33º Domingo do Tempo Comum - Ano B [atualizado]
17 de Novembro, 2024
ANO B
33.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 33.º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 33.º Domingo do Tempo Comum convida-nos a ler a história dos homens numa perspetiva de esperança. Garante-nos que o egoísmo, a violência, a injustiça, o pecado, não têm a “última palavra” na história do mundo e dos homens; a “última palavra” será sempre de Deus, que vai, a seu tempo, mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim. É com essa certeza que devemos enfrentar a vida e o caminho que temos à nossa frente.
A primeira leitura anuncia aos crentes perseguidos pelo rei selêucida Antíoco IV Epífanes, que Deus se prepara para intervir e para lhes oferecer a salvação. A ação de Deus porá fim ao sofrimento intolerável em que estão e abrir-lhes-á as portas de uma vida nova, de uma vida eterna. Esta esperança deve sustentar os justos na sua aflição e animá-los a permanecerem fiéis a Deus.
No Evangelho, Jesus assegura-nos que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do egoísmo e do pecado vai cair e que, em seu lugar, Deus vai fazer surgir um mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. Aos seus discípulos, Jesus pede que vivam atentos aos sinais que anunciam essa nova realidade; e que, com paciência e confiança, se disponham a acolher e a concretizar os projetos, os apelos e os desafios de Deus.
A segunda leitura lembra que Jesus veio ao mundo para concretizar o projeto de Deus: libertar o homem do pecado e de inseri-lo numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Cristo ensinou-nos a vencer o egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. É esse o caminho do mundo novo, o caminho que conduz à vida definitiva.
LEITURA I – Daniel 12,1-3
Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe dos Anjos,
que protege os filhos do teu povo.
Será um tempo de angústia,
como não terá havido até então, desde que existem nações.
Mas nesse tempo, virá a salvação para o teu povo,
para aqueles que estiverem inscritos no livro de Deus.
Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão,
uns para a vida eterna,
outros para a vergonha e o horror eterno.
Os sábios resplandecerão como a luz do firmamento
e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça
brilharão como estrelas por toda a eternidade.
CONTEXTO
Em 333 a.C., Alexandre da Macedónia derrotou Dario III, rei dos Persas, na batalha de Issos (Síria). A Palestina, até aí sob o domínio dos Persas, ficou integrada no império de Alexandre. Quando Alexandre morreu, em 323 a.C., os seus generais disputaram entre si a sucessão. A Palestina passou a ser pomo de discórdia entre a família dos Ptolomeus, que governava o Egito, e a família dos Selêucidas, que governava a Mesopotâmia e a Síria. Num primeiro momento, os Ptolomeus asseguraram o domínio da Palestina e da Síria; mas o selêucida Antíoco III, aliado com Filipe V da Macedónia, acabou por vencer os Ptolomeus (batalha das fontes do Jordão, no ano 200 a.C.) e por conquistar o domínio da Palestina.
Se o período ptolomaico tinha sido uma época de relativa benevolência para com a cultura judaica, a situação mudou radicalmente durante o reinado do selêucida Antíoco IV Epífanes (174-164 a.C.). Este rei querendo impor a cultura helénica em todo o seu império, praticou uma política de intolerância para com a cultura e a religião judaicas. A perseguição foi dura e as marcas da intolerância selêucida provocaram feridas muito graves no universo social e religioso judaico. Se muitos judeus renegaram a sua fé e assumiram os valores helénicos, muitos outros resistiram, defenderam a sua identidade cultural e religiosa. Uns optaram abertamente pela insurreição armada (como foi o caso de Judas Macabeu e dos seus heroicos seguidores); outros, contudo, optaram por fazer frente à prepotência dos reis helénicos com a sua palavra e os seus escritos.
O Livro de Daniel surge neste contexto. O seu autor é um judeu fiel à cultura e aos valores religiosos dos seus antepassados. A pretexto de contar a história de um tal Daniel, um judeu exilado na Babilónia, que soube manter a sua fé num ambiente adverso de perseguição, o autor do Livro de Daniel pede aos seus concidadãos que não se deixem vencer pela perseguição de Antíoco IV Epífanes e que se mantenham fiéis à religião e aos valores dos seus pais. O autor garante aos seus concidadãos que Deus não abandonará o seu Povo e que recompensará todos aqueles que se mantiveram fiéis à Lei e aos mandamentos. Estamos na primeira metade do séc. II a.C., pouco antes do desaparecimento de cena de Antíoco (que aconteceu em 164 a.C.).
No livro de Daniel misturam-se géneros literários diversos. Os capítulos 7 a 12 (que incluem o breve texto que a liturgia nos propõe como primeira leitura neste trigésimo terceiro domingo comum) pertencem ao género apocalítico. “Apocalipse” significa “revelação”. Servindo-se de um género literário que recorre abundantemente a símbolos (números, cores, animais, plantas…) e a uma linguagem cifrada (que os destinatários da mensagem conhecem, mas que os perseguidores ignoram), o autor propõe-se comunicar “revelações” sobre o projeto de Deus, o protagonismo de Deus sobre a história, a luta de Deus contra o mal, a vitória final de Deus sobre os impérios humanos. Em tempo de perseguição e de crise, o objetivo do autor é restaurar a esperança e assegurar ao Povo a vitória de Deus e dos seus fiéis sobre os opressores.
MENSAGEM
Aos crentes perseguidos, o autor do livro anuncia a chegada do tempo em que Deus vai intervir para salvar o Povo fiel. Essa intervenção de Deus será levada a cabo por “Miguel”, o chefe do exército celestial, que tem como missão castigar os perseguidores e proteger os “santos”. No imaginário religioso judaico, “Miguel” é concebido como um espírito celeste (uma espécie de anjo protetor) que vela pelo Povo de Deus e que, por mandato divino, opera a libertação dos justos perseguidos. A ação de “Miguel”, trará a salvação aos membros fiéis do Povo de Deus, aqueles que estão inscritos “no livro de Deus” (vers. 1). A intervenção de Deus porá fim ao mundo velho da injustiça, da opressão, a prepotência, da morte, e iniciará um mundo novo de justiça, de felicidade, de paz, de vida verdadeira.
Entretanto, o que acontecerá àqueles “santos” que, antes da intervenção salvadora de Deus, foram perseguidos e mortos por causa da sua fidelidade a Deus? Estão condenados, apesar de terem levado uma vida exemplar, a ficar eternamente no “sheol”, o reino das sombras onde erram os mortos? Não. É aqui que o autor do livro de Daniel abre as portas a uma nova e desconhecida esperança: todos aqueles que morreram antes da intervenção de Deus para inaugurar uma nova era, irão ressuscitar. Os maus (aqueles que conspiraram para destruir os “santos”), ressuscitarão para “a vergonha e o horror eterno”; os “santos” (os que se mantiveram fiéis a Deus), ressuscitarão para “a vida eterna” (vers. 2). Pela primeira vez aparece nos textos do Antigo Testamento claramente formulada a ideia da ressurreição dos mortos.
Em que consistirá essa “vida eterna” que Deus irá oferecer aos “santos”? O autor deste texto não o explica; mas os símbolos que utiliza (“resplandecerão como a luz do firmamento”; “brilharão como estrelas por toda a eternidade” – vers. 3) evocam a transfiguração dos ressuscitados. Essa vida nova que os espera não será uma vida semelhante à do mundo presente, mas será uma vida absolutamente luminosa e transfigurada.
É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua vida não é – garante-nos o nosso autor – sem sentido e não está condenada ao fracasso; mas a sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna. Embora sem dados muito concretos e sem definições muito claras, começa aqui a esboçar-se a teologia da ressurreição.
INTERPELAÇÕES
- A mensagem de esperança que o autor do livro de Daniel procura transmitir dirige-se a judeus desanimados, que sofrem na pele a perseguição que lhes é movida pelo ímpio Antíoco IV Epífanes e que se sentem impotentes para romper a cadeia de sofrimento e de morte que lhes é imposta. Talvez a nossa situação não seja tão dramática; mas não é verdade que muitas vezes nos sentimos desanimados e impotentes perante o predomínio dos maus, dos violentos, dos opressores, daqueles que tomam as rédeas do mundo e impõem aos outros os seus esquemas injustos e egoístas? Não é verdade que por vezes nos apetece desistir dos nossos valores, pois o mundo parece funcionar segundo esquemas onde esses valores não cabem? A mensagem que o autor do livro de Daniel deixa poderá ser, também para nós, uma refrescante mensagem de esperança: Deus é o Senhor da história; Ele não desiste de lutar contra tudo aquilo que impede os seus queridos filhos de serem livres e felizes; a vitória final não será dos maus, dos injustos, dos opressores, mas será de Deus e de todos aqueles que se mantiverem fiéis a Deus. Acreditamos nisto? Confiamos em Deus e na sua intervenção salvadora, mesmo quando parece que os maus prevalecem e têm nas mãos o domínio da história dos homens?
- A “perseguição” por causa da fidelidade aos valores em que acreditamos é uma realidade que todos conhecemos e que faz parte de qualquer existência verdadeiramente comprometida. Hoje, essa “perseguição” nem sempre é sangrenta; manifesta-se, muitas vezes, em atitudes de marginalização ou de rejeição, em ditos humilhantes, em atitudes provocatórias, na colagem de “rótulos” (“conservadores”, “atrasados”, “fora de moda”), em julgamentos apressados e injustos, em preconceitos ridículos… Ora, tudo isso pode não matar, mas mói e cansa: faz-nos sofrer e pode levar-nos ao desânimo. Como lidamos com a oposição, a rejeição, a condenação de que somos alvo quando insistimos em viver de acordo com os valores em que acreditamos? Mantemo-nos fiéis aos nossos princípios e aos valores sobre os quais assenta a nossa fé? Ou a incompreensão dos nossos contemporâneos é fator de enfraquecimento das nossas convicções e de quebra dos nossos compromissos com Deus?
- A oposição e a incompreensão do “mundo” podem gerar, da nossa parte, uma resposta agressiva e levarem a um corte da nossa relação com o mundo. Será essa a melhor resposta à incompreensão que “o mundo” nos tributa? Poderemos continuar a ser “sal da terra e luz do mundo” se cortarmos as pontes que nos ligam ao mundo? Poderemos continuar a propor o Evangelho ao mundo se, magoados pelas críticas e incompreensões que temos de suportar, nos escondermos atrás dos muros dos nossos templos e nos limitarmos a condenar esse mundo fútil que não nos entende? Talvez o caminho seja continuarmos a afirmar, de forma humilde, mas convicta, os valores em que acreditamos, com a certeza que o nosso testemunho há de interpelar alguém e há de produzir frutos de renovação do mundo e das mentalidades. Como é que lidamos com a hostilidade do mundo?
- O autor do livro de Daniel promete a vida eterna àqueles que procuraram viver na fidelidade aos valores de Deus. A certeza de que a vida não acaba na morte liberta-nos do medo e dá-nos a coragem do compromisso. Podemos, serenamente, enfrentar neste mundo as forças da opressão e da morte, porque sabemos que elas não conseguirão derrotar-nos: no final da nossa caminhada por este mundo, está sempre a vida eterna e verdadeira, que Deus reserva para os que estão “inscritos no livro da vida”. A certeza da ressurreição é, para nós, a fonte de onde brota a coragem para enfrentarmos a vida, as vicissitudes do caminho, a incompreensão dos homens?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 15 (16)
Refrão 1: Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio.
Refrão 2: Guardai-me, Senhor, porque esperei em Vós.
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o meu destino.
O Senhor está sempre na minha presença,
com Ele a meu lado não vacilarei.
Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta
e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos,
nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção.
Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida,
alegria plena em vossa presença,
delícias eternas à vossa direita.
LEITURA II – Hebreus 10,11-14.18
Todo o sacerdote da antiga aliança
se apresenta cada dia para exercer o seu ministério
e oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios,
que nunca poderão perdoar os pecados.
Cristo, ao contrário,
tendo oferecido pelos pecados um único sacrifício,
sentou-Se para sempre à direita de Deus,
esperando desde então que os seus inimigos
sejam postos como escabelo dos seus pés.
Porque, com uma única oblação,
Ele tornou perfeitos para sempre os que Ele santifica.
Onde há remissão dos pecados,
já não há necessidade de oblação pelo pecado.
CONTEXTO
A “Carta aos Hebreus” (mais do que uma “carta”, é uma “homilia”) destina-se a comunidades cristãs que vivem dias complicados… À falta de entusiasmo de muitos dos seus membros na vivência do compromisso cristão, junta-se a hostilidade dos inimigos e as confusões causadas à fé comunitária por certos pregadores pouco ortodoxos que ensinam doutrinas estranhas, que não são coerentes com as propostas de Jesus. São, portanto, comunidades fragilizadas, cansadas e desalentadas, que necessitam de redescobrir o seu entusiasmo inicial, de revitalizar o seu compromisso com Cristo e de apostar numa fé mais coerente e mais empenhada.
Nesse sentido, um “mestre” cristão (talvez um discípulo do apóstolo Paulo) dispõe-se a apresenta-lhes o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência, cuja missão é pôr os crentes em relação com o Pai e inseri-los nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã. Uma vez comprometidos com Cristo, os crentes são chamados a fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Desta forma, o autor oferece aos cristãos um aprofundamento e uma ampliação da fé primitiva, capaz de revitalizar uma experiência de fé enfraquecida pela hostilidade do ambiente, pela acomodação, pela monotonia e pelo arrefecimento do entusiasmo inicial. As referências ao culto praticado no templo de Jerusalém como uma realidade ainda vigente parecem sugerir que esta “Carta” foi escrita antes de o templo ser destruído pelos romanos, no ano 70.
O texto que nos é proposto é parte da conclusão da reflexão sobre o sacerdócio de Cristo (cf. Heb 10,1-18). Nessa perícope, o autor repete temas desenvolvidos nos capítulos precedentes, procurando, uma vez mais, pôr em relevo a dimensão salvadora da missão sacerdotal de Jesus. O objetivo é despertar no coração dos crentes uma resposta adequada ao amor de Deus, manifestado na ação de Jesus.
MENSAGEM
Os sumo-sacerdotes do Antigo Testamento ofereciam cada ano, no solene dia da Expiação (“Yom Kippur”), um sacrifício pelos seus próprios pecados e pelos pecados do Povo (cf. Lv 16). Além disso, todos os dias os sacerdotes véterotestamentários ofereciam, no templo, diversos sacrifícios de expiação (sacrifício “hattâ’t) e de reparação (sacrifício “‘âshâm”), destinados a manifestar o arrependimento do pecador e a obter de Deus o perdão para os pecados do oferente. A obra desses sacerdotes nunca estará terminada: dia após dia, eles devem repetir os mesmos rituais, num processo que não tem fim. Além disso, o autor da Carta aos Hebreus está convencido de que esses sacrifícios não são eficazes, uma vez que não conseguem, de forma duradoura, restabelecer a corrente de vida e de comunhão entre o Povo pecador e o Deus santo (vers. 11). Trata-se de ritos externos e superficiais, que nunca irão transformar os corações duros e egoístas dos homens em corações capazes de viverem no amor a Deus e aos irmãos.
Cristo, no entanto, ofereceu a Deus um único sacrifício pelo pecado e “sentou-se para sempre à direita de Deus” (vers. 12). “Sentou-se” porque a sua obra estava terminada: não precisou de oferecer mais sacrifícios pois o seu sacrifício perfeito foi plenamente eficaz. Obedecendo ao plano do Pai, Cristo apresentou-se diante dos homens e mostrou-lhes – com as suas palavras e com os seus gestos – como é que eles deviam viver; com a entrega da sua vida na cruz, Ele mostrou aos homens o amor até ao extremo e convidou-os fazerem da própria vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. Dessa forma, Jesus venceu a lógica do egoísmo e do pecado e colocou definitivamente os homens no caminho certo, preparados para integrarem a família de Deus. O sacrifício de Jesus, oferecido de uma só vez, libertou, efetivamente, os homens de uma dinâmica de egoísmo e de pecado e permitiu-lhes aproximarem-se de Deus com um coração renovado. Assim, Ele “tornou perfeitos para sempre os que são santificados” (vers. 14).
Terminada a sua tarefa de reconciliação dos homens com Deus, Cristo foi entronizado à direita de Deus. Esta imagem de triunfo e de glória mostra, não apenas como o caminho percorrido por Cristo é um caminho que tem a aprovação de Deus, mas, sobretudo, qual é a “meta” final da caminhada do homem: a divinização, a comunhão com Deus, a pertença à família de Deus. Se o caminho da fidelidade aos projetos de Deus e da entrega por amor aos irmãos levou Jesus a sentar-Se à direita do Pai, também aqueles que seguem Jesus chegarão à mesma meta e sentar-se-ão, por sua vez, à direita de Deus.
Desta forma, o autor da Carta aos Hebreus exorta os cristãos a viverem na fidelidade aos compromissos que assumiram com Cristo no dia do seu Batismo. Quem, apesar das dificuldades, percorre o mesmo caminho de Cristo, está destinado a sentar-se “à direita de Deus” e a viver, para sempre, em comunhão com Deus.
INTERPELAÇÕES
- O pecado é sempre um “não” a Deus, dito conscientemente por homens e mulheres que prescindem das indicações de Deus e decidem escolher caminhos de egoísmo e de autossuficiência. Não nos faz sentir bem, nem nos torna mais livres; pelo contrário, pesa intoleravelmente na nossa consciência, inquieta o nosso coração, altera o nosso equilíbrio, rouba-nos a paz, torna-nos escravos, leva-nos por caminhos que não nos realizam. Resulta da nossa fragilidade, do nosso egoísmo crónico, da nossa dificuldade em discernir o que nos torna felizes e o que nos torna infelizes. Será uma realidade inultrapassável, à qual estaremos fatalmente condenados? Afetará a nossa realização plena, o nosso encontro final com Deus? A segunda leitura deste trigésimo terceiro domingo comum garante-nos que Deus não abandona o homem que faz, mesmo conscientemente, opções erradas. O nosso egoísmo, o nosso orgulho, a nossa autossuficiência, o nosso comodismo, o nosso pecado, não têm a última palavra; a última palavra é sempre do amor de Deus e da sua vontade de salvar o homem. Deus está sempre disponível para nos justificar, para nos abraçar e para nos acolher. A consciência do amor e do perdão de Deus ajuda-nos a enfrentar e a superar a nossa fragilidade? A certeza da misericórdia de Deus liberta-nos da angústia com que o pecado nos carrega e oprime?
- Jesus, o Filho amado de Deus, veio ao mundo para concretizar o projeto salvador de Deus: libertar-nos da escravidão do pecado e inserir-nos numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida, com os seus gestos, com as suas palavras, Ele ensinou-nos a vencer o egoísmo e a fazer da nossa vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. No dia em que aderimos a Jesus – o dia do nosso Batismo –, renunciamos ao pecado, acolhemos o projeto de vida que Jesus nos apresentou e passámos a integrar a comunidade dos filhos de Deus. Trata-se de um compromisso sério e exigente, que necessita de ser continuamente renovado. O nosso compromisso com Jesus e com a sua proposta de vida exige que, como Ele, vivamos na escuta de Deus e na obediência ao seu projeto; exige que vivamos no amor, na partilha, no serviço, se necessário até ao dom total da vida; exige que lutemos, sem desanimar, contra tudo aquilo que rouba a vida do homem e o impede de chegar à vida plena; exige que sejamos, no meio do mundo, testemunhas de uma dinâmica nova – a dinâmica do amor. A nossa vida tem sido coerente com esse compromisso?
- A sociedade que temos vindo a construir está armadilhada com “estruturas de pecado”, que ajudam a perpetuar as injustiças, a potenciar as violências sobre os mais débeis, a criar exclusão e marginalização, a destruir a dignidade de muitos homens e mulheres. São estruturas, mecanismos, práticas, instituições, ideologias, que banalizam a indiferença, desumanizam mais e mais o nosso mundo, multiplicam o sofrimento de milhões e milhões de irmãos nossos. São utilizadas pelos donos do mundo para favorecer projetos egoístas, interesses pessoais, planos ambiciosos de pessoas sem escrúpulos, preocupadas apenas consigo mesmas a não com o bem comum. Como nos situamos frente a essas “estruturas de pecado”? Aceitámo-las enquanto elas não nos afetam diretamente, ou lutamos contra elas com todas as nossas forças? Seremos alguma peça dessas máquinas de injustiça que contribuem para aumentar o pecado do mundo?
ALELUIA – Lucas 21,36
Aleluia. Aleluia.
Vigiai e orai em todo o tempo,
para poderdes comparecer diante do Filho do homem.
EVANGELHO – Marcos 13,24-32
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Naqueles dias, depois de uma grande aflição,
o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade;
as estrelas cairão do céu
e as forças que há nos céus serão abaladas.
Então, hão de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens,
com grande poder e glória.
Ele mandará os Anjos,
para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais,
da extremidade da terra à extremidade do céu.
Aprendei a parábola da figueira:
quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas,
sabeis que o Verão está próximo.
Assim também, quando virdes acontecer estas coisas,
sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.
Em verdade vos digo:
Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
Passará o céu e a terra,
mas as minhas palavras não passarão.
Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece:
nem os Anjos do Céu, nem o Filho;
só o Pai».
CONTEXTO
Jesus tinha passado o dia no templo de Jerusalém. Tinha sido o dia dos “ensinamentos” e das polémicas com os líderes judaicos (cf. Mc 11,20-12,44). No final desse dia, Jesus dirigiu-se novamente para Betânia, rodeado pelos discípulos. Detiveram-se no “Jardim das Oliveiras”, a contemplar Jerusalém, que ficava defronte. Pouco antes, em resposta a uma observação de um dos discípulos sobre a grandiosidade do templo e das suas pedras, Jesus tinha dito que o templo seria destruído e que não ficaria pedra sobre pedra (cf. Mc 13,1-2). Agora, olhando a cidade, Pedro, André, Tiago e João (cf. Mc 13,3) pedem explicações mais concretas a Jesus acerca do que Ele tinha dito sobre a destruição do templo. Em resposta, Jesus oferece-lhes um amplo e enigmático ensinamento, que ficou conhecido como o “discurso escatológico” (cf. Mt 13,4-37).
O “discurso escatológico” de Jesus é um texto difícil, uma vez que emprega imagens e linguagens marcadas por alusões enigmáticas, bem ao jeito do género literário “apocalipse”. Nele confluem elementos de caráter histórico – a anunciada destruição de Jerusalém e do templo ocorrerá quarenta anos depois, no ano 70, quando as tropas romanas de Tito tomarem a cidade e a incendiarem – com reflexões de caráter profético sobre o sentido da história humana no seu conjunto. O objetivo do discurso seria dar aos discípulos indicações acerca da atitude a tomar frente às vicissitudes que marcarão a caminhada histórica da comunidade, até ao momento em que Jesus vier para instaurar, em definitivo, o novo céu e a nova terra.
Os quatro discípulos referenciados no início do “discurso escatológico” representam a comunidade cristã de todos os tempos. Os quatro são, precisamente, os primeiros discípulos chamados por Jesus (cf. Mc 1,16-20) e, como tal, convertem-se em representantes de todos os futuros discípulos. O discurso escatológico de Jesus não seria, assim, uma mensagem privada destinada a um grupo especial, mas uma mensagem destinada a toda a comunidade crente, chamada a caminhar na história com os olhos postos no encontro final com Jesus e com o Pai.
A missão que Jesus (que está consciente de ter chegado a sua hora de partir ao encontro do Pai) confia à sua comunidade não é uma missão fácil… Jesus sabe que os seus discípulos terão que enfrentar as dificuldades, as perseguições, as tentações que “o mundo” vai colocar no seu caminho. Essa comunidade em marcha pela história necessitará, portanto, de estímulo e de alento. É por isso que surge este apelo à fidelidade, à coragem, à vigilância… No horizonte último da caminhada da comunidade, Jesus coloca o final da história humana e o reencontro definitivo dos discípulos com Ele.
O “discurso escatológico” divide-se em três partes, antecedidas de uma introdução (cf. Mc 13,1-4). Na primeira parte (cf. Mc 13,5-23), o discurso anuncia uma série de vicissitudes que vão marcar a história e que requerem dos discípulos a atitude adequada: vigilância e lucidez. Na segunda parte, o discurso anuncia a vinda definitiva do Filho do Homem e o nascimento de um mundo novo a partir das ruínas do mundo velho (cf. Mc 13,24-27). Na terceira parte, o discurso anuncia a incerteza quanto ao “tempo” histórico dos eventos anunciados e insiste com os discípulos para que estejam sempre vigilantes e preparados para acolher o Senhor que vem (cf. Mc 13,28-37). O texto evangélico que a liturgia deste trigésimo terceiro domingo comum nos propõe apresenta, precisamente, a segunda parte e alguns versículos da terceira parte do “discurso escatológico”.
MENSAGEM
Depois de enumerar diversos acontecimentos que vão marcar o caminho histórico que a comunidade dos discípulos vai percorrer (guerras, conflitos, terramotos e confusões de todos os tipos – cf. Mc 13,5-8; perseguições, condenações e traições – cf. Mc 13,9-13; a destruição de Jerusalém – cf. Mc 14-20; o aparecimento de falsos messias e de falsos profetas que tentarão enganar os homens e levá-los por caminhos errados – cf. Mc 13,21-23), Jesus refere-se ao momento da sua segunda-vinda e ao surgimento de um mundo novo (cf. Mc 13,24-27).
Jesus começa por descrever, recorrendo a imagens expressivas, tiradas da tradição profética e apocalíptica, a queda do mundo velho que se opõe a Deus e que persegue os crentes: “o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas” (vers. 24-25). Em Is 13,10, o obscurecimento do sol, da lua e das estrelas anuncia o dia da intervenção justiceira de Javé para destruir o império babilónico e para libertar o Povo de Deus exilado numa terra estrangeira; em Jl 2,10, as mesmas imagens são usadas para descrever os acontecimentos do “dia do Senhor”, o dia em que Javé vai intervir na história para castigar os opressores e para salvar os seus eleitos.
Aliás essas velhas imagens, utilizadas pelos profetas para descrever a queda dos impérios que oprimiam o Povo de Deus, continuavam a manter uma grande atualidade na época de Jesus. No mundo grego, por exemplo, o sol e a lua (“Élios”, e “Selénê”) eram adorados como deuses; e, no mundo romano, o imperador identificava-se como “o sol” (o imperador Nero, o primeiro perseguidor dos cristãos de Roma, fez erigir no palácio imperial uma estátua de bronze com trinta metros de altura que o representava como o deus “sol”). Os leitores de Marcos entendiam perfeitamente que, quando Jesus falava do escurecimento do sol e da lua, ou da queda das estrelas, estava a referir-se à falência desses impérios que lutam contra Deus e contra os seus santos. Usando esta linguagem, Jesus está a garantir aos seus discípulos que, a certa altura, acontecerá uma viragem decisiva na história: a velha ordem religiosa e política, os poderes que se opõem a Deus e que perseguem os santos, irão ser derrubados, a fim de darem lugar a um mundo novo, construído de acordo com os critérios e os valores de Deus.
A queda desse mundo velho aparece associada à vinda do Filho do Homem (vers. 26). A imagem leva-nos a Dn 7,13-14, onde se anuncia a vinda de um “Filho do Homem” sobre as nuvens do céu, para afirmar a sua soberania sobre “todos os povos, todas as nações e todas as línguas” e “para estabelecer um império eterno que não passará jamais”. Esse “Filho do Homem, cheio de poder e de glória, que virá “reunir os seus eleitos” (vers. 27), não pode ser outro senão Jesus. Com esta imagem, Marcos assegura aos crentes o triunfo definitivo de Cristo sobre os poderes opressores e a libertação daqueles que, apesar das perseguições, continuaram a percorrer com fidelidade os caminhos de Deus.
A mensagem proposta neste “discurso escatológico” é clara: os discípulos de Jesus terão de percorrer um caminho histórico marcado pelo sofrimento e pela perseguição; no entanto, não se devem deixar afundar no desespero porque Jesus vem para os libertar e salvar. Com a sua vinda gloriosa (de ontem, de hoje, de amanhã), cessará a escravidão insuportável que os impede de conhecer a vida em plenitude, e nascerá um mundo novo, de alegria e de felicidade plenas.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 28-32), Jesus responde à questão posta pelos discípulos em Mc 13,4: “Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar”.
Na perspetiva de Jesus, mais importante do que definir o tempo exato da queda do mundo velho é ter confiança na chegada do mundo novo e estar atento aos sinais que o anunciam. A figueira é a última árvore a ganhar folha; mas, quando finalmente os seus ramos ficam tenros e aparecem folhas novas, o agricultor percebe que chegou o Verão e o tempo das colheitas (vers. 28-29); da mesma forma, os crentes são convidados a esperar, com paciência e com confiança, a chegada do mundo novo e a perceber, nos sinais de desagregação do mundo velho, o anúncio de que o tempo da libertação está a chegar. Certos da vinda do Senhor, atentos aos sinais que O anunciam, os crentes podem preparar o seu coração para O acolher, para aceitar os desafios que Ele traz, para agarrar as oportunidades de vida nova que Ele oferece.
Não há uma data marcada para o advento dessa nova realidade (vers. 32). De uma coisa, no entanto, os crentes podem estar certos: as palavras de Jesus não são uma bela teoria ou um piedoso desejo; mas são a garantia de que esse mundo novo, de vida plena e de felicidade sem fim, irá surgir (vers. 31). Essa garantia deve ser um capital de esperança que anima e fortalece os discípulos que caminham na história.
INTERPELAÇÕES
- Ver os telejornais ou escutar os noticiários é, com frequência, uma experiência que nos desassossega e que nos deprime. Os dramas da “aldeia global” que é o mundo entram em nossa casa, sentam-se à nossa mesa, perturbam a nossa tranquilidade, escurecem os nossos horizontes. A guerra, a opressão, a injustiça, a miséria, a escravidão, o egoísmo, o desprezo pela dignidade dos seres humanos, atingem-nos, mesmo quando acontecem a milhares de quilómetros do pequeno mundo onde nos movemos todos os dias. As sombras que marcam a história atual da humanidade tornam-se realidades próximas, tangíveis, que nos inquietam e nos desanimam. Sentimo-nos impotentes, incapazes de mudar o rumo das coisas. O futuro parece-nos sombrio e sem saída. A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre, contudo, a porta à esperança. Reafirma, uma vez mais, que Deus não abandona os seus filhos que caminham na história e está determinado a transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado num mundo novo de vida e de felicidade para todos os homens. A humanidade não caminha para o caos, para a destruição, para o sem sentido, para o nada; mas caminha ao encontro desse mundo novo em que o homem, com a ajuda de Deus, alcançará a plenitude das suas possibilidades. Como é que vemos e avaliamos a história dos homens? Acreditamos que o mal não triunfará e que a última palavra será sempre de Deus? Acreditamos que Deus fará surgir, das ruínas do mundo velho, um mundo novo, de alegria e de felicidade plenas?
- Os cristãos não leem a história atual da humanidade como um caminho sem saída; mas veem os momentos de tensão e de luta que hoje marcam a vida dos homens e das sociedades como sinais de que o mundo velho está a ser transformado e renovado, e que em seu lugar vai surgir um mundo novo e melhor. Isso faz dos discípulos de Jesus arautos e testemunhas da esperança. Certos de que Deus conduz a história de acordo com o seu projeto, os seguidores de Jesus não vivem dominados pelo medo, pelo pessimismo, pelo desespero, por discursos negativos, por angústias a propósito do fim do mundo… Os nossos contemporâneos têm de ver em nós pessoas a quem a fé dá uma visão otimista da vida e da história; pessoas que caminham, alegres e confiantes, ao encontro desse mundo novo que Deus nos prometeu. Sustentados pela fé, somos testemunhas da esperança? Os homens e mulheres com quem nos cruzamos são contaminados pelo nosso testemunho de confiança em Deus, pela nossa alegria serena, pela coragem com que enfrentamos as vicissitudes e as crises da vida?
- Deus é o Senhor da história, Deus é o arquiteto do mundo novo que irá surgir. No entanto, Ele associa-nos à sua obra e convoca-nos para trabalharmos ao lado d’Ele na concretização desse projeto. Os filhos e filhas de Deus não podem ficar de braços cruzados à espera que o mundo novo caia do céu; mas, enquanto caminham pela vida e pela história, são chamados a anunciar e a construir, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos, esse mundo que está nos projetos de Deus. Isso implica, antes de mais, um processo de conversão que nos leve a suprimir aquilo que em nós é egoísmo, orgulho, prepotência, exploração, injustiça (mundo velho); implica, também, testemunharmos objetivamente em gestos concretos, os valores do mundo novo: a partilha, o serviço, o perdão, o amor, a fraternidade, a solidariedade, a paz; implica, ainda, lutarmos sem desfalecer contra tudo aquilo que desfeia o mundo, que causa sofrimento e morte, que põe em causa a vida, a liberdade e a felicidade dos filhos e filhas de Deus. Aceitamos ser protagonistas, ao lado de Deus, na construção de um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano, ou deixamo-nos arrastar passivamente, acomodados e instalados, aceitando que o mundo avance sem a nossa intervenção e sem o nosso testemunho de discípulos de Jesus?
- Esse Deus que não abandona os homens na sua caminhada histórica vem continuamente ao nosso encontro para nos deixar os seus desafios, para nos fazer entender os seus projetos, para nos indicar os caminhos que Ele nos chama a percorrer. Da nossa parte, precisamos de estar atentos à sua proximidade e reconhecê-l’O nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. O cristão não vive de olhos postos no céu, à espera de uma comunicação especial de Deus; mas vive de olhos postos no mundo, para “ler” o que está a acontecer a cada instante e para escutar os apelos que Deus lhe deixa a cada momento nos acontecimentos da história e nos factos corriqueiros de que é feita a nossa vida de todos os dias. Procuramos detetar os apelos e sinais que Deus nos envia e através dos quais Ele nos indica o que espera de nós? Procuramos manter-nos íntimos de Deus, dialogar frequentemente com Ele, escutar a sua Palavra, a fim de percebermos o plano que Ele tem para o mundo e para nós?
- Há uma realidade incontornável, que nunca podemos olvidar: apesar da ação de Deus e dos nossos próprios esforços para que o nosso mundo seja, a cada instante, transformado e humanizado, o mundo novo com que sonhamos e que está no projeto de Deus nunca será uma realidade plena nesta terra: a nossa caminhada neste mundo será sempre marcada pela nossa finitude, pelos nossos limites, pela nossa imperfeição, pelo nosso egoísmo, pelas nossas opções discutíveis. O mundo novo sonhado por Deus é uma realidade escatológica, cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, ter destruído definitivamente o mal que nos torna escravos. Estamos conscientes disso? Temos consciência de que caminhamos rodeados de debilidade e de finitude, mas que isso não pode enfraquecer o nosso compromisso, os nossos esforços, a nossa alegria, a nossa confiança em Deus?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 33.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 33.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. BILHETE DE EVANGELHO.
Para Deus, não há passado nem futuro, há um eterno presente. Quando Jesus fala do seu regresso, coloca-o no hoje da sua Igreja. Eis porque, quando escreve o seu Evangelho, Marcos dirige-se a uma comunidade provada pelas perseguições, sem dúvida tentada pelo desespero, pela dúvida. Trata-se, pois, de redizer que Cristo, vitorioso da morte na manhã de Páscoa, é sempre vitorioso sobre todas as forças do mal. O seu regresso será, então, a manifestação do seu esplendor e do seu poder amoroso sobre as forças da morte. Para reavivar a sua esperança, os crentes são convidados a perscrutar os sinais que fazem ver que o Senhor voltará. A esperança dos cristãos manifesta-se em cada Eucaristia, quando afirmam que Cristo veio, vem e virá.
3. À ESCUTA DA PALAVRA.
“Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas”. O fim do mundo? Qual o sentido destas palavras? É preciso olhar mais de perto… O nosso mundo está criado. Ele não existiu sempre como o conhecemos. A terra conheceu transformações profundas e conhecerá outras, certamente. Aparece a vida, a morte, o desconhecido que mete medo… À sua própria maneira e inspirado por um modo particular de falar, o género apocalíptico, Jesus exprime esta realidade muito concreta do fim de todas as coisas. Mas não fica por aí. Estes cataclismos precederão a sua vinda com grande poder e com grande glória. E dá a comparação da figueira… Não se trata de uma realidade que reenvia à destruição e à morte, mas à vida, no seu aspeto de nascimento, de alegria, de luz. As forças da morte não terão a última palavra. O exemplo de Cristo na cruz… onde se revela o poder do amor de seu Pai. Doravante, pela fé, podemos ver o mal misteriosamente habitado por este amor. Os sobressaltos do cosmos e da história são as primícias, dolorosas sem dúvida, de uma transformação, de um nascimento que desembocará na luz da Vida.
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Virados para a vinda de Cristo… Os extratos da Escritura proclamados neste domingo recordam-nos que este momento virá e que nós não conhecemos nem o dia nem a hora… A convite destes textos, porque não suscitar diálogo e debate sobre este tema?
Estou pronto? Estou pronta? À margem da dimensão escatológica da fé coloca-se a questão da vigilância, à qual o Advento nos interpelará de uma maneira forte. Cristo diz que ninguém conhece o momento do seu regresso… Perguntemo-nos, então, se estamos preparados para este encontro…
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org