Comemoração de Todos os fiéis Defuntos [atualizado]
2 de Novembro, 2025
ANO C
COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS
PRIMEIRA MISSA
Tema da Comemoração de todos os Fiéis Defuntos
Para onde caminhamos? Onde estão as pessoas que nos são queridas e que já terminaram o seu caminho aqui na terra? A liturgia da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos convida-nos a ver em Deus a nossa meta, o nosso horizonte final. Não, não estamos condenados a dissolver-nos no nada, a terminar a nossa vida numa escuridão sem esperança nem sentido; estamos destinados a encontrar-nos com Deus, a viver em comunhão plena com Ele, a disfrutar de uma vida nova e eterna nos braços de um Pai que nos ama infinitamente, a experimentar uma felicidade que as nossas pobres palavras humanas nunca conseguirão descrever.
A primeira leitura traz-nos o caso de um tal Job, o protótipo do justo que sofre sem motivo nem explicação. Atingido por desgraças e tribulações sem fim, Job garante que nada fez para merecer tal sorte. Pede a Deus que seja o seu “Redentor” e que lhe faça justiça. A leitura cristã das palavras de Job sugere que Deus lhe dará razão: depois de ele terminar o seu caminho na terra, Deus há de reabilitá-lo e abrir-lhe as portas da vida eterna.
No Evangelho Jesus aponta aos seus discípulos o caminho que conduz à vida definitiva, à comunhão plena com Deus. Os “pequeninos”, aqueles que se dispõem a acolher a salvação de Deus e que se entregam humildemente nas mãos do Pai, aqueles que se identificam com Jesus, manso e humilde de coração, esses estão destinados à vida eterna.
Na segunda leitura o apóstolo Paulo expõe aos cristãos da cidade grega de Corinto a convicção fundamental que anima a sua entrega e o seu compromisso apostólico: “Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele”. Sendo assim, Paulo declara-se pronto a enfrentar todas as crises e dificuldades que a vida lhe trouxer, pois “a ligeira aflição” do momento presente “prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória”. A visão da eternidade dá-nos a força para vencer todas as exigências que a vida presente comporta.
LEITURA I – Job 19,1.23-27a
Job tomou a palavra e disse:
«Quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro,
ou gravadas em bronze com estilete de ferro,
ou esculpidas em pedra para sempre!
Eu sei que o meu Redentor está vivo
e no último dia Se levantará sobre a terra.
Revestido da minha pele, estarei de pé;
na minha carne verei a Deus.
Eu próprio O verei,
meus olhos O hão de contemplar».
CONTEXTO
O Livro de Job, uma das pérolas da literatura universal, apresenta uma reflexão sobre algumas das grandes questões que se colocam aos seres humanos: qual o sentido da vida? Qual a situação do homem diante de Deus? Qual o papel de Deus na vida e nos dramas do ser humano? Qual o sentido do sofrimento?
Job, a figura principal deste livro, é apresentado como um homem piedoso, bom, generoso e cheio de “temor de Deus”. Possuía muitos bens e uma família numerosa… Mas, repentinamente, viu-se privado de todos os seus bens, perdeu a família e foi atingido por uma grave doença.
O drama de Job, apresentado em pormenor nos dois primeiros capítulos do livro, serve para introduzir uma reflexão sobre um dos grandes dogmas da fé israelita: o dogma da retribuição. Para a catequese tradicional de Israel, Javé recompensava os bons pelas suas boas obras e castigava os maus pelas injustiças e arbitrariedades que praticavam. A justiça de Deus era linear, lógica, imutável. De acordo com os teólogos de Israel, Javé é um Deus previsível, que Se limita a fazer a contabilidade das ações do homem e a pagar-lhe em consequência.
No entanto, a vida nem sempre confirmava esta visão de Deus e da sua forma de atuar. Constatava-se, com frequência, que os maus possuíam bens em abundância e viviam vidas longas e felizes, enquanto que os justos eram pobres e sofriam por causa da injustiça e da violência dos poderosos. Mais ainda: o dogma não respondia ao problema do sofrimento do inocente. Se um homem bom, piedoso, que teme o Senhor e que vive na observância dos mandamentos sofre, como explicar esse sofrimento?
Job discorda da teologia tradicional e, a partir da sua própria experiência, denuncia uma fé instalada em preconceitos e em teorias que não têm nada a ver com a vida. Ele não aceita as falsas imagens de Deus fabricadas pelos teólogos de Israel, para os quais Deus não passa de um comerciante que paga conforme a qualidade da mercadoria que recebe.
Como não pode aceitar esse deus falso, Job parte em demanda do verdadeiro rosto de Deus. Numa busca apaixonada, emotiva, dramática, temperada pelo sofrimento, marcada pela rebeldia e, às vezes, pela revolta, Job chega ao “face a face” com Deus. Descobre um Deus omnipotente, desconcertante, incompreensível, que ultrapassa infinitamente as lógicas humanas; mas que ama, com amor de Pai, cada uma das suas criaturas. A Job nada resta senão reconhecer a sua pequenez e finitude, a sua incapacidade para compreender os projetos de Deus, a vacuidade da sua pretensão de julgar Deus e de entendê-l’O à luz da lógica dos homens. Job decide, finalmente, trilhar o único caminho que faz sentido: vai entregar-se totalmente nas mãos desse Deus incompreensível mas cheio de amor, e vai confiar plenamente n’Ele.
O texto que a liturgia deste dia nos propõe como primeira leitura integra o corpo central do livro (Jb 3,1 -31,40). Aí encontramos um diálogo entre Job (o crente inconformado, polémico, contestatário) e quatro “amigos” (os defensores da teologia tradicional). Nesse diálogo, Job vai desfazendo os argumentos da catequese oficial de Israel; e vai, também, derramando a sua insatisfação e revolta, num desafio a esse deus falso que os amigos lhe apresentam e que Job se recusa a aceitar. Depois de mais uma intervenção de Bildad de Chua, que reafirma a doutrina tradicional sobre o castigo dos maus (cf. Jb 18,1-21), Job responde expressando a sua sede de justiça: ele tem a consciência limpa e está seguro de que Deus, o supremos juiz, lhe dará razão (cf. Jb 19,1-29).
MENSAGEM
Podemos considerar os versículos que compõem este texto um dos pontos culminantes daquele frente a frente dramático entre o justo Job e os seus amigos.
A troca de argumentos entre as duas partes tinha-se prolongado, sem que se tivesse chegado a um consenso. Os amigos de Job repetiram uma e outra vez as teses da doutrina tradicional: as desgraças que atingiram Job resultaram da sua culpabilidade, pois só os maus são castigados por Deus. Job, por sua vez, não prescindiu da sua verdade: ele é inocente, pois sempre procurou viver como justo (cf. Jb 3-18). As duas partes estão num impasse.
É neste cenário que Job, recorrendo a uma linguagem carregada de solenidade, expressa o seu desejo de que as suas palavras de defesa sejam perpetuadas (“quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro, ou gravadas em bronze com estilete de ferro, ou esculpidas em pedra para sempre” – vers. 23-24). Dececionado porque os amigos não o compreendem, sentindo a sua vida ameaçada, Job manifesta a vontade de deixar um registo imorredoiro da sua inocência, a fim de que as gerações futuras reconheçam a verdade dos seus argumentos e lhe deem razão.
Os versículos que se seguem (vers. 25-27) são dos mais problemáticos de todo o livro. Neles Job parece pedir a intervenção de um “redentor” (“goel”), que venha repor a justiça, dar-lhe razão, levantá-lo “sobre a terra”, garantir a sua inocência, restaurar a sua integridade. No direito israelita, o “goel” é o “vingador de sangue”, o parente mais próximo da vítima, aquele que tinha a obrigação de a vingar (cf. Gn 4,15; 9,6; Dt 19,12) ou de a resgatar, o protetor dos membros da família que não podiam defender-se ou que caíam na escravidão(cf. Lv 25,23-25; Rt 4,34). Quem é o “goel” de Job? Deus? Job estará a afirmar que esse mesmo Deus que lhe enviou os sofrimentos lhe enviará também a redenção e que o restaurará na inocência?
Ainda que o sentido do original hebraico não seja claro, o texto parece sugerir a esperança de Job em que Deus, finalmente, lhe faça justiça. Quando? Antes dele morrer, enquanto ainda está na terra? Provavelmente seria essa a ideia do autor do texto original. Contudo, muitos comentadores cristãos, influenciados pela tradução que São Jerónimo fez do texto (São Jerónimo deu-nos a chamada “Vulgata”, a tradução latina da Bíblia), veem nas palavras de Job uma alusão à Ressurreição e ao futuro Messias Redentor: “revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei a Deus. Eu próprio O verei, meus olhos O hão de contemplar” (vers. 26-27a). De acordo com a interpretação cristã, as palavras de Job expressam a sua fé na Ressurreição e na vida futura. O “goel” de que Job fala seria o Messias, Jesus Cristo, o Redentor que veio reabilitar o justo Job e abrir-lhe as portas da vida eterna. É uma interpretação algo rebuscada? Possivelmente. Mas é uma visão válida, caucionada pela tradição e pela catequese cristãs (cf. 2 Cor 3,18; 1 Cor 13,12).
INTERPELAÇÕES
- Porque é que algumas vidas estão marcadas por um sofrimento atroz e sem esperança? Porque é que tantos homens e mulheres vivem vidas desgraçadas e chegam ao final do seu caminho na terra sem conhecerem a felicidade e a realização? Como é que um Deus bom, cheio de amor, preocupado com a felicidade dos seus filhos, se situa face ao drama do sofrimento sem sentido e da morte sem remédio? A única resposta honesta que podemos dar a estas questões é admitir que não temos explicações definitivas para realidades que nos ultrapassam absolutamente. Ao longo do livro de Job, o “sábio” que redigiu esta obra lembra-nos, a propósito de tudo isso, a nossa pequenez, os nossos limites, a nossa finitude, a nossa incapacidade para entender os mistérios e os caminhos de Deus; mas deixa-nos também uma certeza fundamental: dê a vida as voltas que der, Deus ama-nos com amor de pai e de mãe e quer conduzir-nos ao encontro da vida verdadeira e definitiva, da felicidade sem fim… Talvez nem sempre sejamos capazes de entender os caminhos de Deus; mas, mesmo quando as coisas não fazem sentido do ponto de vista da nossa lógica humana, resta-nos confiar no amor e na bondade do nosso Deus e entregarmo-nos confiadamente nas suas mãos. Como é que lidamos com as questões que nos ultrapassam e põem em causa a nossa visão do mundo e da vida? Somos capazes de confiar em Deus, a fundo perdido, mesmo quando não compreendemos o sentido e a lógica das suas decisões?
- Job está convicto de que Deus não o deixará cair nas garras da morte sem o reabilitar e lhe dar razão. “Eu sei que o meu Redentor está vivo e no último dia Se levantará sobre a terra” – diz ele. Job, ao longo do seu caminho pela terra, pode sentir-se perdido, infeliz, magoado, afogado num mar de desilusão e de abandono; mas não deixará de pôr em Deus a sua confiança e a sua esperança. Ele sabe que não há salvação fora de Deus e confia que, no final de tudo, Deus o salvará. É essa também a nossa convicção? Até que ponto essa certeza influencia a forma como vivemos?
- A leitura cristã das palavras de Job aponta no sentido da Ressurreição, da vida futura, da vida eterna que Deus oferece a todos os seus queridos filhos. A catequese cristã, fruto da Revelação de Deus, diz-nos que não estamos condenados ao aniquilamento, ao nada, à escuridão absoluta e sem remédio; mas estamos destinados ao encontro com Deus, à vida eterna, à felicidade sem fim. O nosso destino não é um destino de fracasso, mas é um destino de glória e de vitória. Terminado o nosso caminho nesta terra, Deus estará à nossa espera para nos abraçar e para nos oferecer a vida que nunca acaba. Somos capazes de vislumbrar, enquanto caminhamos pela vida, esse horizonte de salvação e de plenitude que nos espera?
SALMO RESPONSORIAL Salmo 26 (27), 1.4.7 e 8b e 9a.13-14
Refrão:
Espero contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos.
Ou:
O Senhor é a minha luz e a minha salvação.
O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei de temer?
O Senhor é o protetor da minha vida:
de quem hei de ter medo?
Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio:
habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida,
para gozar da suavidade do Senhor
e visitar o seu santuário.
Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
A vossa face, Senhor, eu procuro:
não escondais de mim o vosso rosto.
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor.
LEITURA II – 2 Coríntios 4,14 – 5,1
Como sabemos, irmãos,
Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus
também nos há de ressuscitar com Jesus
e nos levará convosco para junto d’Ele.
Tudo isto é por vossa causa,
para que uma graça mais abundante
multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos
para glória de Deus.
Por isso, não desanimamos.
Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando,
o homem interior vai-se renovando de dia para dia.
Porque a ligeira aflição dum momento
prepara-nos, para além de toda e qualquer medida,
um peso eterno de glória.
Não olhamos para as coisas visíveis,
olhamos para as invisíveis:
as coisas visíveis são passageiras,
ao passo que as invisíveis são eternas.
Bem sabemos que,
se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita,
recebemos nos Céus uma habitação eterna,
que é obra de Deus
e não é feita pela mão dos homens.
CONTEXTO
A Primeira Carta aos Coríntios (que criticava alguns membros da comunidade por atitudes pouco condizentes com os valores cristãos) provocou uma reação extremada de alguns cristãos de Corinto. Aproveitando a ocasião, alguns adversários de Paulo (pelo contexto, não se percebe exatamente se são esses “judaizantes” que queriam impor aos pagãos convertidos as práticas da Lei, ou se são cristãos que aceitam o laxismo da vida dos coríntios e que criticam a severidade de Paulo) organizaram uma campanha no sentido de o desacreditar. Acusaram-no de anunciar o Evangelho por interesses pessoais e ainda de apresentar uma mensagem que não estava em consonância com a doutrina dos outros apóstolos. Paulo, informado de tudo, dirigiu-se apressadamente para Corinto e teve um violento confronto com os seus detratores. O choque deve ter deixado marcas profundas na comunidade. Depois, Paulo dirigiu-se para Éfeso.
Algum tempo depois, Tito, amigo de Paulo, fino negociador e hábil diplomata, partiu para Corinto, a fim de acalmar os ânimos dos coríntios e tentar a reconciliação. Paulo, entretanto, deixou Éfeso e foi para Tróade. Foi aí que reencontrou Tito, regressado de Corinto. As notícias trazidas por Tito eram animadoras: o diferendo fora ultrapassado e os coríntios estavam, outra vez, em comunhão com Paulo.
Reconfortado, Paulo escreveu uma “carta de reconciliação” na qual fazia uma tranquila apologia do seu apostolado (cf. 2 Cor 1,3-7,16) e desmontava os argumentos dos adversários (cf. 2 Cor 10,1-13,10). Juntou também, no mesmo escrito, algumas instruções acerca de uma coleta em favor dos pobres da Igreja de Jerusalém (cf. 2 Cor 8,1-9,15). Apareceu, assim, a nossa segunda carta de Paulo aos Coríntios. Estamos nos anos 56/57.
O texto que a liturgia da Comemoração dos Fiéis Defuntos nos propõe como segunda leitura integra a primeira parte da Carta (2 Cor 1,3-7,16). Aí Paulo reflete sobre a grandeza e a dificuldade, os riscos e as compensações do ministério apostólico. Dar testemunho de Jesus é uma tarefa difícil, num mundo que põe sempre dificuldades aos mensageiros do Evangelho; mas é algo que vale a pena: no final do caminho espera-nos o encontro com Deus, a vida nova, a felicidade sem fim.
MENSAGEM
Paulo tem sofrido muito por causa do seu serviço a Jesus e ao Evangelho. Mas os sofrimentos, perseguições e incompreensões não têm sido suficientes para o fazer desistir da missão que lhe foi confiada. Ele vive e caminha animado pela fé; e isso dá sentido ao seu compromisso, à sua luta, ao seu testemunho. Paulo tem sempre diante dos olhos aquilo que aconteceu com Jesus: os homens rejeitaram-n’O, condenaram-n’O e mataram-n’O na cruz; mas Deus ressuscitou-O e deu-Lhe razão. Paulo tem a certeza de que esse mesmo Deus que ressuscitou Jesus, também há de ressuscitar todos aqueles que estão com Jesus e se comprometem com Ele (4,14). Ancorado nessa certeza, Paulo nunca desistirá do ministério que lhe foi confiado. Deus quer que, através do testemunho de Paulo, a salvação chegue aos seus queridos filhos de Corinto (4,15); e Paulo tudo fará para cumprir a missão que lhe foi confiada.
Por isso, Paulo não desanima, sejam quais forem as vicissitudes que tiver de enfrentar. É verdade que se sente cansado e sem forças. Os anos começam a pesar-lhe e o seu vigor físico vai diminuindo em cada dia que passa. No entanto, isso não lhe diminui o ânimo e a decisão. Pelo contrário: à medida que o “homem exterior” se vai arruinando, Paulo sente renovar-se e fortalecer-se o “homem interior”, o Homem Novo que o habita e que está destinado à Vida eterna (4,16).
Chegado aqui, Paulo detém-se a pensar que a sua aposta faz todo o sentido e vale bem a pena. A “ligeira aflição” que ele experimenta diante das contrariedades, das incompreensões, do cansaço, será largamente compensada pela recompensa que o espera: “um peso eterno de glória” (4,17). Tudo vale a pena quando sabemos que no nosso horizonte está a vida eterna, a vida verdadeira. As coisas visíveis e materiais são efémeras e fogem-nos como areia por entre os dedos; as coisas invisíveis é que são eternas (4,18). O discípulo de Jesus não aposta toda a sua vida nas realidades transitórias, nas coisas deste mundo; mas vive de olhos postos nas coisas eternas, na vida que há de vir.
Finalmente Paulo proclama, para os seus amigos da comunidade cristã de Corinto, a grande certeza que ilumina a sua vida: “bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens” (5,1). A imagem da tenda que se monta e desmonta com facilidade, refere-se à vida mortal, efémera e transitória que temos enquanto andamos na terra; a imagem da casa que assenta em fundamentos sólidos alude à vida eterna e imortal que nos espera, junto de Deus.
INTERPELAÇÕES
- Paulo, depois de ver o que Deus fez com Jesus, sabe que está destinado à ressurreição: “Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus”. Por isso, vive de olhos postos no futuro, na vida que há de vir. A consciência de que o seu destino é um destino de eternidade, proporciona-lhe a chave de leitura adequada para relativizar as coisas passageiras que a vida comporta: as dificuldades e contrariedades, o medo e o cansaço, os bens materiais e os interesses fúteis. As coisas passageiras que marcam o caminho do homem pela terra, têm todas a marca da caducidade e não podem ser absolutizadas. Esta reflexão continua a fazer sentido hoje, em pleno séc. XXI? Sem dúvida. Vivemos sob o domínio do efémero, da futilidade, da ambição desregrada, dos bens materiais, dos interesses mesquinhos, do brilho fútil da fama; passamos a vida a correr atrás de coisas supérfluas, colocamos o nosso coração em coisas que nos escravizam, inventamos ídolos que nunca saciam a nossa sede de vida, passamos o tempo a olhar para o chão e esquecemo-nos de contemplar aquilo que tem a marca da eternidade. Uma vida vivida neste registo fará sentido? Valerá a pena? Far-nos-á sentir plenamente realizados? Não faríamos melhor se aprendêssemos a viver com a consciência de que a verdadeira vida não é aqui?
- Contudo, o viver de olhos postos na eternidade não significa que nos alheemos das realidades deste mundo. Jesus, ao despedir-se dos discípulos, deixou-lhes a missão de construir o Reino de Deus na terra. Compete-nos, enquanto caminhamos na terra, fazer tudo o que está ao nosso alcance para que nasça e floresça um mundo mais justo, mais fraterno, mais digno, mais humano. Podemos e devemos lutar pelo nascimento de um mundo novo, mesmo sabendo que a vida definitiva não é aqui. Também apontamos ao céu quando vivemos conscientes do que nos compete fazer enquanto caminhamos na terra. Temos consciência disso? Começamos desde já a construir a vida futura, cumprindo o papel que Deus nos confiou na vida presente?
- A certeza de estar destinado à ressurreição influenciou decididamente a forma como Paulo via a vida. Deu-lhe forças para viver a sua fé e a missão que lhe foi confiada; levou-o a relativizar determinadas coisas e a dar mais peso a outras; ajudou-o a enfrentar a vida com esperança. Ter sempre diante dos olhos a vida futura transforma a nossa capacidade de encarar e viver a vida presente. Sentimos isso, também nós? Que influência tem a certeza da ressurreição na forma como encaramos a vida? A certeza da ressurreição condiciona a nossa forma de estar, de atuar, de ver o mundo, de ver os irmãos e irmãs que caminham ao nosso lado pelos caminhos da vida?
ALELUIA – cf. Mateus 11,25
Aleluia. Aleluia.
Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque revelaste aos pequeninos os mistérios do reino.
EVANGELHO – Mateus 11,25-30
Naquele tempo, Jesus exclamou:
«Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes
e as revelaste aos pequeninos.
Sim, Pai, Eu Te bendigo,
porque assim foi do teu agrado.
Tudo Me foi dado por meu Pai.
Ninguém conhece o Filho senão o Pai
e ninguém conhece o Pai senão o Filho
e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a Mim,
todos os que andais cansados e oprimidos,
e Eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».
CONTEXTO
Depois de nos ter contado como Jesus andou por toda a Galileia, acompanhado pelos discípulos, a anunciar o Reino de Deus (cf. Mt 4,17-11,1), Mateus passa a uma nova secção. Nesta nova secção (cf. Mt 11,2-16,20), Mateus procura mostrar-nos, de forma sistemática, como é que as pessoas reagem diante do anúncio do Reino. Ora, muitas das reações registadas são de recusa da proposta que Jesus traz (cf. Mt 11,16-19; 11,20-24; 12,1-8; 12,9-14; 12,22-32; 12,38-42; 12,46-50).
Nos versículos anteriores ao texto que nos é hoje proposto (cf. Mt 11,20-24), Jesus havia dirigido uma veemente crítica aos habitantes de algumas cidades situadas à volta do lago de Tiberíades (Corozaim, Betsaida, Cafarnaum), porque foram testemunhas da sua proposta de salvação e mantiveram-se indiferentes. Estavam demasiado cheios de si próprios, instalados nas suas certezas, calcificados nos seus preconceitos e não aceitavam questionar-se, a fim de abrir o coração à novidade de Deus.
Agora, Jesus manifesta-Se convicto de que essa proposta rejeitada pelos habitantes das cidades do lago e pelos letrados (fariseus e doutores da Lei) encontrará acolhimento entre os pobres e marginalizados, desiludidos com a religião “oficial” e fartos de esperar por uma libertação que nunca mais chega.
O nosso texto consta de três “sentenças” que, provavelmente, foram pronunciadas por Jesus em ambientes diversos deste que Mateus nos apresenta. Dois desses “ditos” (cf. Mt 11,25-27) aparecem também em Lucas (cf. Lc 10,21-22) e devem provir de um documento que reuniu os “ditos” de Jesus e que tanto Mateus como Lucas utilizaram na composição dos seus evangelhos. O terceiro (cf. Mt 11,28-30) é exclusivo de Mateus e deve provir de uma fonte própria.
MENSAGEM
A primeira sentença (cf. Mt 11,25-26) é uma ação de graças que Jesus dirige ao Pai sobre a forma como Ele está a concretizar o Seu projeto de salvação. Alguns exegetas veem nestas palavras de Jesus uma “berakah”, ou “bênção a Javé, que é a oração mais típica da espiritualidade judaica. Na sua forma mais simples, a “berakah” é uma expressão de admiração (“bendito seja Javé”), seguida do motivo que provoca a ação de graças.
Jesus constata que as pessoas a quem a proposta do Reino de Deus é apresentada se dividem em dois grupos: os “sábios e inteligentes” e o povo simples (os “pequeninos”). Os “sábios e inteligentes” são certamente esses “fariseus” e “doutores da Lei”, que estudam a Lei e que a absolutizam, que se consideram justos e dignos de salvação porque cumprem escrupulosamente os preceitos da Lei, que se consideram perfeitos conhecedores da vontade de Deus, que não estão dispostos a acolher a proposta de Jesus pois não querem pôr em causa o sistema religioso em que estão instalados. Os “pequeninos” são os discípulos, os primeiros a responder positivamente à oferta do “Reino”; e são também esses pobres e marginalizados (os doentes, os publicanos, as mulheres de má vida, o “povo da terra”) que Jesus encontra todos os dias pelos caminhos da Galileia, considerados malditos pela Lei, mas que acolhem, com alegria e entusiasmo, a proposta libertadora de Jesus. As diferentes reações destes dois grupos à proposta de Jesus poderá ser explicada por fatores diversos. Jesus não se dá ao trabalho de fazer a avaliação das condições sociais ou humanas que estão por detrás dessas reações. Limita-se a agradecer a Deus que, na sua infinita sabedoria, escondeu “estas coisas aos sábios e inteligentes” e as revelou “aos pequeninos”. Facciosismo de Deus? Não. Deus esconde algumas coisas porque quer mal às pessoas mais inteligentes e melhor preparadas para vencer na vida? É claro que não. Na verdade, a proposta de Deus chega a todos e destina-se a todos os seus filhos; mas só aqueles que não têm o coração demasiado cheio de si próprios estão disponíveis para a acolher. Os “grandes” e os “inteligentes” estão tão cheios de autossuficiência que não têm lugar para acolher os dons de Deus. Mas os “pequeninos”, aqueles que se apresentam diante de Deus com humildade e simplicidade, aqueles que têm fome e sede de justiça, aqueles que sabem que, por si só, não se podem salvar, esses estão sempre dispostos a acolher a salvação que Deus lhes oferece.
A segunda sentença (cf. Mt 11,27) relaciona-se com a anterior e explica o que é que foi escondido aos “sábios e inteligentes” e revelado aos “pequeninos”. Trata-se, nem mais nem menos, do que o “conhecimento” (quer dizer, uma “experiência profunda e íntima”) de Deus.
Os “sábios e inteligentes” estavam convencidos de que o conhecimento da Lei lhes dava o conhecimento de Deus. A Lei era uma espécie de “linha direta” para Deus, através da qual eles ficavam a conhecer Deus, a sua vontade, os seus projetos para o mundo e para os homens; por isso, apresentavam-se como detentores da verdade, representantes legítimos de Deus, capazes de interpretar a vontade e os planos divinos.
Jesus vê as coisas de forma diferente. Ele acha que, quem quiser fazer uma experiência profunda e íntima de Deus tem de escutar e acolher o Filho de Deus. Jesus é “o Filho” que o Pai enviou ao encontro dos homens para lhes dar a conhecer o rosto e o coração de Deus. Só Ele – o Filho – tem uma experiência profunda de intimidade e de comunhão com o Pai. Quem rejeitar Jesus não poderá “conhecer” Deus: quando muito, encontrará imagens distorcidas de Deus e aplicá-las-á depois para julgar o mundo e os homens. Mas quem aceitar Jesus e O seguir, aprenderá a viver em comunhão com Deus, na obediência total aos seus projetos e na aceitação incondicional dos seus planos.
A terceira sentença (cf. Mt 11,28-30) é um convite a ir ao encontro de Jesus e a aceitar a sua proposta: “vinde a Mim”; “tomai sobre vós o meu jugo”.
Os rabis judaicos falavam do “jugo da Lei” (cf. Sir 6,24-30; 51,26-27,) um “jugo” a que os crentes israelitas deviam submeter-se voluntariamente e com o desejo de agradar a Deus. Os fariseus, por exemplo, consideravam que a Lei não era um “jugo” pesado, mas um “jugo glorioso”, que devia ser carregado com alegria. Mas, na realidade, tratava-se de um “jugo” pesadíssimo. A impossibilidade de cumprir, no dia a dia, os 613 mandamentos da Lei escrita e oral, criava consciências pesadas e atormentadas. Os crentes israelitas, incapazes de estar em regra com a Lei, sentiam-se condenados e malditos, afastados de Deus e indignos da salvação. A Lei aprisionava em lugar de libertar e afastava os homens de Deus em lugar de os conduzir para a comunhão com Deus.
Jesus veio libertar o homem da escravidão da Lei e de todas as escravidões que roubam a vida. A proposta de libertação plena que Jesus oferece dirige-se aos doentes (na perspetiva da teologia oficial, vítimas de um castigo de Deus), aos pecadores (os publicanos, as mulheres de má vida, todos aqueles que tinham publicamente comportamentos política, social ou religiosamente incorretos), ao povo simples do país (aqueles que, pela dureza da vida que levavam, não podiam cumprir escrupulosamente todos os ritos da Lei), a todos os que se sentiam cansados e oprimidos. Jesus garante-lhes que Deus não os exclui nem amaldiçoa e convida-os a integrar o mundo novo do “Reino”. É nessa nova dinâmica proposta por Jesus que eles encontrarão a alegria e a felicidade que a Lei recusa dar-lhes. Quem anseia por ser livre deve voltar-se para Jesus – que é “manso e humilde de coração” – e aprender com Ele a viver e a relacionar-se com Deus. Esses serão, como Jesus, testemunhas da bondade e da misericórdia de Deus no meio do mundo.
Acolhendo a proposta de Jesus e seguindo-O, os pobres e oprimidos encontrarão o Pai, tornar-se-ão “filhos de Deus” e descobrirão a vida plena, a salvação definitiva, a felicidade total.
No dia da Comemoração dos Fiéis Defuntos, o Evangelho aponta-nos o caminho que leva à vida eterna, à comunhão plena com Deus: é o caminho estreito da humildade, da simplicidade, da “pequenez”, da mansidão, da identificação plena com Jesus. Felizes seremos se esse for o nosso caminho.
INTERPELAÇÕES
- O que temos de fazer para que a nossa vida tenha pleno sentido? O que torna a nossa vida um êxito ou um fracasso? Nós, seres humanos, temos ideias muito próprias sobre estas coisas. No entanto, parece que a nossa resposta a estas questões nem sempre coincide com as “contas” de Deus. Nós, homens, admiramos e incensamos os sábios, os inteligentes, os ricos, os poderosos, os fortes, os grandes… e queremos que sejam eles (“os melhores”) a dirigir o mundo, a fazer as leis que nos governam, a ditar a moda ou as ideias, a definir o que é correto ou não é correto, a conduzir a marcha da história. Mas Deus – que, decididamente, avalia as coisas a partir de um ângulo diferente do nosso – inclina-se para os “pequeninos”, os humildes, os que não têm o seu nome nos livros de história, os que nunca tiveram a sua foto nas revistas sociais, os que não atropelam ninguém mas tratam toda a gente com respeito e consideração, os que passam despercebidos aos olhos das multidões mas irradiam paz e transmitem bondade, os que não vivem para ser servidos mas sim para servir e dar vida. De que lado queremos estar? Dos que os homens admiram, ou dos que Deus admira? Que marca queremos deixar na história do mundo, na vida dos nossos irmãos e no coração de Deus? Como avaliamos e consideramos as pessoas simples, humildes, despretensiosas que Deus coloca no nosso caminho?
- Porque é que Deus “tem um fraco” pelos “pequeninos”, pelos humildes, pelos simples, pelos pobres, pelos injustiçados, pelos desprezados? Antes de mais porque eles, vivendo numa situação de pobreza e debilidade, são os que mais necessitam de experimentar o amor paternal e maternal de Deus. Mas também porque eles, despojados de toda a vaidade e de toda a autossuficiência, aproximam-se de Deus com humildade, confiança e reverência, sempre dispostos a acolher os dons que Deus lhes quer oferecer. Vivem abertos a Deus e às Suas indicações; estão sempre disponíveis para sintonizar com Deus e para acolher os desafios de Deus; vão ao encontro de Deus com um sorriso nos lábios e um coração agradecido. Sem se deixarem cegar pela ambição ou por manias de protagonismo, vivem para servir e para dar testemunho do amor de Deus no meio dos seus irmãos. É desta forma que, também nós, nos situamos diante de Deus e dos nossos irmãos?
- Como é que chegamos a Deus? Como percebemos o Seu “rosto”, como conhecemos o Seu coração? Como fazemos uma experiência íntima e profunda de Deus? É através da filosofia ou da teologia? É através de um discurso intelectual que nos desvenda a realidade da transcendência? É assumindo responsabilidades mais exigentes na estrutura da comunidade eclesial? O Evangelho que hoje ouvimos responde: “conhecemos” Deus através de Jesus. Jesus é “o Filho” que “conhece” o Pai e que nos veio revelar o rosto e o coração do Pai. Quem quer “conhecer Deus” – isto é, ter com Deus uma relação estreita de intimidade e de comunhão – tem de olhar para Jesus, de escutar Jesus, de acolher os gestos de Jesus, de ir atrás de Jesus no caminho do amor e do dom da vida, de oferecer a vida em dom total a Deus e aos irmãos, como Jesus fez. Jesus, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos, com a sua obediência, com o seu amor até ao extremo, apontou-nos o Caminho que conduz ao Pai (“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém pode ir ao Pai senão por mim” – Jo 14,6). Que lugar ocupa Jesus na nossa vida de fé? Vivemos de olhos postos n’Ele? Temos consciência de que é Ele o Caminho que nos leva até ao coração amoroso de Deus?
- Jesus quis oferecer aos pobres, aos marginalizados, aos pequenos, a todos aqueles que a Lei escravizava e oprimia, a libertação e a esperança: “vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas”. Há tantos homens e mulheres à nossa volta que carregam pesos insuportáveis e que vivem prisioneiros da angústia e do medo: os que são maltratados e humilhados pelos poderosos, os que não veem respeitados os seus direitos e a sua dignidade, os que são marginalizados por uma sociedade injusta e indiferente, os que são condenados pelas igrejas e por uma religião que não conhece a misericórdia… Como é que os pequenos, os humildes, os sofredores, os “malditos” são acolhidos nas nossas comunidades? Os que andam “cansados e oprimidos” encontram em nós apoio, solidariedade, alívio e descanso?
- Em dia de Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, podemos perguntar-nos: é verdade que, depois da nossa peregrinação pela terra, estamos destinados à vida eterna, à comunhão plena com Deus? É verdade que, depois de uma vida carregada de preocupações, de angústias, de cansaços, descansaremos eternamente nos braços de Deus? A resposta, garantida por Jesus, é: sim, sem dúvida. Todos nós que vivemos de forma simples e humilde, que acolhemos agradecidos a salvação que Deus nos oferece, estamos destinados a ir ao encontro de Deus e a ficar eternamente com Ele; todos nós que, através de Jesus, “conhecemos” o Pai, estamos destinados à comunhão plena com Deus; todos nós que prescindimos do orgulho e da autossuficiência e aprendemos com Jesus a ser mansos e humildes de coração, encontraremos descanso e vida definitiva em Deus. É esta a fé que nos anima e que ilumina a nossa caminhada terrena?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org