30º Domingo do Tempo Comum - Ano C [atualizado]
26 de Outubro, 2025
ANO C
30.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 30.º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do trigésimo domingo comum propõe-nos uma reflexão sobre a forma como Deus exerce a Sua justiça. A justiça de Deus não ignora o sofrimento dos pobres, dos mais fracos, daqueles que nem sempre obtém justiça nos tribunais dos homens. A justiça de Deus concretiza-se essencialmente como amor e misericórdia. Todos os que estiverem disponíveis para acolher o amor misericordioso de Deus, encontrarão graça e salvação.
Na primeira leitura um sábio judeu do séc. II a.C. lembra aos seus concidadãos – impressionados pela arrogância dos conquistadores gregos e pelo brilho da cultura helénica – que Deus não faz aceção de pessoas: Ele escuta as súplicas dos desprezados e faz justiça às vítimas dos poderosos. Talvez as vozes dos humildes não signifiquem nada para os grandes do mundo; mas elas atravessam as nuvens e vão diretas ao coração de Deus.
No Evangelho Jesus, conta uma parábola “para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros”. Colocando frente a frente a figura de um fariseu de vida exemplar e de um publicano de vida mais do que duvidosa, Jesus tira uma conclusão desconcertante: de nada valem as “boas obras” do “justo” que, convencido dos seus méritos, se apresenta diante de Deus e dos irmãos com orgulho e arrogância; Deus prefere o pecador que, humildemente, reconhece a sua indignidade e se dispõe a abraçar a salvação que lhe é oferecida.
A segunda leitura propõe-nos o testemunho do apóstolo Paulo na fase final da sua vida: apesar de todas as contrariedades e vicissitudes que teve de enfrentar por causa da sua fidelidade a Jesus e ao Evangelho, Paulo manteve-se fiel e coerente: combateu o bom combate e guardou a fé. Resta-lhe agora confiar em Deus e entregar-se nas suas mãos. O exemplo de Paulo aponta o caminho aos crentes de todas as épocas.
LEITURA I – Ben Sirá 35,15b-17.20-22a
O Senhor é um juiz
que não faz aceção de pessoas.
Não favorece ninguém em prejuízo do pobre
e atende a prece do oprimido.
Não despreza a súplica do órfão
nem os gemidos da viúva.
Quem adora a Deus será bem acolhido
e a sua prece sobe até às nuvens.
A oração do humilde atravessa as nuvens
e não descansa enquanto não chega ao seu destino.
Não desiste, até que o Altíssimo o atenda,
para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.
CONTEXTO
O Livro de Ben Sirá (chamado, na sua versão grega, “Eclesiástico”) é um livro de carácter sapiencial que, como todos os livros sapienciais, tem por objetivo deixar aos aspirantes a “sábios” indicações práticas sobre a arte de bem viver e de ser feliz. O seu autor terá sido um tal Jesus Ben Sirá, um “sábio” israelita que viveu na primeira metade do séc. II a.C. (cf. Sir 51,30).
A época de Jesus Ben Sirá é uma época conturbada para o Povo de Deus. Quando Alexandre da Macedónia morreu, em 323 a.C., o seu império foi dividido por duas famílias: os Ptolomeus e os Selêucidas. Inicialmente, a Palestina ficou nas mãos dos Ptolomeus; e, nos anos de domínio Ptolomeu, o Povo de Deus pôde, em geral, viver na fidelidade à sua fé e aos seus valores ancestrais. Em 198 a.C., contudo, depois da batalha de Pânias, a Palestina passou para o domínio dos Selêucidas (uma família descendente de Seleuco Nicanor, general de Alexandre). Os Selêucidas, sobretudo com Antíoco IV Epífanes, procuraram impor, por vezes pela força, a cultura helénica. Nesse contexto muitos judeus, seduzidos pelo brilho da cultura grega, abandonavam os valores tradicionais e a fé dos pais e assumiam comportamentos mais consentâneos com a “modernidade” e com a pressão exercida pelas autoridades selêucidas. A identidade cultural e religiosa do Povo de Deus corria, assim, sérios riscos… Jesus Ben Sirá, um “sábio” judeu apegado às tradições dos seus antepassados, entendeu desenvolver uma reflexão que ajudasse os seus concidadãos a manterem-se fiéis aos valores tradicionais. No livro que escreveu para esse efeito, Jesus Ben Sira apresenta uma síntese da religião tradicional e da “sabedoria” de Israel e procura demonstrar que é no respeito pela sua fé, pelos seus valores, pela sua identidade que os judeus podem descobrir o caminho seguro para serem um povo livre e feliz.
O texto que nos é oferecido neste domingo como primeira leitura integra um conjunto de sentenças do sábio Ben Sirá sobre a justiça de Deus (cf. Sir 35,11-24).
MENSAGEM
Há quem pense que pode “comprar” Deus oferecendo-Lhe presentes esplêndidos; há quem ache que pode ganhar os favores de Deus ofertando-Lhe abundantes sacrifícios de animais; há quem considere que pode pôr Deus do seu lado e acalmar a sua indignação partilhando com Ele os frutos dos seus negócios injustos. No entanto, os que assim pensam enganam-se redondamente: “Deus é um juiz justo e incorruptível, que não faz aceção de pessoas; não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido” (vers. 15b-16). Os grandes, os poderosos, os influentes, os que pensam que tudo dominam, os que oprimem e exploram os pobres, os que cometem injustiças, nunca poderão fazer de Deus seu cúmplice.
Em contrapartida, Deus tem uma predileção especial pelos pobres, pelos humildes, pelos pequenos, pelos desprezados. Aqueles que não têm quem os defenda, aqueles que não têm voz, aqueles que não contam para nada – por exemplo, os órfãos e as viúvas – esses têm um lugar especial no coração de Deus (vers. 17).
A oração dos humildes não se perde: Deus escuta-a; os lamentos doloridos dos que são vítimas da injustiça e da maldade dos poderosos ultrapassam as nuvens e chegam aos ouvidos de Deus (vers. 20-21). “Tocado” pelos gritos que saem do coração dos desprezados, Deus vem ao encontro deles, olha-os com bondade e pronuncia sobre eles um veredito de salvação. É assim que Deus exerce a Sua justiça (vers. 22a).
INTERPELAÇÕES
- Numa sociedade de direito, a justiça é um princípio fundamental que orienta a organização e o funcionamento do sistema legal e social. Ela envolve a aplicação equitativa de leis, a garantia dos direitos individuais e coletivos, a busca pela igualdade e equidade entre todos os cidadãos. É esta a experiência que temos? Na prática, todos os membros da sociedade – independentemente do seu estatuto social, da sua formação intelectual, do seu poder económico, da sua raça, ideologia ou religião – têm acesso à justiça e são tratados de forma igual por aqueles que têm como missão aplicar as leis e fazer justiça? Na sociedade israelita do séc. II a.C., os pobres queixavam-se frequentemente de discriminação na aplicação da justiça, da corrupção dos juízes, do desprezo pelos direitos dos que não tinham poder social. E Deus? Como é que Deus exerce a justiça? Também se deixará corromper? Também negligenciará os direitos dos mais pobres e frágeis? Deixar-se-á “comprar” pelos ricos que pagam um culto esplendoroso e caro? Jesus ben Sira, um sábio do séc. II a.C., diz: “Não. Deus exerce a sua justiça sem fazer aceção de pessoas. No exercício da sua justiça, Ele não discrimina o pobre em benefício do rico. Pelo contrário, Deus tem sempre diante de si o sofrimento dos mais frágeis, daqueles que muitas vezes não encontram justiça nos tribunais humanos. Deus faz-lhes justiça, sem qualquer dúvida”. Aqueles que no nosso mundo por vezes “torcem” a justiça para defender os seus próprios interesses, estão conscientes da “posição” de Deus? A atitude de Deus não nos responsabilizará na construção de uma sociedade onde os pobres que gritam por justiça não sejam ignorados nem discriminados? Esforçamo-nos por construir uma sociedade justa, onde todos – especialmente os pobres, os que não têm voz nem vez – vejam os seus direitos respeitados e protegidos?
- Embora isso não seja claramente afirmado neste texto, é doutrina corrente na Bíblia que Deus tem um fraco pelos mais desprezados e humildes, por aqueles que não são admitidos à mesa dos poderosos, por aqueles que são deixados abandonados nas periferias da vida e da história. Mais do que “discriminação positiva”, a atitude de Deus é a atitude de amor de um pai ou de uma mãe que tem um cuidado especial pelos seus filhos mais necessitados de cuidado. A especial ternura que Deus sente pelos seus filhos mais frágeis insere-se na definição daquilo a que chamamos “a justiça de Deus”. Ora, nós somos chamados a dar testemunho do amor de Deus no meio dos nossos irmãos. Aqueles que são marginalizados e abandonados, aqueles que ninguém quer, aqueles que a sociedade ignora e despreza, aqueles que não têm direitos ou, tendo-os, nem sabem reivindicá-los, encontram, através da nossa solidariedade, do nosso cuidado, da nossa solicitude, o rosto misericordioso e bondoso do Deus que os ama infinitamente?
- Jesus Ben Sira garante-nos que “a oração do humilde atravessa as nuvens” e chega a Deus. Porquê? Porque Deus está especialmente atento ao pobre, ao desvalido, aos que o mundo despreza? Sem dúvida. Deus está sempre atento às súplicas dos seus filhos mais frágeis. Mas é provável que Ben Sira esteja a insinuar outra coisa: que a oração do humilde “toca” o coração de Deus e agrada a Deus; e que a oração do rico não “toca” o coração de Deus e não agrada a Deus. Expliquemos isto… O pobre apresenta-se diante de Deus com humildade e simplicidade e coloca-se confiante nas mãos de Deus; sente-se pequeno, frágil indigno, e vê em Deus aquele que o pode salvar; com gratidão, entrega toda a sua vida nas mãos de Deus e confia no Seu amor; a sua atitude e a sua oração agradam a Deus. O rico, pelo contrário, apresenta-se diante de Deus seguro da sua importância, do seu estatuto, do seu poder; petulante e autossuficiente, sente-se mais como um “parceiro” de Deus, do que um “filho” que tudo deve ao amor de Deus; a sua atitude e a sua oração não agradam a Deus. E nós, como é que nos apresentamos diante de Deus?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34)
Refrão 1: O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
Refrão 2: O Senhor ouviu o clamor do pobre.
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as angústias.
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele confiam.
LEITURA II – 2 Timóteo 4,6-8.16-18
Caríssimo:
Eu já estou oferecido em libação
e o tempo da minha partida está iminente.
Combati o bom combate,
terminei a minha carreira,
guardei a fé.
E agora já me está preparada a coroa da justiça,
que o Senhor, justo juiz, me há de dar naquele dia;
e não só a mim, mas a todos aqueles
que tiverem esperado com amor a sua vinda.
Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado:
todos me abandonaram.
Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada.
O Senhor esteve a meu lado e deu-me força,
para que, por meu intermédio,
a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada
e todas as nações a ouvissem;
e eu fui libertado da boca do leão.
O Senhor me livrará de todo o mal
e me dará a salvação no seu reino celeste.
Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amen.
CONTEXTO
Timóteo era natural de Listra, uma cidade da região da Licaónia, na Ásia Menor (atual Turquia). O pai de Timóteo era grego e a mãe, de nome Eunice, era judeo-cristã. A avó de Timóteo, chamada Loide, também teve influência na sua educação cristã (cf. At 16,1-3; 2 Tm 1,5).
Foi ao passar por Listra durante a sua segunda viagem missionária (anos 50-52) que o apóstolo Paulo encontrou Timóteo. Mandou-o circuncidar “por causa dos judeus existentes naquela região”, e levou-o consigo para o serviço do Evangelho. Pouco depois Timóteo aparecerá junto de Paulo na Bereia, em Atenas (cf. At 17,14-15), em Corinto (cf. At 18,5) e em Éfeso (cf. At 19,22). Paulo confiava totalmente em Timóteo e encarregou-o de missões delicadas junto de comunidades cristãs que se defrontavam com problemas (cf. 1 Ts 3,2.6; 1 Cor 4,17; 16,10-11). Na sua primeira Carta aos Tessalonicenses, Paulo referir-se-á a Timóteo como “nosso irmão e colaborador de Deus no Evangelho de Cristo” (1 Ts 3,2). A tradição cristã apresenta Timóteo como o primeiro bispo de Éfeso.
Embora encontremos na segunda Carta a Timóteo bastantes pormenores pessoais sobre Paulo, a maior parte dos estudiosos duvida que ela tenha origem no apóstolo. Antes de mais, porque a linguagem e a teologia parecem significativamente distantes de outras cartas reconhecidamente paulinas. Mas, mais do que isso, a carta refere-se a um modelo de organização eclesial que parece claramente posterior à época de Paulo (Paulo teria sido martirizado em Roma por volta do ano 66/67, durante a perseguição de Nero). A grande preocupação que transparece nas duas Cartas a Timóteo já não é a difusão do Evangelho (que era a problemática que estava em cima da mesa na época paulina), mas sim a organização e a conservação do “depósito da fé”. A temática tratada nas cartas a Timóteo incide fundamentalmente sobre a organização da comunidade, a necessidade de combater as heresias nascentes, o incremento da vida cristã dos fiéis.
MENSAGEM
O autor da carta apresenta-se na pele de Paulo, prisioneiro em Roma. Sentindo que a sua vida está a chegar ao fim, avalia a forma como viveu (vers. 6-8). O objetivo é levar os crentes a fazerem, como Paulo, o dom total das suas vidas a Deus.
A vida de Paulo sofreu uma transformação radical quando ele se encontrou com Cristo na estrada de Damasco (cf. At 9,1-9; 22,4-11; 26,9-18). A partir desse momento, deixou para trás todas as certezas e seguranças em que, até então, tinha apostado e começou a viver para Cristo: enfrentou todas as oposições, contornou todos os obstáculos, suportou todos os cansaços, deu tudo para levar a Boa nova da salvação a todas as nações, desde Jerusalém a Roma.
Para definir a sua vida de compromisso total com o projeto de Deus, Paulo recorre a três imagens. A primeira vem do culto judaico (vers. 6): a vida de Paulo foi como uma oferta sacrificial entregue a Deus. A sua vida foi derramada sobre o altar de Deus, à imagem dos ritos de libação que se faziam no santuário e que consistiam no derramamento de um pouco de vinho sobre o altar onde, depois, se queimava a oferenda destinada à divindade. A segunda imagem é tirada do mundo militar (vers. 7a). A vida de Paulo foi como que um combate, no qual o apóstolo se empenhou totalmente, até ao dom de si próprio. Paulo combateu bravamente e deu tudo pela vitória de Deus. A terceira imagem é a do atleta que corre em direção à meta para alcançar a vitória (vers. 7b). Paulo, qual atleta de eleição, correu sempre, com empenho total, com dedicação absoluta, pondo todas as suas forças ao serviço do projeto de Deus.
Agora, depois de uma vida gasta ao serviço de Deus, Paulo pressente que chegou ao fim do seu caminho. Está satisfeito com a sua prestação, pois manteve-se focado, foi fiel, fez tudo o que estava ao seu alcance para corresponder ao chamamento que recebeu de Jesus. Resta-lhe receber a “coroa da justiça” reservada aos vencedores. Paulo aproveita até para avisar que o mesmo prémio está reservado a todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do Reino (vers. 8). Os discípulos de Jesus de todas as épocas devem ter isso em conta.
No final da carta, o autor do texto refere a desilusão de Paulo por não ter sentido o apoio dos “irmãos” durante a sua “primeira defesa” diante das autoridades (vers. 16). Apesar disso não se sente sozinho, pois tem experimentado, nestes dias de cativeiro, o apoio e o conforto de Deus (vers. 17). Está convicto de que Deus o livrará de todo o mal e lhe dará, no final da caminhada, a vida definitiva. Por isso, termina a sua partilha com um grito de louvor: “glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amen” (vers. 18).
Ao apresentar aos crentes do final do séc. I o “testemunho” de Paulo, o autor desta carta pede-lhes que tenham uma atitude semelhante à do apóstolo: que não se deixem vencer pelo desânimo, pelo sofrimento, pelo medo, pela tribulação; que se mantenham fiéis a Jesus e ao Evangelho; que confiem no prémio que espera todos aqueles que combateram o bom combate e mantiveram a fé.
INTERPELAÇÕES
- Paulo de Tarso marcou de forma decisiva a história do cristianismo pela sua visão larga do projeto de Deus e pela forma como abriu ao Evangelho as portas do mundo greco-romano. Mas, para além disso, deixou aos cristãos de todas as épocas um impressionante testemunho pessoal de compromisso total com Jesus e com o Evangelho. O seu encontro com Jesus no caminho de Damasco marcou a sua vida de uma forma tão decisiva que ele dizia: “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Passou a viver para Cristo, apenas para Cristo. A sua paixão por Cristo levou-o a dar testemunho do Evangelho em todo o mundo antigo, sem vacilar perante as dificuldades, os perigos, o cansaço, a contestação, a tortura, a prisão e até mesmo a morte. Nós, cristãos, encontramo-nos frequentemente com Jesus no caminho da nossa vida: escutamos a sua Palavra, conversamos com Ele, sentamo-nos com Ele à mesa e comemos do Pão que Ele oferece, dizemos que somos seus discípulos e que estamos em comunhão com Ele… O nosso compromisso com Cristo é tão profundo e tão decisivo como o de Paulo? Cristo é para nós – como foi para Paulo – a referência decisiva à volta da qual se constrói a nossa existência?
- Paulo experimentou, no seu caminho de testemunho missionário, o abandono, a solidão, a traição, a incompreensão de muita gente, inclusive de alguns irmãos na fé. Por outro lado, sentiu sempre que o Senhor estava com ele, o animava e lhe dava forças para que “a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem”. A experiência de Paulo é, afinal, a experiência de todos os “profetas” que Deus envia ao mundo para serem arautos da sua salvação no meio dos homens: de um lado está o ódio do mundo, que desgasta e traz desânimo; do outro está a solicitude de Deus que conforta, sustenta, defende, anima e renova as forças dos seus enviados. É esta também a nossa experiência? A certeza da presença de Deus ao nosso lado dá-nos a força necessária para cumprirmos fielmente a missão que nos foi confiada?
- Quase a chegar ao fim da sua vida, Paulo avalia desta forma a maneira como viveu: “combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé”. Pelo que sabemos da vida de Paulo, esta avaliação é honesta e verdadeira. É muito bom chegar ao fim da vida e concluir que a vida valeu a pena e que se deixou uma marca positiva no mundo e na vida dos outros homens e mulheres. Se tivéssemos, neste preciso instante, de avaliar o sentido da nossa vida, o que diríamos? A nossa vida tem feito sentido? Há alguma coisa que possamos mudar ou acrescentar para sentirmos que a nossa vida está a valer a pena?
ALELUIA – 2 Coríntios 5,9
Aleluia. Aleluia.
Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo
e confiou-nos a palavra da reconciliação.
EVANGELHO – Lucas 18,9-14
Naquele tempo,
Jesus disse a seguinte parábola
para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros:
«Dois homens subiram ao templo para orar;
um era fariseu e o outro publicano.
O fariseu, de pé, orava assim:
‘Meu Deus, dou-Vos graças
por não ser como os outros homens,
que são ladrões, injustos e adúlteros,
nem como este publicano.
Jejuo duas vezes por semana
e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’.
O publicano ficou a distância
e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu;
Mas batia no peito e dizia:
‘Meu Deus, tende compaixão de mim,
que sou pecador’.
Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa
e o outro não.
Porque todo aquele que se exalta será humilhado
e quem se humilha será exaltado».
CONTEXTO
Jesus e os seus discípulos estão a caminho de Jerusalém. Aproxima-se a hora em que Jesus, rejeitado e condenado pelas autoridades judaicas, vai ser crucificado. Depois, os discípulos ficarão sós no mundo e terão como missão dar testemunho do Reino de Deus. Jesus aproveita o caminho para preparar os discípulos para a missão que os espera.
A certa altura, Jesus quis propor aos discípulos uma lição sobre orgulho e arrogância. Nesse sentido, contou-lhes uma parábola onde entram um fariseu e um publicano. No dizer de Lucas, a parábola tem como alvo aqueles “que se consideravam justos e desprezavam os outros” (vers. 9). Esta parábola só aparece no Evangelho de Lucas.
Os “fariseus” eram um grupo leigo (em oposição aos saduceus, o partido sacerdotal), com bastante influência entre o povo. O historiador Flávio Josefo diz que, no tempo de Herodes, os fariseus eram cerca de 6.000. Descendentes daqueles “piedosos” (“hassidim”) que apoiaram o heroico Matatias na luta contra Antíoco IV Epífanes e a helenização forçada (cf. 1 Mac 2,42), os fariseus eram os defensores intransigentes da Lei, quer a Lei escrita, quer a Lei oral (a Lei oral constava de uma coleção de leis não escritas, mas que os mestres da escola farisaica tinham deduzido a partir da “Tora” escrita). Mantinham uma estreita ligação com os “escribas”, os mestres e intérpretes da Lei. Esforçavam-se por cumprir escrupulosamente a Lei e procuravam ensiná-la ao Povo. Acreditavam que, quando todos cumprissem a Lei, o Messias chegaria para trazer a libertação a Israel. Convencidos da sua superioridade religiosa e moral, tratavam com desprezo o “povo da terra” (“am ha-aretz”), os ignorantes que não conheciam a Lei nem se importavam com o cumprimento dos preceitos que a Lei impunha. A sua insistência no cumprimento integral da Lei contribuía para criar no povo simples uma sensação latente de pecado e de indignidade que oprimia as consciências e fazia o crente sentir-se longe de Deus. Estavam genuinamente interessados na santificação do Povo de Deus; mas, absolutizando a Lei, acabavam por colocar em segundo plano o amor e a misericórdia.
Os “publicanos” (“publicanus”) eram agentes comerciais privados que executavam a recolha dos impostos. Considerados servidores do governo imperial romano, eram desprezados pelos seus concidadãos. O publicano recebia do governo, por uma soma fixa anual (determinada a partir de uma estimativa das rendas), o direito de recolher os impostos. A soma fixada e que o publicano devia entregar era inferior à entrada prevista. O publicano retinha para si um eventual excedente. Este sistema favorecia os abusos destes funcionários, que procuravam faturar o mais possível a fim de garantir ganhos convenientes para eles próprios. Por isso, eram vistos pelo povo como ladrões e exploradores dos seus concidadãos. De acordo com a Mishna, estavam afetados permanentemente de impureza e não podiam sequer fazer penitência, pois eram incapazes de conhecer todos aqueles a quem tinham defraudado e a quem deviam uma reparação. Se um publicano, antes de aceitar o cargo, fazia parte de uma comunidade farisaica, era imediatamente expulso dela e não podia ser reabilitado, a não ser depois de abandonar esse cargo. Quem exercia tal ofício, estava privado de certos direitos cívicos, políticos e religiosos; por exemplo, não podia ser juiz nem prestar testemunho em tribunal, sendo equiparado ao escravo.
MENSAGEM
A parábola coloca-nos no cenário do Templo de Jerusalém. Há dois homens que ali vão rezar: um fariseu e um publicano. São figuras que estão bem distantes uma da outra na estrutura social e religiosa da Palestina da época de Jesus.
O fariseu está no “átrio dos israelitas” a fazer a sua oração. Está de pé, que é a posição habitual dos crentes israelitas quando se dirigem a Deus. Não pronuncia as palavras da sua oração em voz alta, mas ora interiormente, como é de bom tom entre os crentes israelitas. Na sua oração a Deus, o fariseu louva e agradece por ser quem é e por viver como vive (vers. 11). Como bom fariseu, jejua duas vezes por semana, paga o dízimo de tudo quanto possui (vers. 12). Sente que o seu compromisso com Deus o põe acima dos outros homens, pecadores notórios, como por exemplo aquele publicano que, a uma certa distância, também está a rezar, e que é um ladrão e explorador do seu povo. Tem consciência de que leva uma vida íntegra e que cumpre integralmente os preceitos da Lei, ou até mais… Estará a falar verdade? Aparentemente sim. Jesus não diz, ao contar a parábola, que este fariseu estivesse a mentir.
O publicano entra envergonhado no espaço do Templo para fazer a sua oração. Provavelmente não chega ao “átrio dos israelitas” onde está o fariseu a rezar, mas fica-se por um dos átrios exteriores, para não dar nas vistas e também porque não se considera digna de se aproximar de
Deus. Sabe que não pode pôr-se em regra com Deus, pois nunca conseguirá devolver todo o dinheiro que subtraiu aos pobres aquando da recolha dos impostos. Mantém a cabeça baixa, sem se atrever a levantar os olhos, e bate no peito para mostrar o seu arrependimento. Tem consciência da sua indignidade. Na sua oração não se compara com outros homens; apenas reconhece o seu pecado e invoca a misericórdia de Deus. Não pode agarrar-se às suas boas obras para se salvar, porque não as tem; só pode confiar na compaixão de Deus (“meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador” (vers. 13).
Vem agora a apreciação de Jesus sobre a oração e a atitude destes dois homens. Jesus considera, de forma algo desconcertante, que o publicano “desceu justificado para sua casa”, ao contrário do fariseu (vers. 14a). A palavra “justificado” é sinónimo de “perdoado”, ou “salvo”. Leva-nos à teologia paulina da “justificação”: Deus, na sua infinita “justiça”, lança sobre o homem pecador um veredicto de graça e salva-o, mesmo que o homem não o mereça (cf. Rm 5,18-19; 4,25; 5,1). Como se explica esta “sentença”?
O fariseu apresenta-se diante de Deus numa atitude de orgulho e de arrogância. Ao cumprir as exigências da Lei, considera-se em regra com Deus. Acha que não precisa da misericórdia de Deus para nada, pois as obras que faz “obrigam” Deus a oferecer-lhe a salvação. Esta não é um dom gratuito, fruto da bondade de Deus, mas uma conquista do homem, o resultado do esforço do homem. O Deus que ele conhece é apenas um contabilista que toma nota das ações do homem e que, no fim, lhe paga conforme os seus méritos. Aquele fariseu está cheio de autossuficiência e de arrogância: não necessita da misericórdia de Deus pois – pensa ele – os seus créditos são suficientes para se salvar. Por outro lado, essa autossuficiência leva-o, também, ao desprezo por aqueles que não são como ele. Considera-se superior, “à parte”, “separado”, como se entre ele e o pecador existisse uma barreira… É meio caminho andado para, em nome de Deus, criar segregação e exclusão: é a isso que conduz a religião dos “méritos”.
O publicano, ao contrário, não pode contar com os seus méritos (que, aliás, não existem). Ele apresenta-se diante de Deus de mãos vazias e sem quaisquer pretensões; reconhece as suas falhas e a sua incapacidade de, por si só, as ultrapassar; entrega-se apenas nas mãos de Deus e pede-Lhe compaixão. Sabe que só Deus o pode salvar. E Deus “justifica-o” – isto é, derrama sobre ele a sua graça e salva-o – precisamente porque ele não tem o coração cheio de autossuficiência e está disposto a aceitar a salvação que Deus quer oferecer a todos os homens.
A última frase do texto (“aquele que se exalta será humilhado e aquele que se humilha será exaltado” – vers. 14b) é uma conclusão adequada para esta parábola. Avisa-nos que não nos serve de nada confiar nos nossos méritos e nas nossas boas ações, exigindo a Deus que nos “pague” pela nossa fidelidade e pelo nosso bom comportamento; se queremos ter acesso à vida verdadeira, temos de nos apresentar humildemente diante de Deus, reconhecer a nossa fragilidade, confiar no amor de Deus e acolher a salvação de Deus.
INTERPELAÇÕES
- A parábola do fariseu e do publicano não é sobre viver bem ou viver mal, realizar boas obras ou realizar más obras, ter comportamentos corretos ou ter comportamentos incorretos em relação à Lei religiosa ou civil; mas é sobre a atitude do homem – de qualquer homem, independentemente das suas ações – face a Deus. Um dos protagonistas – aquele que pertence ao partido dos fariseus – apresenta-se diante de Deus cheio de si próprio, seguro dos seus méritos, plenamente satisfeito com aquilo que é. A sua atitude diante de Deus é de orgulho e de autossuficiência: ele não precisa dos favores de Deus, pois tem feito tudo aquilo que lhe compete fazer e ainda mais... O outro – o cobrador de impostos – sente-se indigno e pecador, pois sabe que a sua vida está marcada pela ganância e pelas inúmeras injustiças que cometeu contra os seus irmãos. Está consciente de que só a misericórdia de Deus o poderá resgatar de uma vida suja e maldita. Reconhece a sua fraqueza e coloca-se humildemente nas mãos de Deus. Jesus, ao contar esta parábola, deixa claro qual é a atitude que o verdadeiro crente deve assumir diante de Deus. Independentemente das nossas boas ou más ações, com qual destes homens nos identificamos? Quando nos apresentamos diante de Deus e Lhe falamos da nossa vida, o que Lhe dizemos? Sentimos que a balança que contém os nossos méritos e os nossos débitos está claramente inclinada a nosso favor? Ousamos lembrar a Deus o nosso “comportamento exemplar” (que nem sempre é assim tão exemplar) e ficamos à espera que Ele nos pague convenientemente?
- A parábola do fariseu e do publicano serve também para nos questionarmos sobre a imagem que temos de Deus. Garante-nos que Deus não é a um contabilista eficiente e rigoroso, com o coração cheio de números exatos, empenhado em elaborar uma tabela minuciosa do “deve” e do “haver” de cada um dos seus filhos para lhes atribuir os castigos e as recompensas a que têm direito; mas é um pai cheio de bondade e de misericórdia, sempre disposto a derramar sobre os seus queridos filhos, como puro dom, um veredito de amor, de salvação e de graça. A única condição que Deus põe para que sejamos “justificados” (como aquele publicano que foi rezar ao templo de Jerusalém) é que nos entreguemos humildemente nas suas mãos e que aceitemos a oferta de salvação que Ele faz. O Deus que nos habita é esse Pai cheio de bondade e de amor que quer salvar-nos sempre, mesmo quando o não merecemos? É esse o Deus que testemunhamos no meio dos nossos irmãos?
- A certeza de possuir qualidades e méritos em abundância pode conduzir ao orgulho. Do orgulho nasce a arrogância e o desprezo por aqueles que não são como nós. Ora, isto é perigoso. Entrincheirados atrás da nossa importância e da nossa pretensa autoridade moral, julgamo-nos melhores do que os outros; e sentimo-nos no direito de avaliar, de criticar, de julgar e de condenar aqueles que nos rodeiam. O passo seguinte é erguermos muros de separação: do nosso lado colocamos os “bons” (aqueles com os quais nos identificamos, os que têm uma visão do mundo e da vida semelhante à nossa) e no lado oposto colocamos os “pecadores” (aqueles com os quais não nos identificamos, os que têm visões “diferentes”, os que têm comportamentos que reprovamos). Onde é que isto nos conduz? Não servirá para criar exclusão e marginalização? Ajudará a potenciar a fraternidade, a inclusão, a comunhão? Temos o direito de nos considerarmos melhores do que um agnóstico, ou do que um ateu? Poderemos continuar, de forma ligeira, a alimentar a nossa ilusão de inocência, a condenar os outros à luz dos nossos critérios, e a esquecer a compaixão de Deus por todos os seus filhos?
- O fariseu da parábola foi conversar com Deus, mas não estava convencido de precisar de Deus. Ele não foi ao encontro de Deus para receber e abraçar os dons de Deus, mas para se gabar das suas brilhantes escolhas e concretizações. Não precisava da salvação que Deus oferecia, porque ele tinha conquistado essa salvação à força do seu bom comportamento. A doença da autossuficiência – que era a doença da qual este fariseu padecia – é uma doença que ainda hoje deixa muitas feridas nos homens. Nos últimos séculos os homens desenvolveram, a par de uma consciência muito profunda da sua dignidade, uma consciência muito viva das suas capacidades e possibilidades. Isto, em sim, nada tem de mal; mas, no limite, conduziu à presunção da autossuficiência do homem, da sua autonomia total em relação a Deus. O desenvolvimento da tecnologia, da medicina, da química, dos sistemas políticos e ideológicos, convenceram o homem de que podia prescindir de Deus pois, por si só, podia ser feliz. Onde nos tem conduzido esta presunção? Podemos chegar à salvação, à felicidade plena, apenas pelos nossos próprios meios?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 30.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 30.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA CELEBRADA NA EUCARISTIA.
A Palavra de Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na preparação da celebração, procurar que algumas expressões da liturgia da Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração dos fiéis, num momento de ação de graças…
3. BILHETE DE EVANGELHO.
O fariseu não reza a Deus, gaba-se daquilo que é, compara-se como sendo o melhor de todos. Ele crê não ter necessidade de ser salvo, ajudado, perdoado; não tem necessidade de Deus. Repartirá com o seu orgulho, privado do amor misericordioso de Deus. Quanto ao publicano, volta-se para Deus, suplica-Lhe para ter piedade, reconhece a sua miséria, mas conta com a misericórdia de Deus. Evidentemente, Deus ouve a oração deste último e atende-o; ele reparte de modo diferente, pois Deus faz dele um justo. Não esqueçamos que Jesus conta esta história em relação a certos homens que estavam convencidos de serem justos e desprezavam todos os outros. Com efeito, eis o sentido da história: Jesus não põe em causa a justiça destes homens, como não põe em causa a retidão e a generosidade do fariseu que ultrapassa as exigências da Lei; o que Jesus critica ao fariseu da parábola e, sobretudo, aos seus ouvintes é que eles desprezavam todos os outros. Ora, não se pode entrar em relação com Deus quando se manifesta desprezo em relação aos irmãos: “Aquele que diz que ama a Deus e não ama o seu irmão é um mentiroso”.
4. À ESCUTA DA PALAVRA.
Este fariseu é vilão, nada simpático, olhando apenas os seus méritos, tomando-se por modelo de virtudes! Este publicano, que exemplo de humildade! Não se coloca à frente, baixa os olhos, reconhece-se pecador! Atenção! Não andemos demasiado depressa! O fariseu é um homem profundamente religioso, habitado pela preocupação em obedecer à Lei de Deus. Vai ao Templo para rezar e a sua fé impregna toda a sua vida. Mais ainda, dá à sua fé uma cor de ação de graças. E Jesus não havia dito “aquele que violar um dos mais pequenos preceitos da Lei será tido como o mais pequeno no Reino”? O publicano, ao contrário, é um homem a não frequentar. Fica à distância, porque lhe é proibido entrar no Templo. É um colaborador dos Romanos, contaminado pela impureza dos pagãos. E é um “ladrão profissional”, como Zaqueu! Finalmente, o fariseu tem razão em experimentar um sentimento de desprezo para com este publicano que todo o mundo detesta. O próprio Jesus havia dito: “Se o teu irmão pecar e recusar escutar a comunidade, seja para ti como o pagão e o publicano”. Sabendo isso, como não ficar chocado com a palavra de Jesus: “Quando o publicano voltou a casa, foi ele que se tornou justo e não o fariseu”? Leiamos mais atentamente. O que está no centro da parábola não é o fariseu nem o publicano. É Deus. Deus deu a Lei a Moisés, mas nunca disse que Se identificava pura e simplesmente com os preceitos jurídicos. Pelo contrário, com os profetas, não pára de dizer que é um Deus que não faz senão amar o seu povo. É esse traço do rosto de Deus que Jesus veio não somente privilegiar, mas colocar à frente de todos os outros aspetos. O seu nome é Pai. Jesus dirá: “É a misericórdia que eu quero, não os sacrifícios”. Com o fariseu, Deus não tem mais nada a fazer: ele é justo em si mesmo. O publicano, não tendo qualquer mérito a dar, só tem a receber. E justamente Deus quer dar, dar-Se, gratuitamente. Ele pode então “ajustar” o publicano ao seu amor. Finalmente, somos convidados, nós também, a perguntar em que Deus acreditamos.
5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II, que sublinha a santidade e a justiça de Deus, o único santo, e parece bem adaptada à Palavra proclamada neste domingo.
6. PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: “O Senhor é um juiz que não faz aceção de pessoas…”; “Quem adora a Deus será bem acolhido…”; “A toda a hora bendirei o Senhor…”; “O Senhor está a meu lado e dá-me força…”; “Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador…” Procurar transformá-las em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org