Events in Outubro 2019

  • S. Teresa do Menino Jesus, Virgem

    S. Teresa do Menino Jesus, Virgem


    1 de Outubro, 2019

    Santa Teresa do Menino Jesus nasceu em Alençon, França, em 1873. É a filha mais nova dos Beatos Luís Martin e Célia Guérin, casal cristão exemplar. Aos 15 anos, Teresa entrou no Carmelo de Lisieux. A vida de clausura e de contemplação, a vivência da infância espiritual, não a impediram de ser missionária. Pelo contrário, viveu de modo extraordinário o ideal de Santa Teresa de Ávila: "Vim para salvar almas e sobretudo a fim de rogar pelos sacerdotes". A entrega de amor fê-la vítima de amor. Faleceu aos 24 anos de idade, em 1897. Pio XI canonizou-a em 1925, proclamando-a Padroeira das Missões.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 66, 10-14

    Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais; regozijai-vos com ela, vós todos os que estáveis de luto por ela. 11Como criança amamentando-se ao peito materno, ficareis saciados com o seu seio reconfortante, e saboreareis as delícias do seu peito abundante. 12Porque, assim diz o Senhor: «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações, como uma torrente transbordante. Os seus filhinhos serão levados ao colo, e acariciados sobre os seus regaços. 13Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei; em Jerusalém sereis consolados. 14Ao verdes isto, os vossos corações pulsarão de alegria, e os vossos ossos retomarão vigor,como a erva fresca. A mão do Senhor há-de manifestar-se aos seus servos, e a sua ira aos seus inimigos.

    Jerusalém foi consolada por Deus, fonte de toda a consolação. Agora é chamada a oferecer essa mesma consolação, como mãe generosa, aos filhos das suas entranhas. O profeta especifica essas consolações, que não são promessas vãs ou retórica vazia, mas paz e segurança a todos os níveis. Acabaram-se os tempos das tensões e das guerras, acabaram-se as ameaças dos inimigos. A cidade santa está em paz, dom de Deus, e pode oferecê-la aos seus habitantes. Aliás a Nova Jerusalém identifica-se com Javé, que, pela sua presença e pelo seu espírito, atrairá todos os povos para lhes oferecer a paz e a consolação definitivas.

    Evangelho: Mateus 18, 1-5

    Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» 2Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles 3e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. 4Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. 5Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.

    Ao dizer estas palavras, Jesus parece pensar na humildade das crianças, que não têm pretensões, que têm consciência de ser crianças e aceitam a sua pequenez, a sua impotência e a necessidade que têm dos pais para sobreviver. Na relação com Deus, estas palavras têm ainda mais sentido: que é o homem diante d´Ele?
    A humildade é necessária particularmente aos dirigentes da comunidade cristã pelo que eles são - bem pouca coisa - e pelo que são os outros, - filhos de Deus.

    Meditatio
    Os pensamentos de Deus são bem diferentes dos nossos, tal como os seus caminhos são distantes dos nossos. Os nossos pensamentos vêm do orgulho; os pensamentos de Deus vêm da humildade. Os nossos caminhos são esforço para nos tornarmos grandes; os caminhos de Deus conduzem à pequenez. Como quem quer ir para o Norte deve caminhar em direção oposta ao Sul, assim, para avançar nos caminhos de Deus devemos tomar a direção oposta ao nosso orgulho.
    Teresa tinha grandes ambições: queria ser simultaneamente contemplativa e ativa, apóstola, doutora, missionária e mártir. Aliás, parecia-lhe pouco um só martírio e desejava-os todos. Acabou por descobrir que, no coração da Igreja, é o amor que tudo anima e move. Então, escreve: "Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações e que o Amor é tudo!... E, num transporte de alegria delirante, exclamei: encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor! No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor, assim serei tudo, assim o meu sonho será realizado." E, enquanto, no seu tempo, muitas pessoas fervorosas se ofereciam a Deus como vítimas da sua justiça, Teresa preferiu entregar-se ao seu Amor Misericordioso. Descobrira esse amor ao meditar na parábola do filho pródigo ou, melhor dizendo, do pai misericordioso. Dizia a santa de Lisieux: "Deus infinitamente Misericordioso, que se dignou perdoar com tanta bondade os pecados do filho pródigo, não será também justo comigo, que estou sempre a seu lado?" Para Teresa, Deus manifesta-se justo exatamente na sua misericórdia e no seu perdão a quem deles necessita. A Justiça de Deus é Amor e Misericórdia. Foi aceitando a sua pequenez e pobreza, e acolhendo e caminhando no amor misericordioso de Deus que ela chegou à Santidade.
    Como escreveu o P. Dehon: "A união íntima a Cristo na sua oblação e imolação de amor é-nos confirmada pela sua predileção pela oferta como vítima "ao Amor misericordioso" de Santa Teresa de Lisieux. "Nascemos do espírito de Santa Margarida Maria, aproximando-nos do da Ir. Teresa". Seguidamente o Pe. Dehon transcreve a fórmula com que a santa se ofereceu como vítima ao Amor misericordioso. Depois, conclui: "Com a Ir. Teresa, abandonamo-nos completamente à vontade divina" (Diário XLV, 53.55-56: Abril de 1925).
    A descoberta do Deus Misericordioso foi o ponto mais importante do Caminho Espiritual de Teresa do Menino Jesus. Essa perceção levou-a a dar-se conta da sua missão na Terra: anunciar que Deus não é Castigador, mas Misericordioso. Esta confiança na Misericórdia de Deus, tomou, transformou e entreteceu toda a sua vida e tornou-se o grande motor do que fez e disse até ao fim dos seus dias. Como vemos há uma forte semelhança e quase identidade entre a experiência espiritual e a missão do P. Dehon e de Santa Teresa.

    Oratio

    Ó Cristo Senhor, Tu nos escolheste e chamaste ao teu serviço pelo grande Amor que tens a Deus Pai e aos teus irmãos. Foste tu quem nos escolheu e não nós a Ti. Faz, pois, com que possamos, hoje, segundo o desígnio da tua chamada, dar frutos de salvação ao mundo, pelo qual nos oferecemos, como pessoas e como comunidade. Aviva em nós o espírito do Pe. Dehon, o qual, por teu amor, não se cansava de trabalhar para que toda a humanidade fosse, um dia, recapitulada em Ti. Torna-nos um testemunho vivo do teu amor na Igreja. Ámen.

    Contemplatio

    O Pai de misericórdia que nos ama ternamente chama-nos. Chama-nos seus filhinhos. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo. Eu sou este filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na inutilidade. Volto para o meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com amor. O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa, procura. E se regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração contra coração. E chama os seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o manto de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa. O Coração de Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria: «Alegremo-nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado». (Leão Dehon, OSP 3, p. 653).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor" (Santa Teresa do Menino Jesus).

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    S. Teresa do Menino Jesus, Virgem (01 Outubro)

  • Santos Anjos da Guarda

    Santos Anjos da Guarda


    2 de Outubro, 2019

    O Anjos, criaturas puramente espirituais e dotadas de inteligência e vontade, servem a Deus e são seus mensageiros. Eles "

    veem constantemente a face de meu Pai que está no Céu" (Mt 18, 10). São "poderosos mensageiros, que cumprem as suas ordens" (Sl 103, 20). São encarregados por Deus de proteger a humanidade. O povo de Deus sempre sentiu o dever de corresponder à sua silenciosa e benévola companhia, honrando-os. Em 1615, entrou no Calendário romano a celebração que hoje lhes dedicamos.

    Lectio

    Primeira leitura: Êxodo 23, 20-23a

    Eis que o que diz o Senhor: "Eu envio um anjo diante de ti, para te guardar no caminho e para te fazer entrar no lugar que Eu preparei. 21Mantém-te atento na sua presença e escuta a sua voz. Não lhe causes amargura, porque ele não suportará a vossa transgressão, porque está nele a minha autoridade. 22Mas se escutares a sua voz e se fizeres tudo o que Eu falar, Eu serei inimigo dos teus inimigos e serei adversário dos teus adversários, 23pois o meu anjo caminhará diante de ti.

    Estamos no epílogo do código da aliança, numa seção com caráter de pregação, possivelmente de origem eloísta. Logo no início aparece-nos a figura de um anjo, que irá à frente do povo na sua caminhada para a Terra Prometida, para o proteger e orientar. Chama-se o anjo de Deus ou anjo de Javé, idêntico ao próprio Deus. O povo deve, pois, obedecer-lhe. O enquadramento contextual do texto permite também afirmar que o anjo de Deus é, agora, a Lei, palavra de Deus encarnada na palavra humana. Mas poderão ser igualmente os acontecimentos futuros, todos eles mensageiros potenciais de Deus, testemunhas da sua palavra e da sua ação. Em última análise, como já dissemos, o anjo é o próprio Deus com o homem. Importa que o homem tome consciência dessa presença e se torne digno dela, deixando-se guiar docilmente.

    Evangelho: Mateus 18, 1-5.10

    Naquele tempo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» 2Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles 3e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu.4Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. 5Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.» 10«Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de meu Pai que está no Céu.

    Na literatura judaica, a função dos anjos era tripla: adoração e louvor de Deus; agentes ou mensageiros divinos nos assuntos humanos; guardiães dos homens e das nações (Heb 12, 15). Segundo uma crença generalizada, eram poucos os anjos que tinham acesso direto a Deus. Tendo em conta estas premissas, o ensinamento tem por alvo a dignidade dos pequeninos que acreditam em Jesus: se os seus anjos têm essa dignidade, quanto maior será a dignidade dos crentes ao serviço dos quais eles estão!
    Como Deus nos protege com os seus anjos, assim também nós havemos de proteger os irmãos, sobretudo os mais frágeis e pequenos.

    Meditatio

    Esta memória dos anjos recorda-nos que, no caminho da vida, não estamos sós. Deus não nos abandona. Deus caminha connosco.
    Há, com efeito, uma criação visível, que podemos ver, pelo menos parcialmente, com os olhos da carne; e há uma criação invisível, mas real, que só os sentidos espirituais nos permitem perceber, por meio da fé, da oração, da iluminação interior que vem do Espírito Santo.
    Os anjos são, em primeiro lugar, um sinal luminoso da divina Providência, da bondade paterna de Deus, que nada, do que é necessário, deixa faltar aos seus filhos. Intermediários entre a terra e o céu, os anjos são criaturas invisíveis postas à nossa disposição para nos guiarem no caminho de regresso à casa do Pai. Vêm do Céu para nos reconduzirem ao Céu e nos fazer pregustar algo das realidades celestes. Por vezes, podemos experimentar a presença dos anjos de modo muito concreto e sensível, desde que a saibamos reconhecer. Trata-se de encontros "casuais", - que todavia se tornam fundamentais e determinantes na nossa vida - ou de auxílio súbito e inesperado, em situações de perigo. Pode ser também uma intuição repentina, que nos permite dar-nos conta de um erro, de um esquecimento. Como não sentir-nos guiados, protegidos, nesses momentos? Os anjos protegem-nos de tantos perigos de que nem nos damos conta. Sobretudo do perigo de nos tornarmos ímpios, de não escutarmos nem obedecermos à Palavra de Deus. Os anjos sugerem-nos pensamentos de retidão e de humildade. Sugerem-nos bons sentimentos.
    Havemos também de ser anjos Deus em relação aos outros, ajudando-os a ver e a orientar-se pelos caminhos de Deus.
    O P. Dehon rezava: "Anjos do Senhor, recomendai-me à misericórdia do Sagrado Coração." (OSP 4, p. 317).

    Oratio

    Pai santo, Deus eterno e providente, nós vos damos graças por Cristo, Nosso Senhor. Proclamamos a vossa imensa glória, que resplandece nos Anjos e nos Arcanjos, e, honrando estes mensageiros celestes, exaltamos a vossa infinita bondade, porque a veneração que eles merecem é sinal da vossa incomparável grandeza sobre todas as criaturas. Por isso, com a multidão dos Anjos, que celebram a vossa divina majestade, Vos louvamos e bendizemos. Ámen. (cf. Prefácio dos Anjos).

    Contemplatio

    Os Anjos louvam a Deus e servem-n'O. «Eles são milhares de milhares, diz Daniel, à volta do trono de Deus, ocupados em servi-l'O» (Dan 7, 10). «Anjos do céu, diz o salmo, bendizei o Senhor, vós que executais as suas ordens» (Sl 102). Deus envia-os junto das criaturas. O seu nome significa «mensageiros». «São os enviados de Deus, diz S. Paulo, vêm ajudar os homens a realizarem a sua salvação» (Heb 1, 14). Há os anjos das nações e os anjos de cada um de nós. Deus dizia ao seu povo por Moisés: «Enviarei o meu anjo diante de vós. Conduzir-vos-á, guardar-vos-á e dirigir-vos-á para a terra que vos prometi» (Ex 23). Deus acrescentava: «Honrai-o, escutai a sua voz quando vos fala por Moisés. Se lhe obedecerdes, sereis abençoados e triunfareis sobre os vossos inimigos. Se o desprezardes, sereis castigados» (Ibid.). «Deus ordenou aos seus anjos, diz o salmo, que vos guardassem em todos os vossos caminhos. Levar-vos-ão nas suas mãos para que eviteis as pedras do caminho» (Sl 90). Trata-se aqui dos anjos de cada um de nós. «Respeitai as crianças, diz Nosso Senhor, os seus anjos veem constantemente a face de meu Pai» (Mt 18, 10). Os anjos vigiam particularmente as crianças. (L. Dehon, OSP 4, p. 315).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Anjos do Senhor, bendizei o Senhor!" (Sl 103, 20).

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    Santos Anjos da Guarda (02 Outubro)

  • S. Francisco de Assis

    S. Francisco de Assis


    4 de Outubro, 2019

    S. Francisco de Assis nasceu em 1181, ou 1182. Filho de um rico comerciante, Francisco sonhava tornar-se cavaleiro. Desviado desse ideal, procurou com persistência vontade de Deus. O encontro com os leprosos, e a oração diante do Crucifixo na igreja de S. Damião, levaram-no a abandonar a família e a iniciar uma vida evangélica penitencial. Bem depressa o Senhor lhe deu irmãos dispostos a viverem o evangelho sine glossa, em fraternidade. O papa Honório III aprovou a Regra e a vida dos frades menores, em 1222. No ano seguinte, Francisco recebeu os estigmas do Crucificado, selo da sua conformidade com o único Senhor e Mestre. Faleceu em 1226, sendo canonizado em 1228. Grande amigo da Natureza, S. Francisco é padroeiro dos ecologistas. É também um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

    Lectio

    Primeira leitura: Gálatas 6, 14-18

    Irmãos: Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. 15Pois nem a circuncisão vale alguma coisa nem a incircuncisão, mas sim uma nova criação. 16Paz e misericórdia para todos quantos seguirem esta regra, bem como para o Israel de Deus. 17De agora em diante ninguém mais me venha perturbar; pois eu levo no meu corpo as marcas de Jesus. 18A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso Espírito, irmãos!Ámen.

    Ao terminar a sua Carta aos Gálatas, Paulo declara ter agido retamente ao desmascarar a hipocrisia dos que defendiam a necessidade da circuncisão e da observância de lei hebraica para os cristãos (v. 12). Em seguida, afirma que não procura a glória do mundo, mas se sente honrado por estar em comunhão com Jesus Crucificado, cujo amor redentor afastara dele toda a ambição, orgulho e egoísmo. O seu único motivo de orgulho é a cruz do Senhor, que iniciou uma nova economia fundamentada, não na Lei, mas no Espírito. Acolhendo e pondo em prática o amor misericordioso de Deus, o cristão pode usufruir da plenitude dos bens messiânicos. Consciente de tal dom, Paulo não quer ouvir falar de outras doutrinas. A sua pertença exclusiva ao Senhor é manifestada pelos sofrimentos que, a seu exemplo, suporta para Lhe ser fiel (v. 17).

    Evangelho: Mateus 11, 25-30

    Naquele tempo, Jesus exclamou: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. 26Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.» 28«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos.29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.

    A relação entre Jesus e o Pai é única, como declara o nosso texto. Jesus é o Filho do Pai, de Quem recebeu tudo, por Quem é conhecido, e a Quem conhece como mais ninguém. Jesus revela-nos esse conhecimento, que é dom recíproco de amor. Na sua oração de bênção, Jesus reconhece que só os pequenos, os que não presumem de si mesmos, estão em condições de conhecer o amor do Pai e viver em comunhão com Ele. Que se fecha na sua "sabedoria" autoexclui-se dessa vida e comunhão. Francisco de Assis foi um desses pequenos e humildes que encontraram respiro e vida nova nas palavras e gestos de Jesus.

    Meditatio

    Francisco de Assis foi um daqueles pequenos, que receberam de coração aberto e disponível a revelação de Jesus, como Filho muito amado do Pai. O Evangelho, sine glossa, tornou-se a única regra da sua vida, regra que também propôs àqueles que se lhe quiseram juntar como irmãos. Para Francisco, tudo se resumia à relação com Jesus, no amor. Os estigmas, que recebeu já perto do fim da sua vida, são sinal da intensíssima relação com Jesus, que o levou a identificar-se com Ele também fisicamente. Numa época em que os homens da Igreja procuravam riquezas e grandezas, Francisco quis permanecer pobre e pequeno diante de Deus e dos homens. Por causa disso, nem aceitou ser ordenado sacerdote, permanecendo simplesmente irmão entre os irmãos, como o mais pequeno de todos, por amor do Senhor.
    Para ele realizaram-se plenamente as palavras de Jesus: "o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (v. 30). Quanta alegria enchia o coração de Francisco, pobre de tudo e rico de tudo, que no amor do Senhor sentia como suaves os maiores sofrimentos. "Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo." (Gl 6, 2). As cargas dos outros: é esse o jugo do Senhor. S. Francisco compreendeu-o desde o princípio da sua conversão. No fim da vida, contava: "Estando eu em pecado, parecia-me coisa excessivamente amarga ver os leprosos, mas o próprio Senhor me conduziu para meio deles e eu exercia misericórdia para com eles". Este é o jugo, que consiste em carregar as cargas dos outros, mesmo que isso nos parece muito duro. E continuava Francisco: "Carregando-as, o que me parecia amargo, converteu-se para mim em doçura na alma e no corpo". Pouco mais adiante, encontramos a segunda frase de Paulo: "Cada um terá de carregar o próprio fardo" (Gl 6, 5). Aqui, trata-se de não julgar os outros, de ter muita compreensão por todos, de não impor aos outros os nossos pontos de vista e os nossos modos de fazer, de vermos os nossos próprios defeitos e de não aproveitar os defeitos dos outros para lhes impor pesos que não estão de acordo com o pensamento do Senhor. "Ninguém se deve julgar o primeiro entre os irmãos", recomendou. "Quem jejua, não julgue os que comem". A caridade não critica os outros, não os julga, mas ajuda-os.
    Carreguemos, também nós, o jugo do Senhor, os fardos dos outros, e não os sobrecarreguemos com críticas e juízos sem misericórdia. Assim conheceremos melhor o Filho de Deus, que morreu por nós, e nele o Pai que está nos céus, com a mesma alegria de S. Francisco.

    Oratio

    Fazei, ó meu Deus, exclamava, que a doce violência do vosso amor me desapegue de todas as coisas sensíveis e me consuma inteiramente, a fim de que eu possa morrer por vosso amor infinito. Eu vo-lo peço por vós mesmo, ó Filho de Deus, que morrestes por amor de mim. Meu Deus e meu tudo! Quem sois vós, e quem sou eu, senão um verme de terra? Desejo amar-vos, Senhor adorável. Consagrei-vos a minha alma e o meu corpo com tudo o que sou. Levar-me-ei a fazer com ardor o que mais contribuir para vos glorificar. Sim, meu Deus, este é o único objeto dos meus desejos. (Oração de S. Francisco, citada por Leão Dehon, in OSP 4, p. 322)

    Contemplatio

    O Coração de Francisco foi, como o de Jesus, um porto de refúgio no qual todos os pobres corações humanos, agitados pela tempestade, podiam encontrar um asilo. O coração de Francisco foi um coração de apóstolo, um coração de fogo. Semelhante a um carro inflamado, percorria o mundo, ardendo por arrastar atrás de si todos os homens para os conduzir ao céu. O seu coração inflamado de amor gerou três ordens que deram e que dão tantos santos ao céu. Depois do capítulo geral da sua ordem em 1219, enviou religiosos para a Grécia, para África, para a França, para a Inglaterra, para aí estender o reino de Deus. Tinha reservado para si a missão da Síria e /323 do Egipto onde esperava encontrar o martírio! O coração de Francisco não estava simplesmente aberto às misérias morais, mas também às misérias físicas. Oh! Como amava os pobres e a pobreza! Como era terno para com os doentes e os aflitos! S. Francisco diz-nos a todos como S. Paulo: «Sede meus imitadores». A seu exemplo, entremos no Coração de Jesus pelo amor e pela imitação. (Leão Dehon, OSP 4, p. 322s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Carregai as cargas uns dos outros
    e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo." (Gal 6, 2).

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    S. Francisco de Assis (04 Outubro)

  • Nossa Senhora do Rosário

    Nossa Senhora do Rosário


    7 de Outubro, 2019

    O Rosário, que apareceu entre os séculos XV e XVI, foi divulgado pelos Dominicanos, tornando-se uma das mais populares devoções marianas. Nossa Senhora recomendou-o insistentemente em Fátima.

    A memória de Nossa Senhora do Rosário, inicialmente celebrada por algumas famílias religiosas, entrou na liturgia de toda a Igreja por disposição do Papa S. Pio V, dominicano, em 1572. Com essa festa, então abertamente chamada "comemoração da Bem-aventurada Virgem Maria da Vitória", o Papa queria agradecer a Nossa Senhora a sua intervenção na vitória da frota cristã contra a dos turcos, em Lepanto, a 7 de Outubro de 1571. Atualmente celebra-se simplesmente a memória de Nossa Senhora do Rosário.

    Lectio

    Primeira leitura: Atos, 1, 12-14

    Os Apóstolos desceram, do monte chamado das Oliveiras, situado perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de sábado, e foram para Jerusalém. 13Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente.Estavam lá: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, filho de Tiago.14E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.

    Depois de ter convivido durante quarenta dias com os discípulos, Jesus elevou-se ao céu. Então os Onze, que tinham andado dispersos, com outros discípulos e familiares de Jesus, entre os quais a sua mãe, reuniram-se provavelmente em casa de um deles, enquanto esperavam o Pentecostes, em que haviam de receber o Espírito Santo prometido. Neste texto, Lucas antecipa algumas notas sobre o modo de vida da primitiva comunidade eclesial de Jerusalém, que irá desenvolver depois. Uma característica evidente é a oração partilhada pelos irmãos e irmãs de modo assíduo e concorde. Depois do Pentecostes, em que Maria também participará (At 2, 1), a comunidade eclesial irá desenvolver a sua identidade e a diaconia. A oração, que precede o Pentecostes, é como que uma preparação; a assiduidade à oração e a concórdia entre os irmãos são garantia de crescimento e de futuro para a comunidade.

    Evangelho: Lucas 1, 26-38

    Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,27a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril,37porque nada é impossível a Deus.» 38Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

    A devoção do Rosário encontrou na anunciação a Maria o primeiro quadro para contemplação. O colóquio entre Deus e a jovem Maria, mediado pelo anjo Gabriel, - "força de Deus" -, decorre num clima de serena e alegre disponibilidade obediente da humilde «serva do Senhor». A disponibilidade de Maria decorre da reflexão ou meditação sobre a palavra proferida pelo enviado de Deus. Maria tenta uma exegese da mensagem, verdadeiramente surpreendente, pois se trata de um grandioso projeto de Deus, que a envolve. A contemplação de Maria sobre o primeiro mistério do seu envolvimento evangélico e messiânico é iluminada pela disponibilidade do Senhor, pronto a dar explicações. Maria acolhe-as e medita-as no seu coração. Deus não impõe uma tarefa absurda, mas "esforça-se" por convencer aquele que chama a participar nela.

    Meditatio

    S. Lucas oferece à meditação do devoto de Maria, na memória de Nossa Senhora do Rosário, uma sequência histórica de acontecimentos que têm o seu princípio na perícopa do evangelho que escutamos hoje e passa imediatamente para a dos Atos dos Apóstolos que também escutámos na primeira leitura. São duas paragens na peregrinação devocional do Rosário: uma com que começam os "mistérios gozosos" e outra que encontramos do terceiro dos mistérios gloriosos. Essa disposição dos quadros a contemplar dá-nos uma metodologia para a nossa meditação que nos ensina e ajuda a passar do individual ao comunitário, da contemplação à ação.
    De fato, a Anunciação é, para a Virgem Maria, uma experiência muito pessoal de Deus, uma paragem na contemplação da palavra de Deus, junto ao próprio Deus. É um evento gozado na solidão. Essa solidão ou experiência individual não significa isolamento: de fato, Aquela que recebeu o anúncio, partilha a vida da comunidade, a espera da manifestação poderosa e gloriosa do Espírito Santo. Põe em comum a sua experiência de Deus.
    A Anunciação constitui para Maria uma subida aos cumes da contemplação dos mistérios de Deus, uma aproximação, guiada pela luz da palavra divina, ao projeto que Deus quer realizar com a sua disponibilidade. Essa contemplação sustenta a obediência consciente. A Virgem da Anunciação não permanece imóvel no seu genuflexório, com o livro entre as mãos, como a imaginaram muitos pintores. Atua em si mesma de acordo com a Palavra recebida, meditada, contemplada e rezada; atua na comunidade, nascida do amor de Jesus e da fé em Cristo ressuscitado; e tudo com assiduidade e em concórdia com os outros discípulos.
    A atitude de Maria marca a primitiva comunidade e orienta-a para o uso dos meios que façam dela, o mais possível, comunidade do Senhor: a assiduidade ao "ensino dos Apóstolos", a "união fraterna", a "fração do pão", a oração e a partilha dos bens (cf. At 2, 42.44).
    Os primeiros monges pretendiam viver este mesmo espírito que animou, primeiro a Maria e, depois, a comunidade de Jerusalém. Daí a importância que davam à escuta da Palavra, à oração, à Eucaristia, à partilha de bens, à união fraterna. O mesmo espírito deve animar as nossas atuais comunidades. Daí a necessidade de usar os mesmos meios.

    Oratio

    Ó Maria, Mãe de Deus, Rainha e Mãe dos homens, eu vos ofereço as homenagens da minha veneração e do meu amor filial. Quero viver como vosso filho dedicado, consolando-vos e obedecendo-vos em tudo. Pela vossa poderosa intercessão, fazei que todos os meus pensamentos e ações sejam conformes à vossa vontade e à do vosso divino Filho. (Leão Dehon, OSP 4, p. 338).

    Contemplatio

    As orações dos santos são poderosas junto de Deus; e todavia não são mais do que as orações de servos. Mas as de Maria são orações de Mãe. Santo Antonino dizia: «a oração de Maria tem sobre o coração de Jesus a força de uma ordem». Também considera impossível que a divina Mãe peça ao Filho uma graça e que o Filho lhe recuse. «É impossível - dizia - que a Mãe não seja ouvida». É por isso que S. Bernardo nos exorta a pedir, por intercessão de Maria, todas as graças que desejamos alcançar de Deus. «Procuremos a graça - escreve - mas procuremo-la por Maria, porque ela é mãe; ela é sempre ouvida, e não pode obter uma recusa». Deste modo, vemos a imensa família dos cristãos recorrer a Maria como mãe amada e dedicada. Quem poderá contar os santuários, os altares, as imagens, as bandeiras, os escapulários, as imagens de Maria? A todo o momento, de todos os lugares da terra, se eleva um apelo filial: «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores». E eu mesmo grito: «Augusta Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim. Vede as misérias da minha alma, e tende piedade de mim. Sim, rogai e não cesseis jamais de rogar por mim, enquanto não me virdes no céu, seguro da minha salvação eterna. Ó Maria, sois a minha esperança, não me abandoneis». (Leão Dehon, OSP 4, p. 337).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores».
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    Nossa Senhora do Rosário (07 Outubro)

  • S. Teresa de Jesus, Virgem e Doutora da Igreja

    S. Teresa de Jesus, Virgem e Doutora da Igreja


    15 de Outubro, 2019

    Santa Teresa de Jesus nasceu em Ávila, Espanha, no ano de 1515. Entrou no Carmelo da Incarnação em 1535. Depois de um longo período de tibieza, começou a sua "conversão", com uma intensa vida mística em contato com Cristo, que a levou ao forte desejo de servir a Igreja do seu tempo, dilacerada pela Reforma protestante. Em 1562, fundou o Carmelo de S. José, em Ávila, onde deu início à reforma da Ordem. Seguiram-se diversas fundações de conventos reformados em Castela e na Andaluzia. A reforma estendeu-se também aos conventos carmelitas masculinos, graças à colaboração de S. João da Cruz, seu diretor espiritual, a partir de 1567. No leito de morte declarou-se feliz por morrer "filha da Igreja". Faleceu a 4 de Outubro de 1582. Foi canonizada por Gregório XV, em 1623, e declarada Doutora da Igreja por Paulo VI, em 1970.

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos 8, 22-27

    Irmãos: Nós sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente.23Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo. 24De facto, foi na esperança que fomos salvos. Ora uma esperança naquilo que se vê não é esperança. Quem é que vai esperar aquilo que já está a ver? 25Mas, se é o que não vemos que esperamos, então é com paciência que o temos de aguardar. 26É assim que também o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. 27E aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito, porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos.

    O capítulo 8 da carta aos Romanos foi chamado o capítulo dos contemplativos. Por isso, é muito adequado para iluminar a figura de Teresa de Jesus. Este texto permite-nos verificar a ligação entre a mensagem teresiana e a experiência da oração interior no Espírito Santo. O Espírito Santo é, efetivamente, como que o motor da esperança de toda a criação no coração dos filhos de Deus. De fato, é na vida cristã que se experimenta a salvação alcançada e a esperança da redenção final no corpo e no cosmos. Do Espírito Santo, intérprete dos nossos desejos e necessidades, brota a oração e a intercessão mais profunda. A oração é um dom da amizade divina, que supõe a presença dos Espírito Santo, que nos impele a rezar e a interceder pela salvação de todos e, sobretudo, solicita a empreender um caminho de perfeição e a passar o limiar das diversas moradas do castelo interior, até à fonte viva da vida divina.

    Evangelho: da féria ou do Comum

    Meditatio

    Teresa de Jesus deixou-nos um precioso testemunho da sua caminhada de fé no livro da sua Vida, onde revela uma infância religiosamente precoce, uma juventude vivida na crise, uma recuperação vocacional aos vinte anos, seguida ainda por uma experiência de vida religiosa com altos e baixos, até à "conversão" definitiva, quando já se aproximava dos quarenta anos. É a lenta caminhada de uma história de salvação que, desde os limites do pecado, se desenvolve numa conversão sincera e total, com uma determinada determinação, com uma opção total e definitiva pelo Senhor, que dá azo a uma experiência mística em que Deus opera maravilhas. A vida de Teresa testemunha o processo de transformação da sua pessoa, o desejo de salvação, a efetiva mudança de vida, a graça do Espírito Santo que a penetra e conduz a uma intensa experiência de fé cristã. Nela notamos a graça mística como iluminação interior e como experiência de salvação e de transformação, a presença de Deus, a força da Palavra e dos Sacramentos, a revelação de Cristo Ressuscitado, na sua santa humanidade, a efusão do Espírito Santo e dos seus dons. A experiência da inabitação trinitária, da comunhão total com Cristo esposo, orientada para o serviço da Igreja, meta ideal da santidade cristã, coroou a sua caminhada. Foi um itinerário em que a oração interior, divina amizade com Deus, foi a chave de compreensão. Tudo desembocou na mística do serviço, numa forte unidade de vida vivida e ensinada pela santa, num grande amor pela Igreja, demonstrado concretamente na promoção da santidade da vida e no serviço da vida contemplativa para renovação da Igreja.

    Oratio

    Santa esposa do Salvador, ensinai-nos a contemplar convosco o Lado ferido do Salvador, que nos deixa ver o seu Coração e que nos revela o seu amor. Convosco, encontrarei nessa chaga sagrada um ninho e um refúgio, e uma porta para entrar na arca no tempo das tentações e sobretudo na hora da minha morte. Ámen. (Leão Dehon, OSP 4, p. 359).

    Contemplatio

    Santa Teresa tem o seu lugar entre as almas que, antes das revelações do séc. XVII, fixaram os seus olhares no Coração de Jesus. Ela escrevia ao bispo de Osma, que lhe pedia um método de oração: «Colocareis diante dos vossos olhos, os do corpo e os da alma, a imagem de Jesus crucificado que haveis de considerar atentamente e em pormenor, com todo o recolhimento e amor de que fordes capaz... A chaga do seu lado, pela qual vos deixará ver o seu Coração a descoberto, revelar-vos-á o indizível amor que nos marcou, quando quis que esta chaga sagrada fosse o nosso ninho e o nosso asilo, e que nos servisse de porta para entrarmos na arca no tempo das tentações». Ela tinha recebido esta orientação dos Padres da Igreja e dos santos dos séculos XII e XIII. Uma das suas práticas mais caras era a de se transportar em espírito, à noite, ao tomar o seu repouso, ao jardim da agonia. Meditava sobre as angústias do Salvador, compadecia, unia-se a ele. Não era isto a Hora santa?E o seu coração trespassado pelo dardo inflamado do Serafim, que lhe causava um tão suave martírio, não a fazia pensar sem cessar na chaga de amor do seu Jesus crucificado? (Leão Dehon, OSP 4, p. 358s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "A oração e a vida não consistem em muito sofrer,
    mas em muito amar" (S. Teresa de Jesus).

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    S. Teresa de Jesus, Virgem e Doutora da Igreja (15 Outubro)

  • S. Margarida Maria Alacoque, Virgem

    S. Margarida Maria Alacoque, Virgem


    16 de Outubro, 2019

    Santa Margaria Maria Alacoque nasceu em Autún, França, no ano de 1647. Entrou no mosteiro da Visitação, em Paray-le-Monial, quando tinha 27 anos de idade. Na capela desse mosteiro teve revelações do Sagrado Coração de Jesus, recebendo a missão de divulgar a devoção ao mesmo Sagrado Coração, com o apoio e a ajuda de S. Cláudio de La Colombière. Faleceu em 1690, sendo canonizada por Bento XV, em 1920. S. Margarida Maria é um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 3, 14-19

    Irmãos: Eu eu dobro os joelhos diante do Pai, 15do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: 16que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, 18para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... 19a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus.

    Paulo, prisioneiro de Cristo, reafirmara a transcendência e a gratuidade do seu ministério: "A mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo" (v. 8). Essa gratuidade é visível, não só na sua tardia integração na Igreja, mas sobretudo no fato de este "mistério estar escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas" (Ef 3, 9). É algo de transcendente, cuja realidade não se pode verificar apenas através de uma simples investigação racional ou científica, pois se trata de amor por parte de Cristo, um amor gratuito, um amor "ultrapassa todo o conhecimento" (v. 19). A meta de tudo isto é que os cristãos fiquem "repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus" (v. 19). Margarida Maria fez experiência desse amor de Cristo, ao contemplar o seu Coração trespassado. E tornou-se apóstola desse amor.

    Evangelho: da féria ou do Comum

    Meditatio

    Santa Margarida Maria escreve no caderno de um dos seus retiros: «Em tudo o que fizer, entrarei no Sagrado Coração de Jesus para aí colher as suas intenções, me unir a ele e pedir a sua ajuda. Depois de cada ação, oferecê-la-ei a este divino Coração para reparar tudo o que aí encontrar de defeituoso, sobretudo nas minhas orações. Quando cometer faltas, depois de as ter punido em mim pela penitência, oferecerei ao Pai Eterno uma das virtudes deste divino Coração para pagar o ultraje que lhe tiver feito. À noite, colocarei neste Coração adorável tudo o que tiver feito durante o dia, a fim de que purifique o que houver de impuro e de imperfeito nas minhas ações, para as tornar dignas de lhe serem apropriadas e de as introduzir no seu divino Coração, deixando-lhe o cuidado de dispor de tudo segundo o seu desejo, não me reservando senão o de o amar e de o contentar». Eis o programa de uma união completa e de toda a jornada. As ações são oferecidas ao Coração de Jesus como tantos atos de amor e de reparação. São-lhe ainda apresentadas depois da sua realização para que as purifique.
    Num outro retiro, escrevia esta resolução: «Esforçar-me-ei, Senhor, por vos submeter tudo o que está em mim, e de fazer o que julgar mais perfeito, mais glorioso para o vosso Sagrado Coração ao qual prometo nada poupar de tudo o que estiver no meu poder, e de nada recusar fazer ou sofrer para o dar a conhecer, amar e glorificar».
    Aliás, sobre o desejo expresso pelo próprio Nosso Senhor, ela já tinha feito, em favor do Sagrado Coração, um testamento ou doação total, sem reserva, e isto por escrito, assinado com o seu sangue, de tudo o que ela pudesse fazer ou sofrer, doação à qual Nosso Senhor respondeu com o dom do seu próprio Coração, expresso por estas palavras: «Constituo-te herdeira do meu Coração e de todos os seus tesouros, para o tempo e para a eternidade, permitindo-te usar deles segundo os teus desejos». Que doação admirável! Como Nosso Senhor responde generosamente ao que se faz por Ele! É bem o que Ele prometeu em S. João (14, 23): «Se alguém me ama, meu Pai amá-lo-á e eu também o amarei e me manifestarei a ele».
    As palavras de Nosso Senhor a Margarida Maria mostram-nos também como a intercessão desta fiel discípula do Sagrado Coração é poderosa para o tempo e para a eternidade...
    Margarida Maria morreu prematuramente vítima do Sagrado Coração. Era necessário, de facto, que ela deixasse a terra para que se pudesse falar das suas revelações. Nada anunciava a proximidade da sua morte. No entanto, no começo do ano de 1690, ela dizia: «Morrerei seguramente este ano para não impedir os grandes frutos que o meu divino Salvador pretende tirar do livro da devoção ao Sagrado Coração de Jesus». O Padre Croiset estava, de facto, ocupado a compor este livro, do qual não tinha falado a ninguém.
    Três meses antes da sua morte, que ela previa, pediu para fazer um retiro de 40 dias para se preparar. Neste retiro, diante do que ela chamava a imensidão da sua malícia, lançou-se no Sagrado Coração. «Sou insolvente, Senhor, diz nas suas notas, vós o sabeis, colocai-me na prisão, consinto nisso desde que seja no vosso Sagrado Coração; e quando lá estiver, conservai-me lá bem cativa, ligada com as cadeias do vosso amor até que vos tenha pagado tudo o que vos devo; e como nunca o poderei, assim desejaria nunca mais sair desta prisão».
    Caiu doente, como o tinha previsto. Repetia que a sua morte era necessária para a glória do Sagrado Coração, e declarava, para admiração de todos, que estava à porta do túmulo. O Coração de Jesus era como sempre o objeto dos seus pensamentos. Aos cuidados que lhe são propostos, prefere, diz, abismar-se no Coração de Jesus. Depois de três dias de uma doença que ninguém conseguia explicar, deu a sua alma a Deus morrendo de amor, segundo a expressão do médico do mosteiro. (Leão Dehon, OSP 4, p. 367s.).

    Oratio

    Viver e morrer no Coração de Jesus, é todo o meu desejo. Não está aí o paraíso de toda a beleza, de toda a virtude, de toda a bondade? Contemplar os sentimentos do Coração de Jesus, admirá-los e unir-se a eles, essa é a ocupação dos eleitos. Quero que seja a minha desde agora. (Leão Dehon, OSP 4, p. 368).

    Contemplatio

    A devoção ao Sagrado Coração arrasta consigo a devoção ao Santíssimo Sacramento. Pode dizer-se que Margarida Maria vivia do Santíssimo Sacramento. Desde a sua mais tenra infância, uma atração extraordinária a levava para o altar. Quando não estava em casa de seus pais, era seguro poderem encontrá-la diante do Sacrário, que ela olhava com amor, mantendo-se lá sem dizer nada, contente de pensar que Nosso Senhor estava lá. Longe de diminuir com os anos, esta atracão crescia cada vez mais. Ela dizia: «Teria aí passado dias e noites sem beber nem comer, e sem saber o que fazer, senão consumir-me como um círio ardente na sua presença, para lhe dar amor por amor. Teria julgado ser a mais feliz do mundo, se tivesse podido passar as noites, sozinha, diante dele». Depois da sua entrada em religião, Margarida Maria deu livre curso ao seu amor pelo hóspede do Sacrário. Encontravam-na sempre ocupada com este divino objeto, com uma paixão tal, que temiam que esta aplicação lhe prejudicasse a saúde. Ela organizava o seu tempo tanto quanto podia, a fim de ter mais momentos livres para ficar na capela, onde a viam numa adoração profunda, com as mãos juntas, sem fazer nenhum movimento. (Leão Dehon, OSP 4, pp. 364).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quero viver e morrer no Coração de Jesus" (Leão Dehon).

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    S. Margarida Maria Alacoque, Virgem (16 Outubro)

  • S. Inácio de Antioquia

    S. Inácio de Antioquia


    17 de Outubro, 2019

    S. Inácio sucedeu ao apóstolo S. Pedro no governo da comunidade cristã de Antioquia. Nos inícios do século II, foi conduzido a Roma para ser condenado às feras. Enquanto ia a caminho do martírio, S. Inácio escreveu sete cartas às diversas igrejas do seu tempo. São cartas escritas com sangue, verdadeiros pedaços de vida, com o grito ardente de um místico que anseia pelo martírio. Estas cartas, cuja autenticidade é admitida pela maioria dos estudiosos, com sólidos argumentos, conservam rasgos vivos e luminosos de uma das maiores personalidades dos primeiros séculos da Igreja.

    Lectio

    Primeira leitura: Filipenses 3, 17 - 4, 1

    Irmãos: Sede todos meus imitadores, irmãos, e olhai atentamente para aqueles que procedem conforme o modelo que tendes em nós. 18É que muitos - de quem várias vezes vos falei e agora até falo a chorar - são, no seu procedimento, inimigos da cruz de Cristo: 19o seu fim é a perdição, o seu Deus é o ventre, e gloriam-se da sua vergonha - esses que estão presos às coisas da terra. 20É que, para nós, a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. 21Ele transfigurará o nosso pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso, com aquela energia que o torna capaz de a si mesmo sujeitar todas as coisas. 1Portanto, meus caríssimos e saudosos irmãos, minha coroa e alegria, permanecei assim firmes no Senhor, caríssimos.

    Paulo convida os filipenses a imitá-lo, tal como ele imita a Cristo. Jesus, pela sua morte e ressurreição, transfigurou o nosso corpo para o conformar ao seu corpo glorioso (v. 21). A cruz encerra o germe da ressurreição. Quem participa na cruz de Cristo, participa também na sua ressurreição. S. Inácio imitou a Cristo na sua paixão e morte cruenta. Deu o seu testemunho do sangue. Todo o cristão é chamado a idêntico testemunho, se não de modo cruento, pelo menos carregando com alegria e generosidade a cruz de cada dia.

    Evangelho: João 12, 24-26

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. 25Quem se ama a si mesmo, perde-se; quem se despreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si a vida eterna. 26Se alguém me serve, que me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo. Se alguém me servir, o Pai há-de honrá-lo.

    Se Jesus Cristo é o grão de trigo que, lançado à terra e morto, produziu muito fruto, o texto que hoje escutamos é uma síntese de todo o evangelho e da vida de Cristo. Inácio, imitador de Cristo, também é esse grão de trigo que, moído pelos dentes das feras, se tornou pão puro de Cristo, verdadeira eucaristia. Se os mártires precisam da Eucaristia, também a eucaristia não pode prescindir do testemunho dos mártires.

    Meditatio

    Para a meditação de hoje, nada melhor do que recorrermos a alguns pensamentos de S. Inácio de Antioquia. Na iminência do seu martírio, o santo bispo escreve aos Romanos: "É bonito partir deste mundo para Deus, a fim de ressuscitar para Ele". "Deixai que me torne alimento das feras, por meio das quais me é dado alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, moído pelos dentes das feras, para me tornar pão puro de Cristo. Acariciai as feras, para que se tornem o meu sepulcro e nada deixem do meu corpo, para que uma vez morto, eu não seja peso para ninguém. Então serei, de verdade, discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo deixar de ver o meu corpo. Suplicai a Cristo por mim, para que, por meio daqueles instrumentos, eu me torne hóstia para Deus" "Agora começo a ser discípulo de Cristo". "De nada me serviriam os confins da terra nem os reinos deste século. Para mim, é mais belo morrer por Jesus Cristo do que reinar sobre os confins da terra. Procuro-o, que morreu e ressuscitou por nós, quero-o, que ressuscitou por nós. Agora, o parto está iminente para mim. Tende compaixão de mim, irmãos. Não me impeçais de viver, não queirais o meu morrer. A quem quer ser de Deus, não o entregueis de graça ao mundo e não o enganeis com a matéria. Deixai-me acolher a luz pura. Junto dela, serei homem. Deixai-me ser imitador da Paixão do meu Deus". "Rezai para que eu seja cristão, não só de nome, mas também de fato". "Rezai para que possa alcançar a Deus".
    S. Inácio alcançou a Deus através do martírio no ano 107. A sua memória é celebrada neste dia desde o século IV.

    Oratio

    Rezemos com S. Inácio de Antioquia: "O meu Amor está crucificado e não há em mim fogo que se alimente da matéria. Mas há uma água viva que murmura dentro de mim e me diz interiormente: "Vem ao Pai". Não me satisfazem os alimentos corrutíveis nem os prazeres deste mundo. Quero o pão de Deus, que é a Carne de Jesus Cristo, nascido da linhagem de David, e por bebida quero o Sangue que é a caridade incorrutível". Ámen.

    Contemplatio

    A caridade tem tido os seus inumeráveis mártires, que têm fecundado a Igreja e enchido o céu. Todos aqueles que sacrificaram a sua vida nos trabalhos e nos perigos do apostolado sob todas as suas formas são mártires da caridade. Enfrentaram as fadigas, as doenças, as dificuldades do clima, a hostilidade dos infiéis para irem em socorro dos que sofrem ou que estão nas trevas da idolatria. Era o espírito da caridade que os conduzia. Dando-nos o seu mandamento novo, Nosso Senhor dá-nos, no Espírito Santo, a graça de o cumprirmos. Se correspondermos a este espírito de caridade, havemos de praticar entre nós a mansidão, a paciência, a benevolência. As obras de misericórdia ser-nos-ão caras e fáceis. Teremos gosto em tomar conta dos pequenos, dos pobres, dos ignorantes, daqueles que sofrem. Havemos de nos recordar da palavra do bom Mestre: «O que fazeis aos pequenos e aos deserdados, tenho-o como feito a mim». Se tivermos uma caridade ardente e abundante, levá-la-emos até ao sacrifício. Despojar-nos-emos, afadigar-nos-emos para socorrer o nosso próximo, e, se for preciso, daremos a nossa vida por ele como Nosso Senhor a deu por nós. (Leão Dehon, OSP 3, p. 419s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Faça-se tudo para honrar a Deus" (S. Inácio de Antioquia).

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    S. Inácio de Antioquia (17 Outubro)

  • S. Lucas, Evangelista

    S. Lucas, Evangelista


    18 de Outubro, 2019

    S. Lucas nasceu em Antioquia da Síria. Foi educado no paganismo e exerceu a profissão de médico (cf. Cl 4, 14). Convertido ao cristianismo, torou-se colaborador de S. Paulo, estabelecendo com ele uma grande amizade (Fm 24). Homem culto, S. Lucas, é o autor do terceiro evangelho e dos Atos dos Apóstolos, sendo também um dos responsáveis pela ação missionária nos primeiros tempos da Igreja.

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Timóteo 4, 10-17b

    Caríssimos: Demas abandonou-me. Preferiu o mundo presente e foi para Tessalónica. Crescente foi para a Galácia, e Tito para a Dalmácia. 11Apenas Lucas está comigo.Traz contigo Marcos, pois me será de grande ajuda no ministério.  12Quanto a Tíquico, enviei-o a Éfeso.13Quando vieres, traz o manto que deixei em Tróade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos. 14Alexandre, o fundidor de cobre, causou-me muitos danos. O Senhor lhe retribuirá segundo as suas obras. 15Toma tu também cuidado com ele, pois muito se tem oposto ao nosso ensinamento. 16Na minha primeira defesa, ninguém esteve ao meu lado. Todos me abandonaram. Que não lhes seja levado em conta. 17O Senhor, porém, esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, o anúncio fosse plenamente proclamado e todos os gentios o escutassem.

    Paulo manifesta o seu conforto por Lucas lhe permanecer fiel, enquanto outros, por cansaço ou por medo, o abandonaram. É sobretudo a presença do Senhor que anima o Apóstolo a pregar o Evangelho aos gentios, mantendo-se fiel à sua vocação inicial. Mas não pode deixar de lembrar os que o abandonaram, quando mais precisava de apoio, tendo de se defender sozinho em tribunal, e tendo de defender a Cristo e à fé que abraçara. O que provoca mais satisfação em Paulo é poder afirmar que foi por seu intermédio que o Evangelho foi anunciado, de modo especial aos gentios. A missão recebida em Damasco estava realizada.

    Evangelho: Lucas 10, 1-9

    Naquele tempo, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe.3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho.5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!'6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa.8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.'

    Só Lucas que nos fala deste episódio. Jesus, depois de ter enviado os Doze em missão (Lc 9, 1ss), envia também estes setenta e dois discípulos. A missão é uma das grandes preocupações do terceiro evangelista. Nos Atos dos Apóstolos, além das missões de Pedro e de Paulo, fala das missões de Estêvão, de Filipe e de outros apóstolos. A messe do Senhor precisa de muitos trabalhadores. Há que pedi-los e que enviá-los. A oração, não só prepara, mas é parte integrante da missão. A missão começa na oração; e rezar é estar em missão. Como o seu Mestre e Senhor, os discípulos devem ir em missão "como cordeiros para o meio de lobos" (v. 3). O anúncio essencial é: "O Reino de Deus já está próximo de vós." (v. 9). Trata-se de uma expressão densa de significado: os tempos completaram-se, isto é, estão cheios da presença de Deus que salva. A presença de Deus concretiza-se na pessoa de Jesus e nos seus ensinamentos.

    Meditatio

    S. Lucas escreveu o terceiro evangelho, com alguns elementos que nos permitem distingui-lo dos outros três evangelistas. S. Lucas é o evangelista de Maria: só ele nos fala da anunciação, da visitação, do nascimento de Jesus e da sua apresentação no templo. É o evangelista do Coração de Jesus: é o que melhor nos revela a sua misericórdia nas parábolas da dracma perdida e reencontrada, da ovelha perdida e achada, do filho pródigo. É o evangelista da caridade: só ele narra a parábola do bom samaritano, e fala do amor de Jesus aos pobres com acentuações mais ternas do que os outros evangelistas. Apresenta-nos Jesus comovido diante do sofrimento da viúva de Naim; Jesus que acolhe delicadamente a pecadora em casa de Simão, o fariseu, e lhe assegura o perdão de Deus; Jesus que acolhe Zaqueu com tanta bondade que muda o coração ganancioso do publicano em coração arrependido e generoso.
    Lucas é o evangelista da confiança, da paz, da alegria. É o evangelista do Espírito Santo. É ele que apresenta a comunidade cristã como tendo "um só coração e uma só alma". O evangelho de Lucas revela o seu zelo missionário. Só ele fala da missão dos setenta e dois discípulos e alguns pormenores dessa missão. Há, pois, muitos tesouros a explorar na obra lucana. Havemos de fazê-lo com gratidão, entregando-nos, também nós, generosamente ao Senhor, vivendo como discípulos e carregando com Ele a nossa cruz de cada dia.
    Lucas acompanhou Paulo em algumas das suas viagens missionárias e durante o cativeiro em Roma. Com a morte do Apóstolo eclipsa-se a história de Lucas. Um escrito do século III diz-nos que morreu virgem na Bitínia, com a idade de 74 anos, cheio de Espírito Santo. Uma tradição do século IV assegura-nos que derramou o sangue por Cristo. Lucas é um médico bondoso e serviçal, um literato, mas sobretudo um santo e mártir, que regou com o seu sangue as sementes do Evangelho por ele lançadas. É considerado padroeiro dos médicos, por causa das palavras de Paulo: "Saúda-vos Lucas, nosso querido médico" (Col 4, 14).

    Oratio

    Senhor, nosso Deus, que escolhestes São Lucas para revelar com a sua palavra e os seus escritos o mistério do vosso amor pelos pobres, fazei que sejam um só coração e uma só alma aqueles que se gloriam no vosso nome e todos os povos mereçam ver a vossa salvação. Ámen. (Coleta de Missa).

    Contemplatio

    S. Lucas é o Evangelista da santa Infância de Jesus. Como os amigos do Sagrado Coração lhe devem estar reconhecidos! Foi ele que nos deu a conhecer tantos pormenores deliciosos sobre o nascimento e a infância de Jesus. Devemos-lhe a saudação angélica, a Ave-maria, o Ecce Ancilla Domini, o Benedictus, o Nunc dimittis, tantos outros tesouros para os amigos do Coração de Jesus. Ele descreve-nos a visita dos pastores. Devemos-lhe também o cântico dos anjos «Gloria in excelsis Deo». Nenhum evangelista deu semelhantes tesouros à liturgia. Descreve a estadia de Jesus no Templo aos 12 anos, o comentário de Isaías por Jesus na sinagoga de Nazaré. Relata a bela parábola de Lázaro e do mau rico, a cura dos dez leprosos, dos quais só um é reconhecido, a cena deliciosa na qual Marta mostra demasiada solicitude e na qual Madalena escolheu a melhor parte, a única coisa necessária. A grande parábola do Filho pródigo é uma das suas mais belas páginas. Era preciso um homem de grande coração para compreender e relatar estas cenas tocantes e estes discursos do Salvador. Relata melhor que os outros a justificação de Madalena por Jesus em casa de Simão, o Fariseu, e a chamada de S. Pedro com a primeira pesca milagrosa. É a ele que devemos o conhecimento desta palavra caída do Sagrado Coração: vim acender o fogo (do amor) sobre a terra, e que desejo senão que se propague. Revelou-nos o santo Coração de Maria. Foi ele que nos disse por duas vezes que Maria conservava no seu coração os mistérios de Jesus e neles meditava (Lc 2, 19 e 51). (L. Dehon, OSP 4, p.369s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Rogai ao dono da messe
    que mande trabalhadores para a sua messe" (Lc 10, 2).

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    S. Lucas, Evangelista (18 Outubro)

  • S. Simão e S. Judas, Apóstolos

    S. Simão e S. Judas, Apóstolos


    28 de Outubro, 2019

    Os apóstolos, que hoje celebramos, ocupam uma posição bastante discreta nos evangelhos. Simão é cognominado "zelote" por Lucas, talvez porque pertencia ao grupo antirromano dos zelotes. Mateus e Marcos qualificam-no como "cananeu" (10, 3; 3, 18). O apóstolo Judas, cognominado "Tadeu" por Mateus e Marcos (10, 3; 3, 18), é qualificado por Lucas como "filho de Tiago" (6, 16) e, portanto, primo do Senhor. É este Judas que, na última ceia, diz a Jesus: "Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao mundo?»" (Jo 14, 22). Uma das Cartas Católicas, na qual se previne os cristãos contra os falsos doutores que se haviam infiltrado nas comunidades, é-lhe atribuída. De acordo com uma tradição oriental, os dois apóstolos terão levado o Evangelho até ao Cáucaso, onde teriam sido martirizados. A sua festa, celebrada no Oriente desde o século VI, passou a ser celebrada em Roma no século IX.

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 2, 19-22

    Irmãos: Já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, 20edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. 21É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. 22É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito.

    Na perspetiva de Paulo, o ministério de Cristo e o da Igreja estão intimamente ligados entre si. A unidade e a paz que há entre os cristãos, de origem pagã, ou deorigem hebraica, é dom de Deus Pai, por meio de Cristo Senhor, no Espírito Santo. A Igreja é como que um grande edifício, um templo santo, morada de Deus entre os homens. Os apóstolos, nossos pais na fé, com os profetas, são o fundamento desse edifício, onde nos sentimos "concidadãos dos santos e membros da casa de Deus" (v. 19). A "pedra angular" é Cristo (v. 20). Nesta perspetiva cristológica, a eclesiologia de Paulo torna-se particularmente clara. A presença, a função e o ministério dos apóstolos assume toda a sua importância. A Igreja é, pois, una, santa, católica e apostólica.

    Evangelho: Lucas 6, 12-19

    Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. 13Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: 14Simão, a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor. 17Descendo com eles, deteve-se num sítio plano, juntamente com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, 18que acorrera para o ouvir e ser curada dos seus males. Os que eram atormentados por espíritos malignos ficavam curados; 19e toda a multidão procurava tocar-lhe, pois emanava dele uma força que a todos curava.

    Jesus dá particular atenção ao grupo dos Doze: escolhe-os (Lc 6, 12-19), institui-os como colégio (Mc 3, 13-19) e envia-os em missão (Mt 10, 1-15). Lucas anota que Jesus prepara a escolha dos Doze com uma noite de oração (6, 12). Antes de os escolher, Jesus chama os seus discípulos: o chamamento, a vocação, está sempre na origem de toda a instituição e ministério eclesial. Depois de os chamar, Jesus impõe-lhes o nome de apóstolos. A nota de Lucas pretende certamente exprimir a importância do colégio dos Doze na Igreja que Jesus está para fundar.

    Meditatio

    A festa dos santos apóstolos Simão e Judas oferecem-nos ensejo para refletirmos e tornarmos mais clara consciência da Igreja, que é simultaneamente corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. São duas dimensões imprescindíveis. Não se pode receber o Espírito Santo sem pertencer ao corpo de Cristo. A razão é clara: o Espírito Santo é o Espírito de Cristo, que se recebe no corpo de Cristo. A Igreja, todavia, tem um aspeto visível. Por isso, Cristo escolheu os Doze e continua a escolher os seus sucessores, para formar a estrutura visível do seu corpo, quase em continuação da Incarnação. Pertencendo ao corpo de Cristo, podemos receber o seu Espírito e ser intimamente unidos a Ele num só corpo e num só Espírito.
    Um outro aspeto que esta festa nos permite colher é a relação entre a oração e a missão. Jesus demora-se em oração antes de decidir a escolha dos Doze. É preciso rezar para discernir o projeto de Deus. É preciso rezar em ordem às grandes decisões da vida pessoal e comunitária. Nesta perspetiva, a oração não é um momento separado do resto da vida, mas uma atitude prévia à nossa experiência de vida pessoal e eclesial. Rezar antes de iniciar a missão pessoal e/ou comunitária significa confiá-la Àquele que é o seu primeiro responsável, o dono da vinha, o pastor do rebanho, o Senhor do povo.
    "Reconhecemos que da oração assídua depende... a fecundidade do nosso apostolado." (Cst 76).

    Oratio

    Senhor Jesus, na festa de S. Simão e S. Judas, quero pedir-te a graça de, como os santos apóstolos, me tornar teu familiar e amigo. Então virás, com o Pai e com o Espírito Santo estabelecer em mim a tua morada. Que eu seja todo para ti, para o teu amor, para o apostolado, cooperação na tua obra redentora no coração do mundo. Ámen.

    Contemplatio

    Os dois apóstolos, que deviam ter-se conhecido na sua juventude em Caná, terminaram juntos o seu apostolado na Pérsia. Lá quiseram obrigá-los a oferecer sacrifícios ao Sol; preferiram dar a sua vida por Jesus Cristo. A sua morte foi ainda para ambos um ato de caridade, no seu objeto e nas suas circunstâncias. S. Simão estava num templo onde queriam obrigá-lo a sacrificar aos ídolos. Um anjo disse-lhe: «Far-te-ei sair do templo e farei ruir sobre eles todo o edifício». - «Não, respondeu Simão, deixai-os viver. Pode ser que alguns deles venham a converter-se». Enfim, um anjo disse a ambos: «Que escolheis? Ou a morte para vós ou o extermínio deste povo ímpio?» Os dois apóstolos exclamaram: «Misericórdia para este povo! Que o martírio seja a nossa herança». A sua morte foi uma semente de conversões. Unidos na sua vida, foram-no na morte, e são-no também no culto que lhes é prestado. A Igreja honra-os no mesmo dia. Os seus corpos reuniram-se a S. Pedro em Roma. Devo imitá-los no seu amor por Jesus, na sua fidelidade e no seu zelo pela salvação do próximo. (L. Dehon, OSP 4, p. 402s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Sois concidadãos dos santos
    e membros da casa de Deus" (Ef 2, 19).

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    S. Simão e S. Judas, Apóstolos (28 Outubro)

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