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  • 23º Domingo do Tempo Comum - Ano C

    23º Domingo do Tempo Comum - Ano C


    4 de Setembro, 2022

    ANO C

    23º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 23º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia deste domingo convida-nos a tomar consciência de quanto é exigente o caminho do "Reino". Optar pelo "Reino" não é escolher um caminho de facilidade, mas sim aceitar percorrer um caminho de renúncia e de dom da vida.
    É, sobretudo, o Evangelho que traça as coordenadas do "caminho do discípulo": é um caminho em que o "Reino" deve ter a primazia sobre as pessoas que amamos, sobre os nossos bens, sobre os nossos próprios interesses e esquemas pessoais. Quem tomar contacto com esta proposta tem de pensar seriamente se a quer acolher, se tem forças para a acolher... Jesus não admite meios-termos: ou se aceita o "Reino" e se embarca nessa aventura a tempo inteiro e "a fundo perdido", ou não vale a pena começar algo que não vai levar a lado nenhum (porque não é um caminho que se percorra com hesitações e com "meias tintas").
    A primeira leitura lembra a todos aqueles que não conseguem decidir-se pelo "Reino" que só em Deus é possível encontrar a verdadeira felicidade e o sentido da vida. Há, portanto, aí, um encorajamento implícito a aderir ao "Reino": embora exigente, é um caminho que leva à felicidade plena.
    A segunda leitura recorda que o amor é o valor fundamental, para todos os que aceitam a dinâmica do "Reino"; só ele permite descobrir a igualdade de todos os homens, filhos do mesmo Pai e irmãos em Cristo. Aceitar viver na lógica do "Reino" é reconhecer em cada homem um irmão e agir em consequência.

    LEITURA I - Sab 9,13-19

    Leitura do Livro da Sabedoria

    Qual o homem que pode conhecer os desígnios de Deus?
    Quem pode sondar as intenções do Senhor?
    Os pensamentos dos mortais são mesquinhos
    e inseguras as nossas reflexões,
    porque o corpo corruptível deprime a alma
    e a morada terrestre oprime o espírito que pensa.
    Mal podemos compreender o que está sobre a terra
    e com dificuldade encontramos o que temos ao alcance da mão.
    Quem poderá então descobrir o que há nos céus?
    Quem poderá conhecer, Senhor, os vossos desígnios,
    se Vós não lhe dais a sabedoria
    e não lhe enviais o vosso espírito santo?
    Deste modo foi corrigido o procedimento dos que estão em terra,
    os homens aprenderam as coisas que Vos agradam
    e pela sabedoria foram salvos.

    AMBIENTE

    O Livro da Sabedoria é um texto de carácter sapiencial (isto é, cujo objectivo é transmitir a "sabedoria", identificada com a arte de bem viver, de ter êxito e de ser feliz). O autor apresenta-se como um "rei", apaixonado pela "sabedoria" e que construiu um templo na "montanha santa" e um altar na "cidade da habitação de Deus" (Sab 9,6-8). Tudo indica, pois, que o autor quer apresentar-se como sendo o rei Salomão; mas trata-se de um livro escrito na primeira metade do séc. I a.C. (Salomão é da primeira metade do séc. X a.C.) por um judeu piedoso, provavelmente pertencente à comunidade judaica de Alexandria. O objectivo do autor é duplo: por um lado, dirige-se aos seus compatriotas, mergulhados no paganismo, na idolatria e na imoralidade, e mostra-lhes as vantagens de perseverar na fé e de viver na justiça; por outro lado, dirige-se aos pagãos e apresenta-lhes a superioridade da fé e dos valores israelitas. O autor exprime-se em termos e concepções do mundo helénico, esforçando-se por exprimir a sua fé e as suas convicções numa linguagem actualizada, erudita, bem ao gosto da cultura grega da época.
    O texto que nos é apresentado é o final da segunda parte do livro (cf. Sab 6,1-9,18). Aí, o autor coloca na boca de um rei (Salomão, embora o nome nunca seja referido explicitamente) o elogio da "sabedoria".

    MENSAGEM

    A questão fundamental para o autor do texto é esta: só essa sabedoria que é um dom de Deus permite ao homem compreender tudo, fazer o que agrada a Deus e ser salvo.
    O autor parte da constatação da nossa finitude, das nossas limitações, das nossas dificuldades típicas de seres humanos, para concluir: por nós, não conseguimos compreender o alcance das coisas, não conseguimos descobrir o verdadeiro sentido da nossa vida, apercebermo-nos dos valores que nos levam, verdadeiramente, pelo caminho da vida e da felicidade. Como chegar, portanto, a "conhecer os desígnios de Deus"?
    O autor só encontra uma resposta: o homem tem de acolher a "sabedoria", dom de Deus para todos aqueles que estão interessados em dar um verdadeiro sentido à sua vida. Só a acção de Deus que derrama sobre os homens a "sabedoria" permite encontrar o sentido da vida e discernir o verdadeiro do falso, o importante do inútil.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes dados:

    • Face ao contínuo cruzamento de perspectivas, de desafios, de teorias, ficamos confusos e sem saber, tantas vezes, como escolher. Por outro lado, as nossas escolhas acabam, tantas vezes, por ser condicionadas pelos "media", pelo politicamente correcto, pela ideologia dominante, pela moda, pelos valores que as telenovelas impõem, pelas ideias das pessoas que nos rodeiam, pela filosofia da empresa que nos paga ao fim do mês... Será que esses caminhos que nos são mais ou menos impostos nos conduzem no sentido da vida plena, da realização total, da felicidade?

    • Para os crentes, o critério que serve para julgar a validade ou a não validade dessas propostas é o Evangelho - embora, muitas vezes, ele se apresente em absoluta contradição com os valores que a sociedade propõe e impõe. Como é que eu me situo face a isto? O que é que vale mais, quando tenho de decidir: os valores do Evangelho, ou as propostas dessa máquina trituradora, impositiva, limitadora das escolhas individuais que é a opinião pública?

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 89 (90)

    Refrão: Senhor, tendes sido o nosso refúgio
    através das gerações.

    Vós reduzis o homem ao pó da terra
    e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
    Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou
    e como uma vigília da noite.

    Vós os arrebatais como um sonho,
    como a erva que de manhã reverdece;
    de manhã floresce e viceja,
    à tarde ela murcha e seca.

    Ensinai-nos a contar os nossos dias,
    para chegarmos à sabedoria do coração.
    Voltai, Senhor! Até quando...
    Tende piedade dos vossos servos.

    Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
    para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
    Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
    Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.

    LEITURA II - Flm 9b-
    10.12-17

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Filémon

    Caríssimo:
    Eu, Paulo, prisioneiro por amor de Cristo Jesus,
    rogo-te por este meu filho, Onésimo, que eu gerei na prisão.
    Mando-o de volta para ti, como se fosse o meu próprio coração.
    Quisera conservá-lo junto de mim,
    para que me servisse, em teu lugar,
    enquanto estou preso por causa do Evangelho.
    Mas, sem o teu consentimento, nada quis fazer,
    para que a tua boa acção não parecesse forçada,
    mas feita de livre vontade.
    Talvez ele se tenha afastado de ti durante algum tempo,
    a fim de o recuperares para sempre,
    não já como escravo, mas muito melhor do que escravo:
    como irmão muito querido.
    É isto que ele é para mim
    e muito mais para ti, não só pela natureza,
    mas também aos olhos do Senhor.
    Se me consideras teu amigo,
    recebe-o como a mim próprio.

    AMBIENTE

    A Carta a Filémon é a mais breve e pessoal das cartas de Paulo. É endereçada a um tal Filémon, aparentemente um membro destacado da Igreja de Colossos.
    A partir dos dados da carta, podemos reconstruir as circunstâncias em que o texto aparece. Onésimo, escravo de Filémon, fugiu de casa do seu senhor. Encontrou Paulo, ligou-se a ele e tornou-se cristão. Paulo, que nessa altura estava na prisão (em Éfeso? Em Roma?), fê-lo seu colaborador e manteve-o junto de si. No entanto, a situação podia tornar-se delicada se Filémon se ofendesse com Paulo; e, do ponto de vista legal, ao dar guarida a um escravo fugitivo, Paulo era cúmplice de uma grave infracção ao direito privado. Enfim, Onésimo corria o risco de ser preso, devolvido ao seu senhor e severamente castigado.
    É neste contexto que Paulo resolve enviar Onésimo a Filémon. Onésimo leva consigo uma carta, em que Paulo explica a Filémon a situação e intercede pelo escravo fugitivo. Com extrema delicadeza, Paulo insinua a Filémon que, sendo possível, lhe devolva Onésimo, já que este lhe vem sendo de grande utilidade; no entanto, Paulo pede, sugere, mas sem impor nada e deixando a decisão nas mãos de Filémon.
    É um texto belíssimo, carregado de sentimentos, "verdadeira obra-prima de tacto e de coração".

    MENSAGEM

    O que está em causa neste texto é muito mais do que um problema privado, embora com alcance social; é, sobretudo, um problema eclesial (embora com implicações sociais), e que deve ser resolvido a partir desse valor supremo da ética cristã que é o amor.
    Para Paulo, o amor deverá ser a suprema e insubstituível norma que dirige e condiciona as palavras, os comportamentos, as decisões dos crentes. Ora, o amor tem consequências bem práticas, que os membros da comunidade cristã não podem olvidar: implica o ver em cada homem um irmão - independentemente da sua raça, da sua cor, ou do seu estatuto social. Vistas as coisas nesta perspectiva, não é de estranhar que Paulo solicite a Filémon que receba Onésimo não como o que era antes (um escravo), mas sim como é agora - um irmão em Cristo. Se Filémon é, de facto, cristão, é essa a atitude que deve assumir para com Onésimo.
    O problema da escravatura deve ter-se posto, desde muito cedo, à comunidade eclesial. Mas os cristãos cedo perceberam que a solução não estava na violência ou na revolta, mas no levar até às últimas consequências a fraternidade que une todos os homens e que resulta do facto de todos serem "filhos de Deus" e irmãos em Cristo. A violência, quando muito, serviria para substituir uns escravos por outros, sem alterar a situação; só o amor poderia mudar o coração dos homens, de forma a acabar com a exploração do homem pelo outro homem. A conversão ao amor - exigência fundamental para integrar a comunidade eclesial - exige o reconhecimento da igualdade fundamental de todos os homens ("sem distinção entre judeu ou grego, entre escravo ou homem livre, entre homem ou mulher, porque todos são um só em Cristo Jesus", dirá Paulo - Gal 3,28). A partir do amor, o "dono" do escravo descobre a igualdade profunda de todos os homens, filhos do mesmo Deus e irmãos em Cristo; a partir do amor, o escravo descobre a afirmação clara da sua dignidade de homem. É esta a questão fundamental que o texto nos apresenta.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar as seguintes questões:

    • O amor - elemento que está no centro da experiência cristã - exige ao cristão o reconhecimento efectivo da igualdade de todos as pessoas, apesar das diferenças de cor da pele, de estatuto social, de sexo, de opções políticas. O meu comportamento para com aqueles que comigo se cruzam é sempre consequente com esta exigência? A cor da pele alguma vez me levou a discriminar alguém? O facto de uma pessoa ser pobre ou rica já alguma vez me levou a tratá-la com mais ou menos consideração? O facto de uma pessoa ser homem ou mulher já alguma vez me levou a dar-lhe mais ou menos importância ou dignidade?

    • O amor - elemento que está no centro da experiência cristã - exige que as nossas comunidades sejam espaços de comunhão, de fraternidade, de acolhimento, sejam quais forem os defeitos dos irmãos. As nossas comunidades têm facilidade em acolher? Como são tratados os "diferentes" ou, então, aqueles que se afastaram ou que cometeram alguma falta? Acolhemo-los com amor, ou marcamo-los toda a vida com o estigma da suspeita e da desconfiança?

    ALELUIA - Salmo 118 (119), 135

    Aleluia. Aleluia.

    Fazei brilhar sobre mim, Senhor, a luz do vosso rosto
    e ensinai-me os vossos mandamentos.

    EVANGELHO - Lc 14,25-33

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    seguia Jesus uma grande multidão.
    Jesus voltou-Se e disse-lhes:
    «Se alguém vem ter comigo,
    sem Me preferir ao pai, à mãe,
    à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs
    e até à própria vida,
    não pode ser meu discípulo.
    Quem não toma a sua cruz para Me seguir,
    não pode ser meu discípulo.
    Quem de entre vós, que, desejando construir uma torre,
    Não se senta primeiro a calcular a despesa,
    para ver se tem com que terminá-la?
    Não suceda que, depois de assentar os alicerces,
    se mostre incapaz de a concluir
    e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo:
    'Esse homem começou a edificar,
    mas não foi capaz de concluir'.
    E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei
    e não se senta primeiro a considerar
    se é capaz de se opor, com dez mil soldados,
    àquele que vem contra com ele com vinte mil?
    Aliás, enquanto o outro ainda está longe,
    mand
    a-lhe uma delegação a pedir as condições de paz.
    Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens,
    não pode ser meu discípulo».

    AMBIENTE

    Estamos, ainda, no "caminho para Jerusalém". Desta vez, o ensinamento de Jesus dirige-se "às multidões", quer dizer, a todos os discípulos presentes e futuros de Jesus.
    A parábola anterior (cf. Lc 14,15-24) havia sugerido que o "banquete do Reino" estava aberto a todos os que aceitassem o convite de Jesus, inclusive aos pobres, estropiados, cegos e coxos... Agora, Lucas vai apresentar algumas exigências que devem cumprir todos aqueles que entram no "banquete do Reino". A "instrução" reúne diversos ensinamentos de Jesus sobre a condição dos discípulos, predominando o tema da renúncia.

    MENSAGEM

    Quais são então, na perspectiva de Jesus, as exigências fundamentais para quem quer seguir o "caminho do discípulo" e chegar a sentar-se à mesa do "Reino"? Jesus põe três exigências, todas elas subordinadas ao tema da renúncia.
    A primeira exige o preferir Jesus à própria família (vers. 26). A este propósito, Lucas põe na boca de Jesus uma expressão muito forte. Literalmente, podemos traduzir o verbo "misséô" aqui utilizado como "odiar" ("quem não odeia o pai, a mãe... não pode ser meu discípulo"). Para ser discípulo, é preciso odiar alguém? Não. Segundo a maneira oriental de falar, "odiar" significa "pôr em segundo lugar algo porque, entretanto, apareceu na vida da pessoa um valor que ainda é mais importante". É evidente que Jesus não está a pedir o ódio a ninguém, muito menos a esses a quem nos ligam laços de amor... Está, sim, a exigir que as relações familiares não nos impeçam de aderir ao "Reino". Se for necessário escolher, a prioridade deve ser do "Reino".
    A segunda exige a renúncia à própria vida (vers. 27). O discípulo de Jesus não pode viver a fazer opções egoístas, colocando em primeiro lugar os seus interesses, os seus esquemas, aquilo que é melhor para ele; mas tem de colocar a sua vida ao serviço do "Reino" e fazer da sua vida um dom de amor aos irmãos, se necessário até à morte. Foi esse, de facto, o caminho de Jesus; e o discípulo é convidado a imitar o mestre.
    A terceira exige a renúncia aos bens (vers. 33). Jesus sabe que os bens podem facilmente transformar-se em deuses, tornando-se uma prioridade, escravizando o homem e levando-o a viver em função deles; assim sendo, que espaço fica para o "Reino"? Por outro lado, dar prioridade aos bens significa viver de forma egoísta, esquecendo as necessidades dos irmãos; ora, viver na dinâmica do "Reino" implica viver no amor e deixar que a vida seja dirigida por uma lógica de amor e de partilha... Pode, então, viver-se no "Reino" sem renunciar aos bens?
    Com este rol de exigências, fica claro que a opção pelo "Reino" não é um caminho de facilidade e, por isso, talvez não seja um caminho que todos aceitem seguir. É por isso que Jesus recomenda o pesar bem as implicações e as consequências da opção pelo "Reino". A parábola do homem que, antes de construir uma torre, pensa se tem com que terminá-la (vers. 28-30) e a parábola do rei que, antes de partir para a guerra, pensa se pode opor-se a outro rei com forças superiores (vers. 31-32) convidam os candidatos a discípulos tomar consciência da sua força, da sua vontade, da sua decisão em corresponder aos desafios do Evangelho e em assumir, com radicalidade, as exigências do "Reino".

    ACTUALIZAÇÃO

    Para reflectir e partilhar, considerar as seguintes questões:

    • Jesus não é um demagogo que faz promessas fáceis e cuja preocupação é juntar adeptos ou atrair multidões a qualquer preço. Ele é o Deus que veio ao nosso encontro com uma proposta de salvação, de vida plena; no entanto, essa proposta implica uma adesão séria, exigente, radical, sem "paninhos quentes" ou "meias tintas". O caminho que Jesus propõe não é um caminho de "massas", mas um caminho de "discípulos": implica uma adesão incondicional ao "Reino", à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente essa opção. Como é que eu me situo face a isto? O projecto de Jesus é, para mim, uma opção radical, que eu abracei com convicção e a tempo inteiro ou um projecto em que eu vou estando, sem grande esforço ou compromisso, por inércia, por comodismo, por tradição?

    • A forma exigente como Jesus põe a questão da adesão ao "Reino" e à sua dinâmica faz-nos pensar na nossa pastoral - vocacionada para ser uma pastoral de massas - e na tentação que sentem os agentes da pastoral no sentido de facilitar as coisas, de não serem exigentes... Às vezes, interessa mais que as estatísticas da paróquia apresentem um grande número de baptizados, de casamentos, de crismas, de comunhões, do que propor, com exigência, a radicalidade do Evangelho e dos valores de Jesus... O caminho cristão é um caminho de facilidade, onde cabe tudo, ou é um caminho verdadeiramente exigente, onde só cabem aqueles que aceitam a radicalidade de Jesus? A nossa pastoral deve facilitar tudo, ou ir pelo caminho da exigência?

    • Às vezes, as pessoas procuram a comunidade cristã por tradição, por influências do meio social ou familiar, porque "a cerimónia religiosa fica bonita nas fotografias"... Sem recusarmos nada, devemos, contudo, fazê-las perceber que a opção pelo baptismo ou pelo casamento religioso é uma opção séria e exigente, que só faz sentido no quadro de um compromisso com o "Reino" e com a proposta de Jesus.

    • Dentro do quadro de exigências que Jesus apresenta aos discípulos, sobressai a exigência de preferir Jesus à própria família. Isso não significa, evidentemente, que devamos rejeitar os laços que nos unem àqueles que amamos... No entanto, significa que os laços afectivos, por mais sagrados que sejam, não devem afastar-nos dos valores do "Reino". As pessoas têm mais importância para mim do que o "Reino"? Já me aconteceu renunciar aos valores do "Reino" por causa de alguém?

    • Outra exigência que Jesus faz aos discípulos é a renúncia à própria vida e o tomar a cruz do amor, do serviço, do dom da vida. O que é mais importante para mim: os meus interesses, os meus valores egoístas, ou o serviço d
    os irmãos e o dom da vida?

    • Uma terceira exigência de Jesus pede aos candidatos a discípulos a renúncia aos bens. Os bens, a procura da riqueza são, para mim, uma prioridade fundamental? O que é mais importante: a partilha, a solidariedade, a fraternidade, o amor aos outros, ou o ter mais, o juntar mais?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 23º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. CONVIDAR A CONTEMPLAR A CRUZ.
    Se houver uma cruz bem situada, pode-se enfeitá-la com flores ou iluminá-la com um projector... No momento penitencial, o presidente da assembleia pode convidar os fiéis a olhar para a cruz... Pode ainda aproveitar todo esse simbolismo durante a homilia.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    "Pai do céu, quem pode descobrir as tuas intenções e descobrir a tua vontade? Mas nós podemos bendizer-Te por Jesus, por quem comunicaste a tua Sabedoria, e pelo Espírito Santo, que Tu nos deste.
    Nós Te pedimos pelos pais e educadores, catequistas e pregadores. Que o teu Espírito seja a sua Sabedoria, que Ele os sustente e os guie".

    No final da segunda leitura:
    "Deus nosso Pai, nós Te damos graças pelo baptismo, que é um novo nascimento. Por ele deste-nos a vida no teu Filho Jesus.
    Nós Te pedimos pelos mediadores e conciliadores, que se dedicam a restaurar o diálogo nos conflitos profissionais e noutros conflitos. Pelo teu Espírito, orienta os nossos pensamentos e os nossos esforços na procura da conciliação".

    No final do Evangelho:
    "Deus nosso Pai, como bom empreendedor Tu construíste pacientemente a nova torre que nos liga a Ti e une o céu e a terra. Colocaste as fundações e pelo teu Espírito acabas em nós a obra começada.
    Nós Te pedimos por todos nós, teu povo, que chamas a seguir-Te. Confiamos-Te todos aqueles que levam cruzes pesadas".

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    O que Jesus critica nos dois heróis das parábolas é o facto de não terem tomado tempo para se sentar. Ora, Ele propõe estas duas parábolas no momento em que convida os seus discípulos a segui-l'O sem condições, e mesmo a levar a sua cruz, isto é, a aceitar as provas que seguirão ao seu compromisso. Quer dizer que, antes de seguir Jesus, é preciso reservar tempo para a reflexão. Jesus não esconde as exigências, mas é preciso perguntar porque O seguimos, até onde O podemos seguir. É a maneira de Jesus respeitar a liberdade do homem. Ele não quer discípulos que decidem segui-l'O sem mais nem menos. Ele não pede a mesma coisa a toda a gente, mas a cada um Ele pede para segui-l'O em função dos seus carismas. Mais uma razão para nos sentarmos e perguntar: quais são os meus carismas que quero pôr ao serviço do Reino?

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Podemos ainda comentar esta página do Evangelho? Jesus, decididamente, é demasiado duro, as suas exigências demasiado radicais: "Se alguém vem ter comigo, sem Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo... Quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo». Sem contar com este convite ao sofrimento: "Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo". Parece que Jesus quer desencorajar quem quer ser seu discípulo. Como compreender? Primeiro, é preciso compreender que Lucas escreve o seu Evangelho num contexto de perseguições. Alguns cristãos preferiam morrer a renegar a sua fé. Outros, talvez os mais numerosos, escolhiam colocar, pelo menos momentaneamente, a sua fé entre parêntesis para salvar os seus bens, a sua família e a sua própria vida. São Lucas quis, não tanto condenar estas fraquezas na fé, mas sobretudo dar um forte encorajamento àqueles que se mantinham firmes na fé, até à morte. Eram esses, os mártires, que tinham razão em seguir Jesus até no mistério da sua morte na cruz. O que nos podem estas palavras dizer hoje? O nosso mundo é duro em tantos domínios. Por exemplo, talvez não se possa dizer que o sentido do casamento e da família, o valor da palavra dada para ser fiel ao seu marido, à sua esposa, sejam referências maiores da nossa cultura. Querer, neste mundo, ter em conta estes valores não somente "espirituais", mas propriamente cristãos, fazer referência ao Evangelho, afirmar-se como crente em Jesus, numa sociedade "descristianizada", não é evidente hoje. A maior parte tomou as suas distâncias em relação a Deus, à fé cristã. Então, a palavra de hoje é-nos dada para nos despertar e, ao mesmo tempo, para nos encorajar. Aqueles que, apesar de tudo e contra tudo, continuam a dar um lugar importante na sua vida a Jesus, têm razão. O Evangelho de hoje é um convite urgente a mantermo-nos na nossa fé, por mais que isso custe!

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III que evoca, particularmente, a oblação de Cristo.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO...
    Como O seguimos? No caminho, grandes multidões à procura de Jesus, com interesses muito variados! Era ontem! E nós, hoje, como o seguimos? Como um líder político? Uma estrela da canção? Um ídolo do futebol? "Jesus voltou-Se", indicando claramente os desafios. Tornar-se seu discípulo é uma questão de preferência absoluta, num caminho que passa pela cruz.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt

     

  • Natividade da Virgem Santa Maria

    Natividade da Virgem Santa Maria


    8 de Setembro, 2022

    A memória litúrgica da Natividade de Nossa Senhora remonta ao século V, quando foi edificada em Jerusalém uma igreja, num sítio que os Apócrifos indicavam como lugar da casa de Joaquim e de Ana, pais da mãe de Jesus. São desconhecidas as razões da data de 8 de Setembro. A Igreja Oriental soleniza a natividade de Maria como início do ano litúrgico; no Ocidente (a partir de Roma) as primeiras celebrações surgem no século VII.

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos, 8, 28-30

    Irmãos: Nós sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados, de acordo com o seu desígnio. 29Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos. 30E àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.

    S. Paulo manifesta neste texto uma fé assimilada e madura, com a preocupação de que todos acolham a mensagem, se convençam e se alegrem com ela. O Apóstolo apresenta tudo num quadro trinitário: o Espírito acompanha e ensina (vv. 26ss), Cristo consolida a comunhão no amor (vv. 31-39), Deus Pai mantém o projeto eterno de manifestar a sua paternidade divina dando aos homens a graça da filiação e da fraternidade com Cristo, primogénito de muitos irmãos.
    O núcleo da mensagem está num anúncio de fé: há um nascimento como dom do amor de Deus, um acompanhamento da vida nova, uma realização na partilha da glória.

    Evangelho: Mateus, 1, 1-16.18-23

    Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão: 2Abraão gerou Isaac;Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos; 3Judá gerou, de Tamar, Peres e Zera; Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; 4Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 5Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé;6Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Uzias; 9Uzias gerou Jotam; Jotam gerou Acaz;
    Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia.12Depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel;13Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azur; 14Azur gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleázar; Eleázar gerou Matan; Matan gerou Jacob. 16Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo.18Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo.19José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente.20Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» 22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco.

    Mateus começa o seu evangelho apresentando a genealogia de Jesus, uma espécie de ladainha de nascimentos. Todos os antepassados foram, de algum modo, protagonistas de uma etapa da história; no nascimento e na aventura humana de muitos foi determinante a intervenção de Deus.
    No final da lista, o evangelista coloca José, esposo de Maria «da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo» (v. 16). Com S. José não houve presença mas apenas vizinhança ou contiguidade no evento da Encarnação, revelado como mistério esponsal entre a Virgem e o Espírito Santo. O mistério também foi anunciado a José. Também ele amadureceu na fé a compreensão do nascimento d´Aquele que foi gerado em Maria sua esposa pelo Espírito Santo e destinado a salvar o povo dos seus pecados (v. 21). José secunda a palavra divina, obediente, silencioso, ativo.

    Meditatio

    A festa da Natividade de Maria, aurora da nossa salvação, oferece-nos importantes elementos de meditação. São os evangelhos apócrifos que narram o nascimento da Mãe do Salvador, com emocionantes e inverosímeis fantasias, que podem ser vistas como simbologias e interpretações. A Bíblia não nos dá informações sobre o nascimento de Maria. Mas ele foi uma realidade importante na prossecução do projeto divino da nossa salvação. Daí que valha a pena meditar sobre esse acontecimento à luz da fé em Deus que, na sua misericórdia, quis salvar os homens com a colaboração de Maria, nova criatura, cuja entrada no mundo hoje celebramos.
    Para nos darmos conta da importância do nascimento de Maria, devemos ter em conta que o seu protagonista é Deus. As fantasias dos apócrifos indiciam fé nesse protagonismo. A Liturgia aponta para a presença e o protagonismo de Deus no nascimento e na vida de Maria. O oráculo de Miqueias (1ª leitura alternativa da festa) tem em vista a maternidade, isto é, a fonte de um nascimento, projetado por Deus: a citação desse oráculo em Mt 2, 6 regista uma convicção messiânica do evangelista traduzida em convicção cristológica e contextualmente mariológica. A releitura de um outro oráculo (Is 7, 14) pelo mesmo evangelista vê na Virgem que dá à luz, a mãe designada pelo próprio Deus e envolta no abismo místico da comunhão com o Espírito Santo, o «Senhor que dá a vida». A importância do nascimento da Virgem também se deduz pela verificação da sua presença entre aqueles que foram chamados por Deus conforme o seu desígnio, desde sempre conhecidos, predestinados, justificados (a singular redenção antecipada da Imaculada), glorificados.
    Esta festa é uma excelente ocasião para crescermos no amor e na devoção à Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa mãe. Escreve o Pe. Dehon: «Nesta festa, quero renovar-me na devoção a Maria, na fidelidade ao seu culto diário, na união com ela, como meio para me elevar a uma união mais íntima com Jesus, em todas as minhas ações» (OSP 4, p. 234).

    Oratio

    Salve santa Maria, filha do Deus da vida, criatura nascida na alegria, cofre da graça plasmado pelo Espírito. Ó Mãe d´Aquele que vive, canta mais uma vez, por nós, o louvor do Omnipotente, e guia a nossa gratidão por cada vida que nasce e cresce à nossa volta. Mulher escolhida desde sempre para abrir a vida ao Filho do homem, ao vencedor da morte na sua ressurreição, acompanha-nos no caminho e nas paragens da existência. Virgem solitária, presença amorosa e serviçal na nossa história, acolhe a oração dos teus servos. Ámen.

    Contemplatio

    Que alegria no céu! Que cânticos de alegria entre os anjos quando Maria nasceu! Informados pela mensagem do Arcanjo Gabriel, sabiam que era a aurora da salvação dos homens. Maria ocupa um importante lugar nas promessas, nas figuras, na redenção! Ela é como que a aurora que precede o sol, como a lua que reflete os raios do astro-rei. É a nova Eva, a mãe espiritual dos homens, é Judite que será vitoriosa sobre o inimigo do povo de Deus. É Ester que alcançará misericórdia para o seu povo. É a esposa dos cantares, cuja poesia sagrada cantou a união com Jesus. Foi ela que Adão entreviu quando Deus lhe disse que uma mulher esmagaria a cabeça da serpente. Deus tinha-a em vista quando prometia a Abraão, aos patriarcas, a David, que o Salvador brotaria da sua estirpe. Ela é o tronco de Jessé que havia de dar a flor escolhida, conforme a profecia de Isaías. (Leão Dehon, OSP 4, p. 232s.).

    Actio

    Repete hoje a antífona:
    «Bendita e venerável sois,
    ó Virgem Maria Santa Mãe de Deus» (da Liturgia).

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    Natividade da Virgem Santa Maria (08 Setembro)

  • 24º Domingo do Tempo Comum - Ano C

    24º Domingo do Tempo Comum - Ano C


    11 de Setembro, 2022

    ANO C

    24º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 24º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia deste domingo centra a nossa reflexão na lógica do amor de Deus. Sugere que Deus ama o homem, infinita e incondicionalmente; e que nem o pecado nos afasta desse amor...
    A primeira leitura apresenta-nos a atitude misericordiosa de Jahwéh face à infidelidade do Povo. Neste episódio - situado no Sinai, no espaço geográfico da aliança - Deus assume uma atitude que se vai repetir vezes sem conta ao longo da história da salvação: deixa que o amor se sobreponha à vontade de punir o pecador.
    Na segunda leitura, Paulo recorda algo que nunca deixou de o espantar: o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Esse amor derrama-se incondicionalmente sobre os pecadores, transforma-os e torna-os pessoas novas. Paulo é um exemplo concreto dessa lógica de Deus; por isso, não deixará de testemunhar o amor de Deus e de Lhe agradecer.
    O Evangelho apresenta-nos o Deus que ama todos os homens e que, de forma especial, Se preocupa com os pecadores, com os excluídos, com os marginalizados. A parábola do "filho pródigo", em especial, apresenta Deus como um pai que espera ansiosamente o regresso do filho rebelde, que o abraça quando o avista, que o faz reentrar em sua casa e que faz uma grande festa para celebrar o reencontro.
    LEITURA I - Ex 32,7-11.13-14

    Leitura do Livro do Êxodo

    Naqueles dias,
    O Senhor falou a Moisés, dizendo:
    «Desce depressa,
    porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se.
    Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei.
    Fizeram um bezerro de metal fundido,
    prostraram-se diante dele,
    ofereceram-lhe sacrifícios e disseram:
    'Este é o teu Deus, Israel,
    que te fez sair da terra do Egipto'».
    O Senhor disse ainda a Moisés:
    «Tenho observado este povo:
    é um povo de dura cerviz.
    Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles
    e os destrua.
    De ti farei uma grande nação».
    Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo:
    «Por que razão, Senhor,
    se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo,
    que libertastes da terra do Egipto
    com tão grande força e mão tão poderosa?
    Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel,
    a quem jurastes pelo vosso nome, dizendo:
    'Farei a vossa descendência tão numerosa
    como as estrelas do céu
    e dar-lhe-ei para sempre em herança
    toda a terra que vos prometi'».
    Então o Senhor desistiu do mal
    com que tinha ameaçado o seu povo.

    AMBIENTE

    O texto que nos é proposto está integrado na segunda parte do Livro do Êxodo; aí, apresentam-se as tradições que dizem respeito ao compromisso de amor e de comunhão que Israel aceitou estabelecer com Jahwéh. São as "tradições sobre a aliança" (cf. Ex 19-40).
    O texto situa-nos em frente de um monte, no deserto do Sinai. Em si, o nome "Sinai" designa uma enorme península em forma triangular, com mais ou menos 420 Km de extensão norte/sul, estendendo-se entre o golfo do Suez, no Mediterrâneo e o golfo da Áqaba, no mar Vermelho. A península inteira é um deserto árido, com vegetação escassa (excepto em alguns raros oásis), semeada de montanhas que chegam a atingir os 2400 metros de altitude. As hipóteses de situar exactamente o "monte da aliança" são ténues; no entanto, uma tradição cristã do séc. IV d.C. identifica o "monte da aliança" com o "Gebel Musa" ("monte de Moisés"), uma montanha com 2244 metros de altitude, situada a sul da península sinaítica. Embora a identificação do "monte da aliança" com este lugar seja problemática, o "Gebel Musa" é, ainda hoje, um lugar de peregrinação para judeus e cristãos.
    Seja qual for o lugar da aliança, o facto é que o texto nos situa em frente de um "monte" não identificado da península sinaítica, onde Israel celebrou uma aliança com o seu Deus. Depois de Moisés subir ao monte para receber de Deus as tábuas da Lei (cf. Ex 31,18), o Povo, reunido no sopé da montanha à espera de Moisés, construiu um bezerro de ouro e infringiu, dessa forma, os termos da aliança (cf. Ex 32,1-6).

    MENSAGEM

    O tema fundamental que o texto nos propõe gira à volta da resposta de Deus ao pecado do Povo.
    A primeira parte (vers. 7-10) descreve o pecado do Povo e uma primeira reacção de Deus. Perante a ausência de Moisés no monte sagrado, o Povo constrói um bezerro de oiro. O bezerro de ouro não pretende ser um novo deus, mas uma imagem de Jahwéh ("este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egipto" - vers. 8); de qualquer forma, o Povo "desviou-se do caminho" que Deus lhe havia ordenado, pois infringiu o segundo mandamento do Decálogo (segundo o qual, Israel não devia fazer imagens de Jahwéh: por um lado, o não representar Deus permitia salvaguardar a transcendência de Jahwéh, já que a "imagem" era uma definição de Deus e Deus não pode ser definido pelo homem; por outro lado, a luta contra os deuses e cultos pagãos era impossível se não se proibiam também os seus símbolos e imagens). O pedido de Deus a Moisés ("agora deixa-Me; a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destruí-los-ei; mas farei de ti uma grande nação" - vers. 10) pode ser posto em paralelo com a promessa a Abraão de Gn 12,2: Deus fala de tudo recomeçar com Moisés, como fez com Abraão.
    Na segunda parte (vers. 11-14), descreve-se a intercessão de Moisés e a misericórdia de Deus. O texto começa com a referência a Moisés que "deitou água na fervura" (literalmente: "acalmou a face de Deus" - vers. 11a). As palavras de intercessão de Moisés (vers. 11b-13) não fazem referência aos méritos do Povo, mas à honra de Deus e à sua fidelidade às promessas assumidas para com o Povo no âmbito da aliança.
    A resposta final de Deus (vers. 14) põe em relevo a sua misericórdia. Não são os méritos do Povo que sustêm o castigo; mas é o amor de Deus, a sua lealdade aos compromissos, a sua "justiça" (que é misericórdia, ternura, bondade) que acabam por triunfar. O amor infinito de Deus pelo seu Povo acaba sempre por falar mais alto do que a sua vontade de castigar os desvios e infidelidades.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão do texto, considerar os seguintes elementos:

    • Antes de mais, o texto sublinha a lealdade de Deus para com o seu Povo, a "justiça" que marca a relação de Jahwéh com Israel (entendida como fidelidade aos compromissos assumidos por Deus para com os homens). Fica, aqui, claro que a essência de Deus é esse amor gratuito que Ele derrama gratuitamente sobre os homens, qualquer que seja o seu pecado... Deus ama infinitamente, seja qual for a resposta do homem; e esse amor nunca será desmentido. É à luz desta perspectiva que devemos encarar Deus e a sua relação connosco.

    • O pecado dos israelitas (a construção de uma imagem deturpada de Deus) leva-nos a questionar as imagens que, às vezes, construímos e transmitimos de Deus... O Deus em Quem acreditamos e que testemunhamos, quem é? É o Deus que Se revelou como amor, bondade, misericórdia, ao longo da história da salvação, ou é um Deus vingativo e cruel, que não desculpa as faltas dos homens e que anda à cata de qualquer comportamento faltoso para deixar cair sobre eles a sua cólera e a sua crueldade? Não esqueçamos: testemunhar um Deus vingativo, impositivo, sem coração e sem misericórdia, é fabricar uma falsa imagem de Deus.

    • Atente-se na atitude de Moisés, face à indignação de Deus: intercede pelo Povo e não deixa que a ambição pessoal se sobreponha ao interesse de Israel (de acordo com o texto, Deus propôs-lhe: "deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua; de ti farei uma grande nação"; mas Moisés não aceitou a proposta). A atitude de Moisés é uma atitude "fácil", à luz dos critérios dos homens? Quantas vezes os homens são capazes de "vender a alma ao diabo" para subir, para ter êxito, para chegar a presidir a qualquer coisa? Quantas vezes os homens são capazes de sacrificar os valores mais sagrados para serem conhecidos, famosos, invejados, ou para adquirir uma fatia mais de poder e de influência?
    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 50 (51)

    Refrão: Vou partir e vou ter com meu pai.

    Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
    pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
    Lavai-me de toda a iniquidade
    e purificai-me de todas as faltas.

    Criai em mim, ó Deus, um coração puro
    e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
    Não queirais repelir-me da vossa presença
    e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

    Abri, Senhor, os meus lábios
    e a minha boca anunciará o vosso louvor.
    Sacrifício agradável a Deus é um espírito arrependido:
    não desprezeis, Senhor, um espírito humilhado e contrito.
    LEITURA II - 1 Tim 1,12-17

    Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo

    Caríssimo:
    Dou graças Àquele que me deu força,
    Jesus Cristo, Nosso Senhor,
    que me julgou digno de confiança
    e me chamou ao seu serviço,
    a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento.
    Mas alcancei misericórdia,
    porque agi por ignorância, quando ainda era descrente.
    A graça de Nosso Senhor superabundou em mim,
    com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus.
    É digna de fé esta palavra
    e merecedora de toda a aceitação:
    Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores
    e eu sou o primeiro deles.
    Mas alcancei misericórdia,
    para que, em mim primeiramente,
    Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade,
    como exemplo para os que hão-de acreditar n'Ele,
    para a vida eterna.
    Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único,
    honra e glória pelos séculos dos séculos. Amen.

    AMBIENTE

    O Timóteo aqui referenciado era natural de Listra (Licaónia), filho de pai grego e de mãe judeo-cristã. Aparece no Livro dos Actos como companheiro inseparável de Paulo, a partir da segunda viagem missionária. Paulo teria confiado a Timóteo missões importantes entre os tessalonicenses (cf. 1 Tess 3,2.6) e entre os coríntios (cf. 1 Cor 4,1.17;16,10-11). Ainda muito jovem Timóteo recebeu de Paulo a responsabilidade pastoral das Igrejas da província da Ásia (cf. 1 Tim 4,12). A tradição considera-o como o primeiro bispo de Éfeso.
    Esta carta apresenta-se como escrita por Paulo a Timóteo, quando este está encarregado da animação da Igreja de Éfeso. Contém uma série de instruções que versam, fundamentalmente, sobre três temas: a organização da comunidade, a forma de combater os hereges e a vida cristã dos fiéis. Convém, no entanto, acrescentar que a maior parte dos comentadores não considera esta carta de autoria paulina: a linguagem e a teologia não parecem ser paulinas; e, sobretudo, a carta supõe um modelo de organização eclesial que é dos finais do séc. I d.C. (Paulo teria morrido na perseguição de Nero, por volta de 66/67 d.C.).

    MENSAGEM

    No texto que nos é proposto, Paulo recorda, agradecido, a sua história de vocação. O apóstolo afirma que recebeu de Cristo o seu ministério; e proclama que isso se deve, não aos seus méritos, mas à misericórdia de Deus.
    Paulo tem consciência do seu passado de perseguidor violento da Igreja de Cristo. É verdade que Paulo actuou dessa forma por ignorância; no entanto, isso não o exime de culpa... Apesar desse passado duvidoso, Deus, na sua bondade, cumulou-o da sua graça.
    Paulo reconhece que Cristo "veio ao mundo para salvar os pecadores", entre os quais Paulo se inclui. Pelo exemplo de Paulo, fica evidente a misericórdia e a magnanimidade de Deus, que se derrama sobre todos os homens, sejam quais forem as faltas cometidas. A partir deste exemplo, todos os homens são convidados a tomar consciência da bondade de Deus e a responder-lhe da mesma forma que Paulo: com o dom da vida e com o empenho sério no testemunho desse projecto de amor que Deus tem para oferecer. O profundo reconhecimento que Paulo sente diante da misericórdia com que Deus o distinguiu leva-o a um canto de louvor que, neste texto, apresenta contornos litúrgicos ("ao rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos, amén" - vers. 17).

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão e partilha, considerar as seguintes linhas:

    • Antes de mais, somos convidados a tomar consciência do amor que Deus oferece a todos os homens, sem excepção, sejam quais forem as suas faltas... Foi esse Deus que Paulo experimentou e que testemunhou; é esse, também, o Deus que experimentamos e testemunhamos?

    • Entre os cristãos existe, muitas vezes, a convicção de que a "justiça de Deus" é a aplicação rigorosa da lei; assim, Deus trataria bem os bons, enquanto que castigaria, natural e objectivamente, os maus... A história de Paulo - e a história de tantos homens e mulheres, ao longo dos séculos - é um desmentido desta lógica: o amor de Deus derrama-se sobre todos os homens, mesmo sobre aqueles que têm vidas duvidosas e pecadoras. Bons e maus, a todos Deus ama, sem excepção. E nós? Somos filhos deste Deus e amamos os nossos irmãos, sem distinções? Às vezes ouvem-se - mesmo entre os cristãos - expressões de ódio e de desprezo em relação àqueles que cometem desacatos ou que têm comportamentos que reprovamos... Como conciliar essas atitudes com o exemplo de amor sem restrições que Deus nos oferece?

    • O nosso texto termina com um hino de louvor ao Deus que ama, sem excepções... Sentimo-nos agradecidos a Deus por esse amor nunca desmentido, que se derrama sobre nós, sejam quais forem as circunstâncias?
    ALELUIA - 2 Cor 5,19

    Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo
    e confiou-nos a palavra da reconciliação.
    EVANGELHO - Lc 15,1-32

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    os publicanos e os pecadores
    aproximaram-se todos de Jesus, para O ouvirem.
    Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo:
    «Este homem acolhe os pecadores e come com eles».
    Jesus disse-lhes então a seguinte parábola:
    «Quem de vós, que possua cem ovelhas
    e tenha perdido uma delas,
    não deixa as outras noventa e nove no deserto,
    para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar?
    Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros
    e, ao chegar a casa,
    chama os amigos e vizinhos e diz-lhes:
    'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida'.
    Eu vos digo:
    Assim haverá mais alegria no Céu
    por um só pecador que se arrependa,
    do que por noventa e nove justos,
    que não precisam de arrependimento.
    Ou então, qual é a mulher
    que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma,
    não acende uma lâmpada, varre a casa
    e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar?
    Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes:
    'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida'.
    Eu vos digo:
    Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus
    por um pecador que se arrependa».

    Jesus disse-lhes ainda:
    «Um homem tinha dois filhos.
    O mais novo disse ao pai:
    'Pai, dá-me parte da herança que me toca'.
    O pai repartiu os bens pelos filhos.
    Alguns dias depois, o filho mais novo,
    juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante
    e por lá esbanjou quanto possuía,
    numa vida dissoluta.
    Tendo gasto tudo,
    houve uma grande fome naquela região
    e ele começou a passar privações.
    Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra
    que o mandou para os seus campos guardar porcos.
    Bem desejava ele matar a fome
    com as alfarrobas que os porcos comiam,
    mas ninguém lhas dava.
    Então, caindo em si, disse:
    'Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância,
    e eu aqui a morrer de fome!
    Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
    Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
    Já não mereço ser chamado teu filho,
    mas trata-me como um dos teus trabalhadores'.
    Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.
    Ainda ele estava longe, quando o pai o viu:
    Enchendo-se de compaixão,
    correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
    Disse-lhe o filho:
    'Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
    Já não mereço ser chamado teu filho'.
    Mas o pai disse aos servos:
    'Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha.
    Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.
    Trazei o vitelo gordo e matai-o.
    Comamos e festejemos,
    porque este meu filho estava morto e voltou à vida,
    estava perdido e foi reencontrado'.
    E começou a festa.
    Ora o filho mais velho estava no campo.
    Quando regressou,
    ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
    Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.
    O servo respondeu-lhe:
    'O teu irmão voltou
    e teu pai mandou matar o vitelo gordo,
    porque ele chegou são e salvo'.
    Ele ficou ressentido e não queria entrar.
    Então o pai veio cá fora instar com ele.
    Mas ele respondeu ao pai:
    'Há tantos anos que eu te sirvo,
    sem nunca transgredir uma ordem tua,
    e nunca me deste um cabrito
    para fazer uma festa com os meus amigos.
    E agora, quando chegou esse teu filho,
    que consumiu os teus bens com mulheres de má vida,
    mataste-lhe o vitelo gordo'.
    Disse-lhe o pai:
    'Filho, tu estás sempre comigo
    e tudo o que é meu é teu.
    Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,
    porque este teu irmão estava morto e voltou à vida,
    estava perdido e foi reencontrado'».

    AMBIENTE

    No "caminho para Jerusalém" aparece, em dado momento, uma catequese sobre a misericórdia de Deus... Com efeito, todo o capítulo 15 de Lucas é preenchido com as chamadas "parábolas da misericórdia".
    Trata-se de um tema caro a Lucas. Para este evangelista, Jesus é o Deus que veio ao encontro dos homens para lhes oferecer, em gestos concretos, a salvação. As parábolas da misericórdia expressam, de forma privilegiada, o amor de Deus que se derrama sobre os pecadores.
    A parábola da ovelha perdida - a primeira que o Evangelho de hoje nos propõe - é comum a Lucas e Mateus (cf. Mt 18,12-14), embora em Mateus apareça em contexto diverso: trata-se de material que provém, provavelmente, da "fonte Q" (colecção de "ditos" de Jesus, que Mateus e Lucas utilizaram na composição dos respectivos evangelhos). As parábolas da dracma perdida e do filho pródigo (as outras duas parábolas que completam este capítulo) são exclusivas de Lucas.
    O discurso de Jesus apresentado em Lc 15 é enquadrado, pelo evangelista, numa situação concreta. Ao ver que alguns infractores notórios da moral pública (como os cobradores de impostos) se aproximavam de Jesus e eram acolhidos por Ele, os fariseus e os escribas (que não admitiam qualquer contacto com os pecadores e os desclassificados e até mudavam de passeio para não se cruzar com eles) expressaram a sua admiração por Jesus os acolher e por (atitude inaudita!) Se sentar à mesa com eles (o sentar-se à mesa expressava familiaridade, comunhão de vida e de destinos). É essa crítica que vai provocar o discurso de Jesus sobre a atitude misericordiosa de Deus.

    MENSAGEM

    As três parábolas da misericórdia pretendem, portanto, justificar o comportamento de Jesus para com os publicanos e pecadores. Elas definem a "lógica de Deus" em relação a esta questão.

    A primeira parábola (vers. 4-7) é a da ovelha perdida. Trata-se de uma parábola que, lida à luz da razão, é ilógica e incoerente, pois não é normal abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma; também não faz sentido todo o espalhafato criado à volta de um facto banal como é o reencontro com uma ovelha que se extraviou... Nesses exageros e nessas reacções desproporcionadas revela-se, contudo, a mensagem essencial da parábola... O "deixar as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro da que estava perdida" mostra a preocupação de Deus com cada homem que se afasta da comunidade da salvação; o "pôr a ovelha aos ombros" significa o cuidado e a solicitude de Deus, que trata com cuidado e com amor os filhos que se afastaram e que necessitam de cuidados especiais; a alegria desproporcionada do pastor que encontrou a ovelha mostra a alegria de Deus, sempre que encontra um filho que se afastou da comunhão com Ele.
    A segunda parábola (vers. 8-10) reafirma o ensinamento da primeira. O amor misericordioso e constante de Deus busca aquele que se perdeu e alegra-se quando o encontra. A imagem da mulher preocupada, que varre a casa de cima a baixo, ilustra a preocupação de Deus em reencontrar aqueles que se afastaram da comunhão com Ele. Também aqui há, como na parábola anterior, a referência à alegria do reencontro: essa alegria manifesta a felicidade de Deus diante do pecador que volta.
    A terceira parábola (vers. 11-32) apresenta o quadro de um pai (Deus), em cujo coração triunfa sempre o amor pelo filho, aconteça o que acontecer. Ele continua a amar o filho rebelde e ingrato, apesar da sua ausência, do seu orgulho e da sua auto-suficiência; e esse amor acaba por revelar-se na forma emocionada como recebe o filho, quando ele resolve voltar para a casa paterna. Esta parábola apresenta a lógica de Deus, que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para buscar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar, a esperar ansiosamente o regresso do filho, preparado para o acolher com alegria e amor. É essa a lógica que Jesus quer propor aos fariseus e escribas (os "filhos mais velhos") que, a propósito dos pecadores que tinham abandonado a "casa do Pai", professavam uma atitude de intolerância e de exclusão.
    O que está, portanto, em causa nas três parábolas da misericórdia é a justificação da atitude de Jesus para com os pecadores. Jesus deixa claro que a sua atitude se insere na lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os com amor de Pai... Preocupa-se com eles, vai ao seu encontro, solidariza-Se com eles, estabelece com eles laços de familiaridade, abraça-os com emoção, cuida deles com solicitude, alegra-Se e faz festa quando eles voltam à casa do Pai. Esta é a forma de Deus actuar em relação aos seus filhos, sem excepção; e é essa atitude de Deus que Jesus revela ao acolher os pecadores e ao sentar-Se com eles à mesa. Por muito que isso custe aos fariseus, essa é a lógica de Deus; e todos os "filhos de Deus" devem acolher esta lógica e actuar da mesma forma.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar, na reflexão, os seguintes desenvolvimentos:

    • Essencialmente, as parábolas da misericórdia revelam-nos um Deus que ama todos os seus filhos, sem excepção, mas que tem um "fraco" pelos marginalizados, pelos excluídos, pelos pecadores... O seu amor não é condicional: Ele ama, apesar do pecado e do afastamento do filho. Esse amor manifesta-se em atitudes exageradas, desproporcionadas, de cuidado, de solicitude; revela-se também na "festa" que se sucede a cada reencontro... Não é que Deus pactue com o pecado; Deus abomina o pecado, mas não deixa de amar o pecador. É este Deus - "escandaloso" para os que se consideram justos, perfeitos, irrepreensíveis, mas fascinante e amoroso para todos aqueles que estão conscientes da sua fragilidade e do seu pecado - que somos convidados a descobrir.

    • Se essa é a lógica de Deus em relação aos pecadores, é essa mesma lógica que deve marcar a minha atitude face àqueles que me ofendem e, mesmo, face àqueles que têm vidas duvidosas ou moralmente reprováveis. Como é que eu acolho aqueles que me ofendem, ou que assumem comportamentos considerados reprováveis: com intolerância e fanatismo, ou com respeito pela sua dignidade de pessoas?

    • Face ao aumento da criminalidade e da violência cria-se, por vezes, um clima social de alguma histeria e radicalismo. Exigem-se castigos mais severos e os adeptos das soluções definitivas chegam a falar na pena de morte para certos crimes. Que sentido é que isto faz, à luz da lógica de Deus?

    • Ser testemunha da misericórdia e do amor de Deus no mundo não significa, no entanto, pactuar com o pecado... O pecado - tudo o que gera ódio, egoísmo, injustiça, opressão, mentira, sofrimento - é mau e deve ser combatido e vencido. Distingamos claramente as coisas: Deus convida-me a amar o pecador e a acolhê-lo sempre como um irmão; mas convida-me também a lutar objectivamente contra o mal - todo o mal - pois ele é uma negação desse amor de Deus que eu devo testemunhar.
    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 24º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 24º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. DESENVOLVER O RITO PENITENCIAL.
    O Evangelho deste domingo incide particularmente na caminhada de penitência e de conversão. Esta poderia ser sublinhada no rito penitencial, utilizando a primeira fórmula da recitação do "Confesso a Deus" e cântico do Kyrie: tempo de silêncio após a introdução do rito; tempo de silêncio entre o final de "Confesso a Deus" e a fórmula de conclusão; tempo de silêncio antes da recitação do Kyrie. A seguir, canta-se o "Glória a Deus" para exprimir a alegria da conversão.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    "Deus de Israel, Deus das promessas renovadas e da Aliança fiel, Tu que guiaste Moisés para que ele conduzisse o teu povo fora do Egipto, nós Te bendizemos pela paciência e pelo perdão que nos revelas.
    Nós invocamos o teu perdão para as nossas infidelidades para contigo, para o esquecimento dos teus ensinamentos e para os nossos afastamentos do caminho da vida".

    No final da segunda leitura:
    "Nosso Pai, honra e glória a Ti, Rei dos séculos, Deus único, invisível e imortal, pelos séculos dos séculos. Nós, pecadores, afirmamos o nosso reconhecimento pelo teu perdão, que nos faz levantar todos os dias.
    Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs abatidos pelos seus afastamentos e que duvidam do perdão que Tu concedes a todos os que vêm a Ti".

    No final do Evangelho:
    "Nosso Pai, Tu que fazes bom acolhimento aos pecadores como nós e que nos convidas à mesa do teu Filho, nós Te bendizemos. Alegras-te pela ovelha e pela moeda reencontradas e pelo regresso do filho perdido.
    Nós Te pedimos. Pelo teu Espírito, inspira as nossas intenções. Dá-nos o desejo de voltar para Ti. Partilha connosco a tua alegria pelo regresso dos teus filhos que se afastaram".

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Quando somos incomodados, geralmente recriminamos ou acusamos. Os fariseus e os escribas recriminam Jesus porque acolheu bem os pecadores. O filho mais velho da parábola recrimina o seu pai porque acolhe, com os braços abertos, o filho mais novo. Recriminam porque os seus corações estão fechados, recriminam porque eles próprios não podem acolher. De facto, não estarão eles a recriminar-se a si mesmos? O caminho está em acolher e deixar-se acolher...

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    A parábola do filho pródigo é a mais conhecida das três "parábolas da misericórdia". Mas as duas primeiras dão-nos também uma grande luz. Recordemos que as ovelhas tinham grande importância para o pastor. Não se pode aceitar que ele perdesse uma. Quanto à dracma, era uma soma importante. Basta pensar que uma família inteira podia viver um dia com duas dracmas. Compreende-se que a mulher que a perdeu, tudo faça para a encontrar. Jesus precisa: o pastor procura a sua ovelha perdida "até a encontrar"; a mulher procura a dracma perdida "até a encontrar". Através destas duas personagens, é o Pai que Jesus nos quer mostrar. Eis como o nosso Pai age: diante dos homens que se afastam d'Ele, que vão por caminhos de perdição, Ele parte à sua procura, mas nunca pára esta procura. Quando há um naufrágio, efectuam-se procuras para encontrar as vítimas. Mas, ao fim de um certo tempo, acabam-se estas procuras: já não há mais esperança! Mas não para Deus. Ele vai até ao fim, Ele encontrará de qualquer modo a sua criatura perdida. Mas onde? É na morte, consequência última da recusa do amor, que cai o homem. É na morte que Jesus irá para encontrar a humanidade perdida. E aí, no fundo das nossas trevas, que faz o pastor? Enche-se de cólera, bate na sua ovelha infiel, obriga-a a subir todo o caminho pelos seus próprios meios? Não! Nada disso! Quando a encontra, leva-a aos ombros. Jesus pega o homem aos ombros, poupa-lhe a dificuldade da subida para a luz. Como dizer mais explicitamente a gratuidade da salvação que Ele nos vem trazer? É a mesma luz do Pai que acolhe o seu filho sem nada lhe pedir, que lhe dá gratuitamente a sua dignidade de homem livre o seu lugar de filho, como se nada se tivesse passado. Como não transbordar de alegria diante de um tal Deus?

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística I para a Reconciliação. As orações que precedem a consagração referem-se aos temas do Evangelho.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO...
    Entrar na alegria do nosso Pai... No Evangelho de hoje, Lucas oferece-nos três parábolas para nos falar da Misericórdia de Deus nosso Pai: a ovelha perdida, a moeda perdida, o filho pródigo. Ser beneficiários deste perdão pleno de amor do nosso Pai é o desejo de todos nós. Mas não nos acontece, tal como o filho mais velho, considerar que alguns dos nossos irmãos são imperdoáveis e, por vezes, acolher com cólera sanções da justiça que nos parecem demasiado clementes? Vamos recusar entrar na alegria do nosso Pai, que Se compraz a conceder a sua graça?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

     

  • Exaltação da Santa Cruz

    Exaltação da Santa Cruz


    14 de Setembro, 2022

    Foi na Cruz que Jesus consumou a sua oblação de amor para glória e alegria de Deus e nossa salvação. É, pois, justo que veneremos o sinal e o instrumento da Redenção.

    Esta festa nasceu em Jerusalém e difundiu-se por todo o Médio Oriente, onde ainda hoje é celebrada, em paralelo com a Páscoa. A 13 de Setembro foi consagrada a Basílica da Ressurreição, em Jerusalém mandada construir por Santa Helena e Constantino. No dia seguinte, foi explicado ao povo o significado profundo da igreja, mostrando-lhe o que restava da Cruz do Salvador. No século VI esta festa em honra da Santa Cruz já era conhecida em Roma. Em meados do século VII, começou a ser celebrada no dia 14 de Setembro, quando se expunham à veneração dos fiéis as relíquias da Santa Cruz.

    Lectio

    Primeira leitura: Números 21, 4b-9

    Naqueles dias, o povo de Israel impacientou e falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes sair do Egipto? Foi para morrer no deserto, onde não há pão nem água, estando enjoados com este pão levíssimo?» 6Mas o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes, que mordiam o povo, e por isso morreu muita gente de Israel. 7O povo foi ter com Moisés e disse-lhe: «Pecámos ao protestarmos contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor para que afaste de nós as serpentes.» E Moisés intercedeu pelo povo. 😯 Senhor disse a Moisés: «Faz para ti uma serpente abrasadora e coloca-a num poste. Sucederá que todo aquele que tiver sido mordido, se olhar para ela, ficará vivo.» 9Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, vivia.

    Nos capítulos 20-21 dos Números são narradas as últimas peripécias dos hebreus no deserto, antes da entrada na terra prometida. O povo murmura porque não tem o que deseja; revolta-se, não suporta o cansaço do caminho (v. 2) por causa da fome e da sede (v. 5). Já não é capaz de reconhecer o poder de Deus, já não tem fé no Senhor que agora vê como Aquele que lhe envenena a vida. Deus manifesta o seu juízo de castigo em relação ao povo, mandando serpentes venenosas (v. 6). Na experiência da morte, os hebreus reconhecem o pecado cometido contra Deus e pedem perdão. E, tal como a mordedura da serpente era letal, assim, agora, a imagem de bronze erguida sobre um poste torna-se motivo de salvação física para quem for mordido.
    S. João reconhece na serpente de bronze erguida no deserto por Moisés a prefiguração profética da elevação do Filho do homem crucificado.

    Evangelho: João 3, 13-17

    Naquele tempo, Jesus disse a Nicodemos: 3Ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem. 14Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, 15a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna. 16Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. 17De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.

    O texto do evangelho faz parte do longo discurso com que Jesus responde a Nicodemos, apontando a necessidade da fé para obter a vida eterna e fugir ao juízo de condenação. Jesus, o Filho do homem (v. 13), provém do seio do Pai; é aquele que «desceu do Céu» (v. 13), o único que viu a Deus e pode comunicar o seu projeto de amor, que se realiza na oblação do Filho unigénito. Jesus compara-se à serpente de bronze (cf. Nm 21, 4-9), afirmando que a plena realização do que aconteceu no deserto irá verificar-se quando Ele for elevado na cruz (v. 14) para salvação do mundo (v. 17). Quem olhar para Ele com fé, isto é, quem acreditar que Cristo crucificado é o Filho de Deus, o salvador, terá a vida eterna. Acolhendo n´Ele o dom de amor do Pai, o homem passa da morte do pecado à vida eterna. No horizonte deste texto, transparece o cântico do "Servo de Javé" (cf. Is 52, 13ss.), onde encontramos juntos os verbos "elevar" e "glorificar". Compreende-se, portanto, que S. João quer apresentar a cruz, ponto supremo de ignomínia, como vértice da glória.

    Meditatio

    Jesus veio dar cumprimento à história do povo hebreu e à nossa história. Verificamo-lo todas as vezes que lemos a palavra de Deus. De facto, como Ele mesmo afirma, não veio abolir, mas dar pleno cumprimento à Lei. Jesus é Aquele que desceu do céu, Aquele que conhece o Pai, e que está em íntima união com Ele: "Eu e o Pai somos Um" (Jo 10, 30). Jesus é enviado pelo Pai para revelar o mistério da salvação, o mistério de amor que se há-de realizar com a sua morte na cruz. Jesus crucificado é a suprema manifestação da glória de Deus. Por isso, a cruz torna-se símbolo de vitória, de dom, de salvação, de amor. Tudo o que podemos entender com a palavra "cruz" - o sofrimento, a injustiça, a perseguição, a morte - é incompreensível se for olhado apenas com olhos humanos. Mas, aos olhos da fé e do amor, tudo aparece como meio de conformidade com Aquele que nos amou por primeiro. Então, o sofrimento não é vivido como fim em si mesmo, mas como participação no mistério de Deus, caminho que leva à salvação.
    Só se acreditamos em Cristo crucificado, isto é, se nos dispomos a acolher o mistério de Deus que incarna e dá a vida por todos; só se nos pomos diante da vida com humildade, livres para nos deixar amar e, por nossa vez, tornar-nos dom de amor aos irmãos, saberemos receber a salvação: participaremos na vida divina de amor. Celebrar a festa da Exaltação da Santa Cruz significa tomar consciência do amor de Deus Pai, que não hesitou em enviar-nos o seu Filho, Jesus Cristo: esse Filho que, despojado do seu esplendor divino, se tornou semelhante aos homens, deu a vida na cruz por cada um dos seres humanos, crente ou não crente (cf. Fil, 2, 6-11). A Cruz torna-se o espelho em que, refletindo a nossa imagem, podemos reencontrar o verdadeiro significado da vida, as portas da esperança, o lugar da renovada comunhão com Deus.
    Como dizem as nossas Constituições, "Do Coração de Cristo, aberto na cruz, nasce o homem de coração novo, animado pelo Espírito e unido aos seus irmãos na comunidade de amor, que é a Igreja" (n. 3).
    O Pe. Dehon adere, com toda a sua vida, ao "amor de Cristo que aceita a morte" e é trespassado na Cruz. Ele experimenta esse amor, não tanto intelectualmente, mas sobretudo com o coração, e manifesta-o e derrama-o nos irmãos, com a sua bondade. Todos o chamam o "Très bon Père".
    Ao contemplar o amor de Cristo que dá "a vida pelos homens" até morrer pela sua "salvação", em "obediência filial ao Pai", na cruz, o Pe. Dehon aprende que o único verdadeiro amor é o amor oblativo. O "Coração de Cristo, aberto na cruz" é a própria fonte do amor oblativo. E a oblação de amor, entendida como imolação, é, para o Pe. Dehon, "a própria fonte da salvação"(Cst 3), é a força do nosso apostolado (cf. Cst 5), é a alma da nossa santidade "para Glória e Alegria de Deus" (Cst 25; cf. Cst 35-39).
    "Do Coração de Cristo, aberto na cruz, nasce o homem de coração novo, animado pelo Espírito" (Cst 3). Este nascimento, preanunciado a Nicodemos (cf. Jo 3, 3.5), realizou-se na transfixão do Lado, onde a água que brota de Cristo é sinal do dom do Espírito, do Batismo, do nascimento da Igreja e, na Igreja, de cada um de nós.

    Oratio

    Divino Coração de Jesus, Tu amaste e quiseste a cruz, como nos mostras nas chamas do teu amor; não tinhas modo mais forte de nos dizer que devemos amá-la. Abraço a tua cruz. Quero carregá-la hoje e todos os dias, praticando a regra, obedecendo, trabalhando e suportando as provações que vierem. (Pe. Dehon, OSP 4, p. 254)

    Contemplatio

    Esta festa mostra-nos o valor do sinal da cruz. É o sinal da salvação... A cruz fala a Deus, apresenta-lhe tudo o que Nosso Senhor sofreu por nós. Mas a cruz é também símbolo da penitência, da reparação, do sacrifício. A cruz coroou a vida de Nosso Senhor, que foi totalmente passada na humildade, no desapego, no desprezo pelos prazeres terrestres, e na expiação dos nossos pecados. A cruz fala às nossas almas, como um sinal sagrado, como um estandarte eloquente. Ela tornou-se o sinal do cristão. Ela indica o carácter da nossa vida. Somos cruzados, somos marcados pela luta e pelo sacrifício. Uma obra não é verdadeiramente cristã se não for marcada pela cruz. As nossas ações serão santas se tiverem esse sinal, se forem feitas em espírito de humildade, de penitência, de reparação. As nossas iniciativas serão abençoadas por Deus se forem marcadas pela cruz e, sendo preciso, será o próprio Deus a marcá-las com alguma provação, sobretudo se se tratar de uma obra importante. (Leão Dehon, OSP 4, p. 254).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «Quem acreditar em Jesus elevado na cruz,
    terá a vida eterna» (cf. Jo 3, 15)

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    Exaltação da Santa Cruz (14 Setembro)

  • Nossa Senhora das Dores

    Nossa Senhora das Dores


    15 de Setembro, 2022

    A devoção a Nossa Senhora das Dores remonta aos inícios do segundo milénio, quando se desenvolveu a com-paixão para com Maria junto à cruz de Jesus, onde a Virgem vive e sente os sofrimentos do seu Filho. O primeiro formulário litúrgico desta festa surgiu em Colónia, na Alemanha, no ano de 1423. Sisto IV inseriu no Missal Romano a memória da Senhora da Piedade. A atenção à "Mãe dolorosa" desenvolve-se gradualmente sob a forma das Sete Dores, representadas nas sete espadas que Lhe trespassam o peito. Os Servos de Maria, que celebravam a memória desde 1668, favoreceram a sua extensão à igreja latina, em 1727. Pio X colocou a memória no dia 15 de Setembro.

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 5, 7-9
    Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. 8Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu 9e, tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna.

    Numa memória da Virgem Maria, a liturgia oferece-nos este texto claramente cristológico retirado de um contexto em que é sublinhada a filiação divina e a identidade sacerdotal de Cristo. Mas o Filho de Deus, que foi liberto da morte e do sofrimento, através dos quais foi tornado perfeito, é também filho de Maria. Os sofrimentos e a morte fazem parte da condição humana. Maria não foi isenta deles, apesar de mãe de Deus. Como Cristo, Maria «aprendeu a obediência». Cristo obedeceu em tudo. O seu alimento era fazer a vontade do Pai. Foi a atitude fundamental da sua vida ("Eis-me aqui!"), marcada por tantas alegrias, mas também por tantos sofrimentos. Foi também a atitude fundamental de Maria ("Eis a serva do Senhor"). A vontade de Deus levou-a até ao Calvário, solidária com Jesus: "Estava a mãe dolorosa junto da Cruz lacrimosa donde pendia o Filho".

    Evangelho: Lucas 2, 33-35

    Naquele tempo, o pai e mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que se dizia dele.34Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.

    Este breve texto está no centro do relato da «apresentação de Jesus ao templo», onde é levado pelos pais, conforme prescrevia a Lei para os primogénitos. A «espada», que trespassa a alma e atinge o coração, preanuncia os sofrimentos e as dores que Maria havia de passar. Mas, à luz de Hebreus 4, 12, a palavra espada também representa a Palavra de Deus, que, tanto Cristo como a sua Mãe, escutaram, e à qual prestaram total obediência, mesmo quando foi preciso enfrentar o sofrimento e a morte.

    Meditatio

    Vivemos num mundo onde a compaixão faz imensa falta. A memória que hoje celebramos ensina-nos a compaixão verdadeira e consistente. Maria sofre por Jesus, mas também sofre com Ele. Por sua vez, a paixão de Cristo é participação no sofrimento humano, é com-paixão solidário connosco.
    A carta aos hebreus faz-nos entrever os sentimentos de Jesus na sua paixão: "Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte" (v. 7). A paixão de Jesus foi impressa no coração da Mãe. O clamor e as lágrimas do Filho fizeram-na sofrer de forma atroz. Como Jesus, e talvez até mais do que Ele, desejava que a morte se afastasse, e o Filho fosse salvo. Mas, ao mesmo tempo, Maria uniu-se à piedade de Jesus, submeteu-se, como Ele, à vontade do Pai.
    Por tudo isto, a compaixão de Maria é verdadeira: carregou realmente sobre si o sofrimento do Filho e aceitou, com Ele, a vontade do Pai, numa atitude de obediência que vence o sofrimento.
    A nossa compaixão, muitas vezes, é superficial. Não temos a fé de Maria. Nem sempre vemos no sofrimento dos outros a vontade de Deus, o que está certo. Mas também não sofremos com os que sofrem.
    As leituras de hoje fazem-nos pensar no sofrimento, que continua a ser uma realidade na história individual e coletiva da humanidade, mas que, de certo modo, também existe no mundo divino. Foi, de fato, assumido por Deus na Incarnação do Filho, e partilhado pela sua Mãe, uma mulher ao mesmo tempo comum e especial. A sua experiência de sofrimento humano, pode subtrair esse mesmo sofrimento à maldição e torná-lo mediação de vida salva e serviço de amor.

    Oratio

    Ó Maria, Mãe de Deus, Rainha e Mãe dos homens, eu vos ofereço as homenagens da minha veneração e do meu amor filial. Quero viver como vosso filho dedicado, consolando-vos e obedecendo-vos em tudo. Pela vossa poderosa intercessão, fazei que todos os meus pensamentos e ações sejam conformes à vossa vontade e à do vosso divino Filho. (Leão Dehon, OSP 4, p. 338).

    Contemplatio

    Enquanto permanecestes com o vosso divino Filho, ó Rainha dos Anjos, o vosso Coração sagrado esteve à espera das dores que vos tinham sido anunciadas pelo velho Simeão: dores sem igual, porque a grandeza do vosso amor era a sua medida. A hora da Paixão chega: Jesus despede-se de vós para ir sofrer, e faz-vos compreender que, para cumprir a vontade de seu Pai, deveis acompanhá-lo ao pé da cruz, e que o vosso coração tão terno lá será trespassado pela espada da dor. S. João vem advertir-vos que o Cordeiro divino vai ser conduzido à imolação. Saís imediatamente da vossa morada, banhando com as vossas lágrimas as ruas de Jerusalém; encontrais o vosso Filho no meio de uma tropa furiosa de carrascos e de tigres, que rugem e blasfemam, pedindo a grandes gritos que o crucifiquem... Ele caminha carregado com o madeiro da cruz; vós o seguis, toda banhada com as vossas lágrimas e com o coração mergulhado numa dor imensa.
    Ele chega finalmente ao Gólgota. Com golpes de martelo enterram nos seus pés e nas suas mãos cravos que perfuram o vosso coração materno. Logo o elevam da terra no meio de blasfémias. Ó meu Deus! Todo o vosso sangue gela nas vossas veias. Durante três horas, permaneceis ao pé da cruz de Jesus, cravada pelo amor e pela dor a esta árvore sagrada, até finalmente Ele expira no meio dos mais horríveis tormentos... Depositam-no sem vida nos vossos braços. A terra nunca viu semelhante dor. (Leão Dehon, OSP 4, p. 261s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores»

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    Nossa Senhora das Dores (15  Setembro)

  • 25º Domingo do Tempo Comum - Ano C

    25º Domingo do Tempo Comum - Ano C


    18 de Setembro, 2022

    ANO C
    25º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 25º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia sugere-nos, hoje, uma reflexão sobre o lugar que o dinheiro e os outros bens materiais devem assumir na nossa vida. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, os discípulos de Jesus devem evitar que a ganância ou o desejo imoderado do lucro manipulem as suas vidas e condicionem as suas opções; em contrapartida, são convidados a procurar os valores do "Reino".
    Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia os comerciantes sem escrúpulos, preocupados em ampliar sempre mais as suas riquezas, que apenas pensam em explorar a miséria e o sofrimento dos pobres. Amós avisa: Deus não está do lado de quem, por causa da obsessão do lucro, escraviza os irmãos. A exploração e a injustiça não passam em claro aos olhos de Deus.
    O Evangelho apresenta a parábola do administrador astuto. Nela, Jesus oferece aos discípulos o exemplo de um homem que percebeu como os bens deste mundo eram caducos e precários e que os usou para assegurar valores mais duradouros e consistentes... Jesus avisa os seus discípulos para fazerem o mesmo.
    Na segunda leitura, o autor da Primeira Carta a Timóteo convida os crentes a fazerem do seu diálogo com Deus uma oração universal, onde caibam as preocupações e as angústias de todos os nossos irmãos, sem excepção. O tema não se liga, directamente, com a questão da riqueza (que é o tema fundamental da liturgia deste domingo); mas o convite a não ficar fechado em si próprio e a preocupar-se com as dores e esperanças de todos os irmãos, situa-nos no mesmo campo: o discípulo é convidado a sair do seu egoísmo para assumir os valores duradouros do amor, da partilha, da fraternidade.

    LEITURA I - Am 8,4-7

    Leitura da Profecia de Amos

    Escutai bem, vós que espezinhais o pobre
    e quereis eliminar os humildes da terra.
    Vós dizeis:
    «Quando passará a lua nova,
    para podermos vender o nosso grão?
    Quando chegará o fim de sábado,
    para podermos abrir os celeiros de trigo?
    Faremos a medida mais pequena,
    aumentaremos o preço,
    arranjaremos balanças falsas.
    Compraremos os necessitados por dinheiro
    e os indigentes por um par de sandálias.
    Venderemos até as cascas do nosso trigo».
    Mas o Senhor jurou pela glória de Jacob:
    «Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».

    AMBIENTE

    Amós, o "profeta da justiça social", exerceu o seu ministério profético no reino do Norte (Israel) em meados do séc. VIII a.C., durante o reinado de Jeroboão II. É uma época de prosperidade económica e de tranquilidade política: as conquistas de Jeroboão II alargaram consideravelmente os limites do reino e permitiram a entrada de tributos dos povos vencidos; o comércio e a indústria (mineira e têxtil) desenvolveram-se significativamente... As construções da burguesia urbana atingiram um luxo e magnificência até então desconhecidos.
    A prosperidade e o bem-estar das classes favorecidas contrastavam, porém, com a miséria das classes baixas. O sistema de distribuição estava nas mãos de comerciantes sem escrúpulos que, aproveitando o bem-estar económico, especulavam com os preços. Com o aumento dos preços dos bens essenciais, as famílias de menores recursos endividavam-se e acabavam por se ver espoliadas das suas terras em favor dos grandes latifundiários. A classe dirigente, rica e poderosa, dominava os tribunais e subornava os juízes, impedindo que o tribunal fizesse justiça aos mais pobres e defendesse os direitos dos menos poderosos.
    É neste contexto que aparece o profeta Amós. Natural de Técua (uma pequena aldeia situada no deserto de Judá), Amós não é profeta profissional; mas, chamado por Deus, deixa a sua terra e parte para o reino vizinho para gritar à classe dirigente a sua denúncia profética. A rudeza do seu discurso, aliada à integridade e afoiteza da sua fé, traz algo do ambiente duro do deserto e contrasta com a indolência e o luxo da sociedade israelita da época.

    MENSAGEM

    O oráculo que nos é proposto é uma denúncia das actividades desses que "espezinham o pobre" e querem "eliminar os humildes da terra". Quem são, em concreto, esses que o profeta denuncia?
    Trata-se de comerciantes sem escrúpulos, dominados pelo espírito do lucro, em cujos olhos só brilham cifrões. Eles compram aos agricultores os produtos da terra a preços irrisórios e revendem-nos aos pobres a preços exorbitantes, especulando com as necessidades dos humildes; roubam os clientes pobres, usando pesos, medidas e balanças falsas; aldrabam a qualidade dos produtos, misturando as cascas com o trigo; nos dias de sábado e de lua nova (dias sagrados, em que as actividades lucrativas eram suspensas), em lugar de se preocuparem com o louvor de Deus, eles estão ansiosos por recomeçarem os seus negócios de especulação e de exploração do pobre, a fim de aumentarem os seus lucros.
    Que é que Deus tem a ver com isto? Tudo isto configura uma violação grosseira dos mandamentos da aliança. Jahwéh não está disposto a ser cúmplice da injustiça e da exploração do pobre. Qualquer crime cometido contra os pobres é um crime contra Deus... Por isso, Amós anuncia que Deus não esquece (quer dizer, não deixa passar em claro) este comportamento; ora, dizer que Deus não esquece significa que Deus vai intervir e acabar com a exploração e a injustiça. A fórmula solene de juramento ("o Senhor jura pelo orgulho de Jacob" - vers. 7) exprime o carácter irrevogável da decisão de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para reflectir, considerar as seguintes questões:

    • Os esquemas de exploração descritos por Amós não são uma infeliz recordação de um passado que não volta; pelo contrário, trata-se de uma realidade que os pobres dos nossos dias conhecem bem... A única coisa que é diferente é a sofisticação das técnicas utilizadas pelos maníacos do lucro. De resto, especula-se com bens de primeira necessidade, que as multinacionais vendem a preços exorbitantes (basta pensar naquilo que se passa em relação a certos medicamentos, indispensáveis para combater certas doenças e que são vendidos a peso de ouro aos países do quarto mundo); basta pensar na publicidade, que gera necessidades nos pobres, que lhes promete paraísos ilusórios, que os leva a endividarem-se até porem em causa o seu futuro; basta pensar nos produtos adulterados, impróprios, que são introduzidos pelos especuladores na cadeia alimentar e que põem em causa a saúde pública e a vida das pessoas...

    • Amós garante: Deus não esquece este quadro e não pactua com quem explora as necessidades dos outros, a miséria, o sofrimento, a ignorância. Na realidade, o nosso Deus não suporta a injustiça e a opressão. Ele não está do lado dos opressores, mas dos oprimidos; e qualquer crime contra o irmão é um crime contra Deus. Se há entre os cristãos quem explora estes esquemas desumanos de lucro, quem oprime e explora os pobres (embora ao domingo vá à missa, faça parte do conselho económico da paróquia e dê quantias significativas para as obras da Igreja), convém que tenha isto em conta.

    • Que podemos fazer para denunciar estes esquemas desumanos? Hoje fala-se cada vez mais em boicotar os produtos de certas multinacionais que se distinguem pelo seu envolvimento em questões injustas... Não será um caminho possível? Somos sensíveis a estas questões e estaremos dispostos a dar o nosso contributo? A Igreja não devia ter uma voz clara e firme (tão clara e tão firme como a que usa para denunciar outras situações, nem sempre tão graves) para gritar aos homens que a exploração e o lucro desmedido não fazem parte do projecto de Deus?

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 112 (113)

    Refrão 1: Louvai o Senhor, que levanta os fracos.

    Refrão 2: Louvai o Senhor, que exalta os humildes.

    Refrão 3: Aleluia.

    Louvai, servos do Senhor,
    louvai o nome do Senhor.
    Bendito seja o nome do Senhor,
    agora e para sempre.

    O Senhor domina sobre todos os povos,
    a sua glória está acima dos céus.
    Quem se compara ao Senhor nosso Deus, que tem o seu trono nas alturas
    e Se inclina lá do alto a olhar o céu e a terra.

    Levanta do pó o indigente
    e tira o pobre da miséria,
    para o fazer sentar com os grandes,
    com os grandes do seu povo.

    LEITURA II - 1 Tim 2,1-8

    Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo

    Caríssimo:
    Recomendo, antes de tudo,
    que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças
    por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades,
    para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica,
    com toda a piedade e dignidade.
    Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador;
    Ele quer que todos os homens se salvem
    e cheguem ao conhecimento da verdade.
    Há um só Deus
    e um só mediador entre Deus e os homens,
    o homem Jesus Cristo,
    que Se entregou à morte pela redenção de todos.
    Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo
    e do qual fui constituído arauto e apóstolo
    – digo a verdade, não minto –
    mestre dos gentios na fé e na verdade.
    Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte,
    erguendo para o Céu as mãos santas,
    sem ira nem contenda.

    AMBIENTE

    Continuamos a ler a Primeira Carta a Timóteo. Recordamos aquilo que já dissemos no passado domingo: este Timóteo, nascido em Listra, de pai grego e de mãe judeo-cristã, é um companheiro inseparável de Paulo, a quem Paulo confiou importantes missões e a quem encarregou da responsabilidade pastoral das Igrejas da Ásia Menor. Segundo a tradição, foi o primeiro bispo da comunidade cristã de Éfeso.
    Esta carta - já o dissemos, também, no passado domingo - dificilmente provirá de Paulo (a linguagem, o estilo, a teologia sugerem que este texto está longe de Paulo; além disso, há um factor mais decisivo: esta carta apresenta um modelo de organização da Igreja que é, claramente, posterior a Paulo); no entanto, apresenta-se como escrita por Paulo a Timóteo, instruindo-o acerca da forma de organizar a comunidade cristã e a vida cristã dos fiéis.

    MENSAGEM

    Nos versículos que hoje nos são propostos, o autor da carta dá a Timóteo normas sobre a oração litúrgica. Começa com um convite a rezar por todos os homens (vers. 1), particularmente pelos que estão investidos de autoridade: deles depende o bem-estar social e a paz, condições necessárias para que os cristãos possam viver com tranquilidade, na fidelidade à sua fé (vers. 2).
    De resto, a oração dos cristãos deve ser universal, pois é universal a proposta da salvação que Deus oferece: todos - judeus e gregos, escravos e livres, homens e mulheres, maus e bons - são convidados por Deus a fazer parte da comunidade da salvação (vers. 3-4). Duas razões apoiam este universalismo: a unicidade de Deus, criador de todos e a mediação universal de Cristo, que derramou o seu sangue por todos... A propósito, o autor da carta insere uma fórmula (vers. 5-6a) que parece reproduzir uma confissão de fé, em uso na comunidade primitiva, e que proclama essas verdades (há um só Deus, e Cristo - o único mediador entre Deus e os homens - trouxe, pela sua morte, a redenção a todos).
    Dando-Se em redenção por todos, Jesus deu testemunho do projecto de salvação que Deus tem e que se destina a todos os homens; e Paulo sente que foi escolhido por Deus para continuar a anunciar aos homens esse testemunho que Jesus deu (vers. 6b-7).
    O texto termina com um apelo a que esta oração universal se faça em todo o lugar onde o Evangelho é anunciado, "erguendo para o céu as mãos santas, sem cólera nem disputa" (vers. 8) - o que pode fazer referência a uma condição que, na perspectiva de Jesus, era necessária para rezar: estar em paz com todos, estar verdadeiramente reconciliado com os irmãos ("se fores apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai, primeiro, reconciliar-te com o teu irmão; depois volta, para apresentar a tua oferta" - Mt 5,23-24).

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e partilha podem fazer-se a partir das seguintes linhas:

    • O autor da Primeira Carta a Timóteo deixa claro que a oração não pode ser a expressão de uma vida vivida em "circuito fechado", em que o crente apresenta a Deus, exclusivamente, os seus problemas, as suas questões, os seus desejos, os seus pedidos, e em que, eventualmente, lembra a Deus aqueles que lhe são próximos; mas a oração tem de ser a expressão da comunhão e da solidariedade do crente com todos os irmãos espalhados pelo mundo inteiro - conhecidos e desconhecidos, amigos e inimigos, bons e maus, negros e brancos... Todo o crente, no seu diálogo com Deus, tem de deixar transparecer a ilimitada capacidade de amar e de ser solidário com todos os homens. É assim a nossa oração?

    • A oração só faz sentido se for a expressão de uma vida de comunhão - comunhão com Deus e comunhão com os irmãos. Portanto, não é impossível rezar e, ao mesmo tempo, cultivar sentimentos de ódio, de intolerância, de racismo, de divisão. Como me situo face a isto?

    • Também fica claro, neste texto, que a salvação não é monopólio ou privilégio de alguns, mas um dom universal que Deus oferece a todos os homens, sem excepção. Esta universalidade acentua a nossa ligação a todos os homens, a nossa solidariedade com todos. Sinto-me, verdadeiramente, irmão de todos, responsável por todos? As dores e as esperanças de todos os homens - mesmo aqueles que eu nunca vi - são as minhas dores e esperanças?

    ALELUIA - 2 Cor 8,9

    Aleluia. Aleluia

    Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre,
    para nos enriquecer na sua pobreza.

    EVANGELHO - Lc 16,1-13

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    EVANGELHO - Lc 16,1-13

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos seus discípulos:
    «Um homem rico tinha um administrador,
    que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens.
    Mandou chamá-lo e disse-lhe:
    'Que é isto que ouço dizer de ti?
    Presta contas da tua administração,
    porque já não podes continuar a administrar'.
    O administrador disse consigo:
    'Que hei-de fazer,
    agora que o meu senhor me vai tirar a administração?
    Para cavar não tenho força,
    de mendigar tenho vergonha.
    Já sei o que hei-de fazer,
    para que, ao ser despedido da administração,
    alguém me receba em sua casa'.
    Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao primeiro:
    'Quanto deves ao meu senhor?'.
    Ele respondeu: 'Cem talhas de azeite'.
    O administrador disse-lhe:
    'Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve cinquenta'.
    A seguir disse a outro: 'E tu quanto deves?'.
    Ele respondeu: 'Cem medidas de trigo'.
    Disse-lhe o administrador:
    'Toma a tua conta e escreve oitenta'.
    E o senhor elogiou o administrador desonesto,
    por ter procedido com esperteza.
    De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz,
    no trato com os seus semelhantes.
    Ora Eu digo-vos:
    Arranjai amigos com o vil dinheiro,
    para que, quando este vier a faltar,
    eles vos recebam nas moradas eternas.
    Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes;
    e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes.
    Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro,
    quem vos confiará o verdadeiro bem?
    E se não fostes fiéis no bem alheio,
    quem vos entregará o que é vosso?
    Nenhum servo pode servir a dois senhores,
    porque, ou não gosta de um deles e estima o outro,
    ou se dedica a um e despreza o outro.
    Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

    AMBIENTE

    O Evangelho que nos é proposto apresenta-nos mais um passo do "caminho para Jerusalém". Desta vez, Jesus não Se dirige aos fariseus, mas aos discípulos e, através deles, aos crentes de todos os tempos... Com uma história que apresenta contornos de caso real, tirado da vida, Jesus instrui os discípulos acerca da forma como se hão-de situar face aos bens deste mundo.

    MENSAGEM

    A mensagem essencial aqui apresentada gira, portanto, à volta da sábia utilização dos bens deste mundo: eles devem servir para garantir outros bens, mais duradouros.
    Na primeira parte do nosso texto (vers. 1-9) apresenta-se a parábola de um administrador sagaz. A parábola conta-nos a história de um homem que é acusado de administrar de forma incompetente (possivelmente desonesta) os bens do patrão. Chamado a contas e despedido, este homem tem a preocupação de assegurar o futuro. Chama os devedores do patrão e reduz-lhes consideravelmente as quantias em dívida. Dessa forma - supõe ele - os devedores beneficiados não esquecerão a sua generosidade e, mais tarde, manifestar-lhe-ão a sua gratidão e acolhê-lo-ão em sua casa. Como justificar o proceder deste administrador, que assegura o futuro à custa dos bens do seu senhor? Porque é que o senhor, prejudicado nos seus interesses, não tem uma palavra de reprovação ao inteirar-se do prejuízo recebido? Como pode Jesus dar como exemplo aos discípulos as aldrabices de um tal administrador?
    Estas dificuldades desaparecem se entendemos esta história tendo em conta as leis e costumes da Palestina nos tempos de Jesus. O administrador de uma propriedade actuava em nome e em lugar do seu senhor; como não recebia remuneração, podia ressarcir-se dos seus gastos a expensas dos devedores.
    Habitualmente, ele fornecia um determinado número de bens, mas o devedor ficava a dever muito mais; a diferença era a "comissão" do administrador. Deve ser isso que serve de base à nossa história... Dos cem "baths" de azeite (uns 3.700 litros) consignados no recibo (vers. 6), só uns cinquenta haviam sido, na realidade, emprestados; os outros cinquenta constituíam o reembolso dos gastos do administrador e a exorbitante "comissão" que lhe devia ser paga pela operação. Provavelmente, o que este administrador sagaz fez foi renunciar ao lucro que lhe era devido, a fim de assegurar a gratidão dos devedores: renunciou a um lucro imediato, a fim de assegurar o seu futuro. Este administrador (se ele é chamado "desonesto" - vers. 8 - não o é por este gesto, mas pelos actos anteriores, que até levaram o patrão a despedi-lo) é um exemplo pela sua habilidade e sagacidade: ele sabe que o dinheiro tem um valor relativo e troca-o por outros valores mais significativos - a amizade, a gratidão. Jesus conclui a história convidando os discípulos a serem tão hábeis como este administrador (vers. 9): os discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro (o que, na lógica de Jesus, tem a ver com os valores do "Reino").
    Na segunda parte do texto (vers. 10-13), Lucas apresenta-nos uma série de "sentenças" de Jesus sobre o uso do dinheiro (originariamente, estas "sentenças" não tinham nada a ver com o contexto desta parábola). No geral, essas "sentenças" avisam os discípulos para o bom uso dos bens materiais: se sabemos utilizá-los tendo em conta as exigências do "Reino", seremos dignos de receber o verdadeiro bem, quando nos encontrarmos definitivamente com o Senhor ressuscitado. O nosso texto termina com um aviso de Jesus acerca da deificação do dinheiro (vers. 13): Deus e o dinheiro representam mundos contraditórios e procurar conjugá-los é impossível... Os discípulos são, portanto, convidados a fazer a sua opção entre um mundo de egoísmo, de interesses mesquinhos, de exploração, de injustiça (dinheiro) e um mundo de amor, de doação, de partilha, de fraternidade (Deus e o "Reino"). Onde é que estão, aqui, os valores eternos e duradouros?

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e partilha podem considerar as seguintes linhas:

    • O mundo em que vivemos decidiu que o dinheiro é o deus fundamental e que tudo deixa de ter importância, desde que se possam acrescentar mais uns números à conta bancária. Para ganhar mais dinheiro, há quem trabalhe doze ou quinze horas por dia, num ritmo de escravo, e prescinda da família e dos amigos; por dinheiro, há quem sacrifique a sua dignidade e apareça a expor, diante de uma câmara de televisão, a sua intimidade e a sua privacidade; por dinheiro, há quem venda a sua consciência e renuncie a princípios em que acredita; por dinheiro, há quem não tenha escrúpulos em sacrificar a vida dos seus irmãos e venda drogas e armas que matam; por dinheiro, há quem seja injusto, explore os seus operários, se recuse a pagar o salário do mês porque o trabalhador é ilegal e não se pode queixar às autoridades... Que pensamos disto? Ser escravo dos bens é algo que só acontece aos outros? Talvez não cheguemos, nunca, a estes casos extremos; mas até onde seríamos capazes de ir por causa do dinheiro?

    • Jesus avisa os discípulos de que a aposta obsessiva no "deus dinheiro" não é o caminho mais seguro para construir valores duradouros, geradores de vida plena e de felicidade. É preciso - sugere Ele - que saibamos aquilo em que devemos apostar... O que é, para nós, mais importante: os valores do "Reino" ou o dinheiro? Na nossa actividade profissional, o que é que nos move: o dinheiro, ou o serviço que prestamos e a ajuda que damos aos nossos irmãos? O que é que nos torna mais livres, mais humanos e mais felizes: a escravidão dos bens ou o amor e a partilha?

    • Todo este discurso não significa que o dinheiro seja uma coisa desprezível e imoral, do qual devamos fugir a todo o custo. O dinheiro (é preciso ter os pés bem assentes na terra) é algo imprescindível para vivermos neste mundo e para termos uma vida com qualidade e dignidade... No entanto, Jesus recomenda que o dinheiro não se torne uma obsessão, uma escravidão, pois Ele não nos assegura (e muitas vezes até perturba) a conquista dos valores duradouros e da vida plena.
    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 25º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. EVITAR CULPABILIZAR.
    O dinheiro ou Deus... No momento penitencial, será bom evitar algumas tiradas de tipo culpabilizante e demasiado ligeiras contra o dinheiro que corrompe, que explora... A terceira fórmula do rito penitencial convida a aclamar o Deus bom e misericordioso.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    "Pai dos pobres, justiça dos oprimidos, nós Te bendizemos pelo teu Espírito Santo, que deste aos profetas, encarregando-os de proclamar sempre e em toda a parte as exigências da justiça.
    Nós Te pedimos: que o teu Espírito purifique os nossos pensamentos e os nossos corações. Somos testemunhas de tantas injustiças! Que Ele nos inspire as iniciativas que se impõem".

    No final da segunda leitura:
    "Deus nosso Pai, Tu que és o único Deus e queres que todos os homens sejam salvos e cheguem a conhecer a verdade, nós Te damos graças por Jesus, que nos revelaste como o único mediador fiável entre Ti e a humanidade.
    Unidos a todos os cristãos que elevam para Ti as suas mãos e Te dirigem as suas orações, intercedemos por todos os homens e pedimos-Te pela paz".

    No final do Evangelho:
    "Deus Pai, único mestre digno de ser servido, nós Te damos graças pela confiança que depositas em nós; Confias-nos o teu Reino, que é infinitamente mais precioso que todos os bens da terra.
    Nós Te pedimos: pelo teu Espírito, faz de nós filhos da luz, inspira-nos o bom uso dos bens da terra e a aptidão que convém ao teu Reino".

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Quanto se trata de viver, e sobretudo de sobreviver, estamos prontos a tudo, todos os meios parecem bons para pôr a cabeça de fora. O administrador da parábola vai perder os seus meios de viver, procura a maneira de se sair. Reconhece que não tem a força de trabalhar, nem de mendigar. Então, tomando consciência que não pode conseguir sozinho, procura amigos a todo o preço, mesmo com o preço da desonestidade. O mestre faz o elogio, não da sua desonestidade, mas da sua habilidade. O objectivo da parábola é fazer reflectir aqueles que se reclamam cidadãos do Reino: estão dispostos a tudo para procurar o essencial e vivê-lo? A sua habilidade é também como a dos filhos deste mundo que, para as coisas materiais, estão dispostos a sacrificar a dimensão espiritual da sua vida? Jesus não pede para imitar o administrador nos seus gestos, mas para ser como Ele na procura do essencial.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Eis Jesus que Se põe a dissertar sobre a economia, mas uma economia que parece envolver falsários... Como compreender tal parábola na boca de Jesus? Podemos logo pensar que Ele não quer dar o administrador desonesto como exemplo, mesmo se o mestre deste faz o seu elogio. Jesus chama-o explicitamente "administrador desonesto, com esperteza". Jesus conhece o coração do homem, um coração perverso. Mas Jesus não fica nesta dimensão do coração do homem. Ele sabe que em todo o homem, por mais pervertido que seja, há sempre um cantinho positivo. Ele vê a prova de habilidade do administrador para conseguir safar-se. Esta habilidade é colocada ao serviço de um mal. Mas, em si mesma, pode ser posta ao serviço do bem. Então, diz Jesus, se vós, meus discípulos, que sois chamados "filhos da luz", sabeis ser tão habilidosos a respeito da vossa vida cristã, quantas coisas poderão mudar! Jesus aproveita para recordar o seu ensino constante sobre o dinheiro e a riqueza material. Não podemos viver sem dinheiro. Mas saibamos utilizá-lo com habilidade, para o bem. Que ele não se torne um mestre tirânico. Saibamos utilizá-lo, não para nos enriquecermos egoisticamente, mas para o pôr ao serviço do bem dos outros, a começar pelos mais pobres. Aqui, a nossa habilidade deve estar ao serviço do bem! Não levaremos dinheiro no nosso caixão. Mas o bem que com ele tivermos feito seguirá para além da morte, "nas moradas eternas". A lição continua sempre válida hoje!

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III para Assembleias com Crianças... Parte da oração ilustra a situação evocada pelo Evangelho.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO...
    Deus ou o dinheiro? Amós e Lucas convidam-nos a um sério exame de consciência sobre a nossa maneira de praticar a justiça social e de utilizar o dinheiro. Quantos pobres, hoje no mundo, são explorados com meia dúzia de euros por alguns que enriquecem sobre a sua miséria? Não acusemos ninguém! Nesta semana, retomemos estes textos para fazer o ponto da situação em toda a verdade. A que mestre estamos amarrados: a Deus ou ao dinheiro?
    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehnianos.org - www.dehonianos.org

  • S. Mateus, Apóstolo

    S. Mateus, Apóstolo


    21 de Setembro, 2022

    S. Mateus era um cobrador de impostos, profissão pouco bem conceituada. Jesus chamou-o a segui-lo. É o próprio Mateus que, de modo muito simples, nos conta a sua conversão (cf. Mt 9, 1-9). Lucas evidencia o banquete oferecido por Mateus, em que Jesus está presente e revela o seu amor misericordioso pelos pecadores. Dotado de certa cultura, Mateus foi o primeiro a recolher por escrito os acontecimentos da vida de Jesus, que testemunhara, agrupando-lhe nesse quadro os ensinamentos do Mestre. O seu evangelho, escrito entre os anos 62 e 70, é especialmente destinado aos seus compatriotas judeus. Apresenta Jesus como o novo Moisés, aquele que dá ao novo Povo de Deus a nova lei do amor. Mateus dá também grande atenção à Igreja que Jesus convoca, salva e institui.

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 4, 1-7.11-13

    Eu, o prisioneiro no Senhor, exorto-vos, pois, a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; 2com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, 3esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz. 4Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; 5um só Senhor, uma só fé,um só baptismo;  6um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos. 7Mas, a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. 11E foi Ele que a alguns constituiu como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, 12em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo, 13até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo.

    Paulo exorta os cristãos a uma vida digna da sua vocação, formando "um só corpo" em Cristo Jesus. A condição de prisioneiro dava-lhe maior autoridade para fazer uma tal exigência. A harmonia, a paz, são indispensáveis para viver em unidade. Esta unidade espiritual entre os cristãos é motivada pela sociabilidade e comunitariedade próprias da vida cristã: a Igreja é "um só corpo" animado por "um só Espírito" e por "uma só esperança" na salvação eterna a que a fé em Cristo nos convida. "Um só" é o Senhor, Jesus, que derrubou o muro da separação e da inimizade, e deu a todos a fé e o batismo, como meios de salvação. Acima de tudo, está a única paternidade divina: há "um só Deus e Pai de todos" (v. 6).

    Evangelho: Mateus 9, 9-13
    Naquele tempo, Jesus ia a passar quando viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o. 10Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos. 11Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?»12Jesus ouviu-os e respondeu-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. 13Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.

    Meditatio

    Ao narrar o seu chamamento por Jesus, o primeiro evangelista, conforme observa S. Jerónimo, usa o seu próprio nome, Mateus. Os outros três evangelistas, ao narrarem o mesmo episódio, chamam-no Levi, o seu segundo nome, provavelmente menos conhecido, talvez para esconder o seu nome de publicano. Mateus, pelo contrário, reconhece-se como publicano, um grupo de pessoas pouco honestas e desprezadas, porque colaboradores dos ocupantes romanos. Mas, Jesus chamou-o, com escândalo de muitos "bem-pensantes".
    Mateus apresenta-se como um publicano perdoado e chamado por Jesus. A vocação de apóstolo não se baseia em méritos pessoais, mas unicamente na misericórdia do Senhor. Só quem se dá conta da sua pobreza, da sua pequenez, aceitando-a como o "lugar" onde Deus derrama a sua misericórdia infinita, está em condições de se tornar apóstolo, de tocar as almas em profundidade, porque comunica o amor de Deus, o seu amor misericordioso: "Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores." (v. 13). Como diz Paulo, o verdadeiro apóstolo está cheio de humildade, de mansidão, de paciência, uma vez que experimentou em si mesmo a paciência, a mansidão e a humildade divina, que se inclina sobre os pecadores e os ergue com paciência da sua situação.
    O Deus revelado pela palavra e pela ação de Jesus é um Deus misericordioso, que acolhe os que andam perdidos, oferecendo-lhes uma nova ocasião para se reconstruírem, por meio da graça, até atingirem a perfeita unidade da fé, que na primeira leitura é a "medida completa da plenitude de Cristo".

    Oratio

    Pai misericordioso, concede-nos a graça de reconhecer na nossa história pessoal o chamamento fundamental da vida, que o teu Filho e nosso Senhor nos dirige com amor. Que te respondamos com um "sim" pronto e generoso, nas pequenas e grandes ocasiões da nossa vida. Assim poderemos concretizar aquela obra pessoal e comunitária que devemos realizar na Igreja. Que o nosso testemunho de cristãos e de Igreja possa contribuir para a conversão do nosso mundo ao teu amor misericordioso. Ámen.

    Contemplatio

    Mateus/Levi era publicano ou cobrador de impostos. Os homens desta profissão eram muito desprezados entre os Judeus, abusavam muito das suas funções para oprimirem as populações! Nosso Senhor quis, no entanto, escolher um dos seus apóstolos de entre eles. Levi estava no seu escritório, junto do lago de Genesaré, quando Jesus dele se apercebeu e lhe disse para o seguir. O publicano abandonou imediatamente o lugar lucrativo que ocupava, para se ligar a Nosso Senhor. Todo feliz e reconhecido pela sua vocação, convidou o divino Salvador e os seus discípulos para virem tomar uma refeição em sua casa. Convidou ao mesmo tempo vários publicanos seus amigos para os atrair a Jesus. Os fariseus ficaram escandalizados e disseram aos discípulos do Salvador: «Porque é que o vosso mestre come com os publicanos e os pecadores?». Jesus, ouvindo as suas murmurações, deu esta bela resposta: «Os médicos são para os doentes, e não para aqueles que estão de boa saúde. Eu vim chamar, não os justos, mas os pecadores». Palavra encorajadora caída do Coração de Jesus! Não percamos confiança, embora sejamos pecadores. (L. Dehon, OSP 4, p. 275).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Eu não vim chamar os justos,
    mas os pecadores" (Mt 9, 13).

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    S. Mateus, Apóstolo (21 Setembro)

  • Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir

    Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir


    22 de Setembro, 2022

    Padroeiro das Vocações Dehonianas

    (Próprio de Congregação dos SCJ, Dehonianos)
    No dia 25 de setembro de 1891 nasceu em Santo Esteban de los Patos (Ávila) Mariano Garcia Méndez. A sua família era simples, mas rica em virtudes e profundamente cristã. Aos 10 anos de idade, sentiu-se chamado por Cristo para o sacerdócio. Viveu o seu sacerdócio, primeiro como pároco e, depois de muita busca, também como religioso da nossa Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, Dehonianos, tomando o nome de João Maria da Cruz. Dotado de profundo zelo apostólico e foi também o "anjo protetor" do Seminário Dehoniano de Puente La Reina e promotor vocacional da Congregação em Espanha. A Guerra Civil Espanhola levou-o a testemunhar a fé e sua condição de sacerdote, protestando fortemente contra o incêndio da igreja dos Santos Juanes, em Valência. Preso, permaneceu um mês no cárcere, onde exerceu um intenso apostolado. No dia 23 de Agosto de 1936, era já noite, foi fuzilado em Silla (Valência). Reconhecidas as suas virtudes e o seu martírio pela Igreja, foi beatificado pelo Papa João Paulo II, no dia 11 de março de 2001.

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos 8, 31b-39

    Irmãos: Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? 32Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele? 33Quem irá acusar os eleitos de Deus? Deus é quem nos justifica!34Quem irá condená-los? Jesus Cristo, aquele que morreu, mais, que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós. 35Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? 36De acordo com o que está escrito: Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro.37Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. 38Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, 39nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.

    Depois de ter explicado vários aspetos da vida nova em Cristo e as motivações que fundamentam a fé cristã, Paulo conclui esta secção da sua carta com um hino ao amor de Deus. O hino brota-lhe do coração como uma torrente, provocada pela sua experiência do amor de Deus na sua vida e na da comunidade dos santos. Conhecedor do desígnio do Pai, o Apóstolo canta o papel de Cristo Salvador e Senhor. Nada poderá afastar o cristão do amor que Cristo tem por nós: nem tribulação, nem a angústia, nem a perseguição, nem a a fome, nem a nudez, nem o perigo, a espada. Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. (cf. v. 36s.). Nenhuma força terrena e nenhum espírito hostil ao homem poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus. O amor é o fundamento indestrutível da vida e da esperança cristãs.

    Evangelho: João 15, 18-21

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. 19Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. 21Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou.

    Jesus acabara de falar do amor que havia entre Ele e os discípulos, e que devia haver também entre eles (Jo 15, 9-17). Mas os discípulos vivem no mundo que odeia Jesus e odiará os seus discípulos. Amados por Jesus, e amigos de Jesus, são odiados pelo mundo.
    A primeira experiência da Igreja foi a perseguição iniciada pelos judeus e prosseguida pelos gentios. A perseguição é algo de normal na vida dos cristãos, porque não são do mundo, não lhe pertencem, e estão acima dele porque dão testemunho contra ele, contra os seus pecados. Além disso, "o servo não é mais do que o seu senhor". Não pode ter melhor sorte.

    Meditatio

    Quem ama, imita. O melhor modo de corresponder ao amor de Cristo é imitá-lo. Os mártires seguiram-no até à efusão do sangue, até assemelhar-se a Ele na paixão. Foram muitos que, ao longo dos séculos, como supremo testemunho da sua fé em Jesus Cristo e no seu Evangelho, derramaram o seu sangue. Foi o que aconteceu também em Espanha, entre 1936 e 1939, durante a guerra civil, que ensanguentou aquele país. Uma das vítimas foi o P. João Maria da Cruz, da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos. Nas suas cartas, conversas e comentários, o P. João falava das dificuldades que encontrava durante a guerra civil, quando andava de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, a pedir ajudas e a procurar vocações. Nas suas notas pessoais verifica-se claramente que se preparava para o martírio: "oxalá pudesse ser mártir", dizia ele a uma senhora idosa de Puente la Reina, onde era muito popular e conhecido como o "santinho". A 10 de Agosto de 1936, poucos dias antes de ser fuzilado, escrevia, do Cárcere Modelo de Valência, ao Superior Geral da Congregação, P. L. Philippe: "Deus seja bendito! Cumpra-se em tudo a sua santíssima vontade. Considero-me muito feliz por poder sofrer alguma coisa por Ele, que tanto sofreu por mim, pobre pecador... Seja tudo pelo Coração Sacratíssimo de Jesus e pela sua Santíssima Mãe, em espírito de amor e de reparação".
    O P. João tinha experimentado o amor de Deus revelado co Coração trespassado de Cristo. Nada o assustava. O seu desejo íntimo era deixar-se imolar a si mesmo, em união com Cristo, como oblação santa e agradável a Deus, "em espírito de amor e de reparação".
    O sacrifício de Cristo não pode permanecer isolado, não partilhado. Pelo contrário, o martírio do Senhor Jesus é um apelo ao nosso martírio. É por isso que Paulo, na carta aos Romanos, escreve: "Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos (isto é, vós mesmos) como sacrifício, vivo, santo e agradável a Deus; é este o vosso culto espiritual" (Rom 12, 1). Cristo foi consagrado e imolado ao Pai, em favor dos homens. Também os cristãos, e particularmente os religiosos e sacerdotes são consagrados e imolados, para se tornarem, com Cristo, construtores do Reino de Deus entre os homens, isto é, reparadores com Cristo reparador. Como dehonianos, é assim que estamos abertos ao "acolhimento do Espírito", damos "uma resposta ao amor de Cristo por nós", estamos em "comunhão no Seu amor pelo Pai" e cooperamos "na sua obra redentora no coração do mundo" (Cst 23).

    Oratio

    Pai santo, que deste ao Beato João Maria da Cruz a graça do sacrifício de amor unitivo, infunde em nós o Espírito Santo. Animados pela sua força divina, queremos corresponder ao teu amor, e dar a nossa vida por aqueles que devem ser edificados. Assim testemunharemos a nossa piedade para com todos, e confessaremos a nossa fé em Jesus Cristo, Senhor. Acolhendo o martírio quotidiano, ou o martírio do sangue, queremos ser advogados e consoladores, oblatos e intercessores, em favor dos nossos irmãos e da humanidade inteira. Ámen.

    Contemplatio

    O bom Mestre propõe aos seus discípulos motivações para sofrerem corajosamente as provações e o próprio martírio, se tal acontecer. Estas motivações são, ainda hoje, a força dos nossos missionários, que, com tanta boa vontade, enfrentam todos os perigos, com o secreto desejo de derramarem o seu sangue pelo Salvador. O primeiro encorajamento que nos dá o bom Mestre é o seu próprio exemplo: «O discípulo, diz, não está acima do Mestre; se me perseguiram, também vos hão-de perseguir a vós». Depois do exemplo de Nosso Senhor, diz S. Bernardo, já não há perseguições nem sofrimentos que possam assustar um cristão; torná-lo participante do cálice do seu divino Filho é uma honra que Deus lhe faz. Nosso Senhor acrescenta que não devemos temer, porque a verdade sairá sempre vitoriosa da mentira e da calúnia; e, aliás, se os nossos inimigos podem atingir o nosso corpo, são impotentes contra a nossa alma e não podem separá-la de Deus. Além disso, a Providência divina vela sobre os seus servos e em particular sobre os apóstolos do Evangelho. Nosso Senhor confessará e glorificará diante de seu Pai os que o tiverem confessado sobre a terra. O último encorajamento e o mais tocante é a alta dignidade dos apóstolos, que são os representantes de Nosso Senhor e outros Ele mesmo. Ele vingá-los-á contra os seus inimigos, tal como recompensará os que os receberem, os que lhes testemunharem respeito e dedicação. (L. Dehon, OSP 2, pp. 311-312).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?" (Rm 8, 35).

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    Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir, Padroeiro das Vocações Dehonianas (22 Setembro)

  • 26º Domingo do Tempo Comum - Ano C

    26º Domingo do Tempo Comum - Ano C


    25 de Setembro, 2022

    ANO C

    26º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 26º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia deste domingo propõe-nos, de novo, a reflexão sobre a nossa relação com os bens deste mundo... Convida-nos a vê-los, não como algo que nos pertence de forma exclusiva, mas como dons que Deus colocou nas nossas mãos, para que os administremos e partilhemos, com gratuidade e amor.
    Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia violentamente uma classe dirigente ociosa, que vive no luxo à custa da exploração dos pobres e que não se preocupa minimamente com o sofrimento e a miséria dos humildes. O profeta anuncia que Deus não vai pactuar com esta situação, pois este sistema de egoísmo e injustiça não tem nada a ver com o projecto que Deus sonhou para os homens e para o mundo.
    O Evangelho apresenta-nos, através da parábola do rico e do pobre Lázaro, uma catequese sobre a posse dos bens... Na perspectiva de Lucas, a riqueza é sempre um pecado, pois supõe a apropriação, em benefício próprio, de dons de Deus que se destinam a todos os homens... Por isso, o rico é condenado e Lázaro recompensado.
    A segunda leitura não apresenta uma relação directa com o tema deste domingo... Traça o perfil do "homem de Deus": deve ser alguém que ama os irmãos, que é paciente, que é brando, que é justo e que transmite fielmente a proposta de Jesus. Poderíamos, também, acrescentar que é alguém que não vive para si, mas que vive para partilhar tudo o que é e que tem com os irmãos?
    LEITURA I - Am 6,1a.4-7

    Leitura da Profecia de Amós

    Eis o que diz o Senhor omnipotente:
    «Ai daqueles que vivem comodamente em Sião
    e dos que se sentem tranquilos no monte da Samaria.
    Deitados em leitos de marfim,
    estendidos nos seus divãs,
    comem os cordeiros do rebanho
    e os vitelos do estábulo.
    Improvisam ao som da lira
    e cantam como David as suas próprias melodias.
    Bebem o vinho em grandes taças
    e perfumam-se com finos unguentos,
    mas não os aflige a ruína de José.
    Por isso, agora partirão para o exílio à frente dos deportados
    e acabará esse bando de voluptuosos».

    AMBIENTE

    Continuamos com Amós, o profeta de Técua, de quem já falámos no passado domingo. Estamos em meados do séc. VIII a.C. (por volta de 762 a.C.), no reino do Norte (Israel). As conquistas de Jeroboão II criaram bem-estar, riqueza, prosperidade; no entanto, a situação de desafogo não beneficia toda a nação, mas um grupo privilegiado (no qual podemos incluir os nobres, os cortesãos, os militares, os grandes latifundiários e os comerciantes sem escrúpulos). Nasce, assim, uma classe dirigente poderosa, cada vez mais rica, que vive instalada no luxo, que explora os pobres e que, apoiada por juízes corruptos, comete ilegalidades e prepotências... Do outro lado, estão os pobres, vítimas inocentes e silenciosas de um sistema que gera injustiça, miséria, sofrimento, opressão. É neste contexto que o "profeta da justiça social" vai fazer ouvir a sua denúncia profética.
    O texto que hoje nos é proposto pertence ao género literário dos "ais" (vers. 1). Começa com uma interjeição ("hwy") que é, habitualmente, usada em lamentações fúnebres. A palavra corresponde ao grito com que as carpideiras acompanham o cortejo fúnebre... É o terceiro "ai" de Amós; os outros dois aparecem em Am 5,7 (a propósito da justiça e dos tribunais) e em Am 5,18 (a propósito do culto). Os profetas utilizam, normalmente, esta palavra como introdução a um oráculo que anuncia o castigo: indica que certas pessoas ou grupos se encontram às portas da morte por causa dos seus pecados.

    MENSAGEM

    Quem são os destinatários da mensagem que Amós propõe neste texto? Quem são esses que se encontram às portas da morte por causa dos seus pecados?
    Trata-se da classe dirigente, rica e indolente, que vive comodamente nos palácios da capital, que esbanja em luxos, que vive numa eterna festa; trata-se desses parasitas que se deitam "em leitos de marfim", que comem alimentos seleccionados, que bebem vinhos raros em excesso, que usam perfumes importados, que se divertem ouvindo música e compondo canções. O mais grave (este texto não o diz directamente, mas a ideia está sempre presente na denúncia de Amós) é que todo este luxo e esbanjamento resultam da exploração dos mais pobres e das rapinas e prepotências cometidas contra os fracos. De resto, esta classe rica e indolente vive egoisticamente mergulhada no seu mundo cómodo e não se preocupa minimamente com a miséria e o sofrimento que aflige os seus irmãos. Os pobres trabalham duramente, numa existência cheia de dores, trabalhos e misérias, para sustentarem a indolência e o luxo da classe dirigente. Deus pode aceitar que esta situação se prolongue indefinidamente?
    É evidente que Deus não está disposto a pactuar com isto. A classe dominante da Samaria está a infringir gravemente os mandamentos da "aliança" e Deus não aceita ser cúmplice daqueles que mantêm um elevado nível de vida à custa do sangue e das lágrimas dos pobres. Por isso, o castigo chegará em forma de exílio numa terra estrangeira (o profeta refere-se à queda da Samaria nas mãos dos assírios de Salamanasar V, em 721 a.C., e à partida da classe dirigente para o cativeiro na Assíria).

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão e partilha, considerar as seguintes questões:

    • O quadro pintado por Amós descreve, em pormenor, situações bem conhecidas de todos nós... Pensemos nas festas do jet-set e nas quantias gastas em roupas, em jóias, em perfumes, por aqueles que as frequentam; pensemos nas quantias gastas em noites de jogatana por gente que paga miseravelmente aos seus operários; pensemos nos governantes que malbaratam os dinheiros públicos e que nem sequer vão a tribunal porque há sempre uma maneira de fazer com que o crime prescreva... E, por contraste, pensemos nos operários que arriscam a vida em obras perigosas, porque o patrão não quis gastar uns trocos com sistemas de segurança; pensemos naqueles que ganham salários mínimos, trabalhando duramente para enriquecer um patrão prepotente e sem escrúpulos, mas que ao fim do mês não têm dinheiro para pagar o infantário dos filhos; pensemos nos trabalhadores clandestinos que não recebem o salário ao fim do mês, porque o patrão desapareceu sem pagar; pensemos naqueles que recebem pensões de miséria e que vivem em condições infra-humanas porque a sua magra reforma mal dá para pagar os medicamentos... Um cristão pode conformar-se com estes contrastes? Que podemos fazer? Como reivindicar, com coragem profética, um mundo mais parecido com o projecto de Deus?

    • Convém, também, aplicarmos o questionamento que a mensagem de Amós exige a nós próprios... Muito provavelmente, não frequentamos as festas do jet-set, nem usamos dinheiros públicos para pagar os nossos divertimentos e esbanjamentos... Mas, numa escala muito menor, não teremos os mesmos vícios que Amós denuncia nesta classe rica e ociosa? Não nos deixamos, às vezes, arrastar pelo desejo de ter, comprando coisas supérfluas e impondo sacrifícios à família para pagar as nossas manias de grandeza? Não gastamos, às vezes, de forma descontrolada, para pagar os nossos pequenos vícios, sem pensar nas necessidades daqueles que dependem de nós? E os religiosos e religiosas com voto de pobreza não gastam, às vezes, de forma supérflua, esquecendo que vivem das ofertas generosas de pessoas que têm menos do que eles?
    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 145 (146)

    Refrão 1: Ó minha alma, louva o Senhor.

    Refrão 2: Aleluia.

    O Senhor faz justiça aos oprimidos,
    dá pão aos que têm fome
    e a liberdade aos cativos.

    O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
    o Senhor levanta os abatidos,
    o Senhor ama os justos.

    O Senhor protege os peregrinos,
    ampara o órfão e a viúva
    e entrava o caminho aos pecadores.

    O Senhor reina eternamente.
    O teu Deus, ó Sião,
    é Rei por todas as gerações.
    LEITURA II - 1 Tim 6,11-16

    Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo

    Caríssimo:
    Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade,
    a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão.
    Combate o bom combate da fé,
    conquista a vida eterna, para a qual foste chamado
    e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé
    perante numerosas testemunhas.
    Ordeno-te na presença de Deus,
    que dá a vida a todas as coisas,
    e de Cristo Jesus,
    que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos:
    guarda este mandamento sem mancha
    e acima de toda a censura,
    até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo,
    a qual manifestará a seu tempo
    o venturoso e único soberano,
    Rei dos reis e Senhor dos senhores,
    o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível,
    que nenhum homem viu nem pode ver.
    A Ele a honra e o poder eterno. Amen.

    AMBIENTE

    Continuamos a reflectir a Primeira Carta a Timóteo. Timóteo é esse cristão natural de Listra, filho de pai grego e de mãe judeo-cristã que acompanhou algumas das viagens missionárias de Paulo, a quem Paulo confiou a coordenação pastoral das igrejas da Ásia e que, segundo a tradição, foi o primeiro bispo da Igreja de Éfeso. O autor (que se apresenta como Paulo, embora a atribuição desta carta ao apóstolo seja - como já vimos nos domingos anteriores - bastante problemática) traça, para edificação de Timóteo, o retrato do "homem de Deus".
    O contexto das "cartas pastorais" coloca-nos, presumivelmente, nos inícios do séc. II d.C., numa altura em que as heresias - nomeadamente de tipo gnóstico - começam a incomodar os cristãos. Embora continue a discutir-se o "ambiente" em que as cartas pastorais aparecem, o certo é que se trata de uma época em que a comunidade cristã começa a sofrer a influência de "falsos mestres", que difundem doutrinas estranhas (o autor da carta traça o quadro dos "falsos mestres": são orgulhosos, ignorantes, discutem questões sem importância, fomentam a inveja, a discórdia, os insultos, as suspeitas injustas, as invejas e ciúmes e estão preocupados com as questões do lucro - cf. 1 Tim 6,4-6)... Neste "ambiente", é importante sublinhar as características do verdadeiro discípulo, através de quem a verdadeira fé é transmitida.

    MENSAGEM

    Como deve ser, então, na perspectiva do autor deste texto, o "homem de Deus"?
    O verdadeiro "homem de Deus" (que Timóteo deve representar) tem de distinguir-se por uma vida santa, enraizada na fé e no amor aos irmãos. Em concreto, o "homem de Deus" deve cultivar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a doçura. Tem de ser paciente e manso, diante das dificuldades que o serviço apostólico levanta. Deve guardar "o mandamento do Senhor" - isto é, a verdade da fé que lhe foi transmitida pela tradição apostólica. No que diz respeito ao perfil do "homem de Deus", tudo se resume no amor para com os irmãos, no entusiasmo pelo ministério e na capacidade de transmitir a verdadeira doutrina, herdada dos apóstolos.
    O texto termina com um hino litúrgico, que apresenta Deus como o Senhor dos senhores, o único soberano, aquele que possui a imortalidade, a glória e o poder universal... Trata-se de uma solene doxologia que provém, sem dúvida, do repertório das orações usadas nas sinagogas judaicas do mundo grego e que apresenta Deus em contraste com os falsos deuses e com os títulos humanos atribuídos a reis e imperadores.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão e a partilha, ter em conta os seguintes dados:

    • O retrato aqui esboçado do "homem de Deus" define os traços do verdadeiro crente: ele é alguém que vive com entusiasmo a sua fé, que ama os irmãos (que trata todos com doçura, com paciência, com mansidão) e que dá testemunho da verdadeira doutrina de Jesus, sem se deixar seduzir e desviar pelas modas ou pelos interesses próprios. Identificamo-nos com este modelo?

    • A proposta que aqui é feita a Timóteo deve, sobretudo, caracterizar a vida daqueles que têm responsabilidades na animação das comunidades cristãs. Os animadores das nossas comunidades são, efectivamente, pessoas cheias de amor, de mansidão, de paciência, de capacidade de doar a vida e de servir os irmãos? São pessoas que transmitem, com fidelidade e coerência, o projecto de Jesus, ou são pessoas que transmitem doutrinas próprias, condicionadas pelos seus interesses? Na vida e no testemunho dos animadores das nossas comunidades, nota-se a vontade de dar um verdadeiro testemunho de Jesus e da sua proposta de salvação, ou nota-se a busca de privilégios, de títulos e de honras sociais?
    ALELUIA - 2 Cor 8,9

    Aleluia. Aleluia.

    Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre,
    para nos enriquecer na sua pobreza.
    EVANGELHO - Lc 16,19-31

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos fariseus:
    «Havia um homem rico,
    que se vestia de púrpura e linho fino
    e se banqueteava esplendidamente todos os dias.
    Um pobre, chamado Lázaro,
    jazia junto do seu portão, coberto de chagas.
    Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico,
    mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas.
    Ora sucedeu que o pobre morreu
    e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão.
    Morreu também o rico e foi sepultado.
    Na mansão dos mortos, estando em tormentos,
    levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado.
    Então ergueu a voz e disse:
    'Pai Abraão, tem compaixão de mim.
    Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo
    e me refresque a língua,
    porque estou atormentado nestas chamas'.
    Abraão respondeu-lhe:
    'Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida
    e Lázaro apenas os males.
    Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado,
    enquanto tu és atormentado.
    Além disso, há entre nós e vós um grande abismo,
    de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós,
    ou daí para junto de nós,
    não poderia fazê-lo'.
    O rico insistiu:
    'Então peço-te, ó pai,
    que mandes Lázaro à minha casa paterna
    – pois tenho cinco irmãos –
    para que os previna,
    a fim de que não venham também para este lugar de tormento'.
    Disse-lhe Abraão:
    'Eles têm Moisés e os Profetas.
    Que os oiçam'.
    Mas ele insistiu:
    'Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles,
    arrepender-se-ão'.
    Abraão respondeu-lhe:
    'Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas,
    mesmo que alguém ressuscite dos mortos,
    não se convencerão'.

    AMBIENTE

    A leitura que hoje nos é proposta apresenta mais uma etapa do "caminho de Jerusalém". A história do rico e do pobre Lázaro é um texto exclusivo de Lucas. Não é possível dizer se se trata de uma parábola procedente de uma fonte desconhecida, ou se é uma criação do próprio Lucas... De qualquer forma, trata-se de uma catequese (desenvolvida ao longo de todo o capítulo 16 do Evangelho segundo Lucas) em que se aborda o problema da relação entre o homem e os bens deste mundo. Jesus dirige-Se, aqui, aos fariseus (cf. Lc 16,14), como representantes de todos aqueles que amam o dinheiro e vivem em função dele.

    MENSAGEM

    A parábola tem duas partes.
    Na primeira (vers. 19-26), Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história, segundo um cliché literário muito comum na literatura bíblica: um rico que vive luxuosamente e que celebra grandes festas e um pobre, que tem fome, vive miseravelmente e está doente. No entanto, a morte dos dois muda radicalmente a situação. O que é que, verdadeiramente, está aqui em causa?
    Atentemos nos dois personagens... Do rico diz-se, apenas, que se vestia de púrpura e linho fino, e que dava esplêndidas festas. De resto, não se diz se ele era mau ou bom, se frequentava ou não o templo, se explorava os pobres ou se era insensível ao seu sofrimento (aparentemente, isso não é decisivo para o desfecho); no entanto, quando morreu, foi para um lugar de tormentos. Do pobre Lázaro diz-se, apenas, que jazia ao portão do rico, que estava coberto de chagas, que desejava saciar-se das migalhas que caíam da mesa do rico e que os cães vinham lamber-lhe as chagas; quando morreu, Lázaro foi "levado pelos anjos ao seio de Abraão" (quer dizer, a um lugar de honra no festim presidido por Abraão. Trata-se do "banquete do Reino", onde os eleitos se juntarão - de acordo com o imaginário judaico - com os patriarcas e os profetas); não se diz, no entanto, se Lázaro levou na terra uma vida exemplar ou se cometeu más acções, se foi um modelo de virtudes ou foi um homem carregado de defeitos, se trabalhava duramente ou se foi um parasita que não quis fazer nada para mudar a sua triste situação...
    Nesta história, não parecem ser as acções boas ou más cometidas neste mundo pelos personagens (a história não faz qualquer referência a isso) que decidem a sorte deles no outro mundo. Então, porque é que um está destinado aos tormentos e outro ao "banquete do Reino"?
    A resposta só pode ser uma: o que determina a diferença de destinos é a riqueza e a pobreza. O rico conhece os "tormentos" porque é rico; o pobre conhece o "banquete do Reino" porque é pobre. Mas então, a riqueza será pecado? Aqueles que acumularam riquezas sem defraudar ninguém serão culpados de alguma coisa? Ser rico equivale a ser mau e, portanto, a estar destinado aos "tormentos"?
    Na perspectiva de Lucas, a riqueza - legítima ou ilegítima - é sempre culpada. Os bens não pertencem a ninguém em particular (nem sequer àqueles que trabalharam duramente para se apossar de uma fatia gorda dos bens que Deus colocou no mundo); mas são dons de Deus, postos à disposição de todos os seus filhos, para serem partilhados e para assegurarem uma vida digna a todos... Quem se apossa - ainda que legitimamente - desses bens em benefício próprio, sem os partilhar, está a defraudar o projecto de Deus. Quem usa os bens para ter uma vida luxuosa e sem cuidados, esquecendo-se das necessidades dos outros homens, está a defraudar os seus irmãos que vivem na miséria. Nesta história, Jesus ensina que não somos donos dos bens que Deus colocou nas nossas mãos, ainda que os tenhamos adquirido de forma legítima: somos apenas administradores, encarregados de partilhar com os irmãos aquilo que pertence a todos. Esquecer isto é viver de forma egoísta e, por isso, estar destinado aos "tormentos".
    Na segunda parte do nosso texto (vers. 27-31), insiste-se em que a Escritura - na qual os fariseus eram peritos - apresenta o caminho seguro para aprender e assumir a atitude correcta em relação aos bens. O rico ficou surdo às interpelações da Palavra de Deus ("Moisés e os Profetas") e isso é que decidiu a sua sorte: ele não quis escutar as interpelações da Palavra e não se deixou transformar por ela. O versículo final (vers. 31) expressa perfeitamente a mensagem contida nesta segunda parte: até mesmo os milagres mais espectaculares são inúteis, quando o homem não acolheu no seu coração a Palavra de Deus. Só a Palavra de Deus pode fazer com que o homem corrija as opções erradas, saia do seu egoísmo, aprenda a amar e a partilhar.
    A história que nos é proposta é uma ilustração das bem-aventuranças e dos "ais" de Lc 6,20-26... Anuncia-se, desta forma, que o projecto de Deus passa por um "Reino" de fraternidade, de amor e de partilha. Quem recusa esse projecto e escolhe viver fechado no seu egoísmo e auto-suficiência (os ricos), não pode fazer parte desse mundo novo de fraternidade que Deus quer propor aos homens (a imagem dos "tormentos", contudo, não deve se levada demasiado a sério: faz parte do folclore oriental e das imagens que os pregadores da época utilizavam para impressionar as pessoas e levá-las a modificar radicalmente o seu comportamento).

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e partilha podem partir das seguintes questões:

    • Talvez a catequese que o Evangelho de hoje nos apresenta nos pareça, à partida, demasiado radical: não temos o direito de ser ricos, de gozar os bens que conquistámos honestamente? No entanto, convém termos consciência de que cerca de um quarto da humanidade tem nas mãos cerca de 80% dos recursos disponíveis do planeta; e que três quartos da humanidade têm de contentar-se com os outros 20% dos recursos. Isto é justo? É justo que várias dezenas de milhares de crianças morram diariamente por causa da fome e de problemas relacionados com a subnutrição, enquanto o primeiro mundo destrói as colheitas para que o excesso de produção não obrigue a baixar os preços? É justo que se gastem em festas sociais quantias que davam para construir uma dúzia de escolas ou meia dúzia de hospitais num país do quarto mundo?

    • O Vaticano II afirma: "Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos (...). Sejam quais forem as formas de propriedade, conforme as legítimas instituições dos povos e segundo as diferentes e mutáveis circunstâncias, deve-se sempre atender a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem usa desses bens, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si, mas também aos outros. De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias" (Gaudium et Spes, 69).

    • Como me situo face aos bens? Vejo os bens que Deus me concedeu como "meus, muito meus, só meus", ou como dons que Deus depositou nas minhas mãos para eu administrar e partilhar, mas que pertencem a todos os homens?

    • Por muito pobres que sejamos, devemos continuamente interrogar-nos para perceber se não temos um "coração de rico" - isto é, para perceber se a nossa relação com os bens não é uma relação egoísta, açambarcadora, exclusivista (há "pobres" cujo sonho é, apenas, levar uma vida igual à dos ricos). E não esqueçamos: é a Palavra de Deus que nos questiona continuamente e que nos permite a mudança de um coração egoísta para um coração capaz de amar e de partilhar.
    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 26º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. ORAÇÃO DOS FIÉIS INSPIRADA NO SALMO.
    Pode-se fazer a oração dos fiéis inspirada no Salmo de hoje: "Senhor, faz justiça aos oprimidos, aos famintos dá o pão, protege os estrangeiros...".

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
    No final da primeira leitura:
    "Bendito sejas, Deus de justiça e Pai dos pobres, porque abres os olhos dos profetas aos sinais dos tempos. Nos excessos da fortuna e do bem-estar, Tu fazes-nos ler os anúncios de revoltas e de desordens.
    Nós Te pedimos pela nossa terra e pela nossa sociedade, cujas riquezas estão tão mal distribuídas. Nós Te pedimos perdão pelos nossos próprios excessos".

    No final da segunda leitura:
    "Soberano único e bem-aventurado, Rei dos reis e Senhor dos senhores, que possuis a imortalidade, nós Te damos graças porque dás vida a todas as coisas e nós Te bendizemos pelo teu Filho Jesus, que se manifestará no tempo fixado.
    Nós Te pedimos: guarda-nos irrepreensíveis e justos, na fé e no amor, na perseverança e na doçura".

    No final do Evangelho:
    "Pai dos pobres e defensor dos oprimidos, nós Te bendizemos pelos profetas que nos envias, quando deixamos os caminhos da justiça, e pela glória que reservas àqueles que os homens desprezam.
    Presos nas redes de uma sociedade que produz tantos pobres, nós Te pedimos: ilumina-nos com o teu Espírito, conduz-nos nos caminhos da justiça".

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Durante a sua vida, o rico de quem ignoramos o nome conheceu uma certa felicidade, enquanto que o pobre Lázaro conheceu a infelicidade. A felicidade nesta terra é efémera pois está ligada às riquezas. A infelicidade é provisória porque a verdadeira riqueza será dada. Então, é preciso que a morte intervenha para que cada um encontre o seu verdadeiro lugar e a justiça seja feita: o pobre é elevado, ele que tinha sido rebaixado, ele a quem os cães vinham lamber as chagas. Quanto ao rico, é enterrado, ele que trazia vestes de luxo e fazia festins sumptuosos. São os pobres que são exaltados porque esperam a consolação de Deus. São os ricos que são enterrados, porque procuram a sua própria consolação.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Eis ainda uma parábola sobre a má riqueza. Notemos, em primeiro lugar, que é a única parábola em que Jesus dá um nome a um dos protagonistas da história que inventa. O pobre chama-se Lázaro. Este nome, em hebraico, significa "Deus socorreu". É bem isto que Jesus fez pelo seu amigo. O rico, esse, é descrito com todo o fausto que o rodeava: vestidos luxuosos, festins sumptuosos e quotidianos. Mas não tem nome. Ele é "o rico". Aos olhos de Deus, os que ocupam o primeiro lugar são os pobres. Vamos mais longe. Uma frase é central no relato: "Lázaro bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas". Uma frase muito próxima da parábola do filho pródigo, quando o filho mais novo lamenta não poder comer as bolotas dos porcos. O filho mais novo simboliza, sem dúvida, o homem pecador fechado na sua solidão. O pobre Lázaro, esse, é vítima do pecado do rico, mas o resultado é o mesmo: não são vistos por ninguém. Ninguém lhes dá atenção. Só os cães vêm lamber as chagas do pobre. Temos aí uma descrição muito realista do que são muitas vezes as nossas relações. "O rico" é um nome anónimo. As nossas relações não são muitas vezes anónimas? Mesmo com os nossos mais próximos, não acontece, por vezes, que não os vemos verdadeiramente, a ponto de esquecer simplesmente de lhes dizer bom dia, de estar atentos a eles. A indiferença é verdadeiramente um pecado que pode matar. Nomeando o pobre Lázaro, Jesus recorda-nos, ao contrário, que, para Ele e para o seu Pai, cada ser humano é olhado como único. Jesus veio compensar o olhar vazio e anónimo do rico. Veio socorrer todos os pobres - é o sentido do nome de Lázaro! Mais ainda que Moisés e os profetas, é Jesus que devemos escutar, para agir como Ele.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística I, que faz alusão a Abraão (primeira leitura)...

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO...
    E nós hoje? As palavras de Amós atingem sem compaixão aqueles que não se preocupam com o desastre de Israel. Lucas põe em cena um homem rico fechado no luxo, que não tem mesmo qualquer olhar para o pobre Lázaro que está à sua porta. E nós hoje? Ricos ou não, diante de todos os desastres do mundo, temos um olhar diferente para com todos os "Lázaros" da nossa sociedade ou ficamo-nos por um simples relance no ecrã da televisão? Ouvimos os golpes discretos à nossa porta? Ou serão somente cães a dar-lhes assistência?
    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehnianos.org - www.dehonianos.org

  • S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos

    S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos


    29 de Setembro, 2022

    No século V, já se celebrava em Roma, a 29 de Setembro, o aniversário da dedicação de uma basílica em honra do Arcanjo S. Miguel. Depois da reforma litúrgica recomendada pelo Concílio Vaticano II, acrescentou-se a memória de outros Arcanjos e de "todas as potências incorpóreas".

    Honrando os Arcanjos, exaltemos o poder de Deus, Criador do mundo visível e invisível, pois - como diz o Prefácio da Missa de hoje - "resulta em glória para Vós a honra que prestamos a eles como criaturas dignas de Vós; e a sua inefável beleza, Vós mostrais como sois grande e digno de ser amado sobre todas as coisas". S. Miguel é um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

    Lectio

    Primeira leitura: Daniel 7, 9-10.13s.

    Eu estava a olhar, quando foram preparados uns tronos, e um Ancião sentou-se. Branco como a neve era o seu vestuário, e os cabelos da cabeça eram como de lã pura; o trono era feito de chamas, com rodas de fogo flamejante. 10Corria um rio de fogo que jorrava da parte da frente dele. Mil milhares o serviam, dez mil miríades lhe assistiam.O tribunal reuniu-se em sessão e foram abertos os livros. 11Eu olhava. Por causa do ruído das palavras arrogantes que o chifre proferia, esse animal foi morto e o seu corpo desfeito e atirado às chamas do fogo. 12Quanto aos outros animais, também lhes foi tirado o poderio; no entanto, a duração da sua vida foi-lhes fixada a um tempo e uma data. 13Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. 14Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.

    A perícopa que escutamos hoje é tirada do chamado Apocalipse de Daniel (Capítulos 7-12). Ao profeta é concedida a visão dos eventos futuros (vv. 1-8) e, sobretudo, a participação no juízo de Deus sobre eles e sobre toda a história (vv. 9s.). Para além das aparências, os poderosos deste mundo não são nada; o Senhor é o único e verdadeiro rei (v. 9s.). Serve-O uma imensa corte de anjos que também O assiste na realização do seu desígnio. O profeta pode mesmo entrever esse desígnio: aparece-lhe um "Homem" de origem divina a quem Deus confia a soberania universal, um poder eterno e o seu próprio reino que as forças do mal jamais poderão destruir (v. 14). O «Filho do homem» é, pois, o centro e o fim do projeto de Deus acerca da história. Mas a sua realização - agora antecipada na profecia - acontecerá no tempo estabelecido e com a cooperação dos anjos.
    Evangelho João 1, 47-51

    Naquele tempo, Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» 48Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» 49Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!» 50Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: 'Vi-te debaixo da figueira'? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» 51E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.

    Há uma visão da realidade que vai além da imediata perceção. É o que nos revela Jesus no texto que escutamos hoje: «Vem e vê», dissera Filipe a Natanael. E Jesus, ao ver Natanael aproximar-se, exclama: «Vi (à letra) um israelita...». O seu ver é um conhecimento profundo do homem e da sua história. É deste ser visto/conhecido que nasce a abertura à fé e a disponibilidade para o seguimento (v. 49). Só então Jesus pode prometer ao discípulo a entrada numa visão da realidade semelhante à que Ele mesmo tem: «Maiores coisas do que estas hás-de ver!» ... «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo pelo Filho do Homem.» (vv. 50s.). O discípulo poderá compreender a imensa profundidade do mistério de Cristo que abrange o cosmos e dá sentido à história, e a cujo serviço cooperam miríades de anjos.
    O mundo transcendente de Deus - o céu - está agora aberto: em Jesus, Filho do homem, Deus desce ao meio dos homens e os homens podem subir até Deus. Os anjos são ministros deste «admirável comércio», desta inesperada comunhão.

    Meditatio

    Os anjos são seres misteriosos. O profeta Daniel também fala deles misteriosamente no texto que hoje escutamos na primeira leitura. Nós costumamos representá-los como homens de rosto suave e doce. Mas, na Sagrada Escritura, aparecem, muitas vezes como seres terríveis, que incutem temor, porque são manifestação do poder e da santidade de Deus, e nos ajudam a adorá-lo dignamente. Na visão de Daniel, o mais importante não são os Anjos, mas o "ser semelhante a um filho de homem" (v. 13), que é introduzido até ao trono de Deus, e a quem são "dadas soberania, glória e realeza" (v. 14), e a quem "as gentes de todas as línguas" servem (v. 14).
    O evangelho também nos mostra os Anjos subirem e descerem ao serviço do Filho do homem.
    Os Anjos estão, portanto, ao serviço do Filho do homem, isto é, de Jesus de Nazaré. A nossa adoração é, pois, dirigida a Deus e ao Filho de Deus.
    Todos nós entramos num projeto sonhado por Deus. Mergulhados num cosmos animado por invisíveis presenças que, tal como nós, participam no projeto de Deus, somos construtores de uma história que tem Cristo no centro e no fim. A caminhada avança na luta, com conflito implacável com as forças do mal que, todavia, jamais poderão destruir o reino que Deus confiou ao Filho do homem. O combate durará até ao fim dos tempos, tendo à frente, na primeira linha, os santos anjos de Deus: os arcanjos, guiados por Miguel, e todas as criaturas espirituais fiéis ao Senhor.
    Esta realidade que os nossos olhos não sabem ver foi-nos revelada para que, pela fé, esperança e caridade, combatamos o bom combate e apressemos a realização do reino de Deus. Se oferecermos o nosso humilde contributo, receberemos um olhar interior puro. Então contemplaremos a Misericórdia que abriu os céus e veio morar entre nós para nos abrir o caminho para o Pai onde, com os anjos, partilharemos a sua intimidade. Ele revelou-nos o mistério do homem para que, com os anjos, aprendemos a ir ao encontro dos irmãos. Introduziu-nos no seu Reino, para que, tornados voz de todas as criaturas, cantemos eternamente, com o coro angélico, a glória de Deus.

    Oratio

    Ó santo arcanjo Miguel, tão amigo do Coração de Jesus e tão amado por Ele, ajudai-me a fazê-lo reinar na sociedade e nas almas. Protegei particularmente os amigos e os apóstolos do Sagrado Coração. Terei gosto em vos invocar muitas vezes durante o dia, com Maria, José e S. João, para que me leveis ao Coração de Jesus. (Leão Dehon OSP 4, p. 298s.).
    Anjo glorioso, S. Gabriel, ensinai-me a bem servir a Jesus e a Maria. O que amais, são oshomens de desejo, assim o dissestes a Daniel. Pedi por mim a Jesus e a Maria, para que eu seja um homem de desejo. Unir-me-ei particularmente a vós para dizer a Ave Maria, e saudar o Coração de Jesus na sua Incarnação. (Leão Dehon OSP 3, p. 303).
    Arcanjo S. Rafael, vinde em nossa ajuda nas horas de medo e nas horas de doença. Tomai-nos pela mão e conduzi-nos pelo caminho certo e seguro da salvação.

    Contemplatio

    O anjo Gabriel veio a Nazaré e cumpriu o mistério que tomou o nome da Anunciação. Saudou Maria com estas palavras celestes que nós chamamos a saudação angélica: Eu vos saúdo, ó cheia de graça, o Senhor está convosco, bendita sois entre todas as mulheres.
    S. Gabriel é o anjo de Jesus e de Maria, o seu mensageiro, o seu camareiro. É o anjo da redenção, o anjo do Sagrado Coração... Ensinou-nos a bela saudação a Maria, que repetimos tantas vezes por dia. Unamo-nos muitas vezes a ele. Digamos com ele a saudação angélica... Anunciando a incarnação, foi o primeiro a saudar o Sagrado Coração de Jesus no seio de Maria. (Leão Dehon, OSP 3, p. 302s.)
    S. Miguel é o anjo de Jesus, o anjo da Igreja, e deve ser o anjo do Coração de Jesus, o porta-estandarte do Sagrado Coração... (Leão Dehon, OSP 4, p 298).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    «Quem como Deus?»

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    S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos (29 Setembro)

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