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  • 03º Domingo da Páscoa – Ano C

    03º Domingo da Páscoa – Ano C


    1 de Maio, 2022

    03º Domingo da Páscoa – Ano C

    ANO C

    3º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

    Tema do 3º Domingo do Tempo Pascal

    A liturgia deste 3º Domingo do Tempo Pascal recorda-nos que a comunidade cristã tem por missão testemunhar e concretizar o projecto libertador que Jesus iniciou; e que Jesus, vivo e ressuscitado, acompanhará sempre a sua Igreja em missão, vivificando-a com a sua presença e orientando-a com a sua Palavra.

    A primeira leitura apresenta-nos o testemunho que a comunidade de Jerusalém dá de Jesus ressuscitado. Embora o mundo se oponha ao projecto libertador de Jesus testemunhado pelos discípulos, o cristão deve antes obedecer a Deus do que aos homens.

    A segunda leitura apresenta Jesus, o “cordeiro” imolado que venceu a morte e que trouxe aos homens a libertação definitiva; em contexto litúrgico, o autor põe a criação inteira a manifestar diante do “cordeiro” vitorioso a sua alegria e o seu louvor.

    O Evangelho apresenta os discípulos em missão, continuando o projecto libertador de Jesus; mas avisa que a acção dos discípulos só será coroada de êxito se eles souberem reconhecer o Ressuscitado junto deles e se deixarem guiar pela sua Palavra.

    LEITURA I – Actos 5,27b-32.40b-41

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    Naqueles dias,
    o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo:
    «Já vos proibimos formalmente
    de ensinar em nome de Jesus;
    e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina
    e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem».
    Pedro e os Apóstolos responderam:
    «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens.
    O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus,
    a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro.
    Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador,
    a fim de conceder a Israel
    o arrependimento e o perdão dos pecados.
    E nós somos testemunhas destes factos,
    nós e o Espírito Santo
    que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem».
    Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos,
    intimando-os a não falarem no nome de Jesus,
    e depois soltaram-nos.
    Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria,
    por terem merecido serem ultrajados
    por causa do nome de Jesus.

    AMBIENTE

    Entre 2,1 e 8,3, o Livro dos Actos apresenta o testemunho da Igreja de Jerusalém acerca de Jesus. Os comentadores costumam chamar aos capítulos 3-5 a “secção do nome”, pois eles incidem no anúncio do “nome” de Jesus (cf. Act 3,6.16;4,7.10.12.30;5,28.41), isto é, do próprio Jesus (o “nome” era uma apelação com que os judeus designavam o próprio Deus; designar Jesus dessa forma equivalia a dizer que Ele era “o Senhor”). Esse anúncio, feito em condições de extrema dificuldade (por causa da oposição dos líderes judeus), é, sobretudo, obra dos apóstolos.

    No texto que nos é proposto, apresenta-se o testemunho de Pedro e dos outros apóstolos acerca de Jesus. Presos e miraculosamente libertados (cf. Act 5,17-19), os apóstolos voltaram ao Templo para dar testemunho de Cristo ressuscitado (cf. Act 5,20-25). De novo presos, conduzidos à presença da suprema autoridade religiosa da nação (o Sinédrio) e formalmente proibidos de dar testemunho de Jesus, os apóstolos responderam apresentando um resumo do kerigma primitivo.

    MENSAGEM

    A questão principal gira à volta do confronto entre o cristianismo nascente e as autoridades judaicas. A frase de Pedro “deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens” (vers. 29) deve ser vista como o tema central; define a atitude que os cristãos são convidados a assumir diante da oposição do mundo.

    Quanto ao resumo doutrinal dos vers. 30-32, ele não apresenta grandes novidades doutrinais em relação a outras formulações do kerigma primitivo acerca de Jesus (apresentado de forma mais desenvolvida em Act 2,17-36, 3,13-26 e 10,36-43): morte na cruz, ressurreição, exaltação à direita de Deus, a sua apresentação como salvador e o testemunho dos apóstolos por acção do Espírito. Neste contexto, apenas se acentua – mais do que noutras formulações – a responsabilidade do Sinédrio no escândalo da cruz e a contraposição entre a acção de Deus e a acção das autoridades judaicas em relação a Jesus.

    De resto, a oposição humana põe em relevo a realidade sobre-humana da mensagem, a sua força que não pode ser detida e o dinamismo dessa comunidade animada pelo Espírito. Se Jesus encontrou oponentes e morreu na cruz, é natural que os apóstolos, fiéis a Jesus e ao seu projecto, se defrontem com a oposição desses mesmos que mataram Jesus. No entanto, os verdadeiros seguidores do projecto de Jesus – animados pelo Espírito – estão mais preocupados com a fidelidade ao “caminho” de Jesus do que às ordens ou interesses dos homens – mesmo que sejam os que mandam no mundo.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para reflectir e actualizar a Palavra, considerar os seguintes dados:

    • A proposta de Jesus é uma proposta libertadora, que não se compadece nem pactua com esquemas egoístas, injustos, opressores. É uma mensagem questionante, transformadora, revolucionária, que põe em causa tudo o que gera injustiça, morte, opressão; por isso, é uma proposta que é rejeitada e combatida por aqueles que dominam o mundo e que oprimem os débeis e os pobres. Isto explica bem porque é que o testemunho sobre Jesus (se é coerente e verdadeiro) não é um caminho fácil de glória, de aplausos, de honras, de popularidade, mas um caminho de cruz. Não temos, portanto, que nos admirar se a mensagem que propomos e o testemunho que damos não encontram eco entre os que dominam o mundo; temos é de nos questionar e de nos inquietar se não somos importunados por aqueles que oprimem e que escravizam os irmãos: isso quererá dizer que o nosso testemunho não é coerente com a proposta de Jesus.

    • Qual a nossa atitude, em concreto, diante daqueles que “assassinam” a proposta de Jesus e que constroem um mundo de onde a lógica de Deus está ausente: é de medo, de fraqueza, de submissão, ou de denúncia firme, corajosa e desassombrada? Para nós, o que é mais importante: obedecer a Deus ou aos homens?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)

    Refrão 1: Eu vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.

    Refrão 2: Aleluia.

    Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
    e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.

    Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
    vivificastes-me para não descer à cova.
    Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
    e dai graças ao seu nome santo.

    A sua ira dura apenas um momento
    e a sua benevolência a vida inteira.
    Ao cair da noite vêm as lágrimas
    e ao amanhecer volta a alegria.

    Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
    Senhor, sede Vós o meu auxílio.
    Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
    Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.

    LEITURA II – Ap 5,11-14

    Leitura do Livro do Apocalipse

    Eu, João, na visão que tive,
    ouvi a voz de muitos Anjos,
    que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos.
    Eram miríades de miríades e milhares de milhares,
    que diziam em voz alta:
    «Digno é o Cordeiro que foi imolado
    de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força,
    a honra, a glória e o louvor».
    E ouvi todas as criaturas
    que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar,
    e o universo inteiro, exclamarem:
    «Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro
    o louvor e a honra, a glória e o poder
    pelos séculos dos séculos».
    Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»;
    e os Anciãos prostraram-se em adoração.

    AMBIENTE

    A segunda parte do Livro do Apocalipse (cap. 4-22) apresenta-nos aquilo que poderíamos chamar “uma leitura profética da história”: o autor vai apresentar a história humana numa perspectiva de esperança, demonstrando aos cristãos perseguidos pelo império que não há nada a temer pois a vitória final será de Deus e dos que se mantiverem fiéis aos projectos de Deus.

    O texto que nos é proposto faz parte da visão inicial, onde o “profeta” João nos apresenta as personagens centrais que vão intervir na história humana: Deus, transcendente e omnipotente, sentado no seu trono, rodeado pelo Povo de Deus e por toda a criação (cf. Ap 4,1-11); depois, o “livro” onde, simbolicamente, está o desígnio de Deus acerca da humanidade (cf. Ap 5,1-4); finalmente, é-nos apresentado “o cordeiro” (Jesus), aquele que detém a totalidade do poder (“sete cornos”) e do conhecimento (“sete olhos”); só ele é digno de ler o livro (ou seja, de revelar, de proclamar, de concretizar para os homens o projecto divino de salvação).

    MENSAGEM

    A personagem fundamental deste pequeno extracto que nos é proposto como segunda leitura é “o cordeiro”. É um símbolo usado pelo autor do Livro do Apocalipse para falar de Jesus.

    O símbolo do “cordeiro” é um símbolo com uma grande densidade teológica, que concentra e evoca três figuras: a do “servo de Jahwéh” – figura de imolação – que, qual manso cordeiro é levado ao matadouro (Is 53,6-7; cf. Jr 11,19; Act 8,26-38); a do “cordeiro pascal” – figura de libertação – cujo sangue foi sinal eficaz de vitória sobre a escravidão (Ex 12,12-13.27;24,8; cf. Jo 1,29; 1 Cor 5,7; 1 Pe 1,18-19); e a do “cordeiro apocalíptico” – figura de poder real – vencedor da morte (esta imagem é característica da literatura apocalíptica, onde aparece um cordeiro vencedor, guia do rebanho, dotado de poder e de autoridade real – cf. 1º livro de Henoc, 89,41-46; 90,6-10.37; Testamento de José, 19,8; Testamento de Benjamim, 3,8; Targum de Jerusalém sobre Ex 1,5). O autor do Apocalipse apresenta, portanto, de uma maneira original e sintética, a plenitude do mistério de imolação, de libertação e de vitória régia, que corresponde a Cristo morto, ressuscitado e glorificado.

    O “cordeiro” (Cristo) é entronizado: ele assumiu a realeza e sentou-se no próprio trono de Deus. Aí, recebe todo o poder e glória divina. A entronização régia de Cristo, ponto culminante da aventura divino-humana de Jesus, desencadeia uma verdadeira torrente de louvores: dos viventes, dos anciãos (vers. 5-8) e dos anjos (vers. 11-12). E todas as criaturas (vers. 13), a partir dos lugares mais esconsos da terra, juntam a sua voz ao louvor. O Templo onde ressoam estas incessantes aclamações alargou as suas fronteiras e tem, agora, as dimensões do mundo. É uma liturgia cósmica, na qual a criação inteira celebra o Cristo imolado, ressuscitado, vencedor e faz dele o centro do “cosmos”.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão desta leitura pode prolongar-se a partir das seguintes linhas:

    • A mensagem final do Livro do Apocalipse pode resumir-se na frase: “não tenhais medo, pois a vossa libertação está a chegar”. É uma mensagem “eterna”, que revigora a nossa fé, que renova a nossa esperança e que fortalece a nossa capacidade de enfrentar a injustiça, o egoísmo, o sofrimento e o pecado. Diante deste “cordeiro” vencedor, que nos trouxe a libertação, os cristãos vêem renovada a sua confiança nesse Deus salvador e libertador em quem acreditam.

    • Esta “liturgia” celebra Cristo, aquele que venceu a morte, que ressuscitou, que nos apresentou o plano libertador de Deus em nosso favor e que, hoje, continua a dar sentido aos nossos dramas e aos nossos sofrimentos, a iluminar a história humana com a luz de Deus. Ele é, de facto (como esta liturgia no-lo apresenta), o centro, a referência fundamental à volta do qual tudo se constrói? Temos consciência desta centralidade de Cristo na nossa experiência de fé? Manifestamos a nossa gratidão, unindo a nossa voz ao louvor da criação inteira?

    ALELUIA

    Aleluia. Aleluia.

    Ressuscitou Jesus Cristo, que criou o universo

    e Se compadeceu do género humano.

    EVANGELHO – Jo 21,1-19

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo,
    Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos,
    junto do mar de Tiberíades.
    Manifestou-Se deste modo:
    Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo,
    Natanael, que era de Caná da Galileia,
    os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
    Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar».
    Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo».
    Saíram de casa e subiram para o barco,
    mas naquela noite não apanharam nada.
    Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem,
    mas os discípulos não sabiam que era Ele.
    Disse-lhes Jesus:
    «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?»
    Eles responderam: «Não».
    Disse-lhes Jesus:
    «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis».
    Eles lançaram a rede
    e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
    O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro:
    «É o Senhor».
    Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor,
    vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar.
    Os outros discípulos,
    que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem,
    vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
    Quando saltaram em terra,
    viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
    Disse-lhes Jesus:
    «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
    Simão Pedro subiu ao barco
    e puxou a rede para terra,
    cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes;
    e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
    Disse-lhes Jesus: «Vinde comer».
    Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe:
    «Quem és Tu?»,
    porque bem sabiam que era o Senhor.
    Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho,
    fazendo o mesmo com os peixes.
    Esta foi a terceira vez
    que Jesus Se manifestou aos seus discípulos,
    depois de ter ressuscitado dos mortos.
    Depois de comerem,
    Jesus perguntou a Simão Pedro:
    «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?»
    Ele respondeu-Lhe:
    «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
    Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros».
    Voltou a perguntar-lhe segunda vez:
    «Simão, filho de João, tu amas-Me?»
    Ele respondeu-Lhe:
    «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
    Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas».
    Perguntou-lhe pela terceira vez:
    «Simão, filho de João, tu amas-Me?»
    Pedro entristeceu-se
    por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava
    e respondeu-Lhe:
    «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo».
    Disse-lhe Jesus:
    «Apascenta as minhas ovelhas.
    Em verdade, em verdade te digo:
    Quando eras mais novo,
    tu mesmo te cingias e andavas por onde querias;
    mas quando fores mais velho,
    estenderás a mão e outro te cingirá
    e te levará para onde não queres».
    Jesus disse isto para indicar o género de morte
    com que Pedro havia de dar glória a Deus.
    Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».

    AMBIENTE

    O último capítulo do Evangelho segundo João não faz parte da obra original (a obra original terminava com a conclusão de 20,30-31); é um texto acrescentado posteriormente, que apresenta diferenças de linguagem, de estilo e mesmo de teologia, em relação aos outros vinte capítulos. A sua origem não é clara; no entanto, a existência de alguns traços literários tipicamente joânicos poderia fazer-nos pensar num complemento redigido pelos discípulos do evangelista.

    Neste capítulo, já não se referem notícias sobre a vida, a morte ou a ressurreição de Jesus. Os protagonistas são, agora, um grupo de discípulos, dedicados à actividade missionária. O autor descreve a relação que esta “comunidade em missão” tem com Jesus, reflecte sobre o lugar de Jesus na actividade missionária da Igreja e assinala quais as condições para que a missão dê frutos.

    MENSAGEM

    O texto está claramente dividido em duas partes.

    A primeira parte (vers. 1-14) é uma parábola sobre a missão da comunidade. Utiliza a linguagem simbólica e tem carácter de “signo”.

    Começa por apresentar os discípulos: são sete. Representam a totalidade (“sete”) da Igreja, empenhada na missão e aberta a todas as nações e a todos os povos.

    Esta comunidade é apresentada a pescar: sob a imagem da pesca, os evangelhos sinópticos representam a missão que Jesus confia aos discípulos (cf. Mc 1,17; Mt 4,19; Lc 5,10): libertar todos os homens que vivem mergulhados no mar do sofrimento e da escravidão. Pedro preside à missão: é ele que toma a iniciativa; os outros seguem-no incondicionalmente. Aqui faz-se referência ao lugar proeminente que Pedro ocupava na animação da Igreja primitiva.

    A pesca é feita durante a noite. A noite é o tempo das trevas, da escuridão: significa a ausência de Jesus (“enquanto é de dia, temos de trabalhar, realizando as obras daquele que Me enviou: aproxima-se a noite, quando ninguém pode trabalhar; enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo” – Jo 9,4-5). O resultado da acção dos discípulos (de noite, sem Jesus) é um fracasso rotundo (“sem Mim, nada podeis fazer” – Jo 15,5).

    A chegada da manhã (da luz) coincide com a presença de Jesus (Ele é a luz do mundo). Jesus não está com eles no barco, mas sim em terra: Ele não acompanha os discípulos na pesca; a sua acção no mundo exerce-se por meio dos discípulos.

    Concentrados no seu esforço inútil, os discípulos nem reconhecem Jesus quando Ele Se apresenta. O grupo está desorientado e decepcionado pelo fracasso, posto em evidência pela pergunta de Jesus (“tendes alguma coisa de comer?”). Mas Jesus dá-lhes indicações e as redes enchem-se de peixes: o fruto deve-se à docilidade com que os discípulos seguem as indicações de Jesus. Acentua-se que o êxito da missão não se deve ao esforço humano, mas sim à presença viva e à Palavra do Senhor ressuscitado.

    O surpreendente resultado da pesca faz com que um discípulo o reconheça. Este discípulo – o discípulo amado – é aquele que está sempre próximo de Jesus, em sintonia com Jesus e que faz, de forma intensa, a experiência do amor de Jesus: só quem faz essa experiência é capaz de ler os sinais que identificam Jesus e perceber a sua presença por detrás da vida que brota da acção da comunidade em missão.

    Os pães com que Jesus acolhe os discípulos em terra são um sinal do amor, do serviço, da solicitude de Jesus pela sua comunidade em missão no mundo: deve haver aqui uma alusão à Eucaristia, ao pão que Jesus oferece, à vida com que Ele continua a alimentar a comunidade em missão.

    O número dos peixes apanhados na rede (153) é de difícil explicação. É um número triangular, que resulta da soma dos números um a dezassete. O número dezassete não é um número bíblico… Mas o dez e o sete são: ambos simbolizam a plenitude e a universalidade. Outra explicação é dada por S. Jerónimo… Segundo ele, os naturalistas antigos distinguiam 153 espécies de peixes: assim, o número faria alusão à totalidade da humanidade, reunida na mesma Igreja. Em qualquer caso, significa totalidade e universalidade.

    Na segunda parte do texto (vers. 15-19), Pedro confessa por três vezes o seu amor a Jesus (durante a paixão, o mesmo discípulo negou Jesus por três vezes, recusando dessa forma “embarcar” com o “mestre” na aventura do amor que se faz dom). Pedro – recordemo-lo – foi o discípulo que, na última ceia, recusou que Jesus lhe lavasse os pés porque, para ele, o Messias devia ser um rei poderoso, dominador, e não um rei de serviço e de dom da vida. Nessa altura, ao raciocinar em termos de superioridade e de autoridade, Pedro mostrou que ainda não percebera que a lei suprema da comunidade de Jesus é o amor total, o amor que se faz serviço e que vai até à entrega da vida. Jesus disse claramente a Pedro que quem tem uma mentalidade de domínio e de autoridade não tem lugar na comunidade cristã (cf. Jo 13,6-9).

    A tríplice confissão de amor pedida a Pedro por Jesus corresponde, portanto, a um convite a que ele mude definitivamente a mentalidade. Pedro é convidado a perceber que, na comunidade de Jesus, o valor fundamental é o amor; não existe verdadeira adesão a Jesus, se não se estiver disposto a seguir esse caminho de amor e de entrega da vida que Jesus percorreu. Só assim Pedro poderá “seguir” Jesus (cf. Jo 21,19).

    Ao mesmo tempo, Jesus confia a Pedro a missão de presidir à comunidade e de a animar; mas convida-o também a perceber onde é que reside, na comunidade cristã, a verdadeira fonte da autoridade: só quem ama muito e aceita a lógica do serviço e da doação da vida poderá presidir à comunidade de Jesus.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar, para reflexão e actualização, as seguintes indicações:

    • A mensagem fundamental que brota deste texto convida-nos a constatar a centralidade de Cristo, vivo e ressuscitado, na missão que nos foi confiada. Podemos esforçar-nos imenso e dedicar todas as horas do dia ao esforço de mudar o mundo; mas se Cristo não estiver presente, se não escutarmos a sua voz, se não ouvirmos as suas propostas, se não estivermos atentos à Palavra que Ele continuamente nos dirige, os nossos esforços não farão qualquer sentido e não terão qualquer êxito duradouro. É preciso ter a consciência nítida de que o êxito da missão cristã não depende do esforço humano, mas da presença viva do Senhor Jesus.

    • É preciso ter, também, a consciência da solicitude e do amor do Senhor que, continuamente, acompanha os nossos esforços, os anima, os orienta e que connosco reparte o pão da vida. Quando o cansaço, o sofrimento, o desânimo tomarem posse de nós, Ele lá estará, dando-nos o alimento que nos fortalece. É necessário ter consciência da sua constante presença, amorosa e vivificadora ao nosso lado e celebrá-la na Eucaristia.

    • A figura do “discípulo amado”, que reconhece o Senhor nos sinais de vitalidade que brotam da missão comunitária, convida-nos a ser sensíveis aos sinais de esperança e de vida nova que acontecem à nossa volta e a ler neles a presença salvadora e vivificadora do Ressuscitado. Ele está presente, vivo e ressuscitado, em qualquer lado onde houver amor, partilha, doação que geram vida nova.

    • O diálogo final de Jesus com Pedro chama a atenção para uma dimensão essencial do discipulado: “seguir” o “mestre” é amá-l’O muito e, portanto, ser capaz de, como Ele, percorrer o caminho do amor total e da doação da vida.

    • Na comunidade cristã, o essencial não é a exibição da autoridade, mas o amor que se faz serviço, ao jeito de Jesus. As vestes de púrpura, os tronos, os privilégios, as dignidades, os sinais de poder favorecem e tornam mais visível o essencial (o amor que se faz serviço), ou afastam e assustam os pobres e os débeis?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 3º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 3º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. O RITO DE ASPERSÃO E A LEITURA DO EVANGELHO.

     Privilegiar o rito de aspersão… Durante todo o tempo pascal, que é um tempo baptismal, procurar privilegiar o rito da aspersão: bênção da água, aspersão para lembrar o nosso Baptismo, pedindo a Deus que nos mantenha fiéis ao Espírito que recebemos…

     O Evangelho dialogado… A cena descrita no Evangelho de hoje presta-se a uma leitura dialogada: narrador, Jesus, Pedro, os discípulos, o discípulo que Jesus amava.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:

    Deus de nossos Pais, Tu que ressuscitaste o teu Filho Jesus, nós Te damos graças pelo testemunho do teu Espírito Santo e dos Apóstolos, que são os fundamentos da nossa fé em Jesus, nosso Salvador.

    Nós Te pedimos: pelo teu Espírito, fortalece a nossa consciência para que tenhamos sempre a coragem de Te obedecer mais a Ti do que aos homens.

    No final da segunda leitura:

    Pai, nós Te damos graças com as multidões que estão junto de Ti: àquele que está sentado no Trono e ao Cordeiro, poder, sabedoria e força, bênção, honra, glória e louvor para sempre.

    Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem e perdem a coragem, nas provações e nas perseguições. Que a visão do Cordeiro vencedor lhes permita erguer a cabeça.

    No final do Evangelho:

    Jesus ressuscitado, nós Te damos graças pelo perdão concedido a Pedro, pela continuação da pesca que confias à tua Igreja e pela refeição que nos preparas na outra margem, junto de Ti.

    Quando Te declaramos «vamos contigo», mantém-nos firmes na nossa fé e fiéis a seguir-Te, nos caminhos onde Tu nos precedeste.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.

    A vida retomou o seu ritmo para os apóstolos: reencontram a sua profissão, o seu barco e as redes, mesmo se a vida já não é como antes. Viram o Ressuscitado, Ele apareceu-lhes, reconheceram-n’O, o Espírito foi derramado sobre eles, mas a passagem do ver ao reconhecer não é evidente. João, já diante do túmulo vazio, viu e acreditou. É necessário o seu acto de fé proclamado – “É o Senhor!” – para que Pedro se lance à água para a pesca. Encontramos a espontaneidade tão humana de Pedro e, ao mesmo tempo, a sua espontaneidade de crente. Os discípulos fazem, nesse dia, a experiência da prodigalidade do amor de Deus: não conseguem arrastar as redes, dada a quantidade de peixe. Fazem também a experiência da universalidade da salvação: havia 153 grandes peixes, número que evoca, segundo S. Jerónimo, todas as espécies de peixes enumerados na época. É, então, graças a um sinal que os discípulos reconhecem o Ressuscitado. Jesus Cristo não tem mais necessidade de dizer quem Ele é… Eles sabem que Ele é o Senhor.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.

    Este relato da última manifestação de Jesus ressuscitado aos seus apóstolos une três elementos: uma pesca milagrosa, uma refeição, a “investidura” de Pedro como pastor das ovelhas de Cristo. Este último capítulo do Evangelho de João é importante, porque nos faz voltar para o tempo da Igreja. Este relato da pesca milagrosa está mesmo no final do Evangelho, como que a dizer que as palavras de Jesus a Pedro, no texto de Lc 5,10, vão realizar-se agora: sem medo, doravante será pescador de homens. E no final do Evangelho de Mateus, Jesus diz para irem a todas as nações e fazer discípulos. No simbolismo dos 153 peixes, João quer dizer que é à totalidade das nações que os apóstolos são enviados. O tempo da missão apostólica começa. A refeição reenvia à refeição eucarística, mesmo se não há vinho. Mas não se faz sempre menção do vinho. Os discípulos de Emaús reconhecem Jesus apenas na fracção do pão. Os primeiros cristãos chamavam à Eucaristia a “fracção do pão”. Mas Jesus oferece peixe. Sabemos que este se tornou bem cedo o símbolo de Cristo. Em grego, as primeiras letras da expressão “Jesus, Filho de Deus, Salvador” formam a palavra “peixe” (“ichtus”). Desde então, oferecendo-lhes peixe, Jesus ressuscitado diz aos discípulos que é verdadeiramente com Ele, o Filho de Deus, o único Salvador de todos os homens, que estarão doravante em comunhão, cada vez que partirem o pão eucarístico. Enfim, Jesus sabia bem que a comunidade dos discípulos reunidos à sua volta deveria ter, depois da sua partida, um ponto visível de ligação, de autentificação. É a missão que Jesus confia a Pedro de ser o servidor e o garante da unidade da sua Igreja, de ser o pastor das suas ovelhas, a Ele, o Cristo. E este serviço só pode ser vivido no máximo amor. Pedro é escolhido, ele que negou três vezes o seu Mestre, para mostrar que, através de todas as fraquezas humanas dos pastores que se sucederão ao longo da história da Igreja, é Jesus que os guiará, o garante na fidelidade no nome do Pai.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

    Pode-se escolher a Oração Eucarística I, onde se alude à admissão na comunidade dos bem-aventurados Apóstolos e Mártires, de Pedro e de João, de João Baptista…

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO.

    Manifestar a minha fé de baptizado… Crer em Jesus ressuscitado implica testemunhá-l’O. Isso era verdade há 2000 anos. Ainda hoje continua a ser verdade… No concreto da minha vida quotidiana: família, trabalho, escola, escritório, fábrica, bairro… o que ouso arriscar em nome da minha fé em Cristo? Esta semana, se a ocasião se apresentar, com que palavra e com que acção vou manifestar o meu compromisso de baptizado? «Pedro, tu amas-Me verdadeiramente?» Crer é verdadeiramente uma história de amor no quotidiano!

    https://youtu.be/G9TKpD-ZK2M

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
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  • 04º Domingo da Páscoa – Ano C

    04º Domingo da Páscoa – Ano C


    8 de Maio, 2022

    04º Domingo da Páscoa – Ano C

    ANO C
    4º DOMINGO DA PÁSCOA

    Tema do 4º Domingo do Tempo Pascal

    O 4º Domingo do Tempo Pascal é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos a liturgia propõe um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como Bom Pastor. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus hoje nos propõe.
    O Evangelho apresenta Cristo como o Bom Pastor, cuja missão é trazer a vida plena às ovelhas do seu rebanho; as ovelhas, por sua vez, são convidadas a escutar o Pastor, a acolher a sua proposta e a segui-l’O. É dessa forma que encontrarão a vida em plenitude.
    A primeira leitura propõe-nos duas atitudes diferentes diante da proposta que o Pastor (Cristo) nos apresenta. De um lado, estão essas “ovelhas” cheias de auto-suficiência, satisfeitas e comodamente instaladas nas suas certezas; de outro, estão outras ovelhas, permanentemente atentas à voz do Pastor, que estão dispostas a arriscar segui-l’O até às pastagens da vida abundante. É esta última atitude que nos é proposta.
    A segunda leitura apresenta a meta final do rebanho que seguiu Jesus, o Bom Pastor: a vida total, de felicidade sem fim.

    LEITURA I – Act 13,14.43-52

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    Naqueles dias,
    Paulo e Barnabé seguiram de Perga até Antioquia da Pisídia.
    A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se.
    Terminada a reunião da sinagoga,
    muitos judeus e prosélitos piedosos
    seguiram Paulo e Barnabé,
    que nas suas conversas com eles
    os exortavam a perseverar na graça de Deus.
    No sábado seguinte,
    reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra do Senhor.
    Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja
    e responderam com blasfémias.
    Corajosamente, Paulo e Barnabé declararam:
    «Era a vós
    que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus.
    Uma vez, porém, que a rejeitais
    e não vos julgais dignos da vida eterna,
    voltamo-nos para os gentios,
    pois assim nos mandou o Senhor:
    ‘Fiz de ti a luz das nações,
    para levares a salvação até aos confins da terra’».
    Ao ouvirem estas palavras,
    os gentios encheram-se de alegria
    e glorificavam a palavra do Senhor.
    Todos os que estavam destinados à vida eterna
    abraçaram a fé
    e a palavra do Senhor divulgava-se por toda a região.
    Mas os judeus,
    instigando algumas senhoras piedosas mais distintas
    e os homens principais da cidade,
    desencadearam uma perseguição contra Paulo e Barnabé
    e expulsaram-nos do seu território.
    Estes, sacudindo contra eles o pó dos seus pés,
    seguiram para Icónio.
    Entretanto, os discípulos
    estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.

    AMBIENTE

    A partir do capítulo 13, os “Actos dos Apóstolos” apresentam o “caminho” da Igreja no mundo greco-romano. O protagonista humano desta nova etapa será Paulo (embora sempre animado e conduzido pelo Espírito do Senhor ressuscitado).
    Tudo começa quando a comunidade cristã de Antioquia da Síria, ansiosa por fazer a Boa Nova de Jesus chegar a todos os povos, envia Barnabé e Paulo a evangelizar. Entre 13,1 e 15,35, o autor dos “Actos” descreve o “envio” dos missionários, a viagem, a evangelização de Chipre e da Ásia Menor (Perga, Antioquia da Pisídia, Icónio, Listra, Derbe) e os problemas colocados à jovem Igreja pela entrada maciça de gentios.
    Este texto, em concreto, situa-nos na cidade de Antioquia da Pisídia, no interior da Ásia Menor. Nos versículos anteriores, o autor dos “Actos” pôs na boca de Paulo um longo discurso, que resume a catequese primitiva sobre Jesus e que enquadra no plano de Deus a proposta de salvação que Jesus veio trazer (cf. Act 13,16-41). Qual será a resposta ao anúncio, quer por parte dos judeus, quer por parte dos pagãos que escutaram a mensagem?

    MENSAGEM

    A questão central gira, portanto, à volta da reacção de judeus e pagãos ao anúncio de salvação apresentado por Paulo e Barnabé.
    O texto põe em confronto duas atitudes diversas diante da proposta cristã: a daqueles que pensavam ter o monopólio de Deus e da verdade, mas que estavam instalados nas suas certezas, no seu orgulho, na sua auto-suficiência, nas suas leis definidas e comodamente arrumadas e não estavam, realmente, dispostos a “embarcar” na aventura do seguimento de Cristo (judeus); e a daqueles que, no desafio do Evangelho, descobriram a vida verdadeira, aceitaram questionar-se, quiseram arriscar e responderam com alegria e entusiasmo à proposta libertadora que Deus lhes fez por intermédio dos missionários (pagãos).
    A Boa Nova de Jesus é, portanto, uma proposta que é dirigida a todos os homens, de todas as raças e nações; não se trata de uma proposta fechada, exclusivista, destinada a um grupo de eleitos, mas de uma proposta universal, que se destina a todos os homens, sem excepção. O que é decisivo não é ter nascido neste ou naquele ambiente, mas é a capacidade de se deixar desafiar pela proposta de Jesus, de acolher com simplicidade, alegria e entusiasmo essa proposta e de partir, todos os dias, para esse caminho onde o nosso Deus nos propõe encontrar a vida nova, a vida verdadeira, a vida total.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e a actualização da Palavra podem partir das seguintes linhas:

    • Os judeus de que se fala nesta leitura representam aqueles que se acomodaram a uma religião “morninha”, segura, feita de hábitos, de leis, de devoções, de ritos externos, de fórmulas fixas, mas que não põe verdadeiramente em causa o coração e a consciência, nem tem um impacto real na vida de todos os dias. É a religião dos “certinhos” e acomodados, dos que têm medo da novidade de Deus (que mexe com os esquemas feitos e, constantemente, põe tudo em causa, obriga a arriscar e a converter-se).

    • Os pagãos de que se fala nesta leitura representam aqueles que, tendo tantas vezes uma história pessoal complicada e uma caminhada de fé nem sempre exemplar, estão abertos à novidade de Deus e se deixam questionar por Ele. Eles não têm medo de se desinstalar, de arriscar partir para uma vida nova e mais exigente, de procurar novos caminhos, de seguir Jesus no seu percurso de amor e de entrega – ainda que seja um caminho de cruz e de perseguição.

    • Onde é que eu me situo? Na atitude de quem nasceu cristão sem ter feito muito para isso e que vive a sua religião sem riscos, sem exigências de radicalidade e de autenticidade, ou na atitude de quem se deixa continuamente desafiar, se deixa questionar por Deus, aceita viver numa dinâmica contínua de conversão e sente que a sua caminhada em direcção à vida nova nunca está acabada?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 99 (100)

    Refrão 1: Nós somos o povo de Deus,
    somos as ovelhas do seu rebanho.

    Refrão 2: Nós somos o povo do Senhor;
    Ele é o nosso alimento.

    Refrão 3: Aleluia.

    Aclamai o Senhor, terra inteira,
    servi o Senhor com alegria,
    vinde a Ele com cânticos de júbilo.

    Sabei que o Senhor é Deus,
    Ele nos fez, a Ele pertencemos,
    somos o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.

    O Senhor é bom,
    eterna é a sua misericórdia,
    a sua fidelidade estende-se de geração em geração.

    LEITURA II – Ap 7,9.14b-17

    Leitura do Livro do Apocalipse

    Eu, João, vi uma multidão imensa,
    que ninguém podia contar,
    de todas as nações, tribos, povos e línguas.
    Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro,
    vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão.
    Um dos Anciãos tomou a palavra para me dizer:
    «Estes são os que vieram da grande tribulação,
    os que lavaram as túnicas
    e as branquearam no sangue do Cordeiro.
    Por isso estão diante do trono de Deus,
    servindo-O dia e noite no seu templo.
    Aquele que está sentado no trono
    abrigá-los-á na sua tenda.
    Nunca mais terão fome nem sede,
    nem o sol ou o vento ardente cairão sobre eles.
    O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor
    e os conduzirá às fontes da água viva.
    E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos».

    AMBIENTE

    A liturgia do passado domingo apresentava-nos “o cordeiro” (Jesus), o Senhor da história, que Se preparava para abrir e ler o livro dos sete selos – o livro onde, simbolicamente, estava escrita a história humana.
    De acordo com o autor do “Apocalipse”, a abertura dos selos desse livro vai expor a realidade do mundo: na caminhada histórica dos homens, está presente Cristo vitorioso continuamente em combate contra tudo o que escraviza e destrói o homem (1º selo – o cavaleiro branco); mas está também presente a guerra e o sangue (2º selo – o cavaleiro vermelho), a fome e a miséria (3º selo – o cavaleiro negro), a morte, a doença, a decomposição (4º selo – o cavaleiro esverdeado). No fundo deste quadro, jazem os mártires que sofrem perseguições por causa da sua fé e que, dia a dia, clamam a Deus por justiça (5º selo); por isso, prepara-se o “grande dia da ira”, que anuncia a intervenção de Deus na história para destruir o mal (6º selo). A revelação final apresenta o combate definitivo, em que as forças de Deus derrotarão as forças do mal (7º selo).
    O texto de hoje situa-nos no contexto do 6º selo (o anúncio do “dia do Senhor”). Aos mártires que clamam por justiça, o autor do “Apocalipse” descreve o que vai resultar da intervenção de Deus: a libertação definitiva, a vida em plenitude.

    MENSAGEM

    O texto que nos é proposto apresenta-nos uma multidão imensa, inumerável, universal, pois pertence a todas as nações. Os que a compõem estão de pé, em sinal de vitória, pois participam da ressurreição de Cristo; levam túnicas brancas, o que indica que pertencem à esfera de Deus (o branco é a cor de Deus); aclamam com palmas (alusão à festa das tendas, uma festa celebrada no final das colheitas, marcada pela alegria e pelo louvor. Recorda o êxodo – quando os israelitas viveram em “tendas” – e, por influência de Zac 14,16, assume claras ressonâncias escatológicas. Na liturgia dessa festa, a multidão entrava em cortejo no recinto do Templo, agitando palmas e cantando) e louvam Deus e o “cordeiro”.
    Quem são estes? São os que “vieram da grande tribulação e que branquearam as vestes no sangue do cordeiro”, isto é, que suportaram a perseguição mais feroz e alcançaram a redenção pela entrega de Jesus (vers. 14).
    Que fazem eles? Estão diante de Deus tributando-Lhe o culto, dia e noite. Esse culto não é o somatório de um conjunto de ritos mas, antes de mais, a permanente e gozosa presença diante de Deus e do “cordeiro”.
    A “Festa das Tendas” fazia alusão à marcha do Povo de Deus pelo deserto, desde a terra da escravidão até à terra da liberdade. A referência a esta festa neste contexto significa que se cumpre, agora, o novo e definitivo êxodo: depois da intervenção final de Deus na história, a multidão dos que aderiram ao “cordeiro” e acolheram a sua proposta de salvação, alcançaram a libertação definitiva, foram acolhidos na “tenda” de Deus; aí, não os alcançará mais a morte, o sofrimento, as lágrimas… Cristo ressuscitado, sentado no trono, é o pastor deste novo Povo, e que o conduz para “as fontes de águas vivas” – isto é, em direcção à plenitude dos bens definitivos, onde brota a fonte da vida plena.
    Em conclusão: aos “santos” que gritam por justiça, anuncia-se uma mensagem de esperança. O quadro antecipa o tempo escatológico: da acção de Deus, da sua definitiva intervenção na história, resultará a libertação definitiva do Povo de Deus; nascerá a comunidade escatológica, a comunidade dos libertados, que estarão para sempre em comunhão com Deus e que gozarão em plenitude a vida definitiva.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:

    • Em cada dia que passamos neste mundo, fazemos a experiência da alegria e da esperança, mas também da dor, da incompreensão, do medo, do sofrimento, do desespero… Com frequência, é o pessimismo que nos agarra, que nos limita, que nos escraviza e que nos impede de saborear o dom da vida. O autor do “Apocalipse” deixa-nos uma mensagem de esperança e diz-nos que não estamos condenados ao fracasso, mas sim à vida plena, à libertação definitiva, à felicidade total.

    • O que é preciso para aí chegar? Apenas acolher o dom da salvação que nos é feito pelo nosso Deus. Se aceitarmos a proposta de Jesus e seguirmos atrás d’Ele no caminho do amor, da entrega, do dom da vida, se virmos n’Ele o pastor que nos conduz às fontes de água viva, chegaremos indubitavelmente à vida definitiva, à comunhão com Deus, à felicidade plena.

    • A resposta positiva à oferta de salvação que Deus nos faz introduz em nós um novo dinamismo; esse dinamismo fortalece a nossa coragem e permite-nos continuar a lutar, desde já, pela concretização do novo céu e da nova terra.

    ALELUIA – Jo 10,14

    Aleluia. Aleluia.

    Eu sou o bom pastor, diz o Senhor:
    conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me.

    EVANGELHO – Jo 10,27-30

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo, disse Jesus:
    «As minhas ovelhas escutam a minha voz.
    Eu conheço

    as minhas ovelhas e elas seguem-Me.
    Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão-de perecer
    e ninguém as arrebatará da minha mão.
    Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos
    e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai.
    Eu e o Pai somos um só».

    AMBIENTE

    O capítulo 10 do 4º Evangelho é dedicado à catequese do Bom Pastor. O autor utiliza esta imagem para apresentar uma catequese sobre a missão de Jesus: a obra do “Messias” consiste em conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas de onde brota a vida em plenitude.
    A imagem do Bom Pastor não foi inventada pelo autor do 4º Evangelho. Literariamente falando, este discurso simbólico está construído com materiais provenientes do Antigo Testamento. Em especial, este discurso tem presente Ez 34 onde se encontra a chave para compreender a metáfora do pastor e do rebanho. Falando aos exilados na Babilónia, Ezequiel constata que os líderes de Israel foram, ao longo da história, falsos pastores que conduziram o Povo por caminhos de morte e de desgraça; mas – diz Ezequiel – o próprio Deus vai, agora, assumir a condução do seu Povo; Ele porá à frente do seu Povo um Bom Pastor (Messias), que o livrará da escravidão e o conduzirá à vida.
    A catequese que o 4º Evangelho nos oferece do Bom Pastor sugere que a promessa de Deus afirmada por Ezequiel se cumpre em Jesus.

    MENSAGEM

    O texto que nos é proposto acentua, sobretudo, a relação estabelecida entre o Pastor (Cristo) e as ovelhas (os seus discípulos).
    A missão desse Pastor (Cristo) é dar vida às ovelhas. Ao longo do Evangelho, João descreve, precisamente, a acção de Jesus como uma recriação e revivificação do homem, no sentido de fazer nascer o Homem Novo (cfr. Jo 3,3.5-6), o homem da vida em plenitude, o homem total, o homem que, seguindo Jesus, se torna “filho de Deus” (cf. Jo 1,12) e que é capaz de oferecer a vida por amor. Os que aceitam a proposta de vida que Jesus lhes faz não se perderão nunca (“nunca hão-de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão” – Jo 10,28), pois a qualidade de vida que Jesus lhes comunica supera a própria morte (cf. Jo 3,16;8,51). O próprio Jesus está disposto a defender os seus até dar a própria vida por eles (cf. Jo 10,11), a fim de que nada nem ninguém (os dirigentes, os que estão interessados em perpetuar mecanismos de egoísmo, de injustiça, de escravidão) possa privar os discípulos dessa vida plena.
    As ovelhas (os discípulos), por sua vez, têm de escutar a voz do Pastor e segui-l’O (cf. Jo 10,27). Isto significa que fazer parte do rebanho de Jesus é aderir a Ele, escutar as suas propostas, comprometer-se com Ele e, como Ele, entregar-se sem reservas numa vida de amor e de doação ao Pai e aos homens.
    O texto termina com uma referência à identificação plena entre o projecto do Pai e o projecto de Jesus: para ambos, o objectivo é fazer nascer uma nova humanidade. Em Jesus está presente e manifesta-se o plano salvador do Pai de dar vida eterna (vida plena) ao homem; através da acção de Jesus, a obra criadora de Deus atinge o seu ponto culminante.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar, na actualização da Palavra, os seguintes elementos:

    • Na nossa cultura urbana, a imagem do pastor é uma parábola de outras eras, que pouco diz à nossa sensibilidade; em contrapartida, conhecemos bem a figura do líder, do presidente, do chefe: não raras vezes, é alguém que se impõe, que manipula, que arrasta, que exige… Mas o Evangelho que hoje nos é proposto convida-nos a descobrir a figura bíblica do Pastor: uma figura que evoca doação, simplicidade, serviço, dedicação total, amor gratuito. É alguém que é capaz de dar a própria vida para defender das garras das feras as ovelhas que lhe foram confiadas.

    • Para os cristãos, o Pastor é Cristo: só Ele nos conduz para as “pastagens verdadeiras”, onde encontramos vida em plenitude. Nas nossas comunidades cristãs, temos pessoas que presidem e que animam. Podemos aceitar, sem problemas, que eles receberam essa missão de Cristo e da Igreja, apesar dos seus limites e imperfeições; mas convém igualmente ter presente que o nosso único Pastor, aquele que somos convidados a escutar e a seguir sem condições, é Cristo.

    • As “ovelhas” do rebanho de Jesus têm de “escutar a voz” do Pastor e segui-l’O… Isso significa, concretamente, percorrer o mesmo caminho de Jesus, numa entrega total aos projectos de Deus e numa doação total, de amor e de serviço aos irmãos.

    • Como distinguimos a “voz” de Jesus, o nosso Pastor, de outros apelos, de propostas enganadoras, de “cantos de sereia” que não conduzem à vida plena? Através de um confronto permanente com a sua Palavra, através da participação nos sacramentos onde se nos comunica a vida que o Pastor nos oferece e num permanente diálogo íntimo com Ele.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 4º DOMINGO DO TEMPO PASCAL
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 4º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. PALAVRA DE ABERTURA.
    Nas palavras de boas vindas, o presidente da assembleia procure não fazer deste domingo unicamente um “domingo das vocações”; é Cristo morto e ressuscitado que é festejado e cantado ao longo de todos os domingos da Páscoa. Hoje, é-nos apresentado com traços de Pastor, que nos precede e nos guia para as fontes de vida. O Ressuscitado é o Caminho, a Verdade e a Vida.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    Pai, nós Te damos graças pelo teu Filho Jesus, que se revelou como Luz das nações, e pelos teus Apóstolos, que comunicaram esta Luz, para que a tua salvação chegue até aos confins da terra.
    Nós Te pedimos por todos os novos baptizados e pelos jovens que redizem pessoalmente a fé do seu Baptismo.

    No final da segunda leitura:
    Nosso Pai dos céus, nós Te bendizemos pela multidão imensa de todas as nações, raças, povos e línguas, que está diante do teu trono e diante do Cordeiro: juntamo-nos ao grande louvor que eles Te dirigem.
    Jesus, que és o Cordeiro e o Pastor, nós Te pedimos pelas Igrejas, ainda em peregrinação: conduz-nos a todos, juntos para a fonte da vida.

    No final do Evangelho:
    Jesus nosso Bom Pastor, nós Te

    damos graças pela tua voz que nos chama, porque Tu conheces-nos e dás-nos a vida eterna.
    Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos torne atentos à tua voz, para que a possamos conhecer e possamos seguir-Te. Que nada nos afaste da tua mão, que é a do Pai, porque vós sois um.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Como está feliz, a criança a quem damos a mão! Sente-se em segurança, já não tem medo, é considerada como uma pessoa. Jesus, na parábola do Bom Pastor, evoca a ligação que existe entre o verdadeiro pastor e as suas ovelhas. Elas parecem estar na sua mão porque, diz Ele, “ninguém as arrancará da minha mão”. Jesus veio tomar a humanidade pela mão para dela cuidar, curar, conduzir, erguer, numa palavra, “salvar”. Ora, se Ele veio tomar a humanidade pela mão, é porque o Pai O enviou, como os dois fazem UM, é na mão do Pai que se encontra a humanidade, e, afirma Jesus, ninguém pode arrancar nada da mão do Pai. Que segurança para nós! Saber que estamos em segurança na mão de Deus: criando-nos e recriando-nos, tal como o oleiro, modela-nos e renova-nos. Perdoando-nos, tal como o pai do filho pródigo, reconcilia-nos com Ele, connosco mesmos e com os outros. Guiando-nos, tal como o Bom Pastor, faz-nos caminhar no caminho da felicidade. Oferecendo-nos a sua vida, tal como o Filho na cruz, faz de nós vivos.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    “Sou Eu!” Quem de nós não exclamou tantas vezes esta expressão? Nem é necessário dizer o nome… Hoje, diz Jesus: “Eu sou o Bom Pastor..:” Coloca-Se num registo de uma relação de intimidade para falar da sua ligação com os discípulos. Foi isso que Ele viveu com eles durante três anos. Tornaram-se seus amigos. Várias vezes, Jesus só precisou deste grito para Se fazer reconhecer: “Sou Eu!” Os discípulos não podiam enganar-se: esta voz era a sua, única no mundo. Não serve de nada dizer a um desconhecido: “Sou Eu!” Para entrar na intimidade de alguém, é preciso uma relação longa, um “viver-com”, uma familiaridade, no sentido pleno da palavra. Isso só se pode viver na duração, na fidelidade, na paciência. Com Jesus, é exactamente a mesma coisa. Não é o meu nervo auditivo que vibra à sua voz, mas a “audição do coração” que me torna atento quando a sua Palavra é proclamada em Igreja, quando leio e medito esta Palavra. É ela que vem fazer vibrar o meu ser profundo, que me toca o coração. Torno-me então, pouco a pouco, capaz de integrar na minha vida, na minha maneira de pensar e de agir, a sua maneira própria de falar e de agir. Pouco a pouco, a minha vida toma uma cor evangélica, a minha consciência afina-se, torno-me discípulo de Jesus, reconheço a sua presença na minha vida. Aí está um trabalho de longo alcance, de toda a vida. Então, pouco a pouco também, é um pouco d’Ele que trespassará através da minha vida para tocar os outros. Não está aí a vocação própria de todo o baptizado: fazer-se eco da sua voz no coração do mundo?

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III para as circunstâncias especiais, com a intercessão nº 1.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    A minha participação no serviço das vocações… Neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, cada um de nós é chamado a fazer o ponto da situação:
    – Qual é a minha parte ao serviço das vocações e da missão?
    – Alguns euros na altura do peditório?
    – Uma oração uma vez por ano? Ou com mais frequência?
    – Um compromisso bem concreto – mesmo pequeno – num serviço da Igreja?
    – E, se sou pai ou mãe, que forma de despertar uma vocação possível nos próprios filhos?

    https://youtu.be/nbFHcbkcSGg

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
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  • 05º Domingo da Páscoa – Ano C

    05º Domingo da Páscoa – Ano C


    15 de Maio, 2022

    05º Domingo da Páscoa – Ano C

    TEMA
    O tema fundamental da liturgia deste domingo é o do amor: o que identifica os seguidores de Jesus é a capacidade de amar até ao dom total da vida.
    No Evangelho, Jesus despede-Se dos seus discípulos e deixa-lhes em testamento o
    “mandamento novo”: “amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”. É nessa entrega radical da vida que se cumpre a vocação cristã e que se dá testemunho no mundo do amor materno e paterno de Deus.
    Na primeira leitura apresenta-se a vida dessas comunidades cristãs chamadas a
    viver no amor. No meio das vicissitudes e das crises, são comunidades fraternas, onde os irmãos se ajudam, se fortalecem uns aos outros nas dificuldades, se amam e dão testemunho do amor de Deus. É esse projecto que motiva Paulo e Barnabé e é essa proposta que eles levam, com a generosidade de quem ama, aos confins da Ásia Menor.
    A segunda leitura apresenta-nos a meta final para onde caminhamos: o novo céu e a nova terra, a realização da utopia, o rosto final dessa comunidade de chamados a viver no amor.

    LEITURA I – Actos 14,21b-27

    Naqueles dias,
    Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos
    e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé,
    «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus».
    Estabeleceram anciãos em cada Igreja,
    depois de terem feito orações acompanhadas de jejum,
    e encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília;
    depois, anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia.
    De lá embarcaram para Antioquia,
    de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar.
    À chegada, convocaram a Igreja,
    contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé.

    AMBIENTE
    Vimos, no passado domingo, como o entusiasmo missionário da comunidade cristã de Antioquia da Síria lançou Paulo e Barnabé para a missão e como a Boa Nova de Jesus alcançou, assim, a ilha de Chipre e as costas da Ásia Menor…
    A leitura de hoje apresenta-nos a conclusão dessa primeira viagem missionária de
    Paulo e de Barnabé: depois de chegarem a Derbe, voltaram para trás, visitaram as comunidades entretanto fundadas (Listra, Icónio, Antioquia da Pisídia e Perge) eembarcaram de regresso à cidade de onde tinham partido para a missão. Estes sucessos desenrolam-se entre os anos 46 e 49.

    MENSAGEM
    No texto que nos é proposto, transparecem os traços fundamentais que marcaram a vida e a experiência dos primeiros grupos cristãos: o entusiasmo dos primeiros missionários, que permite afrontar e vencer os perigos e as incomodidades para levar a todos os homens a boa notícia dessa libertação que Cristo veio propor; as palavras de consolação que fortalecem a fé e ajudam a enfrentar as perseguições (vers. 22a); o apoio mútuo (vers. 23b); a oração (vers. 23b.c).
    Sobretudo, este texto acentua a ideia de que a missão não foi uma obra puramente humana, mas foi uma obra de Deus. No início da aventura missionária já se havia sugerido que o envio de Paulo e Barnabé não era apenas iniciativa da Igreja de Antioquia, mas uma acção do Espírito (cf. Act 13,2-3); foi esse mesmo Espírito que acompanhou e guiou os missionários a cada passo da sua viagem. E aqui repete-se que o autêntico actor da conversão dos pagãos é Deus e não os homens (cf. vers. 27). Verdadeira novidade no contexto da missão é a instituição de dirigentes ou responsáveis (“anciãos” – em grego, “presbíteros”), que aparecem aqui pela primeira vez fora da Igreja de Jerusalém. Correspondem, provavelmente, aos “conselhos de anciãos” que estavam à frente das comunidades judaicas. Os “Actos” não explicitam as funções exactas destes dirigentes e animadores das Igrejas; mas o discurso de despedida que Paulo faz aos anciãos de Éfeso parece confiar-lhes o cuidado de administrarem, de vigiarem e de defenderem a comunidade face aos perigos internos e externos (cf. Act 20,28-31). Em todo o caso, convém recordar que os ministérios eram algo subordinado dentro da organização e da vida da primitiva comunidade; não eram valores absolutos em si mesmo, mas só existiam e só tinham sentido em função da comunidade.

    ACTUALIZAÇÃO
    Para reflectir, partilhar e actualizar este texto, considerar as seguintes linhas:
    ♦ Como é que vivem as nossas comunidades cristãs? Notamos nelas o mesmo empenho missionário dos inícios? Há partilha fraterna e preocupação em ir ao encontro dos mais débeis, em apoiá-los e ajudá-los a superar as crises e as angústias? São comunidades que se fortalecem com uma vida de oração e de diálogo com Deus?
    ♦ Temos consciência de que por detrás do nosso trabalho e do nosso testemunho está Deus? Temos consciência de que o anúncio do Evangelho não é uma obra nossa, na qual expomos as nossas ideias e a nossa ideologia, mas é obra de Deus? Temos consciência de que não nos pregamos a nós próprios, mas a Cristo libertador?
    ♦ Para aqueles que têm responsabilidades de direcção ou de animação das comunidades: a missão que lhes foi confiada não é um privilégio, mas um serviço que está subordinado à construção da própria comunidade. A comunidade não existe para servir quem preside; quem preside é que existe em função da comunidade e do serviço comunitário.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144

    Refrão 1: Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei.

    Refrão 2: Aleluia.

    O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade.
    O Senhor é bom para com todos
    e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
    Graças Vos dêem, senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis.
    Proclamem a glória do vosso reino
    e anunciem os vossos feitos gloriosos.
    Para darem a conhecer aos homens o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino.
    O vosso reino é um reino eterno,
    o vosso domínio estende-se por todas as gerações.

    LEITURA II – Ap 21,1-5a
    Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra,
    porque o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia.
    Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém,
    que descia do Céu, da presença de Deus,
    bela como noiva adornada para o seu esposo. Do trono ouvi uma voz forte que dizia:
    «Eis a morada de Deus com os homens.
    Deus habitará com os homens:
    eles serão o seu povo
    e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos;
    nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu».
    Disse então Aquele que estava sentado no trono:
    «Vou renovar todas as coisas».

    AMBIENTE
    Depois de descrever o confronto entre Deus e as forças do mal e a vitória final de Deus, o autor do “Apocalipse” apresenta o ponto de chegada da história humana: a “nova terra e o novo céu”; aí, os que se mantiveram fiéis ao “cordeiro” (Jesus) encontrarão a vida em plenitude. É o culminar da caminhada da humanidade, a meta última da nossa história.
    Esse mundo novo é, simbolicamente, apresentado em dois quadros (cf. Ap 21,1-8 e 21,9-22,5).A leitura que hoje nos é proposta apresenta-nos o primeiro desses quadros (o outro ficará para o próximo domingo). É o quadro do novo céu e da nova terra – um quadro que apresenta a última fase da obra regeneradora de Deus e que aparece já em Is 65,17 e em 66,22. Também se encontra esta imagem abundantemente representada na literatura apocalíptica (cf. Henoch, 45,4-5; 91,16; 4 Esd 7,75), bem como em certos textos do Novo Testamento (cf. Mt 19,28; 2 Pe 3,13).

    MENSAGEM
    Neste primeiro quadro, o profeta João chama a essa nova realidade nascida da vitória de Deus a “Jerusalém que desce do céu”. Jerusalém é, no universo religioso e cultural do povo bíblico, a cidade santa por excelência, o lugar onde Deus reside, o espaço onde vai irromper e onde se manifestará em definitivo a salvação de Deus. A “nova Jerusalém” é, portanto, o lugar da salvação definitiva, o lugar do encontro definitivo entre Deus e o seu Povo.
    No contexto da teologia do Livro do Apocalipse, esta cidade nova, onde encontra guarida o Povo vitorioso dos “santos”, designa a Igreja, vista como comunidade escatológica, transformada e renovada pela acção salvadora e libertadora de Deus na história. Dizer que ela “desce do céu” significa dizer que se trata de uma realidade que vem de Deus e tem origem divina; ela é uma absoluta criação da graça de Deus, dom definitivo de Deus ao seu Povo.
    Esta nova realidade instaura, consequentemente, uma nova ordem de coisas e exige que tudo o que é velho seja transformado. O mar, símbolo e resíduo do caos primitivo e das potências hostis a Deus, desaparecerá; a velha terra, cenário da conduta pecadora do homem, vai ser transformada e recriada (vers. 1).A partir daí, tudo será novo, definitivo, acabado, perfeito.
    Quando esta realidade irromper, celebrar-se-á o casamento definitivo entre Deus e a humanidade transformada (a “noiva adornada para o esposo”). Na linguagem profética, o casamento é um símbolo privilegiado da aliança. Realiza-se, assim, o ideal da aliança (cf. Jer 31,33-38; Ez 37,27): Deus e o seu Povo consumam a sua história de intimidade e de comunhão; Deus passará a residir de forma permanente e estável no meio do seu Povo, como o noivo que se junta à sua amada e com ela partilha a vida e o amor. A longa história de amor entre Deus e o seu Povo será uma história de amor com um final feliz. Serão definitivamente banidos do horizonte do homem a dor, as lágrimas, o sofrimento e a morte e restarão a alegria, a harmonia e a felicidade sem fim.

    ACTUALIZAÇÃO
    Para a reflexão desta Palavra, considerar os seguintes dados:
    ♦ O testemunho profético de João garante-nos que não estamos destinados ao fracasso, mas sim à vida plena, ao encontro com Deus, à felicidade sem fim. Esta esperança tem de iluminar a nossa caminhada e dar-nos a coragem de enfrentar os dramas e as crises que dia a dia se nos apresentam.
    ♦ A Igreja de que fazemos parte tem de procurar ser um anúncio dessa comunidade escatológica, uma “noiva” bela e que caminha com amor ao encontro de Deus, o amado. Isto significa que o egoísmo, as divisões, os conflitos, as lutas pelo poder, têm de ser banidos da nossa experiência eclesial: eles são chagas que desfeiam o rosto da Igreja e a impedem de dar testemunho do mundo novo que nos espera.
    ♦ É verdade que a instauração plena do “novo céu e da nova terra” só acontecerá quando o mal for vencido em definitivo; mas essa nova realidade pode e deve começar desde já: a ressurreição de Cristo convoca-nos para a renovação das nossas vidas, da nossa comunidade cristã ou religiosa, da sociedade e das suas estruturas, do mundo em que vivemos (e que geme num violento esforço de libertação ).

    ALELUIA– Jo 13,34
    Aleluia. Aleluia.
    Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
    amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.

    EVANGELHO – Jo 13,31-33a.34-35
    Quando Judas saiu do cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos:
    «Agora foi glorificado o Filho do homem
    e Deus glorificado n’Ele.
    Se Deus foi glorificado n’Ele,
    Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-l’O-á sem demora.
    Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo:
    que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei,
    amai-vos também uns aos outros.
    Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos:
    se vos amardes uns aos outros».

    AMBIENTE
    Estamos na fase final da caminhada histórica do “Messias”. Aproxima-se a “Hora”, o momento em que vai nascer – a partir do testemunho do amor total cumprido na cruz – o Homem Novo e a nova comunidade.
    O contexto em que este trecho nos coloca é o de uma ceia, na qual Jesus Se despede dos discípulos e lhes deixa as últimas recomendações. Jesus acabou de lavar os pés aos discípulos (cf. Jo 13,1-20) e de anunciar à comunidade desconcertada a traição de um do grupo (cf. Jo 13,21-30); nesses quadros, está presente o seu amor (que se faz serviço simples e humilde no episódio da lavagem dos pés e que se faz amor que não julga, que não condena, que não limita a liberdade e que se dirige até ao inimigo mortal, na referência a Judas, o traidor). Em seguida, Jesus vai dirigir aos discípulos palavras de despedida; essas suas palavras – resumo coerente de uma vida feita de amor e partilha – soam a testamento final. Trata-se de um momento muito solene; é a altura em que não há tempo nem disposição para “conversa fiada”: aproxima-se o fim e é preciso recordar aos discípulos aquilo que é mesmo fundamental na proposta cristã.

    MENSAGEM
    O texto divide-se em duas partes. Na primeira parte (vers. 31-32), Jesus interpreta a saída de Judas, que acabou de deixar a sala onde o grupo está reunido, para ir entregar o “mestre” aos seus inimigos. A morte é, portanto, uma realidade bem próxima… Jesus explica, na sequência, que a sua morte na cruz será a manifestação da sua glória e da glória do Pai. O termo “doxa” aqui utilizado traduz o hebraico
    “kabod” que pode entender-se como “riqueza”, “esplendor”. A “riqueza”, o “esplendor” do Pai e de Jesus manifesta-se, portanto, no amor que se dá até ao extremo, até ao dom total. É que a “glória” do Pai e de Jesus não se manifesta no triunfo espectacular ou na violência que aniquila os maus, mas manifesta-se na vida dada, no amor oferecido até ao extremo. A entrega de Jesus na cruz vai manifestar a todos os homens a lógica de Deus e mostrar a todos como Deus é: amor radical, que se faz dom até às últimas consequências.

    Na segunda parte (vers. 33a.34-35) temos, então, a apresentação do “mandamento novo”. Começa com a expressão “meus filhos” (vers. 33a) – o que nos coloca num quadro de solene emoção e nos leva ao “testamento” de um pai que, à beira da morte, transmite aos seus filhos a sua sabedoria de vida e aquilo que é verdadeiramente fundamental.
    Qual é, portanto, a última palavra de Jesus aos seus, o seu ensinamento fundamental?
    “Amai-vos uns aos outros. Como Eu vos amei, vós deveis também amar-vos uns aos outros”. O verbo “agapaô” (“amar”) aqui utilizado define, em João, o amor que faz dom de si, o amor até ao extremo, o amor que não guarda nada para si mas é entrega total e absoluta. O ponto de referência no amor é o próprio Jesus (“como Eu vos amei”); as duas cenas precedentes (lavagem dos pés aos discípulos e despedida de Judas) definem a qualidade desse amor que Jesus pede aos seus: “amar” consiste em acolher, em pôr-se ao serviço dos outros, em dar-lhes dignidade e liberdade pelo amor (lavagem dos pés), e isso sem limites nem discriminação alguma, respeitando absolutamente a liberdade do outro (episódio de Judas). Jesus é a norma, não com palavras, mas com actos; mas agora traduz em palavras os seus actos precedentes, para que os discípulos tenham uma referência.
    O amor (igual ao de Jesus) que os discípulos manifestam entre si será visível para
    todos os homens (vers. 35). Esse será o distintivo da comunidade de Jesus. Os discípulos de Jesus não são os depositários de uma doutrina ou de uma ideologia, ou os observantes de leis, ou os fiéis cumpridores de ritos; mas são aqueles que, pelo amor que partilham, vão ser um sinal vivo do Deus que ama. Pelo amor, eles serão no mundo sinal do Pai.

    ACTUALIZAÇÃO
    Considerar, na reflexão da Palavra, as seguintes linhas:
    ♦ A proposta cristã resume-se no amor. É o amor que nos distingue, que nos identifica; quem não aceita o amor, não pode ter qualquer pretensão de integrar a comunidade de Jesus. O que é que está no centro da nossa experiência cristã? A nossa religião é a religião do amor, ou é a religião das leis, das exigências, dos ritos externos? Com que força nos impomos no mundo – a força do amor, ou a força da autoridade prepotente e dos privilégios?
    ♦ Falar de amor hoje pode ser equívoco… A palavra “amor” é, tantas vezes, usada para definir comportamentos egoístas, interesseiros, que usam o outro, que fazem mal, que limitam horizontes, que roubam a liberdade… Mas o amor de que Jesus fala é o amor que acolhe, que se faz serviço, que respeita a dignidade e a liberdade do outro, que não discrimina nem marginaliza, que se faz dom total (até à morte) para que o outro tenha mais vida. É este o amor que vivemos e que partilhamos?
    ♦ Por um lado, a comunidade de Jesus tem de testemunhar, com gestos concretos, o amor de Deus; por outro, ela tem de demonstrar que a utopia é possível e que os homens podem ser irmãos. É esse o nosso testemunho de comunidade cristã ou religiosa? Nos nossos comportamentos e atitudes uns para com os outros, os homens descobrem a presença do amor de Deus no mundo? Amamos mais do que os outros e interessamo-nos mais do que eles pelos pobres e pelos que sofrem?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS
    PARA O 5º DOMINGO DO TEMPO PASCAL
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 5º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. O ACOLHIMENTO FRATERNO.
    Neste domingo, em que o Ressuscitado nos dá o mandamento novo, não seria uma boa ocasião, para aqueles que preparam a liturgia, de verem se a comunidade está suficientemente atenta ao acolhimento fraterno de todos e de cada um no seio da celebração? As maneiras de fazer podem ser diversas, mas a exigência é a mesma:
    «Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Deus, Pai do teu novo Povo, nós Te bendizemos por toda a obra que cumpriste com Paulo e Barnabé. Através deles, abriste às nações pagãs, de quem descendemos, a porta da fé.
    Nós Te pedimos pelos pastores das Igrejas, a fim de que cheguem a designar
    “anciãos” como guias em todas as tuas comunidades.

    No final da segunda leitura:
    Deus que estás sentado no trono e que fazes novas todas as coisas, Pai do teu Povo, nós Te louvamos pela nova Jerusalém, a tua morada no meio dos homens, que se realiza cada vez que Te rezamos.
    Nós Te confiamos os nossos irmãos e irmãs que estão em provação: que chegue o dia em que Tu lhes enxugarás as lágrimas dos seus olhos dissipando toda a tristeza.

    No final do Evangelho:
    Guiados pelo teu Espírito, nós Te glorificamos, Pai, com o teu Filho Jesus. Nós Te bendizemos pela teu glória, que é a tua presença vivificante, e na qual Tu comunicas connosco pela Palavra e pelo Pão.
    Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos fortaleça, para que possamos viver segundo o mandamento novo que nos deste pela palavra e pela vida do teu Filho Jesus.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Antes de conhecer o abaixamento da sua Paixão e da sua morte, Jesus faz perceber aos seus discípulos o peso, a glória da sua vida. Ele passou fazendo o bem, só pregou o Amor, fez milagres por amor, deu o exemplo do amor dando-nos a maior prova. É tudo isso que tem peso aos olhos de Deus, tal é a sua glória. E já durante a última ceia, Ele anuncia a sua ressurreição predizendo que proximamente Ele não estará mais entre eles, do mesmo modo como está no momento em que lhes fala, mas tornar-Se-á presente através do amor que os seus discípulos terão uns para com os outros: que eles se amem como Ele os amou! Este amor será o sinal pelo qual serão reconhecidos como seus discípulos. Jesus não quer que tudo pare com a sua partida, serão os seus discípulos que O tornarão presente se se amarem como Ele os amou… se forem servos como Ele foi servo para lhes dar o exemplo… se refizerem os gestos e disserem as palavras da última ceia… Isto para fazer memória d’Ele, isto é, recordar- se, tornar presente, esperar o seu regresso… se eles O reconhecem, a Ele o Senhor, sob os traços do mais pequeno entre os irmãos. Jesus de Nazaré já não está entre nós, mas Cristo ressuscitado está bem no meio de nós, hoje. Há que reconhecê-l’O para O testemunhar pelo amor!

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros”. Que bela novidade! Como se fosse Jesus a inventar o amor! Os homens e as mulheres não esperaram que Jesus viesse para saber um pouco o sentido da palavra “amor” e do verbo “amar”! Aliás, o mandamento de “amar o seu próximo como a si mesmo” encontra-se já no Livro do Levítico. Então, como compreender esta “novidade”? O próprio Jesus dá-nos a chave: “Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”. Só olhando Jesus saberemos como Ele nos amou. A sua própria vida é uma prática desta palavra. E isto vai para além daquilo que, humanamente, podemos fazer. Ele diz-nos para perdoar setenta vezes sete, isto é, sem colocar qualquer limite ao perdão. “Amai os vossos inimigos e rezai pelos vossos perseguidores”… “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”… São João escreve que “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”, isto é, até à plenitude do amor cuja Fonte é o seu Pai. Sim, a maneira de Jesus nos amar ultrapassa a nossa maneira de amar. Neste sentido, o amor que Ele nos convida a viver entre nós é mesmo novo! Mas há mais! Porque as exigências de um tal amor podem parecer desmedidas, fora do nosso alcance, e deixar-nos no desespero: nunca chegaremos aí! Ora, é preciso compreender bem o “como Eu vos amei”. Jesus não nos diz: “Eu amei-vos. Agora, desenrascai-vos, fazei esforço para Me imitar!” Ele diz-nos: “Como Eu, que vos amo e vos dou o amor infinito do Pai, deixai-vos amar, como uma criança que se deixa tomar nos braços da sua mãe e do seu pai. Vinde até Mim. Àquele que vem até Mim, não o abandonarei. Então, poderei derramar sobre vós a força do próprio Amor que é Deus. Assim, encontrareis a força para ir para além das capacidades humanas, podereis, dia após dia, aprender a amar-vos como Eu vos amo”. Sim, Senhor, quero ir para junto de Ti, porque tens as palavras da vida eterna!

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III para a Assembleia com Crianças.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    «Como Eu vos amei”. Exigência deste “como”… porque Jesus não fingiu amar-nos! No caminho desta semana, vou encontrar homens, mulheres, jovens, crianças… Como vou amá-los “como Jesus”? Isto é, sem fingimentos, gratuitamente, sinceramente, dando-me a eles com o melhor de mim mesmo… A nossa vida de baptizados deve ser sinal no meio da descrença e da indiferença do mundo. Segundo o amor que teremos uns para com os outros… todos verão que somos discípulos de Cristo!

    https://youtu.be/3wRNZiOXQCc

  • 06º Domingo da Páscoa – Ano C

    06º Domingo da Páscoa – Ano C


    22 de Maio, 2022

    06º Domingo da Páscoa – Ano C

    TEMA

    Na liturgia deste domingo sobressai a promessa de Jesus de acompanhar de forma permanente a caminhada da sua comunidade em marcha pela história: não estamos sozinhos; Jesus ressuscitado vai sempre ao nosso lado.
    No Evangelho, Jesus diz aos discípulos como se hão-de manter em comunhão com Ele e reafirma a sua presença e a sua assistência através do “paráclito” – o Espírito Santo.
    A primeira leitura apresenta-nos a Igreja de Jesus a confrontar-se com os desafios dos novos tempos. Animados pelo Espírito, os crentes aprendem a discernir o essencial do acessório e actualizam a proposta central do Evangelho, de forma que a mensagem libertadora de Jesus possa ser acolhida por todos os povos.
    Na segunda leitura, apresenta-se mais uma vez a meta final da caminhada da Igreja: a “Jerusalém messiânica”, essa cidade nova da comunhão com Deus, da vida plena, da felicidade total.

    LEITURA I – Actos 15,1-2.22-29

    Naqueles dias,
    alguns homens que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos de Antioquia:
    «Se não receberdes a circuncisão, segundo a Lei de Moisés,
    não podereis salvar-vos».
    Isto provocou muita agitação e uma discussão intensa que Paulo e Barnabé tiveram com eles.
    Então decidiram que Paulo e Barnabé e mais alguns discípulos subissem a Jerusalém
    para tratarem dessa questão com os Apóstolos e os anciãos. Os Apóstolos e os anciãos,
    de acordo com toda a Igreja, decidiram escolher alguns irmãos
    e mandá-los a Antioquia com Barnabé e Paulo. Eram Judas, a quem chamavam Barsabás,
    e Silas, homens de autoridade entre os irmãos. Mandaram por eles esta carta:
    «Os Apóstolos e os anciãos, irmãos vossos, saúdam os irmãos de origem pagã
    residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia.
    Tendo sabido que, sem nossa autorização, alguns dos nossos vos foram inquietar,
    perturbando as vossas almas com as suas palavras, resolvemos, de comum acordo,
    escolher delegados para vo-los enviarmos
    juntamente com os nossos queridos Barnabé e Paulo, homens que expuseram a sua vida
    pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso vos mandamos Judas e Silas,
    que vos transmitirão de viva voz as nossas decisões.
    O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além destas que são indispensáveis:
    abster-se da carne imolada aos ídolos,
    do sangue, das carnes sufocadas e das relações imorais. Procedereis bem, evitando tudo isso. Adeus».

    AMBIENTE
    A entrada maciça de crentes gentios na comunidade cristã (sobretudo após a primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé) vai trazer a lume uma questão essencial: deve impor-se aos crentes de origem pagã a prática da Lei de Moisés? Não se trata, aqui, de um problema acidental ou secundário, de uma medida disciplinar ou de puros costumes, mas de algo tão fundamental como saber se a salvação vem através da circuncisão e da observância da “Torah” judaica, ou única e exclusivamente por Cristo. Dito de outra forma: Jesus Cristo é o único Senhor e salvador, ou são precisas outras coisas além d’Ele para chegar a Deus e para receber d’Ele a graça da salvação?
    A comunidade cristã de Antioquia (onde o problema se põe com especial acuidade) não tem a certeza sobre o caminho a seguir. Paulo e Barnabé acham que Cristo basta; mas os “judaizantes” – cristãos de origem judaica, que conservam as práticas tradicionais do judaísmo – defendem que os ritos prescritos pela “Torah” também são necessários para a salvação. Decide-se, então, enviar uma delegação a Jerusalém, a fim de consultar os Apóstolos e os anciãos acerca da questão. Estamos por volta do ano 49.

    MENSAGEM
    Este texto começa por pôr a questão e por apresentar os passos dados para a solucionar: Paulo, Barnabé e alguns outros (também Tito, de acordo com Gal 2,1) são enviados a Jerusalém para consultar os Apóstolos e os anciãos (vers. 1-2). A questão é de tal importância que se organiza a reunião dos dirigentes e animadores das comunidades, conhecida como “concílio apostólico” ou “concílio de Jerusalém”. Essa assembleia vai, pois, discutir o que é essencial na proposta cristã (e que devia ser incluído no núcleo fundamental da pregação) e o que é acessório (e que podia ser dispensado, não constituindo uma verdade fundamental da fé cristã).
    O texto que nos é proposto hoje interrompe aqui a descrição dos acontecimentos. No entanto, sabemos (pela descrição dos “Actos”) que nessa “assembleia eclesial” vão enfrentar-se várias opiniões. Pedro reconhece a igualdade fundamental de todos – judeus e pagãos – diante da proposta de salvação, que a Lei é um jugo que não deve ser imposto aos pagãos e que é “pela graça do Senhor Jesus” que se chega à salvação (cf. Act 15,7-12); mas Tiago (representante da ala “judaizante), sem se opor à perspectiva de Pedro, procura salvar o possível das tradições judaicas e propõe que sejam mantidas algumas tradições particularmente caras aos judeus (cf. Act 15,13-21). Na realidade, há acordo quanto ao essencial. Embora o texto de Lucas não seja totalmente explícito, percebe-se a decisão final: não se pode impor aos gentios a lei judaica; só Cristo basta. Assim dá-se luz verde à missão entre os pagãos. É a decisão mais importante da Igreja nascente: o cristianismo cortou o cordão umbilical com o judaísmo e pode, agora, ser uma proposta universal de salvação, aberta a todos os homens, de todas as raças e culturas.
    O nosso texto retoma a questão neste ponto. Nos vers. 22-29 da leitura de hoje apresenta-se o “comunicado final” da “assembleia de Jerusalém”: a práxis judaica não pode ser imposta, pois não é essencial para a salvação… No entanto, pede-se a abstenção de alguns costumes particularmente repugnantes para os judeus.
    É de destacar, ainda, a referência ao Espírito Santo do vers. 28: a decisão é tomada por homens, mas assistidos pelo Espírito. Manifesta-se, assim, a consciência da presença do Espírito, que conduz e que assiste a Igreja na sua caminhada pela história.

    ACTUALIZAÇÃO
    Considerar, para a reflexão, as seguintes linhas:
    ♦ A questão de cumprir ou não os ritos da Lei de Moisés é uma questão ultrapassada, que hoje não preocupa nenhum cristão; mas este episódio vale, sobretudo, pelo seu valor exemplar. Faz-nos pensar, por exemplo, em rituais ultrapassados, em práticas de piedade vazias e estéreis, em fórmulas obsoletas, que exprimiram num certo contexto, mas já não exprimem o essencial da proposta cristã. Faz-nos pensar na imposição de esquemas culturais – ocidentais, por exemplo – que muitas vezes não têm nada a ver com a forma de expressão de certas culturas… O essencial do cristianismo não pode ser vivido sem o concretizar em formas determinadas, humanas e, por isso, condicionadas e finitas. Mas é necessário distinguir o essencial do acessório; o essencial deve ser preservado e o acessório deve ser constantemente actualizado. Quais são os ritos e as práticas decididamente obsoletos, que impedem o homem de hoje de redescobrir o núcleo central da mensagem cristã? Será que hoje não estamos a impedir, como outrora, o nascimento de Cristo para o mundo, mantendo-nos presos a esquemas e modos de pensar e de viver que têm pouco a ver com a realidade do mundo que nos rodeia?
    ♦ É necessário ter presente que o essencial é Cristo e a sua proposta de salvação.
    Essa é que é a proposta revolucionária que temos para apresentar ao mundo. O resto são questões cuja importância não nos deve distrair do essencial.
    ♦ Devemos também ter consciência da presença do Espírito na caminhada da Igreja de Jesus. No entanto, é preciso escutá-l’O, estar atento às interpelações que Ele lança, saber ler as suas indicações nos sinais dos tempos e nas questões que o mundo nos apresenta… Estamos verdadeiramente atentos aos apelos do Espírito?
    ♦ É preciso aprender com a forma como os Apóstolos responderam aos desafios dos tempos: com audácia, com imaginação, com liberdade, com desprendimento e, acima de tudo, com a escuta do Espírito. É assim que a Igreja de Jesus deve enfrentar hoje os desafios do mundo.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)
    Refrão 1: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.
    Refrão 2: Aleluia.

    Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
    resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
    Na terra se conhecerão os vossos caminhos
    e entre os povos a vossa salvação.

    Alegrem-se e exultem as nações,
    porque julgais os povos com justiça e
    governais as nações sobre a terra.

    Os povos Vos louvem, ó Deus,
    todos os povos Vos louvem.
    Deus nos dê a sua bênção
    e chegue o seu louvor aos confins da terra.

    LEITURA II – Ap 21,10-14.22-23
    Um Anjo transportou-me em espírito ao cimo de uma alta montanha
    e mostrou-me a cidade santa de Jerusalém, que descia do Céu,
    da presença de Deus, resplandecente da glória de Deus.
    O seu esplendor era como o de uma pedra preciosíssima,
    como uma pedra de jaspe cristalino.
    Tinha uma grande e alta muralha,
    com doze portas e, junto delas, doze Anjos;
    tinha também nomes gravados,
    os nomes das doze tribos dos filhos de Israel: três portas a nascente,
    três portas ao norte, três portas ao sul e três portas a poente.
    A muralha da cidade tinha na base doze reforços salientes e neles doze nomes:
    os doze Apóstolos do Cordeiro.
    Na cidade não vi nenhum templo,
    porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro.
    A cidade não precisa da luz do sol nem da lua,
    porque a glória de Deus a ilumina e a sua lâmpada é o Cordeiro.

    AMBIENTE
    Continuamos a ler a parte final do livro do “Apocalipse”. Nela, João apresenta-nos o resultado da intervenção definitiva de Deus no mundo: depois da vitória de Deus sobre as forças que oprimem o homem e o privam da vida plena, nascerá a comunidade nova e santa, a criação definitiva de Deus, o novo céu e a nova terra.
    A liturgia do passado domingo apresentou-nos um primeiro quadro dessa nova realidade; hoje, a mesma realidade é descrita através de um segundo quadro – o da “Jerusalém messiânica”.

    MENSAGEM
    É, ainda, a imagem da “nova Jerusalém que desce do céu” que nos é apresentada. Já vimos na passada semana que falar de Jerusalém é falar do lugar onde irá irromper a salvação definitiva, o lugar do encontro definitivo entre Deus e o seu Povo.
    Na apresentação desta “nova Jerusalém”, domina o número “doze”: na base da muralha há doze reforços salientes e neles os doze nomes dos Apóstolos do “cordeiro”; a cidade tem, igualmente, doze portas (três a nascente, três ao norte, três ao sul e três a poente), nas quais estão gravados os nomes das doze tribos de Israel; há, ainda, doze anjos junto das portas. O número “doze” indica a totalidade do Povo de Deus (doze tribos + doze Apóstolos): ela está fundada sobre os doze Apóstolos – testemunhas do “cordeiro” – mas integra a totalidade do Povo de Deus do Antigo e do Novo Testamento, conduzido à vida plena pela acção salvadora e libertadora de Cristo. As portas, viradas para os quatro pontos cardeais, indicam que todos os povos (vindos do norte, do sul, de este e do oeste) podem entrar e encontrar lugar nesse lugar de felicidade plena.

    Num desenvolvimento que a leitura de hoje não conservou (vers. 15-17), apresentam-se as dimensões dessa “cidade”: 144 côvados (12 vezes doze), formando um quadrado perfeito. Trata-se de mostrar que a cidade (perfeita, harmoniosa) está traçada segundo o modelo bíblico do “santo dos santos” (cf. 1 Re 6,19-20): a cidade inteira aparece, assim, como um Templo dedicado a Deus, onde Deus reside de forma permanente no meio do seu Povo.
    É por isso que a última parte deste texto (vers. 22-23) diz que a cidade não tem Templo: nesse lugar de vida plena, o homem não terá necessidade de mediações, pois viverá sempre na presença de Deus e encontrará Deus face a face. Diz-se ainda que toda a cidade estará banhada de luz: a luz indica a presença divina (cf. Is 2,5; 24,23; 60,19): Deus e o “cordeiro” serão a luz que ilumina esta comunidade de vida plena.
    Após a intervenção definitiva de Deus na história nascerá, então, essa nova “cidade” construída sobre o testemunho dos apóstolos; cidade de portas abertas, ela acolherá todos os homens que aderirem ao “cordeiro”; nela, eles encontrarão Deus e viverão na sua presença, recebendo a vida em plenitude.

    ACTUALIZAÇÃO
    Ter em conta as seguintes indicações para reflexão:
    ♦ Já o dissemos a propósito da segunda leitura do passado domingo: o profeta João garante-nos que as limitações impostas pela nossa finitude, as perseguições que temos de enfrentar por causa da verdade e da justiça, os sofrimentos que resultam dos nossos limites, não são a última palavra; espera-nos, para além desta terra, a vida plena, face a face com Deus. Esta certeza tem de dar um sentido novo à nossa caminhada e alimentar a nossa esperança.
    ♦ A Igreja em marcha pela história não é, ainda, essa comunidade messiânica da vida plena de que fala esta leitura; mas tem de apontar nesse sentido e procurar ser, apesar do pecado e das limitações dos homens, um anúncio e uma prefiguração dessa comunidade escatológica da salvação, que dá testemunho da utopia e que acende no mundo a luz de Deus. A humanidade necessita desse testemunho.
    ♦ Ainda que esta realidade de vida plena, de felicidade total, só aconteça na “nova Jerusalém”, ela tem de começar a ser construída desde já nesta terra. Deve ser essa a tarefa que nos motiva, que nos empenha e que nos compromete: a construção de um mundo de justiça, de amor e de paz, que seja cada vez mais um reflexo do mundo futuro que nos espera.

    ALELUIA– Jo 14,23

    Aleluia. Aleluia.
    Se alguém Me ama, guardará a minha palavra. Meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada.

    EVANGELHO – Jo 14,23-29

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos seus discípulos:
    «Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará;
    Nós viremos a ele
    e faremos nele a nossa morada.
    Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha,
    mas do Pai que Me enviou.
    Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo,
    que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas
    e vos recordará tudo o que Eu vos disse. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo.
    Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes o que Eu vos disse:
    Vou partir, mas voltarei para junto de vós.
    Se Me amásseis,
    ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu.
    Disse-vo-lo agora, antes de acontecer,
    para que, quando acontecer, acrediteis».

    AMBIENTE
    Continuamos no contexto da “ceia de despedida”. Jesus, que acaba de fundar a sua comunidade, dando-lhe por estatuto o mandamento do amor (cf. Jo 13,1-17;13,33-35), vai agora explicar como é que essa comunidade manterá, após a sua partida, a relação com Ele e com o Pai.
    Nos versículos anteriores ao texto que nos é proposto, Jesus apresentou-Se como “o caminho”(cf. Jo 14,6) e convidou os discípulos a percorrer esse mesmo “caminho” (cf. Jo 14,4-5). O que é que isso significa? Jesus, enquanto esteve no mundo, percorreu um “caminho” – o da entrega ao homem, o do serviço, o do amor total; é nesse “caminho que o homem” – o Homem Novo que Jesus veio criar – se realiza. A comunidade de Jesus tem, portanto, que percorrer esse “caminho”. A metáfora do “caminho” expressa o dinamismo da vida que é progressão; percorrê-lo, é alcançar a plena maturidade do Homem Novo, do homem que desenvolveu todas as suas potencialidades, do homem recriado para a vida definitiva. O final desse “caminho” é o amor radical, a solidariedade total com o homem. Nesse “caminho”, encontra-se o Pai. Os discípulos, no entanto, estão inquietos e desconcertados. Será possível percorrer esse “caminho” se Jesus não caminhar ao lado deles? Como é que eles manterão a comunhão com Jesus e como receberão dele a força para doar, dia a dia, a própria vida?

    MENSAGEM
    Para seguir esse “caminho” é preciso amar Jesus e guardar a sua Palavra (cf. Jo 14,23).Quem ama Jesus e O escuta, identifica-se com Ele, isto é, vive como Ele, na entrega da própria vida em favor do homem… Ora, viver nesta dinâmica é estar continuamente em comunhão com Jesus e com o Pai. O Pai e Jesus, que são um, estabelecerão a sua morada no discípulo; viverão juntos, na intimidade de uma nova família (vers. 23-24).
    Para que os discípulos possam continuar a percorrer esse “caminho” no tempo da Igreja, o Pai enviará o “paráclito”, isto é, o Espírito Santo (vers. 25-26). A palavra “paráclito” pode traduzir-se como “advogado”, “auxiliador”, “consolador”, “intercessor”. A função do “paráclito” é “ensinar” e “recordar” tudo o que Jesus propôs. Trata-se, portanto, de uma presença dinâmica, que auxiliará os discípulos trazendo-lhes continuamente à memória os ensinamentos de Jesus e ajudando-os a ler as propostas de Jesus à luz dos novos desafios que o mundo lhes colocar. Assim, os crentes poderão continuar a percorrer, na história, o “caminho” de Jesus, numa fidelidade dinâmica às suas propostas. O Espírito garante, dessa forma, que o crente possa continuar a percorrer esse “caminho” de amor e de entrega, unido a Jesus e ao Pai. A comunidade cristã e cada homem tornam-se a morada de Deus: na acção dos crentes revela-se o Deus libertador, que reside na comunidade e no coração de cada crente e que tem um projecto de salvação para o homem.
    A última parte do texto que nos é proposto contém a promessa da “paz” (vers. 27). Desejar a “paz” (“shalom”) era a saudação habitual à chegada e à partida. No entanto, neste contexto, a saudação não é uma despedida trivial (“não vo-la dou como a dá o mundo”), pois Jesus não vai estar ausente. O que Jesus pretende é inculcar nos discípulos apreensivos a serenidade e evitar-lhes o temor. São palavras destinadas a tranquilizar os discípulos e a assegurar-lhes que os acontecimentos que se aproximam não porão fim à relação entre Jesus e a sua comunidade. As últimas palavras referidas por este texto (vers. 28-29) sublinham que a ausência de Jesus não é definitiva, nem sequer prolongada. De resto, os discípulos devem alegrar-se, pois a morte não é uma tragédia sem sentido, mas a manifestação suprema do amor de Jesus pelo Pai e pelos homens.

    ACTUALIZAÇÃO
    A reflexão deste texto pode contemplar as seguintes linhas:
    ♦ Falar do “caminho” de Jesus é falar de uma vida gasta em favor dos irmãos, numa doação total e radical, até à morte. Os discípulos são convidados a percorrer, com Jesus, esse mesmo “caminho”. Paradoxalmente, dessa entrega (dessa morte para si mesmo) nasce o Homem Novo, o homem na plenitude das suas possibilidades, o homem que desenvolveu até ao extremo todas as suas potencialidades. É esse “caminho” que eu tenho vindo a percorrer? A minha vida tem sido doação, entrega, dom, amor até ao extremo? Tenho procurado despir-me do egoísmo e do orgulho que impedem o Homem Novo de aparecer?
    ♦ A comunhão do crente com o Pai e com Jesus não resulta de momentos mágicos nos quais, através da recitação de certas fórmulas, a vida de Deus bombardeia e inunda incondicionalmente o crente; mas a intimidade e a comunhão com Jesus e com o Pai estabelece-se percorrendo o caminho do amor e da entrega, numa doação total aos irmãos. Quem quiser encontrar-se com Jesus e com o Pai, tem de sair do egoísmo e aprender a fazer da sua vida um dom aos homens.
    ♦ É impressionante essa pedagogia de um Deus – o nosso Deus – que nos deixa ser os construtores da nossa própria história, mas não nos abandona. De forma discreta, respeitando a nossa liberdade, Ele encontrou formas de continuar connosco, de nos animar, de nos ajudar a responder aos desafios, de nos recordar que só nos realizaremos plenamente na fidelidade ao “caminho” de Jesus.
    ♦ O cristão tem de estar, no entanto, atento à voz do Espírito, sensível aos apelos do Espírito; tem de procurar detectar os novos caminhos que o Espírito propõe; tem de estar na disposição de se deixar questionar e de refazer a sua vida, sempre que o Espírito lhe dá a entender que ela está a afastar-se do “caminho” de Jesus. Estamos sempre atentos aos sinais do Espírito e disponíveis para enfrentar os seus desafios?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS
    PARA O 6º DOMINGO DO TEMPO PASCAL
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 6º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. FAVORECER O ACOLHIMENTO DA BOA NOVA.
    Como no domingo passado, a riqueza do Evangelho é grande: será suficiente uma única audição? Pode-se valorizar e fazer eco da Boa Nova durante toda a celebração: na palavra de acolhimento à celebração, podem-se inserir já algumas frases da Boa Nova; no momento da proclamação do Evangelho, o presidente procurará ler o texto sem se apressar, com um tom meditativo, fazendo breves pausas; no momento do gesto de paz, o padre (ou o diácono) pode recordar que é a paz do Senhor que é oferecida – “deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”; depois da comunhão, algumas frases do Evangelho poderão ainda ajudar à meditação…

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Nosso Pai, nós Te damos graças pelo teu Espírito Santo, que Tu comunicaste generosamente aos Apóstolos e, por eles, às tuas Igrejas, para orientar, guiar, sustentar e encorajar o teu povo na fidelidade à tua vontade.
    Nós Te pedimos pela Igrejas que estão em sínodo e por todas as equipas pastorais:
    pelo teu Espírito, ilumina-as na tomada de decisões!

    No final da segunda leitura:
    Deus Pai, estás presente em todas as assembleias de oração, por mais modestas que sejam, até nas nossas famílias, para aí revelar a Jerusalém celeste e a nova terra que desejas criar connosco. Bendito sejas!
    Nós Te pedimos pelas paróquias e pelas comunidades que constroem, decoram ou reparam as suas igrejas. Que o teu Espírito as oriente nas suas escolhas.

    No final do Evangelho:
    Pai de Jesus Cristo e nosso Pai, nós Te damos graças pela tua presença fiel no teu Povo, primeiro pelo teu Filho, que habitou no meio dos discípulos, em seguida pelo teu Espírito, o Defensor, que habita connosco.
    Nós Te pedimos: mantém-nos fiéis à tua Palavra, dá-nos a paz, a tua paz, aquela de que o mundo tem necessidade. O teu Espírito de Paz.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Jesus gostava de dizer que nunca estava só. Vemo-l’O retirar-Se para a montanha, sozinho, mas para se juntar a seu Pai. E promete aos discípulos não os deixar órfãos porque lhes enviará o seu Espírito, o Espírito Santo, o Defensor. Na hora das grandes confidências, pouco tempo antes da sua paixão, Jesus anuncia aos seus discípulos que virá habitar neles com o seu Pai, na condição de permanecerem fiéis à sua palavra. Parece dizer: “se quereis que venhamos habitar em vós, aceitai permanecer fiéis a toda a mensagem que vos transmiti”. Não somente o Pai e o Filho querem habitar nos discípulos, mas o Espírito Santo também habitará neles para os ensinar e fazê-los recordar-se de tudo o que Jesus lhes disse. Sabemos que há duas formas de morte: a morte física e o esquecimento. Jesus veio anunciar aos seus discípulos que, após a sua morte, Ele ressuscitará, e o Espírito Santo ajudará os discípulos a não esquecer o que fez e disse: eles farão memória, recordando-se d’Ele, mas, sobretudo, proclamando-O vivo hoje até à sua vinda na glória.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    “Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada”. Uma vez mais, Jesus parece pôr uma condição para que o Pai possa amar-nos. Quem pode pretender amar o Senhor, guardar a sua Palavra? Parece mesmo que, quanto mais os anos passam, mais se instala em nós uma certa lassidão e esmorece o ardor em amar o Senhor. Apesar de todos os esforços, parece que estamos longe da intimidade com Jesus. Mesmo sendo fiéis à oração, frequentando os sacramentos, em particular a Eucaristia, sentimos um vazio… Parece que não amamos bastante o Senhor! Mas recordemo-nos do essencial: a absoluta anterioridade do amor de Deus por nós, foi Ele que nos amou primeiro… O que Jesus nos pede é que reconheçamos primeiro o amor do Pai por nós, que nos precede sempre. Na medida em que guardamos este amor de Jesus com seu Pai, este amor primeiro, podemos guardar a sua Palavra e aprender a amar.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III para Assembleia com Crianças. Os textos próprios do tempo pascal são particularmente significativos.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    Que fazemos da Palavra? Em cada domingo a Palavra é-nos oferecida. Que fazemos dela? Ela é o “fio condutor” da nossa semana? Ou esquecemo-la mal a escutamos? Nesta semana, procuremos recordar a Palavra evangélica e deixemo-nos transformar por ela. O Espírito Santo ensinar-nos-á, far-nos-á compreender, diz-nos Jesus. Basta estarmos abertos à sua acção!

    https://youtu.be/cmOHHe6YwCo

    Grupo Dinamizador
    Pe. Joaquim Garrido – Pe. Manuel Barbosa – Pe. Ornelas Carvalho

  • Solenidade da Ascensão – Ano C

    Solenidade da Ascensão – Ano C


    29 de Maio, 2022

    Solenidade da Ascensão – Ano C

    Tempo Pascal

    Ano C – Solenidade da Ascensão do Senhor

    TEMA

    A Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos sugere que, no final de um caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, em comunhão com Deus. Sugere, também, que Jesus nos deixou o testemunho e que somos agora nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projecto libertador de Deus para os homens e para o mundo.

    O Evangelho apresenta-nos as palavras de despedida de Jesus que definem a missão dos discípulos no mundo. Faz, também, referência à alegria dos discípulos: essa alegria resulta do reconhecimento da presença no mundo do projecto salvador de Deus e resulta do facto de a ascensão de Jesus ter acrescentado à vida dos crentes um novo sentido.

    Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projecto do Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus – a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo caminho de Jesus. Quanto aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante, mas têm de ir para o meio dos homens continuar o projecto de Jesus.

    A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que

    foram chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa esperança de mãos dadas com os irmãos – membros do mesmo “corpo” – e em comunhão com Cristo, a “cabeça” desse “corpo”. Cristo reside nesse “corpo”.

    LEITURA I – Actos 1,1-11

    No meu primeiro livro, ó Teófilo,
    narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu,
    depois de ter dado, pelo Espírito Santo,
    as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão,
    Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus.
    Um dia em que estava com eles à mesa,
    mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai,
    «da Qual – disse Ele – Me ouvistes falar.
    Na verdade, João baptizou com água;
    vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias».
    Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar:
    «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?» Ele respondeu-lhes:
    «Não vos compete saber os tempos ou os momentos
    que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós,
    e sereis minhas testemunhas
    em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra».
    Dito isto, elevou-Se à vista deles
    e uma nuvem escondeu-O a seus olhos.
    E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco,
    que disseram:
    «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».

    AMBIENTE

    O livro dos “Actos dos Apóstolos” dirige-se a comunidades que vivem num certo contexto de crise. Estamos na década de 80, cerca de cinquenta anos após a morte de Jesus. Passou já a fase da expectativa pela vinda iminente do Cristo glorioso para instaurar o “Reino” e há uma certa desilusão. As questões doutrinais trazem alguma confusão; a monotonia favorece uma vida cristã pouco comprometida e as comunidades instalam-se na mediocridade; falta o entusiasmo e o empenho… O quadro geral é o de um certo sentimento de frustração, porque o mundo continua igual e a esperada intervenção vitoriosa de Deus continua adiada. Quando vai concretizar- se, de forma plena e inequívoca, o projecto salvador de Deus?

    É neste ambiente que podemos inserir o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura. Nele, o catequista Lucas avisa que o projecto de salvação e libertação que Jesus veio apresentar passou (após a ida de Jesus para junto do Pai) para as mãos da Igreja, animada pelo Espírito. A construção do “Reino” é uma tarefa que não está terminada, mas que é preciso concretizar na história e exige o empenho contínuo de todos os crentes. Os cristãos são convidados a redescobrir o seu papel, no sentido de testemunhar o projecto de Deus, na fidelidade ao “caminho” que Jesus percorreu.

    MENSAGEM

    O nosso texto começa com um prólogo (vers. 1-2) que relaciona os “Actos” com o 3º Evangelho – quer na referência ao mesmo Teófilo a quem o Evangelho era dedicado, quer na alusão a Jesus, aos seus ensinamentos e à sua acção no mundo (tema central do 3º Evangelho). Neste prólogo são, também, apresentados os protagonistas do livro – o Espírito Santo e os apóstolos, ambos vinculados com Jesus.

    Depois da apresentação inicial, vem o tema da despedida de Jesus (vers. 3-8). O autor começa por fazer referência aos “quarenta dias” que mediaram entre a ressurreição e a ascensão, durante os quais Jesus falou aos discípulos “a respeito do Reino de Deus” (o que parece estar em contradição com o Evangelho, onde a ressurreição e a ascensão são apresentadas no próprio dia da Páscoa – cf. Lc 24). O número quarenta é, certamente, um número simbólico: é o número que define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.

    As palavras de despedida de Jesus (vers. 4-8) sublinham dois aspectos: a vinda do Espírito e o testemunho que os discípulos vão ser chamados a dar “até aos confins do mundo”. Temos aqui resumida a experiência missionária da comunidade de Lucas: o Espírito irá derramar-se sobre a comunidade crente e dará a força para testemunhar Jesus em todo o mundo, desde Jerusalém a Roma. Na realidade, trata-se do programa que Lucas vai apresentar ao longo do livro, posto na boca de Jesus ressuscitado. O autor quer mostrar com a sua obra que o testemunho e a pregação da Igreja estão entroncados no próprio Jesus e são impulsionados pelo Espírito.

    O último tema é o da ascensão (vers. 9-11). Evidentemente, esta passagem necessita de ser interpretada para que, através da roupagem dos símbolos, a mensagem apareça com toda a claridade.

    Temos, em primeiro lugar, a elevação de Jesus ao céu (vers. 9a). Não estamos a falar de uma pessoa que, literalmente, descola da terra e começa a elevar-se; estamos a falar de um sentido teológico (não é o “repórter”, mas sim o “teólogo” a falar): a ascensão é uma forma de expressar simbolicamente que a exaltação de Jesus é total e atinge dimensões supra-terrenas; é a forma literária de descrever o culminar de uma vida vivida para Deus, que agora reentra na glória da comunhão com o Pai.

    Temos, depois, a nuvem (vers. 9b) que subtrai Jesus aos olhos dos discípulos. Pairando a meio caminho entre o céu e a terra, a nuvem é, no Antigo Testamento, um símbolo privilegiado para exprimir a presença do divino (cf. Ex 13,21.22; 14,19.24;

    24,15b-18; 40,34-38). Ao mesmo tempo, a nuvem, simultaneamente, esconde e manifesta: sugere o mistério do Deus escondido e presente, cujo rosto o Povo não pode ver, mas cuja presença adivinha nos acidentes da caminhada. Céu e terra, presença e ausência, sombra e luz, divino e humano, são dimensões aqui sugeridas a propósito de Cristo ressuscitado, elevado à glória do Pai, mas que continua a caminhar com os discípulos.

    Temos, ainda, os discípulos a olhar para o céu (vers. 10a). Significa a expectativa dessa comunidade que espera ansiosamente a segunda vinda de Cristo, a fim de levar ao seu termo o projecto de libertação do homem e do mundo.

    Temos, finalmente, os dois homens vestidos de branco (vers. 10b). O branco sugere o mundo de Deus – o que indica que o seu testemunho vem de Deus. Eles convidam os discípulos a continuar no mundo, animados pelo Espírito, a obra libertadora de Jesus; agora, é a comunidade dos discípulos que tem de continuar, na história, a obra de Jesus, embora com a esperança posta na segunda e definitiva vinda do Senhor.

    O sentido fundamental da ascensão não é que fiquemos a admirar a elevação de Jesus; mas é convidar-nos a seguir o caminho de Jesus, olhando para o futuro e entregando-nos à realização do seu projecto de salvação no meio do mundo.

    ACTUALIZAÇÃO

    Ter em conta, para a reflexão e actualização, os seguintes elementos:

    ♦ A ressurreição/ascensão de Jesus garante-nos que uma vida vivida na fidelidade aos projectos do Pai é uma vida destinada à glorificação, à comunhão definitiva com Deus. Quem percorre o mesmo caminho de Jesus subirá, como Ele, à vida plena.

    ♦ A ascensão de Jesus recorda-nos, sobretudo, que Ele foi elevado para junto do Pai e nos encarregou de continuar a tornar realidade o seu projecto libertador no meio dos homens nossos irmãos. É essa a atitude que tem marcado a caminhada histórica da Igreja? Ela tem sido fiel à missão que Jesus, ao deixar este mundo, lhe confiou?

    ♦ O nosso testemunho tem transformado e libertado a realidade que nos rodeia?

    Qual o real impacto desse testemunho na nossa família, no local onde desenvolvemos a nossa actividade profissional, na nossa comunidade cristã ou religiosa?

    ♦ Não é invulgar ouvirmos dizer que os seguidores de Jesus vivem a olhar para o céu e ignoram os dramas da terra. Estamos, efectivamente, atentos aos problemas e às angústias dos homens, ou vivemos de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado? Sentimo-nos questionados pelas inquietações, pelas misérias, pelos sofrimentos, pelos sonhos, pelas esperanças que enchem o coração dos que nos rodeiam? Sentimo-nos solidários com todos os homens?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47)

    Refrão 1: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor.

    Refrão 2: Ergue-Se Deus, o Senhor,
    em júbilo e ao som da trombeta.

    Refrão 3: Aleluia.
    Povos todos, batei palmas,
    aclamai a Deus com brados de alegria, porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível, o Rei soberano de toda a terra.
    Deus subiu entre aclamações,
    o Senhor subiu ao som da trombeta. Cantai hinos a Deus, cantai,
    cantai hinos ao nosso Rei, cantai.
    Deus é Rei do universo: cantai os hinos mais belos. Deus reina sobre os povos,
    Deus está sentado no seu trono sagrado.

    LEITURA II – Ef 1,17-23

    Irmãos:
    O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de luz
    para O conhecerdes plenamente
    e ilumine os olhos do vosso coração,
    para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos
    e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes.
    Assim o mostra a eficácia da poderosa força
    que exerceu em Cristo,
    que Ele ressuscitou dos mortos
    e colocou à sua direita nos Céus,
    acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado,
    não só neste mundo,
    mas também no mundo que há-de vir. Tudo submeteu aos seus pés
    e pô-l’O acima de todas as coisas
    como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.

    AMBIENTE

    A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma “carta circular” enviada a várias igrejas da Ásia, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60. Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada na Ásia.

    Em concreto, o texto que nos é proposto aparece na primeira parte da carta e faz parte de uma acção de graças, na qual Paulo agradece a Deus pela fé dos Efésios e pela caridade que eles manifestam com todos os irmãos na fé.

    MENSAGEM

    À acção de graças, Paulo une uma fervorosa oração a Deus para que os destinatários da carta conheçam “a esperança a que foram chamados” (vers. 18). A prova de que o Pai tem poder para realizar essa “esperança” (isto é, conferir aos crentes a vida eterna como herança) é o que ele fez com Jesus Cristo: ressuscitou-O e sentou-O à sua direita (vers. 20), exaltou-O e deu-Lhe soberania sobre todos os poderes angélicos (Paulo está preocupado com a perigosa tendência de alguns cristãos em dar uma importância exagerada aos anjos, colocando-os, até, acima de Cristo – cf. Col 1,6). Essa soberania estende-se, inclusive, à Igreja – o “corpo” do qual Cristo é a “cabeça”. O mais significativo deste texto é, precisamente, este último desenvolvimento. A ideia de que a comunidade cristã é um “corpo” – o “corpo de Cristo” – formado por muitos membros, já havia aparecido nas grandes cartas, acentuando-se sobretudo a relação dos vários membros do “corpo” entre si (cf. 1 Cor 6,12-20;10,16-17;12,12-27; Rom 12,3-8); mas nas cartas do cativeiro, Paulo retoma a noção de “corpo de Cristo” para reflectir, sobretudo, sobre a relação que existe entre a comunidade e Cristo.

    Neste texto, em concreto, há dois conceitos muito significativos para definir o quadro da relação entre Cristo e a Igreja: o de “cabeça” e o de “plenitude” (em grego, “pleroma”).

    Dizer que Cristo é a “cabeça” da Igreja significa, antes de mais, que os dois formam uma comunidade indissolúvel e que há entre os dois uma comunhão total de vida e de destino; significa, também, que Cristo é o centro à volta do qual o “corpo” se articula, a partir do qual e em direcção ao qual o “corpo” cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse “corpo”; significa, ainda, que a Igreja/”corpo” está submetida à obediência a Cristo/”cabeça”: só de Cristo a Igreja depende e só a Ele deve obediência.

    Dizer que a Igreja é a “plenitude” (“pleroma”) de Cristo significa dizer que nela reside a “plenitude”, a “totalidade” de Cristo. Ela é o receptáculo, a habitação onde Cristo Se torna presente no mundo; é através desse “corpo” onde reside que Cristo continua todos os dias a realizar o seu projecto de salvação em favor dos homens. Presente nesse “corpo”, Cristo enche o mundo e atrai a Si o universo inteiro, até que o próprio Cristo “seja tudo em todos” (vers. 23).

    ACTUALIZAÇÃO

    Ter em conta, na reflexão, as seguintes linhas:

    ♦ Na nossa peregrinação pelo mundo, convém termos sempre presente “a esperança a que fomos chamados”. A ressurreição de Cristo é a garantia da nossa própria ressurreição. Formamos com Ele um “corpo”, destinados à vida plena. Esta perspectiva tem de dar-nos a força de enfrentar a história e de avançar – apesar das dificuldades – nesse caminho do amor e da entrega total que Cristo percorreu.

    ♦ Dizer que fazemos parte do “corpo de Cristo” significa que devemos viver numa comunhão total com Ele e que nessa comunhão recebemos, a cada instante, a vida que nos alimenta. Significa, também, viver em comunhão, em solidariedade total com todos os nossos irmãos, membros do mesmo corpo, alimentados pela mesma vida.

    ♦ Dizer que a Igreja é o “pleroma” de Cristo significa que temos a obrigação de testemunhar Cristo, de torná-l’O presente no mundo, de levar à plenitude o projecto de libertação que Ele começou em favor dos homens. Essa tarefa só estará acabada quando, pelo testemunho e pela acção dos crentes, Cristo for “um em todos”.

    LEITURA II – Heb 9,24-28; 10,19-23 (pode ser escolhida em alternativa à anterior)

    ALELUIA – Mt 28,19a.20b

    Aleluia. Aleluia.

    Ide e ensinai todos os povos, diz o Senhor:
    Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos.

    EVANGELHO – Lc 24,46-53

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos seus discípulos:
    «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia
    e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados
    a todas as nações, começando por Jerusalém.
    Vós sois testemunhas disso.
    Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade,
    até que sejais revestidos com a força do alto».
    Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os.
    Enquanto os abençoava,
    afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus,
    e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria.
    E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.

    AMBIENTE

    O Evangelho de hoje situa-nos no dia de Páscoa. Cristo já se manifestou aos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35) e aos onze, reunidos no cenáculo (cf. Lc 24,36-43). No texto que nos é proposto, apresentam-se as últimas instruções de Jesus (cf. Lc 24,44-49) e a ascensão (cf. Lc 24,50-53).

    Ao contrário dos “Actos”, ressurreição, aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos e ascensão são colocados – aqui – no mesmo dia, o que parece mais correcto do ponto de vista teológico: ressurreição e ascensão não se podem diferenciar; são apenas formas humanas de falar da passagem da morte à vida definitiva junto de Deus.

    MENSAGEM

    O nosso texto está dividido em duas partes: despedida dos discípulos (vers. 46-49) e ascensão (vers. 50-53).

    Na primeira parte temos, portanto, as palavras de despedida de Jesus. Os discípulos que fizeram a experiência do encontro pessoal com Jesus ressuscitado são agora convocados para a missão: Jesus envia-os como testemunhas, a pregar a conversão (“metanoia” – a transformação radical da vida, da mentalidade, dos valores) e o perdão dos pecados (ou seja, o anúncio de que Deus ama todos os homens e os convida a deixar o egoísmo, o orgulho e a auto-suficiência para iniciarem uma vida de Homens Novos). Para esta tarefa ingente, os discípulos contam com a ajuda e a assistência do Espírito. Temos também, aqui, todos os elementos daquilo que será a futura missão da Igreja. O testemunho apostólico terá como tema central a morte e ressurreição de Jesus, o Messias libertador anunciado pelas escrituras (vers. 44.46). Desde Jerusalém, esta proposta deve ser anunciada a todas as nações. Este “percurso” será explicitado no livro dos “Actos”.

    Na segunda parte, Lucas descreve a ascensão, situada em Betânia. Há duas indicações de Lucas que importa realçar. A primeira é a bênção que Jesus dá aos discípulos antes de ir para junto do Pai: essa bênção sugere um dom que vem de Deus e que afecta positivamente toda a vida e toda a acção dos discípulos, capacitados para a missão pela força de Deus. A segunda é a alegria dos discípulos: a alegria é o grande sinal messiânico e escatológico; indica que o mundo novo já começou, pois o projecto salvador e libertador de Deus está em marcha.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar as seguintes indicações:

    ♦ A ressurreição/ascensão de Jesus convida-nos a ver a vida com outros olhos – os olhos da esperança. Diz-nos que o sofrimento, a perseguição, o ódio, a morte, não são a última palavra para definir o quadro do nosso caminho; diz-nos que no final de um caminho percorrido na doação, na entrega, no amor vivido até às últimas consequências, está a vida definitiva, a vida de comunhão com Deus. Esta esperança permite-nos enfrentar o medo, os nossos limites humanos, o fanatismo, o egoísmo dos fazedores de pecado e permite-nos olhar com serenidade para esse qualquer coisa de novo que nos espera, para esse futuro de vida plena que é o nosso destino final.

    ♦ A ascensão de Jesus e, sobretudo, as palavras finais de Jesus, que convocam os discípulos para a missão, sugerem a nossa responsabilidade na construção desse mundo novo onde habita a justiça e a paz; sugerem que a proposta libertadora que Jesus fez a todos os homens está agora nas nossas mãos e que é nossa responsabilidade torná-la realidade; sugerem que nós, os seguidores de Jesus, temos de construir, com o esforço de todos os dias, o novo céu e a nova terra. Sentimos, de facto, esta responsabilidade? Preocupamo-nos em tornar realidade no mundo os gestos libertadores de Cristo? Procuramos construir, no dia a dia, esse mundo novo de justiça, de fraternidade, de liberdade e de paz?

    ♦ A alegria que brilha nos olhos e nos corações desses discípulos que testemunham a entrada definitiva de Jesus na vida de Deus tem de ser uma realidade que transparece na nossa vida. Os seguidores de Jesus, iluminados pela fé, têm de testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que os espera, no final do caminho, a vida em plenitude; e têm de testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que o projecto salvador e libertador de Deus está a actuar no mundo, está a transformar os corações e as mentes, está a fazer nascer, dia a dia, o Homem Novo.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA ASCENSÃO (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Ascensão, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. ASCENSÃO… TRABALHAR A VERTICIALIDADE.

    Para dar um tom mais específico a esta Solenidade, pode-se utilizar elementos para acentuar a verticalidade. Exemplos: colocar um recipiente com incenso, em frente ao altar, com o fumo do incenso a subir para o céu; levar o círio pascal na procissão de entrada e mantê-lo erguido durante todo o cântico de entrada, antes de o colocar no respectivo suporte; utilizar lamparinas (ou pequenas velas) durante a liturgia da Palavra. Antes da primeira leitura, um grupo de jovens com lamparinas acompanha o leitor e fica à volta do círio pascal. No fim da leitura, o presidente da assembleia acende uma pequena vela no círio pascal e comunica a luz às lamparinas dos jovens. Ficam com as lamparinas acesas durante o restante tempo da liturgia da Palavra. No Evangelho, ficam à volta daquele que lê o Evangelho e erguem as lamparinas no momento do Aleluia.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:

    Pai, que diriges o mundo na tua liberdade soberana, nós Te bendizemos pela presença do teu Filho Jesus nas nossas assembleias e nas nossas famílias, pelo ensinamento da tua Palavra, pelo banquete da Eucaristia e pelo dom do teu Espírito. Nós Te pedimos por todas as comunidades cristãs: abre os nossos corações ao teu Espírito, que os cristãos sejam testemunhas de Cristo até aos confins da terra.

    No final da segunda leitura:

    Cristo ressuscitado, nós Te aclamamos como o grande sacerdote por excelência.
    Nós Te pedimos pelos corações feridos e os espíritos abatidos pela culpabilidade e o remorso, que eles encontrem confiança no teu perdão.

    No final do Evangelho:

    Pai, nós Te damos graças por toda a obra cumprida pelo teu Filho Jesus no meio dos homens, segundo as Escrituras, a sua fé em Ti no meio dos sofrimentos, a sua ressurreição e a conversão proclamada em seu nome em todas as nações.

    Nós Te pedimos, ó Pai: envia sobre nós o teu Espírito Santo, força do alto, que nos prometeste e o teu Filho nos revelou. Envia-nos a testemunhar a tua obra de salvação.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.

    A tristeza torna o rosto sombrio e as lágrimas estorvam a vista. Os discípulos conheceram a tristeza e a decepção, não podem reconhecer o Ressuscitado que caminhava ao seu lado. Serão necessários os olhos da fé para nomear Aquele que está vivo, para se alegrar n’Ele, para O anunciar. A fé, assim, não mergulha na nostalgia. Se ela se volta para o passado, é para fazer memória. Orienta-se, sobretudo, para um futuro que já não será mais como antes. Qual é, então, o segredo dos discípulos para que estejam alegres depois da partida do seu Mestre? Muito simplesmente a sua presença, mas “de outro modo”. Doravante, Ele está sempre com eles; receberam a força do Espírito Santo, actualizam a sua mensagem, fazem memória dos seus gestos, tornando-O realmente presente no meio deles. Eles vivem na alegria porque sabem que Ele está com eles até ao fim dos tempos e que sem Ele nada podem fazer. Ele prometeu, Ele manterá as suas promessas!

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.

    “Enquanto Jesus os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu”. Mas é onde, o céu? Segundo o dicionário, é o espaço visível acima das nossas cabeças, que limita o horizonte. Hoje, os homens são capazes de ir ao espaço. O primeiro cosmonauta russo, em 1961, regressou à terra declarando que não tinha encontrado Deus! Manifestamente, Lucas não fala desse céu! Os astronautas vão para o espaço para melhor o explorar. Jesus, pela sua ressurreição, foi para lá do espaço, saiu do nosso espaço-tempo. Mas o que pode querer isso dizer? Reconheçamos que não temos qualquer experiência dessa realidade, pela simples razão de que continuamos fechados neste espaço-tempo. O que falamos, na Ascensão, tem a ver com a fé, com a confiança que podemos ter em Cristo e nas testemunhas que O viram separar-Se deles. Não há qualquer prova nem demonstração “científica” para esta subida ao céu de Jesus! Uma vez mais, somos convidados a situar-nos num outro registo, o do amor. É a nossa própria experiência: quando amamos, quando conhecemos momentos de intensa felicidade, gostaríamos que o tempo parasse, não para que tudo se acabe mas, ao contrário, para que esta felicidade que atinge todo o nosso ser seja como que eternizada. Gostaríamos de poder parar o tempo. Mas é o tempo para o amor. Ora – aí está a nossa fé – Jesus veio habitar este desejo de eternidade em nós, para o levar à sua plena realização. Vivendo a sua vida de homem, imergiu no amor que preenche os desejos humanos mais autênticos. Ressuscitando, fez entrar todos estes desejos no mundo do amor infinito. É desse céu que se trata hoje, para lá de tudo o que possamos imaginar ou desejar. Em cada Eucaristia, acolhemos em nós a presença de Jesus ressuscitado que vem alimentar e fazer crescer o germe da vida eterna. E, no dia da nossa morte, Jesus far-nos-á entrar no “além”, no “céu”, no mundo do amor sem qualquer limite…

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

    Pode-se escolher a Oração Eucarística I, onde se evoca a “gloriosa ascensão” do Senhor…

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO.

    Testemunhas de Cristo em 2010. “Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu?” A mesma palavra vem mexer com as nossas inércias e empurra-nos para fora de nós mesmos nos caminhos deste mundo. Este Messias morto e ressuscitado… vós sois suas testemunhas! Medimos o desafio e a força destas palavras? E como tomamos parte na grande rede das testemunhas de Cristo em 2010?

    https://youtu.be/cPO4xvi1Skk

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