IX Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


1 de Junho, 2020

Tempo Comum - Anos Pares
IX Semana - Segunda-feira

Lectio

Primeira leitura: 2 Pedro 1, 2-7

Caríssimos, 2a graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso. 3O divino poder, ao dar-nos a conhecer aquele que nos chamou pela sua glória e pelo seu poder, concedeu-nos todas as coisas que contribuem para a vida e a piedade. 4Com elas, teve a bondade de nos dar também os mais preciosos e sublimes bens prometidos, a fim de que - por meio deles - vos torneis participantes da natureza divina, depois de vos livrardes da corrupção que a concupiscência gerou no mundo. 5Por este motivo é que, da vossa parte, deveis pôr todo o empenho em juntar à vossa fé a virtude; à virtude o conhecimento; 6ao conhecimento a temperança; à temperança a paciência; à paciência a piedade; 7à piedade o amor aos irmãos; e ao amor aos irmãos a caridade.

Em princípios do século II, a Igreja debatia-se com os gnósticos, que pensavam que o homem pode conseguir tudo por si mesmo, inclusivamente a salvação. A Segunda Carta de Pedro começa com uma afirmação peremptória: Jesus é a única causa de salvação do homem. É a comunidade petrina que fala a todos os crentes em Cristo, «àqueles a quem coube em sorte, pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, uma fé tão preciosa como a nossa» (v. 1). Esses crentes, com a fé preciosa, também receberam aquela graça e paz, que agora, em Cristo ressuscitado, os tornam «participantes da natureza divina» (v. 4). O cristão é aquele que toma consciência do dom recebido, com inteligência e afecto, ou com um «conhecimento» pleno e grato, como insinua o nosso texto, pelo menos três vezes. Com efeito, o verdadeiro cristão, sentindo-se um predilecto de Deus, decide ser coerente com a graça que actua nele, uma graça mais forte do que a «corrupção que a concupiscência gerou no mundo» (v. 4). E o autor da nossa Carta aponta sete virtudes, a juntar à fé, e que hão-de distinguir o cristão: a virtude, o conhecimento, a temperança, a paciência, a piedade, o amor aos irmãos, a caridade cf. vv. 5-7). O princípio de toda a virtude é a «fé». A «virtude» é a atitude constante, que dá coragem nas dificuldades; o «conhecimento» é a abertura da mente ao esplendor da verdade; a «temperança» é o autodomínio, fruto da participação na vitalidade do Ressuscitado; a «paciência» não é simples resignação, mas força nas provações e resistência às oposições externas; a «piedade» é a relação com Deus, verdadeiro centro e coração da vida dos crentes; o «amor fraterno» é fruto da intimidade afectuosa com Deus Pai; deste amor, chega-se à «caridade», ao amor total e iluminado, meta do caminho do crente.

Segunda leitura: Marcos 12, 1-12

Naquele tempo, 1Jesus começou a falar-lhes em parábolas: «Um homem plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e construiu uma torre. Depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. 2A seu tempo enviou aos vinhateiros um servo, para receber deles parte do fruto da vinha. 3Eles, porém, prenderam-no, bateram-lhe e mandaram-no embora de mãos vazias. 4Enviou-lhes, novamente, outro servo. Também a este partiram a cabeça e cobriram de vexames. 5Enviou outro, e a este mataram-no; mandou ainda muitos outros, e bateram nuns e mataram outros. 6Já só lhe restava um filho muito amado. Enviou-o por último, pensando: 'Hão-de respeitar o meu filho'. 7Mas aqueles vinhateiros disseram uns aos outros: 'Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e a herança será nossa'. 8Apoderaram-se dele, mataram-no e lançaram-no fora da vinha. 9Que fará o dono da vinha? Regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros. 10Não lestes esta passagem da Escritura:A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. 1Tudo isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos?» 12Eles procuravam prendê-lo, mas temiam a multidão; tinham percebido bem que a parábola era para eles. E deixando-o, retiraram-se.

A alegoria usada por Jesus só se percebe se tivermos em conta o «cântico da vinha», que lemos em Is. 5, e o seu contexto histórico, isto é, a recusa da salvação pelos chefes de Israel, os «agricultores», que matam os profetas. Deus é o dono da vinha e o construtor do edifício, que é Israel. Surpreendentemente, aparece como «estrangeiro» no meio do povo de Israel. Deus não está vinculado às vicissitudes de um povo. Confiou uma tarefa aos responsáveis pela vinha israelita e foi-se embora, porque está noutro lado... Os servos são os numerosos profetas e homens de Deus enviados ao longo da história do povo escolhido. O filho recusado e morto, mas depois tornado pedra angular, é Jesus. A alegoria faz tocar os extremos: o amor de Deus Pai, que envia o seu Filho, e a recusa do chefes de Israel, que O matam.
À volta de Jesus, e do mistério da sua morte e ressurreição, hoje, como no passado, decide-se, para cada um de nós, o acolhimento ou a recusa da salvação. Não há direitos de progenitura, ou de eleição preferencial, que nos valham. O pretenso monopólio dos israelitas sobre a salvação está votado ao fracasso: «O dono regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros» (v. 9). O importante é que, no confronto com Jesus e com o seu mistério pascal, nos abramos a Ele, livre e responsavelmente, para sermos salvos. E Deus premiará a nossa coragem.

Meditatio

Na Segunda Carta de Pedro, o cristão é aquele que toma consciência do dom recebido, e o faz com inteligência e afecto, ou com um «conhecimento» pleno e grato, como insinua o nosso texto, pelo menos três vezes: «a graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso»(v. 2);«o divino poder, ao dar-nos a conhecer aquele que nos chamou pela sua glória e pelo seu poder, concedeu-nos todas as coisas...»(v. 3); «deveis pôr todo o empenho em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento ao conhecimento a temperança»(v. 5). A consciência é graça a que devemos estar abertos, e que exige renúncia às paixões, pureza de coração, disponibilidade para Deus, que nos tornou participantes da sua natureza, «participantes da natureza divina», como escreve Pedro.
Ser participante da natureza divina significa ter-se livrado «da corrupção que a concupiscência gerou no mundo» (v. 4), isto é, participar do amor divino, e não do egoísmo e da ânsia de poder, que corrompem o mundo. A natureza divina é incorruptível, porque é puro amor.
O evangelho mostra-nos em acção esse amor divino,
mas também a concupiscência e a falta de conhecimento. Os vinhateiros querem apoderar-se da vinha e batem e insultam repetidamente os servos. Quando vêem chegar o «filho muito amado» (v. 6), não hesitam em matá-lo. E assim se auto-excluem do Reino do amor.
Marcos anota que os sumos-sacerdotes, os escribas e fariseus «procuravam prendê-lo, mas temiam a multidão; tinham percebido bem que a parábola era para eles. E deixando-o, retiraram-se» (v. 12). O seu conhecimento é incoerente: escutaram, compreenderam, podiam pensar que estava a preparar um destino semelhante aos dos vinhateiros, que Jesus tenta evitar, mas a inveja cega-os. Jesus põe em perigo o poder deles. E decidem matá-l´O.
O conhecimento de Deus, o conhecimento de Jesus, Filho de Deus é um dom do Espírito Santo. Como dehonianos, somos chamados a esse conhecimento, iluminado pelo carisma e pela missão que recebemos de Deus: «somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração e a anunciar o seu amor que excede todo o conhecimento: «Cristo habite pela fé, nos vossos corações de sorte que, enraizados e fundados no amor, possais compreender, com todos os Santos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer, enfim, o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para serdes repletos da plenitude de Deus» (Ef 3,17-19)». Esse conhecimento obtém-se na escuta da Palavra e na celebração da Eucaristia: «Fiéis à escuta da Palavra, e à fracção do Pão, somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração...», escrevem as nossas Constituições (n. 17).

Oratio

Senhor Jesus, concede-nos, a mim, aos meus irmãos, ao mundo inteiro, a graça de vencermos os movimentos da concupiscência, do amor possessivo e da inveja, bem como o dom de nos deixarmos iluminar pela luz que sempre nos ofereces. Que toda a humanidade Te conheça, Te ame e possa tomar parte na herança que nos conquistaste ao derramar o teu precioso sangue na cruz.
Abre os nossos olhos, Senhor. Abre a nossa mente. Tu, que és manso e humilde de coração, abate a nossa presunção e força-nos a não nos «retirarmos», como fizeram os teus adversários, quando perceberam que falavas para eles. Decidiram matar-te, mas temeram a multidão. Que jamais Te deixemos passar em vão pela nossa vida, mas saibamos reconhecer-Te como o «Deus connosco», como a Videira fecunda que o Pai plantou na nossa vinha. Amen.

Contemplatio

Só vós, Senhor, fizestes tudo. Tudo dispusestes para que me eleve degrau a degrau até à vida de união e de amor convosco.
Conduzistes-me ao vosso Coração. Quereis que eu nele penetre e nele faça a minha morada. Quereis que me inspire nos seus sentimentos, que viva da sua vida, que me inflame do seu zelo, para levar por toda a parte o seu conhecimento e o seu amor. Como estabelecestes os vossos apóstolos para espalharem a fé, confiastes-me uma parte da missão de propagar o amor do Sagrado Coração. Eis-me aqui. Senhor, não permitais que eu me subtraia a esta admirável missão. Indicai-me pelas vossas inspirações o que devo fazer desde hoje para amar cada vez mais e fazer amar o vosso divino Coração (Pe. Dehon, OSP 3, p. 461s.).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«A graça e paz vos sejam concedidas por meio do conhecimento de Deus e de Jesus» (2 Pe 1, 2).

| Fernando Fonseca, scj |

Visualizar todo o calendário

plugins premium WordPress