16º Domingo do Tempo Comum - Ano C [atualizado]

20 de Julho, 2025

ANO C

16.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 16.º Domingo do Tempo Comum

As exigências da vida moderna obrigam-nos a correr a um ritmo estonteante e fazem-nos deixar para trás coisas fundamentais. A Palavra de Deus que a liturgia do décimo sexto domingo comum nos propõe convida-nos a redescobrir as prioridades e valores que tornam a nossa vida mais humana e mais cheia de sentido.

A primeira leitura propõe-nos o exemplo de Abraão, o homem que não se importa de gastar tempo com o “outro”. Quando aparecem junto da sua tenda três visitantes inesperados, Abraão acolhe-os, prepara-lhes um banquete, oferece-lhes o que tem de melhor. Em cada pessoa que nos “visita”, é Deus que vem ao nosso encontro. O tempo que gastamos a acolher e a cuidar dos nossos irmãos é um tempo que enche de significado a nossa vida.

No Evangelho duas irmãs – Marta e Maria – acolhem Jesus na sua casa. Marta prepara para o hóspede uma boa refeição; Maria senta-se aos pés de Jesus, a escutar o que Jesus diz. São duas atitudes válidas, próprias do discípulo. Mas Lucas, o narrador deste episódio, aproveita para sugerir que a escuta da Palavra de Jesus deve preceder a ação. A ação sem a escuta de Jesus torna-se mero ativismo que, mais tarde ou mais cedo, se esvazia de sentido.

Na segunda leitura Paulo fala aos cristãos de Colossos da sua experiência: ele tem-se esforçado por testemunhar em todo o lado o projeto salvador de Deus revelado em Cristo. Espera que também os cristãos de Colossos se disponham a construir as suas vidas à volta de Cristo. Nesse sentido, exorta-os a viverem numa comunhão cada vez mais perfeita com Cristo, pois é em Cristo que os crentes encontrarão a salvação e a vida em plenitude.

 

LEITURA I – Génesis 18,1-10a

Naqueles dias,
o Senhor apareceu a Abraão junto do carvalho de Mambré.
Abraão estava sentado à entrada da sua tenda,
no maior calor do dia.
Ergueu os olhos e viu três homens de pé diante dele.
Logo que os viu, deixou a entrada da tenda
e correu ao seu encontro;
prostrou-se por terra e disse:
«Meu Senhor, se agradei aos vossos olhos,
não passeis adiante sem parar em casa do vosso servo.
Mandarei vir água, para que possais lavar os pés
e descansar debaixo desta árvore.
Vou buscar um bocado de pão, para restaurardes as forças
antes de continuardes o vosso caminho,
pois não foi em vão que passastes diante da casa do vosso servo».
Eles responderam: «Faz como disseste».
Abraão apressou-se a ir à tenda onde estava Sara e disse-lhe:
«Toma depressa três medidas de flor da farinha,
amassa-a e coze uns pães no borralho».
Abraão correu ao rebanho e escolheu um vitelo tenro e bom
e entregou-o a um servo que se apressou a prepará-lo.
Trouxe manteiga e leite e o vitelo já pronto
e colocou-o diante deles;
e, enquanto comiam, ficou de pé junto deles debaixo da árvore.
Depois eles disseram-lhe:
«Onde está Sara, tua esposa?».
Abraão respondeu: «Está ali na tenda».
E um deles disse:
«Passarei novamente pela tua casa daqui a um ano
e então Sara tua esposa terá um filho».

 

CONTEXTO

A primeira leitura de hoje faz parte de um bloco de textos a que se dá o nome genérico de “tradições patriarcais” (cf. Gn 12-36). Trata-se de um conjunto de relatos singulares, originalmente independentes uns dos outros, sem grande unidade e sem carácter de documento histórico. Nesses capítulos aparecem, de forma indiferenciada, “mitos de origem” (descreviam a “tomada de posse” de um lugar pelo patriarca do clã), “lendas cultuais” (narravam como um deus tinha aparecido nesse lugar ao patriarca do clã), histórias sobre as vicissitudes diárias dos clãs nómadas que circularam pela Palestina durante o segundo milénio, e ainda reflexões teológicas posteriores destinadas a apresentar aos crentes israelitas modelos de vida e de fé.

Os clãs referenciados nas “tradições patriarcais” – nomeadamente os de Abraão, de Isaac e de Jacob, grupos vagamente aparentados que mais tarde, numa fase posterior da história, aparecem ligados por laços “familiares” – viajavam de lugar em lugar à procura de pastos para os seus rebanhos. Transportavam consigo diversos sonhos e expetativas. Sonhavam encontrar uma terra fértil e com água abundante, onde pudessem instalar-se e descansar, fugindo aos perigos e às incertezas da vida nómada. Sonhavam também possuir uma família forte e numerosa que perpetuasse a “memória” da tribo e se impusesse aos inimigos. O deus ancestral que protegia a tribo e a conduzia ao longo das suas deambulações era o potencial concretizador desse ideal.

O relato que a liturgia do décimo sexto domingo comum nos propõe como primeira leitura deve situar-se neste cenário. Na sua origem está, provavelmente, uma antiga “lenda cultual” que narrava como três figuras divinas tinham aparecido a um cananeu anónimo junto do carvalho sagrado de Mambré, como esse cananeu as tinha acolhido na sua tenda e como tinha sido recompensado com um filho pelos deuses. Mambré, perto de Hebron, era o local onde, já no terceiro milénio a.C., muito antes de Abraão aí ter chegado, existia um importante santuário cananeu. Mais tarde, quando Abraão se estabeleceu nesse lugar, a antiga lenda cananaica foi-lhe aplicada e ele passou a ser o herói desse encontro com as figuras divinas. Alguns séculos mais tarde, no reinado de Salomão (séc. X a.C.), os autores javistas recuperaram essa velha lenda para, através dela, propor Abraão como um modelo de hospitalidade e de bondade.

 

MENSAGEM

Qual é, então, o ensinamento que a catequese de Israel quer propor, recorrendo a essa velha lenda cultual?

O herói da história já não é um cananeu anónimo (como provavelmente acontecia na história primitiva), mas o patriarca Abraão. Ele está “sentado à entrada da sua tenda, na hora de maior calor do dia” (vers. 1), quando levanta os olhos e repara que estão ali, diante dele, três misteriosos viajantes. Ao insinuar que Abraão não os viu chegar, o “catequista” que elaborou o relato pretenderá provavelmente sugerir que o divino se apresenta sempre por surpresa na vida do homem.

Abraão levantou-se a aproximou-se deles (vers. 2). Ao pararem diante da tenda de Abraão, os três personagens já tinham mostrado a intenção de se deterem ali. Sem saber ainda de quem se trata, Abraão dirige-lhes respeitosamente um convite para entrarem na tenda e aceitarem a sua hospitalidade (vers. 3-5). O convite de Abraão é aceite de forma breve e quase condescendente pelos viajantes.

À indicação de Abraão, todos os membros daquela família nómada se movimentam para acolher bem os hóspedes. Sara, a esposa de Abraão, amassa a farinha e coze o pão (vers. 6); Abraão escolhe um bezerro tenro, pede ao criado que o prepare (vers. 7), traz manteiga, leite e o vitelo já cozinhado para que os seus visitantes possam saciar a fome. Depois, enquanto eles comem, Abraão fica de pé, na atitude do servo vigilante, para que nada falte aos seus convidados (vers. 8). É a lendária hospitalidade nómada no seu melhor. Abraão aparece, antes de mais, como o modelo do homem íntegro, humano, solícito, bondoso, atento a quem passa e disposto a repartir aquilo que tem de melhor com aqueles que se cruzam com ele nos caminhos da vida.

Terminada a refeição, os misteriosos viajantes anunciam a Abraão a realização do seu anseio mais profundo: Sara, a esposa de Abraão, ficará grávida e dará à luz um filho (vers. 9-10). Embora tal não seja afirmado abertamente, fica no ar a ideia de que o dom do filho é a resposta de Deus à atitude hospitaleira de Abraão. Deus recompensa o seu servo Abraão pela sua bondade, pela sua solicitude, pelo seu amor gratuito.

Quem são esses três personagens que apareceram junto da tenda de Abraão e que aceitaram a sua hospitalidade? Até este momento o catequista que elaborou a história não o disse (só o explicitará inequivocamente mais à frente, no vers. 13, quando identificar um destes personagens com Javé); mas o leitor já percebeu que se trata de uma “visita” de Deus ao seu servo Abraão. A imagem de Deus que este texto apresenta é muito bela: o Deus de Abraão é um Deus que vem ao encontro do homem, que se detém junto dele, que aceita entrar na sua tenda e sentar-se à sua mesa, estabelecendo assim laços de família com o homem. É o Deus do diálogo e da comunhão, que se apresenta na vida do homem e que se dispõe a concretizar os sonhos e as aspirações do homem.

E Abraão? Embora não seja claro se Abraão tem consciência de que está diante de Deus, a sua atitude pauta-se pela serena submissão, pelo respeito, pela confiança total (num desenvolvimento que, contudo, não aparece na leitura deste domingo, Sara ri diante da “promessa” de um filho; mas Abraão conserva-se em silêncio digno, sem manifestar qualquer dúvida – vers. 10b-15). O catequista que “vestiu” Abraão com estes traços insinua que devem ser essas as atitudes que o crente israelita deve assumir diante desse Deus que vem ao encontro do homem.

 

INTERPELAÇÕES

  • A forma como Abraão acolhe aqueles três viajantes que, de surpresa, se apresentam à entrada da sua tenda, põe-nos a pensar no lugar que “o outro” – qualquer homem ou qualquer mulher – tem na nossa vida. Abraão não conhece nenhum daqueles homens, nem tem com eles qualquer negócio pendente; não espera ganhar seja o que for ao acolhê-los e ao disponibilizar-lhes tudo o que possui; não sabe ao certo a que é que eles vêm e se são de confiança… Mas, desde que se apercebe da sua presença, trata-os com se eles fossem enviados de Deus e tivessem direito a toda a consideração e a todos os cuidados. Como é que vemos as pessoas que, a cada passo, se cruzam connosco? Que valor lhes atribuímos? Vemos o “outro” – aquele ou aquela que Deus envia ao nosso encontro – como uma “prenda” de Deus ou como uma ameaça ao nosso bem-estar, à nossa segurança, ao nosso comodismo?
  • Todos os dias se apresentam pessoas à entrada da nossa “tenda”, ao espaço onde vivemos ou onde trabalhamos. Muitas vezes é mesmo nossa missão ou nossa responsabilidade acolhê-las, dar resposta às suas solicitações, esclarecer as suas dúvidas, desbloquear situações que as impedem de ter acesso a mecanismos de ajuda e de solidariedade. Como as tratamos? Como é que as pessoas são acolhidas nas nossas repartições dos serviços públicos, nas urgências dos nossos hospitais, nas secretarias dos nossos centros de saúde, nas receções das nossas igrejas, nas portarias das nossas casas religiosas?
  • Consideremos, especialmente, um dos “quadros” que marca o tempo histórico que estamos a viver: o dos imigrantes que vêm de longe à procura de condições dignas de vida para si e para as suas famílias. Em geral os imigrantes (mesmo quando não têm os “papéis” em ordem) não são criminosos, nem gente que chega para se apropriar dos recursos que nos pertencem; são irmãos nossos, que apenas querem uma oportunidade de trabalhar e de ganhar com dignidade o pão de cada dia. Como os vemos, como os valorizamos? Sentimo-nos responsáveis por eles? Acolhemo-los com indiferença, com agressividade, ou com a atitude humana e solícita que Abraão teve para com os seus hóspedes? Temos consciência de que, em cada homem sem documentos, sem pão, sem casa, sem trabalho, sem futuro, que chega às nossas fronteiras, está Deus que vem visitar-nos?
  • Através daquela velha lenda que narra a “visita” de Deus a Abraão, a catequese de Israel apresenta um Deus que vem ao encontro do homem, que aceita o convite do homem e entra na sua casa, que se senta à mesa com o homem e que estabelece com ele laços familiares, que conhece perfeitamente os sonhos do homem e os realiza. É esse Deus, o Deus da comunhão e do encontro, em quem acreditamos? É esse o Deus com quem caminhamos? Estamos disponíveis para o acolher na nossa vida, para lhe abrir as portas do nosso coração e para mergulharmos no seu amor?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 14 (15)

Refrão 1: Quem habitará, Senhor, no vosso santuário?

Refrão 2: Ensinai-nos, Senhor: quem habitará em vossa casa?

O que vive sem mancha e pratica a justiça
e diz a verdade que tem no seu coração
e guarda a sua língua da calúnia.

O que não faz mal ao seu próximo,
nem ultraja o seu semelhante,
o que tem por desprezível o ímpio,
mas estima os que temem o Senhor.

O que não falta ao juramento mesmo em seu prejuízo
e não empresta dinheiro com usura,
nem aceita presentes para condenar o inocente.
Quem assim proceder jamais será abalado.

 

LEITURA II – Colossenses 1,24-28

Irmãos:
Agora alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós
e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo,
em benefício do seu corpo que é a Igreja.
Dela me tornei ministro,
em virtude do cargo que Deus me confiou a vosso respeito,
isto é, anunciar em plenitude a palavra de Deus,
o mistério que ficou oculto ao longo dos séculos

e que foi agora manifestado aos seus santos.
Deus quis dar-lhes a conhecer
as riquezas e a glória deste mistério entre os gentios:
Cristo no meio de vós, esperança da glória.
E nós O anunciamos, advertindo todos os homens
e instruindo-os em toda a sabedoria,
a fim de os apresentarmos todos perfeitos em Cristo.

 

CONTEXTO

A cidade de Colossos estava situada no interior da região da Frígia (Ásia Menor, atual Turquia), no vale do rio Lico, a cerca de quinze quilómetros de Laodiceia. Tinha sido, nos sécs. V-IV a.C., uma cidade próspera e populosa; mas, na época de Paulo, tinha perdido uma grande parte do seu esplendor.

Não foi o apóstolo Paulo que evangelizou a cidade. Pelos dados que constam da Carta aos Colossenses, foi um tal Epafras, convertido ao cristianismo por Paulo, que levou o Evangelho a Colossos (cf. Cl 1,7-8; 4,12-13). A maior parte dos membros da comunidade cristã de Colossos provinham do paganismo; mas havia também na comunidade um bom número de cristãos de origem judaica.

Quando escreve a carta, Paulo parece estar na prisão. Poderia ser, talvez, a prisão que Paulo sofreu em Roma, entre os anos 61 e 63. Epafras está com Paulo, talvez de visita.

As notícias que Epafras transmitiu a Paulo sobre a comunidade cristã de Colossos não eram boas. A Colossos tinham chegado pregadores cristãos, talvez de tendência judaizante, que procuravam induzir os Colossenses à observância de certas práticas judaicas, nomeadamente a circuncisão (cf. Cl 2,11), a abstinência de determinados alimentos, o cumprimento do sábado e de outras festas judaicas (cf. Cl 2,16.20-23). Havia também, na doutrina pregada por esses “mestres” judeo-cristãos, referências ao culto dos anjos, considerados guardiões da Lei, e a outros “poderes” cósmicos que governavam os astros; e os Colossenses eram exortados a enquadrar na sua visão de fé todos esses “poderes”. Paulo achava que as doutrinas ensinadas por esses “mestres” eram gravemente desviantes, pois punham em causa o papel e o lugar único de Cristo. A essas doutrinas, Paulo contrapõe a primazia de Cristo, Senhor da história, único mediador entre Deus e os homens, cabeça da Igreja, “lugar” onde habita a plenitude da divindade.

O texto que nos é proposto como segunda leitura deste domingo inicia a parte polémica da carta. Paulo fala aos cristãos de Colossos sobre o papel que lhe foi destinado enquanto testemunha do mistério de Cristo.

 

MENSAGEM

Desde que encontrou Cristo na estrada de Damasco, Paulo pôs-se totalmente ao seu serviço. Desde esse dia, sofreu muito, conheceu a oposição e a perseguição. Precisamente na altura em que escreve aos cristãos de Colossos, está prisioneiro por causa do seu serviço ao Evangelho.

Apesar de todos os sofrimentos que tem suportado, Paulo sente-se feliz: sabe que os sofrimentos que passou não foram em vão, pois contribuíram para que muitos homens e mulheres descobrissem Cristo e a sua proposta de salvação. Mais ainda: com os sofrimentos que tem suportado, Paulo sente que completa na sua carne “o que falta à paixão de Cristo, em benefício do seu corpo que é a Igreja” (vers. 24).

O que é que isto significa? Alguns entendem a expressão no contexto da doutrina do corpo místico: Cristo é a cabeça de um corpo que é a Igreja; se Cristo, a cabeça, sofreu, é lógico que os membros do corpo (os cristãos) sofram também, uma vez que estão unidos a Cristo e participam do seu destino. Esta leitura põe em relevo a união dos cristãos com Cristo e dos cristãos entre si. Mas há também quem veja na “falta” a que Paulo se refere uma alusão à continuação do projeto salvador de Cristo em favor dos homens: Cristo, com a sua entrega até à morte, ofereceu aos homens a salvação; mas agora, para que a força salvadora de Cristo continue a chegar a todos os homens, os enviados de Cristo têm de esforçar-se, de sofrer, de enfrentar as forças que se opõem ao anúncio do Evangelho. Esta interpretação parece estar mais em consonância com o contexto.

Paulo, no que lhe diz respeito, sente-se “servidor” (“diaconos”) da Igreja, com a missão de proclamar a todos o “mistério” (“mystêrion” – vers. 26). A palavra designa, em Paulo, o plano salvador de Deus, oculto aos homens durante séculos, revelado plenamente na pessoa, na ação e nas palavras de Jesus Cristo, proclamado e continuado pelos discípulos de Jesus (Igreja) na história. O esforço de Paulo (e dos cristãos em geral) deve ir no sentido de concretizar esse projeto de salvação/libertação que traz a vida em plenitude aos homens de toda a terra.

Paulo tem-se esforçado por mostrar a todos os que se encontraram com Cristo a riqueza que é a plena compreensão do “mistério” (vers. 28-29). Espera que também os cristãos de Colossos se disponham a construir as suas vidas à volta de Cristo e da sua proposta de salvação. Nesse sentido, exorta-os a viverem numa comunhão cada vez mais perfeita com Cristo, pois é em Cristo (e não nos anjos, nos “poderes”, nas práticas legalistas judaicas, nos rituais estéreis) que os crentes encontrarão a salvação e a vida em plenitude.

 

INTERPELAÇÕES

  • Paulo de Tarso, o “apóstolo dos gentios”, é uma figura ímpar da história do cristianismo. Devemos-lhe o ter levado o Evangelho ao encontro do mundo greco-romano, fazendo com que a proposta de salvação quer Jesus veio trazer saltasse todas as fronteiras e chegasse a todos os homens. Mas devemos-lhe, especialmente, o exemplo de compromisso pleno, de doação total, de entrega completa a Jesus e ao Evangelho (“já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” – Gl 2,20). Temos consciência – como Paulo tinha – que a Igreja nascida de Jesus é, fundamentalmente, uma comunidade missionária? É com o mesmo empenho e decisão de Paulo que nós “agarramos” a missão que Cristo nos confiou e que damos testemunho de Cristo em todos os lugares onde a vida nos leva? Como é que a nossa comunidade cristã considera e valoriza os homens e as mulheres que dedicam toda a sua vida à causa do Evangelho?
  • Paulo de Tarso soube sempre discernir o essencial do secundário. Ele sabia que o essencial é para ser preservado a todo o custo e colocado no centro da nossa vida, enquanto o secundário pode ser dispensado. Para Paulo, o essencial é Cristo e o seu Evangelho. Tudo o resto só interessa enquanto conduz a Cristo. Mais: devemos ter cuidado para que o secundário não tome o lugar de Cristo e não nos oculte Cristo ou nos distraia de Cristo. Para os cristãos de Colossos, as “distrações” que impediam de “ver” Cristo eram as práticas judaicas, as doutrinas que enalteciam o lugar e o papel dos anjos, as reflexões sobre os “poderes cósmicos” que governavam os astros (“os Tronos e as Dominações, os Poderes e as Autoridades” (Col 1,16); para nós poderão ser certas práticas de piedade que colocamos no centro da nossa experiência de fé, a fixação em rituais antigos e estéreis, as imagens e figuras religiosas que dizemos “adorar”, as “aparições” e “revelações” que pretendem falar mais alto do que o Evangelho anunciado por Jesus, as práticas supersticiosas por vezes apresentadas com um verniz cristão… Que lugar ocupa Cristo na nossa experiência de fé? Quais são os valores e as figuras que sustentam o edifício religioso que vamos construindo?

 

ALELUIA – cf. Lucas 8,15

Aleluia. Aleluia.

Felizes os que recebem a palavra de Deus
de coração sincero e generoso
e produzem fruto pela perseverança.

 

EVANGELHO – Lucas 10,38-42

Naquele tempo,
Jesus entrou em certa povoação
e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa.
Ela tinha uma irmã chamada Maria,
que, sentada aos pés de Jesus,
ouvia a sua palavra.
Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço.
Interveio então e disse:
«Senhor, não Te importas
que minha irmã me deixe sozinha a servir?
Diz-lhe que venha ajudar-me».
O Senhor respondeu-lhe:
«Marta, Marta,
andas inquieta e preocupada com muitas coisas,
quando uma só é necessária.
Maria escolheu a melhor parte,
que não lhe será tirada».

 

CONTEXTO

Jesus vai com os discípulos a caminho de Jerusalém. A cada passo detém-se a instruí-los. Na “escola de Jesus”, os discípulos vão interiorizando os valores do Reino e preparando-se para serem, após a ressurreição, os arautos da salvação que Jesus veio propor.

O episódio que a liturgia deste domingo nos propõe como Evangelho é exclusivo de Lucas: não aparece em mais nenhum dos Evangelhos. A história passa-se numa casa de família onde vivem duas irmãs: Marta e Maria. O nome “Marta” é a forma feminina da palavra aramaica “mar”, que significa “senhor”. Marta é a “senhora” daquela casa.

Marta e Maria são referidas em Jo 12,1-12 como irmãs de Lázaro, aquele que Jesus ressuscitou dos mortos (cf. Jo 11,144). No Evangelho de João, o lugar de residência desta família amiga de Jesus é Betânia (a atual “al-Azariye”), uma pequena povoação situada na encosta oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de três quilómetros de Jerusalém. Lucas, no entanto, não faz qualquer referência ao nome do lugar onde vivem estas irmãs (“Jesus entrou em certa povoação” – vers. 38). No esquema de Lucas, o episódio parece até situar-se numa localidade longe de Jerusalém, pois Jesus tinha iniciado há pouco a sua caminhada em direção à cidade santa.

O mais provável, para explicar estas incongruências, é que Lucas tivesse recolhido este episódio da tradição e o tivesse enquadrado no seu esquema teológico sem se preocupar com o seu enquadramento geográfico.

Mais do que uma história de acolhimento ou de hospitalidade, esta narração parece ser, sobretudo, uma catequese sobre o discipulado. Quem é o verdadeiro discípulo de Jesus? Qual deve ser a preocupação primordial daquele que se dispõe a seguir Jesus?

 

MENSAGEM

Na casa onde Jesus é recebido há, portanto, duas mulheres, irmãs. Marta parece ser, quer pelo nome, quer pelo protagonismo que assume, a “dona” da casa. A outra mulher, Maria, seria provavelmente a mais nova, pois aparece em segundo plano. Não há qualquer referência, no texto de Lucas, a uma figura masculina que habitasse naquela casa.

Jesus é recebido na casa de Marta. A narração não faz qualquer referência aos discípulos e ao grupo de mulheres que vêm com Jesus desde a Galileia e que se dirigem com Ele para Jerusalém. Lucas pretende fazer incidir o foco apenas sobre Jesus e as mulheres daquela casa. Outros eventuais personagens seriam “ruído de fundo” que não interessa considerar.

Lucas não se detém nos pormenores da chegada de Jesus à casa de Marta. Passa imediatamente a descrever a forma como as duas irmãs “responderam” à presença de Jesus.

Marta, a dona da casa, “atarefava-se com muito serviço” (vers. 40). Podemos imaginar Marta na cozinha, a cozer o pão, a preparar o vinho, a assar o cordeiro e, a cada instante, a correr para a sala para pôr a mesa e para deixar tudo em ordem. Maria, por sua vez, está simplesmente sentada aos pés de Jesus, a ouvir a sua palavra (vers. 39). A posição de Maria, “sentada aos pés de Jesus”, é a posição típica de um discípulo que escuta com toda a atenção as lições do seu mestre (alguns anos mais tarde, na altura em que foi preso em Jerusalém, Paulo de Tarso apresenta-se ao povo como “judeu… instruído aos pés de Gamaliel, em todo o rigor da Lei” – At 22,3). É um quadro pouco ortodoxo, pois no mundo judaico era extremamente difícil que um “mestre” aceitasse uma mulher no seu grupo de discípulos. Jesus, no entanto, está apostado em fazer nascer uma comunidade nova, onde todos têm lugar. As mulheres, que na sociedade judaica tinha um estatuto de subalternidade, na comunidade do Reino são discípulas de pleno direito.

Marta, sobrecarregada de trabalho, dirige-se a Jesus e pergunta-lhe se Ele não se importa que Maria fique ali a escutá-lo e não ajude na cozinha (vers. 40). Curiosamente, Marta não se dirige a Maria, talvez por achar que a culpa é de Jesus e que deve ser Jesus a resolver a situação. Marta parece estar à vontade com Jesus: não o trata como uma pessoa distante, “de cerimónia”, mas como alguém “da casa”, que pertence à família e que, portanto, deve ter uma palavra a dizer nas questões domésticas.

Jesus responde a Marta com carinho, repetindo duas vezes o seu nome: “Marta, Marta”. Não quer criticá-la pelo que ela anda a fazer, pois sabe que o serviço de Marta é um sinal de amor. No entanto, constata que Marta anda “inquieta e preocupada com muitas coisas” (vers. 41), mas que prescindiu daquela que é mesmo necessária (vers. 42). Maria, em contrapartida, escolheu sentar-se aos pés de Jesus a escutar a sua palavra. Ela está totalmente concentrada em Jesus. Não há outra forma de dizer as coisas: “Maria escolheu a parte boa”, aquela que está na base de tudo e que dá consistência a tudo o que fazemos. Certo disso, Jesus nunca poderá pedir a Maria que coloque em lugar secundário a escuta da Palavra.

Muitas vezes, este episódio foi lido à luz da oposição entre ação e contemplação, com Marta representando a vida ativa e Maria a vida contemplativa. Mas a questão essencial que sobressai neste relato não é a “bondade” de um estilo de vida em detrimento de outro. O que está em causa, nesta história de duas irmãs que acolhem Jesus na sua casa, é a definição da “atitude” do discípulo, de qualquer discípulo. Há discípulos que, diante da urgência do trabalho apostólico, se envolvem completamente na ação, com generosidade e entrega; mas, absorvidos pela voragem do trabalho, deixam de ter tempo para se sentar aos pés de Jesus e para escutar Jesus; no meio da agitação que os envolve, perdem o sentido das coisas, deixam de perceber o rumo em que devem caminhar. É verdade que “a messe é grande e os trabalhadores são poucos” (Mt 9,37); mas nenhuma ação dará frutos consistentes se não assentar na escuta de Jesus, no encontro com a Palavra de Jesus. Todos os discípulos – todas as Martas – necessitam de encontrar tempo para se sentarem calmamente aos pés de Jesus, para escutarem a Palavra de Jesus, para acolherem a paz que brota de Jesus, para redescobrirem o caminho que Jesus os convida a percorrer. Os discípulos que vão com Jesus a caminho de Jerusalém e os discípulos que se dispõem a seguir Jesus em qualquer época da história devem estar conscientes disto.

 

INTERPELAÇÕES

  • Os nossos dias vivem-se a um ritmo sufocante. A sobrecarga de trabalho, a pressão para corresponder às expetativas, a obrigação de fazer tudo para ontem, o cumprimento dos objetivos que nos impõem, obrigam-nos a uma correria sem fim. Dizemos estupidamente que “tempo é dinheiro” e procuramos aproveitar avidamente cada instante, não percebendo que a vida nos vai escapando por entre as mãos e que nos vamos desumanizando sempre mais. Mudamos de fila no trânsito da manhã vezes incontáveis para ganhar uns metros, arriscamos a vida passando semáforos vermelhos, comemos de pé ao lado de pessoas para quem nem sequer olhamos, chegamos a casa tarde, extenuados, enervados, vencidos pelo cansaço e pelo stress, sem tempo e sem vontade de brincar com os filhos ou de lhes ler uma história e dormimos algumas horas com a consciência de que o dia a seguir vai ser exatamente igual… Temos ótimas desculpas: são as exigências da vida moderna; temos de viver a este ritmo para não ficar para trás; não podemos perder a batalha diária pela existência. Contudo, mesmo que tudo isso seja verdade, acabamos por transigir com o sistema e por prescindir de coisas essenciais. Que espaço fica para nos encontrarmos com Deus? Que tempo fica para nos encontrarmos com Jesus, para O escutarmos, para acolhermos as suas propostas? Que tempo e que espaço ficam para a família, para os amigos, para tudo isso que torna a nossa vida mais humana e mais feliz?
  • Marta e Maria, respetivamente a discípula que vive para servir e a discípula que se senta aos pés de Jesus para escutar a Palavra, não representam duas realidades opostas; mas representam duas facetas que, no conjunto, “compõem” a figura do verdadeiro discípulo. Viver como discípulo de Jesus não se resume simplesmente em “fazer coisas”, ainda que boas e úteis; um ativismo que não parte do encontro com Jesus e da escuta da Palavra de Jesus, acaba a médio prazo por se tornar um “cumprir calendário” sem sentido e sem objetivo. Por outro lado, viver como discípulo de Jesus também não é ficar simplesmente sentado a “olhar para o céu”, desligado das realidades da terra, alheio às necessidades, aos sofrimentos e às alegrias dos homens. O discípulo de Jesus senta-se primeiro aos pés de Jesus, como Maria, a fim de escutar as indicações de Jesus e receber as indicações que Ele dá; depois, como Marta, dispõe-se a servir os irmãos, com dedicação e generosidade. É desta forma que procuramos viver o nosso seguimento de Jesus? Nas nossas comunidades cristãs, onde há sempre tanta coisa a fazer, a ação é sempre precedida da escuta de Jesus?
  • Há alturas do ano que, no calendário das sociedades, são tradicionalmente épocas privilegiadas de férias, de descanso, de libertação da rigidez dos horários e da tensão que resulta das responsabilidades laborais… É provável que muitos de nós estejamos, nesta altura, a viver esta experiência. Se assim for, procuremos que este tempo não seja mais uma corrida desenfreada para lugar nenhum, mas um tempo de reencontro connosco, com a nossa família, com os nossos amigos, com Deus e com as nossas prioridades. A oração e a escuta da Palavra podem ajudar-nos a recentrar a nossa vida e a redescobrir o sentido da nossa existência. O espaço para Deus, a escuta de Jesus, o tempo para a família, o encontro com os amigos, a leitura de um bom livro, a preocupação com a cultura, o contacto com a natureza, a reflexão sobre o sentido da nossa vida e das nossas opções, fazem parte do nosso “calendário” de férias?
  • Qual é a nossa perspetiva da hospitalidade e do acolhimento? Como é que acolhemos as pessoas que entram na nossa vida e na nossa casa? Ao narrar-nos uma “visita” de Jesus a casa de uma família amiga, Lucas sugere-nos delicadamente que o verdadeiro acolhimento não se limita a abrir a porta, a instalar a pessoa no sofá mais cómodo, a ligar a televisão para que ela se entretenha sozinha enquanto corremos para a cozinha para lhe preparar uma refeição memorável; mas o verdadeiro acolhimento passa por dar atenção àquele que veio ao nosso encontro, por escutá-lo, por partilhar com ele a nossa vida, por fazê-lo sentir o quanto nos preocupamos com aquilo que ele sente… Temos consciência de que, muitas vezes, o “estar com” a pessoa é muito mais expressivo do que o “fazer coisas” para ela?
  • Jesus, contra os costumes da época, aceita hospitalidade na casa de duas mulheres; Jesus, contra o costume da época aceita que uma das mulheres – Maria – assuma o lugar de sua discípula. Nas mais diversas situações Jesus mostrou, com gestos bem concretos, que no projeto de Deus não há lugar para a discriminação de seja quem for. Estamos conscientes disso? Não será já altura de eliminarmos da sociedade e da Igreja atitudes discriminatórias que não vêm de Deus ou do Evangelho, mas sim do nosso egoísmo, da nossa prepotência, dos nossos preconceitos?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 16.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(em parte adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1- A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 16.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. CONTEMPLAR A TRINDADE.

Em consonância com o relato da visita das três personagens ao acampamento de Abraão, poder-se-ia propor à contemplação da assembleia o conhecido ícone de Roublev, “a hospitalidade de Abraão” (título original), correntemente chamado “a Trindade de Roublev”…

3. PRIVILEGIAR OS TEMPOS DE SILÊNCIO.

Pode-se privilegiar, neste domingo, os tempos de silêncio. Mais longos do que habitualmente, serão escuta e “ruminação” da Palavra: depois de cada leitura; depois da homilia; depois da comunhão… Hoje, tomemos tempo para ficar sentados aos pés do Senhor!

4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
“Deus, que nenhuma inteligência pode atingir, fazes-nos ver o mistério da tua personalidade nos três mensageiros que enviaste a Abraão e que falam a uma só voz. Proclamamos a tua glória.
Nós Te recomendamos todos os profissionais e os voluntários da hospitalidade, nos seus trabalhos da saúde, da entreajuda e da hotelaria. Torna-nos recetivos à tua vinda na pessoa do próximo”.

No final da segunda leitura:
“Pai, bendito sejas, porque nos fizeste conhecer o mistério escondido desde as origens, mas revelado em Jesus, teu Filho, presente no meio de nós; nós Te damos graças pelos apóstolos, que puseram completamente ao teu serviço.
Nós Te pedimos pelos teus mensageiros, que revelam ao nosso mundo o mistério da tua presença e do teu amor. Que a esperança da tua glória os apoie nas suas dificuldades”.

No final do Evangelho:
“Cristo Jesus, Palavra de vida, luz do mundo, sabedoria eterna, Tu nos ofereces a melhor parte, que ninguém nos pode tirar; bendito sejas pela tua vinda e pela tua presença nos nossos bairros, nas nossas casas e nas nossas vidas.
Nós Te confiamos as nossas assembleias e as nossas reuniões: que o teu Espírito nos torne sem cessar atentos ao único necessário, a tua presença”.

5. BILHETE DE EVANGELHO.

O que apreciamos numa refeição entre amigos não é, antes de mais, que o molho esteja bom ou que a toalha esteja bem posta, mas a qualidade da partilha, a escuta de cada um, a sinceridade dos sentimentos. Marta, recebendo Jesus, parece pensar apenas no que pode fazer para bem O acolher. Não arrisca, desse modo, esquecer o seu hóspede com tudo o que Ele é e tudo o que tem para dizer? Muitas vezes, opôs-se a ação à contemplação. Marta é ativa, mas não reserva o tempo para escutar. Maria escuta para poder pôr em prática a Palavra de Deus proferida por Jesus: nisso é uma verdadeira discípula. Quando agimos, não esqueçamos o essencial: o crescimento do nosso ser e o respeito do ser dos outros.

6. À ESCUTA DA PALAVRA.

Esta página de Evangelho serviu, muitas vezes, para distinguir a vida ativa, simbolizada por Marta, e a vida contemplativa, simbolizada por Maria. Jesus rebaixaria a primeira para ressaltar a segunda… Mas esta distinção não estava, certamente, nem no espírito de Jesus nem de São Lucas! Como compreender a resposta de Jesus: “Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”? Uma primeira coisa a dizer é que Jesus não despreza o trabalho de Marta. Ele apreciou a refeição que ela tão bem preparou. Mas Ele quer chamar a atenção para uma “hierarquia de valores”: “O homem não vive só de pão, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”. O pão para o corpo é indispensável, a Palavra de Deus é ainda mais vital para aquele que quer encontrar o verdadeiro sentido da sua vida. As grandes testemunhas do amor concreto, ao longo da história da Igreja, compreenderam bem que a fecundidade da sua ação decorria, antes de mais, da intimidade que tinham com o Senhor. A autenticidade da nossa contemplação verifica-se pela qualidade do nosso empenho na construção de relações fraternas, para amar como Deus nos ama. Colocar-nos na escuta da Palavra de Deus, bem longe de nos fazer sair do mundo real, reenvia-nos à nossa vida quotidiana. É à luz de Jesus que poderemos colocar-nos a escutar verdadeiramente os outros, a acolhê-los como Ele nos acolhe. Em todos os seus encontros, Jesus manifesta total disponibilidade para cada um, como se a pessoa encontrada fosse única no mundo. Ele quer dar-Se a Si próprio, porque o seu Pai Se dá primeiro a Ele. Assim, reservar tempo para escutar a Palavra, para nos retirarmos no segredo do nosso coração e para rezar, não é perder tempo. É enraizar a nossa ação no único “terreno” capaz de a vivificar verdadeiramente, para que ela dê fruto na vida eterna. Não é preciso opor Marta e Maria, mas uni-las, vivificar o serviço de uma pela escuta atenta da outra. O tempo do verão é propício para nos convidar a viver a esta luz…

7. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se utilizar a Oração Eucarística I, que faz alusão a Abraão…

8. PALAVRA PARA O CAMINHO…

O acolhimento de Maria ou o de Maria? Qual será o nosso acolhimento nesta semana, para aqueles que vamos encontrar e que são Cristo no nosso caminho? Deixarmo-nos absorver, como Marta, por tudo aquilo que vamos fazer para eles? Ou antes, ao jeito de Maria, procurar partilhar um tempo gratuito com eles, sentarmo-nos, parar um pouco para os escutar?…

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

Visualizar todo o calendário