28º Domingo do Tempo Comum - Ano C [atualizado]
12 de Outubro, 2025
ANO C
28.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 28.º Domingo do Tempo Comum
As crises e dificuldades que enfrentamos ao longo da viagem da vida deixam, frequentemente, feridas que, com as nossas frágeis forças, não conseguimos curar. Incapazes de superar a nossa debilidade, afundamo-nos no desespero. Quem poderá devolver-nos a esperança? As leituras que a liturgia deste domingo nos propõe dizem-nos: “Deus não abandona os seus queridos filhos que a vida magoou e deixou para trás. Ele está sempre disponível para nos purificar de todas as lepras que nos sujam e para nos oferecer a sua salvação”.
Na primeira leitura Deus, através da ação do profeta Eliseu, oferece a sua salvação a um leproso estrangeiro, o general sírio Naamã. Curado da sua doença física e da sua cegueira espiritual, Naamã reconhece o poder de Deus e proclama a sua fé. Só Javé é o Senhor da vida, só Ele pode salvar. A misericórdia infinita de Deus derrama-se sobre todos os que n’Ele confiam, independentemente da sua origem étnica, da sua história de vida, da sua condição social ou religiosa.
No Evangelho, alguns leprosos pedem a Jesus que se compadeça deles. Foram colocados à margem da vida e foi-lhes roubada toda a esperança. Jesus, profundamente compadecido, dispõe-se a oferecer-lhes a salvação de Deus. Mostra-lhes o caminho que eles devem percorrer para chegarem à vida nova. Estranhamente, só um deles reconheceu os dons de Deus e se mostrou grato pela salvação que lhe foi oferecida. Era um samaritano, um “herege”. Por vezes são os “improváveis”, aqueles pelos quais ninguém dá nada, que mais facilmente se deixam “tocar” pela bondade de Deus.
Na segunda leitura, um catequista cristão do final do séc. I convida os crentes a terem sempre diante dos olhos o exemplo de Cristo. Ele, embora tenha passado pelo caminho da cruz, chegou à ressurreição. O cristão, na esteira de Cristo, não deve ter medo de enfrentar as dificuldades e as perseguições: é através desse caminho que chegará à salvação, à vida definitiva.
LEITURA I – 2 Reis 5,14-17
Naqueles dias,
o general sírio Naamã desceu ao Jordão
e aí mergulhou sete vezes,
como lhe mandara Eliseu, o homem de Deus.
A sua carne tornou-se tenra como a de uma criança
e ficou purificado da lepra.
Naamã foi ter novamente com o homem de Deus,
acompanhado de toda a sua comitiva.
Ao chegar diante dele, exclamou:
«Agora reconheço que em toda a terra
não há outro Deus senão o de Israel.
Peço-te que aceites um presente deste teu servo».
Eliseu respondeu-lhe:
«Pela vida do Senhor que eu sirvo,
nada aceitarei».
E apesar das insistências, ele recusou.
Disse então Naamã:
«Se não aceitas,
permite ao menos que se dê a este teu servo
uma porção de terra para um altar,
tanto quanto possa carregar uma parelha de mulas,
porque o teu servo nunca mais há de oferecer
holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses,
mas apenas ao Senhor, Deus de Israel».
CONTEXTO
A primeira leitura deste domingo situa-nos no reino do Norte (Israel), durante o reinado de Jorão (852-841 a.C.). Por essa altura os reis de Israel, determinados em reivindicar para o seu país um lugar de destaque no tabuleiro político do antigo Médio Oriente, promovem contactos comerciais, culturais e políticos com outros reinos da zona. Essa política, se por um lado favorece a interculturalidade e o diálogo de povos, por outro lado vai ameaçar a identidade e os valores tradicionais de Israel. Em termos religiosos, essa política de abertura de fronteiras traduzir-se-á numa invasão de deuses, de cultos e de valores estranhos, que ameaçam a integridade da fé javista. O rei Jorão ainda se preocupou em eliminar dos santuários do Norte “as estátuas que seu pai tinha erigido a Baal” (2 Re 3,2); contudo, não conseguiu impedir que os deuses cananeus assumissem um grande protagonismo e que Baal tivesse ocupado o lugar de Javé no coração e na vida de muitos israelitas.
Nesta fase, o profeta Eliseu (o nome significa “Deus salva”) assume-se como o grande defensor da fé javista continuando, aliás, a obra do seu antecessor, o profeta Elias. Tanto quanto sabemos, Eliseu fazia parte de uma comunidade de “filhos dos profetas” (2 Re 2,3; 4,1). Trata-se, provavelmente, de um círculo religioso e profético cujos membros eram, nesses tempos difíceis, os seguidores incondicionais de Javé. Críticos da realeza, os “filhos dos profetas” defendiam o povo simples, a todo o instante vítima da injustiça e da arbitrariedade dos poderosos.
É neste cenário que, inesperadamente, os autores deuteronomistas decidem colocar a história de um venerável general estrangeiro chamado Naamã (2 Re 5). Considerado um dos heróis da Síria, Naamã era leproso (na realidade, a doença de Naamã devia ser uma outra qualquer doença de pele, sem as características da tradicional lepra, uma vez que não o impedia de viver em contacto com outras pessoas). Informado por uma serva de que em Israel havia um profeta que podia curá-lo, Naamã veio ao encontro de Eliseu, carregado de presentes, para ver se o profeta conseguia limpá-lo da lepra. Eliseu mandou, apenas, que Naamã se banhasse sete vezes no rio Jordão (cf. 2 Re 5,1-13).
MENSAGEM
Naamã, o general sírio que veio até Israel à procura da cura para a lepra, cumpriu as indicações do profeta Eliseu e mergulhou sete vezes no rio Jordão. Ficou totalmente livre da sua doença, de tal forma que “a sua carne tornou-se tenra como a de uma criança” (vers. 14). O relato feito pelo teólogo deuteronomista é uma reportagem factual sobre a cura de um leproso? É, sobretudo, uma reflexão de carácter teológico e catequético, que pretende ajudar os crentes israelitas, atraídos pelo culto do deus cananeu Baal, a redescobrir os fundamentos da sua fé.
A “catequese” desenvolve-se em diversos “passos”. A ideia que a tudo preside é a de que Javé é o Senhor da vida, que Ele tem um projeto de libertação para o homem e que só Ele pode salvar aquele que parece condenado à morte. É verdade que, em muitas situações, Deus intervém no mundo através de homens (como Eliseu); mas é d’Ele – e apenas d’Ele – que brotam a vida e a salvação. Naamã teve imediatamente consciência dessa realidade e expressou a sua convicção desta forma: “agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus senão o de Israel” (vers. 15). É preciso que os israelitas reconheçam isto, como o sírio Naamã o reconheceu.
Os catequistas de Israel quiseram também mostrar que a intervenção salvadora de Javé não é uma ação meramente circunstancial, que apenas resolve um problema físico, como era a doença que afetava Naamã; mas é uma ação que atua a um nível profundo e que transforma radicalmente o sentido da vida daqueles que são objeto da intervenção de Deus. Naamã não ficou só curado de uma doença física que punha em risco a sua vida, mas a intervenção de Deus saldou-se numa transformação espiritual que fez daquele estrangeiro um homem novo e o levou a deixar os ídolos para servir o verdadeiro e único Deus.
A narração da cura de Naamã deixa ainda claro que a salvação que Deus oferece não está reservada a um grupo privilegiado ou a uma raça especial. Naamã, o general sírio, era um inimigo tradicional do Povo de Deus; mas Deus, sem se deixar prender por considerações nacionalistas, cura-o da lepra. Na verdade, Deus não faz distinção de pessoas; Ele oferece a todos, sem exceção, a sua graça. O que é decisivo é a disponibilidade para acolher o dom de Deus e para se deixar transformar por Ele.
O teólogo deuteronomista que nos ofereceu este relato põe ainda em relevo a forma como Naamã reagiu ao dom de Deus. Liberto dos males que o apoquentavam, Naamã quis agradecer a sua cura cumulando Eliseu de presentes; mas depressa percebeu (por ação de Eliseu, que o ajudou a ver claro) que não era a um homem que tinha de agradecer o dom da vida, mas sim a Deus… A gratidão de Naamã manifestou-se numa adesão total a Javé: os catequistas de Israel sugerem que é essa a resposta que Deus espera do homem. O facto de ser um estrangeiro, um inimigo, a dar a Deus esta resposta, deveria constituir uma profunda interpelação para os israelitas, o povo da Aliança.
Finalmente, somos convidados e olhar para a figura de Eliseu. Este “homem de Deus” cumpre a sua missão e atua no mundo em nome de Deus. Não o movem interesses próprios; o seu único “interesse” é cumprir a missão que lhe foi confiada e oferecer aos homens a salvação de Deus. Quando Naamã pretende oferecer-lhe um presente, em sinal de agradecimento, Eliseu recusa: é a Deus e só a Deus que Naamã deve agradecer a sua cura. É provável que haja aqui uma denúncia irónica da atitude dos líderes religiosos da época, sempre preocupados em utilizar Deus em benefício dos seus esquemas egoístas.
INTERPELAÇÕES
- A cada passo – às vezes de forma totalmente inesperada – somos confrontados com a nossa debilidade. As contrariedades que o dia a dia apresenta, os problemas que ameaçam o equilíbrio da nossa vida, a impotência que experimentamos diante da violência e da maldade, o desmoronamento repentino das nossas certezas, a precariedade da nossa saúde, fazem-nos descobrir que somos “barro” frágil, que facilmente se quebra em pedaços. Ansiamos por seguranças, buscamos certezas, procuramos vida em plenitude; mas, onde encontrar tudo isso? Nesses bens materiais que nos dão uma ilusão de poder, de bem-estar, de tranquilidade, mas que rapidamente nos fogem das mãos? Nos líderes de opinião que nos dizem todos os dias como devemos viver para termos êxito e nos sentirmos integrados, mas que logo nos usam para alimentar os seus projetos pessoais? Nos charlatães que nos garantem remédios para o mau olhado, para inveja, para os males de amor, para o insucesso nos negócios, para todas as doenças físicas e espirituais, mas que apenas estão interessados no nosso dinheiro? Os teólogos de Israel que nos ofereceram esta catequese sobre a cura do general sírio Naamã ensinam que só Deus é fonte de vida e que é apenas em Deus que podemos confiar. É em Deus que colocamos a nossa esperança de salvação e de vida plena, ou há outros deuses que nos seduzem e aos quais entregamos a condução da nossa vida?
- Essa salvação que Deus oferece destina-se a todos, ou é exclusiva? Naamã não fazia parte do povo de Deus. Mais: era um militar e fazia parte de um exército que, ao longo da história, tinha por diversas vezes trazido violência e morte ao povo de Deus. Apesar de tudo, Deus não lhe recusou a cura que ele solicitava. A salvação de Deus destina-se a todos os homens e mulheres, sem exceção. O nosso Deus não é um Deus dos “bons”, dos bem comportados, dos que “vão à missa”, dos que integram as confrarias religiosas, dos politicamente corretos, dos que têm o nome inscrito no livro de registos de batismo da paróquia; mas é o Deus de todos, todos, todos. É o Deus que oferece a vida a todos e que a todos ama como filhos. O que é decisivo é aceitar a sua oferta de salvação e acolher o seu dom. Independentemente de quem somos e do que temos feito, estamos dispostos a acolher a salvação de Deus? Depois de termos visto como Deus age e constatado a universalidade do amor de Deus poderemos, em alguma circunstância, fazer aceção de pessoas e marginalizar os se cruzam connosco nos caminhos da vida?
- Naamã, depois de ter recebido, através do profeta Eliseu, os dons de Deus, mostrou-se profundamente agradecido. É claro que Deus não faz as coisas para ter a nossa gratidão; fá-las simplesmente porque nos ama. Mas seria estranho se, diante das inúmeras manifestações do amor de Deus, ficássemos impassíveis e indiferentes, abstendo-nos de Lhe mostrar o quanto Lhe estamos agradecidos. Como recebemos tudo aquilo que Deus faz por nós, a cada instante? Temos consciência das pequenas e grandes dádivas que a cada momento Deus nos faz? Procuramos mostrar-Lhe a nossa gratidão?
- Eliseu, o profeta, recebeu de Deus uma missão: ser testemunha da salvação de Deus no mundo. No cumprimento da sua missão, Eliseu nunca se preocupou em salvaguardar os seus interesses pessoais, nunca aproveitou a missão para se autopromover, nunca procurou atrair para si próprio o olhar ou a gratidão daqueles que era chamado a servir. No cumprimento da missão profética que nos foi confiada, é assim que agimos?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)
Refrão 1: O Senhor manifestou a salvação a todos os povos.
Refrão 2: Diante dos povos manifestou Deus a salvação.
Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.
O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.
Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.
LEITURA II – 2 Timóteo 2,8-13
Caríssimo:
Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David,
ressuscitou dos mortos, segundo o meu Evangelho,
pelo qual eu sofro,
até ao ponto de estar preso a estas cadeias como um malfeitor.
Mas a palavra de Deus não está encadeada.
Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos,
para que obtenham a salvação que está em Cristo Jesus,
com a glória eterna.
É digna de fé esta palavra:
Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos;
se sofremos com Cristo, também com ele reinaremos;
se O negarmos, também Ele nos negará;
se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel,
porque não pode negar-Se a Si mesmo.
CONTEXTO
A Segunda Carta a Timóteo faz parte de um bloco de textos neotestamentários a que se costuma chamar “Cartas Pastorais”. São textos dirigidos a “pastores” de comunidades (Tito e Timóteo), com conselhos e indicações para um frutuoso exercício do ministério que lhes foi confiado.
Timóteo, o destinatário desta carta, era natural de Listra, uma cidade situada na região da Licaónia, na Ásia Menor (atual Turquia). Era filho de pai grego e de mãe judeo-cristã. Timóteo conheceu o apóstolo Paulo quando este, no decurso da sua segunda viagem missionária, passou por Listra. Tornou-se companheiro de missão de Paulo, acompanhando-o à Bereia, Atenas (cf. At 17,14-15), Corinto (cf. At 18,5) e Éfeso (cf. At 19,22). Paulo confiava plenamente em Timóteo, chegando a encarregá-lo de algumas missões delicadas junto de comunidades cristãs que se defrontavam com problemas (cf. 1 Ts 3,2.6; 1 Cor 4,17; 16,10-11). A tradição cristã refere Timóteo como o primeiro bispo de Éfeso.
Como a primeira Carta a Timóteo, também esta se apresenta como uma carta escrita por Paulo da prisão (em Roma?) ao seu discípulo Timóteo. Tem quase a forma de um testamento de despedida, numa altura em que Paulo sentiria aproximar-se o tempo da sua partida deste mundo. Embora esta carta seja, entre as Cartas Pastorais, a que mais se aproxima do estilo de Paulo, não é considerada, pela maioria dos especialistas, como uma carta paulina. Reflete a realidade e a organização de uma Igreja do final do séc. I, numa altura em que Paulo já tinha desaparecido (Paulo foi martirizado em Roma, por volta do ano 65, durante a perseguição de Nero).
No texto que a liturgia deste dia nos apresenta como segunda leitura, o autor da carta diz a Timóteo porque é que ele deve dedicar-se totalmente ao ministério que lhe foi confiado.
MENSAGEM
Timóteo conhece o Evangelho proclamado por Paulo: Cristo Jesus, o Messias de Deus (o “descendente de David” – vers. 8), chegou à glória da ressurreição pelo caminho da cruz e do dom da vida. Sim, o compromisso com o Evangelho e com o Reino é muitas vezes motivo de sofrimento, como se vê pelo exemplo do próprio Paulo que, por causa do seu testemunho, jaz acorrentado na cadeia, “como se fosse um malfeitor” (vers. 9a). Mas o caminho da cruz não é um caminho que termina no fracasso; é um caminho que leva leva à vida nova.
A perseguição e a prisão poderão pôr um travão ao anúncio do Evangelho? Não. A Palavra de Deus não pode ser acorrentada (vers. 9b). Ela é capaz de ultrapassar os muros da prisão e de se apresentar cá fora para transformar o mundo e os corações dos homens. Paulo, consciente de tudo isto, está disposto a suportar algum incómodo pessoal para que “os eleitos” de Deus “obtenham a salvação que está em Cristo Jesus” (vers. 10). Vale a pena lutar, vale a pena comprometer-se, vale a pena sofrer, vale a pena conhecer o cárcere, vale a pena dar a vida, a fim de que o Evangelho de Jesus alcance e salve todos os homens. Timóteo, tendo sempre diante dos olhos o exemplo de Cristo e o exemplo do próprio Paulo, há de dedicar-se totalmente ao ministério que lhe foi confiado, mesmo que isso implique sofrimento, sacrifícios, incompreensões, perseguições; Timóteo, sejam quais forem os obstáculos que tiver de enfrentar, deve cumprir a missão que lhe foi confiada e esforçar-se ao máximo para levar a todos os homens a salvação de Deus.
Finalmente, o autor da carta conclui a sua exortação transcrevendo parte de um hino litúrgico usado nas comunidades paulinas. O hino apela à identificação do cristão com Cristo (“é digna de fé esta palavra: se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com ele reinaremos” – vers. 11-12a). A participação nos sofrimentos de Cristo far-nos-á encontrar vida em plenitude, ao lado d’Ele. Se recusarmos Cristo, ficaremos afastados d’Ele e teremos vivido em vão (vers. 12b); mas, se não recusarmos Cristo, mesmo que falhemos por causa da nossa fragilidade, não seremos abandonados por Ele e chegaremos à vida definitiva (vers. 13).
INTERPELAÇÕES
- No final do séc. I não era fácil viver comprometido com o Evangelho de Jesus. O autor da segunda Carta a Timóteo recorda-nos que o próprio apóstolo Paulo, prisioneiro por causa da sua fé, tinha experimentado esta realidade na pele. Entretanto, desde a época de Paulo e Timóteo passaram-se muitos séculos e correu muita água debaixo das pontes da história. O cenário de hoje é diferente? De forma significativa, não. Em muitos lugares do nosso mundo há cristãos que são perseguidos, presos, torturados e assassinados por causa da sua fé; por todo o lado – também entre nós – há cristãos que são caluniados, criticados, escarnecidos, menosprezados, pelas suas convicções, pelos valores que defendem, pela forma como vivem. Como encarar isto? As dificuldades, as incompreensões, as críticas, constituirão razões suficientes para deixarmos de dar testemunho do Evangelho? Devemos desistir de seguir Jesus e de propor o Reino de Deus? Se desistirmos, não estaremos a defraudar o projeto de Deus e a impedir que a Boa Nova de Jesus sacie a sede de vida que afeta tantos e tantos homens e mulheres? Como nos situamos em relação a tudo isto?
- Naturalmente, nenhum de nós está interessado em “falhar” a vida. Todos queremos que a nossa vida faça sentido e seja coroada de êxito. O que podemos fazer, como devemos viver, para que a nossa vida valha a pena? Deveremos apostar nos êxitos humanos, nos triunfos sociais, na busca da fama, do reconhecimento e dos aplausos daqueles que nos rodeiam? O autor da Segunda Carta a Timóteo, depois de ver o que aconteceu com Jesus, sugere um outro caminho: chegaremos à nossa realização plena se gastarmos a vida a servir e a amar, até ao do total de nós próprios. Jesus ressuscitou e foi glorificado depois de passar pela cruz. Se percorrermos o mesmo caminho de Jesus, encontrar-nos-emos, no final do caminho, com a vida definitiva (“se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos”). Achamos que isto faz sentido? Estamos dispostos a percorrer o caminho de Jesus, a viver e a amar como Ele?
ALELUIA – cf. 1Tes 5,18
Aleluia. Aleluia.
Em todo o tempo e lugar dai graças a Deus,
porque esta é a sua vontade a vosso respeito em Cristo Jesus.
EVANGELHO – Lucas 17,11-19
Naquele tempo,
indo Jesus a caminho de Jerusalém,
passava entre a Samaria e a Galileia.
Ao entrar numa povoação,
vieram ao seu encontro dez leprosos.
Conservando-se a distância, disseram em alta voz:
«Jesus, Mestre, tem compaixão de nós».
Ao vê-los, Jesus disse-lhes:
«Ide mostrar-vos aos sacerdotes».
E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra.
Um deles, ao ver-se curado,
voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz,
e prostrou-se de rosto por terra aos pés de Jesus
para Lhe agradecer.
Era um samaritano.
Jesus, tomando a palavra, disse:
«Não foram dez que ficaram curados?
Onde estão os outros nove?
Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus
senão este estrangeiro?»
E disse ao homem:
«Levanta-te e segue o teu caminho;
a tua fé te salvou».
CONTEXTO
Jesus e os discípulos vão a caminho de Jerusalém. Lucas indica que o episódio que vai ser narrado sucedeu quando passavam “entre a Samaria e a Galileia”. A indicação é imprecisa; mas a preocupação fundamental de Lucas não é apresentar um itinerário geográfico detalhado, mas sim dar-nos conta de uma “peregrinação espiritual” durante a qual os discípulos vão amadurecendo a proposta de Jesus e aprofundando o seu compromisso com o Reino de Deus. O grupo que caminha com Jesus depara-se, “ao entrar numa povoação”, com um grupo de dez leprosos.
O leproso era, no tempo de Jesus, o protótipo do marginalizado. O aspeto físico de um leproso causava repugnância; o medo da contaminação fazia com que todos se afastassem do doente. Além disso, a teologia oficial considerava o leproso um impuro ritual (cf. Lev 13-14), um “castigado por Deus” por ter cometido pecados especialmente graves. O contacto com um leproso provocava impureza; por isso, o leproso não podia entrar nas povoações: vivia em lugares isolados e, quando alguém se aproximava, devia avisar da sua triste condição, gritando: “impuro, impuro”. Estava-lhe inclusive vedada a entrada na cidade de Jerusalém, a fim de não conspurcar, com a sua impureza, o lugar sagrado onde estava o templo. No caso improvável de cura, o leproso devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que este comprovasse o facto e lhe permitisse a reintegração na vida normal (cf. Lev 14). Podia, então, voltar a participar nas celebrações do culto.
Há um outro elemento a considerar no relato de Lucas: um dos leprosos que se apresentam diante de Jesus é samaritano. Os habitantes da Samaria eram desprezados pelos judeus de Jerusalém, por causa do seu sincretismo religioso. A desconfiança religiosa dos judeus em relação aos samaritanos começou quando, em 721 a.C. (após a queda do reino do Norte), os colonos assírios invadiram a Samaria e começaram a misturar-se com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se. Alguns anos depois, após o regresso do exílio da Babilónia, os habitantes de Jerusalém recusaram a ajuda dos samaritanos na reconstrução do Templo e evitaram os contactos com esses hereges, “raça misturada com pagãos”. A construção de um santuário samaritano no monte Garizim (séc. IV a.C.) consumou a separação entre as duas comunidades e, na perspetiva judaica, lançou definitivamente os samaritanos nos caminhos da infidelidade a Javé. Algumas picardias mútuas nos séculos seguintes consolidaram a inimizade entre judeus e samaritanos. Na época de Jesus, a relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande hostilidade.
O episódio da cura dos dez leprosos por Jesus, é exclusivo de Lucas.
MENSAGEM
Algures na fronteira entre a Samaria e a Galileia (vers. 11), Jesus e os discípulos encontram um grupo de dez leprosos que, possivelmente, viviam em comunidade (vers. 12). O número dez poderá ter aqui um significado simbólico: é um número que significa “totalidade” (os costumes religiosos judaicos previam que, para a validade da oração comunitária, era necessária a presença de pelo menos dez homens, pois o “dez” representa a totalidade da comunidade). Estes doentes, apesar de não poderem entrar nas povoações, acampavam frequentemente nos arredores das aldeias ou cidades e pediam esmola para poderem subsistir. Um dos leprosos é um samaritano, um homem duplamente impuro: pela doença e pelo facto de pertencer à comunidade herética dos samaritanos.
Os leprosos, embora mantendo-se à distância, conforme a lei exigia, dirigem-se a Jesus. Provavelmente já tinham ouvido falar do profeta da Galileia e da sua misericórdia para com os últimos, os marginais, os desprezados. Chamam Jesus pelo nome próprio e por uma designação que significa “mestre” (“epistates”). Reconhecem a autoridade de Jesus e esperam qualquer coisa d’Ele (vers. 13). Lucas diz-nos que eles pedem a Jesus que tenha “compaixão” (“eleo”). O termo usado não esclarece se os leprosos apenas esperam uma banal esmola, ou se pretendem algo mais profundo e duradouro.
Lucas conta que Jesus “vê” aqueles homens. O verbo usado recorda a forma como, muitos séculos antes, Deus encarou o seu povo escravizado no Egito: “Eu vi a opressão do meu povo que está no Egito” (Ex 3,7). Dizer que “Deus vê” é dizer que Deus não fica indiferente ao sofrimento do seu povo e que vai atuar para o salvar; dizer que Jesus “vê” aqueles leprosos poderá sugerir que Ele se dispõe a intervir para os salvar e lhes devolver a vida.
No entanto, Jesus nem dá esmola, nem faz qualquer gesto de cura. Limita-se a dizer aos leprosos: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes” (vers. 14a). Segundo a Lei, competia aos sacerdotes declarar o estado de impureza de um leproso e a sua exclusão da comunidade (cf. Lv 13,1-3). Em sentido inverso, também competia aos sacerdotes avaliar uma eventual cura e decretar a reintegração do doente na comunidade (cf. Lv 14,3-4). Como é que os leprosos viram a recomendação de Jesus? Entenderam que ficariam curados da doença que os apoquentava e que deviam, portanto, ir imediatamente obter o “certificado” que lhes permitia retomar a sua vida normal? No entanto, por esta altura ainda continuavam com todos os sintomas da doença. A sua partida ao encontro dos sacerdotes, sem hesitações nem pedidos de esclarecimento, indica que eles confiaram totalmente em Jesus e na sua capacidade de lhes devolver a saúde e a vida. Trata-se, portanto, de uma extraordinária afirmação de fé.
Lucas diz-nos que foi “no caminho” que os dez doentes ficaram limpos da lepra (vers. 14b). Portanto, a cura não acontece imediatamente, mas só depois de percorrido um “caminho”. Na teologia de Lucas, o “caminho” é uma viagem espiritual que é preciso percorrer até se estar preparado para acolher a vida nova do Reino de Deus. A “conversão”, a mudança de vida, não acontece de um instante para o outro, por um golpe de magia. Só depois de percorrido um “caminho” e de ao longo do “caminho” sermos “trabalhados” pela palavra de Jesus, ficamos “curados” daquilo que nos impede de ter vida em abundância.
Chagados aqui, a história da cura dos leprosos poderia estar terminada. No entanto, a parte mais importante do episódio vem agora (vers. 15-19).
Um dos homens que, no “caminho”, se sentiu “limpo” – precisamente o que era samaritano – inverteu a marcha e voltou para trás, ao encontro de Jesus. Lucas diz-nos que ele glorificava “a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto por terra aos pés de Jesus para Lhe agradecer” (vers. 15-16). O gesto de se prostrar é um sinal de profundo respeito, que por vezes acompanha a oração (cf. Jud 9,1; Mt 26,39). Aqui significa, sobretudo, que aquele homem reconhece Jesus como o seu salvador. Sabe que a força salvadora de Jesus tem origem em Deus e agradece a Deus a sua misericórdia. Reconhece que, em Jesus, a salvação de Deus chegou ao mundo e à vida dos homens. Naturalmente, sente-se grato por aquilo que lhe aconteceu; mas o que ele sente e quer expressar é mais do que gratidão: é o reconhecimento da bondade de Deus pelos seus filhos, uma bondade que em Jesus e por Jesus “tocou” o mundo e a vida dos homens. Transformado pelo amor misericordioso de Deus, aquele homem sente agora que pode refazer a sua vida e voltar a encontrar a sua dignidade.
Lucas deixa para o fim uma constatação surpreendente: aquele homem “era um samaritano” (vers. 16). A salvação que Deus oferece, através de Jesus, destina-se a todos os homens, sem exceção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação. Além disso, o facto de aquele homem ser um samaritano mostra que, muitas vezes, são os “marginais, os desprezados pela sociedade e pela religião, os improváveis, os malditos os primeiros a reconhecer os dons de Deus, a acolhê-los, a manifestar a sua gratidão. Esta afirmação revoluciona profundamente a base sobre a qual assentava toda a catequese de Israel. Denuncia a autossuficiência dos judeus que, por se sentirem “povo eleito”, achavam natural que Deus os cumulasse dos seus dons, mas que nunca reconheceram a salvação que, através de Jesus, Deus lhes ofereceu.
As palavras finais de Jesus, numa sucessão de perguntas retóricas (vers. 17-19), põem em relevo a “qualidade” da “resposta de fé” daquele “gentio”. Ele não só acreditou em Jesus (como os outros), mas fez mais: soube reconhecer o dom de Deus, aceitou Jesus como o seu salvador e voltou ao seu encontro, quis manifestar a Deus a sua gratidão e o seu amor. Lucas sugere que é dessa forma que os verdadeiros discípulos – esses que continuam dia a dia a percorrer com Jesus o caminho de Jerusalém – devem responder ao amor e à misericórdia de Deus.
INTERPELAÇÕES
- Aqueles dez leprosos que esperavam Jesus à entrada de uma povoação situada “entre a Samaria e a Galileia” são a imagem de uma humanidade que se arrasta pelos caminhos da vida, ferida pela miséria, pela marginalização, pela solidão, pela indiferença dos seus irmãos; são a imagem de tantos homens e mulheres magoados, atirados para as bermas da vida e da história, que não encontram resposta para os seus males nas estruturas oficiais de apoio e que parecem condenados a terminar em becos sem saída; são a imagem daqueles que se sentem sujos pelo pecado, pelas opções erradas, por faltas que lhes pesam na consciência e que lhes parecem sem perdão. Para todos esses, o evangelista Lucas tem uma Boa Notícia: Deus não os abandona, Deus não os esquece, Deus olha-os com “compaixão”, Deus quer salvá-los. Jesus traz-lhes uma proposta de salvação, vinda de Deus. Para ficarem limpos dessa “lepra” que lhes rouba a vida, a dignidade e a capacidade de viverem como seres humanos, devem encontrar-se com Jesus, escutar a Sua Palavra, seguirem em frente na direção que Ele indicar… Algures ao longo do caminho irão reencontrar a sua dignidade, a sua humanidade e tornar-se-ão pessoas novas. Todos nós que, em tantos momentos da nossa vida, nos sentimos sujos, feridos, doentes, indignos, marginais, estamos dispostos a ir ter com Jesus, a acolher as indicações que Ele tem para nos dar, a percorrer um caminho de transformação e de conversão que nos leve em direção a uma vida nova?
- Detenhamo-nos um pouco mais a olhar para aquele “caminho” sugerido por Jesus, no decurso do qual os “leprosos” ficaram “limpos” e se transformaram em pessoas novas… No início desse “caminho” está a consciência da nossa fragilidade e a vontade de ultrapassarmos a nossa triste situação. Depois vem um encontro com Jesus e o apelo que Lhe dirigimos: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós”. Diante dos nossos pedidos de ajuda, Jesus não faz gestos mágicos nem nos impõe soluções milagrosas. Simplesmente, mostra-nos o amor de Deus, convida-nos a viver ao ritmo da Sua Palavra, mostra-nos o caminho que devemos percorrer, exorta-nos a atirar fora as marcas dessa “doença” que nos suja e que nos impede de ter vida em abundância… E só depois de um caminho mais ou menos longo de interiorização e de acolhimento dos valores de Jesus nos tornamos pessoas novas, transformadas, curadas, capazes de viver de acordo com um dinamismo novo. Nós que tantas vezes nos sentimos “leprosos”, indignos, confundidos, abandonados por Deus e pelos homens, estamos dispostos a deixar-nos conduzir por Jesus? Estamos dispostos a ouvir a Sua Palavra e a conduzir a nossa vida de acordo com as Suas orientações?
- Daqueles homens que, no caminho, ficaram curados da “lepra”, só um veio a correr ter com Jesus e se prostrou diante d’Ele para Lhe agradecer. Só um viu naquilo que lhe tinha acontecido enquanto caminhava, um sinal extraordinário da misericórdia e do amor de Deus; só um viu em Jesus o enviado de Deus para oferecer aos homens a possibilidade de viverem uma vida nova, livre de todas as cadeias, de todos os medos e de todas as indignidades; só um foi capaz de captar a grandeza de Deus e a sua bondade insondável; só um experimentou uma gratidão tão grande que não podia ser calada por mais um instante sequer. O texto não diz porque é que os outros não voltaram a correr para Jesus. Terão achado que aquilo que lhes aconteceu era tão “normal” que não precisava de agradecimentos extraordinários? Terão achado que era obrigação de Deus compensá-los pelo azar que tinham tido na vida? Seriam simplesmente pessoas “desligadas”, que não tinham a sensibilidade suficiente para mostrar gratidão? E nós, somos capazes de reconhecer os dons que Deus todos os dias coloca na nossa existência? Conseguimos reconhecer em Jesus o “irmão” que Deus enviou ao nosso encontro e que nos oferece, gratuitamente e sem condições, a salvação de Deus? Lembramo-nos de agradecer a Deus os seus dons, a Sua bondade, o Seu amor, a Sua salvação?
- Lucas faz questão de dizer que o homem que voltou ao encontro de Jesus e se prostrou diante d’Ele era um samaritano, um herege, um homem que os judeus tinham decidido “à priori” que estava afastado de Deus e dos caminhos da salvação. Ao colocar aquele samaritano “na crista da onda”, Lucas não estás apenas a sugerir que a salvação de Deus se destina a todos os homens e mulheres, sem exceção; está também a dizer que, muitas vezes, são aqueles que parecem à margem dos caminhos da fé que mais facilmente se deixam “tocar” pela bondade e pela misericórdia de Deus. Lucas terá razão? Não poderá acontecer que nós, os que lidamos frequentemente com o mundo do sagrado e do religioso, nos instalemos numa rotina e numa habituação que nos fazem passar ao lado das interpelações de Deus? Não poderá acontecer que nós, instalados nas nossas certezas e na nossa autossuficiência, nos esqueçamos de acolher com humildade e simplicidade os dons de Deus?
- O facto de Jesus se ter detido e se ter deixado interpelar por aqueles leprosos, faz-nos pensar na forma como lidamos com os “leprosos” de todo o tipo que a cada passo se cruzam connosco… Como tratamos os nossos irmãos que encontramos caídos nas bermas da estrada da vida? Como vemos os imigrantes sem papéis e sem futuro, os sem abrigo que encontramos adormecidos debaixo de jornais nos recantos da nossa cidade, os doentes terminais que evitamos porque a sua dor nos incomoda, os idosos solitários e a necessitar de cuidados básicos, os “diferentes” cujas opções não compreendemos, os que não são politicamente corretos e socialmente integrados, os que não têm um aspeto físico de acordo com os padrões definidos? Passamos por eles indiferentes e apressados, ou tratamo-los como irmãos que foram postos no nosso caminho para sermos junto deles testemunhas do amor e da bondade de Deus?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 28.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 28.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA CELEBRADA NA EUCARISTIA.
A Palavra de Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na preparação da celebração, procurar que algumas expressões da liturgia da Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração dos fiéis, num momento de ação de graças… Hoje, a liturgia da Palavra está unificada à volta do tema da salvação e tem um sentido dialogal: Deus dá a graça, nós damos graças pelo dom da salvação, o dom do seu amor.
3. BILHETE DE EVANGELHO.
É preciso ser um samaritano, um dos habitantes da Samaria com os quais os Judeus não querem ter nada em comum, a vir até Jesus após a sua cura, para ter um ato de reconhecimento. Sim, ele reconhece que Deus o curou pois ele glorifica-O, enquanto Jesus reconhecerá que a sua fé o salvou. Ele é salvo precisamente porque reconhece Aquele que o salva. Tal é a diferença em relação aos outros nove leprosos curados que não reconhecem Aquele que os purificou. Enfim, o leproso samaritano faz ato de reconhecimento vindo agradecer: lança o rosto por terra aos pés de Jesus dando-Lhe graças. O homem pode levantar-se porque está totalmente salvo: não apenas o seu corpo é purificado mas, ao vir glorificar Deus e dar-Lhe graças, pode aproximar-se de Jesus, o verdadeiro Salvador, que salva o homem e dele espera a caminhada da fé.
4. À ESCUTA DA PALAVRA.
Todos os pais têm a preocupação em ensinar aos seus filhos “se faz favor” e “obrigado”. Isso faz parte da boa educação. Mas estas duas palavras estão carregadas de um sentido que a criança deve descobrir progressivamente: ninguém consegue sozinho, todos temos necessidade dos outros. Reconhecer que, sozinho, não posso fazer tudo; tenho necessidade de receber, de pedir. E dizendo obrigado aos outros, reconheço que me fizeram bem. Enfim, estas palavras, que parecem tão banais, exprimem a dimensão social do ser humano. A comunidade humana e a comunidade cristã constroem-se através destas relações, destes contactos quotidianos nos quais cada um se reconhece, em todos os sentidos desta palavra. Hoje, Jesus convida-nos a recordar tudo isso na nossa relação com Deus. Os dez leprosos vieram até Ele porque reconheciam n’Ele um mestre, um enviado de Deus. Ousam pedir o que ninguém podia dar naquela época: a cura da lepra. Pedem um favor que ultrapassa as forças humanas. É a Deus que se dirigem através de Jesus. Pedem a Jesus e Ele cura-os. Mas um só vem dizer “obrigado”. Um estrangeiro, um samaritano. Talvez os outros pensassem que tinham o direito de serem curados por serem judeus… O estrangeiro, esse, reconhece que a sua cura é dom gratuito da bondade de Deus. Volta junto de Jesus para “reconhecer” este dom. Entra numa relação plena com Deus. Veio com a sua pobreza, para pedir; regressa, com a sua gratidão, para reconhecer que Jesus respondeu ao seu pedido. O ato central, fonte e cume da vida cristã, a Eucaristia, significa “ação de graças”. Eis o pedido supremo que podemos dirigir a Deus: que nos dê a sua presença em Jesus ressuscitado e o nosso “obrigado”, o mais perfeito possível que possamos dizer a Deus. Aí, estamos bem no coração da nossa fé e do nosso amor.
5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III para as Assembleias com Crianças, que exprime muito simplesmente o obrigado, a ação de graças; rezá-la bem, com calma…
6. PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: “Cantai ao Senhor um cântico novo”…; “A Palavra de Deus não está encadeada”…; “Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos”…; “Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou”… Procurar transformá-las em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org