Week of Mai 29th

  • 7ª Semana - Quinta-feira - Páscoa

    7ª Semana - Quinta-feira - Páscoa


    2 de Junho, 2022

    7ª Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 22, 30; 23, 6-11

    Naqueles dias, querendo o tribuno averiguar com imparcialidade do que era acusado pelos judeus, fê-lo desalgemar, convocou os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio e mandou buscar Paulo, fazendo-o comparecer diante deles.
    6Sabendo que havia dois partidos no Sinédrio, o dos saduceus e o dos fariseus, Paulo bradou diante deles: «Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus, e é pela nossa esperança, a ressurreição dos mortos, que estou a ser julgado.» 7Estas palavras desencadearam um conflito entre fariseus e saduceus e a assembleia dividiu-se, 8porque os saduceus negam a ressurreição, assim como a existência dos anjos e dos espíritos, enquanto os fariseus ensinam publicamente o contrário. 9Estabeleceu-se enorme gritaria, e alguns escribas do partido dos fariseus ergueram-se e começaram a protestar com energia, dizendo: «Não encontramos nada de mau neste homem. E se um espírito lhe tivesse falado ou mesmo um anjo?» 10A discussão redobrou de violência, a tal ponto que o tribuno, receando que Paulo fosse despedaçado por eles, mandou descer a tropa para o arrancar das mãos deles e reconduzi-lo à fortaleza.
    11Na noite seguinte, o Senhor apresentou-se diante dele e disse-lhe: «Coragem!
    Assim como deste testemunho de mim em Jerusalém, assim é necessário que o dês também em Roma.»

    A defesa de Paulo diante do Sinédrio é relatada por Lucas de um modo que deixa supor uma profunda elaboração do texto, pois encontramos pormenores inverosímeis e outros que se adaptam às circunstâncias históricas. O Apóstolo fora a Jerusalém para visitar a comunidade e, a conselho de Tiago, tinha subido ao Templo. Descoberto pelos seus adversários, só não perdeu a vida porque interveio o tribuno romano, que até lhe permitiu falar à multidão. Paulo conta, mais uma vez, a história da sua conversão. Mas as suas palavras desencadeiam novo tumulto e o tributo manda reconduzi-lo à fortaleza, onde Paulo se declara cidadão romano. No dia seguinte, é levado ao sinédrio e pronuncia o seu discurso, em que habilmente explora a controvérsia existente entre fariseus e saduceus acerca da ressurreição. A confusão aumenta e, mais uma vez, Paulo é salvo pelos romanos. Mas o Senhor conforta o seu missionário e garante-lhe que o seu testemunho vai continuar, não só em Jerusalém, mas também no centro do próprio Império, em Roma.

    Evangelho: Jo 17, 20-26

    Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos ao céu e disse: 20Pai, santo, não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, 21para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. 22Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. 23Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim. 24Pai, quero que onde Eu estiver estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória, a glória que me deste, por me teres amado antes da criação do mundo. 25Pai justo, o mundo não te conheceu, mas Eu conheci-te e estes reconheceram que Tu me enviaste. 26Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles também.»

    Estamos na terceira parte da «oração sacerdotal». Jesus amplia o horizonte, fazendo referência a todos aqueles que, ao longo dos séculos, hão-de acreditar n´Ele pela palavra dos discípulos. Depois pede por todos os crentes (vv. 20-26). Pede especialmente, para eles, uma união e unidade semelhantes às que existem entre o Pai e o Filho, ou melhor ainda, que participem nessa união e nessa unidade (vv. 21-
    23). Pede pela salvação dos discípulos (vv. 24-26).
    Como o Pai está no Filho e o Filho está no Pai, também os crentes hão-de estar com eles, para que o mundo creia que Jesus é o enviado do Pai. Esta unidade é possível pelo amor, a única forma de uma pessoa estar noutra sem perder a sua própria identidade. Mas o amor é obediência, é realização da vontade do Pai.
    Meditatio

    Jesus quis partilhar connosco a glória que o Pai Lhe deu: «Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um» (v. 22). Que quer dizer o Senhor com estas palavras? Não é certamente a glória mundana, que tantas vezes procuramos, para satisfazer o nosso orgulho e a nossa vaidade. A glória de Cristo é a glória daquele que veio para servir, que se baixou ao nosso nível, que se identificou connosco, que nos lavou os pés. É, portanto, a puríssima glória daquele que jamais procurou a glória e que, por isso mesmo, foi glorificado pelo Pai. É a glória daquele que «se levantou da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura e, depois, deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura» (Jo 13, 4-5) ou que, como escreve Paulo, «se rebaixou a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome» e lhe deu uma glória que está acima de toda a glória, a glória de «Senhor!».
    Trata-se, pois, de uma glória que vem do amor do Pai e que tem por objectivo fazer com que todos «sejam um»: «Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um» (v. 22). É, pois, uma glória dada por amor, esse amor que está na base da fraternidade entre os discípulos. Essa fraternidade é testemunho seguro e autorizado da verdade da nossa fé cristã. O cristianismo ganha credibilidade, e cresce em credibilidade, quando os fiéis se empenham em viver como irmãos e irmãs, que se aceitam uns aos outros como são para tender à unidade, quando não se deixam levar por rivalidades, mas se ajudam, se apoiam, são benevolentes uns com os outros. Há que ter tudo isto bem presente na vida espiritual, na missão, na pastoral, para darmos testemunho do «amor de Cristo num mundo à procura de uma unidade difícil e de novas relações entre pessoas e grupos» (Cst 43) e para colaborarmos eficazmente na construção de uma nova civilização, a «civilização do amor», que será, na terra, um reflexo da comunidade trinitária, conforme a oração de Jesus: «Que todos sejam um só. Como Tu, ó Pai, estás em Mim, e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste» (Jo 17, 21). Notemos a insistência de Jesus, não só sobre a unidade no amor, mas também sobre a dimensão missionária da comunidade unida no amor. "Ut sint unum" («Para que sejam um») é um dos motes caros ao Pe. Dehon.

    Oratio

    «Ó Jesus, realiza o teu testamento. Vem a mim e dá-me também o amor do Pai. Devo da minha parte fazer o que é próprio para favorecer esta união. Devo viver junto de Ti, Contigo, em Ti, em união com o teu divino Coração, fazendo tão constantemente quanto possível actos de amor, de reconhecimento, de reparação e de oração». Assim Te rezava o teu servo Leão Dehon. Faço minha a sua oração, mas quero também pedir-Te que a graça da união Contigo me leve a empenhar-me na união com todos os meus irmãos e irmãs. Trabalhar pelo teu Reino é, sobretudo, mergulhar na fraternidade, que é sinal da tua presença, da presença do teu Reino. A tua mensagem, muitas vezes, não emerge, porque não emergem comunidades fraternas realizadas. Faz-me compreender o mistério da união Contigo, mas também o mistério da fraternidade e a força missionária da comunhão. Amen.

    Contemplatio

    «Quero que, onde eu estiver, eles estejam comigo». É a promessa do céu, a promessa da visão intuitiva e da posse de Deus: «Quero que eles vejam a minha glória, Ut videant claritatem meam». É mais do que uma oração, mais do que um desejo, Nosso Senhor exprime uma vontade, fala ao seu Pai como de igual para igual. Pede que os seus discípulos sejam testemunhas da glória que o seu Pai lhe destinou desde toda a eternidade.
    Depois recorda sumariamente as condições desta beatitude para os seus discípulos: «O mundo não os conhece, diz a seu Pai, e por causa disso não chega à salvação nem à glória do céu. Mas eu conheci-vos e vós me glorificastes. Os meus apóstolos conheceram-vos em mim, compreenderam que eu era vosso enviado. Dei- lhes a conhecer o vosso nome e dá-lo-ei a conhecer ainda mais».
    Conhecer Deus, conhecer prática e progressivamente Jesus e a revelação, eis, portanto, o caminho da beatitude.
    Este conhecimento começou pelo ensino comum da Igreja. Ele cresce sempre mais pelas luzes mais abundantes que Nosso Senhor comunica àqueles que se aplicam a conhecê-lo na oração e no recolhimento. Deve estar unido ao amor, que cresce em nós nas mesmas proporções. Quanto mais conhecemos a Deus mais o amamos, quanto mais nos tornamos dignos do seu amor, mais nos unimos intimamente com ele e com Jesus Cristo.Eis o caminho, eis a via: melhor conhecer Nosso Senhor para melhor o amar.
    «Pai, que o amor com que me amastes esteja neles e eu neles!». São as últimas palavras do testamento do Sagrado Coração. Nosso Senhor podia mostrar-se mais amoroso e mais terno por nós? Pensemos bem nestas palavras: «Meu Pai, amai- os como me amastes a mim desde toda a eternidade. Amai-me neles, amai-os como meus irmãos, como outros que eu mesmo...».
    Que diríamos nós sobre a terra de um príncipe real que dissesse ao seu pai:
    «Eis alguns dos vossos súbditos, adoptai-os como vossos filhos, amai-os como me amais a mim, dai-lhes uma parte da minha herança...». Isto seria o cúmulo da amizade, da abnegação, da dedicação, e isto nunca se viu, mas Nosso Senhor pediu isto por nós a seu Pai. E acrescentou: «E eu mesmo estarei neles, et ego in ipsis. Habitarei neles, viverei nos seus corações, serei um só com eles...».
    Foi esta união divina que nos foi prometida. Tornamo-nos participantes da natureza divina; divinae consortes naturae, como diz S. Pedro.
    Esta união estabelece-se pelo estado de graça e acrescenta-se cada dia pela vida interior. Está à minha disposição e posso torná-la todos os dias mais íntima. Que loucura se o não fizesse! (Leão Dehon, OSP 3, p. 490s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Qj.Je todos sejam um» ( Jo 17, 21 ).

  • 7ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    7ª Semana - Sexta-feira - Páscoa


    3 de Junho, 2022

    7ª Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 25, 13-21

    Naqueles dias, 13o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesareia e foram apresentar cumprimentos a Festo. 14Como se demorassem vários dias, Festo expôs ao rei o caso de Paulo, dizendo: «Está aqui um homem que Félix deixou preso, 15e contra o qual, estando eu em Jerusalém, os sumos-sacerdotes e os Anciãos dos judeus apresentaram queixa, pedindo a sua condenação. 16Respondi-lhes que não era costume dos romanos conceder a entrega de homem algum, antes de o acusado ter os acusadores na sua frente e dispor da possibilidade de se defender da acusação. 17Vieram, pois, comigo e, sem mais demoras, sentei-me, no dia seguinte, no tribunal e mandei comparecer o homem. 18Postos em frente dele, os acusadores não alegaram nenhum dos crimes que eu pudesse suspeitar; 19só tinham com ele discussões acerca da sua religião e de um certo Jesus, que morreu e Paulo afirma estar vivo. 20Quanto a mim, embaraçado perante um debate deste género, perguntei-lhe se queria ir a Jerusalém, a fim de lá ser julgado sobre o assunto.
    21Mas Paulo apelou para que a sua causa fosse reservada à decisão de Augusto e eu ordenei que o mantivessem preso até o enviar a César.»

    Paulo estava na prisão havia dois anos por ordem do procurador Félix que se tinha negado a pô-lo à disposição dos Judeus. Três dias depois da chegada de Pórcio Festo, os Judeus voltaram à carga, na esperança de que o novo procurador aproveitasse a oportunidade para se reconciliar com eles. Mas Festo preferiu actuar de acordo com o direito romano. Homem honesto, deu-se conta de que o que verdadeiramente dividia os Judeus do Apóstolo não era uma qualquer doutrina, mas um acontecimento, a ressurreição de Jesus. E propôs a Paulo ser julgado em Jerusalém, na sua presença. O Apóstolo não aceitou e apelou para César, na esperança de anunciar o Evangelho na própria capital do império.

    Aproveitando a passagem do rei Agripa por Cesareia, Festo expôs-lhe questão. Agripa interessou-se, quis ouvir pessoalmente Paulo e reconheceu a sua inocência. O Apóstolo não deixou perder a boa ocasião para anunciar ao rei e à sua corte a Boa Nova da Ressurreição, a ponto de Agripa afirmar: «Por pouco não me persuades a fazer-me cristão» (Act 26, 28). A Ressurreição de Jesus tornou-se tema de conversa na corte.

    Paulo não perde uma única oportunidade de anunciar Cristo Morto e Ressuscitado. Já antes, o fizera diante do Sinédrio (Actos 23, 6ss.) e diante de Pórcio Festo. Tirando partido dos seus direitos de cidadão romano, dispõe-se a ir testemunhar em Roma, diante do Imperador.
    A coragem de Paulo é espantosa e obriga várias categorias de pessoas a confrontar-se com o acontecimento da ressurreição de Jesus, fundamento do novo caminho de salvação, cuja notícia se ia espalhando pelo mundo.

    Evangelho: João 21, 15-19

    Quando Jesus se manifestou aos seus discípulos junto ao mar de Tiberíades, depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de ti.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.» 16Voltou a perguntar- lhe uma segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de ti.» Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» 17E perguntou-lhe, pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu gostas muito de mim?» Pedro ficou triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: 'Tu gostas muito de mim?' Mas respondeu-lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu gosto muito de ti!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas. 18*Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres.» 19E disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de dar glória a Deus. Depois destas palavras, acrescentou:
    «Segue-me!»

    Simão é o centro da atenção do evangelista João, no texto que hoje lemos. O pescador da Galileia é chamado a ser pastor (vv. 15-17) e a dar testemunho de Cristo pelo martírio (vv. 18s.).
    Jesus exige a Pedro uma confissão de fé e de amor, antes de lhe confiar o cuidado pastoral da Igreja. Trata-se de uma condição indispensável para o exercício da função de guia espiritual. Jesus pede três vezes essa confissão a Pedro.
    A insistência de Jesus no amor compreende-se na relação de filial intimidade que Pedro tinha com Ele. No serviço pastoral, a relação de confiança e de comunhão com o Senhor precede a exigência das próprias qualidades humanas. Jesus conhece intimamente Pedro. Mas exige-lhe uma confissão explícita de fé e de amor. E, então, confia-lhe o serviço pastoral da Igreja: «Apascenta as minhas ovelhas» (v. 17).
    Depois do ministério pastoral, virá o testemunho do martírio. O verdadeiro amor vai até ao dom da própria vida: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13).
    «Segue-me» (v. 19). Este mandato do Senhor é uma clara referência a outras palavras, tais como: «Não podes seguir-me agora; seguir-me-ás depois» (Jo 13, 36).

    Meditatio

    O procurador Festo resume ao rei Agripa a pregação de Paulo: «Os acusadores não alegaram nenhum dos crimes que eu pudesse suspeitar; só tinham com ele discussões acerca da sua religião e de um certo Jesus, que morreu e Paulo afirma estar vivo» (v. 19-29). Paulo pregava Jesus morto e ressuscitado. Era essa a razão pela qual os seus acusadores o queriam ver condenado.
    No evangelho, vemos Jesus, que esteve morto mas agora está vivo, a manifestar-se aos Apóstolos. Não se trata de um fantasma, mas de verdadeiro corpo humano, com um coração igualmente humano, que deseja ser amado: «Simão, filho de João, tu amas-me?» (v. 15). Pedro responde com modéstia. Ama o Senhor, mas não o diz com a mesma segurança em si com que o dizia antes da paixão, quando O negou. Experimentou a sua fragilidade, a sua inconstância e aprendeu que só o Senhor pode tornar consistente e forte o seu amor. Por isso, repete três vezes:
    «Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de ti» (v. 15). Jesus nada mais pretende do que essa afirmação de amor para lhe confiar a Igreja: «Apascenta as minhas ovelhas!» (v. 15). O serviço apostólico fundamenta-se nesta ligação íntima com o Senhor. As qualidades humanas ajudam, e são até muito importantes. Mas de pouco valem sem a união com Jesus, o Supremo Pastor da Igreja. É Ele a fonte do amor com que somos chamados a amar a Deus, e a amar-nos uns aos outros. O único amor verdadeiramente consistente é aquele que vamos beber ao Coração de Cristo. Só esse amor nos torna capazes de seguir o Senhor até ao martírio, como aconteceu com Pedro. Antes da paixão, tinha perguntado a Jesus: «Senhor, para onde vais?». Jesus tinha-lhe respondido: «Para onde Eu vou tu não me podes seguir por agora; hás-de seguir-me mais tarde» (Jo 13, 36). Pedro parece não ter gostado da resposta e ripostou: «Por que não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti!». Sabemos o que aconteceu poucas horas depois: negou o seu Senhor e Mestre, três vezes. Só podemos amar o Senhor e dar a vida por Ele, porque Ele nos amou e deu a vida por nós. Depois da sua Morte e Ressurreição é que Jesus convida Pedro a segui-Lo até à morte, dando por Ele a maior prova de amor.
    Abrir-nos ao amor de Cristo, acolhê-lo, é o fundamento de toda a generosidade: «Nisto consiste o Seu amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele, que nos amou... Amou-nos por primeiro...» (1 Jo 4, 19).

    Oratio

    Que hei-de dizer-te hoje, Senhor, perante a confissão de fé e de amor de Pedro? Aqui está a vida, o seu mistério, a sua luz, o seu sabor, o seu significado! Todas as outras questões não passam de simples ocasiões para Te dizer o meu «sim». Criaste-me para dizeres que me amas, e para pedir-me que corresponda ao teu amor. Pedes-mo como um mendigo! De facto, enviaste-me o teu Filho como servo para que não te sirva por medo, ou por espanto diante da tua grandeza, mas unicamente por amor. Tocaste-me o coração com a tua benevolência e a tua humildade. Conquistaste-me com o teu rosto desfigurado na cruz.
    Ainda que, como Pedro tenha hesitado, ou pecado, quero hoje dizer-te que Te amo, que quero amar-Te toda a vida, que jamais quero separar-me de Ti, que estou disposto a perder tudo por Ti.
    Dá-me a fé e o amor ardente de Pedro, e dá-me a coragem de Paulo para que, vivendo em Ti e para Ti, testemunhe a ressurreição do teu Filho Jesus, e o teu amor que excede todo o conhecimento. Amen.

    Contemplatio

    S. Paulo foi uma vítima sempre imolada pela glória de Deus e a salvação das almas. Nosso Senhor tinha dito: «Mostrar-lhe-ei tudo o que terá de sofrer pelo meu nome» (Act 1, 16). Sabia-se vítima. Dizia: «Não quero gloriar-me senão na cruz de Jesus. - Levo no meu corpo os seus estigmas» (Gal 6). «Gastar-me-ei e gastarei tudo pela salvação das vossas almas» (2Cor 12, 15). Enumera na sua segunda carta aos Coríntios tudo o que sofreu por Cristo: foi flagelado pelos Judeus; por três vezes foi flagelado e apedrejado três vezes. Três vezes naufragado; passou um dia e uma noite no fundo do mar. Sofreu a fome, a sede, o frio, a nudez. Deu a fórmula do puro amor quando disse: «Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo pela glória de Deus» (1Cor 10, 31). Finalmente, morreu por Cristo como desejava, feliz por dar a sua vida por aquele que morreu por nós. S. Paulo tinha eminentemente Pedro é apóstolo do Sagrado Coração. - Pedro está entre os íntimos do Coração de Jesus. Está sempre junto de Jesus com João e Tiago (Leão Dehon, OSP 3, p 707).

    S. João amava Jesus mais ternamente. S. Pedro amava fortemente, amava muito porque muito lhe tinha sido perdoado. Caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. Defende Jesus ferindo Malco. Tem um momento de fraqueza no Sinédrio, mas repara-o generosamente com as suas lágrimas. Opõe a sua tríplice confissão de amor à sua tríplice negação. Jesus tinha-o mantido sempre entre os seus preferidos, com André, Tiago e João. Foram os primeiros que chamou. Foi viver em casa de Pedro. Toma-o consigo no Tabor, envia-o a preparar a Ceia com João, leva-o também para junto de si na agonia. Pedro e João correm ao túmulo. Jesus manda avisar Pedro a respeito da sua ressurreição e aparece-lhe em particular. É sempre a intimidade, sempre a união. O chefe da Igreja deve aliás possuir eminentemente o que possuem os seus membros. João é o apóstolo do Sagrado Coração, Pedro devia sê-lo também, embora com matizes na forma (Leão Dehon, OSP 3, p.703s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Senhor, Tu sabes que Te amo!» (Jo 21, 17).

  • 7ª Semana - Sábado - Páscoa

    7ª Semana - Sábado - Páscoa


    4 de Junho, 2022

    7ª Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 28, 16-20.30s.

    16Quando entrámos em Roma, Paulo foi autorizado a ficar em alojamento próprio com o soldado que o guardava. 17Três dias depois, convocou os principais dos judeus e, quando estavam todos reunidos, disse-lhes:«Irmãos, embora nada tenha feito contra o povo ou contra os costumes paternos, fui preso em Jerusalém e entregue às mãos dos romanos. 18Estes, depois de me terem interrogado, queriam libertar-me, por não haver em mim crime algum digno de morte. 19Mas, como os judeus se opuseram, fui constrangido a apelar para César, sem querer, de modo algum, acusar o meu povo. 20Foi por este motivo que pedi para vos ver e falar, pois é por causa da esperança de Israel que trago estas cadeias.» 30Paulo permaneceu dois anos inteiros no alojamento que alugara, onde recebia todos os que iam procurá-lo, 31anunciando o Reino de Deus e ensinando o que diz respeito ao Senhor Jesus Cristo, com o maior desassombro e sem impedimento.

    Entre a leitura de ontem e a de hoje, temos a narrativa da atribulada viagem de Paulo até Roma: parte de Cesareia para a ilha de Creta, sofre uma grande tempestade durante 14 dias, demora-se em Malta, viaja até Roma e é calorosamente recebido pela comunidade cristã. Na capital do Império, o Apóstolo vive uma liberdade vigiada, que aproveita para anunciar o Reino de Deus com muita coragem.
    A obra de Lucas atingiu o objectivo: nada nem ninguém pode deter o caminho da Palavra, que chega ao coração do Império e é pregada «nos extremos confins da terra». Paulo é uma das muitas testemunhas de Jesus. É um modelo, um campeão da fé e do testmunho da mesma, mas não é o único. Paulo cumpriu a sua missão com fidelidade e coragem exemplares. Mas todo o cristão há-de ser testemunha da Ressurreição. Em todo o tempo e lugar, em todas as circunstâncias, o discípulo há-de proclamar Jesus como «Senhor» e Salvador, porque «a palavra de Deus não pode ser acorrentada» (2 Tm 2, 9).

    Evangelho: João 21, 20-25

    Naquele tempo, 20Pedro voltou-se e viu que o seguia o discípulo que Jesus amava, o mesmo que na ceia se tinha apoiado sobre o seu peito e lhe tinha perguntado: 'Senhor, quem é que te vai entregar?' 21Ao vê-lo, Pedro perguntou a Jesus: «Senhor, e que vai ser deste?» 22Jesus respondeu-lhe: «E se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!» 23Foi assim que, entre os irmãos, correu este rumor de que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse que ele não havia de morrer, mas sim: «Se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso?»
    24Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu. E nós sabemos bem que o seu testemunho é verdadeiro. 25Há ainda muitas outras coisas
    que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que o mundo não teria espaço para os livros que se deveriam escrever.

    No epílogo do evangelho de João, o discípulo amado aparece, mais uma vez, com Pedro. A presença de Pedro, cuja autoridade é reconhecida, serve para acreditar a de João e, de algum modo, a autoridade do próprio quarto evangelho que, directa ou indirectamente remonta ao discípulo amado.
    Quando o quarto evangelho foi escrito, os mártires eram já tidos em grande
    consideração. A morte de um mártir era o modo mais elevado de glorificar a Deus. Jesus tinha predito o martírio de Pedro. Mas não terá dito nada sobre o «outro discípulo»? Claro que disse: «Se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!» (v. 22). Os primeiros cristãos julgavam iminente a segunda vinda de Jesus. Embora muitos morressem, muitos outros viveriam até ao regresso do Senhor. Entre eles, João. Mas a vinda do Senhor não aconteceu como pensavam. O próprio quarto evangelho inculca seriamente a presença, a actualidade das realidades escatológicas: o juízo final, a vida eterna... têm lugar aqui e agora, ainda que isso não exclua a dimensão do futuro. A morte do discípulo amado, entretanto ocorrida, desconcertou muito gente, e foi preciso esclarecer a sentença ambígua de Cristo. O capítulo 21 foi acrescentado para corrigir a má interpretação das palavras de Jesus. Esclarece-se, diante do testemunho de Pedro, o testemunho do discípulo que Jesus amava, testemunho que está na base do quarto evangelho. «E nós sabemos bem que o seu testemunho é verdadeiro» (v. 24). O «nós» indica a comunidade de discípulos que surgiu à volta do testemunho de João.

    Meditatio

    Estamos na vigília do Pentecostes. As leituras deste sábado não falam directamente do Espírito Santo, mas falam de testemunho. Do testemunho de João, que «dá testemunho destas coisas e que as escreveu» (v. 24) e do testemunho de Paulo, que «recebia todos os que iam procurá-lo, anunciando o Reino de Deus e ensinando o que diz respeito ao Senhor Jesus Cristo, com o maior desassombro e sem impedimento» (vv. 30-31).
    O testemunho do Evangelho é fruto da presença do Espírito Santo. É o que
    vemos no relato do Pentecostes (Actos 2, 1ss.): recebido o Espírito Santo, aqueles homens inconstantes e tímidos tornam-se apóstolos decididos e corajosos em Jerusalém, na Samaria, na Galileia e até aos confins da terra. O Espírito Santo é o protagonista da evangelização: por meio d´Ele, difunde-se a boa nova do Evangelho; é Ele que indica os caminhos a seguir, e as pessoas a escolher; os Apóstolos foram escolhidos por Jesus «no Espírito Santo» (Act 1, 2); foi o Espírito que ordenou:
    «Separai Barnabé e Paul para o trabalho (missão) a que Eu os chamei» (Act 13, 2); os Apóstolos afirmam: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos...» (Act 15, 28); o Espírito Santo proíbe a Paulo e a Timóteo «pregar a Palavra na província da Ásia» (Act 16, 6) e também na Bitínia (cf. Act 16, 7). Apenas lhes resta um caminho a percorrer, o caminho indicado pelo Espírito, que os levará à Macedónia, na Grécia e, portanto, à Europa (cf. Act 16, 9ss). «Movidos pelo Espírito Santo esses homens falaram em nome de Deus» (2 Pe 1, 21).
    A Igreja sempre acolheu o testemunho dos Apóstolos como verdadeiro, porque inspirado pelo Espírito Santo. Acolheu o testemunho de Pedro e o dos outros Apóstolos, incluindo o de João, definitivamente consignado por escrito pelos seus discípulos, já em finais do século I: «nós sabemos bem que o seu testemunho é verdadeiro» (v. 24), escrevem esses discípulos. É esse testemunho verdadeiro, de João e dos outros Apóstolos, que a Igreja contin
    ua a transmitir ao longo dos séculos para acreditarmos «que Jesus é o Messias, o Filho de Deu», e, crendo, tenhamos vida n´Ele (cf. Jo 20, 31.

    Oratio

    Senhor Jesus, perdoa as minhas curiosidades inúteis e faz-me ouvir o teu amoroso convite: «Segue-me», como o fizeste ao teu discípulo Pedro, e dá-me a graça da fidelidade até ao fim.
    Que o teu apóstolo João, seja o meu guia na descoberta do amor do teu
    coração, na assiduidade e na delicadeza com que quero realizar o teu serviço. Com o teu discípulo amado, e como ele, quero seguir-Te em toda, fazendo sempre o que mais Te agrada. Infunde em mim o teu Espírito Santo. Que Ele seja a minha força, o garante da minha fidelidade. Amen.

    Contemplatio

    S. João teve com Jesus todos os laços mais íntimos: foi seu familiar, seu discípulo, seu amigo, seu herdeiro. Tiago e João eram filhos de Salomé, a parente de Maria. Chamavam-nos os irmãos de Jesus; era costume chamar irmãos os parentes próximos. João deve ter conhecido Jesus em menino.
    Com Santo André, foi o primeiro que se ligou a Ele como discípulo (Jo 1,37). Tendo ouvido João Baptista chamar Jesus o Cordeiro de Deus, comprazia-se muito com doçura deste nome, meditava nele sem cessar, recorda-o muitas vezes no Apocalipse.
    S. João está sempre junto de Jesus. Quando Jesus chama à parte alguns apóstolos, para os seus mais belos milagres, para a transfiguração, para a agonia, S. João está sempre.
    Está sentado junto de Jesus. S. Pedro sabe bem que João é o amigo e que por ele poderá conhecer os segredos que Jesus não revela a todos.
    S. João pode contar em pormenor o discurso depois da Ceia, porque melhor que os outros ele tudo escutou e compreendeu.
    S. João ama como é amado. Segue Jesus por toda a parte. (Petrus vidit illum sequentem). Segui-lo-á até ao Calvário. Assiste à morte de Jesus, ao misterioso golpe de lança, ao enterro. Vê de perto o lado de Jesus aberto. Abraça-o sem dúvida como devia um dia fazer S. Francisco (Haurietis aquas in gaudio).
    S. João é o herdeiro de Jesus, que lhe legou a sua mãe e necessariamente com ela a casa de Nazaré e as recordações.
    Jesus disse a Pedro que João deve esperá-lo e recebê-lo sobre a terra. Voltarão a ver-se em Patmos. João irá reencontrar lá o divino Cordeiro com o lado ferido: Agnum occisum... quem pupugerunt.
    Ó divina amizade, que merece uma contemplação e uma admiração eterna! (Leão Dehon, OSP 4, p. 591s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Tu, segue-me!» (Jo 21, 22).

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