02º Domingo da Páscoa – Ano C [atualizado]

27 de Abril, 2025

ANO C

2.º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

Tema do 2.º Domingo do Tempo Pascal

A liturgia deste domingo continua a celebrar a Boa notícia da vitória de Jesus sobre a morte. Convida-nos especialmente a olhar para a comunidade nascida de Jesus. Garante-nos que Jesus está no meio dela, caminha com ela, dá-lhe a força para vencer as crises e os desafios que lhe dificultam a caminhada. É a partir da comunidade cristã que Jesus continua a oferecer ao mundo e aos homens, em cada passo da história, a sua proposta salvadora e libertadora.

O Evangelho apresenta a comunidade da Nova Aliança, nascida da atividade criadora e vivificadora de Jesus. É uma comunidade que se reúne à volta de Jesus ressuscitado, que recebe d’Ele Vida, que é animada pelo Seu Espírito e que dá testemunho no mundo da Vida nova de Deus. Quem quiser “ver” e “tocar” Jesus ressuscitado, deve procurá-l’O no meio dessa comunidade que d’Ele nasceu e que d’Ele vive.

A primeira leitura mostra-nos como a comunidade cristã de Jerusalém vivia e testemunhava a sua fé. A união, o amor fraterno, o estilo de vida daqueles homens e mulheres, suscitavam admiração, provocavam simpatia e levavam à adesão. A vida nova recebida de Jesus aparecia especialmente em gestos concretos de cura e de cuidado com os doentes e frágeis. Dessa forma, a comunidade continuava a obra libertadora de Jesus.

Na segunda leitura João, o profeta de Patmos, apresenta aos cristãos perseguidos a visão do “filho do homem”. Trata-se de Jesus ressuscitado, o princípio e o fim de todas as coisas, aquele que derrotou a morte e tudo o que a ela está ligado. Ele está com a sua Igreja e caminha com ela pelos caminhos da história. É n’Ele que a comunidade encontra a força para caminhar e para vencer as forças que se opõem à vida nova de Deus.

 

LEITURA I – Atos 5,12-16

Pelas mãos dos Apóstolos
realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo.
Unidos pelos mesmos sentimentos,
reuniam-se todos no Pórtico de Salomão;
nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles,
mas o povo enaltecia-os.
Cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé,
uma multidão de homens e mulheres,
de tal maneira que traziam os doentes para as ruas
e colocavam-nos em enxergas e em catres,
para que, à passagem de Pedro,
ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles.
Das cidades vizinhas de Jerusalém,
a multidão também acorria,
trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros
e todos eram curados.

 

CONTEXTO

O livro dos Atos dos Apóstolos, logo depois da introdução inicial (cf. At 1,1-11), oferece-nos um conjunto de histórias sobre a comunidade cristã de Jerusalém (cf. At 1,12-6,7). Mas o objetivo primordial de Lucas, o autor dos Atos, não é fornecer-nos um relato real e pormenorizado dos primeiros dias do cristianismo, após a ascensão de Jesus ao céu; o que ele pretende é propor-nos uma catequese sobre a forma como a Igreja de Jesus se deve estruturar e apresentar ao mundo. A comunidade cristã de Jerusalém é, de certo modo, a mãe e o modelo de todas as Igrejas. Lucas, ao falar dela, vai idealizá-la e “embelezá-la”, a fim de que ela funcione como exemplo para todas as Igrejas que depois irão surgir.

Nesses capítulos dedicados à apresentação da Igreja de Jerusalém Lucas insere, a certa altura, três breves sumários que põem em relevo dimensões particularmente importantes da vida eclesial. No primeiro desses sumários sublinha-se especialmente a unidade, a fidelidade à oração e ao ensino dos apóstolos, o espírito fraterno e o testemunho que a comunidade dava aos habitantes de Jerusalém (cf. At 2,42-47); no segundo, a ênfase é posta na partilha dos bens e na solidariedade dos membros da comunidade (cf. At 4,32-35); no terceiro (que é precisamente o que a liturgia deste domingo nos propõe como primeira leitura), realça-se a atividade curadora dos apóstolos, que despertava o interesse da cidade e atraía novos membros à comunidade (cf. At 5,12-16).

Para entendermos todo o alcance da reflexão de Lucas precisamos de ter em conta a situação das comunidades cristãs no final da década de 80 do primeiro século. O entusiasmo inicial dos cristãos estava um tanto diluído: Jesus ainda não tinha vindo para instaurar definitivamente o “Reino de Deus” e, em contrapartida, posicionavam-se no horizonte próximo as primeiras grandes perseguições. Muitos dos crentes tinham-se instalado numa fé “morna” e inconsequente. Havia desleixo, falta de entusiasmo, acomodação, divisão, conflitos e confusão (até porque começavam a aparecer falsos mestres, com doutrinas estranhas e pouco cristãs). Neste contexto, Lucas recorda o essencial da experiência cristã e traça o quadro daquilo que a comunidade deve ser e testemunhar.

 

MENSAGEM

Lucas enuncia, no início deste “sumário” o tema que pretende relevar: “pelas mãos dos apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo” (vers. 12a). Depois, passa a mostrar o testemunho que a comunidade cristã primitiva dava aos habitantes de Jerusalém.

Os cristãos de Jerusalém costumavam reunir-se no pórtico de Salomão, certamente para escutar o ensino dos apóstolos. Os outros, os que não faziam parte da comunidade cristã, enalteciam-nos e admiravam-nos; mas não se atreviam a juntar-se a eles (vers. 12b-13). Como é que as duas afirmações, aparentemente contraditórias, se podem entender? Lucas quer sugerir, provavelmente, que “os outros”, vendo o estilo de vida dos cristãos, reconheciam na comunidade nascida de Jesus algo que vinha de Deus e que era sinal de Deus. Esse reconhecimento infundia nos habitantes de Jerusalém um temor respeitoso, aquele temor que qualquer pessoa sente diante da presença de Deus. Com o passar do tempo, no entanto, o temor dava lugar à estima e a estima levava à adesão: “cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé, uma multidão de homens e mulheres” (vers. 14).

A adesão dos habitantes de Jerusalém à fé cristã era potenciada pelas curas que os apóstolos realizavam: “traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles” (vers. 15). Ao atribuir aos apóstolos esse poder curador, Lucas pretende dizer-nos que eles continuam a obra de Jesus, levando vida a todos aqueles que estão privados de vida. A mesma atividade salvadora e libertadora que Jesus desenvolveu em favor dos pobres, dos oprimidos e de outros sofredores é continuada agora no mundo pela sua Igreja. Um desenvolvimento especialmente original é a atribuição à “sombra” de Pedro de virtudes curativas (cf. At 5,15b). Tal coisa nunca foi afirmada acerca de Jesus. Significa que Pedro tinha mais poder do que Jesus? Não. Provavelmente é uma forma muito concreta de sugerir que nada é impossível àquele que se coloca na órbita de Jesus e recebe d’Ele a força para levar ao mundo a salvação de Deus.

Jesus tinha dito aos apóstolos, ao despedir-se deles, pouco antes de voltar para o Pai: “sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo” (At 1,8). Os apóstolos, fiéis ao mandato que receberam, dão testemunho, com os seus gestos, de Jesus ressuscitado e do seu projeto libertador para o mundo.

 

INTERPELAÇÕES

  • Em quase todos os relatos pós-pascais reafirma-se a ideia de que os discípulos de Jesus são, depois da morte/glorificação de Jesus, as testemunhas da sua ressurreição e do seu projeto no meio dos homens. Ora, esta tarefa não dizia apenas respeito à Igreja de Jerusalém. É uma tarefa que deve ser abraçada pelos discípulos de Jesus de todas as épocas, inclusive por nós. Somos hoje, em pleno séc. XXI, neste tempo difícil que nos calhou viver, as testemunhas de Jesus ressuscitado e da sua proposta salvadora. Num mundo ferido a cada passo por mecanismos de morte – a guerra, a injustiça, a mentira, a prepotência dos poderosos, a indiferença pela sorte dos mais frágeis, a marginalização dos “diferentes”, a destruição do planeta, o uso abusivo por alguns dos recursos que pertencem a todos – somos obrigados a dar testemunho de Jesus e da sua proposta do Reino de Deus. Nós, Igreja de Jesus, anunciamos ao mundo e testemunhamos com a forma como vivemos, tudo aquilo que Jesus nos ensinou com as suas palavras, com os seus gestos, com a sua vida? O que nos falta para sermos – como a comunidade primitiva – uma comunidade que testemunha Jesus ressuscitado?
  • Falando dos membros da comunidade cristã de Jerusalém, Lucas afirma que eles “reuniam-se todos, unidos pelos mesmos sentimentos”. A fé não é uma questão puramente individual, que cada um vive por si sem enquadramento comunitário; mas é uma realidade que se recebe, que se desenvolve, que se vive e que se celebra no contexto de uma comunidade. A Igreja de Jesus é um corpo – o Corpo de Cristo – formado por muitos membros, e onde cada um desempenha o seu papel no contexto do projeto que Deus confiou à comunidade do Reino de Deus. É no enquadramento e no diálogo comunitário que a nossa visão pessoal da fé, confrontada com visão dos outros, se purifica, se enriquece e se aproxima da verdade; é na partilha comunitária que vamos discernindo o projeto de Deus para o mundo e para a Igreja; é no apoio dos irmãos e irmãs que encontramos a força de caminhar sempre em frente, na fidelidade ao Evangelho de Jesus. O que significa para nós a comunidade cristã? Vivemos a nossa fé bem enquadrados na comunidade eclesial? Reunimo-nos comunitariamente, no “dia do Senhor”, para escutar a Palavra e para partilhar o pão de Jesus? Damos a nossa colaboração na comunidade cristã, a fim de que nela ecoe cada vez mais o testemunho de Jesus? Somos, na comunidade cristã, fatores de união, de comunhão, de unidade?
  • Lucas diz também, sobre os cristãos da comunidade de Jerusalém, que “o povo enaltecia-os”. A forma como viviam, os valores que os animavam, a forma como se davam uns com os outros, suscitavam aprovação e admiração. Aqueles homens e mulheres, depois de andarem na “escola de Jesus”, viviam de um jeito que interpelava e desafiava os seus concidadãos. Como é que os nossos contemporâneos veem hoje o nosso testemunho? Aquilo que fazemos suscita admiração e interesse à nossa volta? Somos uma luz que se acende na noite do mundo e que aponta no sentido de um mundo mais justo, mais fraterno, mais verdadeiro?
  • Lucas sublinha especialmente os “milagres” e “prodígios” que os apóstolos de Jesus faziam entre o povo. Os milagres não são, necessariamente, acontecimentos espantosos que subvertem as leis da natureza; mas são sinais – por vezes simples e banais – que mostram a presença libertadora e salvadora de Deus e que anunciam essa vida plena que Deus quer dar a todos os seus filhos. Naqueles gestos de bondade, de partilha, de serviço, de misericórdia, de cuidado para com os doentes, que os seguidores de Jesus faziam, os outros habitantes de Jerusalém viam acontecer a intervenção salvadora de Deus. Hoje, como ontem, os discípulos de Jesus têm como missão fazer “milagres”, quer dizer, fazer acontecer a salvação de Deus no mundo. Temos consciência disto e procuramos, com gestos concretos, anunciar que Jesus ressuscitou e continua a querer salvar os homens? Os nossos gestos são “sinais” de Deus e tornam palpável no mundo a salvação de Deus?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)

Refrão 1:
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.

Refrão 2:
Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
o seu amor é para sempre.

Refrão 3:
Aleluia.

Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.

A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.

Senhor, salvai os vossos servos,
Senhor, dai-nos a vitória.
Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
O Senhor é Deus
e fez brilhar sobre nós a sua luz.

 

LEITURA II – Apocalipse 1,9-11a.12-13.17-19

Eu, João,
vosso irmão e companheiro
nas tribulações, na realeza e na perseverança em Jesus,
estava na ilha de Patmos,
por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
No dia do Senhor fui movido pelo Espírito
e ouvi atrás de mim uma voz forte,
semelhante à da trombeta, que dizia:
«Escreve num livro o que vês
e envia-o às sete Igrejas».
Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava;
ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e,
no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem,
vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro.
Quando o vi, caí a seus pés como morto.
Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me:
«Não temas.
Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive.
Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos
e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos.
Escreve, pois, as coisas que viste,
tanto as presentes como as que hão de acontecer depois destas».

 

CONTEXTO

“Apocalipse” é uma palavra de origem grega que significa “manifestação de algo que está oculto”. O nosso “Livro do Apocalipse” – do qual é retirado o trecho da segunda leitura deste domingo – é um livro que se apresenta como uma “revelação” sobre “as coisas que brevemente devem acontecer” (Ap 1,1) e que um tal João, exilado na ilha de Patmos (uma pequena ilha do Mar Egeu) por causa da sua fé, tem por missão comunicar aos seus irmãos na fé. Essa “revelação” é endereçada a “sete igrejas” da província romana da Ásia (atual Turquia), às quais o autor se sentia especialmente ligado e cuja problemática conhecia bem.

Estamos na parte final do reinado do imperador Domiciano (à volta do ano 95). As comunidades cristãs da Ásia Menor vivem numa grave crise interna, resultante das heresias (como a dos nicolaítas, referida em Ap 2,6.15), da falta de entusiasmo, da tibieza, da indiferença, da acomodação. Por outro lado, a perseguição contra os cristãos, ordenada pelo imperador, tinha criado um clima de insegurança e de medo: muitos seguidores de Jesus eram condenados e assassinados e outros, temendo pelas suas vidas, abandonavam o Evangelho e passavam para o lado do império. Na comunidade dizia-se: “Jesus é o Senhor”; mas lá fora, quem mandava mesmo, como senhor todo-poderoso, era o imperador de Roma.

É neste contexto de crise, de perseguição, de medo e de martírio que vai ser escrito o Apocalipse. O objetivo do autor é levar os crentes a revitalizarem o seu compromisso com Jesus e a não perderem a esperança. Nesse sentido, o autor do livro começa por fazer um convite à conversão (cf. Ap 1-3), convidando as “sete igrejas” a corrigirem as suas opções erradas e a revitalizarem a sua fé; passa, depois, a apresentar uma leitura profética da história humana, que promete a vitória final de Deus e dos seus fiéis sobre as forças do mal (cf. Ap 4-22). Estes conteúdos são apresentados com o recurso sistemático a símbolos e imagens (como é típico da literatura apocalíptica), o que torna este livro estranho e difícil, mas, ao mesmo tempo, muito belo e interpelante.

O texto da segunda leitura de hoje pertence à primeira parte do livro (cf. Ap 1-3). Recorrendo à linguagem simbólica – pois é através dos símbolos que melhor se expressa a realidade do mistério – João apresenta-nos o Senhor da história, Aquele através de quem Deus revela aos homens o seu projeto.

 

MENSAGEM

Os cristãos, que todos os dias experimentam a perseguição que lhes é movida pelo imperador Domiciano, estão desanimados e sem esperança. Onde está Deus? Quem é que conduz o mundo e a história dos homens: Deus, ou o imperador de Roma? Acreditar em Jesus é fonte de vida ou de morte? Vale a pena permanecer fiel a Jesus e ao seu projeto, quando se pode pagar essa fidelidade com a própria vida?

Em resposta a tudo isto João, o profeta de Patmos, recorrendo a símbolos véterotestamentários, apresenta aos cristãos perseguidos a “visão do filho do homem” (o texto que a liturgia deste domingo nos propõe como segunda leitura não apresenta a descrição completa da visão: faltam os versículos 14-16).

Esse “filho do homem” tem uma aparência humana (vers. 13a), como o “filho do homem” da visão de Dn 7,13. Está no meio de sete candelabros (vers. 12). Os sete candelabros evocam a totalidade da Igreja nascida de Jesus (citam-se concretamente sete igrejas da Ásia Menor, mas o número sete significa “totalidade”, “plenitude”): as comunidades cristãs espalhadas pelo império, perseguidas por Domiciano, não estão sozinhas, abandonadas à sua sorte; Cristo ressuscitado está no meio delas e caminha com elas.

O “filho do homem” está vestido com “uma túnica comprida” (vers. 13b): a túnica evoca a sua dignidade sacerdotal, pois Ele é o sacerdote por excelência, o verdadeiro intermediário entre Deus e os homens. Também está cingido “no peito com um cinto de ouro” (vers. 13c): o ouro indica que n’Ele reside a realeza e a autoridade sobre a história e sobre o mundo. A sua cabeça e os seus cabelos são brancos, como a brancura da lã e da neve” (vers. 14a): o branco é a cor de Deus e os cabelos brancos simbolizam a eternidade. Os seus olhos são “como uma chama de fogo” (vers. 14b): eles tudo veem, tudo conhecem, a todos questionam. Os seus pés assemelham-se “ao bronze incandescente numa forja” (vers. 15a): todo Ele é firmeza e estabilidade e nenhum poder do mundo poderá derrubá-lo. A sua voz é “como o rumor de águas caudalosas (vers. 15b): ouve-se por todo o lado e, como a água corrente, gera vida em abundância.

O “filho do homem” tem “na mão direita sete estrelas (vers. 16a): a Igreja está na mão d’Ele e pertence-lhe; por isso, os cristãos podem entregar-se confiadamente nas suas mãos. Da sua boca sai “uma espada afiada de dois gumes” (vers. 16b): a sua Palavra penetra os corações de forma irresistível e obriga todos, diante dela, a tomar posição. O seu rosto “é como o sol resplandecente em toda a sua força” (vers. 16c): n’Ele brilha a luz de Deus, uma luz intensa que os homens não podem contemplar diretamente.

Desprende-se deste “filho do homem” uma inegável imagem de poder, de majestade, de omnipotência. Consciente de que está diante de um ser divino, o profeta de Patmos cai por terra, “como morto” (vers. 17a). Mas o “filho do homem” convida-o a não ter medo e confirma-lhe que é o Cristo do mistério pascal (aquele que esteve morto, voltou à vida e derrotou a morte – cf. vers. 18). A história começa e acaba n’Ele (“Eu sou o primeiro e o último” – vers. 17b). Se Ele é o Senhor da vida, o que venceu a morte, a injustiça e o pecado, os cristãos nada terão a temer.

Ao profeta de Patmos, Cristo ressuscitado confia a missão profética de dar testemunho (vers. 19). Envia-o às igrejas a anunciar uma mensagem de esperança que permita enfrentar o medo e a perseguição. João, o profeta, é chamado para anunciar a todos os cristãos que Jesus ressuscitado está vivo, que caminha no meio da sua Igreja e que, com Ele, nenhum mal lhes acontecerá: Ele é o Senhor que preside à história e que é mais poderoso do que todos os reis e imperadores.

 

INTERPELAÇÕES

  • Os cristãos do final do primeiro século, perseguidos pelo império, tiveram de fazer escolhas decisivas. De um lado estava Domiciano, o seu domínio tirânico sobre Roma e sobre o mundo, os seus guardas pretorianos, os seus tribunais manipulados, os seus éditos e leis; do outro estava Jesus, a cruz, a perseguição, o martírio, o aparente fracasso. Era necessário escolher; e essa escolha não era inócua: decidia, por vezes, entre viver ou morrer. Muitos escolheram Jesus. Também nós temos, a cada passo, de fazer escolhas decisivas. Talvez nem sempre sejam tão dramáticas como aquelas que os cristãos do tempo de Domiciano tiveram de fazer; mas não deixam de ser escolhas que decidem o sentido da nossa vida. Hoje, como ontem, Jesus continua num dos pratos da balança. Que lugar ocupa Ele nas nossas escolhas? Quando se trata de escolher as nossas prioridades, os valores que abraçamos e que dão conteúdo à nossa vida, quem escutamos? A quem prestamos culto: aos influencers de serviço, aos valores da moda, aos interesses instalados, aos poderes do mundo, ou a Cristo?
  • Há um elemento que, frequentemente, nos impede de fazer as opções mais corretas: o medo. Cedemos ao opressor e ao injusto porque temos medo de ser maltratados, de sofrer ou de morrer; aceitamos os valores que nos são impostos porque temos medo de ser ridicularizados ou condenados; remetemo-nos ao silêncio e deixamos que o mundo se construa de uma forma que não aprovamos porque temos medo de enfrentar aqueles que se julgam donos do mundo… O medo paralisa-nos, impede-nos de ter voz ativa na construção da história, impede-nos de viver de forma acertada e construtiva, limita os nossos horizontes, faz-nos desistir dos nossos sonhos mais belos… Temos consciência de que nada temos a temer porque Cristo, o Senhor da história, o primeiro e o último, aquele que esteve morto mas venceu a morte, caminha connosco?
  • João, o profeta de Patmos, assumiu a missão de ser, no meio dos seus irmãos assustados e desalentados, uma testemunha da esperança. Convicto de que nenhum poder humano – nem sequer o todo-poderoso imperador de Roma – poderia derrotar o “filho do homem”, João tornou-se o arauto da vitória de Deus. Neste pobre mundo vacilante e imperfeito onde cumprimos a nossa existência, precisamos de profetas que ensinem os homens a olhar para lá do horizonte imediato que os nossos olhos enxergam, para esse além onde já está a desenhar-se um mundo novo. Aceitamos ser, neste mundo onde tantas vezes se escreve a história com cores sombrias, profetas da esperança, testemunhas do Ressuscitado, arautos da vida nova que Deus quer oferecer aos seus filhos?

 

ALELUIA – João 20,19

Aleluia. Aleluia.

Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto».

 

EVANGELHO – João 20,19-31

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,

estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos:
«Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes:
«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado,
não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa
e Tomé com eles.
Veio Jesus, estando as portas fechadas,
apresentou-Se no meio deles e disse:
«A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé:
«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe:
«Meu Senhor e meu Deus!»
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos
para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

 

CONTEXTO

Jesus foi crucificado na manhã de uma sexta-feira – dia da “preparação” da Páscoa – e morreu pelas três horas da tarde desse dia. Já depois de morto, um soldado trespassou-lhe o coração com uma lança; e do coração aberto de Jesus saiu sangue e água (cf. Jo 19,31-37). O evangelista João vê no sangue que sai do lado aberto de Jesus o sinal do seu amor dado até ao extremo (cf. Jo 13,1): do amor do pastor que dá a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10,11), do amor do amigo que dá a vida pelos seus amigos (cf. Jo 15,13); e vê na água que sai do coração trespassado de Jesus o sinal do Espírito (cf. Jo 3,5), desse Espírito que Jesus “entregou” aos seus e que é fonte de Vida nova. Da água e do sangue, do batismo e da eucaristia, nascerá a nova comunidade, a comunidade da Nova Aliança. Contudo, os discípulos que tinham subido com Jesus a Jerusalém e que seriam o embrião dessa comunidade da Nova Aliança, desapareceram sem deixar rasto. Estão escondidos, algures na cidade de Jerusalém, paralisados pelo medo. O projeto de Jesus falhou?

No final da tarde dessa sexta-feira, o corpo morto de Jesus foi sepultado à pressa num túmulo novo, situado num horto ao lado do lugar onde se tinha dado a crucificação (cf. Jo 19,38-42). Depois veio o sábado, o último dia da semana, o dia da celebração da Páscoa judaica. Durante todo aquele sábado o túmulo de Jesus continuou cerrado.

A partir daqui a narração de João muda de tempo e de registo. Chegamos ao “primeiro dia da semana”. É o primeiro dia de um tempo novo, o tempo da humanidade nova, nascida da ação criadora e vivificadora de Jesus. “No primeiro dia da semana”, Maria Madalena, a mulher que representa a nova comunidade, vai ao túmulo e vem de lá confusa e desorientada porque o túmulo está vazio (cf. Jo 20,1-2). Logo depois, ainda “no primeiro dia da semana”, Pedro e outro discípulo correm ao túmulo e constatam aquilo que Maria Madalena tinha afirmado: Jesus já não está encerrado no domínio da morte (cf. Jo 20,3-10). A comunidade de Jesus começa a despertar do seu letargo; começa a viver um tempo novo. “Ao entardecer do primeiro dia da semana” (“ou seja, ao concluir-se este primeiro dia da nova criação) a comunidade dos discípulos faz a experiência do encontro com Jesus, vivo e ressuscitado (cf. Jo 20,19-29).

 

MENSAGEM

O texto do Evangelho que a liturgia deste segundo domingo do tempo pascal nos propõe divide-se em duas partes.

Na primeira (vers. 19-23), narra-se um encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos. João começa por descrever a situação em que estavam os discípulos antes de Jesus lhes aparecer: o “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”, traduzem a insegurança e o desamparo que eles sentem diante desse mundo hostil que condenou Jesus à morte.

Mas de repente o próprio Jesus apresenta-se “no meio deles” (vers. 19b). O crucificado está vivo; a morte não o derrotou. Os discípulos já não estão órfãos, abandonados à hostilidade do mundo. Ao colocar-se “no meio deles”, Jesus ressuscitado assume-Se como ponto de referência, fator de unidade, fonte de Vida, videira à volta da qual se enxertam os ramos (cf. Jo 15,5). A comunidade está centrada em Jesus, apenas em Jesus. Ele é o centro onde todos vão beber a água que dá a Vida eterna.

A esta comunidade que se reúne à sua volta, Jesus transmite duplamente a paz (vers. 19 e 21). Não é apenas o tradicional cumprimento hebraico (“shalom”); significa, para além disso, que Jesus venceu tudo aquilo que assustava os discípulos: a morte, a opressão, a mentira, a violência, a hostilidade do mundo. Doravante os discípulos de Jesus não têm qualquer razão para viverem paralisados pelo medo.

Depois (vers. 20a), Jesus mostra aos discípulos as mãos com a marca dos pregos e o lado que foi trespassado pela lança do soldado. Nesses “sinais” está, antes de mais, a prova da sua vitória sobre a morte e a maldade dos homens; mas também está a marca da sua entrega até à morte por obediência ao Pai e por amor aos homens. Neles está impressa, por assim dizer, a “identidade” de Jesus: é nesses sinais de amor e de doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que ama e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.

A esta “apresentação” de Jesus, os discípulos respondem com a alegria (vers. 20b): eles estão alegres porque Jesus está vivo; mas também estão alegres porque sabem que começou um tempo novo, o tempo em que a morte já não assusta, o tempo do Homem Novo, do Homem livre, do Homem que se encontrou com a Vida definitiva.

Em seguida, Jesus convoca os discípulos para a missão (vers. 21). Que missão? Precisamente a mesma que o Pai Lhe confiou a Ele: realizar no mundo a obra de Deus. Os discípulos concretizarão esta missão sempre em ligação com Jesus (eles são ramos ligados à videira/Jesus, pois só assim darão fruto – cf. Jo 15,1-8).

Para que os discípulos possam concretizar a missão, Jesus realiza um gesto inesperado, mas bem significativo: “soprou” sobre eles (vers. 22). O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a Vida nova, o Espírito Santo, que fará deles Homens Novos e que os capacitará para viverem como testemunhas de Jesus ressuscitado. Trata-se, em boa verdade, de uma nova Criação. Da atividade de Jesus, do seu testemunho, do seu amor, do seu dom nasceu uma nova humanidade, capaz de amar até ao extremo, de dar a vida, de realizar a obra de Deus. É este Espírito que, pelo tempo fora, constitui e anima a cada instante a comunidade de Jesus.

Eis a comunidade da Nova Aliança, nascida da ação e do amor de Jesus!

Na segunda parte (vers. 24-29), o evangelista João apresenta uma catequese sobre a maneira de os discípulos de Jesus de qualquer época chegarem à fé em Cristo ressuscitado. A história de Tomé, chamado Dídimo (“gémeo”), poderia ser a nossa história. Tomé é o nosso “gémeo”: também nós nem sempre nos contentamos com o testemunho que nos chegou dos primeiros discípulos; também nós gostaríamos de “ver”, de “tocar”, de ter provas palpáveis… Como podemos fazer a experiência de encontro com Jesus ressuscitado?

Jesus ressuscitado apresenta-se aos discípulos “no primeiro dia da semana”, quando a comunidade está reunida. A comunidade dos discípulos é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus; é o lugar onde desponta a Vida nova de Jesus. Por isso, é lá que se faz a experiência da presença de Jesus vivo. Mas Tomé “não estava com eles” (vers. 24). Estava fora da comunidade. “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu lado, não acredito” – diz Tomé quando lhe falam do Ressuscitado (vers. 25). Em lugar de integrar-se e participar da mesma experiência que os outros discípulos fizeram em comunidade, pretende obter para si próprio uma demonstração particular de Deus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora), que não fazem caso do testemunho da comunidade e que, por isso, nem percebem os sinais de Vida nova que nela se manifestam.

Mas, “oito dias depois” (portanto, outra vez no primeiro dia da semana), Tomé já está novamente integrado na comunidade; e é aí que ele se encontra com Jesus ressuscitado, pois é aí que se manifestam os sinais de Vida nova que alimentam a fé no Ressuscitado (vers. 26-27). Esta experiência é tão impactante que, do coração rendido de Tomé, brota uma extraordinária declaração de fé, uma das mais belas de toda a Bíblia: “Meu Senhor e meu Deus!” (vers. 28). Também nós, os “gémeos” de Tomé, os que somos chamados a acreditar sem termos visto nem tocado, poderemos fazer a mesma experiência que Tomé fez: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada em comunidade, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre e se experimenta Jesus ressuscitado. É por isso que a comunidade de Jesus continua a reunir-se “no primeiro dia da semana”, no “dia do Senhor” (o domingo).

 

INTERPELAÇÕES

  • Nos relatos pascais aparece sempre, em pano de fundo, a convicção profunda de que a comunidade dos discípulos nunca estará sozinha, abandonada à sua sorte: Jesus ressuscitado, Aquele que venceu a morte, a injustiça, o egoísmo, o pecado, acompanhá-la-á em cada passo do seu caminho histórico. É verdade que os discípulos de Jesus não vivem num mundo à parte, onde a fragilidade e a debilidade dos humanos não os tocam. Como os outros homens e mulheres, eles experimentam o sofrimento, o desalento, a frustração, o desânimo; têm medo quando o mundo escolhe caminhos de guerra e de violência; sofrem quando são atingidos pela injustiça, pela opressão, pelo ódio do mundo; conhecem a perseguição, a incompreensão e a morte… Mas, apesar de tudo isso, não se deixam vencer pelo pessimismo e pelo desespero pois sabem que Jesus vai “no meio deles”, oferecendo-lhes a sua paz e apontando-lhes o horizonte da Vida definitiva. É com esta certeza que caminhamos e que enfrentamos as tempestades da vida? Os outros homens e mulheres que partilham o caminho connosco descobrem Jesus, vivo e ressuscitado, através do testemunho de esperança que damos?
  • O Espírito Santo é o grande dom que Jesus ressuscitado faz à comunidade dos discípulos. É Ele que nos transforma, que nos anima, que faz de nós pessoas novas, que nos capacita para sermos testemunhas e sinais da Vida de Deus; é Ele que nos dá a coragem e a generosidade para continuarmos no mundo a obra de Jesus. No entanto, o Espírito só atua em nós se estivermos disponíveis para o acolher. Ele não se impõe nem desrespeita a nossa liberdade. Estamos disponíveis para acolher o Espírito? O nosso coração está aberto aos desafios que o Espírito constantemente nos lança?
  • A comunidade cristã gira em torno de Jesus, é construída à volta de Jesus e é de Jesus que recebe Vida, amor e paz. Sem Jesus, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Jesus, seremos um grupo de gente que se apoia em leis, que vive de ritos, que defende doutrinas e não a comunidade que vive e testemunha o amor de Deus; sem Jesus, estaremos divididos, mergulhados em conflitos estéreis, e não seremos uma comunidade de irmãos e de irmãs; sem Jesus, cairemos facilmente em caminhos errados e iremos beber a fontes que não matam a nossa sede de Vida… Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte? Escutamos as suas palavras, alimentamo-nos d’Ele, vivemos d’Ele, estamos ligados a Ele como os ramos estão ligados à videira?
  • Não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas, egoístas, que encontramos Jesus ressuscitado; mas encontramo-l’O sempre que nos reunimos em seu nome, em comunidade. É no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida, que fazemos a experiência da presença de Jesus vivo no meio de nós. O que é que a comunidade cristã significa para nós? Sentimo-nos bem a caminhar em comunidade, ou a nossa experiência de fé é uma experiência isolada, à margem da riqueza e dos desafios que a comunidade me oferece? E, neste âmbito, o que é que significa, para nós, a participação na celebração da Eucaristia, no “primeiro dia da semana”, o dia do encontro comunitário à volta da mesa de Jesus?
  • É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo; é com gestos de bondade, de misericórdia, de compaixão, de perdão que testemunhamos diante do mundo a Vida nova do Ressuscitado. Quem procura Cristo ressuscitado, encontra-O em nós? O amor de Jesus – amor total, universal e sem medida – transparece nos nossos gestos e na nossa vida?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2.º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 2.º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. O RESSUSCITADO ESTÁ CONNOSCO! ALELUIA!

Ele estava lá… O Ressuscitado está presente na sua Palavra, no seu Corpo e Sangue, na pessoa do presidente da assembleia… e na própria assembleia. «Jesus veio e colocou-se no meio deles…», diz o Evangelho deste domingo. Na assembleia do domingo, o Ressuscitado manifesta a sua presença. O presidente poderá recordar tudo isso antes da saudação inicial. Aleluia! Temos muitas músicas de Aleluias solenes. Uma sugestão para criar uma unidade durante os cinquenta dias do Tempo Pascal: cantar o mesmo Aleluia até à solenidade do Pentecostes.

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Deus nosso Pai, nós Te damos graças pela obra começada pelo teu Filho Jesus, continuada pelos Apóstolos e seus sucessores até ao nosso tempo, no dinamismo do teu Espírito.

Nós Te confiamos todos os nossos irmãos e irmãs doentes ou atormentados pelas provas da existência, na nossa comunidade e fora dela.

No final da segunda leitura:
Cristo Jesus, nós Te bendizemos e Te aclamamos: Tu és o Primeiro e o Último, Tu és o vivo, estavas morto mas eis-Te vivo pelos séculos sem fim. Tu deténs a chave da morada dos mortos, para nos abrir as portas da vida.

Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs atingidos pela inquietude. Ajuda-os a sair dos medos e inseguranças da vida.

No final do Evangelho:
Deus fiel, nós Te damos graças pelo Espírito de ressurreição, que Jesus insuflou nos teus Apóstolos e que também nos é dado pelo batismo e pela confirmação, para que tenhamos a vida.

Nós Te pedimos por todo o Povo dos cristãos: fortifica a nossa fé em Jesus. Que pelas nossas palavras e atos saibamos testemunhar que Ele está vivo no meio de nós.

4. BILHETE DE EVANGELHO.

Jesus deixa-Se ver aos seus discípulos, o que os enche de alegria. Envia sobre eles o seu Espírito para que respirem do mesmo sopro e espalhem, por sua vez, o sopro da misericórdia de Deus. Tomé não está lá nessa tarde de Páscoa, o testemunho dos apóstolos não consegue convencê-los; ele quer ver, quer tocar, recusa reconhecer o Ressuscitado num fantasma. Jesus respeita a sua caminhada, e é Ele próprio que lhe propõe para ver e tocar. Tomé, então, proclama o primeiro ato de fé da Igreja: “Meu Senhor e meu Deus!” Ele reconhece não somente Jesus ressuscitado, marcado pelas chagas da Paixão, mas adora-O como seu Deus. Então, Jesus anuncia que não Se apresentará mais à vista dos homens, mas será necessário reconhecê-l’O unicamente com os olhos da fé. E faz desta fé uma bem-aventurança: “felizes os que acreditam sem terem visto!” Também nós, hoje, somos convidados a viver esta bem-aventurança. Oxalá possam as nossas dúvidas e as nossas questões ser, como para Tomé, caminho de fé!

5. À ESCUTA DA PALAVRA.

Jesus vem e está no meio dos discípulos. Diz-lhes: “A paz esteja convosco!” Podemos compreender a saudação de Jesus como um desejo. Mas podemos também traduzir: “A paz para vós!” Isto é, segundo as próprias palavras de Jesus na tarde de Quinta-Feira Santa: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz!” Estas palavras são, doravante, realizadas, eficazes. Jesus não deseja somente que os seus discípulos estejam em paz. Dá-lhes verdadeiramente a sua paz. Não é a paz que o mundo dá. A paz do mundo é a ausência de guerra e de violência, muitas vezes a paz dos cemitérios! A paz que Jesus dá é a plena realização da vontade criadora do Pai. Deus cria os seres humanos, para que eles sejam “à sua imagem”, isto é, em dependência de amor com Ele. É construindo entre eles relações de amor que os seres humanos permitirão a Deus imprimir nessas mesmas relações a imagem do que é em si mesmo, no mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Enfim, a vontade criadora de Deus é também que os seres humanos “dominem a terra”, que façam do seu próprio corpo e do mundo material o lugar cósmico onde o amor pode espalhar-se e incarnar-se. A paz realiza-se apenas quando se cumpre esta tríplice harmonia: harmonia dos seres humanos na sua relação com Deus, harmonia nas suas relações mútuas, harmonia com o seu corpo e o cosmos. A paz é uma totalidade de luz. É isso que Jesus veio cumprir: reconciliar os homens com Deus, reconciliá-los entre si e, no seu corpo de Ressuscitado, fazer entrar o próprio cosmos nesta luz. A paz acontece, assim, plenamente dada na sua Presença, pela força do Espírito. Resta-nos, apenas, acolhê-la! Ora, o que é obstáculo à paz é a recusa da vontade criadora, a recusa do amor. Eis porque Jesus dá aos Apóstolos o poder de absolver os pecados, isto é, de afastar o obstáculo que impede a “livre circulação do amor”. Acolhendo a presença de Jesus, deixando-o depositar em nós a fonte de toda a reconciliação, para reaprender a amar, permitimos que Ele continue em nós a sua ação de paz.

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística III para a Assembleia com Crianças. Os textos próprios para o tempo pascal são particularmente significativos.

7. PALAVRA PARA O CAMINHO.

- «Se não vir…» Difícil confiança! Acreditar na palavra dos nossos irmãos que testemunham o seu encontro com o Ressuscitado? Não! Não é para mim! Somos muitas vezes irmãos gémeos de Tomé, nas nossas recusas em acreditar… E se decidíssemos ir ao encontro de um irmão, de uma irmã, de um grupo… para partilhar as nossas questões, as nossas convicções, e avançar juntos numa fé alimentada pela Palavra do Ressuscitado? Então aprenderíamos o que quer dizer: «felizes os que acreditam sem terem visto…».

- Fazer crescer a paz… Sem cessar e sem nos cansarmos, devemos trabalhar sempre mais para a construção do Reino. Concretamente, como fazer crescer a paz onde estamos? Talvez seja necessário começar, esta semana, por um pequeno gesto ou uma palavra para com uma pessoa com quem a nossa relação é difícil… Importante é abrir o coração e recomeçar…

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

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