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  • 05º Domingo da Quaresma – Ano C

    05º Domingo da Quaresma – Ano C


    3 de Abril, 2022

    ANO C
    5º DOMINGO DA QUARESMA

    Tema do 5º Domingo da Quaresma

    A liturgia de hoje fala-nos (outra vez) de um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar as nossas escravidões para chegar à vida nova, à ressurreição.
    A primeira leitura apresenta-nos o Deus libertador, que acompanha com solicitude e amor a caminhada do seu Povo para a liberdade. Esse “caminho” é o paradigma dessa outra libertação que Deus nos convida a fazer neste tempo de Quaresma e que nos levará à Terra Prometida onde corre a vida nova.
    A segunda leitura é um desafio a libertar-nos do “lixo” que impede a descoberta do fundamental: a comunhão com Cristo, a identificação com Cristo, princípio da nossa ressurreição.
    O Evangelho diz-nos que, na perspectiva de Deus, não são o castigo e a intolerância que resolvem o problema do mal e do pecado; só o amor e a misericórdia geram activamente vida e fazem nascer o homem novo. É esta lógica – a lógica de Deus – que somos convidados a assumir na nossa relação com os irmãos.

    LEITURA I – Is 43,16-21

    Leitura do livro de Isaías

    O Senhor abriu outrora caminhos através do mar,
    veredas por entre as torrentes das águas.
    Pôs em campanha carros e cavalos,
    um exército de valentes guerreiros;
    e todos caíram para não mais se levantarem,
    extinguiram-se como um pavio que se apaga.
    Eis o que diz o Senhor:
    «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados,
    não presteis atenção às coisas antigas.
    Olhai: vou realizar uma coisa nova,
    que já começa a aparecer; não a vedes?
    Vou abrir um caminho no deserto,
    fazer brotar rios na terra árida.
    Os animais selvagens – chacais e avestruzes –
    proclamarão a minha glória,
    porque farei brotar água no deserto,
    rios na terra árida,
    para matar a sede ao meu povo escolhido,
    o povo que formei para Mim
    e que proclamará os meus louvores».

    AMBIENTE

    O Deutero-Isaías (autor deste texto) é um profeta anónimo, da escola de Isaías, que cumpriu a sua missão profética entre os exilados. Estamos no séc. VI a.C., na Babilónia. Os judeus exilados estão frustrados e desorientados, pois a libertação tarda e Deus parece ter-Se esquecido do seu Povo. Sonham com um novo êxodo, no qual Jahwéh Se manifeste, outra vez, como o Deus libertador.
    Na primeira parte do “livro da consolação” (Is 40-48), o profeta anuncia a iminência da libertação e compara a saída da Babilónia e a volta à Terra Prometida com o êxodo do Egipto. É neste contexto que deve ser enquadrada a primeira leitura de hoje.

    MENSAGEM

    Este oráculo de salvação começa por recordar a “mãe de todas as libertações” (a libertação da escravidão do Egipto). Mas evocar essa realidade não pode ser uma fuga nostálgica para o passado, um repousar inerte na saudade, um refúgio contra o medo do presente (se assim for, esse passado vai obscurecer a perspectiva do Povo, impedindo-o de reconhecer os sinais que já se manifestam e que anunciam um futuro de liberdade e de vida nova)… A lembrança do passado é válida quando alimenta a esperança e prepara para um futuro novo. Na acção libertadora de Deus em favor do Povo oprimido pelo faraó, o judeu crente descobre um padrão: o Deus que assim agiu é o Deus que não tolera a opressão e que está do lado dos oprimidos; por isso, não deixará de Se manifestar em circunstâncias análogas, operando a salvação do Povo escravizado.
    De facto – diz o profeta – o Deus libertador em quem acreditamos e em quem esperamos não demorará a actuar. Aproxima-se o dia de um novo êxodo, de uma nova libertação. No entanto, esse novo êxodo será algo de grandioso, que eclipsará o antigo êxodo: o Povo libertado percorrerá um caminho fácil no regresso à sua Terra e não conhecerá o desespero da sede e da falta de comida porque Jahwéh vai fazer brotar rios na paisagem desolada do deserto. A actuação de Deus manifestará, de forma clara, o amor e a solicitude de Deus pelo seu Povo. Diante da acção de Jahwéh, o Povo tomará consciência de que é o Povo eleito e dará a resposta adequada: louvará o seu Deus pelos dons recebidos.

    ACTUALIZAÇÃO

    Reflectir a partir das seguintes linhas:

    • O nosso Deus é o Deus libertador, que não Se conforma com qualquer escravidão que roube a vida e a dignidade do homem e que está, permanentemente, a pedir-nos que lutemos contra todas as formas de sujeição. Quais são as grandes formas de escravidão que impedem, hoje, a liberdade e a vida? Neste tempo de transformação e de mudança, o que posso eu fazer para que a escravidão e a injustiça não mais destruam a vida dos homens meus irmãos?

    • A vida cristã é uma caminhada permanente, rumo à Páscoa, rumo à ressurreição. Neste tempo de Quaresma, somos convidados a deixar definitivamente para trás o passado e a aderir à vida nova que Deus nos propõe. Cada Quaresma é um abalo que nos desinstala, que põe em causa o nosso comodismo, que nos convida a olhar para o futuro e a ir além de nós mesmos, na busca do Homem Novo. O que é que, na minha vida, necessita de ser transformado? O que é que ainda me mantém alienado, prisioneiro e escravo? O que é que me impede de imprimir à minha vida um novo dinamismo, de forma que o Homem Novo se manifeste em mim?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 125 (126)

    Refrão 1: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor.

    Refrão 2: O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.

    Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
    parecia-nos viver um sonho.
    Da nossa boca brotavam expressões de alegria
    e de nossos lábios cânticos de júbilo.

    Diziam então os pagãos:
    «O Senhor fez por eles grandes coisas».
    Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
    estamos exultantes de alegria.

    Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
    como as torrentes do deserto.
    Os que semeiam em lágrimas
    recolhem com alegria.

    À ida, vão a chorar,
    levando as sementes;
    à volta, vêm a cantar,
    trazendo os molhos de espigas.

    LEITURA II – Filip 3,8-14

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

    Irmãos:
    Considero todas as coisas como prejuízo,
    comparando-as com o bem supremo,
    que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor.
    Por Ele renunciei a todas as coisas
    e considerei tudo como lixo,
    para ganhar a Cristo
    e n’Ele me encontrar,
    não com a minha justiça que vem da Lei,
    mas com a que se recebe pela fé em Cristo,
    a justiça que vem de Deus e se funda na fé.
    Assim poderei conhecer Cristo,
    o poder da sua ressurreição
    e a participação nos seus sofrimentos,
    configurando-me à sua morte,
    para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos.
    Não que eu tenha já chegado à meta,
    ou já tenha atingido a perfeição.
    Mas continuo a correr, para ver se a alcanço,
    uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus.
    Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido.
    Só penso numa coisa:
    esquecendo o que fica para trás,
    lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta,
    em vista do prémio a que Deus, lá do alto,
    me chama em Cristo Jesus.

    AMBIENTE

    A Carta aos Filipenses é uma carta “afectuosa e terna” que Paulo escreve da prisão aos seus amigos de Filipos. Os cristãos desta cidade, preocupados com a situação de Paulo, enviaram-lhe dinheiro e um membro da comunidade (Epafrodito), que cuidou de Paulo e o acompanhou na solidão do cárcere. Com o coração cheio de afecto, Paulo agradece aos seus queridos filhos de Filipos; e, por outro lado, avisa-os para que não se deixem levar pelos “cães”, pelos “maus obreiros” (Flp 3,2) que, em Filipos como em todo o lado, semeiam a dúvida e a confusão. Quem são estes? São ainda esses “judaizantes”, “os da mutilação” (Flp 3,2), que proclamavam a obrigatoriedade da circuncisão e da obediência à Lei de Moisés.
    O texto que nos é proposto insere-se nesse discurso de polémica contra os adversários “judaizantes” (cf. Flp 3). Paulo pede aos Filipenses que não se deixem enganar por esses falsos pregadores, super-entusiastas, que se apresentam com títulos de glória e que parecem esquecer que só Cristo é importante.

    MENSAGEM

    Ao exemplo e à pregação desses “judaizantes”, que alardeiam os mais diversos títulos de glória, Paulo contrapõe o seu próprio exemplo. Ele tem mais razões do que os outros para apresentar títulos (ele que foi circuncidado com oito dias; que é hebreu genuíno, filho de hebreus, da tribo de Benjamim; que foi fariseu e que viveu irrepreensivelmente como filho da Lei – cf. Flp 3,5-6); mas a única coisa que lhe interessa – porque é a única coisa que tem eficácia salvadora – é conhecer Jesus Cristo. É claro que os termos conhecer e conhecimento devem ser aqui entendidos no mais genuíno sentido da tradição bíblica, quer dizer, no sentido de “entrar em comunhão de vida e de destino” com uma pessoa. Aquilo que ele procura agora e que é o fundamental é identificar-se com Cristo, a fim de com Ele ressuscitar para a vida nova.
    Os Filipenses – e, claro, os crentes de todas as épocas – farão bem em imitar Paulo e esquecer tudo o resto (a circuncisão, os ritos da Lei, os títulos de glória são apenas “prejuízo” ou “lixo” – vers. 8). Só a identificação com Cristo, a comunhão de vida e de destino com Cristo é importante; só uma vida vivida na entrega, no dom, no amor que se faz serviço aos outros, ao jeito de Cristo, conduz à ressurreição, à vida nova.
    Mais um dado importante: Paulo está consciente que partilhar a vida e o destino de Cristo implica um esforço diário, nunca terminado; é, até, possível o fracasso, pois o nosso orgulho e egoísmo estão sempre à espreita e o caminho da entrega e do dom da vida é exigente. Mas é o único caminho possível, o único que faz sentido, para quem descobre a novidade de Cristo se apaixona por ela. Quem quer chegar à vida nova, à ressurreição, tem de seguir esse caminho.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar, para reflexão, as seguintes linhas:

    • Neste tempo favorável à conversão, é importante revermos aquilo que dá sentido à nossa vida. É possível que detectemos no centro dos nossos interesses algum desse “lixo” de que Paulo fala (interesses materiais e egoístas, preocupações com honras ou com títulos humanos, apostas incondicionais em pessoas ou ideologias…); mas Paulo convida a dar prioridade ao que é importante – a uma vida de comunhão com Cristo, que nos leve a uma identificação com o seu amor, o seu serviço, a sua entrega. Qual é o “lixo” que me impede de nascer, com Cristo, para a vida nova?

    • É preciso, igualmente, ter consciência de que este caminho de conversão a Cristo é um caminho que está, permanentemente, a fazer-se. O cristão está consciente de que, enquanto caminha neste mundo, “ainda não chegou à meta”. A identificação com Cristo deve ser, pois, um desafio constante, que exige um empenho diário, até chegarmos à meta do Homem Novo.

    ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Joel 2,12-13

    Refrão 1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
    Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
    Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
    Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
    Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
    Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
    Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

    Convertei-vos a Mim de todo o coração, diz o Senhor;
    porque sou benigno e misericordioso.

    EVANGELHO – Jo 8,1-11

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo,
    Jesus foi para o Monte das Oliveiras.
    Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo,
    e todo o povo se aproximou d’Ele.
    Então sentou-Se e começou a ensinar.
    Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus
    uma mulher surpreendida em adultério,
    colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus:
    «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
    Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres.
    Tu que dizes?».
    Falavam assim para Lhe armarem uma cilada
    e terem pretexto para O acusar.
    Mas Jesus inclinou-Se
    e começou a escrever com o dedo no chão.
    Como persistiam em interrogá-l’O,
    ergueu-Se e disse-lhes:
    «Quem de entre vós estiver sem pecado
    atire a primeira pedra».
    Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão.
    Eles, porém, quando ouviram tais palavras,
    foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos,
    e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio.
    Jesus ergueu-Se e disse-lhe:
    «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?».
    Ela respondeu:
    «Ninguém, Senhor».
    Disse então Jesus:
    «Nem Eu te condeno.
    Vai e não tornes a pecar».

    AMBIENTE

    Esta pequena unidade literária não pertencia, inicialmente, ao Evangelho de João: ela rompe o contexto de Jo 7-8, não possui as características do estilo joânico e o seu conteúdo não se encaixa neste Evangelho (que não se interessa por problemas deste género). Além disso, é omitida pela maior parte dos manuscritos antigos; e as referências dos Padres da Igreja a este episódio são muito escassas. Outros manuscritos colocam-no dentro do Evangelho, mas em sítios diversos, por exemplo, no final do mesmo – como fazem algumas versões modernas da Bíblia. Numa série de manuscritos, encontrámo-la no Evangelho de Lucas (após Lc 21,38), que seria um dos lugares mais adequados, dado o interesse de Lucas em destacar a misericórdia de Jesus. Trata-se de uma tradição independente que, no entanto, foi considerada pela Igreja como inspirada por Deus: não há dúvida que deve ser vista como “Palavra de Deus”.
    Seja como for, o cenário de fundo coloca-nos frente a uma mulher apanhada a cometer adultério. De acordo com Lv 20,10 e Dt 22,22-24, a mulher devia ser morta. A Lei deve ser aplicada? É este problema que é apresentado a Jesus.

    MENSAGEM

    Temos, portanto, diante de Jesus uma mulher que, de acordo com a Lei, tinha cometido uma falta que merecia a morte. Para os escribas e fariseus, trata-se de uma oportunidade de ouro para testar a ortodoxia de Jesus e a sua fidelidade às exigências da Lei; para Jesus, trata-se de revelar a atitude de Deus frente ao pecado e ao pecador.
    Apresentada a questão, Jesus não procura branquear o pecado ou desculpabilizar o comportamento da mulher. Ele sabe que o pecado não é um caminho aceitável, pois gera infelicidade e rouba a paz… No entanto, também não aceita pactuar com uma Lei que, em nome de Deus, gera morte. Porque os esquemas de Deus são diferentes dos esquemas da Lei, Jesus fica em silêncio durante uns momentos e escreve no chão, como se pretendesse dar tempo aos participantes da cena para perceber aquilo que estava em causa. Finalmente, convida os acusadores a tomar consciência de que o pecado é uma consequência dos nossos limites e fragilidades e que Deus entende isso: “quem de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. E continua a escrever no chão, à espera que os acusadores da mulher interiorizem a lógica de Deus – a lógica da tolerância e da compreensão. Quando os escribas e fariseus se retiram, Jesus nem sequer pergunta à mulher se ela está ou não arrependida: convida-a, apenas, a seguir um caminho novo, de liberdade e de paz (“vai e não tornes a pecar”).
    A lógica de Deus não é uma lógica de morte, mas uma lógica de vida; a proposta que Deus faz aos homens através de Jesus não passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à transformação, à libertação de tudo o que oprime e escraviza; e destruir ou matar em nome de Deus ou em nome de uma qualquer moral é uma ofensa inqualificável a esse Deus da vida e do amor, que apenas quer a realização plena do homem.
    O episódio põe em relevo, por outro lado, a intransigência e a hipocrisia do homem, sempre disposto a julgar e a condenar… os outros. Jesus denuncia, aqui, a lógica daqueles que se sentem perfeitos e auto-suficientes, sem reconhecerem que estamos todos a caminho e que, enquanto caminhamos, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida plena do Homem Novo. A única atitude que faz sentido, neste esquema, é assumir para com os nossos irmãos a tolerância e a misericórdia que Deus tem para com todos os homens.
    Na atitude de Jesus, torna-se particularmente evidente a misericórdia de Deus para com todos aqueles que a teologia oficial considerava marginais. Os pecadores públicos, os proscritos, os transgressores notórios da Lei e da moral encontram em Jesus um sinal do Deus que os ama e que lhes diz: “Eu não te condeno”. Sem excluir ninguém, Jesus promoveu os desclassificados, deu-lhes dignidade, tornou-os pessoas, libertou-os, apontou-lhes o caminho da vida nova, da vida plena. A dinâmica de Deus é uma dinâmica de misericórdia, pois só o amor transforma e permite a superação dos limites humanos. É essa a realidade do Reino de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes indicações:

    • O nosso Deus – di-lo de forma clara o Evangelho de hoje – funciona na lógica da misericórdia e não na lógica da Lei; Ele não quer a morte daquele que errou, mas a libertação plena do homem. Nesta lógica, só a misericórdia e o amor se encaixam: só eles são capazes de mostrar o sem sentido da escravidão e de soprar a esperança, a ânsia de superação, o desejo de uma vida nova. A força de Deus (essa força que nos projecta para a vida em plenitude) não está no castigo, mas está no amor.

    • No nosso mundo, o fundamentalismo e a intransigência falam frequentemente mais alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome de Deus; desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da moral e dos bons costumes… Esta lógica (bem longe da misericórdia e do amor de Deus) leva-nos a algum lado? A intolerância alguma vez gerou alguma coisa, além de violência, de morte, de lágrimas, de sofrimento?

    • Quantas vezes nas nossas comunidades cristãs (ou religiosas) a absolutização da lei causa marginalização e sofrimento… Quantas vezes se atiram pedras aos outros, esquecendo os nossos próprios telhados de vidro… Quantas vezes marcamos os outros com o estigma da culpa e queimamos a pessoa em “julgamentos sumários” sem direito a defesa… Esta é a lógica de Deus? O que nos interessa: a libertação do nosso irmão, ou o seu afundamento?

    • Neste caminho quaresmal, há duas coisas a considerar: Deus desafia-nos à superação de todas as realidades que nos escravizam e sublinha esse desafio com o seu amor e a sua misericórdia; e convida-nos a despir as roupagens da hipocrisia e da intolerância, para vestir as do amor.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5º DOMINGO DA QUARESMA
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 5º Domingo da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. O APELO A PORMO-NOS DE PÉ.
    Depois do apelo à paciência (3º domingo) e o apelo à misericórdia (4º domingo), eis, neste 5º domingo da Quaresma, o apelo a pormo-nos de
    pé e a viver de maneira diferente: “vai e não tornes a pecar”. O momento penitencial pode realçar este dinamismo de conversão.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Pai do teu Povo, nós Te damos graças pela tua obra criadora, renovada sem cessar, e pelos germes do mundo novo que o mistério da Páscoa nos revela.
    Nós Te pedimos pelos candidatos ao baptismo, adultos, jovens e crianças, e pelas comunidades, os padrinhos/madrinhas e os pais que os preparam.

    No final da segunda leitura:
    Cristo Jesus, Tu que Te deste a conhecer ao apóstolo Paulo e o agarraste a ponto de ele Te preferir a todas as riquezas da terra e Te reconheceu como a única vantagem válida, nós Te bendizemos.
    Nós Te pedimos pelos doentes e pelas vítimas de todas as espécies de sofrimentos. Que a revelação da tua Paixão os mantenha na esperança da ressurreição e da vida do mundo que há-de vir.

    No final do Evangelho:
    Pai, bendito sejas pela mensagem de perdão, a palavra de reconciliação e o apelo à esperança que nos fizeste ouvir enviando-nos o teu Filho.
    Nós Te pedimos por todas as nossas comunidades que celebram a reconciliação nestes dias. Que o teu perdão nos renove e nos reconcilie entre nós.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Jesus é posto face à Lei e, ao mesmo tempo, face a uma mulher. A Lei é clara: esta mulher, apanhada em flagrante delito de adultério, deve ser delapidada. Jesus não rejeita a Lei, pede somente aos escribas e fariseus para a colocar em prática, com a condição de começarem a ter um olhar sobre a própria vida antes de olhar a mulher e de a condenar. Os detractores acabam por se condenar a si mesmos e retiram-se, reconhecendo-se pecadores, a começar pelos mais velhos… Quanto a Jesus, que não tem pecado, podia lançar a pedra. Não o faz. Ele veio para salvar, não para condenar. Pedindo à mulher para não voltar a pecar, dá-lhe nova oportunidade. Para Jesus, ela não é apenas uma mulher adúltera, ela é capaz de outra coisa. Oferecendo-lhe a sua graça, agraciou também os escribas e os fariseus, colocando-os num caminho de conversão, eles que tinham aberto os olhos não somente sobre a mulher, mas sobre si próprios.

    5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Sugere-se a Oração Eucarística I das Missas da Reconciliação.

    6. PALAVRA PARA O CAMINHO…
    A mulher adúltera… “Esta mulher foi apanhada em flagrante delito de adultério…” “Aquela martirizou o seu filho…” “Aquela deixou-o morrer de fome…” “Aquela outra…” …e as nossas mãos já estão cheias de pedras para a lapidar. Esta semana, a convite de Jesus, comecemos por olhar onde se situa o nosso pecado… De seguida, em relação a todas estas mulheres de hoje condenadas sem apelo, abramos o nosso coração à compreensão… à misericórdia… e talvez ao apoio na sua angústia.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • Domingo de Ramos – Ano C

    Domingo de Ramos – Ano C


    10 de Abril, 2022

    ANO C
    DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR

    Tema do Domingo de Ramos

    A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
    A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projectos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
    A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
    O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz revela-se o amor de Deus, esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.

    LEITURA I – Is 50,4-7

    Leitura do Livro de Isaías
    O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo,
    para que eu saiba dizer uma palavra de alento
    aos que andam abatidos.
    Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos,
    para eu escutar, como escutam os discípulos.
    O Senhor Deus abriu-me os ouvidos
    e eu não resisti nem recuei um passo.
    Apresentei as costas àqueles que me batiam
    e a face aos que me arrancavam a barba;
    não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.
    Mas o senhor Deus veio em meu auxílio,
    e por isso não fiquei envergonhado;
    tornei o meu rosto duro como pedra,
    e sei que não ficarei desiludido.

    AMBIENTE
    No livro do Deutero-Isaías (Is 40-55), encontramos quatro poemas que se destacam do resto do texto (cf. Is 42,1-9;49,1-13;50,4-11;52,13-53,12). Apresentam-nos uma figura enigmática de um “servo de Jahwéh”, que recebeu de Deus uma missão. Essa missão tem a ver com a Palavra de Deus e tem carácter universal; concretiza-se no sofrimento, na dor e no abandono incondicional à Palavra e aos projectos de Deus. Apesar de a missão terminar num aparente insucesso, a dor do profeta não foi em vão: ela tem um valor expiatório e redentor; do seu sofrimento resulta o perdão para o pecado do povo. Deus aprecia o sacrifício do profeta e recompensá-lo-á, elevando-o à vista de todos, fazendo-o triunfar dos seus detractores e adversários.
    Quem é este profeta? É Jeremias, o paradigma do profeta que sofre por causa da Palavra? É o próprio Deutero-Isaías, chamado a dar testemunho da Palavra no ambiente hostil do exílio? É um profeta desconhecido? É uma figura colectiva que representa o Povo exilado, humilhado, esmagado, mas que continua a ser um testemunho de Deus no meio do sofrimento em que vive? É uma figura representativa, que une a recordação de personagens históricas (patriarcas, Moisés, David, profetas) com figuras míticas, de forma a representar o Povo de Deus na sua totalidade? Não sabemos; no entanto, a figura apresentada vai receber uma outra iluminação à luz de Jesus Cristo, da sua vida, do seu destino.
    O texto que nos é proposto é parte do terceiro cântico do “servo de Jahwéh”.

    MENSAGEM
    O texto dá a palavra a um personagem anónimo, que fala do seu chamamento por Deus para a missão. Ele não se intitula “profeta”; porém, narra a sua vocação, com os elementos típicos dos relatos proféticos de vocação.
    Em primeiro lugar, a missão que este “profeta” recebe de Deus tem claramente a ver com o anúncio da Palavra. O profeta é o homem da Palavra, através de quem Deus fala; a proposta de redenção que Deus faz a todos aqueles que necessitam de salvação/libertação ecoa na palavra profética. O profeta é inteiramente modelado por Deus e não opõe resistência nem ao chamamento, nem à Palavra que Deus lhe confia; mas tem de estar, continuamente, numa atitude de escuta de Deus, para que possa depois apresentar – com fidelidade – essa Palavra de Deus para os homens.
    Em segundo lugar, a missão profética realiza-se no sofrimento e na dor. É um tema sobejamente conhecido da literatura profética: o anúncio das propostas de Deus provoca resistências que, para o profeta, se consubstanciam quase sempre em dor e perseguição. No entanto, o profeta não se demite: a paixão pela Palavra sobrepõe-se ao sofrimento.
    Em terceiro lugar, vem a expressão de confiança no Senhor, que não abandona aqueles a quem chama. A certeza de que não está só, mas que tem a força de Deus, torna o profeta mais forte do que a dor e o sofrimento. Por isso, o profeta “não será confundido”.

    ACTUALIZAÇÃO
    A reflexão pode fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:
    - Não sabemos, efectivamente, quem é este “servo de Jahwéh”; no entanto, os primeiros cristãos vão utilizar este texto como grelha para interpretar o mistério de Jesus: Ele é a Palavra de Deus feita carne, que oferece a sua vida para trazer a libertação/salvação aos homens… A vida de Jesus realiza plenamente esse destino de dom e de entrega da vida em favor de todos; e a sua glorificação mostra que uma vida vivida deste jeito não termina no fracasso, mas na ressurreição que gera vida nova.
    - Jesus, o “servo” sofredor que faz da sua vida um dom por amor, mostra aos seus seguidores o caminho: a vida, quando é posta ao serviço da libertação dos pobres e dos oprimidos, não é perdida mesmo que pareça, em termos humanos, fracassada e sem sentido. Temos a coragem de fazer da nossa vida uma entrega radical ao projecto de Deus e à libertação dos nossos irmãos? O que é que ainda entrava a nossa aceitação de uma opção deste tipo? Temos consciência de que, ao escolher este caminho, estamos a gerar vida nova para nós e para os nossos irmãos?
    - Temos consciência de que a nossa missão profética passa por sermos Palavra viva de Deus? Nas nossas palavras, nos nossos gestos, no nosso testemunho, a proposta libertadora de Deus alcança o nosso mundo?

    SALMO RESPONSORIAL Sal. 21 (22), 8-9.17-18a.19-20.23-24 (R. 2a)

    Refrão: Meu Deus, meu Deus,
    porque me abandonastes?

    Todos os que me vêem escarnecem de mim,
    estendem os lábios e meneiam a cabeça:
    «Confiou no Senhor, Ele que o livre,
    Ele que o salve, se é seu amigo».

    Matilhas de cães me rodearam,
    cercou-me um bando de malfeitores.
    Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,
    posso contar todos os meus ossos.

    Repartiram entre si as minhas vestes
    e deitaram sortes sobre a minha túnica.
    Mas Vós, Senhor, não Vos afasteis de mim,
    sois a minha força, apressai-Vos a socorrer-me.

    Hei-de falar do vosso nome aos meus irmãos,
    hei-de louvar-Vos no meio da assembleia.
    Vós, que temeis o Senhor, louvai-O,
    glorificai-O, vós todos os filhos de Jacob,
    reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel.

    LEITURA II – Filip 2,6-11

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

    Cristo Jesus, que era de condição divina,
    não Se valeu da sua igualdade com Deus,
    mas aniquilou-Se a Si próprio.
    Assumindo a condição de servo,
    tornou-Se semelhante aos homens.
    Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais,
    obedecendo até à morte e morte de cruz.
    Por isso Deus O exaltou
    e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes,
    para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem
    no céu, na terra e nos abismos,
    e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor,
    para glória de Deus Pai.

    AMBIENTE
    A cidade de Filipos era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e dependia directamente do imperador; gozava, por isso, dos mesmos privilégios das cidades de Itália. A comunidade cristã, fundada por Paulo, era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da colecta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2 Cor 8,1-5), por quem Paulo nutria um afecto especial. Apesar destes sinais positivos, não era, no entanto, uma comunidade perfeita… O desprendimento, a humildade e a simplicidade não eram valores demasiado apreciados entre os altivos patrícios que compunham a comunidade.
    É neste enquadramento que podemos situar o texto que esta leitura nos apresenta. Paulo convida os Filipenses a encarnar os valores que marcaram a trajectória existencial de Cristo; para isso, utiliza um hino pré-paulino, recitado nas celebrações litúrgicas cristãs: nesse hino, ele expõe aos cristãos de Filipos o exemplo de Cristo.

    MENSAGEM
    Cristo Jesus – nomeado no princípio, no meio e no fim – constitui o motivo do hino. Dado que os Filipenses são cristãos, quer dizer, dado que Cristo é o protótipo a cuja imagem estão configurados, têm a iniludível obrigação de comportar-se como Cristo. Como é o exemplo de Cristo?
    O hino começa por aludir subtilmente ao contraste entre Adão (o homem que reivindicou ser como Deus e lhe desobedeceu – cf. Gn 3,5.22) e Cristo (o Homem Novo que, ao orgulho e revolta de Adão responde com a humildade e a obediência ao Pai). A atitude de Adão trouxe fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe exaltação e vida.
    Em traços precisos, o hino define o “despojamento” (“kenosis”) de Cristo: Ele não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas aceitou fazer-Se homem, assumindo com humildade a condição humana, para servir, para dar a vida, para revelar totalmente aos homens o ser e o amor do Pai. Não deixou de ser Deus; mas aceitou descer até aos homens, fazer-Se servidor dos homens, para garantir vida nova para os homens. Esse “abaixamento” assumiu mesmo foros de escândalo: Ele aceitou uma morte infamante – a morte de cruz – para nos ensinar a suprema lição do serviço, do amor radical, da entrega total da vida.
    No entanto, essa entrega completa ao plano do Pai não foi uma perda nem um fracasso: a obediência e entrega de Cristo aos projectos do Pai resultaram em ressurreição e glória. Em consequência da sua obediência, do seu amor, da sua entrega, Deus fez d’Ele o “Kyrios” (“Senhor” – nome que, no Antigo Testamento, substituía o nome impronunciável de Deus); e a humanidade inteira (“os céus, a terra e os infernos”) reconhece Jesus como “o senhor” que reina sobre toda a terra e que preside à história.
    É óbvio o apelo à humildade, ao desprendimento, ao dom da vida que Paulo faz aos Filipenses e a todos os crentes: o cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da sua vida um dom a todos; esse caminho não levará ao aniquilamento, mas à glorificação, à vida plena.

    ACTUALIZAÇÃO
    Para reflexão, podem considerar-se as seguintes indicações:
    - Os valores que marcaram a existência de Cristo continuam a não ser demasiado apreciados em muitos dos nossos ambientes contemporâneos. De acordo com os critérios que presidem ao nosso mundo, os grandes “ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade, com auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não olhar a meios para passar à frente dos outros. Como pode um cristão (obrigado a viver inserido neste mundo e a ser competitivo) conviver com estes valores?
    - Paulo tem consciência de que está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil; mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é pedido, nestes últimos dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do serviço, do amor: será possível que, também aqui, sejamos as testemunhas da lógica de Deus?

    ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Filip 2,8-9

    Refrão 1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
    Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
    Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
    Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
    Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
    Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
    Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

    Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
    Por isso Deus O exaltou
    e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.

    EVANGELHO – Lc 22,14-23,56 (forma longa) ou Lc 23,1-49 (forma breve)
    N Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
    N Quando chegou a hora,
    Jesus sentou-Se à mesa com os seus Apóstolos
    e disse-lhes:
    J «Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa,
    antes de padecer;
    pois digo-vos que não tornarei a comê-la,
    até que se realize plenamente no reino de Deus».
    N Então, tomando um cálice, deu graças e disse:
    J «Tomai e reparti entre vós,
    pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira,
    até que venha o reino de Deus».
    N Depois tomou o pão e, dando graças,
    partiu-o e deu-lho, dizendo:
    J «Isto é o meu corpo entregue por vós.
    Fazei isto em memória de Mim».
    N No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo:
    J «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue,
    derramado por vós.
    Entretanto, está comigo à mesa
    a mão daquele que Me vai entregar.
    O Filho do homem vai partir, como está determinado.
    Mas ai daquele por quem Ele vai ser entregue!»
    N Começaram então a perguntar uns aos outros
    qual deles iria fazer semelhante coisa.
    Levantou-se também entre eles uma questão:
    qual deles se devia considerar o maior?
    Disse-lhes Jesus:
    J «Os reis da nações exercem domínio sobre elas
    e os que têm sobre elas autoridade são chamados malfeitores.
    Vós não deveis proceder desse modo.
    O maior entre vós seja como o menor
    e aquele que manda seja como quem serve.
    Pois quem é o maior: o que está à mesa ou o que serve?
    Não é o que está à mesa?
    Ora Eu estou no meio de vós como aquele que serve.
    Vós estivestes sempre comigo nas minhas provações.
    E Eu preparo para vós um reino,
    como meu Pai o preparou para Mim:
    comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino,
    e sentar-vos-eis em tronos,
    a julgar as doze tribos de Israel.
    Simão, Simão, Satanás vos reclamou
    para vos agitar na joeira como trigo.
    Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça.
    E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos».
    N Pedro respondeu-Lhe:
    R «Senhor, eu estou pronto a ir contigo,
    até para a prisão e para a morte».
    N Disse-lhe Jesus:
    J «Eu te digo, Pedro: não cantará hoje o galo,
    sem que tu, por três vezes, negues conhecer-Me».
    N Depois acrescentou:
    J «Quando vos enviei sem bolsa nem alforge nem sandálias,
    faltou-vos alguma coisa?».
    N Eles responderam que não lhes faltara nada.
    Disse-lhes Jesus:
    J «Mas agora, quem tiver uma bolsa pegue nela,
    bem como no alforge;
    e quem não tiver espada venda a capa e compre uma.
    Porque Eu vos digo
    que se deve cumprir em Mim o que está escrito:
    ‘Foi contado entre os malfeitores’.
    Na verdade, o que Me diz respeito está a chegar ao fim».
    N Eles disseram:
    R «Senhor, estão aqui duas espadas».
    N Mas Jesus respondeu:
    J «Basta».
    N Então saiu
    e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras
    e os discípulos acompanharam-n’O.
    Quando chegou ao local, disse-lhes:
    J «Orai, para não entrardes em tentação».
    N Depois afastou-Se deles cerca de um tiro de pedra
    e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo:
    J «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice.
    Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua».
    N Então apareceu-Lhe um Anjo, vindo do Céu, para O confortar.
    Entrando em angústia, orava mais instantemente
    e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue,
    que caíam na terra.
    Depois de ter orado,
    levantou-Se e foi ter com os discípulos,
    que encontrou a dormir, por causa da tristeza.
    Disse-lhes Jesus:
    J «Porque estais a dormir?
    Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação».
    N Ainda Ele estava a falar,
    quando apareceu uma multidão de gente.
    O chamado Judas, um dos Doze, vinha à sua frente
    e aproximou-se de Jesus, para O beijar.
    Disse-lhe Jesus:
    J «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?»
    N Ao verem o que ia suceder,
    os que estavam com Jesus perguntaram-Lhe:
    R «Senhor, vamos feri-los à espada?»
    N E um deles feriu o servo do sumo sacerdote,
    cortando-lhe a orelha direita.
    Mas Jesus interveio, dizendo:
    J «Basta! Deixai-os».
    N E, tocando na orelha do homem, curou-o.
    Disse então Jesus aos que tinham vindo ao seu encontro,
    príncipes dos sacerdotes, oficiais do templo e anciãos:
    J «Vós saístes com espadas e varapaus,
    como se viésseis ao encontro dum salteador.
    Eu estava todos os dias convosco no templo
    e não Me deitastes as mãos.
    Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas.
    N Apoderaram-se então de Jesus,
    levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do sumo sacerdote.
    Pedro seguia-os de longe.
    Acenderam uma fogueira no meio do pátio,
    sentaram-se em volta dela
    e Pedro foi sentar-se no meio deles.
    Ao vê-lo sentado ao lume,
    uma criada, fitando os olhos nele, disse:
    R «Este homem também andava com Jesus».
    N Mas Pedro negou:
    R «Não O conheço, mulher».
    N Pouco depois, disse outro, ao vê-lo:
    R «Tu também és um deles».
    N Mas Pedro disse:
    R «Homem, não sou».
    N Passada mais ou menos uma hora,
    afirmava outro com insistência:
    R «Esse homem, com certeza, também andava com Jesus,
    pois até é galileu».
    N Pedro respondeu:
    R «Homem, não sei o que dizes».
    N Nesse instante – ainda ele falava – um galo cantou.
    O Senhor voltou-Se e fitou os olhos em Pedro.
    Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor,
    quando lhe disse:
    ‘Antes do galo cantar, Me negarás três vezes’.
    E, saindo para fora, chorou amargamente.
    Entretanto, os homens que guardavam Jesus
    troçavam d’Ele e maltratavam-n’O.
    Cobrindo-Lhe o rosto, perguntavam-Lhe:
    R «Adivinha, profeta: Quem te bateu?»
    N E dirigiam-Lhe muitos outros insultos.
    Ao romper do dia,
    reuniu-se o conselho dos anciãos do povo,
    os príncipes dos sacerdotes e os escribas.
    Levaram-n’O ao seu tribunal e disseram-Lhe:
    R «Diz-nos se Tu és o Messias».
    N Jesus respondeu-lhes:
    J «Se Eu vos disser, não acreditareis
    e, se fizer alguma pergunta, não respondereis.
    Mas o Filho do homem sentar-Se-á doravante
    à direita do poder de Deus».
    N Disseram todos:
    R «Tu és então o Filho de Deus?»
    N Jesus respondeu-lhes:
    J «Vós mesmos dizeis que Eu sou».
    N Então exclamaram:
    R «Que necessidade temos ainda de testemunhas?
    Nós próprios o ouvimos da sua boca».
    N Levantaram-se todos e levaram Jesus a Pilatos.
    N Começaram a acusá-l’O, dizendo:
    R «Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo,
    a impedir que se pagasse o tributo a César
    e dizendo ser o Messias-Rei».
    N Pilatos perguntou-Lhe:
    R «Tu és o Rei dos judeus?»
    N Jesus respondeu-lhe:
    J «Tu o dizes».
    N Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão:
    R «Não encontro nada de culpável neste homem».
    N Mas eles insistiam:
    R «Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia,
    desde a Galileia, onde começou, até aqui».
    N Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu;
    e, ao saber que era da jurisdição de Herodes,
    enviou-O a Herodes,
    que também estava nesses dias em Jerusalém.
    Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito.
    Havia bastante tempo que O queria ver,
    pelo que ouvia dizer d’Ele,
    e esperava que fizesse algum milagre na sua presença.
    Fez-Lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu.
    Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam
    acusavam-n’O com insistência.
    Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo
    e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico
    e remeteu-O a Pilatos.
    Herodes e Pilatos, que eram inimigos,
    ficaram amigos nesse dia.
    Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes,
    os chefes e o povo, e disse-lhes:
    R «Trouxestes este homem à minha presença
    como agitador do povo.
    Interroguei-O diante de vós
    e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais.
    Herodes também não, uma vez que no-l’O mandou de novo.
    Como vedes, não praticou nada que mereça a morte.
    Vou, portanto, soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
    N Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso
    por ocasião da festa.
    E todos se puseram a gritar:
    R «Mata Esse e solta-nos Barrabás».
    N Barrabás tinha sido metido na cadeia
    por causa de uma insurreição desencadeada na cidade
    e por assassínio.
    De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra,
    querendo libertar Jesus.
    Mas eles gritavam:
    R «Crucifica-O! Crucifica-O!»
    N Pilatos falou-lhes pela terceira vez:
    R Mas que mal fez este homem?
    Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte.
    Por isso vou soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
    N Mas eles continuavam a gritar,
    pedindo que fosse crucificado,
    e os seus clamores aumentavam de violência.
    Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam:
    soltou aquele que fora metido na cadeia
    por insurreição e assassínio,
    como eles reclamavam,
    e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.
    N Quando o conduziam,
    lançaram mão de um certo Simão de Cirene,
    que vinha do campo,
    e puseram-lhe a cruz às costas,
    para a levar atrás de Jesus.
    Seguia-O grande multidão de povo
    e mulheres que batiam no peito
    e se lamentavam, chorando por Ele.
    Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes:
    J «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim;
    chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos;
    pois dias virão em que se dirá:
    ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram
    e os peitos que não amamentaram’.
    Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’;
    e às colinas: ‘Cobri-nos’.
    Porque, se tratam assim a madeira verde,
    que acontecerá à seca?».
    N Levavam ainda dois malfeitores
    para serem executados com Jesus.
    Quando chegaram ao lugar chamado Calvário,
    crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores,
    um à direita e outro à esquerda.
    Jesus dizia:
    J «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem».
    N Depois deitaram sortes,
    para repartirem entre si as vestes de Jesus.
    O povo permanecia ali a observar.
    Por sua vez, os chefes zombavam e diziam:
    R «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo,
    se é o Messias de Deus, o Eleito».
    N Também os soldados troçavam d’Ele;
    aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam:
    R «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
    N Por cima d’Ele havia um letreiro:
    «Este é o rei dos judeus».
    Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
    insultava-O, dizendo:
    R «Não és Tu o Messias?
    Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
    N Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
    R «Não temes a Deus,
    tu que sofres o mesmo suplício?
    Quanto a nós, fez-se justiça,
    pois recebemos o castigo das nossas más acções.
    Mas Ele nada praticou de condenável».
    N E acrescentou:
    R «Jesus, lembra-Te de mim,
    quando vieres com a tua realeza».
    N Jesus respondeu-lhe:
    J «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
    N Era já quase meio-dia,
    quando as trevas cobriram toda a terra,
    até às três horas da tarde,
    porque o sol se tinha eclipsado.
    O véu do templo rasgou-se ao meio.
    E Jesus exclamou com voz forte:
    J «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito».
    N Dito isto, expirou.
    N Vendo o que sucedera,
    o centurião deu glória a Deus, dizendo:
    R «Realmente este homem era justo».
    N E toda a multidão que tinha assistido àquele espectáculo,
    ao ver o que se passava, regressava batendo no peito.
    Todos os conhecidos de Jesus,
    bem como as mulheres que O acompanhavam
    desde a Galileia,
    mantinham-se à distância, observando estas coisas.
    N Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia,
    que era pessoa recta e justa e esperava o reino de Deus.
    Era membro do Sinédrio, mas não tinha concordado
    com a decisão e o proceder dos outros.
    Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus.
    E depois de o ter descido da cruz,
    envolveu-o num lençol
    e depositou-o num sepulcro escavado na rocha,
    onde ninguém ainda tinha sido sepultado.
    Era o dia da Preparação
    e começavam a aparecer as luzes do sábado.
    Entretanto,
    as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia
    acompanharam José e observaram o sepulcro
    e a maneira como fora depositado o corpo de Jesus.
    No regresso, prepararam aromas e perfumes.
    E no sábado guardaram o descanso, conforme o preceito.

    AMBIENTE
    Com a chegada de Jesus a Jerusalém e os acontecimentos da semana santa, chegamos ao fim do “caminho” começado na Galileia. Tudo converge, no Evangelho de Lucas, para aqui, para Jerusalém: é aí que deve irromper a salvação de Deus. Em Jerusalém, Jesus vai realizar o último acto do programa enunciado em Nazaré: da sua entrega, do seu amor afirmado até à morte, vai nascer esse Reino de homens novos, livres, onde todos serão irmãos no amor; e, de Jerusalém, partirão as testemunhas de Jesus, a fim de que esse Reino se espalhe por toda a terra e seja acolhido no coração de todos os homens.

    MENSAGEM
    A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos. Para concretizar este projecto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham o coração mais disponível para acolher o Reino; e avisou os “ricos”, os poderosos, os instalados, de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.
    O projecto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostos a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e pregaram-n’O na cruz.
    A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam este mundo.
    Podemos também dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
    Na cruz de Jesus, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o pecado, isto é, contra todas as causas objectivas que geram medo, injustiça, sofrimento, exploração, morte. Assim, a cruz contém o dinamismo de um mundo novo – o dinamismo do Reino.
    Para além da reflexão geral sobre o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda notar alguns dados que são exclusivos da versão lucana da paixão:
    · No relato da instituição da Eucaristia, só Lucas põe Jesus a dizer: “fazei isto em memória de Mim” (cf. Lc 22,19). A expressão não quer só dizer que os discípulos devem celebrar o ritual da última ceia e repetir as palavras de Jesus sobre o pão e sobre o vinho; mas quer, sobretudo, dizer que os discípulos devem repetir a entrega de Jesus, a doação da vida por amor.
    · Só Lucas coloca no contexto da última ceia a discussão acerca de qual dos discípulos seria o “maior” e a resposta de Jesus (cf. Lc 22,24-27). Jesus avisa os seus que “o maior” é “aquele que serve”; e apresenta o seu próprio exemplo de uma vida feita serviço e dom. Estas palavras soam a “testamento” e convocam os discípulos para fazerem da sua vida um serviço aos irmãos, ao jeito de Jesus.
    · No jardim das Oliveiras, só Lucas faz referência ao aparecimento do anjo e ao “suor de sangue” (cf. Lc 22,42-44). Esta cena acentua a fragilidade humana de Jesus que, no entanto, não condiciona a sua submissão total ao projecto do Pai; e sublinha a presença de Deus, que não abandona nos momentos de prova aqueles que acolhem, na obediência, a sua vontade.
    · Também no relato da paixão aparece a ideia fundamental que perpassa pela obra de Lucas: Jesus é o Deus que veio ao nosso encontro, a fim de manifestar a todos os homens, em gestos concretos, a bondade e a misericórdia de Deus. Essa ideia está presente no gesto de curar o guarda ferido por Pedro no Jardim do Getsemani (cf. Lc 22,51); está também presente nas palavras de Jesus na cruz: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” – Lc 23,34 (é desconcertante o amor de um Filho de Deus que morre na cruz pedindo desculpa ao Pai para os seus assassinos); está, ainda, presente nas palavras que Jesus dirige ao criminoso que morre numa cruz, ao seu lado: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso” – Lc 23,43 (é desconcertante a bondade de um Deus que faz de um assassino o primeiro santo canonizado da sua Igreja).
    · Todos os sinópticos falam da requisição de Simão de Cirene para levar a cruz de Jesus (cf. Mt 27,32; Mc 15,21); no entanto, só Lucas refere que Simão transporta a cruz “atrás de Jesus” (cf. Lc 23,26). Este dado serve a Lucas para apresentar o modelo do discípulo: é aquele que toma a cruz de Jesus e O segue no seu caminho de entrega e de dom da vida (“se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-mM” – Lc 9,23; cf. 14,27).
    ACTUALIZAÇÃO
    Reflectir a partir das seguintes linhas:
    Celebrar a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir connosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.
    Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias. Significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de um dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DE RAMOS
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA meditada ao longo da semana.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo de Ramos, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. O EVANGELHO DA PAIXÃO… PROCLAMADO E ACOLHIDO.
    Neste Domingo de Ramos temos a leitura da Paixão, na sua forma longa ou na forma breve. O leccionário propõe uma leitura dialogada. Procurar que os vários leitores a preparem com afinco para que a Palavra seja bem proclamada (e bem acolhida!) e não apenas recitada (e mal percebida!). A proclamação por vários leitores deve ajudar à concentração na Palavra e à sua interiorização profunda e não à dispersão e a um acolhimento superficial. Se tal ajudar, pode-se prever um breve tempo de silêncio (ou um refrão apropriado) entre cada sequência da Paixão.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
    No final da primeira leitura:
    Pai, nós Te damos graças pelo testemunho de não-violência dado e ensinado pelos teus profetas e, sobretudo, pelo teu Filho Jesus.
    Nós Te pedimos: vem em nosso auxílio, desperta-nos em cada manhã para a escuta da tua Palavra, ensina-nos com o teu Espírito de paciência. Que nós saibamos reconfortar aqueles que não aguentam mais viver.
    No final da segunda leitura:
    Cristo Jesus, nós Te adoramos e bendizemos: Tu, que és de condição divina, despojaste-Te e fizeste-Te servidor. Pai, nós Te glorificamos, porque o teu Filho humilhado até ao extremo pelos homens, Tu O revelaste acima de tudo.
    Nós Te pedimos pela nossa humanidade que continua a sofrer e a fazer sofrer: levanta-a e cura-a com o teu Espírito de ressurreição.

    No final do Evangelho:
    Jesus, Filho do Deus vivo, nós Te bendizemos por esta revelação admirável que Tu fizeste ao bom ladrão, pela qual fortificas a nossa esperança: «hoje mesmo estarás comigo no paraíso».
    Em nome de todos os nossos irmãos e irmãs mergulhados na dor e na infelicidade, nós Te pedimos: «No teu Reino, lembra-te de nós, Senhor».

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    É difícil fazer calar uma multidão. Na descida do monte das Oliveiras, a multidão de Jerusalém aclama Jesus: “Bendito o que vem, o nosso rei, em nome do Senhor!” Mas uma multidão pode ser manipulada e acabar por dizer o contrário. Assim, alguns dias mais tarde, ela gritará: “Morte a este homem! Crucifica-o!” Jesus não quer calar a multidão que O aclama, porque, se eles se calam, as pedras falarão! Será um malfeitor, crucificado junto d’Ele, que O reconhecerá como rei: “Jesus, lembra-Te de mim, quando vieres com a tua realeza”. Será um centurião, um pagão do exército romano, a fazer um acto de fé: “Realmente este homem era justo!” As pedras não terão necessidade de gritar, porque estes dois homens recusaram calar-se: já o Espírito os animava e fazia-lhes dizer a verdade. Quanto a Jesus, é por ter dito a verdade que é levado à morte. De facto, a verdade desarranja… O trono que espera este rei é a cruz e a sua coroa será de espinhos: na fraqueza manifestar-se-á o poder de Deus, o poder do Amor!

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Dante definiu São Lucas como “o escriba da misericórdia de Deus”. De facto, mesmo no relato da Paixão, sem esquecer os sofrimentos de Jesus, em particular a sua angústia na agonia do monte das Oliveiras, Lucas continua a revelar até ao fim a misericórdia do Pai. Ele guardou memória de três palavras de Jesus. Primeira palavra de Jesus: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Jesus não se limita a perdoar, vai mais longe. Ele sabe que a fonte de todo o amor e de todo o perdão não está n’Ele, mas no Pai. Ele apresenta-Se diante do Pai como o intercessor a quem o Pai nada pode recusar. Ele apaga-Se, para que vejamos que é a vontade do Pai que se está a cumprir. É a oração de sempre de Jesus por nós, Ele que está sempre vivo para interceder em nosso favor. Segunda palavra de Jesus, que é a resposta ao “bom ladrão”: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”. A eficácia do perdão que o Pai dá por Jesus não suporta qualquer adiamento. Jesus apaga definitivamente a imagem de um Deus terrível e vingador, que nada deixa passar. Cremos num Deus Pai que perdoa “setenta vezes sete”. Terceira palavra de Jesus, que é um grito de uma infinita confiança no seu Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Jesus acolheu sempre, na liberdade da sua consciência humana, o amor que Lhe dava o seu Pai. Sempre esteve nas mãos do Pai. Mesmo na sua última palavra, Jesus manifesta a sua adesão a este amor infinito do seu Pai, à sua vontade de salvação, de misericórdia, para além de tudo o que possamos imaginar.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se rezar a Oração Eucarística II pela sua densidade e brevidade. No início, pode inserir-se uma referência ao Domingo de Ramos, como primeiro dia da Semana Santa em que celebramos já o dia da ressurreição…

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
    «Hossana! Crucifica-O!…» Gritos de alegria! Gritos de ódio!… A mesma multidão! E o nosso grito hoje? Somos discípulos de Jesus quando tudo vai bem… e prontos a negá-l’O quando nos sentimos comprometidos com Ele? Durante a Semana Santa, tomemos o tempo de parar com Paulo a fim de revivificar a nossa fé em “Cristo Jesus imagem de Deus… abaixando-Se até à morte de Cruz… elevado acima de tudo…”. Ousemos proclamá-lo pela nossa vida “Cristo e Senhor para a glória do Pai”! Vivamos a Semana Santa na oração e na contemplação de Jesus Cristo, a essência do nosso ser e da comunhão de irmãos em Igreja!

    https://youtu.be/iWbY_KWLGho

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    Proposta para
    Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra nas Comunidades Dehonianas
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • Segunda - Semana Santa

    Segunda - Semana Santa


    11 de Abril, 2022

    Segunda - Semana Santa

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 42, 1-7

    1 «Eis o meu servo, que Eu amparo, o meu eleito, que Eu preferi. Fiz repousar sobre ele o meu espírito, para que leve às nações a verdadeira justiça. 2 Ele não gritará, não levantará a V04 não clamará nas ruas. 3 Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira justiça. 4 Não desanimará, nem desfalecerá, até estabelecer na terra o direito, as leis que os povos das ilhas esperam dele. 5 Eis o que diz o Senhor Deus, que criou os céus e os estendeu, que consolidou a terra com a sua vegetação, que deu vida aos seus habitantes, e o alento aos que andam por ela. 6 Eu, o Senhor, chamei-te por causa da justiça, segurei-te pela mão; formei-te e designei-te como aliança de um povo e luz das nações; 7 para abrires os olhos aos cegos, para tirares do cárcere os prisioneiros, e da prisão, os que vivem nas trevas.

    A liturgia apresenta-nos, hoje, a figura do Servo de Javé, que nos ajuda a entrar no mistério pascal, que celebramos com particular intensidade. A eleição, a missão e o sofrimento desta misteriosa figura, são profecia do destino de Cristo. De facto, a sua missão é de capital importância, mas extremamente difícil. Por isso, o próprio Deus o apoia. Este Servo é consagrado com o espírito profético, para levar a todas as nações «a verdadeira justiça», isto é, o conhecimento dos juízos de Deus. A missão do Servo é descrita tendo como pano de fundo os costumes de Babilónia, onde o «arauto do grande rei» era encarregado de proclamar pelas ruas da cidade os decretos de condenação à morte. Se, ao terminar a volta, ninguém se erguesse para defender o condenado, o arauto quebrava a cana e apagava a lâmpada que levava, para indicar que a condenação se tornara irrevogável.

    Mas o Servo do único verdadeiro rei, que é Deus, não quebra a cana, nem apaga a lâmpada. Sendo portador do juízo de Deus, não vai para condenar, mas para salvar. Com a força da mansidão e com a firmeza da verdade, cumpre a sua missão, levando às mais remotas paragens a Lei que todos esperam (cf. v. 4).

    A figura do Servo realiza-se em Cristo, simultaneamente servo sofredor e libertador da humanidade, escolhido para realizar a salvação, iluminar os povos, e estabelecer a nova e eterna aliança (cf. v. 6), selada com o seu sangue.

    Evangelho: João 12, 1-11

    1 Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. 20fereceram-Ihe lá um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa. 3 Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume. 4 Nessa altura disse um dos discípulos, Judas Isceriotes. aquele que havia de o entregar: 5 «Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?» 6 Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava. 7 Então, Jesus disse: «Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura! 8 De facto, os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim não me tendes sempre.» 9Um grande número de judeus, ao saber que Ele estava ali, vieram, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. 10 Os sumos sacerdotes decidiram dar a morte também a Lázaro, 11 porque muitos judeus, por causa dele, os abandonavam e passavam a crer em Jesus.

    o cuidado de João em referir a cronologia dos acontecimentos com preosao permite-nos reviver pontualmente a graça dos últimos eventos que prepararam a páscoa de Jesus. O jantar de Jesus, em Betânia, é prelúdio da Última Ceia. A refeição, tomada em grupo, era um gesto sagrado porque indicava comunhão de sentimentos e de vida, e era ensejo para dar graças a Deus por todos os seus dons, a começar pela vida. No episódio que o evangelho de hoje refere, esse aspecto era realçado pela presença de Lázaro, «ressuscitado dos mortos- (v. 9). Mas, na cena descrita por João, tem particular realce Maria, com o seu gesto de amor adorante, sem cálculos nem medida. Essa mulher derrama sobre os pés de Jesus um perfume que podia custar o salário recebido por um trabalhador manual durante dez meses. E, anota João, «a casa encheu-se com a fragrância do perfume. (v. 3). Maria é imagem da Igreja-Esposa, unida ao sacrifício de Cristo-Esposo, que contrasta com a esquálida figura de Judas. O amor dilatou o coração de Maria, irmã de Lázaro, enquanto a mesquinhez fechou irremediavelmente o de Judas Iscariotes.

    Meditatio

    Ao meditar sobre o texto evangélico que a liturgia hoje nos oferece, o Pe. Dehon começa por nos convidar a contemplar Maria Madalena que «traz aos pés de Jesus o perfume simbólico do seu amor e da sua reparação». É belo deter-nos nesta cena, tão cheia de afecto e de amizade, numa página carregada de presságios e interrogações. O nosso seguimento de Jesus pode desenrolar-se como caminho da morte à vida, como aconteceu a Lázaro, ou como solicitude atenta e cuidadosa no serviço ao Mestre e aos seus, como aconteceu com Marta; mas pode também assemelhar-se a um caminho de amor adorante, como aconteceu com Maria, ou a um caminho de resistências e de calculismos, que acabam por sufocar quem os segue, como aconteceu com Judas.

    É importante estar com Jesus, escutar a sua Palavra, partilhar a sua vida. Mas, mais importante ainda, é reconhecer e acolher o amor que Ele tem por nós, o amor que Ele é. Judas não o soube acolher. Por isso, condenou o «desperdício» de Maria, e fez cálculos, a pretexto de ajudar os pobres. Maria, pelo contrário, fez desse amor a sua vida. O Pobre, por excelência, é Jesus, que nos dá tudo quanto possui, tudo quanto é. Por isso, só Ele deve ser o centro da nossa vida, sem qualquer espécie de cálculos. O Mestre dá-nos tudo! Há que dar-lhe tudo, sem cálculos nem reservas. A nossa entrega total a Cristo acaba por beneficiar toda a Igreja: «a casa encheu-se com a fragrância do perfume>>{v. 3) .

    Maria estava longe de se aperceber da profundidade do seu gesto. Mas Jesus encarregou-Se de lha revelar: era já uma homenagem pelo sacrifício que estava para realizar: «Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura!» (v. 7). Jesus está para dar a sua vida, para derramar o seu sangue: «Isto é o meu corpo entregue ... este é o meu sangue derramado por VÓ9> (cf. Mt 26, 26s.). Era justo que Maria honrasse esse corpo oferecido, derramando sobre ele o perfume precioso. Participemos nessa homenagem de Maria. Vivamos esta semana em grande espírito de gratidão, de recolhimento, na emoção de sermos amados, e amados até à morte. Sejamos generosos com o Senhor que deu tudo e Se deu todo por nós. Correspondamos ao seu amor. Deixemo-nos amar. Tornemo-nos, cada vez mais, profetas desse amor.

    Oratio

    Senhor Jesus, concede-me a graça de viver estes dias da tua Paixão perto de Ti, de ser excessivamente generoso contigo, como foi Maria que «desperdiçou» um perfume tão precioso para Te honrar. Que jamais ceda à tentação de pensar que, aquilo que faço por Ti, podia ser útil para outros fins mais ou menos «piedosos» ... Dá-­me a graça de compreender, quanto é possível neste mundo, o teu amor por mim. Então compreenderei também que, tudo quanto faço por Ti, é pouco, ainda que pareça muito. Como Maria, e como o teu servo, Pe. Dehon, quero procurar-te assídua e fielmente, colocando-me na tua presença no começo de cada acção, vivendo junto de Ti e para Ti. Dá-me, Senhor, esta assiduidade que será alegria para o teu Coração, que será a minha santificação. Amen.

    Contemplatio

    Santa Madalena é o modelo de um amor sincero e verdadeiro, saído do mais perfeito arrependimento. Desde o momento da sua conversão, Madalena é generosa. Ela lança-se aos pés de Nosso Senhor, derrama abundantes lágrimas, afronta o respeito humano, consagra a Nosso Senhor perfumes de um grande preço. É já uma alma amante. Dá-se sem reservas a Nosso Senhor, e doravante o seguirá, fielmente o servirá.

    Nosso Senhor é tudo para ela. Mantém-se aos seus pés e é tudo. Em Betânia, não se agita para servir Nosso Senhor, contempla-o, escuta-o. Quem tem Jesus tem tudo.

    Quando Lázaro morre, que fé e que confiança ela testemunha! Marta agita-se ainda e Maria diz somente: «Mestre, se aqui tivésseis estado, e/e não estaria mortos, Marta e Maria são ambas amantes, mas testemunham o seu amor de um modo diferente: Marta é activa e Maria é contemplativa. Ambas são nossos modelos, devemos todos unir a contemplação à acção (Leão Dehon, OSP 3, p. 81).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A fé opera por meio da caridade» (cf. Gal 5,6).

  • Quarta-feira - Semana Santa

    Quarta-feira - Semana Santa


    13 de Abril, 2022

    Quarta-feira - Semana Santa

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 50, 4-9a

    4 «O Senhor Deus ensinou-me o que devo dizer, para saber dar palavras de alento aos desanimados. Cada manhã desperta os meus ouvidos, para que eu aprenda como os discípulos. 50 Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não resisti, nem recusei. 6 Aos que me batiam apresentei as espáduas, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam. 7 Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio; por isso não sentia os ultrajes. Endureci o meu rosto como uma pedra, pois sabia que não ficaria envergonhado. 80 meu defensor está junto de mim. Quem ousará levantar-me um processo? Compareçamos juntos diante do juiz! Apresente-se quem tiver qualquer coisa contra mim. 9 O Senhor Deus vem em meu auxílio; quem poderá condenar-me?

    No terceiro cântico são acentuados os sofrimentos do Servo de Javé: hostilidade, perseguição, violência, fracasso. Como discípulo, o Servo não diz o que lhe agrada, mas tem por missão transmitir as palavras, que atentamente escuta do Senhor, aos desanimados e hesitantes. Por isso, não opõe resistência a Deus. Sabe que Deus está com ele e, por isso, mantém-se forte e manso diante dos perseguidores. Acolheu fielmente a Palavra e não recua diante da violência com que tentam afastá-lo ou reduzi-lo ao silêncio. Não se verga ao sofrimento, nem se deixa desnortear. Deus há intervir para o justificar diante dos opositores. Por isso, proclama com determinação e fidelidade a Palavra escutada da boca de Deus: «O Senhor Deus vem em meu auxílio; quem o sará condener-me?» (v. 9).

    Evangelho: Mateus, 26, 14-25

    14 Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos secerootes'íe disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-to entregar?» Eles garantiram­lhe trinta moedas de prata. 16 E, a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus.

    17 No primeiro dia da festa dos Ázimos. os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?» 18 Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de um certo homem e dizei-lhe: 'O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos. ~> 1905 discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. 20 Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze. 21 Enquanto comiam, disse: «Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.» 22 Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu, Senhor?» 23 Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará. 240 Filho do Homem segue o seu caminho, como está escrito acerca dele; mas ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!» 25 Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «Tu o disseste» - respondeu Jesus.

    «Um dos Doze», um dos amigos íntimos de Jesus foi entreqá-lO aos que O pretendiam matar. Foi por sua iniciativa, livremente. A partir desse momento, continuando no grupo dos discípulos, que partilhavam a vida e a missão do Mestre, ficou à espera de «uma oportunidsde: (v. 16) para O entregar. É arrepiante!

    A liberdade humana é capaz de tudo, até de se transcender na iniquidade, obra de Satanás (cf. Lc 22, 3 e Jo 13, 2). Mateus dá-o a entender, quando cita Zacarias: «Quanto me dareis, se eu vo-to entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata» (v. 15; cf. Zc 11, 12). Mais significativo é o uso teológico do verbo «entregar» (paradídoml). Trata-se de uma «entrega-traição», da parte dos homens, e uma «entrega­dom», da parte do Pai, que entrega o Filho, e da parte do Filho que se entrega a Si mesmo até à morte na cruz (Jo 19, 30).

    Jesus sente que a sua «hora» se aproxima. Por isso, ordena que a celebração da Páscoa seja devidamente preparada. Deseja ardentemente comê-Ia com os discípulos pois, nela, o antigo memorial dará lugar ao novo, deixando-nos o seu Corpo e o seu Sangue como alimento e bebida. A entrega de Si mesmo acontece num ambiente toldado pelo anúncio da entrega-traição. Os discípulos mergulham num clima de insegurança e de desconfiança. Fazem perguntas a Jesus, chamando «Senhor» (Kyrios), enquanto Judas o chama simplesmente «Mestre. (Rabi). Mas Jesus é, de facto, Senhor. Por isso, conhece o traidor e reconhece que nele se cumprem as Escrituras. A insegurança dos discípulos representa a nossa própria insegurança perante a possibilidade de também nós virmos a atraiçoar e a negar Jesus.

    Meditatio

    A Paixão de Jesus não foi um acontecimento imprevisto. Tudo fora profeticamente anunciado, até o preço da traição (cf. Zac 11, 12-13). A referência à profecia de Zacarias leva-nos a ver Jesus como o rei manso e humilde de que fala o mesmo profeta (Zac 9, 9). Mas é sobretudo Isaías que profeticamente anuncia, com pormenores impressionantes, todo o drama de Jesus. A primeira leitura apresenta-nos, mais uma vez, o misterioso Servo de Javé, atormentado e humilhado, mas cheio de paciência, e de obediente e confiante abandono em Deus. É uma clara figura de Jesus na sua Paixão (vv. 5-6), onde se revelará a majestade de Deus-Pai.

    No evangelho encontramos, de um lado, Judas que atraiçoa o Mestre e, do outro lado, Jesus que dá orientações para a ceia pascal. Como mandavam os ritos, Jesus devia explicar o significado dessa refeição singular e solene. Fê-lo dando-lhe um sentido novo, em que se destacam dois elementos importantes: Jesus torna os seus discípulos participantes da sua dignidade e do seu destino; o seu sangue será derramado para remissão dos pecados.

    Entre a preparação e a celebração da ceia, é descoberto o traidor. Judas entrega Jesus, e Jesus entrega-Se a Si mesmo. A traição torna-se ocasião para o dom voluntário e total de Jesus. A sua morte torna-se fonte de vida. O seu Coração vence a morte e transforma-a em vida para o mundo.

    A Páscoa estava desde sempre preparada em Deus. Mas, quando o Filho do homem veio realizá-Ia no meio de nós, abriu-se para todo o homem um horizonte novo de ilimitada liberdade, a liberdade de amar dando a própria vida, para se reencontrar em plenitude no seio amante da Trindade.

    O Pe. Dehon, ao contemplar o "Coração trespassado do Salvador", contempla a glória de Cristo, isto é, a expressão suprema do Seu amor ao Pai e por nós, amor que O leva, em máxima liberdade, a morrer na Cruz (cf. Jo 17, 1; 13, 1). O Coração humano-divino de Cristo, o Coração trespassado, é a "expressão mais evocadora" desse amor, o símbolo que nos remete para ele; é também sinal de que esse amor se realiza "até ao fim' (Jo 13, 1); é testemunho, isto é, um amor feito vida, que aceita a morte para dar a vida.

    Segundo as convicções do Pe. Dehon derivadas do seu e "nosso carisma profético" (Cst. 27), cada um de nós, e particularmente os missionários, deve "dar a vida pelos seus amigos' (Jo 15, 13). É a suprema "prova de amizade" (Cst. 33) para com aqueles que servimos pastoralmente e para com os povos que os nossos missionários evangelizam: "Ninguém tem maior amor do que este' (Jo 15, 13). o amor leva a dar a vida, e a dá-Ia livremente.

    Oratio

    Senhor Jesus Cristo, queremos, hoje, confessar-nos diante de Ti. Para isso, pedimos-Te um coração arrependido, e palavras humildes e sinceras. Também nós Te vendemos, mais do que uma vez. Todos os dias especulamos sobre a tua pessoa, e vivemos desse miserável lucro. Nós, que tu amas! Como podes suportar-nos ainda na tua casa, a comer o pão das tuas lágrimas e a beber o sangue do teu sofrimento? Vendido por nós, por quase nada, compraste-nos com o preço infinito do teu sangue. Que, através da ferida do teu Coração, possamos ser introduzidos e estabelecidos para sempre na comunhão do teu amor. Amen.

    Contemplatio

    Esta preparação, ordenada pelo Salvador, mostra qual cuidado devemos dar aos nossos santuários, mas ensina também indirectamente como as nossas almas devem estar preparadas.

    Nosso Senhor pede um cenáculo de nobres proporções, com uma bela preparação e tapeçarias. É uma lição de liturgia. As nossas igrejas deverão ser dignas de Deus. Estarão adornadas com obras de arte. Os nossos altares e os nossos vasos sagrados nunca serão demasiado ricos.

    Mas se a Eucaristia pede santuários adornados, não pede também almas preparadas?

    Este cenáculo sumptuoso, todo ornamentado e preparado, é a figura da alma que deve receber a Eucaristia. Deve ser grande e vasta pelos seus desejos, pelos seus votos, pelas suas aspirações. Deve estar ornamentada com as virtudes que são como o vestido da alma. Para nela se comprazer, Nosso Senhor quer ver lá a cópia das suas próprias virtudes, das suas disposições, dos seus sentimentos. Um Mestre não tem maior alegria do que ver os seus discípulos assemelharem-se a ele (Leão Dehon, OSP 3, p. 235).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «O Senhor Deus vem em meu auxílio; quem poderá condenar-me?» (Is 50, 9).

     

  • Quinta-feira - Semana Santa

    Quinta-feira - Semana Santa


    14 de Abril, 2022

    Quinta-feira - Semana Santa

    A SANTA CEIA

    Coenantibus autem eis, accepit Jesus panem, et benedixit ac fregit, deditque discipulis suis, et ait: Accipite et comedite; hoc est corpus meum. Et accipiens cal icem, gratias egit, et dedit illis dicens: Bibite ex hoc omnes. Hic est enim sanguis meus novi Testamenti, qui pro multis effundetur in remissionem peccatorum... Erat autem recumbens unus ex discipulis ejus in sinu Jesu, quem diligebat Jesus (Mt 26, ; Jo 13).

    Enquanto comiam, tomou Jesus o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: Tomai, comei. Isto é o meu corpo. Tomou, em seguida, um cálice, deu graças e entregou-lhes dizendo:

    Este é o meu sangue, sangue da aliança, que vai ser derramado por muitos para a remissão dos pecados ... Ora um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa junto do peito de Jesus (Mt 26, 26-28; Jo 13, 12).

    Primeiro Prelúdio. O Cenáculo. Jesus está como transfigurado no meio dos seus apóstolos. As fontes do amor vão abrir-se para darem ao mundo a Eucaristia.

    Segundo Prelúdio. Obrigado, Senhor. Com S. João, agradeço-vos, amo-vos, dou-me todo a vós.

    PRIMEIRO PONTO: A Eucaristia. - Ó prodígio inaudito! O Senhor supremo faz-se alimento da sua pobre e miserável criatura!

    Enquanto comiam, nesta noite da última Ceia, Jesus estava sentado com os seus discípulos. - Ergue os olhos para o seu Pai e recolhe-se numa ardente oração. Está como transfigurado. - Consideremos o céu aberto acima da sua cabeça: os Anjos admirados tremem de alegria e de temor ... de alegria: a Eucaristia inflamará e santificará tantos corações! Acenderá no seio da Igreja uma tal fogueira de dedicação e de amor!... de temor também: a Eucaristia encontrará tantos ingratos! Será profanada pelos Judas de todos os séculos!

    Escutemos as palavras de Jesus: «Tomai e comei, isto é o meu corpo; bebei, isto é o meu sangue ... ». - Eu vos saúdo, ó verdadeiro corpo, nascido da Virgem Maria!

    Verei os apóstolos aproximarem-se, tomarem o seu lugar nesta primeira comunhão ... Maria, a Mãe bem-amada de Jesus! Quem poderia dizer o ardor da sua caridade! É o seu Filho que ela recebe! É a carne, é o sangue que ela lhe deu! Correntes de amor sobem para o céu nos transportes desta casta união, destes santos arrebatamentos.

    «Fazei isto em minha memória -, acrescenta Jesus, e os seus apóstolos são feitos sacerdotes para a eternidade. Unamo-nos ao seu acto de fé e de amor.

    SEGUNDO PONTO: Judas! - A Paixão começa no Cenáculo, com a atitude de Judas tão cruelmente ofensiva para o Coração de Jesus. O traidor já vendeu o seu divino Mestre. Entretanto assiste hipocritamente à Ceia e à instituição da Eucaristia. Comunga sem dúvida sacrilegamente.

    Nosso Senhor experimenta abatimento e piedade. Tenta ainda salvá-lo. Adverte­o: «Um de vós, diz, que estais comigo a esta mesa, trair-me-e-, Isto devia recordar ao traidor a lamentação de David: «Se um inimigo me tivesse ofendido, tê-lo-ia suportado, mas vó~ um amigo que vivia à minha mesa ... »

    Nosso Senhor deixa manifestar a sua tristeza, não por causa de si mesmo, Ele sabe que deve morrer: «No que diz respeito ao Filho do homem, diz, vai acontecer segundo o que foi determineao». Mas entristece-se por causa do crime do seu discípulo: «Ai daquele, diz, pelo qual o Filho do homem é traido»: (Lc 22,22). Mas nada toca o pecador endurecido.

    Ó Coração sagrado, vítima dos homens, peço-vos perdão pela traição de Judas e pelos crimes que vos hão-de afligir, humilhar, e ferir até ao fim dos tempos sobre todos os altares da terra; perdão pelos cristãos indignos, perdão pelos sacerdotes apóstatas!

    TERCEIRO PONTO: S. João sobre o Coração de Jesus. - Entremos no Cenáculo no momento da acção de graças desta primeira comunhão da terra. S. João repousa com abandono e ternura sobre o Coração de Jesus. É a realização de um quadro do Cântico dos Cânticos: «O meu Bem-Amado é para mim e eu sou para ele ... Eu sou para o meu Bem-Amado e o seu Coração volta-se para min» (Cant. 2).

    Jesus compraze-se na sua imolação eucarística. Esta Páscoa fecunda, que Ele acaba de celebrar com os seus discípulos, renovar-se-à sobre o altar até ao fim dos tempos. É o maná do Novo Testamento, o pão da vida, o pão dos fortes, as delícias dos santos, o penhor da salvação e da ressurreição.

    S. João, o apóstolo virgem, o amigo do Esposo, o familiar de Cristo, extasia-se com a comunhão que acaba de fazer, deixa cair ternamente a sua cabeça sobre o peito do seu Mestre querido. Ele é puro, e a castidade dos sentidos e do coração permite ao homem a intimidade com Deus. Atracção inefável que desprende o discípulo da terra e o eleva à região superior da beatitude e do amor.

    O discípulo bem-amado apoia sobre o coração sagrado de Jesus os seus lábios donde brotarão os rios da teologia sagrada, a sua fronte que tantos raios maravilhosos de ciência e de sabedoria devem ornamentar, e cingir a auréola dos apóstolos, dos profetas, das virgens, dos mártires.

    Cristo reservou a ele somente, porque é puro, escrever com a sua mão os mistérios da pureza incriada, do Verbo de Deus feito carne pela salvação do mundo.

    S. João, discípulo bem-amado, atraí-nos convosco para o peito de Jesus quando estamos unidos a Ele na comunhão.

    Resoluções. - Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou por eles para lhes assinalar o seu amor! E eu que farei para lhe dar amor por amor? Irei à Eucaristia com uma pureza e um fervor que me aproximam das disposições de S. João.

    Colóquio com S. João.

    (Leão Dehon, OSP 3, p. 364ss. Tradução do Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ)

  • 01º Domingo da Páscoa – Ano C

    01º Domingo da Páscoa – Ano C


    17 de Abril, 2022

    ANO C
    SOLENIDADE DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

    Tema do Domingo de Páscoa

    A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto.
    A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, Se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos os homens.
    O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida não podem nunca ser geradores de vida nova; e o discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta – a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira.
    A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo Baptismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova, até à transformação plena que acontecerá quando, pela morte, tivermos ultrapassado a última fronteira da nossa finitude.

    LEITURA I – Act 10,34.37-43

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    Naqueles dias,
    Pedro tomou a palavra e disse:
    «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
    a começar pela Galileia,
    depois do baptismo que João pregou:
    Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré,
    que passou fazendo o bem
    e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio,
    porque Deus estava com Ele.
    Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez
    no país dos judeus e em Jerusalém;
    e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz.
    Deus ressuscitou-O ao terceiro dia
    e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo,
    mas às testemunhas de antemão designadas por Deus,
    a nós que comemos e bebemos com Ele,
    depois de ter ressuscitado dos mortos.
    Jesus mandou-nos pregar ao povo
    e testemunhar que Ele foi constituído por Deus
    juiz dos vivos e dos mortos.
    É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho:
    quem acredita n’Ele
    recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».

    AMBIENTE

    A obra de Lucas (Evangelho e Actos dos Apóstolos) aparece entre os anos 80 e 90, numa fase em que a Igreja já se encontra organizada e estruturada, mas em que começam a surgir “mestres” pouco ortodoxos, com propostas doutrinais estranhas e, às vezes, pouco cristãs. Neste ambiente, as comunidades cristãs começam a necessitar de critérios claros que lhes permitam discernir a verdadeira doutrina de Jesus da falsa doutrina dos falsos mestres.
    Lucas apresenta, então, a Palavra de Jesus, transmitida pelos apóstolos sob o impulso do Espírito Santo: é essa Palavra que contém a proposta libertadora de Deus para os homens. Nos Actos, em especial, Lucas mostra como a Igreja nasce da Palavra de Jesus, fielmente anunciada pelos apóstolos; será esta Igreja, animada pelo Espírito, fiel à doutrina transmitida pelos apóstolos, que tornará presente o plano salvador do Pai e o fará chegar a todos os homens.
    Neste texto em concreto, Lucas propõe-nos o testemunho e a catequese de Pedro em Cesareia, em casa do centurião romano Cornélio. Convocado pelo Espírito (cf. Act 10,19-20), Pedro entra em casa de Cornélio, expõe-lhe o essencial da fé e baptiza-o, bem como a toda a sua família (cf. Act 10,23b-48). O episódio é importante, porque Cornélio é o primeiro pagão a cem por cento a ser admitido ao cristianismo por um dos Doze (o etíope de que se fala em Act 8,26-40 já era “prosélito”, isto é, simpatizante do judaísmo). Significa que a vida nova que nasce de Jesus é para todos os homens.

    MENSAGEM

    O nosso texto é uma composição lucana, onde ecoa o kerigma primitivo. Pedro começa por anunciar Jesus como “o ungido”, que tem o poder de Deus (vers. 38a); depois, descreve a actividade de Jesus, que “passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos” (vers. 38b); em seguida, dá testemunho da morte na cruz (vers. 39) e da ressurreição (vers. 40); finalmente, tira as suas conclusões acerca da dimensão salvífica de tudo isto (vers. 43b: “quem acredita n’Ele recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados”). Esta catequese refere também, com alguma insistência, o testemunho dos discípulos que acompanharam, a par e passo, a caminhada histórica de Jesus (vers. 39a. 41. 42).
    Repare-se como a ressurreição de Jesus não é apresentada como um facto isolado, mas como o culminar de uma vida vivida de um determinado jeito. Depois de Jesus ter passado pelo mundo “fazendo o bem e libertando todos os que eram oprimidos”; depois de Ele ter morrido na cruz como consequência desse “caminho”, Deus ressuscitou-O. A radical transformação e transfiguração da realidade terrestre de Jesus, a plenitudização das suas possibilidades humanas e divinas, parece ser o ponto de chegada de uma vida posta ao serviço do projecto salvador e libertador de Deus. Por outro lado, esta vida, vivida na entrega e no dom, é uma proposta transformadora que, uma vez acolhida, liberta da escravidão do egoísmo e do pecado (vers. 43).
    E os discípulos? Eles são aqueles que aderiram a Jesus, acolheram a sua proposta libertadora e estão a ressuscitar, à medida que a sua vida se identifica com a de Jesus; mas, além disso, eles são as testemunhas de tudo isto: é absolutamente necessário que esta proposta de ressurreição, de vida plena, de vida transfigurada, chegue a todos os homens. É que essa proposta de salvação é universal e deve atingir, através dos discípulos, todos os povos da terra, sem distinção. Os acontecimentos do dia do Pentecostes já haviam anunciado este projecto.

    ACTUALIZAÇÃO

    Reflectir a Palavra, a partir das seguintes coordenadas:

    • A ressurreição de Jesus é a consequência de uma vida gasta a “fazer o bem e a libertar os oprimidos”. Isso significa que, sempre que alguém – na linha de Jesus – se esforça por vencer o egoísmo, a mentira, a injustiça e por fazer triunfar o amor, está a ressuscitar; significa que sempre que alguém – na linha de Jesus – se dá aos outros e manifesta em gestos concretos a sua entrega aos irmãos, está a ressuscitar. Eu estou a ressuscitar, porque caminho pelo mundo fazendo o bem, ou a minha vida é uma submissão ao egoísmo, ao orgulho, ao comodismo?

    • A ressurreição de Jesus significa, também, que o medo, a morte, o sofrimento, a injustiça deixam de ter poder sobre o homem que ama, que se dá, que partilha a vida. Ele tem assegurado a vida plena, essa vida que os poderes deste mundo não podem atingir nem restringir. Ele

    pode, assim, enfrentar o mundo com a serenidade que lhe vem da fé. Estou consciente disto ou deixo-me dominar pelo medo, sempre que tenho de agir para combater aquilo que rouba a vida e a dignidade a mim e a cada um dos meus irmãos?

    • Aos discípulos pede-se também que sejam as testemunhas da ressurreição. Nós não vimos o sepulcro vazio, mas fazemos todos os dias a experiência do Senhor ressuscitado, vivo e caminhando ao nosso lado nos caminhos da história. Temos de testemunhar essa realidade; no entanto, é preciso que o nosso testemunho seja comprovado por factos concretos: por essa vida de amor e de entrega que é sinal da vida nova de Jesus em nós.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)

    Refrão 1: Este é o dia que o Senhor fez:
    exultemos e cantemos de alegria.

    Refrão 2: Aleluia.

    Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
    porque é eterna a sua misericórdia.
    Diga a casa de Israel:
    é eterna a sua misericórdia.

    A mão do Senhor fez prodígios,
    a mão do Senhor foi magnífica.
    Não morrerei, mas hei-de viver
    para anunciar as obras do Senhor.

    A pedra que os construtores rejeitaram
    tornou-se pedra angular.
    Tudo isto veio do Senhor:
    é admirável aos nossos olhos.

    LEITURA II – Col 3,1-4

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses

    Irmãos:
    Se ressuscitastes com Cristo,
    aspirai às coisas do alto,
    onde está Cristo, sentado à direita de Deus.
    Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
    Porque vós morrestes
    e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
    Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
    também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.

    AMBIENTE

    Quando escreveu aos Colossenses, Paulo estava na prisão (em Roma?). Epafras, seu amigo, visitou-o e falou-lhe da “crise” por que estava a passar a igreja de Colossos. Alguns doutores locais ensinavam doutrinas estranhas, que misturavam especulações acerca dos anjos (cf. Col 2,18), práticas ascéticas, práticas legalistas, prescrições sobre os alimentos e observância de determinadas festas (cf. Col 2,16.21): tudo isso deveria (na opinião desses “mestres”) completar a fé em Cristo, comunicar aos crentes um conhecimento superior dos mistérios e possibilitar uma vida religiosa mais autêntica. Contra este sincretismo religioso, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo.
    O texto que nos é proposto como segunda leitura é a introdução à reflexão moral da carta (cf. Col 3,1-4,1-6). Depois de apresentar a centralidade de Cristo no projecto salvador de Deus para os homens (cf. Col 1,13-2,23), Paulo assinala como fundamento da vida cristã a ressurreição e a consequente união com Cristo.

    MENSAGEM

    Neste texto, Paulo apresenta como ponto de partida e base da vida cristã a união com Cristo ressuscitado, na qual o cristão é introduzido pelo Baptismo. Ao ser baptizado, o cristão morreu para o pecado e renasceu para uma vida nova, que terá a sua manifestação gloriosa quando ultrapassarmos, pela morte, as fronteiras da nossa finitude. Enquanto caminhamos ao encontro desse objectivo último, a nossa vida tem que tender para Cristo. Em concreto, isso implica despojarmo-nos do “homem velho” por uma conversão nunca acabada e revestirmo-nos cada dia mais profundamente da imagem de Cristo, de forma que nos identifiquemos com Ele pelo amor e pela entrega.
    No texto de Paulo, está bem presente a ideia de que temos que viver com os pés na terra, mas com a mente e o coração no céu: é lá que estão os bens eternos e a nossa meta definitiva (“afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra”). Daqui resulta um conjunto de exigências práticas que Paulo vai enumerar, de forma bem concreta, nos versículos seguintes (cf. Col 3,5-4,1).

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar as seguintes questões, para reflexão da Palavra:

    • O Baptismo introduz-nos numa dinâmica de comunhão com Cristo ressuscitado. Tenho consciência de que o meu Baptismo significou um compromisso com Cristo? Quando, de alguma forma, tenho um papel activo na preparação ou na celebração do sacramento do Baptismo, estou consciente e procuro deixar claro que não se trata de um acto tradicional ou social, mas num compromisso sério e exigente com Cristo ressuscitado?

    • A minha vida tem sido, na sequência, uma caminhada coerente com esta dinâmica de vida nova? Esforço-me realmente por me despojar do “homem velho”, egoísta e escravo do pecado, e por me revestir do “homem novo”, que se identifica com Cristo e que vive no amor, no serviço e na doação?

    SEQUÊNCIA

    À Vítima pascal
    ofereçam os cristãos
    sacrifícios de louvor.

    O Cordeiro resgatou as ovelhas:
    Cristo, o Inocente,
    reconciliou com o Pai os pecadores.

    A morte e a vida
    travaram um admirável combate:
    Depois de morto,
    vive e reina o Autor da vida.

    Diz-nos, Maria:
    Que viste no caminho?

    Vi o sepulcro de Cristo vivo
    e a glória do Ressuscitado.
    Vi as testemunhas dos Anjos,
    vi o sudário e a mortalha.

    Ressuscitou Cristo, minha esperança:
    precederá os seus discípulos na Galileia.

    Sabemos e acreditamos:
    Cristo ressuscitou dos mortos.
    Ó Rei vitorioso,
    tende piedade de nós.

    ALELUIA – 1Cor 5,7b-8a

    Aleluia. Aleluia.

    Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado:
    celebremos a festa do Senhor.

    EVANGELHO – Jo 20,1-9

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    No primeiro dia da semana,
    Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro
    e viu a pedra retirada do sepulcro.
    Correu então e foi ter com Simão Pedro
    e com o discípulo predilecto de Jesus
    e disse-lhes:
    «Levaram o Senhor do sepulcro
    e não sabemos onde O puseram».
    Pedro partiu com o outro discípulo
    e foram ambos ao sepulcro.
    Corriam os dois juntos,
    mas o outro discípulo antecipou-se,
    correndo mais depressa do que Pedro,
    e chegou primeiro ao sepulcro.
    Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou.
    Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira.
    Entrou no sepulcro
    e viu as ligaduras no chão
    e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus,
    não com as ligaduras, mas enrolado à parte.
    Entrou também o outro discípulo
    que chegara primeiro ao sepulcro:
    viu e acreditou.
    Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura,
    segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

    AMBIENTE

    Na primeira parte do Quarto Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42), João descreve a actividade criadora e vivificadora do Messias (o último passo dessa actividade destinada a fazer surgir o homem novo é, precisamente, a morte na cruz: aí, Jesus apresenta a última e definitiva li&cc

    edil;ão – a lição do amor total, que não guarda nada para Si, mas faz da sua vida um dom radical); na segunda parte (cf. Jo 20,1-31), João apresenta o resultado da acção de Jesus: a comunidade de Homens Novos, recriados e vivificados por Jesus, que com Ele aprenderam a amar com radicalidade. Trata-se dessa comunidade de homens e mulheres que se converteram e aderiram a Jesus e que, em cada dia – mesmo diante do sepulcro vazio – são convidados a manifestar a sua fé n’Ele.

    MENSAGEM

    O texto começa com uma indicação aparentemente cronológica, mas que deve ser entendida sobretudo em chave teológica: “no primeiro dia da semana”. Significa que começou um novo ciclo – o da nova criação, o da Páscoa definitiva. Aqui começa um novo tempo, o tempo do homem novo, que nasce a partir da doação de Jesus. Maria Madalena representa a nova comunidade que nasceu da acção criadora e vivificadora do Messias; essa nova comunidade, testemunha da cruz, acredita, inicialmente, que a morte triunfou e procura Jesus no sepulcro: é uma comunidade desorientada, desamparada, que ainda não conseguiu descobrir que a morte não venceu; mas, diante do sepulcro vazio, o verdadeiro discípulo descobre que Jesus está vivo.
    Para ilustrar esta dupla realidade, são-nos apresentadas duas figuras de discípulo que correm ao túmulo, mostrando a sua adesão a Jesus e o seu interesse pela notícia do túmulo vazio: Simão Pedro e um “outro discípulo”, que parece poder identificar-se com esse “discípulo amado” apresentado no Quarto Evangelho. João coloca estas duas figuras lado a lado em várias circunstâncias (na última ceia, é o discípulo amado que percebe quem está do lado de Jesus e quem O vai trair – cf. Jo 13,23-25; na paixão, é ele que consegue estar perto de Jesus no pátio do sumo sacerdote, enquanto Pedro o trai – cf. Jo 18,15-18.25-27; é ele que está junto da cruz quando Jesus morre – cf. Jo 19,25-27; é ele quem reconhece Jesus ressuscitado nesse vulto que aparece aos discípulos no lago de Tiberíades – cf. Jo 21,7). Nas outras vezes, o “discípulo amado” levou vantagem sobre Pedro. Aqui, isso irá acontecer outra vez: o “outro discípulo” correu mais e chegou ao túmulo primeiro que Pedro (o facto de se dizer que ele não entrou logo, pode querer significar a sua deferência e o seu amor, que resultam da sua sintonia com Jesus); e, depois de ver, “acreditou” (o mesmo não se diz de Pedro).
    Provavelmente, o autor do Quarto Evangelho quis descrever, através destas figuras, o impacto produzido nos discípulos pela morte de Jesus e as diferentes disposições existentes entre os membros da comunidade cristã. Em geral, Pedro representa, nos evangelhos, o discípulo obstinado, para quem a morte significa fracasso e que se recusa a aceitar que a vida nova passe pela humilhação da cruz (Jo 13,6-8.36-38; 18,16.17.18.25-27; cf. Mc 8,32-33; Mt 16,22-23); ao contrário, o “outro discípulo” é o discípulo amado”, que está sempre próximo de Jesus, que faz a experiência do amor de Jesus; por isso, corre ao seu encontro de forma mais decidida e “percebe” – porque só quem ama muito percebe certas coisas que passam despercebidas aos outros – que a morte não pôs fim à vida. Esse “outro discípulo” é, portanto, a imagem do discípulo ideal, que está em sintonia total com Jesus, que corre ao seu encontro com um total empenho, que compreende os sinais e que descobre (porque o amor leva à descoberta) que Jesus está vivo. Ele é o paradigma do “homem novo”, do homem recriado por Jesus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode partir das seguintes coordenadas:

    • A lógica humana vai na linha da figura representada por Pedro: o amor partilhado até à morte, o serviço simples e sem pretensões, a entrega da vida só conduzem ao fracasso e não são um caminho sólido e consistente para chegar ao êxito, ao triunfo, à glória; da cruz, do amor radical, da doação de si, não pode resultar vida plena. É verdade que é esta a perspectiva da cultura dominante. Como me situo face a isto?

    • A ressurreição de Jesus prova precisamente que a vida plena, a vida total, a libertação plena, a transfiguração total da nossa realidade e das nossas capacidades passam pelo amor que se dá, com radicalidade, até às últimas consequências. Tenho consciência disso? É nessa direcção que conduzo a caminhada da minha vida?

    • Pela fé, pela esperança, pelo seguimento de Cristo e pelos sacramentos, a semente da ressurreição (o próprio Jesus) é depositado na realidade do homem/corpo. Revestidos de Cristo, somos nova criatura: estamos, portanto, a ressuscitar, até atingirmos a plenitude, a maturação plena, a vida total (quando ultrapassarmos a barreira da morte física). Aqui começa, pois, a nova humanidade.

    • A figura de Pedro pode também representar, aqui, essa velha prudência dos responsáveis institucionais da Igreja, que os impede de ir à frente da caminhada do Povo de Deus, de arriscar, de aceitar os desafios, de aderir ao novo, ao desconcertante. O Evangelho de hoje sugere que é precisamente aí que, tantas vezes, se revela o mistério de Deus e se encontram ecos de ressurreição e de vida nova.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA PÁSCOA
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. CELEBRAR A FÉ BAPTISMAL.
    Reunir-se à volta do baptistério… Se a assembleia não for muito numerosa, poderá reunir-se (à volta do baptistério) no fundo da igreja para o rito de aspersão, depois ir em procissão atrás do círio pascal, cantando o Hino do Glória. Profissão de fé baptismal… Para solenizar a celebração, no momento do credo poder-se-á retomar a renovação da fé baptismal da vigília pascal, nas suas duas partes: a renúncia (sim, renuncio!) e a profissão de fé (sim, creio!).

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Aleluia! Pai, nós Te damos graças pelo grande mistério da Páscoa. Nós Te louvamos e Te bendizemos pelo teu Filho Jesus, que os homens levaram à morte, mas que Tu ressuscitaste ao terceiro dia.
    Nós Te pedimos por todas as Igrejas, fund

    adas na fé dos Apóstolos, para que testemunhem no mundo inteiro que Jesus está vivo.

    No final da segunda leitura:
    Ressuscitados com Cristo, nós Te louvamos, Pai, pelo Cordeiro pascal, teu Filho, que renova a nossa velha terra numa primavera de vida e de luz e que nos renova a nós mesmos pela sua Páscoa.
    Nós Te pedimos pelos baptizados e pelos jovens que, nestes tempos, renovam a sua profissão de fé.

    No final do Evangelho:
    Deus nosso Pai, nós Te damos graças pela Ressurreição: a força do teu Espírito abriu o túmulo, o teu Filho levantou-se na luz deste dia eterno de Páscoa.
    Nós Te pedimos: abre os olhos do nosso coração, como fizeste ao discípulo que viu e acreditou, abre os nossos espíritos à compreensão das Escrituras.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Jesus era plenamente homem e sabia o que era o homem. Sabia que os homens têm necessidade de sinais para crer. Não será por isso que, durante os seus três anos de vida pública, Ele fez muitas vezes sinais curando os doentes, multiplicando os pães e ressuscitando os mortos?! Aliás, é através de um sinal que Ele inicia a sua vida pública, em Caná da Galileia onde, segundo acrescenta o evangelista João, “manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele”. Ele deixa dois sinais às mulheres e aos discípulos que vieram prestar-lhe uma última homenagem: o túmulo vazio e o lençol. Diante de um sinal, somos livres de o interpretar e de o ler, de lhe procurar o significado. Face a uma prova, não somos livres, estamos diante de uma evidência. O acto de fé exprime-se em presença de sinais e não de provas. Assim, João vê estes sinais e acredita neles. Sem dúvida porque se recorda das palavras do Mestre anunciando várias vezes a sua morte e a sua ressurreição. Os seus olhos de carne viram, os seus olhos da fé acreditaram. Então, como os discípulos em Emaús, ele não tem mais necessidade de ver Jesus de Nazaré com quem ele comeu e bebeu: ele reconhecia o Ressuscitado através dos sinais.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    “Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram”. Maria Madalena, na manhã de Páscoa, experimenta o vazio: não há nada, nem mesmo o cadáver do seu Senhor bem-amado. Ela não tinha nada a que se agarrar para fazer o luto. Sabemos como é mais dolorosa a morte de um ente querido quando o seu corpo desapareceu, quando não há túmulo onde se possa ir em recolhimento. Não seria esse o sentimento de Maria Madalena, há dois mil anos atrás? A Igreja não cessa de repetir que Jesus está vivo, vencedor da morte para sempre. Todos os anos, ela multiplica os seus “aleluias”. Mas encontramos sempre o vazio. Como ressoa em nós a constatação dos discípulos de Emaús, dizendo ao desconhecido que se lhes juntou no caminho que não O tinham visto. Paulo grita: “Onde está, ó morte, a tua vitória?” A nossa experiência poderá perguntar: “Ressurreição de Cristo, onde está a tua vitória?” Apesar do primeiro anúncio “Jesus não está aqui, ressuscitou!”, a morte continuou obstinadamente a sua acção de trevas, com os seus acólitos muito fiéis: doenças, lágrimas, desesperos, violências, injustiças, atentados, guerras… Cantamos, sem dúvida, nas nossas igrejas: “É primavera! Cristo veio de novo!” A primavera, vemo-la. Mas Jesus, não O vemos! Está aqui a dificuldade e a pedra angular da nossa fé. Dificuldade, porque a Ressurreição de Jesus não faz parte da ordem da demonstração científica. Ficamos encerrados nos limites do tempo, enquanto Jesus saiu destes limites. Doravante, Ele está para além da nossa experiência. Mas a Ressurreição é, ao mesmo tempo, a pedra angular da nossa fé porque, como o discípulo que Jesus amava, somos convidados a entrar no túmulo, a fazer primeiro a experiência do vazio, para podermos ir mais longe e, como Ele, “ver e crer”. Podemos apoiar-nos no testemunho das mulheres e dos discípulos. Eles não inventaram uma bela história. Podemos ter confiança neles. Mas eles também tiveram que acreditar! É na sua fé que enraizamos a nossa fé. Páscoa torna-se, então, nossa alegria!

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se rezar a Oração Eucarística III com os textos próprios para o Dia de Páscoa.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
    «Viu e acreditou!» Como os discípulos, muitas vezes corremos atrás do maravilhoso que nos escapa e decepciona. Procuramos Cristo onde Ele não está… Durante o tempo pascal, a exemplo de João, exercitemos o nosso olhar para descobrir o Ressuscitado através dos sinais humildes da vida quotidiana… Com os discípulos de Emaús, descobri-lo-emos a caminhar perto de nós no caminho da vida e a abrir os nossos espíritos à compreensão das Escrituras…

    https://youtu.be/8JfEqfKseOM

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • 02º Domingo da Páscoa – Ano C

    02º Domingo da Páscoa – Ano C


    24 de Abril, 2022

    02º Domingo da Páscoa – Ano C

    ANO C
    2º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

    Tema do 2º Domingo do Tempo Pascal

    A liturgia deste domingo põe em relevo o papel da comunidade cristã como espaço privilegiado de encontro com Jesus ressuscitado.
    O Evangelho sublinha a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
    A segunda leitura insiste no motivo da centralidade de Jesus como referência fundamental da comunidade cristã: apresenta-O a caminhar lado a lado com a sua Igreja nos caminhos da história e sugere que é n’Ele que a comunidade encontra a força para caminhar e para vencer as forças que se opõem à vida nova de Deus.
    A primeira leitura sugere que a comunidade cristã continua no mundo a missão salvadora e libertadora de Jesus; e quando ela é capaz de o fazer, está a dar testemunho desse Cristo vivo que continua a apresentar uma proposta de redenção para os homens.

    LEITURA I – Actos 5,12-16

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    Pelas mãos dos Apóstolos
    realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo.
    Unidos pelos mesmos sentimentos,
    reuniam-se todos no Pórtico de Salomão;
    nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles,
    mas o povo enaltecia-os.
    Cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé,
    uma multidão de homens e mulheres,
    de tal maneira que traziam os doentes para as ruas
    e colocavam-nos em enxergas e em catres,
    para que, à passagem de Pedro,
    ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles.
    Das cidades vizinhas de Jerusalém,
    a multidão também acorria,
    trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros
    e todos eram curados.

    AMBIENTE

    O livro dos Actos dos Apóstolos apresenta o “caminho” que a Igreja de Jesus percorreu, desde Jerusalém até Roma, o coração do império. No entanto, foi de Jerusalém, o lugar onde irrompeu a salvação – isto é, onde Jesus sofreu, morreu, ressuscitou e subiu ao céu –, que tudo partiu. Foi aí que nasceu a primeira comunidade cristã e que essa comunidade, pela primeira vez, se assumiu como testemunha de Jesus diante do mundo.
    O texto que nos é proposto é um dos três sumários que aparecem na primeira parte dos “Actos”; esses sumários apresentam temas comuns e afinidades de estrutura que convidam a considerá-los conjuntamente. No conjunto, esses sumários pretendem apresentar as várias facetas do testemunho dado pela Igreja de Jerusalém. O primeiro aparece em 2,42-47 e é dedicado ao tema da unidade e ao impacto que o estilo cristão de vida provocou no povo da cidade; o segundo aparece em 4,32-37 e é dedicado ao tema da partilha dos bens; o terceiro (a primeira leitura de hoje) apresenta o testemunho da Igreja através da actividade miraculosa dos apóstolos.

    MENSAGEM

    A primeira frase desta leitura apresenta o tema: “pelas mãos dos apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo”.
    A descrição da acção dos apóstolos e da reacção do povo é, neste contexto, muito parecida com certos relatos de curas e certos resumos da actividade taumatúrgica de Jesus que encontramos nos evangelhos sinópticos. Isso diz-nos, desde logo, duas coisas: que não se trata de uma reportagem fotográfica de acontecimentos, mas de um resumo teológico; e que Lucas vê uma continuidade entre a missão de Jesus e a missão da comunidade cristã (a mesma actividade salvadora e libertadora de Jesus em favor dos pobres e dos oprimidos é continuada agora no mundo pela sua Igreja).
    Um desenvolvimento especialmente interessante é a atribuição à “sombra” de Pedro de virtudes curativas (cf. Act 5,15b). Isso nunca foi dito acerca de Cristo… Significa que Pedro tinha mais poder do que Cristo? Não. Significa, provavelmente, que nada é impossível àquele que se coloca na órbita de Cristo e recebe d’Ele a força para testemunhar.
    Devemos ter presente, para entender a mensagem, o cenário de fundo deste texto: os apóstolos são as testemunhas de Jesus ressuscitado e do seu projecto libertador para o mundo; os gestos realizados servem para dar testemunho da ressurreição, isto é, dessa vida nova que em Cristo começou e que, através dos seguidores de Cristo ressuscitado, deve chegar a todos os homens.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para reflexão e actualização, considerar as seguintes linhas:

    • A comunidade cristã tem de ser, fundamentalmente, uma comunidade que testemunha Cristo ressuscitado. Se formarmos uma família de irmãos “unidos pelos mesmos sentimentos”, solidários uns com os outros, capazes de partilhar, estaremos a anunciar esse mundo novo que Jesus propôs e a interpelar os nossos conterrâneos. É isso que acontece habitualmente com o testemunho das nossas comunidades? O que nos falta para sermos – como a comunidade primitiva – uma comunidade que testemunha Jesus ressuscitado?

    • Os milagres não são, fundamentalmente, acontecimentos espantosos que subvertem as leis da natureza; mas são sinais que mostram a presença libertadora e salvadora de Deus e que anunciam essa vida plena que Deus quer dar a todos os homens. Não são, portanto, coisas reservadas a certos feiticeiros ou super-heróis, mas são coisas que eu posso fazer todos os dias: sempre que os meus gestos falam de amor, de partilha, de reconciliação, eu estou a realizar um “milagre” que leva aos irmãos a vida nova de Deus, estou a anunciar e a fazer acontecer a ressurreição. Tenho consciência disto e procuro, com gestos concretos, anunciar que Jesus ressuscitou e continua a querer salvar os homens? Os meus gestos são “sinais” de Deus?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)

    Refrão 1: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
    porque é eterna a sua misericórdia.

    Refrão 2: Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
    o seu amor é para sempre.

    Refrão 3: Aleluia.

    Diga a casa de Israel:
    é eterna a sua misericórdia.
    Diga a casa de Aarão:
    é eterna a sua misericórdia.
    Digam os que temem o Senhor:
    é eterna a sua misericórdia.

    A pedra que os construtores rejeitaram
    tornou-se pedra angular.
    Tudo isto veio do Senhor:
    é admirável aos nossos olhos.
    Este é o dia que o Senhor fez:
    exultemos e cantemos de alegria.

    Senhor, salvai os vossos servos,
    Senhor, dai-nos a vitória.
    Bendito o que vem em nome do Senhor,
    da casa do Senhor nós vos bendizemos.
    O Senhor é Deus
    e fez brilhar sobre nós a sua luz.

    LEITURA II – Ap 1,9-11a.12-13.17-19

    Leitura do Livro do Apocalipse

    Eu, João,
    vosso irmão e companheiro
    nas tribulações, na realeza e na perseverança em Jesus,
    estava na ilha de Patmos,
    por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
    No dia do Senhor fui movido pelo Espírito
    e ouvi atrás de mim uma voz forte,
    semelhante à da trombeta, que dizia:
    «Escreve num livro o que vês
    e envia-o às sete Igrejas».
    Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava;
    ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e,
    no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem,
    vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro.
    Quando o vi, caí a seus pés como morto.
    Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me:
    «Não temas.
    Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive.
    Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos
    e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos.
    Escreve, pois, as coisas que viste,
    tanto as presentes como as que hão-de acontecer depois destas».

    AMBIENTE

    Estamos nos finais do reinado de Domiciano (à volta do ano 95); os cristãos eram perseguidos de forma violenta e organizada e parecia que todos os poderes do mundo se voltavam contra os seguidores de Cristo. Muitos cristãos, cheios de medo, abandonavam o Evangelho e passavam para o lado do império. Na comunidade dizia-se: “Jesus é o Senhor”; mas lá fora, quem mandava mesmo como senhor todo-poderoso era o Imperador de Roma.
    É neste contexto de perseguição, de medo e de martírio que vai ser escrito o Apocalipse. O objectivo do autor é apresentar aos crentes um convite à conversão (primeira parte – Ap 1-3) e uma leitura profética da história que os ajude a enfrentar a tempestade com esperança e a acreditar na vitória final de Deus e dos crentes (segunda parte – Ap 4-22).
    O texto da primeira leitura de hoje pertence à primeira parte do livro. Nele, apresenta-se – recorrendo à linguagem simbólica, pois é através dos símbolos que melhor se expressa a realidade do mistério – o “Filho do Homem”: é Ele o Senhor da história e Aquele através de quem Deus revela aos homens o seu projecto.

    MENSAGEM

    Esse “Filho do Homem” é Cristo ressuscitado. Para o descrever em pormenor, o autor (um tal João, exilado na ilha de Patmos por causa do Evangelho) vai recorrer a símbolos herdados do mundo vétero-testamentário que sublinham, antes de mais, a divindade de Jesus.
    O texto que hoje a liturgia nos propõe não apresenta a descrição original completa (faltam os versículos 14-16). Nos versículos que nos são propostos, este “Filho do Homem” é apresentado como o Senhor que preside à sua Igreja (no vers. 12, os sete candelabros representam a totalidade da Igreja de Jesus; recordar que o sete é o número que indica plenitude, totalidade) e que caminha no meio dela e com ela (vers. 13a); Ele está revestido de dignidade sacerdotal (a longa túnica, distintivo da dignidade sacerdotal revela que Ele é, agora, o verdadeiro intermediário entre Deus e os homens – vers. 13b) e possui dignidade real (o cinto de ouro, porque n’Ele reside a realeza e a autoridade sobre a história, o mundo e a Igreja – vers. 13c). Sobretudo, Ele é o Cristo do mistério pascal: esteve morto, voltou à vida e é agora o Senhor da vida que derrotou a morte (vers. 18). A história começa e acaba n’Ele (vers. 17b). Por isso, os cristãos nada terão a temer.
    A João, Cristo ressuscitado confia a missão profética de testemunhar. O facto de João cair por terra como morto e o facto de o Senhor o reanimar com um gesto (vers. 17) fazem-nos pensar em vários relatos de vocação profética do Antigo Testamento. O “profeta” João é, pois, enviado às igrejas; a sua missão é anunciar uma mensagem de esperança que permita enfrentar o medo e a perseguição. Sobretudo, é chamado a anunciar a todos os cristãos que Jesus ressuscitado está vivo, que caminha no meio da sua Igreja e que, com Ele, nenhum mal nos acontecerá pois é Ele que preside à história.

    ACTUALIZAÇÃO

    Reflectir a partir das seguintes coordenadas:

    • Há muitas coisas e interesses que hoje são erigidos em deuses, que recebem a nossa adoração, que nos desviam do essencial e que acabam por nos destruir e escravizar. Que coisas são essas? É Jesus, vivo e ressuscitado que está no centro das nossas vidas e das nossas comunidades?

    • O medo aliena, escraviza, impede-nos de construir de forma positiva… Temos consciência de que nada temos a temer porque Cristo, o Senhor da história, caminha connosco?

    • Os homens de hoje, apesar de todas as descobertas e conquistas, têm, muitas vezes, uma perspectiva pessimista que lhes envenena o coração e a existência. Se a esperança está em crise, nós, testemunhas do ressuscitado, temos uma proposta de novidade e de salvação a apresentar ao mundo. Sentimo-nos profetas, enviados – como João – a anunciar uma mensagem de esperança, a dar testemunho de Jesus ressuscitado e a dizer que esse mundo novo já está a fazer-se?

    ALELUIA – Jo 20,19

    Aleluia. Aleluia.

    Disse o Senhor a Tomé:
    «Porque Me viste, acreditaste;
    felizes os que acreditam sem terem visto».

    EVANGELHO – Jo 20,19-31

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
    estando fechadas as portas da casa
    onde os discípulos se encontravam,
    com medo dos judeus,
    veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
    «A paz esteja convosco».
    Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
    Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
    Jesus disse-lhes de novo:
    «A paz esteja convosco.
    Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
    Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
    «Recebei o Espírito Santo:
    àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
    e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
    Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
    não estava com eles quando veio Jesus.
    Disseram-lhe os outros discípulos:
    «Vimos o Senhor».
    Mas ele respondeu-lhes:
    «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
    se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão na seu lado,
    não acreditarei».
    Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa
    e Tomé com eles.
    Veio Jesus, estando as portas fechadas,
    apresentou-Se no meio deles e disse:
    «A paz esteja convosco».
    Depois disse a Tomé:
    «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
    aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
    e não sejas incrédulo, mas crente».
    Tomé respondeu-Lhe:
    «Meu Senhor e meu Deus!»
    Disse-lhe Jesus:
    «Porque Me viste acreditaste:
    felizes os que acreditam sem terem visto».
    Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
    que não estão escritos neste livro.
    Estes, porém, foram escritos
    para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
    e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

    AMBIENTE

    Continuamos na segunda parte do Quarto Evangelho, onde nos é apresentada a comunidade da Nova Aliança. A indicação de que estamos no “primeiro dia da semana” faz, outra vez, referência ao tempo novo, a esse tempo que se segue à morte/ressurreição de Jesus, ao tempo da nova criação.
    A comunidade criada a partir da acção de Jesus está reunida no cenáculo, em Jerusalém. Está desamparada e insegura, cercada por um ambiente hostil. O medo vem do facto de não terem, ainda, feito a experiência de Cristo ressuscitado.

    MENSAGEM

    O texto que nos é proposto divide-se em duas partes bem distintas.
    Na primeira parte (cf. Jo 20,19-23), descreve-se uma “aparição” de Jesus aos discípulos. Depois de sugerir a situação de insegurança e fragilidade que dominava a comunidade (o “anoitecer”, “as portas fechadas”, o “medo”), o autor deste texto apresenta Jesus “no centro” da comunidade (vers. 19b). Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-Se como ponto de referência, factor de unidade, a videira à volta da qual se enxertam os ramos. A comunidade está reunida à volta d’Ele, pois Ele é o centro onde todos vão beber a vida.
    A esta comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil, Jesus transmite duplamente a paz (vers. 19 e 21: é o “shalom” hebraico, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança). Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os assustava: a morte, a opressão, a hostilidade do “mundo”.
    Depois (vers. 20a), Jesus revela a sua “identidade”: nas mãos e no lado trespassado, estão os sinais do seu amor e da sua entrega. É nesses sinais de amor e doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que ama, e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.
    Em seguida (vers. 22), Jesus “soprou sobre eles”. O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará deles homens novos. Agora, os discípulos possuem o Espírito, a vida de Deus, para poderem – como Jesus – dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que constitui e anima a comunidade.
    As palavras de Jesus à comunidade contêm ainda uma referência à missão (vers. 23). Os discípulos são enviados a prolongar o oferecimento de vida que o Pai apresenta à humanidade em Jesus. Quem aceitar essa proposta de vida, será integrado na comunidade; quem a rejeitar, ficará à margem da comunidade de Jesus.
    Na segunda parte (cf. Jo 20,24-29), apresenta-se uma catequese sobre a fé. Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado? João responde: podemos fazer a experiência da fé em Jesus vivo e ressuscitado na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter uma demonstração particular de Deus.
    Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade. Porquê? Porque, no “dia do Senhor”, volta a estar com a sua comunidade. É uma alusão clara ao domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado.
    A experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas; mas todos os cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência.

    ACTUALIZAÇÃO

    Ter em conta os seguintes desenvolvimentos:

    • A comunidade cristã gira em torno de Jesus, constrói-se à volta de Jesus e é d’Ele que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito e não seremos uma comunidade de irmãos… Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte?

    • A comunidade tem de ser o lugar onde fazemos, verdadeiramente, a experiência de Jesus ressuscitado. É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo. É isso que a nossa comunidade testemunha? Quem procura Cristo encontra-O em nós?

    • Não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas, egoístas que encontramos Jesus ressuscitado; mas encontramo-l’O no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida. O que é que significa, para mim, a Eucaristia?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º DOMINGO DO TEMPO PASCAL
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. O RESSUSCITADO ESTÁ CONNOSCO! ALELUIA!
    Ele estava lá… O Ressuscitado está presente na sua Palavra, no seu Corpo e Sangue, na pessoa do presidente da assembleia… e na própria assembleia. «Jesus veio e colocou-se no meio deles…», diz o Evangelho deste domingo. Na assembleia do domingo, o Ressuscitado manifesta a sua presença. O presidente poderá recordar tudo isso antes da saudação inicial. Aleluia! Temos muitas músicas de Aleluias solenes. Uma sugestão para criar uma unidade durante os cinquenta dias do Tempo Pascal: cantar o mesmo Aleluia até à solenidade do Pentecostes.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Deus nosso

    Pai, nós Te damos graças pela obra começada pelo teu Filho Jesus, continuada pelos Apóstolos e seus sucessores até ao nosso tempo, no dinamismo do teu Espírito.
    Nós Te confiamos todos os nossos irmãos e irmãs doentes ou atormentados pelas provas da existência, na nossa comunidade e fora dela.

    No final da segunda leitura:
    Cristo Jesus, nós Te bendizemos e Te aclamamos: Tu és o Primeiro e o Último, Tu és o vivo, estavas morto mas eis-Te vivo pelos séculos sem fim. Tu deténs a chave da morada dos mortos, para nos abrir as portas da vida.
    Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs atingidos pela inquietude. Ajuda-os a sair dos medos e inseguranças da vida.

    No final do Evangelho:
    Deus fiel, nós Te damos graças pelo Espírito de ressurreição, que Jesus insuflou nos teus Apóstolos e que também nos é dado pelo baptismo e pela confirmação, para que tenhamos a vida.
    Nós Te pedimos por todo o Povo dos cristãos: fortifica a nossa fé em Jesus. Que pelas nossas palavras e actos saibamos testemunhar que Ele está vivo no meio de nós.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Jesus deixa-Se ver aos seus discípulos, o que os enche de alegria. Envia sobre eles o seu Espírito para que respirem do mesmo sopro e espalhem, por sua vez, o sopro da misericórdia de Deus. Tomé não está lá nessa tarde de Páscoa, o testemunho dos apóstolos não consegue convencê-los; ele quer ver, quer tocar, recusa reconhecer o Ressuscitado num fantasma. Jesus respeita a sua caminhada, e é Ele próprio que lhe propõe para ver e tocar. Tomé, então, proclama o primeiro acto de fé da Igreja: “Meu Senhor e meu Deus!” Ele reconhece não somente Jesus ressuscitado, marcado pelas chagas da Paixão, mas adora-O como seu Deus. Então, Jesus anuncia que não Se apresentará mais à vista dos homens, mas será necessário reconhecê-l’O unicamente com os olhos da fé. E faz desta fé uma bem-aventurança: “felizes os que acreditam sem terem visto!” Também nós, hoje, somos convidados a viver esta bem-aventurança. Oxalá possam as nossas dúvidas e as nossas questões ser, como para Tomé, caminho de fé!

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Jesus vem e está no meio dos discípulos. Diz-lhes: “A paz esteja convosco!” Podemos compreender a saudação de Jesus como um desejo. Mas podemos também traduzir: “A paz para vós!” Isto é, segundo as próprias palavras de Jesus na tarde de Quinta-Feira Santa: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz!” Estas palavras são, doravante, realizadas, eficazes. Jesus não deseja somente que os seus discípulos estejam em paz. Dá-lhes verdadeiramente a sua paz. Não é a paz que o mundo dá. A paz do mundo é a ausência de guerra e de violência, muitas vezes a paz dos cemitérios! A paz que Jesus dá é a plena realização da vontade criadora do Pai. Deus cria os seres humanos, para que eles sejam “à sua imagem”, isto é, em dependência de amor com Ele. É construindo entre eles relações de amor que os seres humanos permitirão a Deus imprimir nessas mesmas relações a imagem do que é em si mesmo, no mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Enfim, a vontade criadora de Deus é também que os seres humanos “dominem a terra”, que façam do seu próprio corpo e do mundo material o lugar cósmico onde o amor pode espalhar-se e incarnar-se. A paz realiza-se apenas quando se cumpre esta tríplice harmonia: harmonia dos seres humanos na sua relação com Deus, harmonia nas suas relações mútuas, harmonia com o seu corpo e o cosmos. A paz é uma totalidade de luz. É isso que Jesus veio cumprir: reconciliar os homens com Deus, reconciliá-los entre si e, no seu corpo de Ressuscitado, fazer entrar o próprio cosmos nesta luz. A paz acontece, assim, plenamente dada na sua Presença, pela força do Espírito. Resta-nos, apenas, acolhê-la! Ora, o que é obstáculo à paz é a recusa da vontade criadora, a recusa do amor. Eis porque Jesus dá aos Apóstolos o poder de absolver os pecados, isto é, de afastar o obstáculo que impede a “livre circulação do amor”. Acolhendo a presença de Jesus, deixando-o depositar em nós a fonte de toda a reconciliação, para reaprender a amar, permitimos que Ele continue em nós a sua acção de paz.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III para a Assembleia com Crianças. Os textos próprios para o tempo pascal são particularmente significativos.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
     «Se não vir…» Difícil confiança! Acreditar na palavra dos nossos irmãos que testemunham o seu encontro com o Ressuscitado? Não! Não é para mim! Somos muitas vezes irmãos gémeos de Tomé, nas nossas recusas em acreditar… E se decidíssemos ir ao encontro de um irmão, de uma irmã, de um grupo… para partilhar as nossas questões, as nossas convicções, e avançar juntos numa fé alimentada pela Palavra do Ressuscitado? Então aprenderíamos o que quer dizer: «felizes os que acreditam sem terem visto…».
     Fazer crescer a paz… Sem cessar e sem nos cansarmos, devemos trabalhar sempre mais para a construção do Reino. Concretamente, como fazer crescer a paz onde estamos? Talvez seja necessário começar, esta semana, por um pequeno gesto ou uma palavra para com uma pessoa com quem a nossa relação é difícil… Importante é abrir o coração e recomeçar…

    https://youtu.be/wY7G_lowxW4

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • S. Marcos, Evangelista

    S. Marcos, Evangelista


    25 de Abril, 2022

    Marcos era filho de Maria de Jerusalém, em cuja casa Pedro se refugiou depois de ser libertado do cárcere (cf. At 12, 12). Era primo de Barnabé. Acompanhou o apóstolo Paulo na sua primeira viagem a Roma (cf. Col 4, 10) e esteve próximo dele durante a sua prisão em Roma (Fm 24). Depois, tornou-se discípulo de Pedro, de cuja pregação se fez intérprete no Evangelho que escreveu (cf. 1 Pe 5, 13). O seu evangelho é comumente reconhecido como o mais antigo, utilizado e completado por Mateus e por Lucas. Parece que também os grandes discursos da primeira parte do Atos dos Apóstolos são uma retomada e desenvolvimento do evangelho de Marcos, a partir de Mc 1, 15. É-lhe atribuída a fundação da Igreja de Alexandria.
    Lectio
    Primeira Leitura: 1 Pedro 5, 5b-14

    Irmãos: revesti-vos todos de humildade no trato uns com os outros, porque Deus opõe-se aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. 6Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no devido tempo. 7Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós. 8Sede sóbrios e vigiai, pois o vosso adversário, o diabo, como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar. 9Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos. 10Depois de terdes padecido por um pouco de tempo, o Deus que é todo graça e vos chamou em Jesus Cristo à sua eterna glória, há-de restabelecer-vos e consolidar-vos, tornar-vos firmes e fortes. 11Para Ele o poder pelos séculos dos séculos. Ámen. 12Por Silvano, a quem considero um irmão fiel, escrevo-vos estas breves palavras, para vos exortar e para vos assegurar que esta é a verdadeira graça de Deus; perseverai nela! 13Manda-vos saudações a comunidade dos eleitos que está em Babilónia e, em particular, Marcos, meu filho. 14Saudai-vos uns aos outros com um ósculo de irmãos que se amam. Paz a todos vós, que estais em Cristo.

    A tradição, segundo a qual Marcos recolheu, no seu evangelho, a pregação de Pedro, apoia-se nesta página, onde Pedro lhe chama "meu filho" (v. 13). Mas as exortações do primeiro dos apóstolos dirigem-se a todos quantos na Igreja têm responsabilidades de guias e mestres.
    O verdadeiro pastor deve, antes de mais, ser humilde e consciente de não ser dono de nada, mas ter recebido tudo de Deus. E a humildade é verdade!
    Os pastores devem também ser sóbrios e vigilantes. Nestas palavras ecoa o discurso escatológico de Jesus (cf. Mc 13, 1ss.). Pedro dirige aos pastores humildes e fiéis, sóbrios e vigilantes, a promessa de que Aquele Deus que os chamou à vida nova em Cristo os confirmará na graça e os coroará de glória (v. 10).
    Evangelho: Marcos 16, 15-20

    Naquele tempo, Jesus apareceu ao Onze Apóstolos e disse-lhes: 15«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. 16Quem acreditar e for batizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.» 19Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. 20Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam.

    Nesta conclusão do evangelho original de Marcos, encontramos o chamado discurso missionário: Jesus envia os seus discípulos a levar o evangelho a todas as criaturas (vv. 15ss.). O missionário do Pai, Jesus, precisa de outros missionários. Aquele que é a Boa Nova confia a Boa Nova aos seus apóstolos: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura." (v. 15).
    Depois do mandato missionário, Marcos alude, de modo muito breve, e discreto à ascensão de Jesus ao céu: "O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus." (v. 19). E conclui afirmando: "Eles, partindo, foram pregar por toda a parte" (v. 20). E assim mudou radicalmente a vida dos apóstolos e de muitas outras pessoas ao longo dos séculos.
    Meditatio

    A primeira leitura da festa de S. Marcos foi escolhida por causa da expressão "meu filho" usada por S. Pedro para se referir ao segundo evangelista, mas também pelas palavras: "Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos." (v. 9). Marcos é, de modo especial, o evangelista da fé. Insiste em que deve ser vivida mesmo no meio da obscuridade. O evangelista tem um sentido muito vivo dessa experiência. Mais do que desenvolver os ensinamentos do Mestre, preocupa-se em acentuar a manifestação do Messias crucificado. Apresenta-nos Jesus rodeado de pessoas que, depois de um primeiro entusiasmo, O recusam. Os próprios Doze, escolhidos por Ele, não O compreendem: têm o coração endurecido, fechado à Sua mensagem, à Sua Pessoa. Mesmo Pedro, que reconhece Jesus como Messias, não quer aceitar o caminho que Ele escolheu percorrer, o caminho da cruz. O centro do evangelho de Marcos é o paradoxal testemunho de fé do centurião, que reconhece em Jesus, que morre na cruz, o Filho de Deus. Marcos compreende a realidade profunda do itinerário doloroso de Jesus e apresenta-o à luz da fé, definitivamente consolidada na ressurreição. O segundo evangelho ajuda-nos a viver na fé e a alimentá-la no sofrimento e a apoiá-la unicamente em Cristo, sem procurar provas humanas.
    A reflexão de Marcos não é académica, mas existencial e vital. O Evangelho é Deus (cf. Mc 1, 14); contém e manifesta o projeto salvífico que o Pai quer realizar por meio do Filho em favor de toda a humanidade. É do coração de Deus que brota a "Boa Nova" capaz de encher de alegria todos os corações humanos que estejam disponíveis a acolher o dom da salvação. O "Evangelho é de Jesus Cristo" (cf. Mc 1, 1), quer dizer, é Jesus o Cristo, o Filho de Deus. Mas é também memorial de tudo quanto Jesus fez e disse. Numa palavra: para Marcos, o Evangelho é tudo, e tudo é Evangelho.
    Lembremos as nossas Constituições: "A missão em sentido estrito sempre esteve presente entre nós e continua a conservar para nós uma importância particular" (Cst 33). A nossa admiração e atenção por aqueles que hoje são "missionários" continuam bem vivas. Esses confrades deixaram a sua terra, a sua gente, para adotar uma outra, em favor da qual desenvolvem todas as atividades de apostolado (cf. Cst 15). "Reconhecemos como parte importante da nossa missão reparadora todo o trabalho que desde os princípios da Congregação muitos de nós desenvolvem na atividade missionária, em vista do anúncio do Evangelho e em solidariedade com os povos, cuja situação é particularmente difícil" (Documenta XIV).
    Oratio

    Abre, Senhor, os meus ouvidos para que se encham do tesouro do teu Evangelho, porque a minha vida, iluminada e confortada pela tua Palavra, terá sentido pleno e duradoiro. Faz-me acolher o Verbo da verdade presente no teu Evangelho. Abre, Senhor, a minha boca para que a Boa Nova acolhida, se torne proclamação da tua glória e mensagem de sentido e esperança para os irmãos. Que a minha vida se abra a Ti, se encontre contigo, que vens ao meu encontro todos os dias na Palavra que o teu Evangelho encerra e me dá. Ámen.
    Contemplatio

    S. Marcos amava Nosso Senhor sem qualquer reserva; estava maduro para o martírio. Os seus sucessos e os progressos da fé exasperavam os pagãos e em particular os sacerdotes de Serapis. Apoderaram-se de S. Marcos durante a solenidade da Páscoa do ano 68. Fizeram-lhe sofrer durante dois dias um horrível suplício, fazendo-o arrastar com cordas por terrenos pedregosos dos subúrbios de Buroles; mas o amor é mais forte do que a morte, e o santo bendizia a Nosso Senhor e dava-lhe graças por ter sido julgado digno de sofrer por seu amor. Durante a noite que separou os dois dias de torturas, o santo foi reconfortado por visitas celestes. Foi primeiro um anjo que lhe disse: «Marcos, servo de Deus e chefe dos ministros de Cristo, no Egipto, o vosso nome está escrito no livro da vida e as potências celestes virão em breve procurar-vos para vos conduzirem ao céu». Depois apareceu-lhe o próprio Nosso Senhor, como o tinha conhecido na Galileia: «A paz esteja convosco, Marcos nosso evangelista», diz-lhe; depois desapareceu. Esta palavra de encorajamento bastava. S. Marcos foi de novo arrastado e dilacerado pelas pedras, enquanto bendizia a Deus: «Meu Deus, nas vossas mãos entrego a minha alma». (L. Dehon, OSP 3, p. 479).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1, 15).

    S. Marcos, Evangelista (25 Abril)

  • S. Catarina de Sena, Virgem e doutora da Igreja, padroeira da Europa

    S. Catarina de Sena, Virgem e doutora da Igreja, padroeira da Europa


    29 de Abril, 2022

    S. Catarina nasceu em Sena, Itália, a 25 de Março de 1347. Dotada por Deus com graças especiais, desde a sua infância, cortou o cabelo e cobriu a cabeça com um véu branco, em sinal de consagração, quando tinha apenas 12 anos e pretendiam casá-la. Sofreu muito com essa decisão, mas manteve-se fiel. Vestiu o hábito das religiosas dominicanas, mantendo-se na família e na cidade, e dedicando-se ao exercício das obras de misericórdia e procurando restabelecer a paz entre as famílias desavindas. Sendo analfabeta, em breve começou a ditar a diversos amanuenses as suas experiências místicas, reflexões e conselhos. Ditou cartas para prelados, pais de família, magistrados, reis e até para o próprio Papa, que, nessa época, se encontrava em Avinhão, incitando-o a regressar a Roma. A 13 de Outubro de 1376 Gregório XI iniciou a viagem de regresso a Roma, acompanhado por Catarina. Depois da morte de Gregório XI, a santa foi conselheira do seu sucessor, Urbano VI. O seu ideal era pacificar a Pátria (a Itália) e purificar a Igreja. Faleceu, em Roma, a 29 de Abril de 1380. Com S. Brígida e S. Teresa Benedita da Cruz, é padroeira da Europa.
    Lectio
    Primeira leitura: Primeira de João 1, 5 - 2, 2

    Caríssimos: esta é a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. 6Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. 7Pelo contrário, se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado. 8Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. 9Se confessamos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade. 10Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. 1Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, 2pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo.

    Jesus disse-nos que Deus é luz. O cristão deve caminhar na luz, que alegra, ilumina e é símbolo de tudo o que há de bom e puro (cf. Jo 3, 19-20). O contrário, o mal, é simbolizado pelas trevas. Mas, mais do que fazer especulações sobre a natureza de Deus, o autor da Carta lança as bases necessárias para extrair as implicações morais, que o fato de ser de Deus impõe ao cristão. Luz/trevas, bem/mal, verdade/mentira, graça/pecado... são incompatíveis, não podem estar juntos no mesmo sujeito. Mas, estar em comunhão com Deus e andar na luz não significa ser impecáveis. Também o cristão peca e tem consciência disso. A Igreja não é uma comunidade de puros e perfeitos, que nunca pecaram, mas uma comunidade que acredita que os seus pecados não são obstáculo permanente para nos aproximarmos de Deus. O pecado é superável pela ação de Deus em Cristo. É a partir dessa ação que surge o imperativo de lutar contra o pecado. Se o cristão se dá conta de que a sua comunhão com Deus foi quebrada pelo pecado, deve recordar que Jesus Cristo é seu intercessor e defensor diante do Pai. Mais ainda, que é o meio de expiação pelos pecados cometidos.
    Evangelho: Mateus 25, 1-13

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: O Reino do Céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. 2Ora, cinco delas eram insensatas e cinco prudentes. 3As insensatas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; 4enquanto as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias. 5Como o noivo demorava, começaram a dormitar e adormeceram. 6A meio da noite, ouviu-se um brado: 'Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!' 7Todas aquelas virgens despertaram, então, e aprontaram as candeias. 8As insensatas disseram às prudentes: 'Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias estão a apagar-se.' 9Mas as prudentes responderam: 'Não, talvez não chegue para nós e para vós. Ide, antes, aos vendedores e comprai-o.' 10Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o noivo; as que estavam prontas entraram com ele para a sala das núpcias, e fechou-se a porta. 11Mais tarde, chegaram as outras virgens e disseram: 'Senhor, senhor, abre-nos a porta!' 12Mas ele respondeu: 'Em verdade vos digo: Não vos conheço.' 13Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora."

    A parábola de Jesus encerra uma dinâmica que leva a um evento culminante: o encontro das virgens com o esposo, decisivo para a sua felicidade ou infelicidade, irrevogável. Não sabemos quando será esse encontro, mas sabemos como prepará-lo. A parábola pretende ajudar-nos na preparação.
    As virgens, prudentes ou imprudentes, adormecem todas. A nossa vida tem momentos de flexão, de abaixamento do fervor, de relaxamento espiritual. Quando o Senhor não está presente é sempre noite, e é fácil que as provações e as preocupações da vida nos distraiam, dificultando-nos estar vigilantes. Mas a vigilância, mais do que um estado físico ou mental, é uma atitude do coração. É o que nos indica o Cântico dos Cânticos: "Durmo, mas o meu coração vigia!" (5, 2). Para estar prontos, de lâmpadas acesas, havemos de frequentar o Evangelho, para com ele alimentarmos os nossos pensamentos, os nossos sentimentos, a nossa ação, para vivermos a Palavra e perseverarmos na fé.
    Meditatio

    O v.1 do segundo capítulo da 1 Jo parece-nos particularmente adequado à memória de Santa Catarina de Sena, que hoje celebramos: "escrevo-vos estas coisas para que não pequeis" (2, 1). Como S. João, Santa Catarina de Sena escreveu para que fosse evitado o pecado. Entre as muitas cartas que escreveu, também se dirigiu aos padres para os incitar a viver em maior fidelidade ao Senhor, evitando as desordens, que ela notava, tais como a procura dos prazeres, o apego ao dinheiro... Ansiava por reconduzir todos à vivência da vida cristã, à fidelidade a Cristo: "escrevo-vos estas coisas para que não pequeis". Mas, sobretudo, estava convencida de que Jesus nos salvou pelo seu sangue, que temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo justo, vítima de expiação pelos nossos pecados: "o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado" (1 Jo 1, 8). Catarina tinha uma grande devoção ao sangue de Cristo, e falava dele muito frequentemente: fogo e sangue, fogo e sangue... Fogo do amor, alusão ao sangue de Cristo que nos cobre para nos lavar dos nossos pecados e nos unir na caridade divina.
    "Se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros" (1 Jo 1, 7). Santa Catarina caminhava na luz. Mas a sua vida impecável não a separou dos pecadores, mas uniu-a profundamente a eles. Como aconteceu com tantas Santas, Catarina de Sena soube unir em si mesma a vocação de Marta e de Maria. Ao mesmo tempo, estava aos pés de Jesus, e mergulhada nas necessidades e lutas dos homens do seu tempo. Rezava, mas também se ocupava na reconciliação das fações em luta no seu país, de lançar a paz na igreja italiana, de fazer regressar o Papa de Avinhão a Roma, de que era bispo. Cuidou pessoalmente dos encarcerados, dos condenados, e andou por todo o lado. Vivia na paz do Senhor e na agitação do mundo.
    Hoje apetece-nos deixar-nos iluminar pela sua luz e permanecer aos pés de Santa Catarina, reconhecer nela a "filha da luz" de que nos fala a Escritura, para que "vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu" (Mt 5, 16). Gostamos de contemplá-la na sua incansável caminha ao encontro da Igreja e de Cristo, para nos deixarmos envolver nesse mesmo movimento. Olhando-a, parece-nos repetir, ela mesma, como que um convite ou mandato: "Ide ao seu encontro!" (v. 6).
    A exemplo de Santa Catarina de Sena, e conforme o desejo do P. Dehon, "sejam profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens e do mundo em Cristo" (Cst 7).
    Oratio

    Oh abismo, oh Trindade eterna, oh Divindade, oh mar profundo! Que mais podíeis dar do que dar-Vos a Vós mesmo? Sois um fogo que arde sempre e não se consome. Sois Vós que consumis com o vosso calor todo o amor profundo da alma. Sois um fogo que dissipa toda frialdade e iluminais as mentes com a vossa luz, aquela luz com que me fizestes conhecer a vossa verdade... Sois a veste que cobre toda minha nudez; e alimentais a nossa fome com a vossa doçura, porque sois doce sem qualquer amargor. Oh Trindade eterna. (S. Catarina de Sena).
    Contemplatio

    O coração da virgem de Sena partia-se diante dos crimes do mundo e das paixões humanas, que se agitavam como ondas tumultuosas, nos tempos difíceis em que vivia... Ela teria querido dar até à última gota do seu sangue pelos interesses de Nosso Senhor. Consumia a sua vida nas austeridades e na oração, oferecendo-se como que vítima das iniquidades da terra. Suportou longos sofrimentos, que somente a comunhão acalmava um pouco. Da quarta-feira de cinzas ao dia da Ascensão, não tomava nenhum alimento exceto a adorável Eucaristia. Nosso Senhor deu-lhe os seus estigmas sem os deixar aparecer. Exercia a caridade com heroísmo para com os pobres e os doentes. Um dia em que a sua natureza estava revoltada à vista de uma úlcera repugnante, levou até lá os lábios para vencer a sua sensibilidade. Nosso Senhor apareceu-lhe na noite seguinte, e para a recompensar descobriu-lhe a chaga do seu lado e permitiu-lhe que lhe aplicasse a sua boca. Nosso Senhor apresentou à sua escolha uma coroa de ouro enriquecida de pedrarias e uma coroa de espinhos. Ela escolheu a coroa de espinhos, a coroa da reparação. A humilde religiosa consumiu-se em caminhadas penosas para fazer cessar o cisma do Ocidente. Convenceu o Papa Gregório XI a deixar Avinhão para voltar a Roma. Ofereceu a sua vida pelo bem da Igreja e morreu santamente no dia 29 de Abril de 1382. (Leão Dehon, OSP 2, p. 494s.).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Escrevo-vos estas coisas para que não pequeis" (1 Jo 2, 1).
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    S. Catarina de Sena, virgem e doutora da igreja, padroeira da Europa (29 de Abril)

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