29º Domingo do Tempo Comum - Ano C [atualizado]
19 de Outubro, 2025
ANO C
29.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 29.º Domingo do Tempo Comum
As leituras que a liturgia do vigésimo nono domingo comum nos propõe recordam-nos a importância de manter com Deus uma relação estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente, uma escuta atenta… O diálogo contínuo com Deus trará à nossa vida uma nova luz: permitir-nos-á compreender os silêncios de Deus, respeitar os tempos de Deus, entender o projeto de Deus, confiar sempre no amor de Deus.
A primeira leitura traz-nos um episódio da caminhada do povo de Deus pelo deserto: durante um confronto de Israel com os amalecitas, Moisés ficou em oração, no cimo de um monte, pedindo a Deus que salvasse o seu povo. Ao contar esta história, a catequese de Israel pretende sublinhar o poder da oração. O crente só conseguirá enfrentar as duras batalhas que a vida lhe impõe se puder contar com a ajuda e a força de Deus; e essa ajuda e essa força brotam de um diálogo contínuo, nunca interrompido e nunca acabado, com esse Deus salvador e libertador que acompanha o seu povo em cada passo do caminho.
No Evangelho Jesus conta aos discípulos uma parábola sobre “a necessidade de orar sempre sem desanimar”. Segundo Jesus, Deus escuta sempre a oração dos seus filhos e, no tempo oportuno, há de dar resposta a tudo aquilo que eles lhe dizem. Entretanto, independentemente da resposta de Deus, a oração faz bem: aproxima os crentes de Deus, fá-los entender o projeto de Deus, leva-os a confiar incondicionalmente em Deus, na sua misericórdia, na sua bondade, no seu amor.
Na segunda leitura um mestre cristão do final do primeiro século convida os crentes a terem sempre em conta, na construção do edifício da sua fé, a Sagrada Escritura. Ela é um lugar privilegiado de encontro entre Deus e o homem. Escutar a Escritura é escutar o Deus que fala e que mostra o caminho que conduz à vida verdadeira. A oração também passa pela escuta desse Deus que nos fala através da Sua Palavra escrita.
LEITURA I – Êxodo 17,8-13a
Naqueles dias,
Amalec veio a Refidim atacar Israel.
Moisés disse a Josué:
«Escolhe alguns homens
e amanhã sai a combater Amalec.
Eu irei colocar-me no cimo da colina,
com a vara de Deus na mão».
Josué fez o que Moisés lhe ordenara e atacou Amalec,
enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina.
Quando Moisés tinha as mãos levantadas,
Israel ganhava vantagem;
mas quando as deixava cair, tinha vantagem Amalec.
Como as mãos de Moisés se iam tornando pesadas,
trouxeram uma pedra e colocaram-no por debaixo
para que ele se sentasse,
enquanto Aarão e Hur, um de cada lado,
lhe seguravam as mãos.
Assim se mantiveram firmes as suas mãos até ao pôr do sol
e Josué desbaratou Amalec e o seu povo ao fio da espada.
CONTEXTO
A secção de Ex 15,22-18,27 desenvolve um dos grandes temas do Pentateuco: a marcha pelo deserto dos hebreus libertados da escravidão no Egito. Aqui estamos, ainda, na primeira etapa dessa marcha, a que vai desde a passagem do mar (cf. Ex 14,15-31), até ao Sinai.
Ao longo da caminhada, Israel confrontou-se com as mais diversas contrariedades. Algumas – por exemplo, a sede (cf. Ex 15,22-27; 17,1-7) e a fome (cf. Ex 16,1-36) – resultaram das condições naturais que o ambiente desolado e hostil do deserto impunha; mas outras advieram de fatores humanos, nomeadamente da oposição de grupos inimigos. O episódio que a primeira leitura deste domingo nos apresenta refere-se a um confronto com um grupo inimigo designado no texto por “Amalek”.
Os amalecitas eram uma tribo nómada, violenta e agressiva, que circulava pela zona do Neguev (“sul”), entre o Sinai e Canaan. O oráculo de Balaão (cf. Nm 24,20) refere-se aos amalecitas como “o mais antigo dos povos”. Descendentes de Esaú (cf. Gn 36,12), os amalecitas eram aparentados com Israel. Provavelmente viram os hebreus que atravessavam o deserto como uma ameaça e quiseram opor-se à sua passagem. Mais tarde aparecerão como adversários de Saul (cf. 1 Sm 15) e de David (cf. 1 Sm 30). Ficarão na história como os inimigos por excelência dos israelitas.
Uma informação suplementar, fornecida por Dt 25,17-19, permite-nos entender este primeiro confronto entre amalecitas e israelitas a que o nosso texto se refere: os amalecitas, emboscados no deserto perto de um lugar chamado Refidim, atacaram o grupo de Moisés e mataram alguns dos mais sedentos e extenuados que se arrastavam na retaguarda da caravana. Em resposta, Moisés mandou Josué reunir um grupo de guerreiros e dar uma resposta ao brutal ataque dos amalecitas.
Josué, o chefe que Moisés pôs à frente do grupo armado de hebreus enviado a combater os amalecitas, é aqui nomeado pela primeira vez. Também é referido com o nome de Oseias (cf. Nm 13,8). A tradição bíblica diz que foi Moisés que lhe mudou o nome para Josué (cf. Nm 13,16), um nome que significa “Javé salva” (a mudança de nome está muitas vezes ligada, no contexto bíblico, à escolha de uma pessoa para uma determinada missão). Josué aparecerá em diversas situações como ajudante de Moisés (cf. Ex 24,13; 32,17; Nm 11,28). Foi um dos homens que Moisés enviou a Canaan em missão exploratória, antes da penetração do povo na terra (cf. Nm 13,1-24.30). Josué receberá o encargo de suceder a Moisés na condução do Povo de Deus (cf. Nm 27,1223) e será ele que levará o povo a entrar na Terra Prometida (cf. Js 1,1-9).
MENSAGEM
Josué, por indicação de Moisés, leva os seus homens de guerra para dar combate aos amalecitas (vers. 9). No entanto, depois desta indicação, o narrador afasta-nos do campo onde está a desenrolar-se a batalha e leva-nos a contemplar a ação de Moisés. Este, no cimo de uma colina (vers. 10), acompanhado de Aarão e de Hur e tendo na mão a “vara de Deus” com a qual tinha operado tantos prodígios, intercede diante de Deus pelo seu povo. Quando Moisés tinha as mãos levantadas para o céu, Israel levava vantagem no combate; quando Moisés, cansado, baixava as mãos, a vantagem pendia para o amalecitas. Aarão e Hur, depois de terem feito sentar Moisés numa pedra, colocaram-se um de cada sustentando-lhe as mãos, sem as deixar cair. Moisés pôde continuar com as mãos levantadas, a interceder pelo seu povo, até ao pôr do sol (vers. 12); e assim os israelitas derrotaram completamente as tropas amalecitas (vers. 13).
A quem se deveu a vitória dos hebreus sobre os seus inimigos? Ao génio militar de Josué e à bravura dos seus homens de guerra? À “vara dos prodígios” que Moisés leva consigo para a colina de onde contempla o desenrolar da batalha? Não. O teólogo autor desta narração pretende claramente sugerir que a vitória deve ser atribuída a Deus. Não é o valor guerreiro dos hebreus, nem os malabarismos mágicos de um líder carismático que salvam Israel, mas sim a ação do Deus libertador e salvador, que acompanha o seu povo ao longo do caminho e o livra de todos os perigos. Não se trata tanto de uma vitória militar, quanto de um acontecimento de salvação.
No entanto, há um outro elemento que é necessário sublinhar nesta história: o poder da oração. Os teólogos de Israel querem dizer aos seus conterrâneos que, diante das crises e dificuldades que a vida apresenta, é preciso invocar o Deus libertador com perseverança e insistência. O crente só conseguirá enfrentar as duras batalhas que a vida lhe impõe se puder contar com a ajuda e a força de Deus; e essa ajuda e essa força brotam de um diálogo contínuo, nunca interrompido e nunca acabado, com esse Deus salvador e libertador que acompanha o seu povo em cada passo do caminho.
INTERPELAÇÕES
- Uma leitura superficial do relato que descreve a vitória dos hebreus sobre os amalecitas pode causar-nos alguma perplexidade e alimentar ideias erradas sobre Deus. Deus é parcial? Deus toma partido por um determinado lado quando há dois povos desavindos? Deus luta por um povo contra o outro e ajuda um povo a massacrar o outro? É claro que não. No entanto há quase três mil anos, de uma forma algo simplista, era dessa forma que os teólogos de Israel “liam” a história do seu povo: “sempre que os nossos inimigos quiseram oprimir-nos e esmagar-nos, Deus interveio para nos salvar; Deus não fica de braços cruzados diante do sofrimento que é infligido ao Seu povo”. É possível que hoje, com uma compreensão diferente de Deus (afinal frequentamos a escola de Jesus e temos uma ideia mais definida de Deus e da sua justiça), contássemos a história de uma forma diferente. Seja como for, há uma mensagem que é incontornável: o Deus de hoje – como o Deus de ontem – não suporta a injustiça, a opressão e a maldade; Ele nunca fica do lado do opressor e não aceita ser cúmplice do injusto e do violento. Mais: Deus está presente e atuante nos gestos e nas palavras de todos aqueles que lutam pela libertação do seus irmãos e procuram fazer nascer um mundo mais justo e mais livre. Temos consciência disso? Somos capazes de reconhecer a presença e a ação de Deus naqueles que se esforçam por construir um mundo mais humano e mais pacífico?
- A atribuição de toda a responsabilidade a Deus, na vitória de Israel sobre os amalecitas, põe em relevo uma realidade que a catequese de Israel não se cansa de sublinhar: não é pelo seu poder militar ou pela superior coragem dos seus guerreiros que Israel pode ultrapassar as crises e oposições que encontra no seu caminho; quem protege e salva Israel é Deus. Tudo aquilo que Israel conseguiu, ao longo do seu caminho histórico, deve-se à bondade, ao amor e ao cuidado de Deus. Ao sublinhar esta ideia, a catequese de Israel pretendia evitar qualquer atitude de orgulho e de autossuficiência e potenciar uma entrega confiada do povo nas mãos de Deus. Talvez nós, homens e mulheres do séc. XXI, devêssemos recuperar esta lição. As brilhantes conquistas científicas e técnicas de que nos orgulhamos, os extraordinários avanços civilizacionais que temos conseguido, têm contribuído para nos instalarmos numa certa arrogância e autoconvencimento. Sentimo-nos invencíveis e dominadores. Não nos faria bem constatarmos os nossos limites e redescobrirmos o amor de Deus, a sua bondade, o seu cuidado, a sua preocupação em indicar-nos os caminhos que nos conduzem à vida?
- Num momento de crise nacional, os teólogos de Israel põem Moisés a invocar Deus e a pedir-lhe que ajude o seu povo no combate contra o inimigo. Talvez por detrás de tudo isto estejam perspetivas algo primitivas e simplistas sobre o papel de Deus e o sentido da sua intervenção no mundo; mas há também uma intuição que muitos crentes têm experimentado, nas mais diversas circunstâncias: o diálogo com Deus dá-lhes a força de que necessitam para superarem as duras batalhas que a vida os obriga a enfrentar. Precisamos da força de Deus para lutar contra aquilo que nos faz mal e nos destrói; necessitamos da ajuda de Deus para não baixarmos os braços diante das dificuldades de todos os dias; precisamos da força que só Deus pode dar para derrotarmos o egoísmo, a inveja, o ódio, a ambição, o orgulho que tomam conta de nós e nos levam por caminhos errados… Quando falamos com Deus, sentimo-nos mais fortes, mais decididos, mais esclarecidos, mais capazes de escolher o bem e a verdade. Quem mantém um diálogo profundo e frequente com Deus, percebe por onde deve ir, descobre como dar sentido à sua vida, sente-se com forças para caminhar na direção certa. Mantemos um diálogo frequente com Deus? Sentimos que a oração nos faz bem e nos ajuda a encontrar caminhos certos, caminhos definitivos?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 120 (121)
Refrão:
O nosso auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.
Levanto os meus olhos para os montes:
donde me virá o auxílio?
O meu auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.
Não permitirá que vacilem os teus passos,
não dormirá Aquele que te guarda.
Não há de dormir nem adormecer
aquele que guarda Israel.
O Senhor é quem te guarda,
o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo.
O sol não te fará mal durante o dia,
nem a luz durante a noite.
O Senhor te defende de todo o mal,
o Senhor vela pela tua vida.
Ele te protege quando vais e quando vens,
agora e para sempre.
LEITURA II – 2 Timóteo 3,14-4,2
Caríssimo:
Permanece firme no que aprendeste
e aceitaste como certo,
sabendo de quem o aprendeste.
Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras;
elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação,
pela fé em Cristo Jesus.
Toda a Escritura, inspirada por Deus,
é útil para ensinar, persuadir, corrigir
e formar segundo a justiça.
Assim o homem de Deus será perfeito,
bem preparado para todas as boas obras.
Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo,
que há de julgar os vivos e os mortos,
pela sua manifestação e pelo seu reino:
Proclama a palavra,
insiste a propósito e fora de propósito,
argumenta, ameaça e exorta,
com toda a paciência e doutrina.
CONTEXTO
Quem é este Timóteo, o destinatário deste texto? Trata-se de um cristã oriundo da cidade de Listra, nascido de pai grego e de mãe judeo-cristã. O apóstolo Paulo teria encontrado Timóteo quando passou por Listra, no decurso da sua segunda viagem missionária (anos 50-52). Quando Paulo seguiu viagem, Timóteo acompanhou-o, aparecendo junto dele na Bereia, em Atenas (cf. At 17,14-15), em Corinto (cf. At 18,5) e em Éfeso (cf. At 19,22). Paulo confiava plenamente em Timóteo, chegando a encarregá-lo de algumas intervenções delicadas junto de comunidades cristãs que se defrontavam com problemas diversos (cf. 1 Ts 3,2.6; 1 Cor 4,17; 16,10-11). A tradição cristã refere Timóteo como o primeiro bispo de Éfeso.
A segunda Carta a Timóteo apresenta-se como uma carta escrita por Paulo enquanto está na prisão (provavelmente em Roma). Sentindo aproximar-se o tempo da sua partida deste mundo, Paulo teria escrito ao seu discípulo e amigo Timóteo, exortando-o a manter-se fiel ao dom recebido de Deus e à missão que lhe foi confiada. É uma carta carregada de sentimento, uma verdadeira carta de despedida. O testemunho de Paulo, que viveu sempre fiel à missão que Deus lhe confiou, é apresentado como encorajamento para Timóteo e para todos os que são chamados a animar e orientar as comunidades cristãs.
Na verdade, os especialistas consideram que dificilmente esta carta poderá ser atribuída ao apóstolo Paulo. As problemáticas tratadas e a estrutura eclesial que é suposta na carta são, muito provavelmente, do final do séc. I, numa altura em que a comunidade eclesial se debatia com o problema dos falsos mestres que, com doutrinas falsas, lançavam a confusão entre os cristãos. Paulo teria sido martirizado em Roma muito antes de tudo isto, por volta do ano 65, na altura da perseguição ordenada por Nero contra os cristãos.
MENSAGEM
O autor da Carta, depois de avisar Timóteo para ter cuidado com os falsos mestres, que são “pessoas de mente corrupta e inapta para a fé”, que se “opõem à verdade” e que “não irão longe pois a sua insensatez tornar-se-á patente a todos” (2 Tm 3,8-9), convida-o a “permanecer firme” (2 Tm 3,14) naquilo que aprendeu. Timóteo sabe que a doutrina que recebeu vem dos apóstolos e lhe foi fielmente transmitida por pessoas que estavam devidamente mandatadas para tal; também sabe que essa doutrina está em absoluta conformidade com a Escritura.
Desde a sua infância que Timóteo conhece a Sagrada Escritura. Sabe que ela é “inspirada por Deus” (o termo grego “théopneustos”, aqui utilizado, sugere que, na composição dos livros que formam a Escritura, interveio, além do autor humano, o próprio Deus). O Espírito Santo influiu na mente e no coração dos escritores sagrados, de modo que estes puseram por escrito aquilo que Deus queria comunicar-nos através deles. Por isso, a Escritura contém “a sabedoria que leva à salvação” (2 Tm 3,15). Ela é a grande base para formar e educar na fé e na sã doutrina. A utilidade da Escritura na formação do crente é descrita através de quatro verbos: “ensinar”, “persuadir”, “corrigir” e “formar”. Desta “escola” de fé sairá o “homem de Deus”, o homem “perfeito”, “bem preparado para todas as boas obras” (2 Tm 3, 17).
No final, o autor da Carta renova a sua exortação a Timóteo no sentido de que cumpra com esmero a sua tarefa de animador da comunidade cristã (cf. 2 Tm 4,1-2). Em tom solene mas, ao mesmo tempo, comovente, o autor suplica a Timóteo que proclame a Palavra, que insista “a propósito e fora de propósito” (mesmo quando a ocasião não parece muito propícia), sem medo das reações, sem respeitos humanos, sem falsos pudores, “com toda a paciência e doutrina” – quer dizer, com uma adequada pedagogia pastoral. Timóteo sabe que um dia deverá apresentar-se diante de Deus para dar conta da forma como cumpriu a missão que lhe foi confiada; isso deverá servir-lhe de estímulo para ser uma testemunha dedicada e fiel da fé que recebeu.
INTERPELAÇÕES
- No final do séc. I, as comunidades cristãs deparavam-se, frequentemente, com “mestres” que se diziam cristãos, mas que ensinavam doutrinas que não coincidiam exatamente com a fé recebida da tradição apostólica e da Sagrada Escritura. Isto provocava, naturalmente, alarme e confusão: por onde passa a verdade da fé? Que critérios deverão ser tidos em conta para não sermos enganados e não nos afastarmos do caminho certo? Hoje, no séc. XXI, numa época de relativismo e de opiniões desencontradas, toda esta problemática acaba por fazer-se bem presente na nossa experiência de vida e de fé: há verdades absolutas e universais, às quais não podemos renunciar, ou é tudo uma questão de opinião e de perspetiva? Os valores e padrões morais dependem de contextos particulares contexto e das “visões” de cada cultura, ou são exigências ineludíveis que brotam do Evangelho e do seguimento de Jesus? Em que verdades devemos basear-nos para delinearmos a nossa história de vida? O autor da segunda Carta a Timóteo tem uma perspetiva bem definida: em matéria de fé, o cristão tem de construir o edifício da sua existência a partir da Sagrada Escritura e da doutrina transmitida pela tradição viva da Igreja. É sobre esses alicerces que temos construído a nossa fé? Por vezes encontramos pessoas que dizem, para justificar certas opções ou comportamentos: “eu cá tenho a minha fé”. De que fé se trata? De uma “fé” particular, construída ao sabor de interesses e visões pessoais, ou da fé da Igreja, da fé que une todos os discípulos de Jesus e que os faz caminhar em comunidade, sendo uma única família?
- O autor da segunda Carta a Timóteo exorta o destinatário (ou os destinatários) da Carta a ter sempre em conta, na construção do edifício da sua fé, a Escritura Sagrada. Ela ajuda a formar o “homem de Deus”, o homem “perfeito”, “bem preparado para todas as boas obras”. No séc. XIX, o papa Leão XIII dizia isto de uma forma muito bela: a Escritura é “uma carta outorgada pelo Pai do céu ao género humano, em peregrinação longe da sua pátria, e transmitida pelos autores sagrados” (Carta Encíclica Providentissimus Deus, nº 1). Nessa “carta”, Deus “diz-nos” o seu amor e mostra-nos como devemos viver para caminharmos em direção à vida. Ignorar essa “carta” de amor que Deus nos escreveu e construir a nossa fé à margem dela, tornaria a nossa vida e a nossa experiência de fé consideravelmente mais pobres. Que lugar ocupa a leitura, a reflexão e a partilha da Palavra de Deus na nossa vida pessoal? Que lugar ocupa a Palavra de Deus na vida e na experiência das nossas comunidades cristãs? O que é que assume um valor mais determinante na experiência cristã: as práticas rituais, as devoções particulares, as leis e os códigos, ou a Palavra de Deus?
- É verdade que Deus, para nos fazer chegar a sua “carta” em linguagem percetível para nós, nos “escreveu” através de homens. Esses homens viveram em determinada época e usaram a linguagem da sua época. Serviram-se de géneros literários, de formas de expressão, de imagens e de símbolos próprios do seu tempo e da sua cultura. Talvez essas formas de expressão nos soem, em pleno séc. XXI, distantes, estranhas, longe da nossa realidade, do nosso mundo e da nossa vida. Para compreendermos a “carta de Deus”, precisamos de conhecer o mundo bíblico, o tempo, o contexto, o “ambiente” em que o redator de determinado livro viveu; e, só depois de termos “descascado” aquilo que é acessório, encontraremos o essencial: a mensagem eterna de Deus para nós. Estamos verdadeiramente interessados em conhecer, em estudar, em compreender a Palavra de Deus? As nossas atividades de evangelização assentam na Palavra de Deus? Nas comunidades cristãs há a preocupação de organizar cursos e encontros que permitam a todos conhecer e compreender a Sagrada Escritura?
- Timóteo é exortado a servir a Palavra e a proclamá-la “a propósito e fora de propósito”, em todas as circunstâncias, sem medo, sem vergonha, sem atenuar a radicalidade e a exigência da Palavra de Deus, sem cedências aos interesses dos que se sentem incomodados pelos desafios de Deus. É assim que procedem aqueles e aquelas a quem a Igreja confia o serviço da Palavra? Os que têm a missão de proclamar a Palavra e de a explicar aos irmãos, procuram fazê-lo de forma clara e cativante, a fim de que a Palavra chegue ao coração dos que a escutam?
ALELUIA – Hebreus 4,12
Aleluia. Aleluia.
A palavra de Deus é viva e eficaz,
pode discernir os pensamentos e intenções do coração.
EVANGELHO – Lucas 18,1-8
Naquele tempo,
Jesus disse aos seus discípulos uma parábola
sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar:
«Em certa cidade vivia um juiz
que não temia a Deus nem respeitava os homens.
Havia naquela cidade uma viúva
que vinha ter com ele e lhe dizia:
‘Faz-me justiça contra o meu adversário’.
Durante muito tempo ele não quis atendê-la.
Mas depois disse consigo:
‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens;
mas, porque esta viúva me importuna,
vou fazer-lhe justiça,
para que não venha incomodar-me indefinidamente’».
E o Senhor acrescentou:
«Escutai o que diz o juiz iníquo!…
E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos,
que por Ele clamam dia e noite,
e iria fazê-los esperar muito tempo?
Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa.
Mas quando voltar o Filho do homem,
encontrará fé sobre esta terra?»
CONTEXTO
Jesus e os discípulos estão a caminho a Jerusalém. O tempo começa a esgotar-se, pois cada passo nesse caminho aproxima mais Jesus do seu destino de cruz. Quando Jesus, pela morte na cruz, reentrar na glória do Pai, os discípulos ficarão sozinhos no mundo. Terão como missão continuar, pelo tempo fora, a obra de Jesus. Conseguirão fazê-lo? Parecem ainda tão distantes da lógica do Reino de Deus! Serão capazes de perceber o projeto de Deus, de acolher as indicações de Deus, de confiar suficientemente em Deus, de esperar pacientemente que Deus aja no mundo e na história? Não irão impacientar-se e desanimar enquanto esperam que o Reino de Deus se concretize? Não irão desistir quando lhes parecer que Deus fica em silêncio diante da maldade, da violência, da injustiça? Jesus sabia, por experiência própria, que o diálogo frequente com Deus – a oração – era fundamental para compreender, para acolher e para abraçar o projeto de Deus. Ele próprio, antes de tomar decisões importantes, retirava-se para sítios isolados e passava longas horas a dialogar com o Pai, a escutar o Pai, a procurar discernir a vontade do Pai.
Lucas refere a oração de Jesus em diversas situações, nomeadamente no Batismo (cf. Lc 3,21), antes da eleição dos Doze (cf. Lc 6,12), antes do primeiro anúncio da paixão (cf. Lc 9,18), no contexto da transfiguração (cf. Lc 9,28-29), após o regresso dos discípulos da missão (cf. Lc 10,21), na última ceia (cf. Lc 22,32), no Getsémani (cf. Lc 22,40-46) e na cruz (cf. Lc 23,34.46). O diálogo com o Pai pacificava Jesus, ajudava-O a ver as coisas mais claras, a confiar plenamente em Deus, a entregar-se plenamente nas mãos de Deus.
Jesus queria que os discípulos fizessem esta experiência. Por isso, contou aos discípulos uma parábola “sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar” (vers. 1). Este texto é exclusivo de Lucas.
MENSAGEM
Na parábola contada por Jesus há dois personagens: um juiz e uma viúva. Ambos viviam numa cidade não identificada. Do juiz diz-se que “não temia a Deus nem respeitava os homens” (vers. 2). A expressão parece sugerir, antes de mais, o exercício autocrático do poder judicial; mas poderá também referir-se à venalidade do juiz, que não tinha problemas em “torcer” a justiça conforme os seus interesses. Em qualquer caso, o comportamento daquele juiz é definido como “iníquo”, uma vez que ele não está minimamente preocupado em remediar as injustiças cometidas contra os mais frágeis da sociedade. A outra personagem da parábola é uma viúva (vers. 3), vítima da prepotência de um adversário que se aproveita da sua fragilidade para a defraudar. Na sociedade palestina a viúva é o protótipo da pessoa indefesa, ao nível dos órfãos e dos estrangeiros: não tem quem a defenda e, por isso, está vulnerável diante das arbitrariedades dos poderosos. Não se especifica quem é o adversário da viúva, nem qual é a natureza do conflito que está em cima da mesa: o que é decisivo é a injustiça de que a viúva é alvo.
Durante muito tempo o juiz, talvez por inércia ou talvez porque tinha sido pago para tal, ignorou os pedidos de justiça apresentados pela viúva (vers. 4a). Poderoso e prepotente, o juiz sentia que podia fazer o que quisesse e que não tinha de dar contas a ninguém pelos seus atos. Contudo, a mulher não se conformou com aquela “porta fechada”: de forma insistente, sem desanimar, continuou a levar o seu caso à consideração do juiz e a reclamar por justiça.
Chegados aqui, o narrador deixa a viúva em segundo plano e convida-nos a acompanhar o “raciocínio” cínico do juiz: “é certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente” (vers. 4b-5). Aquele juiz prepotente e corrupto, quando finalmente tomou posição, não o fez movido pelo sentido de justiça ou por um sentimento de compaixão, mas apenas porque não queria problemas; estava farto de aturar aquela mulher que, dia a dia, não o deixava em paz com as suas reclamações. No final, a persistência da viúva venceu a insensibilidade e a prepotência daquele juiz sem coração.
Como interpretar esta parábola? Onde é que Jesus quer chegar? A explicação vem logo a seguir. Jesus pede aos seus ouvintes que façam um esforço e que comparem o juiz injusto com Deus: “Escutai o que diz o juiz iníquo!… E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa” (vers. 6-8). É claro que Jesus não está a dizer que Deus é, como o juiz da parábola, alguém prepotente e injusto… Está a garantir-nos que Deus não fica indiferente às nossas súplicas: se até um juiz sem coração é capaz, apesar da sua relutância, de atender os pedidos de uma viúva sem poder nem influência, Deus – que é justo, que tem coração, que defende sempre os pobres e débeis, que ama os seus filhos com amor de pai e de mãe – não será capaz de escutar o que Lhe dizemos e não fará tudo para corresponder aos pedidos que Lhe fazemos?
Portanto, os discípulos de Jesus farão bem em dialogar continuamente com Deus. Farão bem em apresentar a Deus as suas dúvidas, os seus anseios, as suas inquietações, os seus problemas. Deus, garantidamente, escutá-los-á. Pode parecer, em algum momento, que Deus mantém um silêncio inexplicável e desconcertante; mas, seja qual for a razão do silêncio de Deus, a verdade é que Ele não fica indiferente às súplicas dos seus queridos filhos. Se os discípulos confiarem em Deus e dialogarem com Ele, sairão dessas “conversas” mais revigorados, mais pacificados, mais esclarecidos, mais conscientes dos projetos de Deus e mais dispostos a aceitá-los, mais preparados para acolher e viver os valores do Reino.
O tema da parábola original de Jesus – “a necessidade de orar sempre sem desanimar” – será ainda aproveitado por Lucas, na década de oitenta do primeiro século, para deixar uma mensagem forte aos destinatários do Evangelho que compôs. A situação histórica das comunidades cristãs era, por essa altura, muito particular. No ano 70, Jerusalém tinha sido destruída pelas tropas romanas; no ano 81, o imperador Domiciano tinha assumido o poder em Roma e tinha começado, de forma organizada, a perseguir os cristãos. Viviam-se tempos difíceis e o futuro era sombrio; para as comunidades cristãs espalhadas pelo mundo greco-romano, o mundo parecia estar a desabar. Neste contexto de angústia, de incerteza e de perseguição, compreende-se que a comunidade dos discípulos de Jesus grite por justiça e peça a Deus que intervenha para salvar o seu povo. Deus ouvirá os pedidos de socorro dos seus queridos filhos? Tardará muito a responder-lhes? Lucas, a partir de uma parábola contada por Jesus quando ia a caminho de Jerusalém, garante aos crentes desanimados: Deus não tardará a intervir; Ele escuta os seus filhos e far-lhes-á justiça. O que é preciso é que estes, apesar de todas as vicissitudes que terão de enfrentar, não percam a fé em Deus, não desistam de confiar n’Ele, se mantenham fiéis a Jesus e ao Evangelho. Será que os discípulos de Jesus, no meio de tanta incerteza, saberão manter a sua confiança em Deus (“quando o Filho do homem voltar, encontrará fé sobre esta terra?” – vers. 8b)?
INTERPELAÇÕES
- Porque é que Deus permite que tantos milhões dos seus filhos sobrevivam em condições tão degradantes, despojados da sua dignidade e dos seus direitos básicos? Porque é que os maus, os injustos e os violentos praticam arbitrariedades sem conta contra os mais débeis e, aparentemente, nenhum mal lhes acontece? Como é que Deus aceita que quase dez por cento da população mundial passe fome? Onde está Deus quando as ditaduras ou os imperialismos maltratam povos inteiros? Porque é que Deus deixa que determinadas doenças continuem a ceifar tantas vidas? Porque é que Deus não evita que as catástrofes naturais deixem por todo o lado um rasto de sofrimento e de morte? Será Deus insensível ao sofrimento que atinge os seus filhos que peregrinam no mundo e na história? O evangelista Lucas está convicto de que Deus não fica indiferente aos dramas e sofrimentos dos homens. Mais tarde ou mais cedo, no tempo oportuno, Ele irá intervir para fazer justiça aos seus filhos. Talvez a nossa impaciência tenha dificuldade em compreender o ritmo e o tempo de Deus; mas Deus acompanha a nossa vida, escuta os nossos gritos de aflição, sabe de que necessitamos e, na altura certa, irá atuar. Seremos capazes de confiar em Deus, de acreditar no seu amor, de nos fiarmos na sua bondade, de deixarmos a nossa vida nas suas mãos? Mesmo quando Deus não vai ao ritmo da nossa impaciência, confiamos n’Ele?
- Como podemos manter a confiança em Deus? Como podemos acreditar n’Ele quando a lógica dos Seus planos nos escapa completamente? Jesus, a partir da sua própria experiência de Deus, propunha aos seus discípulos uma forma de chegarmos ao coração de Deus: é necessário viver em contínuo diálogo com Deus, numa constante escuta de Deus. Quando dialogamos com Deus, aprofundamos os laços com Ele, consolidamos a comunhão com Ele, aprendemos a confiar completamente n’Ele; quando escutamos Deus, começamos a perceber o seu projeto para o mundo e para os homens e sentimos vontade de nos envolvermos na concretização desse projeto; quando falamos com Deus descobrimos que Ele se interessa pelas nossas questões e que não fica indiferente diante daquilo que nos inquieta; quando questionamos Deus encontramos respostas para a maior parte das nossas dúvidas e incertezas; quando “tocamos” o amor e a misericórdia de Deus percebemos que Ele nunca nos abandonará e que nunca ficará indiferente à nossa sorte. Estamos dispostos a acolher a indicação de Jesus e a manter um diálogo frequente com Deus? Que lugar ocupa a oração na nossa vida? Sentimos que a oração nos aproxima de Deus e nos ajuda a entender o projeto de Deus para nós e para o mundo?
- Como se processa o nosso diálogo com Deus? É um monólogo em que nos limitamos a atirar a Deus, de rajada, as nossas reivindicações e as nossas listas de pedidos, porque não temos tempo ou disposição para mais, ou é um diálogo franco, sincero, sem pressas, que é simultaneamente escuta e partilha, agradecimento e prece, obediência e confiança, conversa de Pai para filho e de filho para Pai? A nossa oração é uma simples descarga de palavras e de fórmulas que temos gravadas na nossa mente e que reproduzimos de forma mecânica para acalmar a nossa consciência, ou é uma partilha com Deus daquilo que nos preocupa e inquieta, daquilo que nos assusta e desafia, e também daquilo que enche a nossa vida de felicidade e de encanto? No nosso diálogo com Deus damos-Lhe espaço para falar, para nos contar os seus projetos, para nos dizer o que espera de nós? O nosso diálogo com Deus é constante, ou depende da nossa disposição, do nosso tempo disponível, dos interesses que temos em agenda?
- Muitas vezes ficamos com a impressão de que Deus não dá importância aos nossos pedidos. Porque será? Será porque Deus não quer saber, ou será porque os nossos pedidos não fazem sentido à luz da Sua lógica? Às vezes pedimos a Deus coisas que nos compete a nós conseguir; deverá Ele favorecer a nossa preguiça? Às vezes pedimos a Deus coisas que nos parecem boas mas que, em última análise, têm efeitos negativos na construção da nossa vida; fará sentido Deus conceder-no-las? Às vezes pedimos a Deus coisas que são boas para nós, mas que implicam sofrimento e injustiça para os nossos irmãos; poderá Deus beneficiar-nos em prejuízo de outras pessoas?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 29º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA CELEBRADA NA EUCARISTIA.
A Palavra de Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na preparação da celebração, procurar que algumas expressões da liturgia da Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração dos fiéis, num momento de ação de graças…
3. BILHETE DE EVANGELHO.
O juiz da parábola faz justiça, não para fazer respeitar a justiça, mas para ter a paz. É a perseverança da mulher que lhe faz obter o que ela pede. O que conta aos olhos do Senhor é a perseverança no pedido. Deus parece esperar a confiança daqueles que Lhe rezam. A confiança não tem limites… Mas Jesus coloca a terrível questão: “O Filho do Homem, quando vier, encontrará fé sobre a terra?” Não respondamos demasiado depressa… A nossa oração verifica a nossa fé, mas é necessário que ela se faça perseverança…
4. À ESCUTA DA PALAVRA.
“É preciso rezar sempre sem desencorajar”. Jesus tomou o exemplo da viúva que pede obstinadamente que a justiça lhe seja feita, para ilustrar o seu convite a uma oração perseverante, também ela obstinada. Mas poderíamos esperar esta conclusão: “Se vós insistis sem cessar junto de Deus com a vossa oração, então, como o juiz, Ele acabará por ceder e atenderá o vosso pedido”. Mas não! Jesus parece incoerente. Ele diz: “E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa”. É preciso rezar longamente, com perseverança, sem desencorajar e então Deus escuta-nos depressa, sem tardar! Tudo isso não é muito lógico! Mas que quer Jesus dizer-nos? A palavra-chave é que “Deus faz-nos justiça”. É uma palavra terrivelmente ambígua. A justiça entre os homens é indispensável. Consiste em dar a cada um o que lhe é devido, a reconhecer os deveres e os direitos de cada um. Há leis para dizer quais são esses direitos e deveres, há juízes para aplicar essas leis. Mas a justiça humana é sempre muito limitada e é preciso, muitas vezes, uma longa paciência para que ela seja, ao menos um pouco, aplicada! Com Deus, as coisas não são assim. Deus não é um juiz mais perfeito que os juízes terrestres, a justiça de Deus não é um decalque eterno da justiça humana. Jesus veio revelar-nos que Deus é Amor. Desde então, Deus é justo quando a sua ação é “ajustada” ao seu ser, é justo quando ama. O mais alto degrau da justiça é perdoar e fazer misericórdia, porque aí se manifesta em plena luz a verdadeira natureza de Deus, o seu amor totalmente gratuito. É precisamente isso que pedem os “eleitos”, aqueles que compreenderam qual é a justiça de Deus: Ó Deus, dá-me o teu amor, o teu Espírito Santo, para que Ele ajuste o meu coração e toda a minha vida ao teu amor. Perdoa os meus pecados”. Esta oração, Deus atende-a sem tardar, como fez ao bom ladrão: “Hoje, estarás comigo no Paraíso”. Esta oração, posso e devo fazê-la todos os dias, sem me cansar, sem me desencorajar, porque é todos os dias que preciso de ser ajustado ao amor de Deus.
5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística IV, que recorda toda a história da salvação e está em harmonia com a perseverança pedida ao homem; é toda a Aliança…
6. PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: “o Senhor é quem te guarda… o Senhor vela pela tua vida…”; “proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina”; “…necessidade de orar sempre sem desanimar…”. Procurar transformá-las em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org