguido. É condição para a vitória da fé, isto é, para continuar a acreditar, nas tribulações, que Deus nos ama e, se nos prova, é para nos dar bens maiores.

    Oratio

    Rezemos com S. Atanásio:
    "Os querubins são excelsos, mas, tu, ó Virgem, és mais excelsa do que eles; os querubins sustentam o trono de Deus, mas tu sustentas a Deus, nos teus braços. Os serafins estão diante de Deus, mas tu está mais do que eles: os querubins cobrem com as asas o próprio rosto, porque não pode olhar a glória perfeita, mas tu, não só contemplas o seu rosto, mas o acaricias e amamentas a sua boca santa. (Elogio da Mãe de Deus, de uma homilia de S. Atanásio).

    Contemplatio

    A consolação começa na terra. É inspirada pela fé. É uma consolação nas nossas mágoas, nos nossos sofrimentos, nas nossas provações, pensar que a nossa paciência apaga as nossas faltas e nos prepara graças e uma recompensa sempre crescente. A paciência é sempre encorajada pela esperança, diz S. Paulo: um ligeiro sofrimento prepara uma grande recompensa (2Cor 4, 17). - Se sofremos, se morremos com Jesus, diz-nos muitas vezes, havemos de ressuscitar e seremos glorificados com Ele (Rom 8, 17). Esta santa esperança dá uma verdadeira alegria, um começo de beatitude celeste às almas generosas no sofrimento: «Bendito seja o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação, diz S. Paulo; consola-nos em todas as nossas tribulações, a fim de que também nós possamos consolar aqueles que estão nas angústias, pelos mesmos motivos de encorajamento que Deus nos dá; porque, à medida que os sofrimentos de Cristo abundam em nós, Cristo faz abundar em nós a consolação» (2Cor 1, 3). Mas a consolação definitiva será no céu: «Deus, diz S. João, enxugará todas as lágrimas dos seus eleitos» (Ap 7, 17). Já não haverá incomodidades da terra, da fome, da sede e das intempéries; mas o Cordeiro que reina lá provirá a tudo e abrirá a todos as fontes da vida e da alegria (Ap 7; Is 49). (Leão Dehon, OSP 4 p. 40s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quem acredita que Jesus é o Cristo nasceu de Deus" (1 Jo 5, 1).

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    S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja (2 Maio)

  • 5ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    5ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    3 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 22-31

    Naqueles dias, os Apóstolos e os Anciãos, de acordo com toda a Igreja, resolveram escolher alguns de entre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé. Foram Judas, chamado Barsabas, e Silas, homens respeitados entre os irmãos. 23E mandaram a seguinte carta por intermédio deles:«Os Apóstolos e os Anciãos, vossos irmãos, aos irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações!
    24Tendo conhecimento de que, sem autorização da nossa parte, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras, 25resolvemos, de comum acordo, escolher delegados e enviar-vo-los com os nossos queridos Barnabé e Paulo, 26homens estes que expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. 27Enviamos, pois, Judas e Silas, que vos transmitirão verbalmente as mesmas coisas. 28O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: 29abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas e da imoralidade. Procedereis bem, abstendo-vos destas coisas. Adeus.» 30Eles, então, depois de se despedirem, desceram a Antioquia e, reunindo a assembleia, entregaram a carta. 31Depois de a lerem, todos ficaram satisfeitos com o encorajamento que lhes trazia Do Concílio de Jerusalém saiu uma resolução oficial sobre a questão da obrigatoriedade da Lei para os pagãos que se convertiam à fé, e foi escolhida uma delegação que, com Paulo e Barnabé, fosse comunicá-la, pessoalmente e por escrito, à igreja de Antioquia. O documento escrito repete os pontos essenciais do acordo obtido. Além de ser enviado a Antioquia, é também remetido às igrejas vizinhas que, de algum modo, tinham sido envolvidas na polémica dos judaizantes.
    A decisão de aceitar o princípio da liberdade do Evangelho diante da Lei foi tomada pelo Espírito Santo e pela comunidade cristã através dos seus representantes. A Igreja, desde o princípio, experimentou a presença do Espírito e transmitiu-a ao longo dos séculos. O Espírito falou de modo particular por meio de Tiago, que centrou a sua intervenção na Sagrada Escritura. Mas também falou pelas moções que suscitou na comunidade. O Espírito actua na Igreja, particularmente nos momentos difíceis, quando se devem tomar decisões graves.
    O comunicado oficial causou grande alegria, pois se ficou a saber claramente que as profecias do Antigo Testamento se tinham cumprido nos acontecimentos que os afectavam directamente. Notem-se também as palavras de apreço por Paulo e Barnabé, «homens que expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo» (v. 26).

    Evangelho: João 15, 12-17

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. 17É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.»

    «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). Nesta perícopa, a relação entre Jesus e os discípulos assume particular intensidade, quando o Senhor fala do mandamento do amor fraterno. Os mandamentos da comunidade messiânica resumem-se ao amor fraterno. A vivência do amor fraterno glorifica o Pai, revela os verdadeiros discípulos e produz muitos frutos. O amor fraterno tem o seu modelo no amor oblativo de Jesus por nós, que O leva a dar a vida pelos seus amigos (v. 13). A resposta que Jesus pede aos seus é um amor oblativo e sem reservas, para com Ele e para com os irmãos, um amor total, de grande qualidade.
    Este amor, que pode levar ao dom da própria vida, tem outras características: é um amor de intimidade e gratuito. A revelação dos segredos mais íntimos é sinal de verdadeira e profunda amizade. Jesus partilha connosco os segredos do seu coração, ajudando-nos a crescer no amor e na intimidade com Ele. Esse amor e essa intimidade, que são dom, têm por objectivo a nossa salvação, e permitem-nos alcançar do Pai tudo quanto Lhe pedirmos, em nome de Jesus.

    Meditatio

    O mandamento do amor fraterno enche o texto evangélico que hoje escutamos: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). Jesus já tinha afirmado que há dois mandamentos: o mandamento de amar a Deus com todo o coração e o mandamento de amar o próximo como a nós mesmos. Repetia o Antigo Testamento (cf. Dt 6, 5; Lv 19, 18). Aqui, Jesus vai mais longe: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). «Como eu vos amei». Amar o próximo como a nós mesmos é já muito. Mas, amar o próximo como Jesus nos ama, é muito mais. É o amor cristão. Como é que Jesus nos ama? Ama-nos com delicadeza e com força. Chama-nos amigos, porque nos faz entrar na sua intimidade. Não nos trata como servos, mas como amigos. Conta-nos segredos da sua família: «Dei-vos a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (v. 15).
    Este amor delicado é também muito forte: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13). O modelo do amor cristão é um homem-Deus crucificado e ressuscitado, que nos amou até ao sacrifício de Si mesmo. É também assim que havemos de amar os nossos irmãos. Ser discípulo de Cristo consiste em amar o irmão até dar a vida por ele, tal como fez Jesus, o Filho que desceu do Céu para dar a vida por nós. Dar a vida não significa necessariamente sofrer o martírio. Essa pode ser uma graça especial, concedida a alguns. Dar a vida é gastar-se na atenção e no serviço àqueles que estão ao nosso lado, que precisam de nós. Significa também interrogar-se, cada manhã, sobre o modo como não se tornar um peso para os outros. Significa ainda suportar os silêncios, os amuos e os limites de carácter de quem vive ao nosso lado. Significa não escandalizar-nos com as suas contradições e pecados. Significa aceitar cada um como é e não como gostaríamos que fosse.
    Uma das finalidades da vida religiosa é unir as pessoas. As nossas Constituições dizem: «Deixamo-nos penetrar pelo amor de Cristo e escutamos a sua prece do &quot ;Sint unum...»(cf. n. 63). Mas - perguntam - «como consegui-lo, a não ser aprofundando no Senhor as nossas relações, mesmo as mais normais, com cada um dos nossos irmãos?» (n. 64). Por vezes, corre-se o risco de viver separados, isolados... Devemos então recordar o mandamento do Senhor: «Quem ama a Deus, ame também o seu irmão» (1 Jo 4, 21); quem procura a intimidade com Deus, também procura a intimidade com o irmão, cultiva a amizade com um ou outro, multiplica as ocasiões de encontros familiares: como pode alguém dizer que ama a Deus que não vê, se não ama o irmão que vê? (cf. 1 Jo 4, 20).
    Temos que examinar a nossa consciência, para ver se alimentamos o fogo ou se o deixamos apagar, isto é, se alimentamos o amor real, o calor humano, necessários para o verdadeiro espírito de família e para fazer germinar a verdadeira amizade. Os irmãos e, mais ainda, os amigos são dons do Pai celeste; por meio dos irmãos e, sobretudo, por meio dos amigos, Ele fala-nos e enriquece-nos: «Toda a boa dádiva e todo o bem perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes» (Tgo 1, 17); «Um amigo fiel é uma poderosa protecção; quem o encontra, encontra um tesouro» (Sir 6, 14; cf. Sir 6, 5-17).
    Se queremos ser amados, amemos e, como Deus, tomemos a iniciativa de amar (cf. 1 Jo 4, 19). Como o amor é dom e fruto do Espírito (cf. Rom 5, 5), assim também a verdadeira amizade provém certamente do Espírito e é sustentada por Ele.

    Oratio

    Senhor, mais uma vez, quero rezar-te com as palavras do teu servo Leão Dehon: «Senhor, tu queres ser meu amigo; mas a amizade é uma troca de ternura e de benevolência. Gostaria de competir Contigo nesta amizade, embora seja incapaz de fazer por Ti o que fazes por mim. Serei assíduo junto de Ti. Manter-me-ei unido a Ti pelas minhas obras de cada dia. Consumir-me-ei por Ti no trabalho e no zelo». Amen.

    Contemplatio

    «Amai-vos uns aos outros». Jesus recomenda-nos de novo o seu mandamento preferido. Quer que a caridade mútua caracterize os seus discípulos. «O meu mandamento, diz, é que vos ameis uns aos outros como eu vos amei». Estas palavras dizem muito, e Nosso Senhor explica-as acrescentando: «Ninguém pode ter maior amor do que dar a vida pelos seus amigos». É o que ia fazer dentro de algumas horas. Mas já desde a sua incarnação, não tinha feito outra coisa do que consumir-se por nós. S. Paulo resumiu bem a sua vida: «Amou-me e entregou-se por mim». Amou-me até assumir a natureza humana para se fazer meu irmão, minha caução, meu Redentor. Amou-me até se fazer meu preceptor pelos seus exemplos, pelos seus discursos, pelas suas parábolas. Amou-me até se fazer minha caução e a vitima da minha salvação na sua paixão e na sua morte.
    E eu, devo por minha vez amar o meu próximo e dedicar-me aos seus interesses espirituais e temporais. Devo manifestar esta caridade pelas suas virtudes de doçura e de paciência e pela prática de todas as obras de misericórdia. Que hei- de fazer hoje para isso?
    «Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando». - «Vós me chamais vosso Mestre, não quero mais este título; o amor eleva-vos de algum modo até mim: Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor, não é chamado aos conselhos do seu senhor, obedece sem ter nenhuma intimidade com o seu mestre. Não deve ser assim entre vós, acrescenta Nosso Senhor: chamo-vos meus amigos e trato-vos como tais. Tudo o que ouvi de meu Pai, vo-lo dei a conhecer; revelei-vos os mistérios do reino de Deus, dei-vos a conhecer os desígnios de meu Pai para a redenção do mundo, na qual deveis cooperar».

    Entre nós e Nosso Senhor, há, portanto, um regime de amizade, de cooperação e de comunhão de bens, análoga à união de Nosso Senhor com o seu Pai. Tudo é comum entre nós e ele: «Mea omnia tua sunt, et tua mea sunt»: «Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu» (Jo 17,10). - Regime de amor, de santa liberdade e de familiaridade: «Pedireis tudo o que quiserdes, e ser-vos-á concedido» (Jo 15, 16).
    Amou-me até se dar, se entregar, se trair. É tudo por mim nas suas condutas providenciais: «É tudo para os eleitos, tudo concorre para o bem daqueles que amam Deus». É bom mesmo quando me pune, é para o meu bem. Jesus revela-me esta amizade para me cumular de alegria: «Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa».
    Que é que fiz até agora para responder a uma tão admirável amizade? Tive para com o Salvador a confiança e a dedicação de um amigo? Que hei-de fazer para responder à sua amizade? (Leão Dehon, OSP 3, p. 460s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12).

    S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos

    S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos


    3 de Maio, 2024

    Como S. Pedro e S. André, Filipe era natural de Betsaida. O seu nome grego deixa supor que pertencia à comunidade helenista. Foi dos primeiros discípulos a ouvir o chamamento do Senhor: "Segue-me". Pôs-se imediatamente ao serviço do Senhor e, bem depressa, começou a dedicar-se à missão. Segundo a tradição, S. Filipe evangelizou a Turquia, onde morreu mártir.

    S. Tiago, o Menor, filho de Alfeu, era primo de Jesus e escreveu a Carta de Tiago. Foi testemunha privilegiada da ressurreição do Senhor (cf. 1 Cor 17, 7), ocupando um lugar proeminente na comunidade de Jerusalém. Depois da dispersão dos Apóstolos, nos anos 36-37, aparece como chefe da igreja-mãe (At 21, 18-26). Morreu mártir por volta do ano 62, sendo precipitado pelos Judeus do Templo e lapidado como Estêvão. Na sua carta, deixou-nos o testemunho da prática da Unção dos Enfermos já nos tempos apostólicos.

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Coríntios 15, 1-8

    Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes 2e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. 3Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; 4foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5apareceu a Cefas e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. 7Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. 8Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto.

    Paulo deixa-nos perceber a importância que a tradição tinha nos começos da comunidade cristã: "Transmiti-vos o que eu próprio recebi" (v. 3). É através da tradição apostólica que chegam até nós as notícias referentes ao evento histórico-salvífico da Páscoa do Senhor. Através dela, podemos ligar-nos ao fluxo salvífico daquela graça. O nosso texto contém uma profissão de fé que remonta aos primeiros momentos da comunidade cristã: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras;apareceu a Cefas e depois aos Doze." (vv. 3-5). Anunciar ao mundo esta Boa Nova é a missão dos Apóstolos e de todos os cristãos. Só pela participação na Páscoa de Cristo, os homens podem ser salvos.

    Evangelho: João 14, 6-14

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim. 7Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.» 8Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» 9Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'?10Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras.11Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras.12Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. 14Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei."

    O evangelho transmite-nos o diálogo entre Jesus e Filipe, precedido da autorevelação de Jesus a Tomé: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (v. 6), para chegar ao Pai. Jesus também fala a Filipe do Pai. Por meio de Jesus, podemos conhecer o Pai, desde já, podemos "vê-lo" e assim acreditar na total comunhão que une Jesus a Deus Pai. As palavras de Jesus revelam-nos a comunhão que o liga ao Pai. Acolhê-las é aplanar a estrada para chegar ao Pai. O mesmo se diga das obras de Jesus. Acolhidas na fé, também são caminho para compreender a identidade de Jesus, a sua relação com o Pai e a nossa relação com ambos.

    Meditatio

    "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim." (v. 6). Atraindo-nos para Jesus - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair" (Jo 6, 44) - o Pai revela-nos que, para ir para Ele, é preciso passar pelo Filho, porque o Filho é o caminho, Aquele que revela o Pai, comunica a vida do Pai e conduz até Ele.
    No evangelho, Jesus revela-nos o seu coração, o desejo ardente de nos fazer conhecer o Pai, e a consciência que tem de ser o verdadeiro revelador do mesmo Pai: "Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?" (vv. 9-10).
    Em todo o homem há um desejo vivo de ver a Deus. Os salmos fazem eco desse anseio profundo: "Quando poderei contemplar a face de Deus?" (Sl 42, 3); "Quero contemplar-te... para ver o teu poder e a tua glória." (Sl 63, 3). Conhecer alguém por ouvir dizer, é pouco. Encontrar-se com uma pessoa, vê-la, dá um conhecento mais profundo da mesma. Lemos no seu rosto os seus sentimentos, o seu amor, a sua bondade, tudo o que há de vivo nela. É a partir desta experiência humana que nasce em nós o anseio profundo de ver a Deus.
    O Novo Testamento diz-nos que a visão de Deus, que nos permite contemplar o invisível, o inacessível e continuar vivos, é possível vendo Jesus, o Filho de Deus feito homem, imagem do Deus invisível, rosto humano de Deus. Jesus é o revelador do Pai. É este o seu mistério mais profundo. O Pai está em Jesus e Jesus está no Pai. O Pai manifesta em Jesus, não só na sua presença no meio de nós, mas também, e sobretudo, na sua morte e ressurreição. A primeira leitura sugere esta aproximação. Jesus ressuscitado manifestou-se, apareceu: "Cristo ressuscitou ao terceiro dia e apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez... apareceu a Tiago. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto." (vv. 4-8). Jesus ressuscitado mostrou-se e mostrou o Pai. Ele é a mais completa visão de Deus: "Quem me vê, vê o Pai" (v. 9). É claro que, para nós, Jesus ressuscitado não é uma pessoa que se veja como outra qualquer. A nós, aplica-se a frase com que João encerra o seu evangelho: "Felizes os que crêem sem terem visto!" (Jo 20, 29). A nossa visão de Jesus não é uma visão sensível, mas de fé. Contemplar as imagens de Jesus pode ajudar-nos. Mas são os olhos do coração que O alcançam. A visão de Deus é uma visão do coração. Só se pode vê-lo com o coração, o Coração de Jesus!

    Oratio

    Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto e seremos salvos! Queremos acolher a salvação contemplando o vosso rosto, paterno e materno, cheio de misericórdia. Contemplando-o, queremos penetrar na ternura do vosso coração. Procuro o vosso rosto, Senhor! Mostrai-me o vosso rosto. A vossa glória, Senhor, refulge no rosto do vosso Cristo, que tem um rosto humano, semelhante ao meu, semelhante ao dos meus irmãos. Que eu saiba contemplar o vosso rosto também no rosto dos meus irmãos e irmãs, dos que vivem comigo, trabalham comigo, daqueles para quem eu vivo e trabalho. Ámen.

    Contemplatio

    S. Tiago deixou-nos a sua bela epístola dirigida a todas as Igrejas. Nela descreve, de um modo luminoso, a vida cristã, tal como a praticava diariamente. Estabeleceu a necessidade das boas obras, recomenda a constância nas provações, a caridade para com o próximo, o bom uso da língua. Fala do sacramento da Santa Unção, que se dá aos doentes. Resume toda a vida cristã sob o nome de sabedoria que vem do alto, como S. Paulo a resumiu sob o nome de caridade. «A sabedoria é casta, diz, é modesta, pacífica, dócil aos sábios conselhos, cheia de misericórdia, dedicada às boas obras. Evita os juízos temerários, as mentiras, a duplicidade. É sobretudo amiga da paz interior e do recolhimento que são a condição para escutar a voz de Deus e para praticar a justiça na pureza de intenção». Sim, é na paz interior, na união com o Sagrado Coração, que poderei praticar a vida de amor e de reparação que Nosso Senhor espera de mim. (Leão Dehon, OSP 3, p. 506).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quem me vê, vê o Pai!" (Jo 14, 9).

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    S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos (3 Maio)

  • 5ª Semana - Sábado - Páscoa

    5ª Semana - Sábado - Páscoa

    4 de Maio, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 16, 1-10

    Naqueles dias, 1Paulo chegou em seguida a Derbe e, depois, a Listra.Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente e de pai grego, 2que era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icónio. 3Paulo resolveu levá-lo consigo e, tomando-o, circuncidou-o, por causa dos judeus existentes naquelas regiões, pois todos sabiam que o pai dele era grego. 4Nas cidades por onde passavam, transmitiam e recomendavam aos irmãos que cumprissem as decisões tomadas pelos Apóstolos e pelos Anciãos de Jerusalém. 5Dessa forma, as igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia. 6Paulo e Silas atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o Espírito Santo impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia. 7Chegando à fronteira da Mísia, tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. 8Atravessaram, então, a Mísia e desceram para Tróade. 9Ora, durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé diante dele e fazia-lhe este pedido: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!» 10Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa-Nova.

    A partir do capítulo 16 do livro dos Actos, Lucas centra a sua atenção na actividade missionária de Paulo. O texto que escutamos hoje apresenta-nos a segunda viagem missionária do Apóstolo, já sem a companhia de Barnabé, com quem se desentendera devido a uma diferente avaliação da pessoa de João Marcos. Mas Paulo não parte sozinho para a nova viagem, mais alargada que a primeira. Vai com Timóteo, seu discípulo, que lhe permanecerá sempre fiel. Para evitar conflitos com os judeus, fá- lo circuncidar, embora reconhecesse que isso não era necessário.
    O Espírito Santo é o guia dos missionários, corrigindo-lhes mesmo a rota. Para Lucas, o Espírito Santo é o grande protagonista e estratega da evangelização. Os seus planos nem sempre coincidem com os dos homens. É o caso em que impele Paulo a passar à Europa, em vez de penetrar nas regiões da Ásia menor. Na acção missionária de Paulo não havia muita organização, mas havia muita disponibilidade à acção do Espírito. Um exemplo sempre actual!

    Evangelho: João 15, 18-21

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18«Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. 19Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. 21Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou.

    Os discípulos de Jesus terão de enfrentar o ódio do mundo, tal como Ele o enfrentou. Esse ódio caracteriza o mundo (v. 18), tal como o amor caracteriza a comunidade cristã. Os discípulos serão perseguidos pelo mundo, porque ele não suporta aqueles que se opõem aos seus princípios. Os que optaram por Cristo são considerados estranhos e inimigos pelo mundo. A sua vida é uma acusação permanente às obras perversas do mundo. É por isso que o homem de fé é odiado. O ódio do mundo manifesta-se na perseguição contra a comunidade dos discípulos de Cristo. Mas estes não devem desanimar na sua vida de fé e no cumprimento da missão de evangelizar. A perseguição e o sofrimento hão-de ser vividos em união com o Senhor. A sorte dos discípulos é idêntica à de Cristo: «Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós» (v. 20).

    Meditatio

    É o Espírito Santo que conduz a Igreja e a sua acção missionária. Paulo e Timóteo atravessavam a Frigia e a Galácia, mas o Espírito Santo proibiu-lhes pregar a palavra na Ásia (cf. v. 6). Depois tentaram dirigir-se à Bitínia, «mas o Espírito de Jesus não lho permitiu» (v. 7). O Espírito Santo parece criar obstáculos à acção dos apóstolos. Mas, em Tróade, irão compreender que o Espírito tinha um plano muito mais ambicioso e vasto: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!», diz-lhe um macedónio. E, assim, Paulo entra na Europa.
    A docilidade de Paulo ao Espírito Santo é uma lição para nós, que nem sempre nos damos conta que as dificuldades ao nosso apostolado e a nossa acção pastoral podem vir de Deus. É que os nossos projectos podem não coincidir com os projectos de Deus, porque não fizemos um bom discernimento, ou por causa de outros nossos limites. Também é possível que os nossos bons projectos estejam inquinados de ambição, de egoísmo, de vaidade. As dificuldades, postas por Deus às nossas obras, são boa ocasião para trabalharmos com generosidade, mas também com desinteresse, deixando-nos a alegria de servir a Deus com docilidade e rectidão.
    O evangelho lembra-nos que «o servo não é mais que o seu senhor» (v. 20). Não devemos espantar-nos se, ao nosso lado, verificarmos indiferença e hostilidade. É sinal de que somos fiéis a Cristo perseguido e à sua palavra de cruz. Não devemos entrar em crise se muitos não pensam como nós, se nos atacam por todos os meios antigos e modernos. A fé é sempre algo fora de moda. Por isso, há-de ser procurada e vivida na oblatividade, que consiste no apelo à cruz, ao sacrifício, a saber amar, à justiça paga com a própria pele. A hostilidade, mais ou menos aberta, do mundo que nos rodeia, não há-de levar-nos a um testemunho soft, a abaixar o nível das exigências da fé, ou a silenciar o que mais compromete ou é impopular.
    Fortalecidos pela presença de Cristo, e dóceis ao seu Espírito, devemos empenhar-nos, como dehonianos, em denunciar o pecado, em trabalhar para que o mundo dos homens, o nosso mundo actual, com as suas forças, os seus dramas, se abra ao Reino de Deus.
    A Eucaristia que celebramos, comungamos e adoramos, sugere-nos espontaneamente a ideia e a realidade da imolação da vítima, e é um tácito e insistente convite a vivermos a nossa vocação baptismal (cf. Cst 13) e a nossa profissão religiosa de oblação, reparação, imolação em união com a Vítima divina e com o Sacerdote eterno, para fazermos da nossa vida &ldq uo;uma missa permanente" (Cst. 5; cf. nn. 6.22.24). Porque é tempo que o nosso pão se torne Corpo de Cristo e o nosso vinho Seu Sangue e nós, que dele comemos e bebemos, nos tornemos Corpo de Cristo.

    Oratio

    «Ó Jesus, Sacerdote soberano, multiplica os sacerdotes santos, os sacerdotes segundo o teu Coração. Quero rezar por essa intenção, como Tu mesmo pediste. Contigo tenho piedade dos rebanhos sem pastores. Envia-lhes pastores que juntem a fecundidade das obras à santidade da vida». Assim rezava o teu servo, Leão Dehon. Que acrescentarei às suas palavras? Peço-te que me ajudes a viver como Tu queres, no meio das dificuldades produzidas pela hostilidade do mundo. Que jamais me acobarde quando for preciso dar testemunho de Ti. Que jamais me falte a coragem perante as reacções que vêm do facto de eu dizer o que Tu mesmo dirias, e de fazer as coisas que Tu mesmo farias. Que a hostilidade do mundo jamais me leve a diluir a tua mensagem e o testemunho que devo ao teu santo nome. Amen.

    Contemplatio

    Durante três anos, o Salvador envolve os seus apóstolos com os mais assíduos cuidados. Está totalmente dedicado à sua formação, à sua preparação. No fim, pode dizer-lhes: «Não vos chamo meus servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Vós sois meus amigos: transmiti-vos tudo o que meu Pai me disse. Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi, e que vos estabeleci para que deis fruto e que este fruto permaneça». O bom Mestre acrescenta: «Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vo-lo dará. Se o mundo vos odeia, não vos admireis, odiou-me primeiro. Ele odiar-vos-á, porque não sois do mundo, porque vos constituí acima do mundo. - Enviar-vos-ei o meu espírito, o espírito de verdade que será o vosso guia. - Sofrereis perseguições. Expulsar-vos-ão das vossas casas e dos vossos santuários, porque os perseguidores não conhecem o meu Pai e não me conhecem. Mas antes de vos deixar, previno-vos, a fim de que nada vos surpreenda» (Jo 15).
    O bom Mestre instruiu os seus discípulos até ao fim, com uma caridade inefável.
    Que sorte invejável esta de serem os amigos de Jesus, os seus íntimos, os ministros das suas obras e mesmo os seus companheiros de labor e de expiação sob a cruz! (Leão Dehon, OSP 4, p. 256).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «O servo não é mais que o seu senhor» (Jo 15, 20).

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