19 de Março, 2024
S. José, Esposo da Virgem S. Maria
19 de Março, 2024
O culto litúrgico a S. José celebra-se, pelo menos, desde o século IV, quando Santa Helena lhe dedicou uma igreja. No Oriente, celebrava-se, a partir do século IX, uma festa em sua honra. No Ocidente o culto é mais tardio. No século XII, é celebrado entre os Beneditinos. No século XII, é celebrado entre os Carmelitas, que o propagam na Europa. No século XV, João Gerson e S. Bernardino de Sena são os seus fervorosos propagandistas. Santa Teresa de Jesus era uma devota fervorosa de S. José e muito promoveu o seu culto.
S. José, descendente de David, era provavelmente de Belém. Por motivos familiares ou de trabalho, transferiu-se para Nazaré e tornou-se esposo de Maria. O anjo de Deus comunicou-lhe o mistério da incarnação do Messias no seio de Maria, e José, homem justo, aceitou-o apesar da dura crise por que passou. Indo a Belém para o recenseamento, lá nasceu o Menino Jesus. Pouco depois, teve de fugir com ele para o Egipto, donde regressou a Nazaré. Quando Jesus tinha doze anos, vemos José e Maria em Jerusalém, onde perdem o filho e acabam por o reencontrar entre os doutores do templo. A partir deste episódio, os evangelhos nada mais dizem sobre José. É possível que tenha morrido antes de Jesus iniciar a sua vida pública.
S. José é padroeiro da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.
Lectio
Primeira leitura: 2 Samuel 7, 4-5a.12-14a.16
Naqueles dias, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Natã, dizendo-lhe: 5«Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor: 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino. 13Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu firmarei para sempre o seu trono régio. 14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. 16A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre".»
A profecia de Natã acena a Salomão, filho de David e construtor do templo. Mas as palavras: "manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino" (v. 12), indicam uma longa descendência no trono de Judá. Esta descendência teve um fim histórico, recebendo força profética na alusão velada ao Messias, descendente de David. Ele reinará para sempre. Mas o seu reino não será deste mundo. Será um reino espiritual para salvação da humanidade. A tradição cristã sempre aplicou este texto a Jesus, Messias descendente de David, e indiretamente também a José, o último elo da genealogia davídica.
Segunda leitura: Romanos 4, 13.16-18.22
Irmãos: Não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão, ou à sua descendência, foi feita a promessa de que havia de receber o mundo em herança. 16Por isso, é da fé que depende a herança. Só assim é que esta é gratuita, de tal modo que a promessa se mantém válida para todos os descendentes: não apenas para aqueles que o são em virtude da Lei, mas também para os que o são em virtude da fé de Abraão, pai de todos nós, 17conforme o que está escrito: Fiz de ti o pai de muitos povos. Pai diante daquele em quem acreditou, o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência o que não existe. 18Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência. 22Esta foi exactamente a razão pela qual isso lhe foi atribuído à conta de justiça.
Paulo evoca a figura de Abraão, pai dos crentes, que reconheceu a sua indigência e se apoiou, isto é, "acreditou" em Deus recebendo o "juízo de salvação", a "justificação". A sua indigência foi superada e pôde realizar a sua "tarefa existencial", a sua "obra", que naquelas circunstâncias consistia na sua paternidade para com Isaac. A liturgia aplica a S. José o elogio de Paulo a Abraão. A fé do esposo de Maria, submetida a duras provas, manteve-se firme, fazendo dele "homem justo", e pai adoptivo de Jesus. A sua resposta de fé manteve-se durante toda a sua vida. Por isso, colaborou com disponibilidade e generosidade no projeto de salvação a que Deus o associou. Se Abraão é "tipo" do cristão, José também o é. Abraão sabia-se condenado à morte, pois não teria descendência. Mas acreditou e recebeu uma grande descendência da mão de Deus. José aceitou ser "pai" de Quem não era seu filho, mas Filho de Deus e de Maria, e colaborou na geração da humanidade nova, nascida da morte e da ressurreição de Cristo.
Evangelho: Lucas 2, 41-51a
Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. 42Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. 43Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. 44Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. 45Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. 46Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. 47Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. 48Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!» 49Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» 50Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse. 51Depois desceu com eles, voltou para Nazaré.
A lei judaica mandava que os primogénitos, sendo sagrados, deviam ser entregues a Deus ou sacrificados. Como o sacrifício humano era proibido, a lei obrigava a fazer uma espécie de troca, de maneira que em vez do menino, era oferecido um animal puro (cordeiros, pombas) (cf. Ex 13 e Lv 12). Lucas parece ter presente que Jesus, primogénito de Maria, era primogénito de Deus. Por isso, com a substituição do sacrifício - oferecem-s duas pombas - é evidenciado o fato de Jesus ser "apresentado ao Senhor", isto é, solenemente oferecido ao Pai. O sentido deste oferecimento só se compreende à luz da cena do calvário, onde Jesus já não pode ser substituído e morrerá como autêntico primogénito, que se entrega ao Pai pela salvação dos homens.
Como pai adoptivo, José preocupa-se por tudo uanto diz respeito a Jesus. Embora não lhe seja dado penetrar completamente no mistério das relações de Jesus com o Pai, e também não compreendendo tudo quanto Jesus faz e diz, deixa-se no entanto, conduzir por Deus, com uma fé dócil e silenciosa. A sua máxima, à semelhança da de Jesus e da de Maria, poderia ser: "Ecce servus tuus", eis o teu servo.
Meditatio
A Igreja convida-nos, hoje, a voltar-nos para S. José, a alegrar-nos e a bendizermos a Deus pelas graças com que o cumulou. S. José é o "homem justo" (Mt 1, 19). A sua justiça vem-lhe do acolhimento do dom da fé, da retidão interior e do respeito para com Deus e para com os homens, para com a lei e para com os acontecimentos. É o que nos sugere a segunda leitura. Não foi fácil para José aceitar uma paternidade que não era dele e, depois, a responsabilidade de ser o mestre e guia d´Aquele que, um dia, havia de ser o pastor de Israel. Respeito, obediência e humildade estão na base da "justiça" de José. Foi esta atitude interior, no desempenho da sua missão única, que guindaram José ao cume da santidade cristã, junto de Maria, a sua esposa.
As atitudes de José são características dos grandes homens, de que nos fala a Bíblia, escolhidos e chamados por Deus para missões importantes. Embora se considerassem pequenos, fracos e indignos, aceitavam e realizavam a missão, confiando n´Aquele que lhes dizia: "Eu estarei contigo".
José não procurou os seus interesses e satisfações, mas colocou-se inteiramente aos serviços dos que amava. O seu amor pela esposa, Maria, visava unicamente servir a vocação a ela que fora chamada. Deste modo, o casal chegou a uma união espiritual admirável, donde brotava uma enorme e puríssima alegria. Era a perfeição do amor. O amor de José por Jesus apenas visava servir a vocação de Jesus, a missão de Jesus. Para José, o filho não era uma espécie de propriedade a quem impunha uma autoridade e afeto tirânico, como, por vezes, acontece com alguns pais. José sabia que Jesus não era dele, e nada mais desejava do que prepará-lo, conforme as suas capacidades, para a missão de Salvador, como lhe fora dito pelo Anjo.
Por intercessão do nosso santo, peçamos a Deus a fé, a confiança, a docilidade, a generosidade e a pureza do amor para nós mesmos e para quantos têm responsabilidades na Igreja, para que as maravilhas de Deus se realizem também nos nossos dias.
Oratio
Ó S. José, eu admiro e louvo a vossa perfeição e a vossa santidade. Que exemplos e que méritos! A vossa intercessão no céu é sempre escutada. O Coração de Jesus não pode ficar insensível à vossa oração. Pedi hoje a minha conversão, a minha santificação. Pedi o perdão de todas as minhas faltas e a graça de corresponder ao que Nosso Senhor espera de mim. Fiat! Fiat! (Leão Dehon, OSP 3, p. 309).
Contemplatio
José, o justo, o santo, entra simplesmente nos desígnios do céu sobre ele e torna-se esposo de Maria por um casamento virginal; esposo de uma Virgem, de uma Rainha, esposo da Mãe de Deus e da Esposa do Espírito Santo! Mas o seu coração é digno dela. Na sua alma reúnem-se a fé viva dos patriarcas, as nobres aspirações dos profetas, as esperanças das gerações passadas. O seu coração é o mais puro, o mais amável, o mais celeste de todos, depois do Coração de Jesus e do Coração imaculado de Maria. José é o esposo da Virgem Maria, com que respeito a envolve! Que delicadeza, que discrição nas suas relações com ela! Aprendeu de cor a sua sublime missão de castidade e de amor. E quando foi advertido pelo anjo a respeito dos grandes desígnios de Deus sobre o filho de Maria, associou-se de coração à missão de vítima do seu filho adotivo e aceitou sem reserva todos os sofrimentos que daí resultariam para ele. Esposo de Maria! Que conjunto de graças este título supõe. José esteve unido mais do que ninguém neste mundo à Mãe de Deus. Tiveram todos as mesmas vistas, todos as mesmas orações e os mesmos sofrimentos. Os méritos de S. José aproximam-se dos de Maria. Que grandeza e que dignidade! José é o pai nutritivo de Jesus, pai legal e pai putativo. Tem tudo o que pode pertencer à paternidade sem ferir a virgindade. Tem todos os direitos e toda a autoridade de um pai. É o chefe da Sagrada Família. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 308).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Ecce servus tuus! Eis o teu servo!"
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S. José, Esposo da Virgem S. Maria (19 Março)
Terça-feira - 5ª Semana da Quaresma
19 de Março, 2024
Lectio
Primeira leitura: Números 21, 4-9
Naqueles dias, os filhos de Israel partiram do monte Hor; pelo caminho do Mar dos Juncos para contornar a terra de Edom, mas cansaram-se na caminhada. 50 povo falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes sair do Egipto? Foi para morrer no deserto, onde não há pão nem água, estando enjoados com este pão levíssimo?» 6Mas o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes, que mordiam o povo, e por isso morreu muita gente de Israel. 70 povo foi ter com Moisés e disse-lhe: «Pecámos ao protestarmos contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor para que afaste de nós as serpentes.» E Moisés intercedeu pelo povo. 80 Senhor disse a Moisés: «Faz para ti uma serpente abrasadora e coloca-a num poste. Sucederá que todo aquele que tiver sido mordido, se olhar para ela, ficará vivo.» 9Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, vivia.
o povo de Israel continuou a contestar Moisés e a murmurar contra a providência de Deus. O castigo não se fez esperar, porque apareceram as serpentes ardentes, que mordiam as pessoas e as faziam morrer. Mas o castigo em breve se transforma em misericórdia. A serpente de bronze erguida sobre um poste, torna-se um sinal de salvação para quem a olha com fé. As serpentes eram veneradas pelos povos pagãos vizinhos. Este episódio, fora do seu contexto, poderia ser visto como idolatria. Mas a tradição javista liga o culto das serpentes, depois destruído por Ezequias (cf. 2 Re 18, 4) à sábia pedagogia de Deus. Com a mediação de Moisés, ofereceu ao seu povo a possibilidade de evitar ceder aos cultos das nações pagãs por onde passava.
A serpente de bronze torna-se um sinal que encontra continuidade e realização no Evangelho (cf. Jo 3, 14). A serpente, no deserto, foi sinal da misericórdia de Deus que dá remédio ao castigo. No Evangelho, Cristo elevado na cruz, mostra o castigo e a misericórdia juntos: é o castigo de Deus pelo nosso pecado e, ao mesmo tempo, a maior manifestação do poder divino que cura do pecado.
Evangelho: João 8, 21-30
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: 21 «Eu vou-me embora: vós haveis de procurar-me, mas morrereis no vosso pecado. Vós não podereis ir para onde Eu vou» 22 Então, os judeus comentavam: «Será que Ele se vai suicidar, dado que está a dizer: 'Vós não podeis ir para onde Eu vou'?» 23 Mas Ele acrescentou: «Vós sois cá de baixo; Eu sou lá de cima! Vós sois deste mundo; Eu não sou deste mundo.24Já vos disse que morrereis nos vossos pecados. De facto, se não crerdes que Eu sou o que sou, morrereis nos vossos pecados.»25perguntaram-Ihe, então: «Quem és Tu, afinal?» Disse-lhes Jesus: «Absolutamente aquilo que já vos estou a dizer! 26Tenho muitas coisas que dizer e que julgar a vosso respeito; mas do que falo ao mundo é do que ouvi àquele que me enviou, e que é verdadeiro.» 27E1es não perceberam que lhes falava do Pai. 28 Disse-lhes, pois, Jesus: «Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o Pai me ensinou. 29E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só, porque faço sempre aquilo que lhe agrada.» 30Quando expunha estas coisas, muitos creram nele.
Em mais uma discussão, junto ao templo, Jesus oferece aos os chefes dos Judeus nova oportunidade para serem iluminados sobre o mistério do Filho do homem (cf. Dn 7, 13) e para acolherem a revelação da sua divindade. Duas vezes repete o «Eu SOLP>, nos vv. 24.28. Mas, mais uma vez recusam a oportunidade, compreendendo mal as afirmações sobre a sua iminente partida (vv. 21-24), sobre a sua identidade (vv. 25- 29) de enviado de Deus e de definitivo revelador (cf. Jo 5, 30; 6, 38). Entendem mal Jesus e as suas palavras, porque eles são eles são «cá de beba», enquanto Jesus é « lá de amei», Separa-os um abismo, que só a fé pode preencher. Jesus convida à fé, que eleva o olhar do homem para o alto. Mas os chefes do Judeus, mais uma vez, «não perceberem». Jesus é sinal de contradição. Sê-lo-á maximamente quando for erguido na cruz. Aí, ao realizar o projecto de salvação, revelará os pensamentos secretos dos corações e manifestará definitivamente a sua identidade de Filho, que diz e cumpre a vontade do Pai. Enquanto se aprofunda o abismo entre Jesus e os seus adversários, o evangelista termina com uma nota de esperança (cf. v. 30).
Meditatio
No evangelho, Jesus alude à salvação por meio da cruz, de que o episódio da serpente de bronze colocada sobre um poste (Nm 21, 4-9), é um símbolo. A serpente de bronze foi erguida sobre um poste; Jesus deve ser erguido na cruz. A expressão que vem no evangelho de S. João, referente ao erguer de Cristo na cruz, significa algo como a sua exaltação, a sua glorificação. Deus, querendo glorificar o seu Filho, deixou que fosse «erguido» na cruz. Uma tal glória pode parecer estranha a um olhar simplesmente humano. Mas o olhar da fé permite-nos entrever a enorme honra que foi, para Jesus, aceitar o sacrifício por amor ao Pai, tal como foi para o Pai um enorme gesto de amor pedir a Jesus o sacrifício total de Si mesmo. Com esse sacrifício, Jesus fez novas todas as coisas, mudou o coração do homem.
A graça que brota da cruz de Cristo, torna-nos capazes de percorrer o caminho da justiça. E verdade que, por nós mesmos, não podemos ir para onde Ele está, porque não somos autores da nossa salvação. Mas, se erguermos os nossos olhos, obscurecidos pelo pecado, para Aquele que, como diz S. Paulo, foi tornado pecado por nós, nesse cruzar de olhares - porque também Ele nos olha do alto da cruz - havemos de descobrir, não só que estamos no caminho certo, mas que a nossa felicidade eterna já começou.
Ao adorarmos a cruz, na Sexta-feira Santa, poderemos recordar algumas expressões das leituras de hoje: «Quando alguém olhava para a serpente de bronze, vivis» (Nm 21, 9); «Então ficareis a saber que Eu SOU» (Jo 8, 28). Contemplada demorada mente, a cruz revela-nos quem é Jesus: é o caminho, a verdade, a vida.
Cristo é a vida. É "Aquele que vive' (Apoc 1, 18; n. 11). A vida é a primeira realidade que S. João realça no Verbo eterno de Deus: "N 'Ele estava a vida ... " (Jo 1, 4) e só porque é" vida", o Verbo é "luz dos homens' (Jo 1, 5), que nos permite ver a verdade. A verdade sobre Deus, mas também a verdade sobre Cristo, a verdade sobre nós mesmos e sobre o projecto de Deus acerca de nós. Em Cristo, "primogénito' (Col 1, 15), isto é, primeiro projectado, "primícias' dos "santos' e dos "ressuscitados' (Cf. Jo 1, 17; 1 Cor 15, 20; Col 1, 18) nós todos fomos, por Deus, "projectados, pensados, queridos, escolhidos e repletos de todas as bênçãos, já antes da fundação do mundo (Ef 1, 3-6)".
A descoberta da verdade de Cristo, e do projecto de Deus, em Cristo, leva-nos ao discipulado: "O seu Caminho é o nosso caminho", afirma o n. 12 das Constituições. E nós percorremos Cristo-Caminho, com a nossa vida religiosa dehoniana, tendo fixo o olhar no "Lado aberto do Crucificado" e no "Coração de Cristo" (Cst. 20).
Oratio
Senhor Jesus, ensina-me e ajuda-me a contemplar o teu grande amor pelo Pai, e o grande amor do Pai por Ti, para que o meu coração se dilate de alegria e de generosidade. O amor do Pai por Ti manifestou-se na plena confiança com que Te entregou ao sacrifício que havia de salvar o mundo, fazendo novas todas as coisas, e mudando o nosso coração. O teu amor pelo Pai manifestou-se na obediência pronta e generosa com que Te dispuseste a realizar o seu projecto salvador. Nessa troca de amor, descubro também o imenso amor do Pai, e o teu, por mim e por cada um dos homens. Esse amor não permitiu que fôssemos abandonados ao horror do pecado. Contemplando-Te na cruz, descubro o mistério de amor incomensurável com que fui salvo, com que todos fomos salvos. Eu Te dou graças, de todo o coração, pedindo que me ajudes a corresponder a esse amor. Amen.
Contemplatio
«Quando tiver sido elevado da terra atrairei tudo a mm», dizia Nosso Senhor falando da sua cruz redentora (Jo 12).
Sim, Senhor, a vossa cruz atraiu, durante séculos, tudo a vós. Mas hoje é o vosso lado aberto que nos fascina. A revelação do vosso Coração vem remover o nosso e arrebatá-lo num insaciável amor por vós.
Coração por coração: nós queremos dar-nos a vós sem reservas, como vós vos destes a nós. Alguns santos, para melhor marcar a vossa tomada de posse dos seus corações gravaram sobre os seus peitos o vosso nome sagrado.
Um dia em que o bem aventurado Henrique Suso tinha feito isto, dissestes-lhe estas palavras benevolentes: «Acima de tudo, aprende a esconder-te no meu lado aberto e na ferida que o amor fez ao meu Coração! Hei-de colorir-te com a púrpura do meu sangue; ligar-me-ei a ti por laços indissolúveis e o meu espírito unír-se-á ao teu com uma união eternal» (Livro da sabedoria eterna, c. 22).
Ó bom Mestre, não terei repouso enquanto não me admitirdes também no vosso Coração (leão Dehon, OSP 2, p. 384).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Os nosso olhos estão voltados para o senhor- (SI 122, 2).