Week of Dez 26th

  • Festa da Sagrada Família – Ano C

    Festa da Sagrada Família – Ano C


    26 de Dezembro, 2021

    ANO C
    Domingo dentro da Oitava do Natal
    FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ

    Tema da Festa da Sagrada Família

    As leituras deste domingo complementam-se ao apresentar as duas coordenadas fundamentais a partir das quais se deve construir a família cristã: o amor a Deus e o amor aos outros, sobretudo a esses que estão mais perto de nós – os pais e demais familiares.
    O Evangelho sublinha, sobretudo, a dimensão do amor a Deus: o projecto de Deus tem de ser a prioridade de qualquer cristão, a exigência fundamental, a que todas as outras se devem submeter. A família cristã constrói-se no respeito absoluto pelo projecto que Deus tem para cada pessoa.
    A segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos de todos os que vivem “em Cristo” e aceitaram ser Homem Novo. Esse amor deve atingir, de forma mais especial, todos os que connosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
    A primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais. É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.

    LEITURA I – Sir 3,3-7.14-17a (gr. 2-6.12-14)

    Leitura do Livro de Ben-Sirá

    Deus quis honrar os pais nos filhos
    e firmou sobre eles a autoridade da mãe.
    Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados
    e acumula um tesouro quem honra sua mãe.
    Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos
    e será atendido na sua oração.
    Quem honra seu pai terá longa vida,
    e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe.
    Filho, ampara a velhice do teu pai
    e não o desgostes durante a sua vida.
    Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele
    e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida,
    porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida
    e converter-se-á em desconto dos teus pecados.

    AMBIENTE

    O livro de Ben-Sira (também chamado “Eclesiástico”), de onde foi extraída a primeira leitura deste domingo, é um livro sapiencial e que, como todos os livros sapienciais, pretende apresentar uma reflexão de carácter prático sobre a arte de bem viver e de ser feliz. Estamos no início do séc. II a.C., numa época em que o helenismo tinha começado o seu trabalho pernicioso, no sentido de minar a cultura e os valores tradicionais de Israel. Jesus Ben-Sira, o autor deste livro, avisa os israelitas para não deixarem perder a identidade cultural e religiosa do seu Povo. Procura, então, apresentar uma síntese da religião tradicional e da sabedoria de Israel, sublinhando a grandeza dos valores judaicos e demonstrando que a cultura judaica não fica a dever nada à brilhante cultura grega.

    MENSAGEM

    O texto apresenta uma série de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas relações com os pais.
    Uma palavra sobressai: o verbo “honrar”. Ele leva-nos ao decálogo do Sinai (cf. Ex 20,12), onde aparece no sentido de “dar glória”. “Dar glória” a uma pessoa é dar-lhe toda a sua importância; “dar glória aos pais” é, assim, reconhecer a sua importância como instrumentos de Deus, fonte de vida.
    Ora, reconhecer que os pais são a fonte, através da qual Deus nos dá a vida, deve conduzir à gratidão; e essa gratidão tem consequências a nível prático. Implica ampará-los na sua velhice e não os desprezar nem abandonar; implica assisti-los materialmente – sem inventar qualquer desculpa – quando já não podem trabalhar (cf. Mc 7,10-11); implica não fazer nada que os desgoste; implica escutá-los, ter em conta as suas orientações e conselhos; implica ser indulgente para com as limitações que a idade traz.
    Dado o contexto da época em que Ben-Sira escreve, é natural que, por detrás destas indicações aos filhos, esteja também a preocupação com o manter bem vivos os valores tradicionais, esses valores que os mais antigos preservam e que passam aos jovens.
    Como recompensa desta atitude de “honrar” os pais, Jesus Ben-Sira promete o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e actualização do texto podem fazer-se à volta dos seguintes dados:

    ¨ Sentimo-nos gratos aos nossos pais porque eles aceitaram ser, em nosso favor, instrumentos de Deus criador? Lembramo-nos de lhes demonstrar essa gratidão?

    ¨ Apesar da preocupação moderna com os direitos humanos e o respeito pela dignidade das pessoas, a nossa civilização cria, com frequência, situações de abandono e de marginalização, cujas vítimas são, muitas vezes, aqueles que já não têm uma vida considerada produtiva, ou aqueles a quem a idade ou a doença trouxeram limitações. Que motivos justificam o desprezo e abandono daqueles a quem devemos “honrar”?

    ¨ É verdade que a vida de hoje é muito exigente a nível profissional e que nem sempre é possível a um filho estar presente ao lado de um pai que precisa de cuidados ou de acompanhamento especializado. No entanto, a situação é muito menos compreensível se o afastamento de um pai do convívio familiar resulta do egoísmo do filho, que não está para “aturar o velho”…

    ¨ O capital de maturidade e de sabedoria de vida que os mais idosos possuem é considerado por nós uma riqueza ou um estorvo à nossa modernidade?

    ¨ Face à invasão contínua de valores estranhos que, tantas vezes, põem em causa a nossa identidade cultural e religiosa, o que significam os valores que recebemos dos nossos “pais”? Avaliamos com maturidade a perenidade desses valores?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127 (128)

    Refrão 1: Felizes os que esperam no Senhor
    e seguem os seus caminhos.

    Refrão 2: Ditosos os que temem o Senhor,
    ditosos os que seguem os ses caminhos.

    Feliz de ti, que temes o Senhor
    e andas nos ses caminhos.
    Comerás do trabalho das tuas mãos,
    serás feliz e tudo te correrá bem.

    Tua esposa será como videira fecunda
    no íntimo do teu lar;
    teus filhos serão como ramos de oliveira
    ao redor da tua mesa.

    Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
    De Sião te abençoe o Senhor:
    vejas a prosperidade de Jerusalém,
    todos os dias da tua vida.

    LEITURA II – Col 3,12-21

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses

    Irmãos:
    Como eleitos de Deus, santos e predilectos,
    revesti-vos de sentimentos de misericórdia,
    de bondade, humildade, mansidão e paciência.
    Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente,
    se algum tiver razão de queixa contra outro.
    Tal como o Senhor vos perdoou,
    assim deveis fazer vós também.
    Acima de t
    udo, revesti-vos da caridade,
    que é o vínculo da perfeição.
    Reine em vossos corações a paz de Cristo,
    à qual fostes chamados para formar um só corpo.
    E vivei em acção de graças.
    Habite em vós com abundância a palavra de Cristo,
    para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros
    com toda a sabedoria;
    e com salmos, hinos e cânticos inspirados,
    cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão.
    E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras,
    seja tudo em nome do Senhor Jesus,
    dando graças, por Ele, a Deus Pai.
    Esposas, sede submissas aos vossos maridos,
    como convém no Senhor.
    Maridos, amai as vossas esposas
    e não as trateis com aspereza.
    Filhos, obedece em tudo a vossos pais,
    porque isto agrada ao Senhor.
    Pais, não exaspereis os vossos filhos,
    para que não caiam em desânimo.

    AMBIENTE

    Paulo estava na prisão (possivelmente em Roma, anos 61/63) quando escreveu aos colossenses. Algum tempo antes, Paulo havia recebido notícias pouco animadoras sobre a comunidade de Colossos. Essas notícias falavam da perigosa tendência de alguns doutores locais, que ensinavam doutrinas erróneas e afastavam os colossenses da verdade do Evangelho. Essas doutrinas misturavam práticas legalistas, práticas ascéticas, especulações sobre os anjos e achavam que toda esta mistura confusa de elementos devia completar a fé em Cristo e comunicar aos crentes um conhecimento superior dos mistérios cristãos e uma vida religiosa mais autêntica.
    Sem refutar essas doutrinas de modo directo, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo e assinala o seu lugar proeminente na criação e na redenção dos homens.
    O texto da segunda leitura pertence à segunda parte da carta. Depois de constatar a supremacia de Cristo na criação e na redenção (primeira parte), Paulo avisa os colossenses de que a união com Cristo traz consequências a nível de vivência prática (segunda parte): implica a renúncia ao “homem velho” do egoísmo e do pecado, e o “revestir-se do homem novo”.

    MENSAGEM

    Em termos mais concretos, viver como “homem novo” implica cultivar um conjunto de virtudes que resultam da união do cristão com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, paciência, mansidão. Lugar especial ocupa o perdão das ofensas do próximo, a exemplo do que Cristo sempre fez. Estas virtudes são exigências e manifestações da caridade, que é o mais fundamental dos mandamentos cristãos.
    Catálogos de virtudes como este apareciam também na ética dos gregos; o que é novo aqui é a fundamentação: tais exigências resultam da íntima relação do cristão com Cristo; viver “em Cristo” implica viver, como Ele, no amor total, no serviço, na disponibilidade e no dom da vida.
    Uma vez apresentado o ideal da vida cristã nas suas linhas gerais, Paulo aplica o que acabou de dizer à vida familiar. Às mulheres, recomenda o respeito para com os maridos; aos maridos, convida a amar as esposas, evitando o domínio tirânico sobre elas; aos filhos, recomenda a obediência aos pais; aos pais, com intuição pedagógica, pede que não sejam excessivamente severos para com os filhos, pois isso pode impedir o desenvolvimento normal das suas capacidades.
    É desta forma que, no espaço familiar, se manifesta o Homem Novo, o homem que vive segundo Cristo.

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão, ter em conta os dados seguintes:

    ¨ Viver “em Cristo” implica fazer do amor a nossa referência fundamental e deixar que ele se manifeste em gestos concretos de bondade, de perdão, de compreensão, de respeito pelo outro, de partilha, de serviço… É este o quadro em que se desenvolvem as nossas relações com aqueles que nos rodeiam?

    ¨ A nossa primeira responsabilidade vai para com aqueles que connosco partilham, de forma mais chegada, a vida do dia a dia (a nossa família). Esse amor, que deve revestir-nos sempre, traduz-se numa atenção contínua àquele que está ao nosso lado, às suas necessidades e preocupações, às suas alegrias e tristezas? Traduz-se em gestos sentidos e partilhados de carinho e de ternura? Traduz-se num respeito absoluto pela liberdade e pelo espaço do outro, por um deixar o outro crescer sem o sufocar? Traduz-se na vontade de servir o outro, sem nos servirmos do outro?

    ¨ As mulheres não gostam de ouvir Paulo pedir-lhes a “submissão” aos maridos… No entanto, não devem ser demasiado severas com Paulo: ele é um homem do seu tempo, e não podemos exigir dele a mesma linguagem com que, nos nossos dias, falamos destas coisas. Apesar de tudo, convém lembrar que Paulo não se esquece de pedir aos maridos que amem as mulheres e não as tratem com aspereza: sugere, desta forma, que a mulher tem, em relação ao marido, igual dignidade.

    ALELUIA – Col 3,15a.16a

    Aleluia. Aleluia.

    Reine em vossos corações a paz de Cristo,
    habite em vós a sua palavra.

    EVANGELHO – Lc 2,41-52

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém,
    pela festa da Páscoa.
    Quando Ele fez doze anos,
    subiram até lá, como era costume nessa festa.
    Quando eles regressavam, passados os dias festivos,
    o Menino Jesus ficou em Jerusalém,
    sem que seus pais o soubessem.
    Julgando que Ele vinha na caravana,
    fizeram um dia de viagem
    e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos.
    Não O encontrando,
    voltaram a Jerusalém, à sua procura.
    Passados três dias,
    encontraram-n’O no templo,
    sentado no meio dos doutores,
    a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas.
    Todos aqueles que O ouviam
    estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas.
    Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados;
    e sua Mãe disse-Lhe:
    «Filho, porque procedeste assim connosco?
    Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura».
    Jesus respondeu-lhes:
    «Porque Me procuráveis?
    Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?»
    Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse.
    Jesus desceu então com eles para Nazaré
    e era-lhes submisso.
    Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração.
    E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça,
    diante de Deus e dos homens.

    AMBIENTE

    O Evangelho que nos é proposto é o final do “Evangelho da infância” de Lucas. Ora, já sabemos que a finalidade do “Evangelho da infância” não é fazer uma reportagem sobre os primeiros anos da vida de Jesus, mas sim fazer catequese sobre Jesus; nessa catequese, diz-se quem é Jesus e apresentam-se algumas coordenadas teológicas que vão, depois, ser desenvolvidas no resto do Evangelho.
    A “catequese” de hoje situa-nos em Jerusalém. A Lei judaica pedia que os home
    ns de Israel fossem três vezes por ano a Jerusalém, por alturas das três grandes festas de peregrinação (Páscoa, Pentecostes e Festa das Cabanas – cf. Ex 23,17-17). Ainda que os rabinos não considerassem obrigatória esta lei até aos treze, muitos pais levavam os filhos antes dessa idade. Jesus tem doze anos e, de acordo com o texto de Lucas, foi com Maria e José a Jerusalém celebrar a Páscoa.
    É neste ambiente de Jerusalém e do Templo que Lucas situa as primeiras palavras pronunciadas por Jesus no Evangelho. Elas são, sem dúvida, o centro do nosso relato.

    MENSAGEM

    A chave deste episódio está, portanto, nas palavras pronunciadas por Jesus quando, finalmente, se encontra com Maria e José: “porque me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?”
    O significado (a catequese) da resposta à pergunta de Maria é que Deus é o verdadeiro Pai de Jesus. Daqui deduz-se que as exigências de Deus são, para Jesus, a prioridade fundamental, que ultrapassa qualquer outra exigência. A sua missão – a missão que o Pai Lhe confia – vai obrigá-l’O a romper os laços com a própria família (cf. Mc 3,31-35).
    É possível que haja ainda, aqui, uma referência à paixão/morte/ressurreição de Jesus: tanto o episódio de hoje, como os factos relativos à morte/ressurreição, são situados num contexto pascal; em ambas as situações Jesus é abandonado – aqui por Maria e José e, mais tarde, pelos discípulos – por pessoas que não compreendem que a sua prioridade é o projecto do Pai; em ambas as situações, Jesus é procurado (cf. Lc 24,5) e tem de explicar que a finalidade da sua vida é cumprir aquilo que o Pai tinha definido (cf. Lc 24,7.25-27.45-46). Lucas apresenta aqui a chave para entender toda a vida de Jesus: Ele veio ao mundo por mandato de Deus Pai e com um projecto de salvação/libertação. Àqueles que se perguntam porque deve o Messias percorrer determinado caminho, Lucas responde: porque é a vontade do Pai. Foi para cumprir a vontade do Pai que Jesus veio ao nosso encontro e entrou na nossa história.
    Atente-se, ainda, em duas questões um tanto marginais, mas que podem servir também para a nossa reflexão e edificação: em primeiro lugar, reparemos no entusiasmo que Jesus tem pela Palavra de Deus e pelas questões que ela levanta; em segundo lugar, a “declaração de independência” de Jesus pode ajudar-nos a compreender que a família não é o lugar fechado, onde cada pessoa cresce em horizontes limitados e fechados, mas é o lugar onde nos abrimos ao mundo e aos outros, onde nos armamos para partir à conquista do mundo que nos rodeia.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão do Evangelho de hoje deve ter em conta as seguintes questões:

    ¨ Para Jesus, a prioridade fundamental a que tudo se subjuga (até a família) é o projecto de Deus, o plano que Deus tem para cada pessoa. Se os planos dos pais e os planos de Deus entram em choque, quais devem prevalecer?

    ¨ Anima-nos o mesmo entusiasmo de Jesus pela Palavra de Deus? Somos capazes de esquecer outros interesses legítimos para nos dedicarmos à escuta, à reflexão e à discussão da Palavra? Vemos nela um meio privilegiado de conhecer o projecto que Deus tem para nós?

    ¨ Maria e José não fizeram cenas diante da resposta “irreverente” de Jesus. Aceitaram que o jovem Jesus não lhes pertencia exclusivamente: Ele tinha a sua identidade e a sua missão próprias. É assim que nos situamos face àqueles com quem partilhamos a experiência familiar?

    ¨ A nossa família potencia o nosso crescimento, abrindo-nos horizontes e levando-nos ao encontro do mundo, ou fecha-nos num espaço cómodo mas limitado, onde nos mantemos eternamente dependentes?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    A semana anterior ao domingo da Festa da Sagrada Família inclui o Dia de Natal. É o tempo oportuno para a celebração do mistério do Verbo que habitou no meio de nós. É um tempo propício para meditar a Palavra de Deus servida no Natal e na Festa da Sagrada Família. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. ATENÇÃO AOS PEQUENOS GESTOS.
    O “Glória a Deus”, cântico dos anjos, é por excelência o hino do tempo de Natal. Deve ser um hino que se canta. Nesse sentido, sempre que possível, evitar recitar o Glória a Deus, procurar antes cantar todo o Hino de Glória.
    A Sagrada Família viveu ao ritmo do amor trinitário. No grande momento da doxologia (Por Cristo, com Cristo, em Cristo…), no final da Oração Eucarística, que deveria ser cantada, procurar manter bem elevado o pão e o vinho, até ao fim do “Ámen” da assembleia (muitas vezes, o “Ámen” não é dito com entusiasmo de fé e, frequentemente, o presidente da assembleia já “arrumou” o pão e o vinho antes do “Ámen”…).
    Os finais das orações “Por Nosso Senhor Jesus Cristo…” não são apêndices da oração, mas o seu coroamento. Nesse sentido, em vez de baixar os braços nesse momento, o presidente deve mantê-los erguidos (ou mesmo levantá-los um pouco mais) até ao final do “Ámen” da assembleia.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração. Exemplo para o final do Evangelho:

    “Deus nosso Pai, nós Te recomendamos os pais e as famílias, na sua missão de educar e de guiar os filhos na realização das suas vocações.
    Nós Te pedimos que o teu Espírito sustente a nossa fé no teu Filho Jesus e este amor sem limites que pedes para termos entre nós.
    Nós Te bendizemos pelo novo templo que deste ao teu Povo. É o teu próprio Filho Jesus, que nos reúne e constitui em família, que nos permite estar contigo.
    Recomendamos-Te as nossas famílias, com todas as dificuldades da educação cristã e do diálogo entre pais e filhos nas situações actuais”.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    A fidelidade é a manifestação da fé. Maria e José cumprem fielmente a peregrinação anual a Jerusalém, aí se associam a Jesus. Este fará, vinte anos mais tarde, a sua peregrinação, a sua Páscoa, e andará de novo “perdido” durante três dias, antes de ser “reencontrado”, desta vez pelos seus discípulos, na manhã de Páscoa. O
    questionamento faz parte da fé. Maria e José estão “estupefactos” e interrogam Jesus: “Porque nos fizeste isto?” E não compreendem a resposta do seu filho. Maria “guardava tudo isso no seu coração”, sem dúvida para não esquecer. A meditação permite entrar no pensamento de Deus para se lhe submeter. Se Jesus, voltando a Nazaré, era submisso a seus pais, estes aceitarão submeter-se à vontade de Deus. Maria disse o “sim” da anunciação, para que tudo se realizasse segundo a vontade de Deus. Um “sim” que ela voltará a dizer ao pé da cruz, mesmo no questionamento… Maria e José realizaram uma verdadeira peregrinação efectuando, não somente a caminhada de Nazaré a Jerusalém, mas sobretudo a caminhada do questionamento ao acto de fé.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Rezamos para que o Senhor nos dê a graça de praticar, a exemplo da Santa Família, as virtudes familiares. Não é fácil, parece mesmo irrealista esta oração… Como imitar a santidade de Jesus, o Filho de Maria? Maria estava sem pecado, José era um homem justo, perfeitamente ajustado à vontade de Deus. Em plenitude, nenhuma família pode viver como a Família de Nazaré, bem sabemos! Mas o modelo que nos é apresentado por Lucas é o modelo da família concreta de Nazaré, com o acompanhamento de todas as etapas de crescimento do filho Jesus, com toda a atenção e cuidado de Maria e José, com momentos de zanga dos pais quando Jesus ficou com os doutores no templo… Uma família perseverante e confiante! Assim, a Família de Nazaré torna-se muito próxima de nós. É a mesma missão para as nossas famílias: oferecer a cada filho um lugar de crescimento, um lugar de enraizamento onde a seiva da vida possa buscar a sua força, para que os frutos cheguem à maturidade. É uma tarefa árdua, longa, difícil, com alegrias e tristezas, conquistas e fracassos… Podemos pedir a Jesus, Maria e José para nos acompanharem neste caminho: eles passaram por isso e compreendem-nos bem!

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística I, com as variantes próprias da Festa de Natal e a evocação mais desenvolvida dos santos que são “nossa família”: Maria, José, Ana e Joaquim, Isabel, Zacarias, João Baptista, Santos Apóstolos e Mártires…

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
    · No final do Evangelho, Lucas diz que “Maria guardava todos estes acontecimentos no seu coração”. Noutra passagem, Jesus diz que aquele que está na boa terra é o que escuta a palavra com um coração leal e bom, a guarda no coração e produz frutos… Esta palavra de Jesus aplica-se à sua mãe. Voltamos para as nossas famílias. Serão santas, se o nosso coração, como o de Maria, for leal e bom; se, como Maria, guardarmos a Palavra de Jesus; se, com a mesma perseverança de Maria, produzirmos frutos para a maior glória de Deus. É uma semana importante, com a passagem de ano (embora o verdadeiro início de ano para os cristãos seja o 1º Domingo do Advento!), a Festa da Mãe de Deus e o Dia Mundial da Paz. Que a Palavra de Deus seja companhia e luz para os nossos corações, nas nossas famílias, no nosso mundo. Façamos por isso…
    · Sempre em conversão… Viver verdadeiramente o “espírito de família” e o amor fraterno não é fácil: é preciso converter-se continuamente… Esta semana, procuremos ir ao encontro de alguma pessoa com quem não temos tido grande relacionamento fraterno. Não é fácil, mas é o apelo de Deus, sempre exigente e pleno de felicidade…

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João

    Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João


    27 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 1,1-4

    Caríssimos: 1*0 que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, 2* de facto, a Vida manifestou-se; nós vimo-Ia, dela damos testemunho e anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós- 3*0 que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4*Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja completa.

    No breve prólogo à sua Primeira Carta, S. João expõe os critérios para entrarmos em comunhão com Deus. Oferece-nos também um itinerário de fé, e indica as defesas a usar contra o pecado.

    João fundamenta a fé cristã no «Verbo da vida», de que dá testemunho, indicando, e descrevendo de modo sintético, as suas etapas essenciais. Mas, ao contrário do Prólogo do seu evangelho, onde acentua o «Verbo», aqui acentua a «vida», que Jesus possui e dá. Tudo começa com a experiência pessoal do apóstolo, no contacto com Jesus: «o que ouvimos, o que vimos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida» (v. 1). Esta experiência torna-se testemunho e exemplo coerente (v. 2), anúncio corajoso, que gera comunhão entre aqueles que o escutam e abraçam a fé, e comunhão com o próprio Pai e com o seu Filho Jesus (v. 3). Esta comunhão, por sua vez, gera a alegria do coração (v. 4).

    A palavra «nós» põe-nos diante da tradição da escola joânica, que desenvolve o testemunho do discípulo amado, fundado na «vida divina» tornada visível em Jesus.

    Evangelho: João 20, 2-8

    2*No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o querido de Jesus, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» 3pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Inc/inou¬se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas não entrou. 6*Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, 7* ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. 8Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer.

    João dá-nos neste texto uma síntese dos acontecimentos verificados na manhã da Páscoa, em que são protagonistas Maria Madalena, Pedro e ele próprio. A noite espiritual em que tinham mergulhado os apóstolos está para dar lugar à experiência de fé, que começa junto ao túmulo vazio, sinal da presença do Ressuscitado (v. 2). Ao receberem a notícia de que fora retirada a pedra do sepulcro, e de que o corpo de Jesus lá não estava, Pedro e João foram verificar o que sucedera. A sua corrida revela amor e veneração, e faz pensar na Igreja que procura sinais visíveis do Senhor, especialmente quando se encontra em dificuldade e não consegue vê-lo. João chega primeiro do que Pedro ao sepulcro, devido à sua intuição amorosa de discípulo amado, mas é Pedro quem entra por primeiro, devido à sua função eclesial (vv. 5- 7). Depois de observar a ordem das várias coisas que se encontravam no sepulcro, e a paz que nele reinava, o discípulo amado abre-se à visão da fé, acreditando nos sinais visíveis do Senhor: «Viu e começou a crer» (v. 8). Ainda não é a fé plena na Ressurreição. Isso só acontecerá quando o seu espírito se abrir à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24, 45), quando vir a pessoa do Senhor e receber o dom do Espírito Santo, isto é, quando tiver percorrido todo o itinerário da fé.

    Meditatio

    S. João é uma figura de fundamental importância na Igreja primitiva. De facto, é o discípulo amado que ensina a contemplar em Jesus, o Filho de Deus feito homem, para nos revelar o rosto do Pai e o caminho que leva à comunhão com Ele. Por esta razão, João é chamado teólogo. Os seus escritos levam a acreditar em Jesus Messias e Filho de Deus (cf. Jo 20, 31). O seu símbolo é a águia porque, como refere uma sentença rabínica, a águia é a única ave que consegue fixar o sol sem cegar. Para João, o sol é Cristo. A sua presença na comunidade descobre-se pela contemplação e pela inteligência da Palavra de vida. A vida, na sua realidade mais profunda, é «a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós». Jamais contemplaremos suficientemente este mistério de vida que se tornou perceptível para nós em Jesus, Filho de Deus, a vida eterna que estava junto do PaiO

    S. João faz-nos compreender quanta profundidade se encontra na pessoa do Filho, na sua união com o Pai, na sua comunhão com Eleffi Incarnação tem por objectivo tornar-nos participantes nessa comunhão divina: estamos «em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo». A Incarnação aconteceu em vista da comunhão. Isto é espantoso. A carne é causa de divisão! Por causa dela, estamos num lugar e não noutro. Podemos chegar até às pessoas queridas pelo pensamento. Mas a carne impede-nos estar em comunhão com elas. E quantas discussões, litígios e divisões por causa dos bens materiais! O Filho de Deus, ao assumir a nossa carne, tornou-a meio de comunhão. Tudo o que assumiu se tornou instrumento de comunhão com Deus e entre nós. Na Eucaristia, onde a carne de Cristo se põe ao serviço da comunhão, fazemos a comunhão, isto é, recebemos a comunhão com o Pai e a comunhão entre nós. Para isso, Cristo teve de sacrificar a sua carne, teve de entregá-Ia aos inimigos, para fazer dela um sacrifício agradável, um sacrifício perfeito. Então, a vida mostrou toda a sua força.

    O evangelho de hoje leva-nos até à Páscoa, mostra-nos a meta alcançada: a vida venceu a morte e manifestou-se. O que João viu foi esta vitória da vida, manifestada no sepulcro pelas ligaduras, pelo sudário. O corpo de Cristo já não está no sepulcro, porque a vida triunfou. Mas Jesus incarnado está sempre connosco, porque a vitória sobre a morte foi alcançada para nós.

    Uma outra lição que podemos tirar do evangelho de hoje é o respeito pelos carismas, que são muitos na Igreja, para bem da mesma Igreja. João, que tem o carisma da profecia, é respeitado Pedro, que tem o carisma da instituição. O respeito pelo
    s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.

    Com S. João, também nós somos chamados a "conhecer", isto é, fazer experiência de vida e a "crer", isto é, a aderir com todo o coração e com toda a nossa pessoa, "ao amor que Deus nos tem"? (1 Jo 4, 16), amor manifestado no Verbo Incarnado. Esse inefável "amor que Deus nos tem ... !", de que João é «doutor», no dizer do Pe. Dehon, é o grande mistério para todo o cristão e, em particular, para todo o oblato-SCJ.

    É este mistério que queremos proclamar diante da Eucaristia, diante do Crucificado de Lado aberto, diante da nossa vocação de Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus.

    Oratio

    Senhor Jesus Cristo, que revelaste a João, teu discípulo amado, os misteriosos segredos da Palavra, dá-nos também a nós, hoje, e a toda a Igreja, uma nova inteligência espiritual das Escrituras. Assim poderemos iluminar, cada vez mais, a nossa vida espiritual, e aprender a tua ciência sublime.

    Concede à Igreja pastores sábios e santos, capazes de colher o sentido espiritual e profundo das Escrituras e introduzir o povo de Deus na tua intimidade. Assim todos poderemos conhecer o teu Coração, o teu pensamento, a profundidade do teu Espírito e o modo como conduzes a história da Igreja.

    Por intercessão do teu discípulo amado, faz-nos experimentar o amor do teu Coração, e torna-nos assíduos e delicados no teu serviço. Sempre, e em toda a parte, queremos, como S. João, realizar a tua vontade sobre nós. Ajuda-nos!

    Contemplatio

    S. João teve com Jesus os laços mais íntimos: foi seu parente, seu discípulo, seu amigo, seu herdeiro. Tiago e João eram filhos de Salomé, parente de Maria. Eram chamados irmãos de Jesus. Era costume chamar irmãos os parentes próximos. João deve ter conhecido Jesus menino.

    Ligou-se a Ele, primeiro como discípulo com Santo André (Jo 1, 37). Tendo ouvido João Baptista chamar Jesus Cordeiro de Deus, deleitou-se com esse nome, meditava-o sem cessar, e lembra-o muitas vezes no Apocalipse.

    S. João está sempre junto de Jesus. Quando Jesus toma aparte alguns apóstolos, para os mais belos milagres, para a transfiguração, para a agonia, S. João está sempre.

    Senta-se junto de Jesus. S. Pedro sabe bem que João é o amigo e que, por meio dele, pode conhecer os segredos que Jesus não revela a todos.

    S. João pode narrar em pormenor os discursos de Jesus depois da Ceia porque os ouviu melhor que os outros.

    S. João ama como é amado. Segue Jesus por todo o lado (Petrus vidit iI/um sequentem). Segui-Io-á até ao Calvário. Assiste à morte de Jesus, ao golpe misterioso da lança, à sepultura. Vê de perto o lado de Jesus aberto. Abraça-o, sem dúvida, como um dia havia de fazer S. Francisco (Haurietis aquas in gáudio).

    S. João é o herdeiro de Jesus, que lhe legou a sua mãe e necessariamente com ela as habitações de Nazaré e as lembranças.

    Jesus disse a Pedro que João devia esperá-lo e recebe-lo na terra. Hão rever-se em Patmos. João reencontrará lá o divino Cordeiro de lado aberto: Agnum occisum ... quem pupugerunt.

    Ó divina amizade, que merece contemplação e admiração eterna! (Leão Dehon, OSP 4, p. 591s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    « O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14).

  • Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal


    28 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1João 1, 5-2, 2

    Caríssimos:5*Eis a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. 6*Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. 7*Pelo contrário, se caminhamos na luz, do mesmo modo que Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado. 8*Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. 9*Se confessamos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade. 10Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

    1*Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, 2*pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo.

    A festa dos Santos Inocentes, colocada tão perto do Natal, realça não só o dom do martírio, mas também a grande verdade que a morte do inocente revela: a maldade do pecador, como Herodes, semeia ódio e morte, enquanto o amor do justo inocente, como Jesus, traz frutos de vida e salvação. S. João também nos apresenta o mundo divido em duas partes: a luz, o mundo de Deus, e as trevas, o mundo de Satanás. Quem caminha na luz e pratica a verdade (cf. vv. 7-8), vive em comunhão com Deus e com os irmãos, e é purificado de todo o pecado pelo sangue de Jesus derramado na cruz. Quem, pelo contrário, caminhas nas trevas e não pratica a verdade (cf. vv. 6.8), engana-se a si mesmo, não vive em comunhão com Cristo nem com os irmãos, está longe da salvação. Os verdadeiros crentes reconhecem, diante de Deus, o seu pecado, confessam-nos e confiam no Senhor «fiel e justo» (v. 9), são salvos. Os maus, pelo contrário, que não reconhecem os seus pecados, tornam vão o sacrifício de Cristo, e a sua Palavra de vida não os pode transformar interiormente.

    Ao terminar, João exorta os cristãos a recorrerem a Jesus como advogado junto do Pai (cf. v. 1), porque é Ele que expia os pecados dos fiéis e os da humanidade inteira. O cristão não deve pecar, mas, se pecar, o melhor que tem a fazer é reconhecer o seu pecado e confiar na misericórdia d´Aquele que o pode livrar da pobreza moral e restituí-lo à comunhão com Deus.

    Evangelho: Mateus 2, 13-18

    13*Depois de os Magos partirem, o anjo do Senhor apareceu, em sonhos, a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» 14*E ele levantou-se, de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, 15*permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho. 16*Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido dos magos. 17Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera: 18*Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e

    Caixa de texto: Tempo do Natal 28|Dezembro > Festa dos Santos Inocentes
    um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem.

    Mateus narra uma das provações da família de Nazaré. Depois de os Magos partirem, advertidos pelo Anjo do Senhor, José e Maria tiveram de fugir com o Menino para o Egipto, para escaparem ao ódio de Herodes. Na sua loucura, tinha decidido matar todos os recém- nascidos em Belém (cf. vv. 14-16). A Sagrada Família vive uma dolorosa perseguição, que a leva a fugir da sua terra e a lança numa aventura cheia de incertezas.

    Mateus sugere que a Sagrada Família não goza de qualquer privilégio em relação às outras. Jesus é um Deus no meio de nós, mas a sua glória esconde-se numa aparente derrota. Não O buscam apenas os Magos. Também Herodes O procura. Mas suas intenções são diferentes: os Magos querem adorá-lo; Herodes quer matá-lo. Jesus é sinal de contradição desde o seu nascimento.

    Na realidade, a narrativa evangélica evidencia um outro tema: a aventura humana de Jesus, desde a sua infância, é lida à luz da história de Moisés e do seu povo. Tanto o nascimento de Moisés, como o de Jesus, coincidem com a matança de meninos hebreus inocentes (Ex 1, 8-2,10 e Mt 2, 13-14); ambos se dirigem para o Egipto (Ex 3, 10; 4, 19 e Mt 2, 13-14); ambos realizam a palavra: «do Egipto chamei o meu filho» (Ex 4, 22; Os 11, 1 e Mt 2, 15). Finalmente a profecia de Raquel que chora os seus filhos (Jer 31, 15) recorda-nos que Jesus permanece o Messias procurado e recusado, em quem se realizam as promessas de Deus e as esperanças dos homens.

    Meditatio

    Causa-nos um certo choque celebrar o martírio dos Inocentes apenas três dias depois do Natal, festa da família, da alegria e da paz. Mas esta festa ajuda-nos a compreender mais profundamente o Natal de Cristo.

    Contemplámos o Menino do presépio, que, como sabemos não é um menino qualquer. Pretende tornar-se rei de todos os corações; por isso, não pode deixar de encontrar resistência e oposição. Apresenta-se como Luz do mundo, mas as trevas não se deixam iluminar, sem luta, sem sofrimento. A festa dos Inocentes mostra-nos que essa luta começa muito cedo.

    Essa luta começa dentro de nós, como vemos na primeira leitura. Porque somos pecadores, estamos de algum modo do lado de Herodes, recusamos o Salvador e precisamos de conversão para acolhe
    r a luz que nos perturba. «Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós», escreve S. João. Hoje começa a obra da nossa salvação e a primeira coisa a fazer é reconhecer que precisamos de ser salvos.

    O evangelho narra precisamente a fuga da Sagrada Família para o Egipto e a matança dos Inocentes. Mateus, partindo dos dados históricos, recompõe-os, lendo-os na fé e transfigurando-os à luz do mistério que encerram: o Menino Jesus, que se entrega nas mãos dos homens, não é alguém que foge do inimigo por medo, mas é o verdadeiro vencedor, porque é na sua obediência livre que revela ao homem o rosto do Pai e o amor gratuito com que se entregou a nós. Se o mundo recusa a Cristo, o derrotado não é Cristo, mas o mesmo mundo. Se a recusa de Cristo e a sua marginalização são momentos de humilhação que revelam a sua fraqueza humana, são também o início do seu triunfo, por causa da glorificação que dará ao Pai.

    Também nós podemos recusar Cristo e ser culpados de pecado, renegando o amor de Deus. Mas acreditamos que, apesar de tudo, os nossos pecados não são um obstáculo permanente à comunhão com Deus, graças à sua misericórdia a que podemos recorrer.

    Sigamos o convite do Pe. Dehon: «Sigamos os pastores e vamos ao presépio beber uma vida nova, uma força nova para doravante seguirmos com coração a direcção da graça... Lancemos um olhar também para as pequenas vítimas imoladas por Herodes, os santos Inocentes. Deixemo-nos imolar pela espada do sacrifício, da obediência e da abnegação» (OSP 4, p. 598-599).

    Oratio

    Senhor Jesus, que por nós Te fizeste homem, que por nós morreste e ressuscitaste, Tu és o nosso único advogado junto do Pai quando pecamos e nos afastamos de Ti. Muitas vezes quebramos a Aliança contigo, e outras tantas a restabeleceste, sem Te cansar, manifestando a riqueza da tua bondade e do teu perdão. Não deixes de ser o nosso defensor. Sê também o defensor da nossa humanidade que massacra tantos inocentes, crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres.

    Tu, que experimentaste a situação dos refugiados, tem compaixão dos milhões de homens e mulheres que, ainda nos nossos dias, têm que abandonar as suas terras, os seus países, para escaparam às diferentes formas de perseguição, às guerras, aos massacres, aos genocídios.

    Pela tua Incarnação, pela tua Morte e Ressurreição, concede ao nosso mundo a graça de encontrar o caminho da justiça e da paz. Amen.

    Contemplatio

    Jesus menino quis distribuir as suas primeiras palmas a crianças. É um ramo de mártires em flores que ele colheu para si, quase no dia seguinte ao seu nascimento.

    O Coração de Jesus ama as crianças. Ele devia manifestá-lo solenemente mais tarde ao chamar para junto de si numerosas crianças para as abençoar, apesar da repugnância dos seus apóstolos. «Deixai vir a mim as criancinhas, devia dizer-lhes. Eu amo as crianças e aqueles que se lhes assemelham, e amaldiçoo aqueles que as escandalizam.

    Mas o Coração de Jesus tem modos de amor que a natureza não compreende sem o socorro da graça. Jesus menino sabe que a palma do martírio será uma das maios belas recompensas do seu céu. Ele entrevê antecipadamente esta guarda de honra cantada por S. João, e que estará vestida de branco com uma palma na mão e que há-de seguir por toda a parte o Cordeiro divino, o Rei dos mártires no céu. Ele quer inserir aí crianças, porque as ama, e permite a perseguição de Herodes e o massacre dos inocentes de Belém. É o primeiro grupo de santos do Novo Testamento, que vai esperar no Limbo a ressurreição de Jesus e a abertura do céu. As gotas de sangue da Circuncisão e as lágrimas do presépio fizeram germinar e florir este ramo de mártires.

    Oh! Como nós devemos amar sobrenaturalmente as crianças! Como as devemos amar para as formar na virtude e sobretudo para lhes ensinar a conhecer o Sagrado Coração de Jesus! (Pe. Dehon, OSP 2, p. 223).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «O sangue de Jesus purifica-nos de todo o pecado» (1 Jo 1, 7).

  • Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal


    29 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1João 2, 3-11

    Caríssimos:3*Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. 4*Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso, e a verdade não está nele; 5*ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. 6*Quem diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou. 7*Caríssimos, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que já tínheis desde o princípio: este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8*É, contudo, um mandamento novo o que vos escrevo .o que é verdade nele e em vós. pois as trevas passaram e a luz verdadeira já brilha. 9*Quem diz que está na luz, mas tem ódio a seu irmão, ainda está nas trevas. 10Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. 11Mas quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.

    O caminho para conhecer a Deus e permanecer nele é, pela negativa, «não pecar» (cf 1 Jo 1, 5-2,2) e, pela positiva, guardar os mandamentos, especialmente o do amor a Deus ( vv. 3-6) e aos irmãos 8vv. 8-11). O conhecimento de Deus comporta, pois, exigências de vida, ao contrário da gnose, filosofia religiosa popular do tempo de Jesus, que apenas exigia a libertação do mundo visível. Opondo-se a essa doutrina, que excluía o pecado e a existência de qualquer moral, João afirma que o verdadeiro conhecimento de Deus deve ser autenticado pela observância dos mandamentos. De facto, quem guardar a «sua palavra» (v. 5) experimenta o amor de Deus e mora nele, porque vive como Jesus viveu, e tem dentro de si uma realidade interior que o impele a imitar a Cristo, cujo exemplo de vida é precisamente o amor (v. 6).

    Este mandamento do amor é novo e antigo: «novo», porque gera vida nova e deve sempre redescobrir-se; «antigo», porque foi ensinado desde o início do anúncio cristão. O verdadeiro critério de discernimento do espírito de Deus é o amor fraterno, porque ninguém pode estar na luz de Deus e odiar o próprio irmão.

    Evangelho: Lucas 2, 22-35

    22*Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23*conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25*Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26*Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito, 28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29*«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, 30*porque meus olhos viram a Salvação 31que oferecestes a todos os povos, 32*Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo.» 33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34*Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua

    Caixa de texto: Tempo do Natal 29|Dezembro
    mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35*uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»

    A apresentação de Jesus no templo tem como horizonte teológico o quadro da antiga aliança que dá lugar à nova aliança, pelo reconhecimento do menino Jesus como o Messias sofredor, o Salvador universal dos povos. A narrativa está cheia de referências bíblicas (cf. Ml 3; 2 Sam 6; Is 49, 6), e compõe-se de duas partes: a apresentação da cena (vv. 22-24) e a profecia de Simeão (vv. 25-35).

    Maria e José, obedientes à lei hebraica, entram no templo como membros simples e pobres do povo de Deus, para oferecerem o primogénito ao Senhor e para purificação da mãe (cf. Ex 13, 2-16; Lv 12, 1-8). A oferta do Menino revelam confiança e abandono em Deus, antecipação da verdadeira oferta do Filho ao Pai, que se realizará no Calvário. O centro da cena é a profecia de Simeão, homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel (cf. v. 25). Guiado pelo Espírito, vai ao templo e, reconhecendo em Jesus o Messias esperado, saúda-o festivamente e faz uma confissão de fé: realizaram-se as antigas profecias; ele viu o Salvador, a glória de Israel, a luz e salvação de todos os povos. Mas essa luz terá o reflexo do sofrimento, porque Jesus há-de ser «sinal de contradição» (v. 34) e a própria Mãe será envolvida o destino de sofrimento do Filho (v. 35).

    Meditatio

    A contemplação do encontro de Simeão com o Menino Jesus, deixa-nos entrever a alegria imensa de quem vê realizar-se um desejo antigo, próprio e de todo o povo. Simeão contempla e recebe nos braços o Messias de Israel, Aquele que traz consolação, salvação, luz e glória a Israel.

    As palavras «impelido pelo Espírito, veio ao templo» podem trazer inspiração para a nossa vida. Simeão é um homem dócil ao Espírito Santo e, por isso, pode ter a alegria de encontrar o Messias, tomá-lo nos braços e bendizer a Deus. Homem justo e temente a Deus, observava, não os mandamentos, mas também as inspirações de Deus. Estava atento à voz do Espírito para, em todas as circunstâncias, fazer a vontade de Deus. Assim caminhava na luz, para conhecer a Jesus, como ensina S. João. Coube-lhe a honra de oferecer a Deus aquele menino. Fê-lo certamente com o arrebate que notamos no seu hino. Mas estava ain
    da longe de compreender plenamente o alcance do seu gesto. Escreve o Pe. Dehon: «Enquanto que o velho Simeão o oferece assim, Deus não vê nas mãos do sacerdote senão o Coração do seu Filho, que se oferece a si mesmo, este Coração animado de uma generosidade infinita, este Coração tão grande pelo amor, que é pequeno fisicamente. O santo ancião não compreende toda a excelência deste dom que ele faz a Deus da parte dos homens; adivinha-o um pouco, entrevê-o profeticamente. O Coração de Jesus compreende todo o valor desta oferenda, é ao mesmo tempo o doador e o dom, o Sacerdote e a oblação» (OSP 3, p. 218).

    Cristo entregava-se para glória e alegria do Pai e para salvação da humanidade. Amar a exemplo de Cristo, significa entregar-se, esquecer-nos de nós mesmos, procurar os interesses dos outros até ao sacrifício dos próprios interesses. A atitude evangélica de quem se coloca na verdade é o dom de si mesmo a Deus e aos irmãos. A vida cristã é amor que se dá a todos com generosidade.

    O fundamento deste amor é a própria Trindade, a comunhão que une o Pai e o Filho.

    Isto faz-nos compreender que o amor cristão não se limita à comunidade cristã, em que cada um de nós vive, porque o amor fundado sobre o amor do Pai e vivido em plenitude entre os irmãos na fé é um elemento de dinamismo apostólico. Com quanto maior profundidade se viver a fé e o amor, mais nos sentimos impelidos ao testemunho. Onde reinar esse amor recíproco, os discípulos tornam-se sinal histórico e concreto de Deus-Amor no mundo.

    Oratio

    Senhor Jesus, a tua vida escondida, e confundida com a da gente comum, é para nós um exemplo de simplicidade e de pobreza. Como qualquer primogénito do teu povo, quiseste ser apresentado ao templo e oferecido a Deus, para cumprires a Lei. Fizeste-te reconhecer como Salvador universal por Simeão, um homem justo e aberto à novidade do Espírito. É aos simples e aos humildes que Te costumas revelar, e não aos sábios e orgulhosos.

    Nós Te pedimos que, apesar da nossa miséria e da nossa incapacidade em nos darmos conta da passagem do teu Espírito na nossa vida, nos dês a graça de Te reconhecermos como nossa luz e como luz do mundo.

    Nós Te louvamos e bendizemos, com o velho Simeão, pela realização das tuas promessas. Ajuda-nos a viver tudo quanto nos ensinaste, especialmente o amor fraterno. E que toda a nossa vida seja oblação ao Pai, em favor da humanidade, pela qual Tu próprio Te ofereceste. Amen.

    Contemplatio

    Simeão, homem justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo, que estava nele, tinha-lhe dito que não morreria sem ver o Cristo do Senhor. Ele esperava, era a sua vida, e a sua confiança era inabalável.

    Mas será que eu peço e espero o reino de Nosso Senhor? Quão depressa fico sem coragem! Uma decepção, uma oração aparentemente infrutífera, uma demora da Providência, e deixo-me abater. Rezar, esperar, ter confiança, isto é a vida cristã.

    É um dia de alegria para Simeão. Naquele dia, os seus pressentimentos realizam-se. Vem ao Templo, encontra uma criança com a sua mãe. É o redentor! O vidente compreendeu- o.

    E quando recebe Jesus nos seus trémulos braços, não consegue conter as lágrimas: «Agora posso morrer, diz, vi a salvação...» A terra já não tem encanto para ele. Os seus olhos já não se interessariam por mais nada. Viu o Senhor, irá esperá-lo no silêncio dos limbos.

    Oh! Porque é que não sei esperar e perseverar na oração? Alegrias profundas viriam recompensar-me e encorajar-me.

    Como Simeão é belo quando, com os olhos banhados de lágrimas, ergue com os seus trémulos braços o menino Jesus para o céu, cantando o seu Nunc dimittis! Viu o Senhor, é ter vivido muito, é viver muito ainda. «Agora, diz, podeis, Senhor, deixar ir em paz o vosso servo... O túmulo não me assusta, certo como estou de já não estar muito tempo separado de vós... Permiti que vá anunciar aos vossos santos que já não têm muito tempo que esperar por vós, porque os meus olhos viram a salvação que preparastes para os povos, a luz que deve iluminar as nações e a glória de Israel vosso povo» (Leão Dehon, OSP 3, p. 126).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Quem ama o seu irmão permanece na luz» (1 Jo 2, 10).

  • Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal


    30 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 12-17

    12*Eu vo-lo escrevo, filhinhos: Os vossos pecados estão-vos perdoados pelo nome de Jesus. 13*Eu vo-lo escrevo, pais: Vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevo, jovens: Vós vencestes o maligno. 14Eu vo-lo escrevi, filhinhos: Vós conhecestes o Pai. Eu vo-lo escrevi, pais: vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevi, jovens: Vós sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e vós vencestes o Maligno. 15*Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16*Pois tudo o que há no mundo ..a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso . não vem do Pai, mas sim do mundo. 17*Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre.

    João dirige-se afectuosamente à comunidade cristã para que seja coerente com o projecto de salvação e com as opções que fez em relação a Deus e ao mundo. Assim poderá manifestar o seu amor para com Deus.

    Escrevendo aos filhos, exorta-os a reflectir sobre a situação actual de salvação em que vivem, pois obtiveram o perdão dos pecados (v. 12) e conheceram o Pai (v. 14ª). Escrevendo aos pais, recorda-lhes que conheceram Jesus, «aquele que existe desde o princípio» (v. 13), por meio da Palavra, pelo que se exige deles uma fé madura que não os deixe ser seduzidos pelo mundo. Aos jovens recorda que aderiram a Jesus e venceram o mal (v. 13), e que a sua fortaleza espiritual, reforçada pela palavra de Deus, os exclui de compromissos com as fáceis atracções do mundo (v. 14).

    Este projecto de vida espiritual resume-se numa vida separada da lógica do mundo, entendido como reino do mal que se opõe a Deus. Deus e mundo são duas realidades opostas. João menciona alguns aspectos que pertencem à transitoriedade do mundo, inimigo de Deus: «a concupiscência da carne», isto é, as tendências más que existem no homem decaído e inclinado ao pecado; «a concupiscência dos olhos», isto é, a cobiça que pode entrar pelos olhos, tal como a avidez pelos bens terrenos; «o estilo de vida orgulhoso», isto é, o orgulho fundado na concepção materialista da vida.

    A separação do mundo tem, para os cristãos, uma razão de ser: vivem no mundo, mas sabem que, enquanto o mundo passa, Deus permanece (v. 17).

    Evangelho: Lucas 2, 36-40

    36Quando os pais de Jesus levaram o Menino a Jerusalém, a fim de o apresentarem ao Senhor, estava no templo uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37*ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38*Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40*Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

    Caixa de texto: Tempo do Natal 30|Dezembro
    O texto do evangelho que lemos hoje é a conclusão do episódio da apresentação de Jesus ao templo. Consta de duas partes: o testemunho da profetiza Ana (vv. 36-38) e o regresso da Sagrada Família a Nazaré (vv. 39-40).

    De acordo com a lei dos hebreus, para garantir a verdade de um facto, exigia-se a deposição de duas testemunhas. Depois do testemunho de Simeão, vem o de Ana. É outra "pobre de Deus", típica representante daqueles que aguardavam a redenção de Israel. Louva o Senhor porque reconheceu no Menino Jesus, apresentado ao templo, o Messias esperado, e espalhou a notícia entre aqueles que viviam disponíveis para o evento da salvação (v. 38).

    A cena conclui-se com a observação de Lucas sobre o crescimento de Jesus, em Nazaré: «o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele» (v. 40). Diz-se muito pouco sobre a vida oculta de Jesus. Mas, o pouco que se diz, é suficiente para captarmos o espírito e apreciarmos o ambiente onde viveu o Salvador: os seus pais eram obedientes e fiéis à Lei, Jesus crescia em sabedoria, cheio como estava dos dons da graça de que o Pai o cumulava (cf. v. 52; 1 Sam 2, 26). Estamos perante uma comunidade que se abre ao reino de Deus, no respeito pela vontade do Pai.

    Meditatio

    A profetiza Ana, uma anciã com 84 anos, número bíblico que simboliza a perfeição (resulta de 12×7), pois está no fim dos seus dias, sugere uma comparação com o ano civil que também está a terminar. Ana, depois de 7 anos de casamento, permaneceu no templo, servindo a Deus dia e noite com jejuns e orações. Por isso mereceu a graça do encontro com o Salvador. O nosso ano civil também está muito velho, e termina com o encontro do Senhor no Natal. Esse encontro é tanto mais belo e frutuoso quanto tiver sido cuidada a preparação. Mas, apesar de toda a nossa infidelidade, o Senhor, na sua infinita bondade e misericórdia, vem até nós, e dá-se a conhecer como nosso Salvador. Por isso, também nós, como Ana e, afinal, como Maria e todos os que esperavam a salvação de Israel, podemos entoar hinos de louvor e gratidão ao Senhor.

    Este encontro com o Senhor traz-nos a salvação, insere-nos numa nova forma de vida, com a qual havemos de ser coerentes, para manifestarmos o nosso amor a Deus. A vocação cristã, a que fomos chamados, compromete-nos a viver no mundo a serviço do homem, para testemunhar a Cristo e levar a todos a sua mensagem de salvação. Vivemos no mundo, mas sem nos confundirmos com ele, nem cedermos a compromissos
    com ele. Caso contrário, negamos o espírito de humildade, de pobreza, de caridade que deve animar a nossa vida de crentes. Só o coração que se esvaziar do mundo, das suas propostas de vida transitórias e da avidez pelos seus bens efémeros, podem ser cumulado do amor do Pai (cf. 1 Jo 2, 15).

    O discípulo de Jesus jamais será aceite pelo mundo, por causa da sua opção de vida, contrária às propostas e interesses mundanos. Os crentes, por causa da sua eleição e da sua opção de vida por Cristo, são considerados estranhos e inimigos do mundo. Por isso é que o homem de fé é odiado e recusado. O mundo recusa os discípulos porque não são seus. Perturbam a sua paz, desmascaram o seu orgulho, acusam o seu conformismo. Mas, se Cristo permanece sinal de contradição para quem segue a lógica do amor, também é certo que tanta oposição se torna critério de autenticidade e de solidez para os discípulos de Cristo.

    Como cristãos e, mais ainda, como religiosos, estamos "no mundo", mas não somos "do mundo" (cf. Jo 17, 11-14). As nossas Constituições dizem-nos que estamos inseridos no mundo, "segundo a nossa vocação específica" (n. 61), isto é, que devemos conservar e viver a nossa identidade de oblatos, servindo o Senhor noite e dia, e servindo os homens, segundo o nosso carisma específico e a missão a que somos chamados. Se assim não for, condenamo- nos à esterilidade em relação a nós mesmos, à Igreja, ao mundo, e esvaziamos de significado a nossa missão (cf. ET 52).

    A vivência da nossa vocação e missão não está livre de oposições. Sabemos quantas dificuldades o Pe. Dehon teve que enfrentar durante a sua longa vida e como elas acabaram por revelar a autenticidade e a solidez da sua santidade e do seu carisma. Escreve na meditação para o último dia do ano: «O ano teve, sem dúvida, sofrimentos e tristezas. Seria heróico agradecer a Deus essas provações que, nos seus desígnios sobre nós, têm a finalidade de nos purificar e santificar... Bendigamos a Deus e pensemos nas alegrias eternas que hão-de recompensar as provações actuais» (OSP 4, p. 604).

    Oratio

    Senhor Jesus, Tu quiseste viver numa família humana sem aparência, prestígio ou riqueza, a tua experiência humana. A tua vida de criança foi marcada pela fragilidade e pelo crescimento normal. Trabalhaste para ganhar o pão de cada dia. Viveste no escondimento e na reflexão silenciosa a preparação para a vida pública. Assim experimentaste a condição humana e venceste o orgulho do mundo.

    Dá-nos a graça de acolhermos, com alegria e gratidão, a nossa fragilidade humana, a nossa história, a nossa família, a terra onde nascemos. Dá-nos a graça de aceitarmos a nossa fragilidade espiritual, sem todavia renunciarmos à busca permanente da tua sabedoria e da tua Palavra.

    Dá-nos a graça de sermos coerentes com a opção que fizemos por Ti, no Baptismo, na profissão religiosa. Que, jamais, a pretexto de inserção no mundo, nos deixemos confundir com ele, com os seus ideais e interesses. Que, a pretexto de não-violência, jamais desçamos a compromissos com o mundo, entendido como conjunto de forças que se opõem a Ti e ao teu Reino.

    Que, tendo-Te aceitado como Salvador e Senhor da nossa vida, aceitemos também partilhar um destino semelhante ao teu. Amen.

    Contemplatio

    Ana, filha de Fanuel, mulher venerável, cheia de anos e de graças, também estava lá. Tinha o costume de rezar longamente todos os dias no Templo, e esperava como Simeão a vinda do Messias.

    Como Simeão, ela reconheceu o menino divino e sua mãe, e isto foi para ela a mesma alegria e a mesma acção de graças. Exultava e anunciava a boa nova a todas as pessoas piedosas que esperavam a redenção de Israel.

    E eu, eu recebo Nosso Senhor na sagrada comunhão. Recebo-o mesmo mais intimamente que Simeão. Vem dar-me a sua graça. Qual é o meu fervor para o receber? Como é que lhe testemunhei até aqui a minha alegria, o meu respeito, o meu reconhecimento?

    Ana, toda entusiasmada, falava de Jesus a todas as pessoas: loquebatur de illo omnibus. Quais são as minhas conversas depois das minhas comunhões? São edificantes, caridosas, sobrenaturais?

    Transportado de amor depois das minhas comunhões, devia estar resolvido a viver glorificando Jesus e a morrer amando-o.

    Simeão repete a Maria a profecia de Isaías: «O Cristo será para a santificação de muitos em Israel, mas será para outros uma pedra de escândalo» (Is 8,14). É manifesto. Cristo é causa de salvação e de ressurreição para aqueles que o reconhecem, que o amam e que o servem. É causa de ruína para aqueles que o rejeitam.

    A indiferença não é colocada aqui. Jesus é a vida. Todas as bênçãos são prometidas àqueles que o seguem e que o amam. É preciso estar com ele ou com o mundo. Os povos e as famílias, como os particulares, encontrarão o caminho da paz e dos favores divinos no seguimento de Jesus e no seu serviço.

    Estas palavras do profeta são graves. Há dois caminhos oferecidos à nossa escolha: de um lado o caminho das bênçãos, com o seu traçado marcado no Evangelho: «Bem- aventurados os pobres, bem-aventurados os puros, bem-aventurados os que choram, os que perdoam, os que sofrem perseguição». Do outro lado, o caminho que afasta de Cristo. Tem este traçado: amor pelo ouro, pelo luxo, pelo prazer e pelo mundo. - Sois vós quem eu escolhi, meu Salvador, é o vosso caminho, é o vosso amor, é o vosso Coração, mesmo que deva encontrar as contradições e as perseguiç&otilde
    ;es!

    Simeão predisse a Maria a dor e a espada. Ela terá uma grande parte na paixão de Jesus. Sofrerá, ela também, por nós e pela nossa salvação. Ó Maria, como queria consolar-vos e partilhar das vossas mágoas para as aliviar! Até aqui, aumentei-as com as minhas faltas, perdoai-me. Vou-me esforçar por vos consolar com a minha paciência, com os meus sacrifícios e com as minhas mortificações.

    Com Simeão, alegro-me por possuir muitas vezes Jesus na sagrada comunhão. Agarro-me ao bom Mestre, que é sempre contradito. Contentarei o seu divino Coração com as minhas práticas quotidianas de reparação e de amor (Leão Dehon, OSP 3, p. 127s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «Quem faz a vontade de Deus permanece para sempre» (1 Jo 2, 17).

  • Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal


    31 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 18-21

    18*Meus filhos, estamos na última hora. Ouvistes dizer que há-de vir um Anticristo; pois bem, já apareceram muitos anticristos; por isso reconhecemos que é a última hora. 19*Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido connosco; mas aconteceu assim para que ficasse claro que nenhum deles é dos nossos. 20*Vós, porém, tendes uma unção recebida do Santo e todos estais instruídos. 21Não vos escrevi por não saberdes a verdade, mas porque a sabeis, e também que da verdade não vem nenhuma mentira.

    S. João exorta a comunidade cristã à vigilância pela iminência da «última hora» da história, marcado por um violento ataque do «anticristo», símbolo de todas as forças hostis a Deus e personificadas nos heréticos. O tempo final da história não deve ser entendido em sentido cronológico mas teológico, isto, como tempo decisivo e último da vinda de Cristo, tempo de luta, de perseguição e de provação para a fé da comunidade. O agudizar das dificuldades indica que o fim está próximo. Vislumbra-se já no horizonte o perfil de um mundo novo. O sinal mais evidente vem dos heréticos que difundem a mentira. Embora tivessem pertencido à comunidade, mostram-se agora seus inimigos, ao abandonarem a Igreja e ao criar-lhe dificuldades.

    É duro verificar que Deus possa permitir a Satanás encontrar instrumentos da sua acção dentro da própria comunidade eclesial. Mas, a esses instrumentos, opõem-se os verdadeiros discípulos de Jesus, aqueles que receberam «a unção do Santo» (cf. v. 20), isto é, a palavra de Cristo e o seu Espírito que, pelo baptismo, lhes ensina a verdade completa (cf. Jo 14, 26). Essa verdade refere-se a Jesus, o Verbo de Deus feito carne, como professa o Apóstolo, e não um Jesus aparentemente humano, figura de uma realidade apenas espiritual, como dizem os hereges docetas.

    Evangelho: João 1, 1-18

    1*No princípio já existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; o Verbo era Deus. 2No princípio Ele estava em Deus; 3*por Ele é que tudo começou a existir; sem Ele nada veio à existência. 4*Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. 5A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. 6*Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. 9*O Verbo era a luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. 10*Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. 11*Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12*Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. 13*Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. 14*E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória,

    Caixa de texto: Tempo do Natal 31|Dezembro
    a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15*João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» 16*Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17*É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. 18*A Deus nunca ninguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e que está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.

    Ao contrário dos evangelhos da infância, o prólogo de S. João não narra os acontecimentos históricos do nascimento e da infância de Jesus. De forma poética, descreve a origem do Verbo na eternidade de Deus e a sua pessoa divina no amplo quadro bíblico do projecto de salvação, que Deus traz para o homem.

    Começa pela preexistência do Verbo (vv. 1-5), real e em comunhão de vida com o Pai; o Verbo pode falar-nos do Pai porque possui a eternidade, a personalidade e a divindade (v. 1). Depois fala da vinda histórica do Verbo para meio dos homens (vv. 6-13), de cuja luz deu testemunho João Baptista (vv. 6-8); a luz põe o homem perante a necessidade de fazer uma opção de vida: recusá-la ou acolhê-la, permanecer na incredulidade ou aderir à fé (vv. 9-11); o acolhimento favorável tem por consequência a filiação divina, que não procede da carne ou do sangue, isto é de possibilidades humanas (vv. 12-13). Finalmente, a Incarnação do Verbo (v. 14) como ponto central do prólogo. Este Verbo já tinha entrado na história humana por meio da criação, mas agora vem habitar entre os homens de um modo activo: «O Verbo fez-se homem», na fragilidade de Jesus de Nazaré, para mostrar o amor infinito de Deus. Nele, a humanidade crente pode contemplar a glória do Senhor, a glória de Jesus, o Revelador perfeito e escatológico da Palavra que nos faz livres, o verdadeiro Mediador humano-divino entre o Pai e humanidade, o único que nos manifesta Deus e no-lo faz conhecer (vv. 17-18).

    Meditatio

    «Todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças», diz-nos João no Prólogo do seu evangelho. Vamos partir desta frase para n os colocarmos numa atitude de acção de graças, neste último dia do ano. Ao longo dele, fomos recebendo cada dia graça sobre graça, cada um segundo as suas necessidades e capacidades de receber. E, as graças que recebemos este ano, preparam as que havemos de receber no ano que vai começar.

    Recebemos a graça do perdão misericordioso de Deus para os nossos pecados e para termos coragem de avançar no caminho da santidade. Recebemos luz para avançarmos, dia a dia no ano que termina. Essa luz também n&at
    ilde;o deixará de brilhar sobre nós no ano que começa. A luz é o próprio Filho de Deus feito homem: «Eu sou a Luz do mundo». Essa luz é-nos dada como força e como amor, sobretudo na Eucaristia. Há que acolhê-la de coração aberto e disponível para todos os dons e surpresas de Deus.

    A falta dessa abertura levou alguns cristãos, logo na primitiva Igreja, à heresia. Não aceitavam que Deus se pudesse fazer homem e, mais ainda, homem pobre, homem frágil. Ao longo da história, e ainda em nossos dias, não faltam falsos profetas e mestres de falsidade, que se servem do nome de Cristo para propagar as suas ideias e doutrinas. Muitas vezes, provêm das próprias comunidades cristãs. Há que distinguir o verdadeiro do falso. A verdadeira doutrina traz alegria e paz interior.

    O dom e o mistério de pertencer à Igreja têm como única garantia a fidelidade à Palavra de Cristo, em humilde e permanente busca da verdade. Recusar a Igreja é recusar a Cristo, a verdade e a vida (cf. Jo 14, 6). Recusar a Igreja é não acreditar no Evangelho e na Palavra de Jesus, é viver nas trevas, no não-sentido. O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que, tendo recebido a unção do Espírito Santo, se deixa conduzir suavemente pela sua acção e pela sua verdade, reconhecendo os caminhos de Deus, esperando a sua vinda sem alarmismos nem fantasias milenaristas. A Incarnação de Cristo impregnou toda a história e toda a vida dos homens, porque só nele reside a plenitude da vida e toda a aspiração de felicidade e o homem entrou de pleno direito entre os familiares de Deus.

    O fim do ano civil recorda-nos que a história humana é guiada por Deus. Para Ele a nossa gratidão e a nossa súplica de vida nova que sempre nos quer oferecer.

    Escreve o Pe. Dehon: «O fim do ano é imagem do fim da vida; lembra-nos esse fim. Entremos nos sentimentos de Ezequias, que vendo-se à beira da morte, se humilhava e

    deplorava as suas faltas... Mas não será também preciso dar graças a Nosso Senhor pelos benefícios que recebemos este ano? Ele suportou-nos, perdoou-nos, abençoou as nossas obras. O seu Coração abriu-se largamente a nós. Não será justo sermos reconhecidos?» (Leão Dehon, OSP 4, p. 603s.).

    Oratio

    Senhor, quero hoje rezar-te com Ângela de Foligno:

    «Meu Deus, faz-me digna de conhecer o altíssimo mistério da tua ardente caridade, o mistério profundíssimo da tua Incarnação. Fizeste-te homem por nós. Desta carne começa a vida da nossa eternidade... Ó amor que todo Te dás! Aniquilaste-te a Ti mesmo, desfizeste-te a Ti, para me fazeres a mim; assumiste os farrapos de um servo vilíssimo, para me dares o manto real e a veste divina...

    Por isto que entendo, que compreendo com toda mim mesma - que Tu nasceste em mim - sê bendito, ó Senhor! Ó abismo de luz! Toda a luz está em mim, se eu vejo isto, se compreendo isto: que Tu nasceste em mim. Na verdade, esta inteligência é uma meta: a meta da alegria... Ó Deus, não criado, torna-me digna de me afundar neste abismo de amor, de sustentar em mim o ardor da tua caridade. Faz-me digna de compreender a inefável caridade que nos comunicaste quando, por meio da Incarnação, nos manifestas-te Jesus Cristo como teu Filho, quando Jesus Cristo Te manifestou a nós como Pai.

    Ó abismo de amor! A alma que Te contempla eleva-se admiravelmente acima da terra, eleva-se acima de si mesma e paira, pacificada, no mar da serenidade».

    Contemplatio

    S. João é o pregador do amor. Todo o seu evangelho está neste espírito. A sua primeira página é uma elevação de amor para o Verbo incarnado. «Nós vimos, diz, o Filho de Deus cheio de graça e de glória». Só ele descreve as núpcias tocantes de Caná, o colóquio com a Samaritana, a grande promessa da Eucaristia, a parábola do bom Pastor, a ressurreição de Lázaro, o lava-pés e os discursos tão ternos do Bom Mestre durante a Ceia e depois da Ceia. Narra a abertura do Coração de Jesus.

    As suas epístolas pregam a caridade: «Deus é caridade... amou-nos primeiro... deu- nos o seu Filho por nosso amor. Portanto, amemo-lo também da nossa parte». E sem cessar repete: «Amemo-nos uns aos outros».

    Vivendo junto de Maria e da Eucaristia, caminha para a consumação do amor. Chega à união mística mais intensa com Nosso Senhor, às visões, às revelações. O céu está aberto para ele. Descreve-o inteiramente. Mas sobretudo o Cordeiro triunfante retém o seu olhar: o Cordeiro sempre ferido no Coração e imolado, o Cordeiro que é bem o laço de amor entre Deus e nós.

    Avancemos humilde e progressivamente no amor com S. João (Leão Dehon, OSP 3, p. 404s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Participamos da plenitude do Verbo; dele recebemos graças sobre graças». (Jo 1, 16).

  • Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus – Ano C

    Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus – Ano C


    1 de Janeiro, 2022

    ANO C
    SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS
    Dia Mundial da Paz

    Tema da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus

    Neste dia, a liturgia coloca-nos diante de evocações diversas, ainda que todas importantes.
    Celebra-se, em primeiro lugar, a Solenidade da Mãe de Deus: somos convidados a olhar a figura de Maria, aquela que, com o seu sim ao projecto de Deus, nos ofereceu a figura de Jesus, o nosso libertador. Celebra-se, em segundo lugar, o Dia Mundial da Paz: em 1968, o Papa Paulo VI quis que, neste dia, os cristãos rezassem pela paz. Celebra-se, finalmente, o primeiro dia do ano civil: é o início de uma caminhada percorrida de mãos dadas com esse Deus que nunca nos deixa, mas que em cada dia nos cumula da sua bênção e nos oferece a vida em plenitude. As leituras de hoje exploram, portanto, diversas coordenadas. Elas têm a ver com esta multiplicidade de evocações.
    Na primeira leitura, sublinha-se a dimensão da presença contínua de Deus na nossa caminhada, como bênção que nos proporciona a vida em plenitude.
    Na segunda leitura, a liturgia evoca outra vez o amor de Deus, que enviou o seu “Filho” ao nosso encontro, a fim de nos libertar da escravidão da Lei e nos tornar seus “filhos”. É nessa situação privilegiada de “filhos” livres e amados que podemos dirigir-nos a Deus e chamar-Lhe “papá”.
    O Evangelho mostra como a chegada do projecto libertador de Deus (que veio ao nosso encontro em Jesus) provoca alegria e contentamento por parte daqueles que não têm outra possibilidade de acesso à salvação: os pobres e os débeis. Convida-nos, também, a louvar a Deus pelo seu cuidado e amor e a testemunhar a libertação de Deus aos homens.
    Maria, a mulher que proporcionou o nosso encontro com Jesus, é o modelo do crente que é sensível ao projecto de Deus, que sabe ler os seus sinais na história, que aceita acolher a proposta de Deus no coração e que colabora com Deus na concretização do projecto divino de salvação para o mundo.

    LEITURA I – Num 6,22-27

    Leitura do Livro dos Números

    O Senhor disse a Moisés:
    «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes:
    Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo:
    ‘O Senhor te abençoe e te proteja.
    O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face
    e te seja favorável.
    O Senhor volte para ti os seus olhos
    e te conceda a paz’.
    Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel
    e Eu os abençoarei».

    AMBIENTE

    O texto da leitura que nos é proposta é retirado da primeira parte do Livro dos Números. No contexto das últimas instruções de Jahwéh a Moisés antes de os filhos de Israel deixarem o Sinai, apresenta-se uma “bênção” que os “filhos de Aarão” (sacerdotes) deviam pronunciar sobre a comunidade do Povo de Deus. Provavelmente, trata-se de uma fórmula litúrgica utilizada no Templo de Jerusalém para abençoar a comunidade, no final das funções litúrgicas e que aqui é apresentada como um dom de Deus no Sinai.
    A “bênção” (“beraka”) é concebida como uma comunicação de vida, real e eficaz, que atinge o “abençoado” e que lhe traz vigor, força, êxito, felicidade. É um dom que, uma vez pronunciado, não pode ser retirado nem anulado. Aqui, essa comunicação de vida, fruto da generosidade de Deus, derrama-se sobre os membros da comunidade por intermédio dos sacerdotes – no Antigo Testamento, os intermediários entre o mundo de Jahwéh e a comunidade israelita.

    MENSAGEM

    Esta “bênção” apresenta-se numa tríplice fórmula, sempre em crescendo de versículo para versículo (no texto hebraico, a primeira fórmula tem três palavras; a segunda, cinco; a terceira, sete). Em cada uma das fórmulas, é pronunciado o nome de Jahwéh… Ora, pronunciar três vezes o nome do Deus da aliança é dar uma nova actualidade à aliança, às suas promessas e às suas exigências; é lembrar aos israelitas que é do Deus da aliança que recebem a vida, nas suas múltiplas manifestações e que tudo é um dom de Deus.
    A cada uma das invocações correspondem dois pedidos de bênção: que Jahwéh te abençoe (isto é, que te comunique a sua vida) e te proteja; que Jahwéh faça brilhar sobre ti a sua face (hebraísmo que se pode traduzir como “que te mostre um rosto sorridente”) e te conceda a sua graça; que Jahwéh dirija para ti o seu olhar (hebraísmo que significa “olhar-te com benevolência”, “acolher-te”) e te conceda a paz (“shalom”, no sentido de plenitude da felicidade).
    Este texto lembra ao israelita que tudo é dom do amor de Jahwéh e que o Deus da aliança está ao lado do seu Povo em cada dia do ano, oferecendo-lhe a vida plena e a felicidade em abundância.

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão, ter em conta os seguintes elementos:

    ¨ A primeira linha de reflexão pode ir para a constatação da generosidade do nosso Deus, que não nos abandona nunca, mas continua a criar-nos continuamente, derramando sobre nós a plenitude da vida e da felicidade.

    ¨ É de Deus que tudo recebemos: vida, força e aquelas mil e uma pequeninas coisas que enchem a nossa vida e que nos dão instantes plenos. Tendo consciência dessa presença contínua de Deus ao nosso lado, somos gratos por isso? No nosso diálogo com Ele, sentimos a necessidade de O louvar e de Lhe agradecer por tudo o que Ele coloca na nossa existência? Agradecemos todos os seus dons no ano que acaba de terminar?

    ¨ É preciso ter consciência de que a “bênção” de Deus não cai do céu como uma chuva mágica que nos molha, quer queiramos, quer não (magia e Deus não combinam); mas a vida de Deus, derramada sobre nós continuamente, tem de ser acolhida no coração com amor e gratidão e, depois, transformada em gestos concretos de amor e de paz. É com o nosso “sim” que a vida de Deus nos atinge.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)

    Refrão: Deus Se compadeça de nós
    e nos dê a sua bênção.

    Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
    resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
    Na terra se conhecerão os seus caminhos
    e entre os povos a sua salvação.

    Alegrem-se e exultem as nações,
    porque julgais os povos com justiça
    e governais as nações sobre a terra.

    Os povos Vos louvem, ó Deus,
    todos os povos Vos louvem.
    Deus nos dê a sua bênção
    e chegue o seu temor aos confins da terra.

    LEITURA II – Gal 4,4-7

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas

    Irmãos:
    Quando ch
    egou a plenitude dos tempos,
    Deus enviou o seu Filho,
    nascido de uma mulher e sujeito à Lei,
    para resgatar os que estavam sujeitos à Lei
    e nos tornar seus filhos adoptivos.
    E porque sois filhos,
    Deus enviou aos nossos corações
    o Espírito de seu Filho, que clama:
    «Abbá! Pai!».
    Assim, já não és escravo, mas filho.
    E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.

    AMBIENTE

    O contexto em que Paulo escreve a Carta aos Gálatas é o de uma profunda crise de identidade das Igrejas da Galácia. À região gálata (centro da Ásia Menor) tinham chegado pregadores que acusavam Paulo de não pregar o verdadeiro Evangelho e que exigiam aos Gálatas a observância fiel da Lei de Moisés, nomeadamente o rito da circuncisão. Estes “pregadores”, oriundos das comunidades judeo-cristãs da Palestina, são conhecidos na história do cristianismo primitivo como “judaizantes”.
    Paulo percebe o mal que estes “pregadores” estão a fazer. Eles pretendem transformar o cristianismo numa religião de ritos, num cumprimento de regras externas, numa escravatura a rituais que não tinham nada a ver com a proposta libertadora de Cristo. De forma dura, ele convida os Gálatas a fazer a sua escolha: ou pela escravidão da Lei, ou pela liberdade que Cristo veio trazer.
    No texto que nos é proposto, Paulo recorda aos Gálatas a incarnação de Cristo e o objectivo da sua vinda ao mundo: fazer de nós “filhos de Deus” livres.

    MENSAGEM

    Os versículos apresentados como segunda leitura constituem um dos pontos altos da Carta aos Gálatas. Neles, Paulo pretende recordar aos habitantes da Galácia algo fundamental: Cristo veio a este mundo para os libertar, definitivamente, do jugo da Lei… Assim, já não são escravos, mas “filhos” que partilham a vida de Deus.
    A palavra-chave é a palavra “filho”, aplicada tanto a Cristo como aos cristãos. Cristo, o “Filho”, veio ao mundo com uma missão concreta: libertar os homens do jugo da Lei, identificá-los consigo. Ora, é em consequência da acção libertadora de Deus em Jesus que os homens deixam de ser escravos para se tornarem “filhos”.
    Assim, têm o direito de chamar a Deus “abba” (papá”). Paulo utiliza esta palavra aqui, bem como na Carta aos Romanos, apesar de os judeus nunca designarem Deus desta forma. A insistência de Paulo nesta palavra deve ter a ver com o Jesus histórico: Jesus adoptou esta palavra para expressar a sua confiança filial em Deus e a sua entrega total à sua causa.
    Gal 4,4 é o único lugar em que Paulo faz referência à mãe de Jesus. No entanto, Paulo não parece estar interessado em falar de Nossa Senhora, mas antes em sublinhar a solidariedade de Cristo com todo o género humano.

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão deste texto, podem tocar-se os seguintes pontos:

    ¨ A experiência cristã é, fundamentalmente, uma experiência de encontro com um Deus que é “abba” – isto é, que é um “papá” muito próximo, com quem nos identificamos, a quem amamos e em quem confiamos plenamente. É esta proximidade libertadora e confiante que temos com o nosso Deus?

    ¨ A nossa experiência cristã leva-nos a sentirmo-nos “filhos” amados, ou ao cumprimento de regras e de obrigações? Na Igreja, não se põe, às vezes, ênfase em cumprir determinados ritos externos, esquecendo o essencial – a experiência de “filhos” livres de Deus?

    ¨ A importante constatação de que somos “filhos” de Deus leva-nos a uma descoberta fundamental: estamos unidos a todos os outros homens – filhos de Deus como nós – por laços fraternos. É a mesma vida de Deus que circula em todos nós… O que é que esta constatação implica, em termos concretos? O que é que isto significa, no que diz respeito à relação que nos deve ligar com os outros? Faz algum sentido marginalizar alguém por causa da sua raça ou do seu estatuto social?

    ALELUIA – Hebr 1,1-2

    Aleluia. Aleluia.

    Muitas vezes e de muitos modos
    falou Deus antigamente aos nossos pais pelos Profetas.
    Nestes dias, que são os últimos,
    Deus falou-nos por seu Filho.

    EVANGELHO – Lc 2, 16-21

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém
    e encontraram Maria, José
    e o Menino deitado na manjedoura.
    Quando O viram,
    começaram a contar o que lhes tinham anunciado
    sobre aquele Menino.
    E todos os que ouviam
    admiravam-se do que os pastores diziam.
    Maria conservava todos estes acontecimentos,
    meditando-os em seu coração.
    Os pastores regressaram,
    glorificando e louvando a Deus
    por tudo o que tinham ouvido e visto,
    como lhes tinha sido anunciado.
    Quando se completaram os oito dias
    para o Menino ser circuncidado,
    deram-Lhe o nome de Jesus,
    indicado pelo Anjo,
    antes de ter sido concebido no seio materno.

    AMBIENTE

    O texto do Evangelho de hoje é a continuação daquele que foi lido na noite de Natal: após o anúncio do “anjo do Senhor” (noite de Natal), os pastores dirigem-se a Belém e encontram o menino. Mais uma vez, Lucas não está interessado em fazer a reportagem do nascimento de Jesus e das “visitas” que, então, o menino de Belém recebeu, mas antes em apresentar Jesus como o libertador, que veio ao mundo com uma mensagem de salvação para todos os homens – e, especialmente, para os pobres e marginalizados, aqui representados pela classe dos pastores.

    MENSAGEM

    Os pastores – classe marginalizada de “pecadores”, afastados da salvação de Deus – são os primeiros a quem se revela a boa notícia do nascimento de Jesus. Todo o texto gira à volta da apresentação de Jesus como o Messias libertador, o autêntico libertador dos débeis e dos pobres.
    Em primeiro lugar, repare-se como os pastores se dirigem “apressadamente” ao encontro do menino. A palavra “apressadamente” sublinha a ânsia com que os pobres e débeis esperam a acção de Deus em seu favor. Aqueles que vivem numa situação intolerável de sofrimento e de opressão reconhecem que, com Jesus, chegou o momento da libertação e apressam-se a ir ao seu encontro.
    Em segundo lugar, repare-se na forma como os pastores reagem ao encontro com Jesus: glorificam e louvam a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido: é a alegria pela libertação que se converte em acção de graças ao Deus libertador. Também se tornam porta-vozes desse anúncio libertador, provocando a admiração de quantos tomavam contacto com o seu testemunho.
    Finalmente, atentemos na atitude de Maria: ela “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração”. É a atitude de quem é capaz de abismar-se com as acções do Deus
    libertador, com o amor que Ele manifesta nos seus gestos em favor dos homens. “Observar”, “conservar” e “meditar” significa ter a sensibilidade para entender os sinais de Deus e ter a sabedoria da fé para saber lê-los à luz do plano de Deus. É precisamente isso que faziam os profetas.
    A atitude meditativa de Maria, que interioriza e aprofunda os acontecimentos, complementa a atitude “missionária” dos pastores, que proclamam a acção salvadora de Deus manifestada no nascimento de Jesus. Estas duas atitudes dão-nos um bom retrato daquilo que deve ser a existência crente.

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão, considerar os seguintes dados:

    ¨ Mais uma vez fica claro, neste texto, o projecto que Deus tem para a humanidade, em Jesus: apresentar-nos uma proposta libertadora, que nos leve a superar a nossa fragilidade e debilidade e a encontrar a vida plena. Temos consciência de que a verdadeira libertação está na proposta que Deus nos apresentou em Jesus e não nas ideologias, ou no poder do dinheiro, ou no brilho da nossa posição social? Quando anunciamos Jesus aos nossos irmãos, é esta a proposta que nós apresentamos – sobretudo aos mais pobres e marginalizados?

    ¨ Diante da boa nova da libertação, reagimos – como os pastores – com o louvor e a acção de graças? Sabemos ser gratos ao nosso Deus pelo seu empenho em nos libertar da nossa debilidade e escravidão?

    ¨ Os pastores, depois de terem tomado contacto com o projecto libertador de Deus, fizeram-se testemunhas desse projecto. Sentimos, também, o imperativo do “testemunho” dessa libertação que experimentamos?

    ¨ Maria “conservava todas estas palavras e meditava-as no seu coração”. Quer dizer: ela era capaz de perceber os sinais do Deus libertador no acontecer da vida. Temos, como ela, a sensibilidade de estar atentos à vida e de perceber a presença – discreta, mas significativa, actuante e transformadora – de Deus, nos acontecimentos banais do nosso dia a dia?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

plugins premium WordPress