01º Domingo do Tempo do Advento – Ano C [atualizado]

1 de Dezembro, 2024

ANO C

1.º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO

Tema do 1.º Domingo do Tempo do Advento

 

No início do “caminho de advento”, a Palavra de Deus fala-nos da “vinda do Senhor” e dá-nos indicações para a prepararmos. Convida-nos a viver este tempo com alegria e esperança, porque a nossa libertação “está próxima”; e desafia-nos a caminharmos atentos e vigilantes, escutando Deus e dando atenção aos irmãos com quem nos cruzamos a cada passo.

Na primeira leitura, pela boca do profeta Jeremias, o Deus da Aliança garante a Judá que não esqueceu as suas promessas; e que vai enviar um “rebento” da família de David para, através dele, concretizar esse mundo de justiça e de paz com que o Povo sonha. O Messias, o “rebento” de David, trará ao Povo de Deus justiça, harmonia, vida em abundância.

No Evangelho, Jesus fala aos discípulos do “dia do Senhor”, o dia em que o mundo velho, prisioneiro do egoísmo, da maldade e do pecado, vai cair, a fim de dar lugar a um mundo novo. Esse dia será, para os discípulos, o dia da libertação, o dia da alegria suprema. Enquanto esperam que esse dia chegue, devem manter-se fiéis e vigilantes, escutando Deus e os seus apelos, atentos às necessidades e sofrimentos dos outros homens e mulheres com quem caminham.

Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Tessalónica – e os cristãos de todos os lugares e épocas – a esperarem a vinda do Senhor sem se deixarem tentar pela mediocridade e pela acomodação. O amor fraterno, “uns para com os outros e para com todos”, será a marca distintiva dos discípulos que esperam com fidelidade a vinda de Jesus.

 

LEITURA I – Jeremias 33,14-16

Eis o que diz o Senhor:
«Dias virão, em que cumprirei a promessa
que fiz à casa de Israel e à casa de Judá:
Naqueles dias, naquele tempo,
farei germinar para David um rebento de justiça
que exercerá o direito e a justiça na terra.
Naqueles dias, o reino de Judá será salvo
e Jerusalém viverá em segurança.
Este é o nome que chamarão à cidade:
‘O Senhor é a nossa justiça’».

 

CONTEXTO

O profeta Jeremias nasceu no ano 650 a.C., em Anatot, uma pequena cidade situada nas proximidades de Jerusalém. A sua missão profética começou por volta de 627/626 a.C., e prolongou-se até depois da destruição de Jerusalém pelos Babilónios (586 a.C.). O cenário geográfico da atividade de Jeremias é o reino do sul (Judá), e sobretudo a cidade de Jerusalém.

Podemos dividir o tempo de atividade profética de Jeremias em diversas fases. A primeira abrange parte do reinado do rei Josias. Este rei, apostado em defender a identidade nacional em todas as suas vertentes, promoveu uma grande reforma religiosa destinada a limpar do país o culto aos deuses estrangeiros. Jeremias, a partir de 626 a.C., envolveu-se nessa reforma, convidando os habitantes de Judá a converterem-se a Javé e a viverem na fidelidade à Aliança e aos mandamentos de Deus. Esta fase terminou quando, em 609 a.C., Josias foi morto em Megido, em combate contra os exércitos egípcios.

Depois de alguns meses de instabilidade, o trono de Judá foi ocupado por Joaquim (609-597 a.C.). Com Joaquim no trono, a infidelidade dos habitantes de Judá a Javé e à Aliança volta a estar na ordem do dia. Nesta nova fase, a voz profética de Jeremias soa novamente para denunciar as graves injustiças sociais (às vezes fomentadas pelo próprio rei) e o abandono de Javé. Jeremias critica especialmente as alianças políticas que Joaquim procura fazer com outras nações, catalogando-as como infidelidade contra Deus: em lugar de confiar em Deus, Judá coloca a sua esperança e a sua segurança em exércitos estrangeiros. Convencido de que Judá não tem emenda e que Deus já não suporta mais o pecado do seu Povo, Jeremias anuncia a iminência de uma invasão babilónica, que irá castigar a nação pelos seus pecados. As previsões de Jeremias concretizam-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invade Judá e deporta para a Babilónia uma parte da população de Jerusalém. No trono de Judá fica, então, Sedecias (597-586 a.C.).

Após alguns anos de calma submissão à Babilónia, Sedecias volta a experimentar a velha política das alianças militares com o Egipto. Jeremias, uma vez mais, mostra o seu desacordo: a esperança de Judá deve estar em Javé e não em exércitos estrangeiros… Mas, nem o rei, nem os notáveis de Judá prestam qualquer atenção à opinião do profeta. Visto por toda a gente como um amargo “profeta da desgraça”, Jeremias apenas consegue criar o vazio à sua volta.

Em 587 a.C., Nabucodonosor põe novamente cerco a Jerusalém; no entanto, um exército egípcio vem em socorro de Judá e os babilónios retiram-se. Nesse momento de euforia nacional, Jeremias anuncia o recomeço do cerco e a destruição de Jerusalém (cf. Jr 32,2-5). Acusado de traição, o profeta é encarcerado (cf. Jr 37,11-16) e corre, inclusive, perigo de vida (cf. Jr 38,11-13). Enquanto Jeremias continua a pregar a rendição, Nabucodonosor apossa-se, de facto, de Jerusalém, destrói a cidade e deporta a sua população para a Babilónia (586 a.C.).

No livro de Jeremias, o texto que a liturgia deste primeiro domingo do advento nos propõe como primeira leitura é apresentado como um oráculo de Deus, confiado ao profeta no momento em que a cidade de Jerusalém está cercada pelos babilónios e que o próprio Jeremias está detido no átrio da guarda, acusado de derrotismo e de traição (cf. Jr 33,1). Nesse cenário que parece sem saída, o profeta é convidado a proclamar, em nome de Javé, a chegada de um tempo novo, no qual Deus vai curar as feridas do seu Povo e proporcionar a Judá “abundância de paz e segurança” (Jr 33,6). A mensagem é tanto mais surpreendente quanto o futuro imediato parece sombrio e o próprio Jeremias é acusado de profetizar a destruição de Jerusalém e o exílio de Sedecias (cf. Jr 32,3-5).

No entanto, o mais provável é que este oráculo seja um texto tardio, redigido por um discípulo de Jeremias após o Exílio do Povo na Babilónia, com a finalidade de animar os judeus regressados do Exílio, desiludidos porque encontraram tudo destruído e um futuro incerto. A promessa de um “rebento de justiça”, da família de David, pretende ajudar os retornados do Exílio a recobrarem ânimo e a abrirem as portas à esperança.

 

MENSAGEM

Numa altura em que o futuro do Povo de Deus parece comprometido, o profeta assegura a fidelidade de Javé às promessas outrora feitas “à casa de Israel e à casa de Judá” (vers. 14). Refere-se, certamente, à garantia dada por Deus deu a David de que haveria sempre um seu descendente à frente dos destinos do Povo de Deus (cf. 2Sm 7,12-16). Sim, Judá tem futuro, pois Deus irá fazer germinar “para David um rebento de justiça que exercerá o direito e a justiça na terra” (vers. 15). A palavra “zemah” (“rebento”) evoca a fecundidade e a vida em abundância (cf. Is 4,2; Ez 16,7). No universo religioso judaico a palavra tem uma dimensão messiânica, pois é o nome utilizado pelo profeta Zacarias para designar o enviado de Deus (o “Messias”) que há de vir para derrotar o mal, salvar o seu Povo e inaugurar uma nova era de vida e de paz sem fim (cf. Zc 3,8; 6,12).

Deus garante, através da palavra de Jeremias, que o prometido descendente de David – esse “rebento” que trará vida nova ao seu Povo – será “justo” e que a sua tarefa consistirá em assegurar a “justiça” e o “direito” (“mishpat” e “zedaqa”). A dupla “justiça/direito”, característica da linguagem profética, refere-se ao funcionamento reto da instituição responsável pela administração da justiça (tribunal) que possibilitará, por sua vez, uma correta ordem social (“zedaqa”), fundamento da paz, da prosperidade e da harmonia para todo o tecido social de Judá. Sedecias, com as suas políticas erráticas, nem garantiu a “justiça”, nem assegurou a paz. Falhou completamente na tarefa que lhe foi confiada: destruiu a coesão nacional e conduziu a nação à catástrofe… Mas o rei que vai chegar, da descendência de David, irá restaurar a “justiça”, restabelecer a harmonia social, assegurar o respeito pelos direitos dos pobres, transmitir a abundância de vida e de salvação ao Povo de Deus. Nesses dias, os habitantes de Jerusalém poderão finalmente viver tranquilos, em total segurança; e chamarão à cidade santa “o Senhor é a nossa justiça” (“Javé zidqenû” – vers. 16), pois Deus viverá no meio deles, assegurando-lhes a vida e a paz.

Esta promessa de Deus, escutada em tempo de angústia e desolação, elimina o medo do presente e abre uma janela de esperança no horizonte do Povo.

 

INTERPELAÇÕES

  • Cada tempo, cada século, tem os seus momentos de crise, os seus problemas, as suas angústias, os seus dramas. O nosso tempo também. Apercebemo-nos, hoje, que o nosso estilo de vida põe em causa o equilíbrio do planeta e o futuro da nossa civilização; constatamos, hoje, que a indiferença se tornou uma doença global, e que nos interessamos cada vez menos uns pelos outros; descobrimos, hoje, que ainda não aprendemos a viver fora de uma lógica de egoísmo e que essa lógica condena uma grande parte dos homens e mulheres que caminham ao nosso lado a uma vida sem recursos e sem esperança; verificamos, hoje, que continuamos a preferir a velha lógica da guerra e da violência para resolver os nossos diferendos e as nossas diferenças; reparamos, hoje, que todos os dias aumenta o imenso cortejo de homens e mulheres que são despojados da sua dignidade e que são abandonados nas margens do caminho que a humanidade vai percorrendo… Para onde caminhamos? Que história estamos a construir? É neste cenário que ecoa essa mensagem eterna que nos é apresentada na primeira leitura deste primeiro domingo do advento: Deus permanece fiel às suas promessas e não abandona os seus filhos. Ele vai enviar-nos – ou melhor, vai continuar a enviar-nos – “um rebento de justiça” que nos apontará o caminho e que nos ensinará a construir um mundo novo. Da nossa parte, estaremos disponíveis para o acolher? Estaremos dispostos a escutá-lo e a aceitar as suas indicações?
  • Jesus, o “rebento de justiça” da família de David, veio ao nosso encontro e mostrou-nos, com palavras e com gestos, os caminhos que devemos percorrer. Mas fez ainda mais: convidou-nos a integrar a comunidade do Reino de Deus e envolveu-nos na construção de um mundo mais justo, mais humano, pleno de harmonia e de paz. Como discípulos de Jesus, sentimo-nos comprometidos na construção desse mundo de justiça, de harmonia, de paz, de fraternidade, que Deus deseja para todos os seus filhos e filhas? Os nossos gestos, as nossas atitudes, as nossas palavras criam harmonia e entendimento, ou acrescentam agressividade, intolerância, confronto, revolta, sofrimento ao cenário onde nos movemos todos os dias?
  • O “profeta” que nos deixou a mensagem que a nossa primeira leitura nos apresenta foi capaz, numa época histórica difícil para si e para o seu povo, de não se deixar submergir pela onda de desânimo e de pessimismo que ameaçava os habitantes de Jerusalém. Ele estava absolutamente seguro de Deus: da sua bondade, do seu amor, da sua fidelidade; e por isso pôde oferecer aos seus irmãos uma mensagem que lhes abriu as portas da esperança. Confiamos em Deus, na sua presença na história dos homens, no seu cuidado de Pai, no seu interesse pelo bem de todos os seus filhos? Somos arautos e testemunhas da esperança no meio dos irmãos e irmãs que tropeçam no desespero e no desencanto?
  • Estamos a iniciar o tempo do “advento”. No nosso horizonte próximo está a vinda de Jesus. Ele, o “rebento de justiça” da família de David, vem ao nosso encontro para nos ajudar a vencer as nossas contradições e para nos ajudar a corrigir os passos mal andados que trazem sofrimento ao mundo e aos homens. A sua vinda será, portanto, um acontecimento feliz, que deve ser aguardado com alegria e com esperança. Como nos dispomos a viver este tempo de espera de Jesus? Será mais uma oportunidade que passa por nós sem nos tocar e transformar, ou será um tempo de verdadeira renovação, de verdadeiro compromisso, de verdadeiro encontro com Jesus?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 24 (25)

Refrão: Para Vós, Senhor, elevo a minha alma.

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.

O Senhor é bom e reto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.

Os caminhos do Senhor são misericórdia e fidelidade
para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos.
O Senhor trata com familiaridade os que O temem
e dá-lhes a conhecer a sua aliança.

 

LEITURA II – 1 Tessalonicenses 3,12–4,2

Irmãos:
O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade
uns para com os outros e para com todos,
tal como nós a temos tido para convosco.
O Senhor confirme os vossos corações
numa santidade irrepreensível,
diante de Deus, nosso Pai,
no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor,
com todos os santos.
Finalmente, irmãos,
eis o que vos pedimos e recomendamos no Senhor Jesus:
recebestes de nós instruções
sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus,
e assim estais procedendo;
mas deveis progredir ainda mais.
Conheceis bem as normas que vos demos
da parte do Senhor Jesus.

 

CONTEXTO

No século I da nossa era, Tessalónica era a cidade mais importante da Macedónia. Porto marítimo e cidade de intenso comércio, era uma encruzilhada religiosa, na qual os cultos locais coexistiam lado a lado com todo o tipo de propostas religiosas vindas de todo o Mediterrâneo.

A cidade foi evangelizada por Paulo durante a sua segunda viagem missionária, muito provavelmente no Inverno dos anos 49-50. Paulo chegou a Tessalónica acompanhado por Silvano e Timóteo, depois de ter sido forçado a deixar a cidade de Filipos. O tempo de evangelização foi curto, talvez uns três meses; mas foi o suficiente para fazer nascer uma comunidade cristã numerosa e entusiasta, constituída maioritariamente por pagãos convertidos. No entanto, a obra de Paulo foi brutalmente interrompida pela reação da colónia judaica. Os judeus acusaram Paulo de agir contra os decretos do imperador e levaram alguns cristãos diante dos magistrados da cidade (cf. At 17,5-9). Paulo teve de deixar a cidade à pressa, de noite, indo para Bereia e, depois, para Atenas (cf. At 17,10-15).

Entretanto, Paulo tinha a consciência de que a formação doutrinal da comunidade cristã de Tessalónica ainda deixava muito a desejar. A jovem comunidade, fundada há pouco tempo e ainda insuficientemente catequizada, estava quase desarmada nesse contexto adverso de perseguição e de provação (cf. 1Ts 3,1-10). Preocupado, Paulo enviou Timóteo a Tessalónica, a fim de saber notícias e encorajar os tessalonicenses na fé (cf. 1Ts 3,2-5). Quando Timóteo voltou para apresentar o seu relatório, encontrou Paulo em Corinto. Confortado pelas informações dadas por Timóteo, o apóstolo decidiu escrever aos cristãos de Tessalónica, felicitando-os pela sua fidelidade ao Evangelho. Aproveitou também para esclarecer algumas dúvidas doutrinais que inquietavam os tessalonicenses e para corrigir alguns aspetos menos exemplares da vida da comunidade. A Primeira Carta aos Tessalonicenses é, com toda a probabilidade, o primeiro escrito do Novo Testamento. Apareceu na Primavera-Verão do ano 50 ou 51.

Os dois primeiros versículos do texto que hoje nos é proposto como segunda leitura (cf. 1Ts 3,12-13) encerram a primeira parte da Carta aos Tessalonicenses; mas os outros dois versículos (cf. 1Ts 4,1-2) já pertencem à segunda parte da mesma carta. No seu conjunto, podem ser entendidos como uma espécie de “voto”, através do qual Paulo augura aos cristãos de Tessalónica que possam crescer cada vez mais na fé e no compromisso com o Evangelho de Jesus.

 

MENSAGEM

Paulo ficou verdadeiramente feliz com as notícias que Timóteo lhe trouxe sobre a comunidade cristã de Tessalónica. Sentiu-se edificado e revigorado pela forma como os tessalonicenses vivem a sua fé e o seu compromisso cristão.

Apesar disso, Paulo formula um voto: que os cristãos de Tessalónica façam por continuar a crescer no amor (cf. 1Ts 3,12). O modelo do amor que devem ter uns pelos outros é o amor que Deus tem por nós, e que os tessalonicenses conhecem através do testemunho de Paulo. Esse amor deve ser recíproco (“uns para com os outros”) e universal (“para com todos”). Esse é o caminho que leva à santidade. É vivendo assim que se prepara convenientemente a vinda do Senhor Jesus Cristo (cf. 1Ts 3,13). Cristo, quando chegar, deve encontrá-los irrepreensíveis e santos, dando uns aos outros o testemunho do amor.

De resto, os cristãos de Tessalónica devem ter consciência de que o caminho que são chamados a percorrer ainda não está concluído. Paulo não tem dúvidas que eles têm procurado genuinamente agradar a Deus; mas é preciso “progredir sempre” (1Ts 4,1); é preciso dar cada dia mais um passo em frente, renovar a cada momento a opção por Deus e o compromisso com o Evangelho. É dessa forma que se caminha para a santificação; é dessa forma que se prepara e se espera a visita de Deus à nossa vida e ao nosso mundo.

 

INTERPELAÇÕES

  • Começamos hoje a fazer o caminho do advento. Queremos que as próximas semanas sejam, para nós, um tempo favorável para prepararmos o encontro com o Senhor que vem. O que devemos fazer para que isso aconteça? Paulo deixa-nos, no texto da primeira Carta aos Tessalonicenses que a liturgia nos oferece como segunda leitura uma “dica” importante: enquanto esperamos a vinda do Senhor Jesus, devemos “crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos”. É um convite a sairmos de nós e a abrirmos o coração aos irmãos que caminham ao nosso lado; é um convite a não ficarmos indiferentes perante as dores e os sofrimentos daqueles que nos rodeiam; é um convite a cuidarmos daqueles que não têm voz, que não têm vez, que ficam abandonados na berma da estrada porque ninguém se lembra deles. Estamos disponíveis, neste advento, para nos convertermos ao amor?
  • Todas as vezes que nos reunimos para celebrar a eucaristia, somos convidados a rezar o “Pai nosso”, assumindo que Deus é o Pai de todos e que estamos ligados uns aos outros por laços fraternos. No entanto, nem sempre as nossas comunidades cristãs são a “casa da fraternidade” onde os irmãos se acolhem, se aceitam, se respeitam e se amam. Por vezes, deixamos que as quezílias, os ciúmes, as invejas, as maledicências, as vaidades pessoais se intrometam na comunidade e quebrem a comunhão e o entendimento fraterno. Talvez este tempo de advento possa ser um tempo para purificarmos a nossa fraternidade e construirmos comunidades onde se viva o amor “uns para com os outros e para com todos”. Estamos dispostos, neste tempo de advento, a fazer o que estiver ao nosso alcance para que as nossas comunidades cristãs deem ao mundo e aos homens um testemunho verdadeiro de fraternidade, de partilha, de comunhão?
  • Paulo lembra aos cristãos de Tessalónica que, enquanto peregrinarmos nesta terra, o caminho da santificação nunca está concluído. É um caminho sempre a fazer-se, que implica o compromisso, o esforço, a fidelidade a cada passo; é um caminho de conversão constante, nunca terminada. Estamos dispostos a aproveitar este tempo de advento para renovarmos a nossa vida, para redirecionarmos os nossos passos, para questionarmos as opções que temos vindo a fazer, para nos comprometermos mais e mais com o seguimento de Jesus e o testemunho do Evangelho?

 

ALELUIA – Salmo 84,8

Aleluia. Aleluia.

Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia
e dai-nos a vossa salvação.

 

EVANGELHO – Lucas 21,25-28.34-36

Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas
e, na terra, angústia entre as nações,
aterradas com o rugido e a agitação do mar.
Os homens morrerão de pavor,
na expectativa do que vai suceder ao universo,
pois as forças celestes serão abaladas.
Então, hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem,
com grande poder e glória.
Quando estas coisas começarem a acontecer,
erguei-vos e levantai a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima.
Tende cuidado convosco,
não suceda que os vossos corações se tornem pesados
pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida,
e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha,
pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra.
Portanto, vigiai e orai em todo o tempo
para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer
e comparecer diante do Filho do homem».

 

CONTEXTO

O Evangelho deste primeiro domingo do advento situa-nos em Jerusalém, num dos dias que precedem a prisão, condenação e morte de Jesus na cruz. O programa de Jesus, nestes dias, é sempre igual: de manhã dirige-se ao templo e passa aí o dia, “a ensinar”; ao final da tarde sai da cidade, atravessa o vale do Cedron e vai até ao Monte das Oliveiras, onde passa a noite (cf. Lc 21,37).  Esses dias também vão ser marcados por diversas controvérsias entre Jesus e os líderes judaicos. Depois do gesto profético da purificação do templo, tornado “covil de ladrões” pela cupidez dos negociantes (cf. Lc 19,45-48), Jesus foi questionado pelos sacerdotes, pelos doutores da Lei e pelos anciãos do povo sobre a sua autoridade (cf. Lc 20,1-8); e respondeu-lhes com a parábola dos vinhateiros homicidas, comparando-os a uns arrendatários de uma vinha que sempre se recusaram a dar ao seu senhor os frutos que lhe deviam. Os representantes do judaísmo oficial também discutiram com Jesus sobre o pagamento do tributo a César (cf. Lc 20,20-26) e sobre a ressurreição dos mortos (cf. Lc 20,27-40). Vai-se tornando cada vez mais clara a ideia de que a proposta de Jesus nunca será acolhida pelas autoridades religiosas de Israel. A cruz está, cada vez mais, no horizonte próximo de Jesus.

Num daqueles dias, ao retirar-se do templo para se dirigir para o Monte das Oliveiras, em resposta ao comentário dos discípulos sobre a beleza e a riqueza do templo, Jesus avisa que tudo isso que estão a contemplar e a admirar irá ser destruído (cf. Lc 21,5-6). Os discípulos, muito impressionados, pedem-lhe explicações (“mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” – Lc 21,7). Em resposta, Jesus deixa aos discípulos uma longa instrução que é conhecida como o “discurso escatológico” (cf. Lc 21,7-38).

Na versão do evangelista Lucas, o “discurso escatológico” de Jesus refere três momentos, ou temas, da história futura: a destruição de Jerusalém (que veio a concretizar-se no ano 70, quando as tropas romanas sob o comando de Tito tomaram Jerusalém e destruíram o templo), as vicissitudes que os discípulos irão enfrentar ao longo do seu caminho histórico e, por fim, a vinda definitiva do Filho do Homem. De acordo com o texto de Lucas, Jesus recorre, para falar de tudo isto, a imagens estereotipadas de que os pregadores escatológicos da época se serviam quando discorriam sobre o fim dos tempos. A finalidade de Lucas, ao oferecer-nos o “discurso escatológico de Jesus”, não é tanto descrever os acontecimentos da história futura dos homens, mas sim transmitir aos crentes – aos crentes da década de oitenta do primeiro século e aos crentes de todas as épocas – a força para viverem o seu compromisso com Jesus no meio das dificuldades, incompreensões e perseguições que a história os obrigará a enfrentar.

 

MENSAGEM

Depois de se referir à futura destruição de Jerusalém (cf. Lc 21,20-24) e aos problemas que os discípulos encontrarão no seu caminho (cf. Lc 21,8-19), Jesus fala do dia da intervenção final de Deus na história dos homens, o dia em que o Filho do Homem virá sobre “uma nuvem, com grande poder e glória” (vers. 27).

O cenário dessa intervenção final de Deus é composto com os elementos que, em diversos textos do Antigo Testamento, são utilizados para falar do “Dia do Senhor” (cf. Is 13,6-22; Jl 2,1-11): o escurecimento do sol, da lua, e das estrelas; o temor, a angústia, o desfalecimento e o espanto dos homens… Esses elementos são bem apropriados para veicular a mensagem religiosa que se pretende transmitir. O escurecimento do sol, da lua e das estrelas refere-se ao fim do “tempo humano” (marcado pelo ritmo do sol e da lua) e ao início de um tempo novo que é o eterno “hoje” de Deus; o “temor” do homem é, por um lado, o “temor” que, no Antigo Testamento está sempre associado às intervenções de Deus, e, por outro lado, sugere a incomodidade que todo o homem sente quando o seu velho e cómodo “espaço de conforto” desaparece e tem de enfrentar uma realidade nova; “o rugido e a agitação do mar”, sugere o fim da ordem velha e o regresso da criação ao “caos” inicial, quando Deus criou o universo. Não estamos, portanto, diante de uma descrição pormenorizada daquilo a que chamamos “o fim do mundo”, mas sim de uma forma muito bela de sugerir que a intervenção final de Deus na história humano e a vinda do “Filho do Homem” sobre as nuvens será o princípio de algo absolutamente novo, de um mundo totalmente renovado, de uma nova criação.

De acordo com Jesus, o momento da intervenção definitiva de Deus, o “Dia do Senhor”, será de momento de grande alegria e de grande felicidade para todos os filhos e filhas de Deus. Será o momento em que a velha ordem do egoísmo, da violência, da arrogância, da ganância, do pecado, da maldade será definitivamente vencida e em que a humanidade, finalmente, se reencontrará com a realidade de Deus, com o projeto de Deus em toda a sua plenitude. Jesus convida os seus discípulos a viverem esse momento como o primeiro instante de um tempo novo de libertação e de graça: “quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (vers. 28). Ver-nos-emos então livres das cadeias que nos prendem às realidades velhas e transitórias deste mundo para passarmos a viver na gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

E até lá? Como devem viver os discípulos de Jesus enquanto não chega esse dia glorioso da intervenção final de Deus na história, o dia da nossa libertação definitiva?

Na perspetiva de Jesus, os seus discípulos não podem viver de olhos exclusivamente postos no céu, num angelismo alienante e ingénuo, isolados da realidade do mundo, alheios ao compromisso com a construção do Reino de Deus na terra. Também não podem viver preguiçosamente acomodados, agarrados aos seus velhos hábitos e preconceitos, prisioneiros do egoísmo e dos vícios, indiferentes à sorte dos irmãos (vers. 34).

O que Jesus espera dos seus discípulos é que caminhem pela história atentos e vigilantes, “orando em todo o tempo” (vers. 36). “Vigiar” é viver atento áquilo que nos rodeia, é estar sempre preparado para fazer aquilo que deve ser feito; é tomar nota dos desafios de Deus e não perder nenhuma oportunidade de colaborar no projeto de Deus para o mundo e para os homens. A oração autêntica, por outro lado, faz com que os discípulos se aproximem de Deus, se inteirem dos projetos de Deus, escutem os apelos de Deus, vejam os acontecimentos do mundo com os olhos de Deus, ganhem força para viver segundo Deus. É dessa forma que os verdadeiros discípulos preparam e esperam a vinda do Senhor.

 

INTERPELAÇÕES

  • No “discurso escatológico”, Jesus diz aos discípulos uma frase que poderia servir de mote para este “caminho de advento” que hoje começamos a percorrer: “erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Jesus refere-se ao fim dos tempos, ao dia em que o “Filho do Homem” vier sobre as nuvens para dar início a um mundo novo, a um mundo transformado; mas a frase pode perfeitamente aplicar-se a cada “visita” de Deus, a cada vez que Jesus vem ter connosco, “veste” a nossa humanidade, se torna um de nós, nasce na nossa vida… Sim, a vinda de Jesus liberta-nos pois proporciona-nos o encontro cara a cara com o coração misericordioso e paternal de Deus; a vinda de Jesus liberta-nos pois traz-nos um convite irrecusável a dizermos não ao egoísmo que nos escraviza; a vinda de Jesus liberta-nos pois Ele, quando nos encontra, propõe-nos uma vida nova, uma vida com sentido, uma vida vivida em chave de amor. Nestes dias, à medida que preparamos o nosso coração para acolher Jesus, estamos a aproximar-nos da nossa libertação. O que podemos fazer para preparar a chegada de Jesus? O que temos de fazer, neste tempo, para acolher a nossa libertação?
  • “Erguei-vos e levantai a cabeça” – pede Jesus aos seus discípulos. Na verdade, muitas vezes não caminhamos, mas simplesmente arrastamo-nos pela vida, sem horizontes e sem esperança. O medo paralisa-nos, atira-nos ao chão, obriga-nos a escondermo-nos no nosso espaço protegido, à margem da vida e da luta dos homens; o ativismo cansa-nos de tal forma que a certa altura não temos mais forças para nos levantarmos da cama e começarmos a construir, cada manhã, um dia novo e um mundo novo; a desilusão pela forma como o mundo se vai construindo dá-nos vontade de nos isolarmos e desistirmos de qualquer esforço; as injustiças, as violências, as maldades que vemos crescer à nossa volta fazem-nos pensar que o mundo não tem saída… Baixamos a cabeça, conformamo-nos com a realidade de um mundo que nos parece um lugar cada vez mais assustador e renunciamos a desempenhar o nosso papel enquanto protagonistas da história. Ousaremos, neste tempo de advento, animados pela vinda de Deus, “levantar a cabeça”, olhar a vida olhos nos olhos, e assumir o papel que Deus nos destina na construção de um mundo mais justo, mais humano, mais feliz?
  • Jesus pede aos discípulos que esperem a sua vinda numa atitude de vigilância. Estar vigilante é estar atento a tudo o que se passa para intervir e atuar quando necessário; é olhar a vida e a história com sentido crítico, sabendo ler os sinais de Deus e respondendo, sem hesitações, aos desafios de Deus; é olhar continuamente à volta para identificar os pedidos de ajuda que nos chegam dos irmãos que caminham ao nosso lado. Significa não acomodação, não conformação, não cedência à preguiça ou ao egoísmo, não indiferença em relação ao mundo e aos homens. Estamos dispostos, neste advento, a reativar a nossa atitude de vigilância? Estamos dispostos, neste advento, a ficar mais atentos a Deus e às indicações que Ele nos vai dando? Estamos dispostos, neste advento, a “ver” e a dar resposta às necessidades e dificuldades dos homens e mulheres que nos rodeiam?
  • Jesus também pede aos seus discípulos que, enquanto O esperam, orem “em todo o tempo”. A oração torna-nos íntimos de Deus e aprofunda a nossa comunhão com Deus. No diálogo com Deus apercebemo-nos dos projetos que Ele tem para o mundo e para os homens, interessamo-nos por esses projetos e assumimo-los como nossos; no diálogo com Deus percebemos como atuar, como fazer as coisas, como sermos testemunhas e sinais de Deus no nosso mundo; no diálogo com Deus, colhemos as forças para vivermos de acordo com os valores de Deus e para sermos colaboradores d’Ele na construção do mundo. Dispomo-nos, neste advento, a encontrar momentos para falarmos com Deus, para o escutarmos, para lhe dizermos o que nos vai no coração?
  • No seu “discurso escatológico”, Jesus diz aos discípulos que há de vir no final dos tempos, de forma definitiva, sobre as nuvens do céu, “com grande poder e glória”. Só então o mal, o egoísmo, o pecado em todas as suas formas, serão definitivamente derrotados. Até lá, caminhamos na história, fiéis e vigilantes, de olhos postos nesse horizonte, com o coração batendo ao ritmo da esperança. Em tempo de advento, preparando a próxima vinda de Jesus ao nosso mundo e à nossa vida, somos convidados a olhar, de forma mais consciente e convicta, para o momento final da história, o momento em que a humanidade será definitivamente libertada. Sentimos que a próxima vinda de Jesus, no natal do Senhor, prepara e anuncia a vinda definitiva do “Filho do Homem”, no final dos tempos, para inaugurar o novo céu e a nova terra onde os filhos e filhas de Deus encontrarão uma felicidade que não tem fim?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1.º DOMINGO DO ADVENTO
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 1.º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. GESTO PARA O INÍCIO DO ADVENTO.

Com o 1º Domingo do Advento, começa o ano litúrgico. Para os cristãos, é esta a altura propícia para se desejar um bom ano. O 1º Domingo do Advento é o momento oportuno para apresentar o desenrolar de um ciclo litúrgico no seu conjunto. Descobrir este caminho de oração, comum aos católicos do mundo inteiro, permite falar também da importância da prática regular. É tempo para tomar boas resoluções para o novo ano, o ano litúrgico. Pode-se marcar o início do Advento com uma procissão de entrada mais solenizada, escolhendo um cântico bem adaptado, ou com um ato penitencial mais desenvolvido. Isto para além dos símbolos tradicionais do Advento que podem ser valorizados…

3. COROA DO ADVENTO.

Entre os símbolos tradicionais, temos a “coroa do Advento”, com as quatro velas. Colocadas numa coroa ou de outra maneira, elas significam a progressão para o Natal. Muitas vezes, acende-se a vela ao longo da celebração. Este gesto ganha importância se for bem realizado. Pode ser durante o cântico inicial, no final da procissão, por uma criança ou um jovem, por um padre ou qualquer outro “ator” da liturgia. Pode também ser efetuado pelo próprio presidente da celebração, depois da saudação litúrgica. Tomar-se-á sempre o tempo de um belo gesto, que pode ser acompanhado por um breve refrão a apelar à vinda do Senhor… É importante cuidar da beleza dos objetos (velas, suporte, coroa), de tamanho adaptado ao edifício e dispostos de maneira coerente no espaço próprio.

4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:

“Ó Deus fiel, bendito és Tu pelo olhar que podemos ter sobre a obra que realizaste ao longo dos séculos, sobre as promessas dos profetas e sobre a sua realização pelo descendente de David, o teu Filho Jesus.

Nós Te confiamos os povos e os países vítimas da insegurança, mas também os bairros das nossas cidades e os habitantes que vivem no temor”.

 

No final da segunda leitura:

“Pai, nós Te damos graças pelas instruções recebidas dos Apóstolos da parte do Senhor Jesus e pelos progressos que nos deixas realizar.

Ó Deus nosso Pai, nós Te pedimos: dá-nos, entre nós e em relação a todos os homens, um amor cada vez mais intenso, coloca-nos no caminho de uma santidade irrepreensível, até ao dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo vier com todos os santos”.

 

No final do Evangelho:

“Ó Deus fiel, bendito és Tu pelas palavras de esperança que nos deste em Jesus, porque elas permitem-nos erguer a cabeça, mesmo nos momentos menos felizes.

Nós Te pedimos: que o vosso Espírito nos mantenha vigilantes, numa oração perseverante, para que possamos estar firmes na presença de Jesus, teu Filho, e ressuscitar com Ele, quando vier com grande poder e glória”.

5. BILHETE DE EVANGELHO.

O sofrimento, as preocupações, o medo do futuro, por vezes esmagam-nos e acabamos por baixar os braços.

“Erguei-vos!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar os que se mantêm de pé, prontos a pôr-se a caminho para construir com Deus um futuro melhor. O medo faz baixar a cabeça; vive-se então no momento presente, com medo dos golpes que será necessário ainda suportar.

“Levantai a cabeça!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que olham no horizonte Aquele que vem para nos salvar. A fadiga acaba por adormecer, sem dúvida porque não se espera mais nada e não se quer mais lutar.

“Tende cuidado convosco e vigiai!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que permanecem atentos aos sinais que Deus não cessa de manifestar. A falta de confiança destrói a relação, sem se saber do que falar.

“Orai em todo o tempo”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que entram em diálogo com Deus. A esperança nunca é passiva. Para esperar é preciso erguer-se, levantar a cabeça, estar atento e vigiar, orar: tais são os verbos ativos que manifestam o que faz a grandeza do homem.

6. À ESCUTA DA PALAVRA.

Leitura do Livro de Jeremias: “Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá”. Palavra do Senhor!

Leitura do Evangelho: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo”. Palavra do Senhor!

Na mesma celebração, proclama-se como Palavra do Senhor duas afirmações tão afastadas uma da outra! Como resolver esta contradição? Primeiro, sendo realistas. O universo conhece transformações constantes, tremores de terra, erupções vulcânicas, tsunamis, meteoritos… A sol e as estrelas, um dia, apagar-se-ão. No fundo, Jesus, com os conhecimentos e a mentalidade da sua época, chama a nossa atenção para essa realidade: o nosso mundo, um dia, acabará. Não somente o “nosso” mundo, mas primeiro o “meu” próprio mundo, no dia da minha morte. Jesus convida-nos a não esquecer o fim de todas as coisas. Diz-nos: “Vigiai”. Vigiai para que não vos instaleis neste tempo como se ele fosse durar sempre! Mas aí, no coração da nossa condição mortal, Deus diz-nos uma palavra que não passará. Esta Palavra é o próprio Jesus.

Começamos hoje um novo ciclo litúrgico. Mas não é um ciclo fechado sobre si mesmo. Cada ano que passa aproxima-nos do nosso fim terrestre, mas é-nos dado também como o tempo durante o qual Jesus vem visitar-nos, dar-nos a sua presença de Ressuscitado. Segundo a bela palavra de Jeremias, oferece-nos a nós como “um rebento de justiça”, como a “promessa de felicidade” que se realizará em plenitude no fim dos tempos. Desde agora, está em ação no segredo dos corações, como o poder da vida que, secretamente, constrói um novo ser no seio materno. “Vigiai e orai em todo o tempo”, a fim de estardes de pé no Dia da sua Vinda na plenitude da Luz.

7. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística IV. É a mais adaptada para o início do Advento, porque recapitula a história da salvação e a obra de Cristo: a história dos homens é uma “história santa”.

8. PALAVRAS PARA O CAMINHO…

Na segunda leitura, Paulo lança-nos um forte apelo: “Irmãos, o Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos”. Ao longo da próxima semana, procuremos ir ao encontro de alguém que já não tem força para esperar: esperar um trabalho, esperar uma saúde melhor, esperar uma reconciliação… Que lhe vamos dizer? O Advento é o tempo propício para ajudar a erguer-se de novo, o tempo de voltar a dar gosto à vida que germina…

Uma palavra de amor para cada dia… Porque Jesus nos pede para “orar em todo o tempo”, porque não experimentar agradar a Deus, nosso Pai, dizendo-lhe mais especialmente o nosso amor filial em cada dia deste tempo do Advento? Bastam alguns minutos, mas pode-se também de modo mais prolongado cuidar deste tempo privilegiado.

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

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