07º Domingo do Tempo Comum – Ano C [atualizado]
23 de Fevereiro, 2025
ANO C
7.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 7.º Domingo do Tempo Comum
A liturgia deste domingo desafia-nos a pôr de lado a nossa velha lógica retributiva do “olho por olho, dente por dente”, as nossas contas de mais e de menos para classificarmos os nossos irmãos e as suas ações, e a substituir tudo isso pela lógica do amor. Só assim seremos verdadeiramente filhos do nosso Pai que está no céu.
A primeira leitura apresenta-nos David, o homem de coração magnânimo. Tendo a possibilidade de eliminar Saul, o inimigo que o perseguia para o matar, David decidiu não erguer a mão contra o “ungido do Senhor”. David acreditava que a vida pertence a Deus; e só Deus tem o direito de tirar a vida a alguém.
No Evangelho Jesus define os traços fundamentais da identidade do verdadeiro discípulo. De acordo com Jesus, o “amor” – o amor gratuito, incondicional, ilimitado, sem fronteiras – está no centro dessa identidade. A grande razão pela qual Jesus convida os discípulos a perdoar, a amar os inimigos, a rezar pelos violentos e os maus, é o facto de serem filhos de um Deus que é amor. Os filhos de Deus são chamados a mostrar ao mundo, com a sua forma de viver e de amar, a bondade, a ternura e a misericórdia de Deus.
Na segunda leitura Paulo de Tarso convida-nos a encararmos a morte física como a passagem para uma nova vida, ao lado de Deus, onde continuaremos a ser nós próprios, mas sem os limites que a materialidade do nosso corpo nos impõe. Estamos destinados à comunhão com Deus, a sentarmo-nos todos à mesa do Pai. Se esse é o nosso destino final, fará sentido odiarmos os nossos irmãos enquanto andamos na terra, a caminho da casa do Pai?
LEITURA I – 1 Samuel 26, 2.7-9.12-13.22-23
Naqueles dias,
Saul, rei de Israel, pôs-se a caminho
e desceu ao deserto de Zif
com três mil homens escolhidos de Israel,
para irem em busca de David no deserto.
David e Abisaí penetraram de noite no meio das tropas:
Saul estava deitado a dormir no acampamento,
com a lança cravada na terra à sua cabeceira;
Abner e a sua gente dormia à volta dele.
Então Abisaí disse a David:
«Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo.
Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança
e não terei de o atingir segunda vez».
Mas David respondeu a Abisaí:
«Não o mates.
Quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor
e ficar impune?»
David levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil
e os dois foram-se embora.
Ninguém viu, ninguém soube, ninguém acordou.
Todos dormiam, por causa do sono profundo
que o Senhor tinha feito cair sobre eles.
David passou ao lado oposto
e ficou ao longe, no cimo do monte,
de sorte que uma grande distância os separava.
Então David exclamou:
«Aqui está a lança do rei.
Um dos servos venha buscá-la.
O Senhor retribuirá a cada um segundo a sua justiça e fidelidade.
Ele entregou-te hoje nas minhas mãos
e eu não quis atentar contra o ungido do Senhor».
CONTEXTO
O Livro de Samuel (dividido em duas partes – 1 Samuel e 2 Samuel) situa-nos no período histórico que vai de meados do séc. XI a.C. até ao final do reinado de David (972 a.C.).
Na primeira parte da obra (1 Sm 1,1 – 7,17), os autores deuteronomistas apresentam-nos diversas tradições referentes ao período pré-monárquico. É o tempo da instalação e da consolidação das tribos na terra de Canaan. É uma época de escassa consciência unitária, em que as diversas tribos vão fortalecendo laços, criando alianças defensivas para resistir aos inimigos cananeus, assentando as bases da fé monoteísta à volta de um Deus chamado Javé. As figuras de referência das tribos são os “juízes”, pequenos líderes locais encarregados de administrar a justiça no tribunal, mas que podiam assumir outras funções de liderança e conduzir o exército das tribos nas guerras contra os cananeus.
Na segunda parte do livro de Samuel, narra-se o início da monarquia (1 Sm 8,1 – 15,35). Dado que as instituições tribais se revelavam desadequadas para responder aos novos desafios da história, nomeadamente à pressão militar exercida pelos filisteus, os líderes tribais quiseram experimentar o modelo monárquico. Fala-se na eleição do rei Saul e nos seus feitos. Contudo, essa primeira experiência da monarquia terminou de forma trágica, quando Saúl e o seu filho Jónatas morreram em luta contra os filisteus.
Na terceira parte do livro de Samuel descreve-se a ascensão de David ao trono (1 Sm 16,1 – 2 Sm 5,25). É o tempo da consolidação da monarquia. Com David, pela primeira vez as doze tribos do Povo de Deus integram uma unidade política, sob a autoridade de um rei.
Na quarta parte do livro de Samuel, os autores deuteronomistas apresentam um conjunto de tradições sobre a realeza davídica (2 Sm 6,1 – 24,25), incluindo o longo e conturbado processo de sucessão de David.
O texto que a liturgia deste sétimo domingo comum nos propõe como primeira leitura integra a terceira parte do livro de Samuel, a que apresenta. Refere um episódio que precede a chegada de David ao poder. Escolhido por Deus, mas perseguido pelo ciumento rei Saul, David tem de fugir para salvar a sua vida, enquanto espera que se cumpram os desígnios de Deus. Saul tem notícias de que David está nos arredores da cidade de Zif (uma pequena cidade situada nas franjas do deserto de Judá, a cerca de cinco quilómetros a sudeste de Hebron) e dirige-se para lá com o seu exército. Acampa nos arredores da cidade. Aproveitando a noite, David e um dos seus guerreiros (Abisai) penetram no acampamento do exército de Saul, sem serem detetados, e encontram o rei a dormir. Como é que David encara a oportunidade de se livrar, definitivamente, da perseguição que o seu inimigo lhe move? Aceitará vingar-se? A história passa-se por volta de 1015 a.C., pouco antes da morte de Saul às mãos dos filisteus.
MENSAGEM
Abisai, o guerreiro que acompanha David na incursão noturna pelo acampamento de Saul, pede a David que o autorize a matar o rei, adormecido e indefeso: “Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo. Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança e não terei de o atingir segunda vez” (vers. 8).
Abisai acredita que a violência é a maneira adequada de lidar com a maldade. A sua lógica é a da velha moral mesquinha do “olho por olho, dente por dente”: Saul persegue David para o matar; David deve, à primeira oportunidade, responder na mesma moeda. Ora, a oportunidade de David está ali, naquele momento em que a vida de Saul está nas suas mãos. O perdão, a indulgência, não entram em linha de conta. Esta é a perspetiva de Abisai.
David não sente as coisas da mesma maneira. Por isso diz a Abisai: “Não o mates. Quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune?” (vers. 9). David reconhece que a violência não é a solução que Deus propõe para parar a agressão. Acredita que ninguém tem o direito de tirar a vida a outra pessoa, mesmo que se trate de um inimigo.
De resto, o autor deteronomista confirmará, mais à frente (num desenvolvimento que o texto litúrgico que nos é proposto neste domingo não conservou) que o perdão é mais eficaz do que a agressão quando se trata de desarmar o violento. Pouco depois Saul, ao saber que David lhe tinha respeitado a vida, reconhece que tem estado a proceder mal e decide assumir uma atitude diferente: “Fiz mal! Vai, meu filho David, não voltarei a fazer-te mal, pois neste dia consideraste preciosa a minha vida. Procedi insensatamente, cometi um grandíssimo pecado” (1 Sm 26,21). O perdão transforma os corações; a violência apenas perpetua o ódio e a maldade.
Ao contarem esta história sobre a bondade de David, os teólogos deuteronomistas pretendem oferecer aos crentes de todas as épocas uma catequese sobre o sentido e a eficácia do perdão. David é, nesta história, o modelo do homem de coração magnânimo, que pode vingar-se do agressor, mas não o faz, pois sabe que a vida de qualquer pessoa – e ainda mais a de alguém que é o “ungido de Deus” – é sagrada e inviolável. É notável que, mais de mil anos antes de Cristo, numa época de grande brutalidade, a catequese de Israel ensine que o perdão é a única saída para a violência; é extraordinário que, num tempo em que a vida humana parecia valer tão pouco, se ensine que a vida de uma pessoa – mesmo que seja a de um agressor – pertence só a Deus e que só Deus tem direito sobre ela.
INTERPELAÇÕES
- A história dos homens está profundamente marcada pela violência. Pensa-se muitas vezes que a violência é a forma mais eficaz para resolver as diferenças e os conflitos; considera-se, por outro lado, que só recorrendo à violência é possível travar o aventureirismo dos agressores de serviço, empenhados em reescrever em seu favor a história do mundo. Para onde nos tem levado esta lógica? A história recente conheceu duas guerras mundiais que se saldaram em muitos milhões de mortos e numa destruição que deixou marcas por toda a terra… Mas, apesar das lições da história, não mudamos muito a nossa lógica. Em pleno séc. XXI continuamos a alimentar conflitos e guerras desumanas, numa espiral de violência e ódio que passa de geração em geração e parece não ter fim. Por cima de tudo isto, paira o espectro de um holocausto nuclear que pode acabar com a civilização e a vida na terra. Mergulhados neste cenário, continuamos a acreditar que a violência é o caminho para fazer nascer um mundo mais livre, mais justo e mais humano? Não será a hora de escolhermos outros caminhos para resolver as diferenças e os conflitos de interesses que separam os povos?
- A mesma reflexão deve ser aplicada à nossa vida pessoal… Lidamos a cada passo com pessoas com quem estamos em desacordo. Muitas vezes esse desacordo ultrapassa-se através do diálogo civilizado ou simplesmente pela aceitação das diferenças. Mas, algumas vezes, o desacordo torna-se conflito aberto, discussão agressiva, talvez mesmo violência de palavras e de gestos. Isto pode acontecer até no espaço da nossa convivência familiar e envolver pessoas que amamos profundamente. Frequentemente a agressividade que imprimimos às palavras e aos gestos deixa feridas profundas, difíceis de curar. Posicionamo-nos numa espiral de intransigência e de orgulho ferido que nos deixa num beco sem saída e que mina as relações. Como é que lidamos com aqueles que estão em desacordo connosco? Como é que resolvemos as diferenças que nos separam? Deixamo-nos cegar pelo orgulho e procuramos vencer a todo o custo, mesmo humilhando ou magoando a pessoa com quem entramos em conflito? A nossa lógica, quando nos sentimos ameaçados e provocados, é a do “olho por olho, dente por dente”, ou é a lógica do perdão, da reconciliação, do amor?
- A sociedade contemporânea tem mecanismos legais para lidar com aqueles que atuam com agressividade, que usam a violência para garantir os seus interesses próprios ou para alterar uma ordem social que se recusam a aceitar. Esses mecanismos legais que protegem a ordem estabelecida serão sempre proporcionais e equilibrados? A sociedade terá o direito de tirar legalmente a vida a alguém para proteger a ordem ou para vingar uma falta, seja ela qual for? À luz da Palavra de Deus que neste domingo somos convidados a escutar, podemos aceitar que a pena de morte seja uma medida adequada para lidar com a violência e a agressividade?
- David recusa-se a aceitar o assassínio de Saul, pois ele, independentemente das suas ações, é o “ungido de Deus”. Ninguém, a não ser Deus, tem o direito de tirar a vida a alguém. Cada homem e cada mulher é um “ungido de Deus” e deve ser respeitado na sua vida, nos seus direitos e na sua dignidade, desde que nasce até que chegue o momento de entregar a sua vida ao Deus que o criou. Hoje, apesar de todas as solenes declarações sobre direitos humanos, temos facilidade em menosprezar a vida e a dignidade das pessoas. Quando privamos alguém de vida digna, estaremos a respeitar o projeto de Deus? Quando aprovamos leis que banalizam a morte, estaremos a respeitar o projeto de Deus?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103)
Refrão 1: O Senhor é clemente e cheio de compaixão.
Refrão 2: Senhor, sois um Deus clemente e compassivo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades;
salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia.
O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade;
não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas.
Como o Oriente dista do Ocidente,
assim Ele afasta de nós os nossos pecados;
como um pai se compadece dos seus filhos,
assim o Senhor Se compadece dos que O temem.
LEITURA II – 1 Coríntios 15, 45-49
Irmãos:
O primeiro homem, Adão, foi criado como um ser vivo;
o último Adão tornou-se um espírito que dá vida.
O primeiro não foi o espiritual, mas o natural;
depois é que veio o espiritual.
O primeiro homem, tirado da terra, é terreno;
o segundo homem veio do Céu.
O homem que veio da terra
é o modelo dos homens terrenos;
O homem que veio do Céu
é o modelo dos homens celestes.
E assim como trouxemos em nós a imagem do homem terreno,
procuremos também trazer em nós a imagem do homem celeste.
CONTEXTO
Não foi fácil a aclimatação do cristianismo à realidade cultural e religiosa do mundo grego. A brilhante cultura grega funcionava segundo padrões que, em muitos casos, estavam bem distantes da mentalidade semita e dos valores do Evangelho de Jesus. A primeira carta de Paulo aos coríntios é certamente o texto neotestamentário onde o confronto entre os valores cristãos e os valores helénicos é mais notório.
A questão da ressurreição era uma das que levantava sérias dúvidas aos coríntios. Para a cultura judaica, a questão da ressurreição dos mortos não era especialmente problemática, pois considerava-se o ser humano como um todo indivisível; mas para a cultura grega, fortemente influenciada por filosofias dualistas (como a filosofia de Platão, por esta altura muito em voga) que viam no corpo uma realidade negativa e na alma uma realidade ideal e nobre, a ressurreição do homem integral era um absurdo. Como é que o corpo, realidade material que aprisionava a alma e a impedia de subir ao mundo ideal, poderia seguir a alma quando ela se elevasse ao mundo espiritual?
Paulo, questionado sobre esta problemática, apresenta a ressurreição dos mortos como uma das verdades fundamentais da fé cristã. Começa por lembrar aos coríntios a fé que lhes anunciou e que eles aceitaram; ora, no centro dessa fé está a ressurreição de Cristo, realidade já prevista nas Escrituras, mas que foi realmente testemunhada por Cefas, pelos Doze, por “mais de quinhentos irmãos” e pelo próprio Paulo (cf. 1Cor 15,1-11). Ora, se Cristo ressuscitou, também nós havemos de ressuscitar: a ressurreição de Cristo garante a ressurreição de todos aqueles que vivem em Cristo e participam da vida de Cristo (cf. 1Cor 15,12-34). Outra questão é a do “modo” como ressuscitaremos: “como ressuscitam os mortos? Com que corpo regressam?” (1Cor 15,35). Paulo evitando as representações extravagantes e algo folclóricas do judaísmo – que falavam da ressurreição como uma recuperação do corpo e da vida que cada um tinha enquanto estava na terra – tenta responder a estas questões (cf. 1Cor 15,35-53).
MENSAGEM
Na base da reflexão de Paulo está a convicção da profunda transformação que a passagem da morte à ressurreição implica. A imagem da semente que morre na terra e reaparece como planta serve a Paulo para explicar o processo de passagem da morte à ressurreição (cf. 1Cor 15,35-44): os mortos serão objeto de uma radical transformação para chegar ao estado de ressuscitados. Não se pode falar, sem mais, de uma simples continuidade entre o corpo terrestre e o corpo ressuscitado. Ambos são corpos, mas as suas caraterísticas são claramente distintas, opostas até. Semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual” (1Cor 15,42-44a).
“Se há um corpo terreno, também há um corpo espiritual” (1Cor 15,44b). Para iluminar esta antítese, Paulo põe frente a frente a figura do “primeiro Adão” e a do “segundo Adão”. O “primeiro Adão”, tirado do barro, homem terreno, é o modelo da nossa humanidade enquanto caminhamos na terra; e está destinado à morte. O segundo Adão, Cristo ressuscitado, vivificado pelo Espírito, é um “corpo espiritual” e não está destinado à morte. Os crentes, incorporados pelo batismo em Cristo, vivificados também pelo Espírito, identificar-se-ão com Cristo ressuscitado e tornar-se-ão, como Ele, um “corpo espiritual”. É esse “corpo espiritual”, o ser humano total, mas vivificado e transformado pelo Espírito, que está destinado à vida junto de Deus. O que é esse “corpo espiritual”? Paulo não o explica em explicações; mas, na tradição bíblica, “espírito” não é sinónimo de imaterialidade, mas sim de força, de vitalidade, de poder, de criatividade, de novidade.
Portanto, falar da nossa ressurreição é falar desse estado em que seremos um “corpo espiritual”, à imagem de Cristo ressuscitado. Nesse “corpo espiritual” estará presente o homem inteiro, dotado de novas qualidades – as qualidades do Homem Novo.
INTERPELAÇÕES
- De acordo com Paulo, o autor do texto da Carta aos Coríntios que hoje lemos, a ressurreição deve ser encarada como a passagem para uma nova vida, onde continuaremos a ser nós próprios, mas sem os limites que a materialidade do nosso corpo nos impõe. Será a vida em plenitude ou, como diz Karl Rahner, “a transposição no modo de plenitude daquilo que agora vivemos no modo de deficiência”. A morte é o fim da vida; mas fim entendido como meta alcançada, como plenitude atingida, como nascimento para um mundo infinito, como termo final do processo de hominização, como realização total da utopia da vida plena, como mergulho definitivo no horizonte infinito de Deus. Vivemos conscientes de que “a vida não é aqui” e que o melhor – a nossa plena realização, a nossa identificação total com o Homem novo, o encontro com a felicidade sem fim – está para vir?
- Encarar a morte física como o momento do encontro com a vida plena, permite-nos ver cada passo que damos na terra a uma nova luz. Ajuda-nos a ver as realidades deste mundo como não definitivas; faz-nos apreciar as coisas bonitas que encontramos na terra sem as absolutizarmos; liberta-nos do medo que paralisa, que nos impede de agir e de nos comprometermos; dá-nos coragem para enfrentar as forças de morte que oprimem os homens e escurecem o mundo; ilumina cada passo do nosso caminho com as cores da alegria, da harmonia, da serenidade e da paz… A certeza da ressurreição é para nós fonte de esperança?
- A nossa identificação com Cristo começa no batismo e continua depois, pela vida fora, nesse caminho de discípulos que somos chamados a percorrer atrás de Jesus. À medida que caminhamos e nos identificamos com Jesus, vai nascendo esse “homem espiritual” de que Paulo de Tarso fala e que irromperá definitivamente quando o nosso caminho nesta terra terminar. O nosso caminho aqui na terra é um caminho de identificação com Jesus? Caminhamos com Ele, escutamos e acolhemos as suas indicações, assumimos o seu estilo de vida, aprendemos com Ele a amar até ao extremo?
ALELUIA – João 13, 24
Aleluia. Aleluia.
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.
EVANGELHO – Lucas 6,27-38
Naquele tempo,
Jesus falou aos seus discípulos, dizendo:
«Digo-vos a vós que Me escutais:
Amai os vossos inimigos,
fazei bem aos que vos odeiam;
abençoai os que vos amaldiçoam,
orai por aqueles que vos injuriam.
A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra;
e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica.
Dá a todo aquele que te pedir
e ao que levar o que é teu, não o reclames.
Como quereis que os outros vos façam,
fazei-lho vós também.
Se amais aqueles que vos amam,
que agradecimento mereceis?
Também os pecadores amam aqueles que os amam.
Se fazeis bem aos que vos fazem bem,
que agradecimento mereceis?
Também os pecadores fazem o mesmo.
E se emprestais àqueles de quem esperais receber,
que agradecimento mereceis?
Também os pecadores emprestam aos pecadores,
a fim de receberem outro tanto.
Vós, porém, amai os vossos inimigos,
fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca.
Então será grande a vossa recompensa
e sereis filhos do Altíssimo,
que é bom até para os ingratos e os maus.
Sede misericordiosos,
como o vosso Pai é misericordioso.
Não julgueis e não sereis julgados.
Não condeneis e não sereis condenados.
Perdoai e sereis perdoados.
Dai e dar-se-vos-á:
deitar-vos-ão no regaço uma boa medida,
calcada, sacudida, a transbordar.
A medida que usardes com os outros
será usada também convosco».
CONTEXTO
Jesus tinha passado a noite em oração num monte não identificado da Galileia: Ele falava sempre com o Pai antes de tomar decisões importantes. Depois de o dia nascer, tinha reunido os discípulos e escolhido Doze de entre eles. Chamara-os “apóstolos” (cf. Lc 6,12-16), que quer dizer “enviados”. Era o grupo dos mais próximos de Jesus, dos que se identificavam mais com o projeto do Reino. Eles representavam o novo Povo de Deus, a comunidade da nova Aliança.
Descendo do monte, acompanhado pelos discípulos, Jesus tinha encontrado, à sua espera, “uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sídon, que acorrera para o ouvir e ser curada dos seus males” (Lc 6,17-18). Era gente que desejava ardentemente conhecer a proposta que Jesus trazia. Os discípulos também estavam ali. Dirigindo-se a todos, Jesus pronunciou uma longa “instrução” (cf. Lc 6,20-49). Nela definia o caminho que deviam seguir todos os que estavam interessados em fazer parte da comunidade do Reino de Deus. Essa “instrução” ficou conhecida como o “sermão da planície”.
O texto que a liturgia deste sétimo domingo comum nos convida a escutar como Evangelho, é o coração do “sermão da planície”. Define os traços fundamentais da identidade do verdadeiro discípulo. De acordo com Jesus, o “amor” – o amor gratuito, incondicional, ilimitado, sem fronteiras – está no centro dessa identidade.
MENSAGEM
Na primeira parte deste texto, a “instrução” de Jesus centra-se na exigência de amar os inimigos (vers. 27-36).
Recorrendo a quatro imperativos, Jesus diz aos seus discípulos como é que devem lidar com aqueles que são maus: “amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam” (vers. 27-28). São afirmações fortes e contundentes, que vão “contra a corrente” e subvertem a lógica que preside às nossas relações humanas. Como devemos escutá-las? São para ser levadas a sério? Devemos suprimi-las do Evangelho ou apagá-las da nossa consciência?
Na verdade, o Antigo Testamento já conhecia a exigência do amor ao próximo. O livro do Levítico pedia: “Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo” – Lv 19,18). Os sábios de Israel recomendavam dar de comer ao inimigo que tem fome e de dar de beber ao inimigo que tem sede para “o fazer corar de vergonha” (Pr 25,21). Mas, em geral, não se entendia o amor e o perdão dos inimigos numa perspetiva ilimitada e absoluta. O crente véterotestamentário poderia aceitar algum gesto ocasional de amor e de perdão dirigido a um adversário que pertencia ao mesmo grupo social, familiar ou religioso (cf. 1Sm 24,5-8; 26,8-12); mas não achava natural esbanjar o amor e o perdão com os inimigos que não faziam parte do mesmo povo ou da mesma raça (cf. Sl 35).
Jesus, nas mais diversas situações em que abordou esta questão, nunca deu a entender que o amor e o perdão deviam ser condicionados por qualquer tipo de barreiras. Para Jesus, é preciso simplesmente amar o próximo; e o próximo é, sem exceção, o outro (cf. Lc 10,29-37). Esse “outro” é também o que é inimigo, aquele que nos odeia, aquele que nos calunia e amaldiçoa, aquele que não pertence ao nosso povo e está separado de nós por ódios ancestrais. Independentemente da identidade, da família étnica, das razões de caráter histórico, das atitudes do “outro”, o discípulo de Jesus ama sem condições, sem desculpas, sem exceções.
É certamente neste âmbito que o “sermão da planície” nos coloca. Podemos imaginar a perplexidade daqueles que, naquele dia, escutaram aquelas palavras. Pareciam-lhes uma provocação, um “feixe” de exigências “impossíveis”. Mas Jesus, apostado em deixar bem claro o caminho que os seus discípulos eram chamados a percorrer, juntou ao que já tinha dito uma série de exemplos sobre a maneira concreta de viver esse amor sem limites nem condições: “a quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir e ao que levar o que é teu, não o reclames” (vers. 29-30).
Jesus está a pedir aos seus discípulos que assumam uma atitude passiva e colaborante perante a injustiça e a opressão? Não. Mas está a dizer-lhes que, quando confrontados com a maldade, não devem apenas evitar responder na mesma moeda, mas devem também fazer tudo o que estiver ao seu alcance para inverter a espiral de ódio e violência que destrói as relações e o próprio tecido social. O discípulo de Jesus não fica sem reagir, suportando num silêncio cobarde a maldade; mas não corta definitivamente as vias do diálogo e do entendimento. Mantém-se disponível para estender a mão ao agressor e para o recuperar. O amor transforma e reabilita; o ódio alimenta a fogueira do confronto e da violência.
A reflexão de Jesus desemboca numa “máxima” a que alguns chamam a “regra de ouro” da caridade cristã: “o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho vós também” (vers. 31). Não se trata da “esperteza saloia” de quem faz o bem na mira de ser “pago” com um bem semelhante. O foco da frase deve ser posto no bem do outro: em todas as circunstâncias, devemos tentar descobrir aquilo que é melhor para o outro. Ora, aquilo que consideramos bom para nós, também o será, com toda a certeza, bom para o outro. Assim já sabemos como proceder para com os nossos irmãos.
Como é que Jesus fundamenta esta “impossível” exigência de amor gratuito, sem condições e sem fronteiras? A razão fundamental que tem de levar os crentes a “amar os inimigos”, a “fazer o bem e emprestar sem nada esperar em troca”, é o facto de serem filhos de um Deus bom, de um Deus que ama todos sem exceção, mesmo os que são maus e ingratos. Os filhos parecem-se com o seu pai. Se Deus é misericordioso, os seus filhos também o devem ser. Têm de identificar-se com o Pai no amor e no perdão; têm de amar sem medida e sem condições; têm de dar testemunho no mundo do “ser” de Deus. O amor, o perdão, a misericórdia são os sinais identificadores dos verdadeiros filhos de Deus (vers. 35-36).
Na segunda parte do nosso texto, a temática do amor aos inimigos enlaça-se com a questão do julgamento e do perdão (vers. 37-38).
Uma vez mais Jesus lança mão de quatro imperativos para definir a atitude dos discípulos quanto à maneira de avaliar os outros e as ações que eles fazem: “Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á”. Repare-se como há uma espécie de gradação nas afirmações de Jesus: do não julgar, avança-se para o não condenar; do não condenar, avança-se para o perdoar; do perdoar, avança-se para a generosidade, para o dar sem medida. O caminho do discípulo é um caminho sempre a subir, sem retrocesso; é um avanço progressivo em direção ao amor.
Esse caminho está a cada passo balizado pelo amor de Deus. Ao ver que Deus não julga, não condena, perdoa sempre, oferece generosamente os seus dons, o crente aprende a fazer o mesmo em relação aos seus irmãos. É assim que vive a comunidade do Reino.
INTERPELAÇÕES
- Há vinte séculos que andamos a caminhar com Jesus. Há vinte séculos que andamos a escutar a sua proposta de um mundo mais humano e mais fraterno. Há vinte séculos que Jesus nos convida a colocar o amor no princípio, no meio e no fim de todas as nossas construções. Há vinte séculos que nos sentimos desafiados pelo seu mandamento de amar todos, sem exceção, incluindo os inimigos, os que nos odeiam, os que nos amaldiçoam, os que nos injuriam. Dizemo-nos “cristãos”, mas achamos que Jesus nos pede coisas impossíveis, impraticáveis e até mesmo perigosas. No fundo, não acreditamos em Jesus, não confiamos nas “soluções” que Ele propõe. Estamos convencidos de que as nossas soluções – que passam pela resposta musculada a quem pratica o mal, pela vingança contra aqueles que nos ofenderam, pelo castigo daqueles que praticam ações condenáveis, pela repressão daqueles que contestam as nossas certezas e seguranças – são as mais adequadas para tornar o mundo um lugar mais seguro, mais justo e mais feliz. Será assim? Onde nos têm levado as “soluções” que a nossa lógica humana considera mais eficazes? O mundo torna-se um lugar melhor quando respondemos à maldade com soluções de ódio e não com soluções de amor?
- O que é que significa amar os nossos inimigos? Somos obrigados a ser amigos de quem nos faz mal? Jesus exigirá que nos demos bem com os violentos, os injustos, os que nos agridem sem motivo? Amor e simpatia são coisas diferentes. A afinidade, o afeto, a empatia, a inclinação, a atração, não são fruto de uma decisão consciente, mas são algo que surge espontaneamente entre duas pessoas que se querem bem. Quando Jesus nos convida a amar os inimigos, está a pedir outra coisa: está a pedir que não nos deixemos vencer pelo ódio e pelo desejo de vingança, que não cortemos as pontes do diálogo e do entendimento, que não nos recusemos definitivamente a acolher a pessoa que nos magoou, que não evitemos dar o primeiro passo para ir ao encontro de quem errou, que não neguemos à outra pessoa a possibilidade de sair da sua triste situação e de começar uma vida nova… Seremos capazes de tratar o nosso irmão que errou com humanidade, sem o condenar definitivamente?
- Quando Jesus diz aos discípulos “a quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra, e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica”, estará a pedir que assumamos uma atitude passiva e conivente com as injustiças e arbitrariedades que sofremos ou que testemunhamos? Devemos simplesmente cruzar os braços e deixar que a lógica da violência e da maldade atuem no mundo e tomem conta dele? É claro que não. Ao dizer isso, o que Jesus está a pedir é que encontremos formas evangélicas de intervir para travar a injustiça, a violência, a agressividade. As soluções que alimentem a espiral da violência e da morte (o recurso às armas, a agressividade, o ódio, a mentira…) nunca serão respaldadas por Jesus; mas a passividade indiferente também não é a solução que Jesus preconiza para lidar com o mal. Como é que reagimos à violência e à maldade?
- O ódio, o desejo de vingança, a vontade de responder violentamente a quem nos agrediu, são “respostas” espontâneas diante da maldade que nos atinge ou que atinge os irmãos que caminham ao nosso lado. São sentimentos de que nem sempre podemos alhear-nos quando estamos feridos e magoados. Mas não podem ser sentimentos que guardamos, que alimentamos e que armazenamos por tempo indefinido. Se o fizermos, eles desgastam-nos, envenenam-nos lentamente, destroem o nosso equilíbrio e a nossa paz, impedem-nos de ultrapassar os momentos maus, de curar as feridas, de refazer a nossa vida. Tem de haver uma altura em que nos entregamos à lógica do amor e nos decidimos pelo perdão. O perdão regenera-nos e permite-nos continuar em frente, reinventando a nossa vida. O ódio, o ressentimento, a decisão de não perdoar a quem nos ofendeu são realidades que cultivamos e que marcam a nossa história de vida? Sentimo-nos bem com elas? Caminhamos em paz com esse peso sobre a nossa cabeça e sobre o nosso coração?
- Jesus pede-nos que não julguemos e não condenemos os nossos irmãos. No entanto, apresentamo-nos facilmente como juízes implacáveis que, sem terem todos os dados na mão, decidem quem é culpado, apontam o dedo, colocam rótulos, destroem vidas e reputações, decidem quem deve ser salvo e quem deve ser condenado. As redes sociais, os fóruns de discussão online, a praça pública, são muitas vezes os “tribunais” onde essa pseudo justiça é posta em prática, sem misericórdia. Temos o direito de proceder dessa forma? A “justiça” que aplicamos assim não será antes uma violenta injustiça?
- A grande, a suprema razão pela qual Jesus nos convida a perdoar, a amar quem nos odeia e insulta, é o facto de sermos filhos de um Deus que é amor. A cada instante fazemos a experiência da bondade, da misericórdia, da ternura de Deus. Refugiamo-nos em caminhos de autossuficiência, fazemos escolhas disparatadas, deixamos que o egoísmo tome conta da nossa vida; mas Deus está sempre ao nosso lado, como um pai cheio de amor, de braços abertos para nos acolher, para nos levar para a sua festa, para nos oferecer a possibilidade de começar tudo de novo. Poderemos, com a nossa intransigência, com a nossa intolerância, com a nossa rigidez, apresentarmo-nos ao mundo como filhos de um Deus que ama sem medida e sem condições? Que testemunho é que damos ao mundo do Deus misericordioso em quem acreditamos e de quem somos filhos?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 7.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 7.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. MOMENTO PENITENCIAL: O DEUS DA MISERICÓRDIA…
Neste domingo em que o Evangelho nos apresenta como modelo o Pai de misericórdia, o sacerdote poderá chamar a atenção para a fórmula que ele pronuncia no final do momento penitencial: “Deus todo-poderoso tenha compaixão…” Sem ser uma absolvição sacramental no sentido estrito, estas palavras oferecem o perdão de Deus a cada membro da assembleia. Isso permitirá ao sacerdote recordar que, se o recurso ao sacramento da reconciliação se impõe para as faltas graves, a Igreja dispõe de outros meios para levar o perdão de Deus aos cristãos que se reconhecem pecadores. O momento penitencial na Eucaristia é um desses momentos.
3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
“Deus de bondade, nós Te damos graças pela paciência e pelo respeito de que fez prova David para com Saul que o perseguia.
Nós Te pedimos pela nossa terra, invadida pelo ódio, pela mentalidade de vingança, pela inveja e pelo ciúme. Converte-nos e purifica os nossos corações e os nossos espíritos, para que sejamos construtores de paz e de reconciliação”.
No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pelo teu Filho Jesus, novo Adão, ser espiritual vindo de junto de Ti para nos dar a vida, a nós, os herdeiros do primeiro Adão, votados à terra e à morte.
Nós Te pedimos pelos nossos defuntos. Pelo batismo, Tu os recriaste à imagem do novo Adão, o Cristo. Associa-os à sua ressurreição”.
No final do Evangelho:
“Pai misericordioso, bom para os ingratos e os maus, bendito sejas pela revelação da tua bondade sem limites que Jesus nos faz pelo seu ensinamento e pelo seu comportamento.
Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos ajude a nos comportarmos como filhos e filhas dignos de Ti, Deus Altíssimo”.
4. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus não dá lições de filantropia, mas convida os seus interlocutores a erguer os olhos para Deus seu Pai, a fim de se tornarem semelhantes a Ele. Porque Deus é bom para com os ingratos e os maus, o homem deve procurar ser bom para com todos. Porque Deus é misericordioso, o homem é convidado a perdoar. Não é uma lição de moral, mas fundamentalmente um ato de fé do qual decorre um conjunto de comportamentos. Jesus, o Filho de Deus Altíssimo, veio tirar o homem de tudo aquilo que o pode afastar da semelhança com Deus, o pecado. Jesus é a perfeita imagem de Deus. Dirá mesmo: “Quem Me viu, viu o Pai”. As suas palavras são palavra de Deus, os seus gestos são gestos de Deus. O desafio está em procurarmos ser semelhantes a Jesus, ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito.
5. À ESCUTA DA PALAVRA.
É uma verdadeira ladainha de desesperança e de culpabilização. Ninguém pode obedecer a todos estes mandamentos de Jesus. Mas não podemos apagar estas palavras tão desconcertantes. O Senhor dá-nos uma luz: Jesus constata que mesmo os pecadores são capazes de agir bem uns para com os outros. Nem tudo está corrompido no ser humano. Já é bom amar os que nos amam, fazer bem aos que nos fazem bem. Mas aos olhos de Jesus, isso não basta. É preciso ir mais longe. Porquê? Porque somos filhos e filhas do Deus Altíssimo. Somos da família de Deus, que é bom para os ingratos e os maus. Então, somos convidados a imitar a maneira de agir do nosso Pai. Ele não ama apenas aqueles que O amam. Ama a todos, bons e maus. E mesmo quando os homens O colocam à margem da sua vida, Ele não deixa de os amar. Jesus, que é o Filho bem-amado, a perfeita imagem de Deus, conformou-Se à moral de seu Pai. Na cruz, rezou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Amou os seus inimigos. Nunca rejeitou ninguém. O que Jesus nos diz hoje não são normas culpabilizantes e impraticáveis. São convites, urgentes e exigentes, é verdade, para que manifestemos, pela nossa maneira de agir, que somos da família do nosso Pai dos céus. Cristãos, somos convidados a colocar a nossa vida na luz de Jesus e da sua palavra, a não nos contentarmos do que fazem os pecadores. É somente num estreito acompanhamento com Jesus que recebemos do Espírito a força de ir sempre mais além no caminho, rude, mas exaltante, do amor, como o de Jesus e do Pai.
6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
A Oração Eucarística IV celebra muito bem a infinita misericórdia do Deus da Aliança ao longo da história do mundo.
7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
No Evangelho deste domingo, Jesus convida-nos a amar como nos ama o Pai dos céus que é bom para os ingratos e os maus. Nesta semana, qual será a minha atitude para com determinado vizinho, colega, próximo… que me magoou ou feriu profundamente? Nesta semana, saberei permanecer no amor ao outro, quando tudo me pede para lhe responder na mesma moeda? Ao longo da semana, podemos retomar, de forma meditativa, o Evangelho deste domingo, pedindo a Deus mais sinceridade nas nossas atitudes e ações.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org