Events in Dezembro 2021
-
01ª semana do Advento - Quarta-feira - Anos Ímpares
01ª semana do Advento - Quarta-feira - Anos Ímpares
1 Dezembro 2021Tempo do Advento Primeira Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Is. 25, 6-10a
6*No monte Sião, o Senhor do universo prepara para todos os povos um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados. 7Neste monte, Ele arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações. 8*Aniquilará a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces, e eliminará o opróbrio que pesa sobre o seu povo, sobre toda a nação. Foi o Senhor quem o proclamou. 9Dir-se-á naquele dia: «Este é o nosso Deus, nele confiámos e Ele nos salva. Este é o Senhor em quem confiámos. Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua salvação. 1 DA mão do Senhor repousará sobre este monte.»
o banquete simboliza a comunhão, o diálogo, a festa, a vitória. O banquete anunciado por Isaías celebrará a derrota, por Deus, dos poderes que subjugam o homem, mas também a realeza universal do mesmo Deus. Esse banquete será oferecido em Sião, símbolo da eleição de Israel.
Como era costume, o Rei, ao ser entronizado, oferece presentes aos convidados.
O primeiro é a sua presença, e a sua manifestação aos povos: «arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações» (v. 7). Outro presente será a aniquilação da morte. Finalmente, o próprio Deus passará a enxugar as lágrimas de todas as faces, a consolar todos os que sofrem. É o terceiro dom, um dom personalizado.
Esta esperança baseia-se unicamente na promessa de Deus, e não em cálculos humanos: «Foi o Senhor quem o prodsrnoo» (v. 8). É uma esperança segura. Por isso, irrompe o hino de louvor, ainda antes da realização da promessa da salvação. Deus não falha: «Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua sstvsçêo. (v. 9).Evangelho: Mt. 15, 29-37
29Naquele tempo, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se. 3DVieram ter com Ele numerosas multidões, transportando coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, que lançavam a seus pés. Ele curou-os, 31 *de sorte que as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar, os aleijados escorreitos: os coxos a andar e os cegos com vista. E davam glória ao Deus de Israel. 32*Jesus, chamando os discípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer. Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» 330s discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» 34Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Responderam: «Sete, e alguns peixinhos.» 350rdenou à multidão que se sentasse. 36Tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e estes, à multidão. 37*Todos comeram e ficaram saciados; e, com os bocados que sobejaram, encheram sete cestos.
Mateus apresenta-nos um magnifico quadro em que Jesus que cura os doentes e dá a todos o pão, sinal do banquete messiânico. Assim revela a sua compaixão para com a multidão que O seguiam. Os discípulos nem tinham reparado na fome e falta de meios daquela gente. Por isso, antes de fazer o milagre, Jesus chama-os e convida-os a participar da sua compaixão para com os pobres e carenciados.
Mateus narrara, pouco antes, uma viagem de Jesus a terra estrangeira (15, 21), o que nos permite pensar que a multidão fosse formada, pelo menos em boa parte, por pagãos. O evangelista, que sabe que a missão universal é pós-pascal, quer sublinhar que a compaixão de Deus, manifestada em Jesus, abrange todos os povos. Na primeira multiplicação dos pães (Mt 14, 13-21), Jesus tinha-se revelado o bom pastor de Israel. Agora, também os pagãos são convidados para o banquete messiânico.
Os pães que sobejam mostram que nesse banquete há sempre lugar para todos. O número 7 dos cestos do pão que sobejou, bem como o número 4.000 dos que comeram, simbolizam, mais uma vez, o tema da salvação universal, que Jesus tem em mente.Meditatio
Todos nós sentimos um forte desejo de felicidade. Foi Deus que pôs em nós esse desejo, para que O procurássemos. Por isso quer satisfazer-nos.
Na liturgia de hoje, Deus promete-nos o fim das nossas penas e muita felicidade. De facto as leituras são uma ilustração coerente do rosto de Deus, que vem curar a humanidade ferida e satisfazer o nosso desejo de salvação. Desejamos essa salvação, mas só Deus no-Ia pode dar, iluminando os nossos corações ameaçados pelo não conhecimento d ' Ele e pelo desânimo. Reconhecemo-nos a nós mesmos no meio da multidão de pobres e doentes que se acotovelam ao redor de Jesus, pois n ' Ele descobrem Deus hóspede da humanidade, que cura os doentes e a todos oferece uma refeição, símbolo do banquete eterno para o qual vem convidar todos os homens. Por isso, todos nos sentimentos também convidados a proclamar o poder do Hóspede divino, que vence a dor e a morte, que prepara o banquete para todos os povos, e a contemplar o seu rosto. De facto, a misericórdia divina assume para nós os contornos do rosto e dos gestos de Jesus que cura os doentes e sacia as multidões famintas que O seguem. Na compaixão de Jesus, torna-se visível, para nós, o rosto de um Deus, médico que cura a nossa humanidade cansada e doente. Nele encontramos o divino e generoso Hóspede que nos acolhe à sua mesa e declara quanto somos importantes e preciosos aos seus olhos.
Ao lermos este evangelho no Advento, podemos ver nele alguns símbolos da Incarnação. Jesus fez-se homem porque teve compaixão dos homens e lhes quis dar de comer. Para poder dar-nos a sua carne e o seu sangue, pediu a colaboração da Virgem Maria. Mais tarde pedirá aos Apóstolos para estarem disponíveis, isto é, para darem o que têm para que Ele possa multiplicar o pouco de que dispõem e responder aos grande problemas do mundo.
O mesmo quer continuar a fazer nos nossos dias. Por isso nos mostra as necessidades do mundo de hoje, nos sensibiliza para elas e nos pergunta: «Quantos pães tendes?» Pede-nos para pormos à disposição de todos o pouco que temos, pede¬nos disponibilidade, para continuar a sua obra de salvação, de libertação."A nossa união com Cristo" (Cst. 18), "no seu amor pelo Pai e pelos homens" (Cst. 17) manifesta-se, não só "na escuta da Palavra e na partilha do Pão" (Cst. 17), mas também "na disponibilidade e no amor para com todos" (Cst. 18).
Foi na disponibilidade e no amor para com todos que o Pe. Dehon realizou a sua "solidariedade" afectiva e efectiva com Cristo. Daí o seu apostolado, caracterizado por uma extrema atenção aos homens, especialmente aos mais desprotegidos e pela solicitude em remediar activamente as insufici&ec
irc;ncias pastorais da Igreja do seu tempo" (Cst. 5). Foi assim que realizou o "carisma profético" de oblato na "oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens" (Cst. 6), fazendo de "toda a sua vida ... uma missa permanente' (Cst. 5), um dom para Deus e um dom para os homens.Oratio
Senhor Jesus, queremos juntar-nos àqueles que, há dois mil anos, e ao longo dos séculos, procuraram em Ti a saúde, a consolação e o alimento que sacia para a vida eterna. Sara as nossas feridas do passado, os nossos males do presente e fortalece-nos para o futuro. Consola-nos com o teu amor, mata-nos a fome com o teu pão de cada dia, e com o Pão eucarístico. Sacia-nos com o teu Espírito.
Aumenta em nós a feliz esperança, a tensão para o banquete da vida plena e definitiva que, com o Pai, preparas para todos os povos.
Nós Te bendizemos pela tua compaixão para com os pobres e sofredores, aos
quais revelas o amor misericordioso do Pai.
Nós Te bendizemos pelo pão de cada dia, sinal da tua solicitude por nós. Nós Te bendizemos pelo Pão da Eucaristia, alimento das nossas almas.
Aumenta em nós a caridade para que, na partilha e no serviço, possamos ser verdadeiras testemunhas do teu imenso coração de pastor, que cuida e apascenta as suas ovelhas.Contemplatio
«A terceira virtude que é preciso honrar no Sagrado Coração, diz ainda o P.
Cláudio de la Colornbíêre, é a sua compaixão muito sensível pelas nossas misérias, o seu amor imenso por nós apesar destas mesmas misérias, e, apesar destes movimentos e impressões, a sua igualdade inalterável causada por uma conformidade tão perfeita à vontade de Deus, que não podia ser perturbada por nenhum aconteci mente».
Não foi na misericórdia do seu Coração que ele nos visitou: Per viscera misericordiae in qulbus visitavit nos (Lc 1, 78). Quando Jesus encontra doentes, mortos, o seu Coração não pode resistir às lágrimas daqueles que os envolvem. Emudecido de piedade, cura-os, dá-lhes a vida: misericordia motus(lc 7, 13).
Vendo a multidão sem provisões para a sua refeição, tem compaixão dela: misereor super turbam (Lc 10, 33).
«Este Coração está ainda, quanto isso ainda possa ser, nos mesmos sentimentos, observa o P. Cláudio de la Colombíere, está sempre ardente de amor pelos homens, sempre aberto para espalhar todas as espécies de graças e de bênçãos, sempre tocado pelos nossos males, sempre pressionado pelo desejo de nos dar a participar nos seus tesouros e a dar-se a si mesmo a nós, sempre disposto a nos receber, e a nos servir de asilo, de morada e de paraíso, desde esta vida».
Mantendo-me unido ao Coração de Jesus e meditando nos seus mistérios, participarei cada vez mais nas suas virtudes (leão Dehon, OSP 3, p. 668s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: « Tenho compaixão desta gente» ele 15, 32). -
01ª Semana do Advento - Quinta-feira - Anos ímpares
01ª Semana do Advento - Quinta-feira - Anos ímpares
2 Dezembro 2021Tempo do Advento Primeira Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Is. 26, 1-61Naquele dia será cantado este cântico na terra de Judá: «Temos uma cidade forte. Para a defender, o Senhor ergueu muralhas e baluartes. 2Abri as portas, para que entre um povo justo, que cumpre com os seus compromissos, 3que tem carácter firme e conserva a paz, porque põe a sua confiança em Deus. 4Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene: 5abateu os habitante das alturas e a cidade soberba; humilhou-a, derrubou-a por terra, reduziu-a a pó. 6E1a é calcada pelos pés dos humildes, pelos pés dos pobres.»
Isaías apresenta um hino de acção de graças pela ajuda do Senhor que faz de Jerusalém uma cidade forte, em oposição a Babilónia.
O hino é entoado pelos habitantes da cidade, que precisa de ser reconstruída e de muros que lhe garantam a segurança. Mas esses muros podem tornar-se uma defesa do bem-estar próprio, uma barreira contra os humildes. Por isso, é que o profeta convida a abrir as portas da cidade, para que os seus habitantes não se fechem nas suas próprias seguranças, mas estejam abertos ao mundo. Assim, a cidade tomar-se-é refúgio para outros, chamados «povo justo. (v. 2). A expressão sugere que os habitantes da cidade não são justos, nem fiéis. Mas, abrindo-se aos outros, aos pobres, pode encontrar a salvação.Evangelho: Mt. 7, 21.24-27
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21 *«Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. 24*«Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. 26Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína.»
As imagens antitéticas do homem prudente e do insensato, e o diferente resultado do modo de agir de um e de outro correspondem às fórmulas da aliança de Deus com Israel que se concluem com as bênçãos e com as maldições. Tais bênçãos e maldições dependem da consistência do agir humano e do fundamento sobre que se apoiam. É certamente mais custoso construir sobre a rocha (v. 24) do que construir sobre a areia. Mas, a casa construída sobre a rocha é sólida e resiste aos temporais e às enxurradas, enquanto a que é construída sobre a areia facilmente se desmorona e
cai em ruínas. A qualidade do fundamento é, pois, decisiva. A Palavra é o fundamento imperecível para apoiar as nossas obras e a nossa vida. Não são as emoções fáceis resultantes de milagres ou de manifestações espectaculares que dão fundamento seguro à nossa vida e à nossa realização pessoal, mas a obediência filial à vontade de Deus: «Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no CéLP> (v. 21).Meditatio
o Advento é tempo de viver mais intensamente a esperança e de crescer na confiança, porque Deus prometeu e vem efectivamente salvar-nos. «Temos uma cidade forte ... o Senhor protege-nos, constrói para nós a paz ... é preciso pôr a nossa confiança no Senhor, porque Ele é a rocha segura ... É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar no homem ... Abri-me as portas da justiça: quero entrar e dar graças ao Senhor». Estes são alguns dos gritos de confiança, que escutamos durante o advento, que nos dão coragem e criam à nossa volta uma atmosfera de tranquilidade e de segurança.
O evangelho diz-nos qual é o verdadeiro fundamento do discipulado e da nossa confiança. Não são as coisas extraordinárias - os exorcismos, as curas, os milagres - mas na Palavra devidamente escutada e posta em prática. Não é suficiente dizer «Senhor; Senhor» para ser verdadeiro discípulo. É preciso obedecer à Palavra do Senhor encarnada na vida. Também não posso fundamentar a minha vida no excepcional. no aparente ou na vaidade das minhas realizações efémeras. Com isso só mascaro a inconsistência da minha vida, esquecendo-me de que, mesmo os mais pequenos gestos de bem, que eu possa realizar, são dom da graça, que exigem humildade e reconhecimento. E, se repentinamente me vejo confrontado com a minha fragilidade, deixo-me tomar pelo terror e pelo desespero, como quando cai uma casa, porque verifico que não tenho morada na «cidade torte-, habitada exclusivamente por «um povo justo, que cumpre com os seus compromissos» e fundamenta a sua existência no Senhor, rocha eterna.
Diferente será a minha sorte, se apoiar a minha vida na Palavra do Senhor. Ela será para mim solidez e protecção. Talvez até possa esquecer as minhas boas obras, afastando-me de qualquer forma de auto complacência. Então, hei-de experimentar o que escreve o livro do Apocalipse: «Depois, ouvi uma voz que vinha do céu e me dizia:
Descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham» (cf. Apoc 14, 13). Quem se gloria unicamente na bondade do Senhor, vê abrirem-se-lhe as portas da «cidade torte-. E poderá entrar no Reino do Filho muito amado do Pai.
O Advento é tempo de Maria. Ela é, para nós, modelo de esperança e de confiança em Deus. Ela ensina-nos a fundamentar a nossa vida na Palavra. A nossa preparação para o Natal deve acontecer em união com Maria. Escreve João Paulo II:
"Maria apareceu cheia de Cristo no horizonte da história da salvação" (RM 3). "Na noite da espera, Maria é a estrela da manhã", é "a aurora" que anuncia o dia, o surgir do sol. Maria é espera cheia de esperança e amorosa confiança. É Ela que nos traz Jesus, a Palavra, o Verbo de Deus feito carne, sobre o Qual havemos de fundamentar a nossa vida: "Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha ... " (Mt 7, 24). "Rocha", "Rochedo" são imagens típicas de Deus que exprimem solidez, segurança: "Deus é a rocha da minha defesa ... " (SI 62(61), 3): "Vós sois, meu Deus, a rocha da minha salvação ... " (SI 89(88), 27).Oratio
Ó Maria, Senhora da esperança, Senhora do Advento, ensina-me a acolher Jesus, a Palavra feita carne. Ajuda-me a fundamentar n ' Ele a minha vida e as minhas obras, para que sejam consistentes e seguras perante as investidas do naturalismo, do materialismo, do hedonismo e da sensualidade. Que o teu exemplo seja luz para os meus caminhos. Que eu jamais construa sobre as areias
movediças de projectos que não tenham em conta o projecto do Pai. Que, como Tu, saiba pôr de parte os meus projectos para generosamente entrar nos projectos de Deus. Que jamais me deixe iludir por palavras que não levem à obediência amorosa e alegre à vontade do Pai.
Senhora do Advento, apresenta ao Pai o meu coração arrependido e humilhado por tantas vezes ter querido mais aparecer do que ser. Com a tua ajuda, quero tornar¬me membro vivo do povo do Senhor e caminhar na humildade e na justiça, para encontrar morada na cidade santa de Deus. Amen.Contemplatio
Nosso Senhor não escolheu para seus apóstolos senão homens simples, pobres na sua maior parte, se bem que alguns fossem de estirpe real, mas cheios de boa vontade e de amor pelo seu Mestre.
Mais tarde, chamará os ricos e os sábios; encontrará grandes e nobres em Roma, em Atenas, em Constantinopla; encontrará homens de ciência e de eloquência, como os Agostinhos, os Crisóstomos, os Tomás de Aquino; encontrará homens cujas obras poderão levantar o esplendor do seu nome e do seu culto; mas, no princípio, Ele não quer senão homens simples e de condição modesta. Se Ele tivesse chamado primeiro ricos e sábios, estes teriam julgado trazer a Nosso Senhor alguma coisa de grande, teriam querido agir pelas suas próprias forças, e, fiando-se da sua riqueza e da sua ciência, teriam construído a meias sobre a areia, em vez de construir unicamente sobre o fundamento do Coração de Jesus.
Não tenhamos medo de admitir nas nossas escolas apostólicas crianças simples e pobres, desde que tenham coração, isto é, boa vontade e amor.
Admiremos também a bondade incomparável de Nosso Senhor pelos seus apóstolos. Que admirável paciência para os suportar! Que doçura! Que ternura! Abraça-os, chama-os amigos, seus filhos, eles tão imperfeitos! Vai mesmo ao ponto de os louvar. Esquece-se por eles. Assim devem fazer os apóstolos do Sagrado Coração pelos seus discípulos. Que eles amem como o Sagrado Coração e como o apóstolo do Sagrado Coração! (Leão Dehon, OSP 2, p. 256s.)Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem escuta estas minhas palavras e as põe em prática
é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha »( cf. Mt 7,
24). -
01ª semana do Advento - Sexta-feira - Anos ímpares
01ª semana do Advento - Sexta-feira - Anos ímpares
3 Dezembro 2021Tempo do Advento Primeira Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Is. 29, 17-24Assim fala o Senhor Deus:17Dentro de muito pouco tempo, o Líbano converter¬se-e em pomar, e o pomar será como uma floresta.18Nesse dia, os surdos ouvirão as palavras do livro, e, livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão.190s oprimidos voltarão a alegrar-se no Senhor, e os pobres exultarão no Santo de Israel. 20Foi eliminado o tirano e desapareceu o cínico, e todos os que buscam a iniquidade serão exterminados: 21 *os que acusam de crime os inocentes, os que procuram enganar o juiz, os que por uma coisa de nada condenam os outros. 22Por isso, o Senhor fala aos descendentes de Jacob -Ele que resgatou Abraão: «Daqui em diante, Jacob não será mais envergonhado, o seu rosto não mais ficará corado. 23Quando os seus filhos virem o que Eu fiz por eles, bendirão o meu nome, bendirão o Santo de Jacob e temerão o Deus de Israel. 240s espíritos desencaminhados compreenderão, e os que protestavam, aprenderão a lição.»
A locução «nesse di~> (v. 18) introduz o anúncio de uma mudança profunda realizada pelo Senhor no seu povo que se tinha deixado perverter, caindo numa situação de cegueira e de incompreensão. Isaías canta essa mudança, essa passagem das trevas à luz, provocada pelas maravilhas que o Senhor realiza, destruindo os projectos escondidos em que o povo incrédulo baseava a sua sabedoria (cf. Is 29, 15). A acção de Deus realiza-se na natureza (v. 17), nas enfermidades físicas (v. 18) e no campo moral e religioso, onde reina a injustiça (vv. 19-21).
A salvação provoca o júbilo dos «humíldes» (v. 19), isto ~ daqueles que confiam no Senhor e perseveram na espera da salvação que vem dele. Com a alegria dos carenciados e dos últimos, e com o desaparecimento dos violentos, dos cínicos e dos enganadores, a obra do Senhor atinge o vértice, porque nela os crentes reconhecem¬no como o redentor de Abraão e de Jacob: «livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão» (v. 18).Evangelho: Mt. 9, 27-31
Naquele tempo: 27*Jesus pôs-se a caminho e seguiram-n 'O dois cegos, gritando: «Filho de David, tem misericórdia de nôst» 28Ao chegar a casa, os cegos aproximaram-se dele, e Jesus disse-lhes: «Credes que tenho poder para fazer isso?» Responderam-lhe: «Cremos, Senhor!» 29Então, tocou-lhes nos olhos, dizendo: «Seja-vos feito segundo a vossa fé.» 30E os olhos abriram-se-Ihes. Jesus advertiu-os em tom severo: «Vede lá, que ninguém o saiba.» 31Mas eles, saindo, divulgaram a sua fama por toda aquela terra.
Um dos sinais da salvação anunciada pelos profetas para indicar o Messias é dar vista aos cegos (cf. Is 29, 18ss; 35, 10). A narrativa da cura dos dois cegos revela a tendência de Mateus para reduzir os elementos descritivos e dar relevo ao tema da autoridade de Jesus e da fé do discípulo ou do miraculado. A fé daquele que procura a cura junto de Jesus manifesta-se, em primeiro lugar, no seguimento (v. 27) e torna-se súplica insistente, confiante.
Os dois cegos devem entrar em casa para se aproximarem de Jesus, quase a sugerir que, para chegar à luz da fé, é preciso entrar na comunidade dos crentes. Aproximar-se de Jesus é necessariamente entrar em comunhão com a sua Pessoa e escutar a sua Palavra. Jesus faz como que um exame à fé dos cegos, isto é, à confiança que têm no seu poder salvador (v. 28).
A palavra de cura que Jesus dirige aos cegos é semelhante à que dirigiu ao centurião (Mt 8, 13) e parece estabelecer uma certa proporcionalidade entre a fé e a cura. Mas oferece sobretudo um ensinamento à comunidade para que ultrapasse a necessária prova da fé na oração, reconhecendo que a ajuda concedida é resultado da escuta da súplica de um coração sincero.Meditatio
Isaías anunciou para os tempos messiânicos que, «livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão: Jesus realiza a palavra do profeta curando vários cegos, também os dois de que nos fala o evangelho de hoje. Ao recuperaram a vista, podem contemplar o mundo criado por Deus e as suas belezas. Mas aconteceu neles algo de mais profundo, uma verdadeira transformação, realizada pelo acolhimento da Boa Nova na fé: passaram a ver toda a realidade, e a si mesmos, com olhos novos. Antes de chegarem à fé, tinham uma visão distorcida do mundo, de si mesmos, dos outros e da história. A Boa Nova fê-los darem-se conta da sua cegueira e da necessidade que tinham de ser curados.
Quem julga ver, permanece cego, permanece no pecado, como lembra João (9, 41). O Evangelho abre-me os olhos, faz-me tomar consciência de que não vejo. Mas, se tenho a dita de me encontrar com o Senhor, se acreditar n ' Ele e invocar a sua misericórdia para a minha cegueira, recebo d ' Ele o dom da vista. É a fé que me abre os olhos, e é a misericórdia de Cristo, isto é, o movimento do seu coração em direcção aos miseráveis, que O leva a fazer o milagre. A liturgia de hoje mostra-nos a relação entre olhos e coração.
Quando chego à fé, começo a ver, inicialmente de modo algo confuso, mas, depois, cada vez mais claramente, a acção do Senhor na minha história e na dos meus irmãos e irmãs. A fé faz-se descobrir os sinais luminosos das visitas de Deus à minha vida, em todos os seus momentos, mesmo naqueles em que, à primeira vista, só vejo trevas e marcas negativas.
Como os cegos do evangelho, vejo-me envolvido na compaixão de Cristo, acolhido na sua casa, tocado pela sua mão misericordiosa. Mas o evangelho também me faz ver, de modo diferente os outros e os acontecimentos, e ensina-me a estimar aquilo que o mundo espontaneamente não aprecia: os humildes, os pobres, os oprimidos.
Lemos nas nossas Constituições: «Sequiosos de intimidade com o Senhor, procuramos os sinais da sua presença na vida dos homens, onde actua o seu amor salvador. Partilhando as nossas alegrias e sofrimentos, Cristo identificou-Se com os pequenos e com os pobres, aos quais anuncia a Boa Nova. "Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes" (Mt 25,40). "0 Espírito do Senhor está sobre Mim ... enviou-Me para anunciar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos cativos, a vista aos cegos, a liberdade aos oprimidos, a proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18-19) (n. 28).
Este número, que nos orienta de maneira esplêndida, para o apostolado dos "pequenos" e dos "pobres", começa com uma experiência contemplativa: "Sequiosos de intimidade com Senhor". A fé, leva-nos a haurir o amor oblativo na sua fonte, no Coração de Cristo. Por meio da "oração de intimidade", reconhecemos (isto é, fazemos experiência de vida) e cremos (isto é, aderimos com todo o nosso ser) "ao amor que Deus tem por nós" (1 Jo 4, 16). E, se a experiência contemplativa for autêntic
a, sentimos a necessidade de irradiar este amor entre os irmãos, isto é, de viver "a oração perene" (ou caridade perene), de acordo com a exortação de Jesus: é preciso "rezar (= amar) sempre, sem desfalecer" (Lc 18, 1). É a passagem espontânea da contemplação à acção e o regresso da acção à contemplação, naquele único amor oblativo, que anima tanto a acção como a contemplação. É, pois, um desejo espontâneo de amor, que procura "os sinais da presença" do Senhor "na vida dos homens, onde actua o seu amor" (Cst. 28).Oratio
Pai misericordioso, cura o meu coração e ilumina-o pela graça do Espírito Santo. Tu és a luz; e, à tua luz, vemos a luz!
Senhor Jesus Cristo, luz do mundo, cura a minha cegueira, para que possa contemplar as maravilhas do amor do Pai entre nós.
Espírito santo, luz dos corações, renova os nossos olhos para compreendermos que não vês como nós vemos, mas o que Deus ama.
Santíssima Trindade, dá-nos um olhar puro, para que possamos ver-Te, contemplar as tuas obras no nosso mundo e viver como filhos da luz.
Meu Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, dá-nos um coração cheio do teu amor, um coração aberto aos pobres e aos humildes para que possamos louvar os teus desígnios de amor e de justiça. Amen.
Contemplatio
o Coração de Jesus transborda de ternura e de compaixão por todos os que sofrem, por todos os que penam, por todos os que têm fome, por todos os que estão doentes. É um coração de pai, um coração de mãe, um coração de pastor.
Jesus é o nosso pai como Deus, como Salvador, mas é-o também como Pontífice, como padre. É nosso pastor, é o Bom Pastor por excelência. É o seu coração de padre que sofre quando nós sofremos.
Mais do que S. Paulo, pode dizer: «Quem de vós está a sofrer sem que eu não esteja também?» (2Cor 11, 29).
Isaías descreveu-o sob este aspecto: «Fui enviado, diz o Messias, para evangelizar os pobres, para consolar os aflitos, para levantar os que sucumbem sob o peso da fadiga e do sofrimento, para restituir a vista aos cegos e o ouvido aos surdos» (Is 61).
Nosso Senhor tem o coração todo cheio do sentimento da sua missão. Chama a si todos os que sofrem: «Vinde a mim vós todos os que estais em aflição e Eu vos aliviarei» (Mt 11).
Ele sabe o que é sofrer, conheceu o exílio, a perseguição, a fome; tem sempre diante dos olhos os grandes sofrimentos que lhe estão reservados para o fim da sua vida.
Assim deve ser o padre. Deve procurar aqueles que sofrem, visitá-los, consolá¬los. Se não os pode curar, pode consolá-los, encorajá-los à paciência; pode dar-lhes um conselho de higiene e oferecer-lhe remédios. Deve estar para eles mais do que para os que têm saúde. (Leão Dehon, OSP 2, p. 564).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Filho de David, tem misericórdia de nos»S. Francisco Xavier, PresbíteroS. Francisco Xavier, Presbítero
3 Dezembro 2021Francisco Xavier nasceu a 7 de Abril de 1506, no castelo da sua família, perto de Pamplona, Espanha. Fez os seus estudos académicos na Universidade de Paris, onde, em 1530, era já professor. Motivado por Inácio de Loiola, seu aluno e amigo, abandonou a prometedora carreia que iniciara, juntando-se a ele para fundar a Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote, foi enviado para a Índia. Desembarcou em Goa em 1542. Seguem dez anos de intensos trabalhos, que constituem uma das mais gloriosas epopeias, na História missionária da Igreja. Evangeliza as zonas costeiras da Índia, vai a Malaca, às Molucas e ao Japão. Acaba por falecer na ilha de Sanchão, às portas da China, que pretendia evangelizar. A sua vida foi marcada pelo amor de Deus e pelo zelo apostólico. Foi canonizada em 1622. É um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.
Lectio
Primeira leitura: 1 Coríntios 9, 16-19.22-23Irmãos: anunciar o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! 17Se o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. 18Qual é, portanto, a minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere. 19De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. 20Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei-me como se estivesse sujeito à Lei - embora não estivesse sob a Lei - para ganhar os que estão sujeitos à Lei; 21com os que vivem sem a Lei, fiz-me como um sem Lei - embora eu não viva sem a lei de Deus porque tenho a lei de Cristo - para ganhar os que vivem sem a Lei. 22Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. 23E tudo faço por causa do Evangelho, para dele me tornar participante.
Mais uma vez, Paulo se vê obrigado a defender, não tanto a sua pessoa, mas a sua ação de apóstolo no meio da comunidade cristã de Corinto. Havia quem o acusasse de interesse próprio no exercício do seu ministério: busca de bens materiais, afirmação pessoal. O Apóstolo reage afirmando que, para ele, evangelizar é "um dever". Quem livremente se põe ao serviço de um senhor, não pode furtar-se a esse serviço. É o que acontece com Paulo. Por isso afirma: «ai de mim, se eu não evangelizar!» (v. 16b).
S. Francisco Xavier também estava consciente de que o chamamento ao apostolado é um encargo confiado por Deus. Vive a sua vocação e missão com inquebrantável e total fidelidade, total desinteresse e extraordinário elo apostólico.
Evangelho: Marcos 16, 15-20Naquele tempo, Jesus apareceu aos one Apóstolos e disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. 16Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão-de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.» 19Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. 20Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam.
O mandato de Cristo, "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura." (v. 15), destina-se aos Apóstolos e a todos os batizados, clérigos, religiosos ou leigos. "O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte" (vv. 19-20). Os Onze acolheram o mandato com prontidão. Ao realizá-lo deram-se conta de que, Aquele que subira ao céu, Jesus, na verdade continuava com eles, acompanhando-os, cooperando com palavras e prodígios (cf. vv. 17-18). É consolador para os evangelizadores saberem que não estão sós, que o Senhor caminham com eles e que podem contar com o seu poder para vencer os obstáculos, demónios e todos os males.
MeditatioO ministério apostólico de S. Francisco Xavier, com o dinamismo com que o exerceu, é espantoso. Em 1542, foi mandado para as Índias, ou para os confins do mundo, como então se dizia. Chegou lá, depois de uma longa e perigosa viagem. Lançou-se imediatamente na evangelização de cidades e aldeias, em permanentes viagens, sem temer intempéries nem outros perigos. Apenas dois anos, após a chegada à Índia, foi a Ceilão e às Molucas. Regressou à Índia para confirmar os resultados da sua evangelização, para organizar e dar novo impulso à obra dos seus companheiros. Mas não ficou por aí. Tinham-no informado que o Japão era um reino muito importante e partiu para lá, pensando que a sua conversão poderia influir positivamente na evangelização de todo o Extremo Oriente. Prosseguiu, no reino do Sol nascente, as suas viagens e o anúncio do Evangelho. Ao regressar desse país, projeta evangelizar a China. Ao procurar realizar esse intento, é surpreendido pela morte, na ilha de Sanchão, no ano de 1552. Em aproximadamente dez anos, percorreu milhares de quilómetros, com os meios e as dificuldades que mal podemos imaginar, dirigindo-se a numerosos povos, que falavam diferentes línguas. O segredo da sua coragem e do seu dinamismo era a oração e a união com Cristo, na união ao mistério de Deus que quer comunicar com todos os homens.
Também Jesus teve que ultrapassar uma distância infinita para vir até nós e estar connosco: deixou o Pai, como diz o evangelho de João, para vir ao mundo. Continuou a sua viagem durante o seu ministério de apenas três anos, indo ao encontro das pessoas para lhes anunciar a Boa Nova do Reino, não se limitando a esperar que O procurassem. Hoje, se queremos que o evangelho chegue aos nossos contemporâneos, não basta esperá-los na igreja. É preciso procura-los onde eles estão. É preciso "sair das sacristias" como dizia o P. Dehon aos sacerdotes do seu tempo.
S. Francisco Xavier deixou-se iluminar pelo Espírito Santo, permitiu a Cristo habitar no seu coração inquieto e foi conduzido por Deus Pai através dos caminhos do mundo, capaz de tudo "naquele que me dá força". A nossa fé, tantas vezes opaca e apagada, recebe luz e paixão do grande missionário e santo, que hoje celebramos. Para receber o amor de Deus é preciso transmiti-lo. Para o receber ainda mais é preciso dá-lo aos outros de modo ainda mais fiel e generoso.
OratioS. Francisco Xavier, ficaríeis certamente espantado com os meios de transportes e as possibilidades de comunicação que, hoje, temos no mundo: nenhum país se encontra a mais de trinta horas de voo e a comunicação telemática é praticamente instantânea. Alcança-nos de Deus um pouco do teu zelo apostólico e do teu dinamismo, para que o Evangelho chegue, efetivamente a todos os homens. Alcança-nos de Deus uma fé viva que nos leve a um testemunho generoso e alegre da Boa Notícia de que Deus a todos chama para serem seus filhos. Ámen.
ContemplatioO primeiro projeto de Xavier e dos seus companheiros era de irem para a Palestina para aí trabalharem na conversão dos infiéis. Tinham o secreto desejo do martírio. Mas a guerra que reinava entre Veneza e os Turcos pôs obstáculo aos seus desígnios. Puseram-se à disposição do Papa que lhes confiou o cuidado de pregarem missões em Roma, depois logo, a pedido do rei de Portugal, Xavier partiu para as Índias. Que zelo que ele mostrou! Em Goa, tomou alojamento entre os pobres no hospital. Recusou o apartamento que lhe era oferecido pelo vice-rei. Missionou na cidade, depois percorreu todas as Índias, a custo das maiores fadigas. A sua missão tornou-se semelhante à dos apóstolos, pela extensão e pela rapidez dos seus sucessos. Empregava os meios de que eles mesmos se tinham servido para converterem o mundo idólatra: a oração, a humildade, o desinteresse, a mortificação. Era ajudado pelo dom dos milagres. Sto. Inácio enviou-lhe companheiros. Deixou às Índias cristandades florescentes, depois passou ao Japão, onde teve também grandes sucessos, mas a custo das mesmas fadigas e de grandes humilhações. Morreu como missionário na ilha de Sanchão, perto da China. Qual é o nosso zelo? Fazemos o que podemos pelo próximo, segundo a nossa vocação? (Leão Dehon, OSP 4, p.520s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Tudo posso n´Aquele que me dá força" (Fl 4, 13).--------
S. Francisco Xavier, Presbítero (3 de Dezembro)
-
01ª semana do Advento - Sábado - Anos ímpares
01ª semana do Advento - Sábado - Anos ímpares
4 Dezembro 2021Tempo do Advento Primeira Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: Is. 30, 19-21.23-2619Povo de Sião, que habitas em Jerusalém, já não chorarás mais, porque o Senhor terá piedade de ti quando ouvir a tua súplica, e, mal te ouça, logo te responderá. 20Embora o Senhor te dê o pão da angústia e a água da tribulação, já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olhos. 210uvirás atrás de ti esta palavra, quando tiveres de caminhar para a direita ou para a esquerda: «Este é o caminho a seguir.»
23Então o Senhor te enviará as chuvas para a sementeira que semeares na terra, e o pão que a terra produzir será nutritivo e saboroso. Naquele dia, o teu gado pastará em amplas pastagens. 240s bois e os jumentos que lavrarem a terra comerão uma forragem salgada, remexida com a pá e a forquilha. 25No dia da grande mortandade, em que desabarão as fortalezas, haverá torrentes de água abundante em todas as montanhas e colinas. 26No dia em que o Senhor curar a ferida do seu povo, e tratar da chaga que lhe foi infligida, a lua refulgirá como um sol, e o sol brilhará sete vezes mais.
o profeta assegura à comunidade reunida em acção culto, depois da tribulação, a eficácia da oração feita ao Senhor. Se souber esperar e confiar, será certamente ouvida. A súplica a Deus não livra de dificuldades. Mas fará experimentar a quem está atribulado a verdade do Deus do êxodo, um Deus atento, presente e actuante em favor do seu povo.
A comunidade poderá viver na presença do Senhor, que está no meio dela, e que será o seu Mestre. Assim, não se deixará seduzir por falsas sabedorias, como acontecera muitas vezes no passado. O ensino do Senhor não excluirá uma dura disciplina, «o pão da angústia e a água da trtooteção. (v 20), como já aconteceu no deserto. A lei de Deus já não será vista como um peso, uma imposição, mas como uma guia segura no caminho da vida (v. 22) e como experiência de verdadeira libertação e de plenitude, expressa pelas imagens da abundância de pastagens e de água.
O ensinamento divino levará a verificar como foi útil a correcção divina, que não deixa o povo da aliança nas trevas da falsidade, mas o cura com a luz do seu amor (v. 26).Evangelho: Mt. 9, 35-10, 1.6-8
Naquele tempo: 35*Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. 36*Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. 37*Disse, então, aos seus discípulos: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe.»l* Depois chamou a Si os doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos malignos e de curar todas as enfermidades e doenças.
6Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7*Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. 8Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça.
Jesus prepara os Doze para a missão, fazendo-os participar da sua compaixão pelas multidões que alimenta e pelos doentes que acolhe e cura, e ensinando-os a rezar para que o Dono da messe mande trabalhadores para a sua messe. Este mandato de oração há-de recordar aos discípulos que não são donos da messe, mas simples trabalhadores que partilham a missão que Jesus recebeu do Pai. Por isso, não devem ser presumidos nem desanimar, porque só o Dono da messe dispõe dos tempos e da fecundidade da missão.
Depois de escolher os missionários (cf. Mt 10, 2-5), antes de os enviar, Jesus dá¬lhes instruções adequadas. O seu campo de acção deve limitar-se a Israel. Assim é significada a prioridade teológica de Israel enquanto povo da Promessa, que a Igreja deve respeitar. O seu estilo de acção deve ser o de Jesus: generosidade sem medida (v. 8b), em total sintonia com o seu Mestre. São enviados a proclamar a proximidade do reino dos céus (v. 7), a dar sinais concretos (curas, exorcismos: v. 8a) da libertação integral do homem, em nome d ' Aquele que realiza a vinda do reino de Deus à vida da humanidade.Meditatio
No mistério da Incarnação, que nos preparamos para celebrar, tornam-se realidade as palavras de Isaías: «já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olho. (v. 20). O Invisível torna-se visível: «quem me vê, vê o Pe», diz Jesus. E tudo muda. Deus que antes falava da nuvem, do trovão. A sua presença era visualizada na nuvem que vinha e ia. Agora, Deus torna-se presente no meio de nós, de modo estável, na pessoa de Jesus, verdadeiro Emanuel, Deus connosco.
Isaías lembra-nos que a prece dirigida a Deus é sempre ouvida. Jesus ensina¬nos a rezar, não só pelos nossos pequenos interesses, mas pelos interesses do seu coração. Rezamos, não para convencer a Deus, que sempre nos escuta, mas para nos dispormos para o encontro com Ele. Ele quer libertar-nos, renovar para nós as maravilhas do êxodo, fazer-se nosso bom samaritano para nos aliviar os sofrimentos, curar as feridas e reacender a esperança.
Hoje convida-nos particularmente a pedir ceifeiros para a sua messe. E seu grande interesse é que a messe não se perca por falta de trabalhadores: «Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe. (v. 38). As necessidades da evangelização são enormes, e os recursos humanos das comunidades são geralmente muito escassos. Se soubermos ler a situação com os olhos de Jesus, não desanimaremos, mas sentir-nos-emos motivados a corresponder ao convite do Senhor. Perceberemos que a força da missão cristã não está nos recursos humanos, mas na oração confiante e perseverante, e na fidelidade ao mandato recebido.A oração também me ensinará que a missão não é propaganda de ideias e de certos costumes de vida, mas participação no anúncio e na praxe de libertação de Jesus, que torna visíveis no mundo as entranhas de misericórdia de Deus Pai.
Para o Leão Dehon, e para nós, a actividade missionária assume particular importância (cf. Cst. 33); é um modo privilegiado de viver "o nosso carisma profético" que "nos coloca ao serviço da missão salvífica do Povo de Deus no mundo de hoje (cf. LG 12)" (Cst. 27) e nos insere no "movimento de amor redentor" (Cst. 21) "na missão eclesial", e nos permite, de modo muito especial, "desenvolver as riquezas da nossa vocação" (Cst. 34) de oblatos-reparadores. Por isso, damos a nossa quota-parte no serviço da messe, e estamos todos presentes ao "ministério
de evangelização, pelo qual (os missionários) dão aos homens esta prova de amizade: estar no meio deles ao serviço da Boa Nova" (Cst. 33), para que haja Natal no coração de todos os homens e mulheres da terra.
Oratio
Senhor Jesus, acende em mim a compaixao do teu Coração diante das multidões, dos que sofrem no corpo ou no espírito, dos que jazem nas trevas ou andam dispersos como ovelhas sem pastor.
É verdade que todos têm os seus pastores ou chefes políticos. Mas não têm pastores que lhes orientem as almas, que lhes apontem o Bom Pastor e os ajudem a chegar à luz da fé. Na verdade, a messe é grande e os trabalhadores são poucos. Que eu sinta a necessidade e a urgência de viver a dimensão missionária do meu baptismo, e da minha vocação específica, para cooperar na obra de redenção que realizas no coração do mundo. Abençoa o Santo Padre, os Bispos, os Sacerdotes, os Religiosos e os Leigos missionários para que cumpram com generosidade e fidelidade o mando de evangelizar. Concede à tua Igreja muitas e santas vocações missionárias. Amen.Contemplatio
Um dos deveres do padre é cultivar as vocações, favorecê-Ias, prepará-Ias.
Nisto ainda o Coração sacerdotal de Jesus é o seu modelo.
Jesus desejou e favoreceu as vocações
E antes de mais, como desejou as vocações! Tinha percorrido as cidades e as aldeias, pregando nas sinagogas e curando os doentes. Tinha visto estas multidões sem educação, sem direcção. Tinha piedade delas. «São como um rebanho sem pastor», dizia. A miséria moral e física deprimia estas multidões. E Jesus dizia aos seus discípulos: «Como a seara é grande! Pedi pois ao Senhor para enviar trabalhadores para a sua seara».
Ama as crianças, abençoa-as, e a sua bênção faz germinar vocações.
Chama as crianças, testemunha-lhes amizade. «Deixai-as vir a mim», diz aos apóstolos.
Um adolescente de boa família vem ter com Ele. Jesus queria fazer dele um apóstolo: «Vai, diz-lhe, vem o que tens e segue-me». O jovem resiste à graça e Jesus entristeceu-se (Mc 10).
Um menino seguia Nosso Senhor e os apóstolos e levava as suas pequenas provisões. A tradição diz-nos que era Marcial, o apóstolo do Languedoc (Jo 6).
Um dia, Nosso Senhor pega numa criança: «Eis o vosso modelo, sede simples como crianças». E acrescentava:«Quem receber as crianças em meu nome, a mim recebe».
Que encorajamentos para nós para nos ocuparmos com as crianças, para nos dedicarmos a elas, para procurarmos entre elas as vocações e favorecê-Ias! Um padre que não se interessa pelas vocações tem verdadeiramente o espírito apostólico? (Leão Dehon, OSP 2, p. 567).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Mandai, Senhor, trabalhadores para a vossa messe» -
02º Domingo do Tempo do Advento – Ano C
02º Domingo do Tempo do Advento – Ano C
5 Dezembro 2021ANO C
2º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTOTema do 2º Domingo do Tempo do Advento
Podemos situar o tema deste domingo à volta da missão profética. Ela é um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma exigência que é feita a todos os baptizados, chamados – neste tempo em especial – a dar testemunho da salvação/libertação que Jesus Cristo veio trazer.
O Evangelho apresenta-nos o profeta João Baptista, que convida os homens a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro de cada homem e apresentar-lhe uma proposta de salvação, é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos.
A primeira leitura sugere que este “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de acolher a proposta libertadora que Deus nos faz. A leitura convida-nos, ainda, a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Deus que não desiste de nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e dificuldades.
A segunda leitura chama a atenção para o facto de a comunidade se dever preocupar com o anúncio profético e dever manifestar, em concreto, a sua solidariedade para com todos aqueles que fazem sua a causa do Evangelho. Sugere, também, que a comunidade deve dar um verdadeiro testemunho de caridade, banindo as divisões e os conflitos: só assim ela dará testemunho do Senhor que vem.LEITURA I – Bar 5,1-9
Leitura do Livro de Baruc
Jerusalém, deixa a tua veste de luto e aflição
e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus.
Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus
e coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno.
Deus vai mostrar o teu esplendor
a toda a criatura que há debaixo do céu;
Deus te dará para sempre este nome:
«Paz da justiça e glória da piedade».
Levanta-te, Jerusalém,
sobe ao alto e olha para o Oriente:
vê os teus filhos reunidos desde o Poente ao Nascente,
por ordem do Deus Santo,
felizes por Deus Se ter lembrado deles.
Tinham-te deixado, caminhando a pé, levados pelos inimigos;
mas agora é Deus que os reconduz a ti,
trazidos em triunfo, como filhos de reis.
Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares
e encher os vales, para se aplanar a terra,
a fim de que Israel possa caminhar em segurança,
na glória de Deus.
Também os bosques e todas as árvores aromáticas
darão sombra a Israel, por ordem de Deus,
porque Deus conduzirá Israel na alegria,
à luz da sua glória,
com a misericórdia e a justiça que d’Ele procedem.AMBIENTE
O “livro de Baruc” é um texto de autor desconhecido, embora se apresente como tendo sido redigido por Baruc, “secretário” de Jeremias, durante o exílio na Babilónia (cf. Bar 1,1-2). No entanto, a crítica interna revela (pelos dados pessoais que não quadram com aquilo que conhecemos de Jeremias, bem como pelo desenvolvimento de ideias e de perspectivas que são claramente posteriores à época do exílio) que é impossível atribuir esta obra ao “secretário” de Jeremias. O mais provável é que seja um texto escrito durante o séc. II a.C. na diáspora judaica. O autor convida os habitantes de Jerusalém a celebrar uma liturgia penitencial e exorta-os à reconciliação com Jahwéh.
O texto que nos é proposto está inserido na 4ª parte do livro, integrado numa exortação e consolação a Jerusalém – muito ao estilo do Deutero-Isaías. Depois de convidar à confissão dos pecados (cf. Bar 1,15-3,8), o autor manifesta a certeza de que Israel, iluminado pela luz da sabedoria, voltará ao “temor de Deus” (cf. Bar 3,9-4,4). Seguir-se-á o perdão; por isso, o profeta convida Jerusalém a ter coragem (cf. Bar 4,5-37) e a alegrar-se com a atitude misericordiosa de Jahwéh, em favor do seu Povo pecador (cf. Bar 5,1-9).MENSAGEM
O profeta começa por comparar Jerusalém infiel a uma mulher de luto, desanimada e aflita, sem razões para ter esperança. No entanto, a mensagem fundamental deste texto é: “esse tempo de luto terminou; Deus perdoou-te todas as tuas faltas e quer devolver-te a vida e a esperança”. Para dar corpo a essa promessa de um futuro novo, o autor fala do regresso dos “filhos” exilados, utilizando a linguagem do Deutero-Isaías e apresentando esse regresso como um novo êxodo da terra da escravidão (do pecado?) para a Jerusalém nova da justiça e da piedade. Tal acção resulta – apenas – do amor de Deus, sempre disposto a perdoar o afastamento dos filhos rebeldes e a reatar com eles uma história de libertação e de salvação.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão sobre este texto pode fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:
• O Advento é um tempo favorável para o êxodo da terra da escravidão para a terra da liberdade. Neste tempo somos especialmente confrontados com as cadeias que ainda nos prendem e convidados a percorrer esse caminho de regresso que a bondade e a ternura de Deus vão aplanar, a fim de que possamos regressar à cidade nova da alegria e da liberdade. Em termos pessoais, quais são as escravidões que ainda nos prendem e nos impedem de acolher o Senhor que vem?
• As nossas comunidades são, verdadeiramente, oásis de justiça, de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço? Que falta fazer, a nível comunitário, para acolher o dom de Deus e tornar realidade essa cidade da justiça e da piedade?
• “Vê os teus filhos… estão cheios de alegria porque Deus se lembrou deles” (Bar 5,5). É nesta atmosfera de alegria e de confiança serena na acção salvadora do nosso Deus que somos convidados a viver este tempo de mudança e a preparar a vinda do Senhor às nossas vidas.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 125 (126)
Refrão 1: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor:
por isso exultamos de alegria.Refrão 2: O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.
Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e de nossos lábios cânticos de júbilo.Diziam então os pagãos:
«O Senhor fez por eles grandes coisas».
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria.Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.À ida, vão a chorar,
levando as sementes;
à volta, vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas.LEITURA II – Filip 1,4-6.8-11
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos:
Em todas as minhas orações,
peço sempre com alegria por todos vós,
recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho,
desde o primeiro dia até ao presente.
Tenho plena confiança
de que Aquele que começou em vós tão boa obra
há-de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus.
Deus é testemunha
de que vos amo a todos no coração de Cristo Jesus.
Por isso Lhe peço que a vossa caridade
cresça cada vez mais em ciência e discernimento,
para que possais distinguir o que é melhor
e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,
na plenitude dos frutos de justiça
que se obtêm por Jesus Cristo,
para louvor e glória de Deus.AMBIENTE
A Carta aos Filipenses é, talvez, a mais afectuosa das cartas de Paulo. É dirigida a uma comunidade a que Paulo se afeiçoou, que ama Paulo, que o ajuda e que se preocupa com ele.
No momento em que escreve, Paulo está na prisão (em Éfeso?). Dos Filipenses, recebeu dinheiro e o envio de Epafrodito, um membro da comunidade, encarregado de ajudar Paulo em tudo o que fosse necessário. Enviando de volta Epafrodito, Paulo agradece, dá notícias, informa a comunidade sobre a sua própria sorte e exorta os Filipenses à fidelidade ao Evangelho.
O texto da segunda leitura faz parte da “acção de graças” com que Paulo inicia a carta: ele agradece a Deus a fidelidade dos Filipenses e o seu empenho na difusão do Evangelho.MENSAGEM
Paulo começa por manifestar a sua comoção pelo empenho dos Filipenses na difusão do Evangelho e na ajuda àqueles que se empenham no anúncio da Boa Nova (e de forma especial ao próprio Paulo, prisioneiro por causa do seu testemunho). Paulo sente uma grande ternura por esta comunidade atenta às necessidades dos evangelizadores, solidária com todos os que dão a sua vida à causa do Evangelho.
Depois, Paulo pede a Deus que aumente a caridade dos Filipenses (apesar de ser uma comunidade modelo, nem tudo era perfeito a este nível: Paulo tem que pedir a duas senhoras para fazerem as pazes e não dividirem a comunidade – cf. Flp 4,2-3). A vivência da caridade é fundamental para que os Filipenses possam aguardar, puros e irrepreensíveis, o dia da vinda de Cristo.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão sobre o texto da segunda leitura pode ter em conta os seguintes pontos:
• A essência da Igreja de Jesus é ser missionária. “Ide e anunciai” – diz Jesus. Para que Jesus venha, para que a sua proposta de salvação chegue a todos os povos da terra, é necessário este compromisso contínuo com a evangelização. As nossas comunidades sentem este imperativo missionário? Sentem a necessidade de fazer Jesus nascer para todos os povos? Estão atentas às necessidades e são solidárias com aqueles que dão a sua vida à causa do anúncio de Jesus? É com ternura e carinho que acolhemos os catequistas das crianças, dos jovens, dos adultos da nossa comunidade?
• Só é possível acolher, com um coração puro e irrepreensível, o Senhor que vem se a caridade for, entre nós, uma realidade viva. Mas, frequentemente, a vida das nossas comunidades cristãs é marcada pelas divisões, pelas murmurações, pelas lutas pelo poder, pelas tentativas de manipular, pelos interesses mesquinhos e egoístas, pelas guerras de sacristia… Será possível “esperar com coração puro e irrepreensível o Senhor que vem” num contexto de divisão? Será possível à comunidade ser o espaço onde Jesus nasce, se não se aceitam todas as pessoas e em especial os pequenos e os pobres?
• É possível que a nossa comunidade não seja, ainda, um modelo de perfeição: somos um grupo de irmãos com os nossos limites e defeitos… Sem desânimo, devemos ter presente que somos uma comunidade “a caminho”, em processo de construção. O que é importante é que saibamos acolher o Senhor que vem e deixar que Ele nos conduza à plenitude da vida e do amor.
ALELUIA – Lc 3,4.6
Aleluia. Aleluia.
Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas
e toda a criatura verá a salvação de Deus.EVANGELHO – Lc 3,1-6
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério,
quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia,
Herodes tetrarca da Galileia,
seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide
e Lisânias tetrarca de Abilene,
no pontificado de Anás e Caifás,
foi dirigida a palavra de Deus
a João, filho de Zacarias, no deserto.
E ele percorreu toda a zona do rio Jordão,
pregando um baptismo de penitência
para a remissão dos pecados,
como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías:
«Uma voz clama no deserto:
‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
Sejam alteados todos os vales
e abatidos os montes e as colinas;
endireitem-se os caminhos tortuosos
e aplanem-se as veredas escarpadas;
e toda a criatura verá a salvação de Deus’».AMBIENTE
O texto de hoje segue-se imediatamente ao “evangelho da infância”, na versão lucana. Aqui começa, oficialmente, o Evangelho – isto é, o anúncio da Boa Nova de Jesus. Antes de começar a descrever a acção libertadora e salvadora de Jesus no meio dos homens, Lucas vai apresentar João Baptista, o profeta que veio preparar a chegada do Messias de Deus.
MENSAGEM
Lucas, como compete a alguém que “tudo investigou cuidadosamente desde a origem” (Lc 1,3), começa por situar o quadro de João Baptista num determinado enquadramento histórico. Nomeia 7 personagens (desde o imperador Tibério César, até ao sumo sacerdote Caifás), num esforço de situar no tempo os acontecimentos da salvação (estaremos aí pelos anos 27/28). Ele sugere, assim, que esta aventura do Deus que vem ao encontro dos homens para lhes apresentar um projecto de salvação e de felicidade não é uma lenda, perdida nas brumas do tempo e da memória dos homens… Mas é uma história concreta, com acontecimentos concretos, que podem ser ligados a um determinado momento histórico e a uma terra concreta.
Num segundo momento, Lucas apresenta a figura de João Baptista. Ele é “uma voz que grita no deserto” e que convida a preparar os caminhos do coração para que Jesus, o Messias de Deus, possa ir ao encontro de cada homem. Lucas começa por sugerir que a missão profética de João lhe é confiada por Deus: o chamamento de João é apresentado com as mesmas palavras do chamamento de Jeremias (cf. Jer 1,1, no texto grego), para marcar o carácter profético do seu anúncio. Depois, Lucas situa num espaço geográfico a actividade profética de João: ele prega em “toda a zona do rio Jordão” (Mateus e Marcos, situam-no no deserto)… Trata-se de uma região bastante povoada, sobretudo depois das construções de Herodes e de Arquelau: o anúncio profético de João destina-se aos homens, que são convidados a acolher o Messias que está para fazer a sua aparição no mundo. Finalmente, concretiza-se o âmbito da missão: João “proclama um baptismo de conversão (“baptisma metanoias”), para a remissão dos pecados”… A palavra “metanoias” sugere uma revolução total da mentalidade que leva a uma transformação total da forma de pensar e de agir… Para acolher o Messias que está para chegar, é necessário um processo de conversão que leve a um re-equacionar a vida, as prioridades, os valores; só nos corações verdadeiramente transformados, o Messias encontrará lugar.
O Evangelho de hoje conclui-se com uma citação tomada do Deutero-Isaías (cf. Is 40,3-5), onde serve para anunciar aos exilados na Babilónia a libertação e o regresso a casa, num novo e triunfal êxodo. Lucas sugere, desta forma, que está para chegar a libertação: é necessário, no entanto, que os destinatários do projecto libertador de Deus aceitem percorrer esse caminho, se deixem transformar e acolham “a salvação de Deus”.ACTUALIZAÇÃO
Elementos para a reflexão e a actualização da Palavra:
• João é o profeta, cujo anúncio prepara o coração dos homens para acolher o Messias. A dimensão profética está sempre presente na comunidade dos baptizados. A todos nós, constituídos profetas pelo baptismo, Deus chama a dar testemunho de que o Senhor vem e a preparar os caminhos por meio dos quais Jesus há-de chegar ao coração do mundo e dos homens.
• Preparar o caminho do Senhor é convidar a uma conversão urgente, que elimine o egoísmo, que destrua os esquemas de injustiça e de opressão, que derrote as cadeias que mantêm os homens prisioneiros do pecado… Preparar o caminho do Senhor é um re-orientar a vida para Deus, de forma a que Deus e os seus valores passem a ocupar o primeiro lugar no nosso coração e nas nossas prioridades de vida.
• Esse processo de conversão é um verdadeiro êxodo, que nos transportará da terra da opressão para a terra nova da liberdade, da graça e da paz. Só quem aceita percorrer esse “caminho” experimentará a “salvação de Deus”.
• A preocupação de Lucas em situar concretamente, no espaço e no tempo, os acontecimentos da salvação chama a atenção aos profetas que anunciam a “vinda do Senhor”, no sentido de encarnar o seu anúncio no contexto cultural e político onde estão inseridos, a ir ao encontro do homem concreto, com a sua linguagem, os seus problemas concretos, as suas ânsias, os seus dramas, sonhos e esperanças. A linguagem com que o profeta anuncia a salvação não pode ser uma linguagem desencarnada, mas tem se ser uma linguagem viva, questionante, interpelativa.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º DOMINGO DO ADVENTO
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. GESTO PARA O INÍCIO DA CELEBRAÇÃO.
Para sublinhar o apelo à conversão, bem presente no Evangelho, pode-se escolher a aspersão como rito penitencial. O cântico de entrada poderá acompanhar também o rito de aspersão com água benzida, em sinal de conversão e penitência.3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.No final da primeira leitura:
“Deus de alegria, de justiça e de paz, bendito és Tu, porque nunca Te esqueces. Não esqueceste as tuas promessas, mas realizaste-as plenamente pela missão do teu Filho Jesus, que nos reúne na nova Jerusalém.
Nós Te pedimos: conduz as tuas comunidades na alegria, à luz da tua glória, dá-nos como segurança a tua misericórdia e a tua justiça”.No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pela acção que começaste nas nossas comunidades e em cada um de nós, e que Tu continuas fielmente até ao dia de Cristo.
Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos guie, para que possamos caminhar sem vacilar até ao dia de Cristo, que Ele nos faça progredir no conhecimento da tua vontade”.No final do Evangelho:
“Deus fiel, proclamamos a infinita paciência que puseste em acção ao longo dos séculos para preparar a vinda do teu Filho à nossa humanidade. Nós Te damos graças pelo envio dos profetas até João Baptista.
Nós Te pedimos por todas as nossas comunidades: aplanai os caminhos que nos ligam uns aos outros e nos abrem o caminho para Ti”.4. BILHETE DE EVANGELHO.
No ano 15 do Reino de Tibério, o povo de Israel tinha sido bem posto à prova… Quantos caminhos de ocupação! Quantas ravinas de divisões! Quantas montanhas de incompreensões! João Baptista anuncia um futuro melhor, mas pede que se participe na sua realização: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas… e toda a criatura verá a salvação de Deus”. Assim, João Baptista revela o verdadeiro rosto de Deus que vem salvar a humanidade, mas quer ter necessidade desta humanidade para que ela coopere na sua salvação. E a conversão, que é apelo de Deus, é ao mesmo tempo apelo do homem. O profeta é o enviado de Deus, é o seu porta-voz. João Baptista, o último dos profetas da Antiga Aliança, é ao mesmo tempo o precursor do Salvador, prepara o caminho da sua vinda, convida os homens a preparar o seu coração para acolher Aquele que vem fazer novas todas as coisas, Aquele que vem mudar a paisagem do mundo e, sobretudo, o coração do homem.5. À ESCUTA DA PALAVRA.
A enumeração é solene. Todos os grandes responsáveis estão em cena: o poder central, com o imperador Tibério e o seu prefeito Pôncio Pilatos; o poder local, com Herodes, Filipe e L
isânias; o poder religioso, com os sumo-sacerdotes Anás e Caifás. Em face deles, um homem semi-nu, sem qualquer poder humano. Um homem que será joguete do poder, João, filho de Zacarias. Três anos mais tarde, um outro homem, semi-nu, em face dos mesmos poderosos, as mãos trespassadas pelos pregos, Jesus, filho de Maria. Que resta dos poderosos de então? Nada, apenas ruínas, recordações dos seus nomes e, mesmo assim, não por causa deles, mas de João e de Jesus, que cruzaram os seus caminhos. Em face, João. Morto, ele também. Mas um dia, a Palavra de Deus foi-lhe dirigida no deserto: “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”. Esta voz ressoa nos nossos ouvidos, não já nos desertos de areia, mas no deserto dos nossos corações, muitas vezes demasiado desertos de esperança, de alegria, de amor. Há sempre entre os homens passagens tortuosas que tornam tão difícil a comunhão, montanhas demasiado altas que impedem de nos vermos, ravinas demasiado profundas que impedem a reconciliação e a paz. A voz de João ressoa ainda nos nossos ouvidos, para que a Palavra possa penetrar sempre nos nossos corações. João desapareceu, mas a Palavra, eterna, feita carne, está sempre presente, porque Jesus ressuscitou, está vivo para sempre. Sobre ele a morte não tem mais nenhum poder, nem qualquer outro poder, político, militar, económico e mesmo religioso! Esta Palavra é dada a nós, hoje. Quando deixamos a Palavra iluminar o nosso caminho e comemos o Pão da Vida – as duas mesas da liturgia eucarística – é Jesus vivo que vem endireitar os nossos caminhos, preencher as nossas ravinas interiores. Então, tornamo-nos porta-vozes da Palavra. Vendo-nos, os homens podem pressentir, pelo menos, a salvação de Deus.6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II. Exprime bem o tema do caminho, da marcha, presente nas leituras.7. PALAVRAS PARA O CAMINHO…
Na primeira leitura, o profeta anuncia que Deus dará ao seu povo para sempre este nome: “Paz da justiça e glória da piedade”. Ao longo da próxima semana, procurar fazer a paz, construir a paz, fazer nascer a paz, no nosso coração e à nossa volta, procurar pronunciar muitas vezes palavras de paz e de esperança… Diz o salmista: “Da nossa boca brotavam expressões de alegria e de nossos lábios cânticos de júbilo”. Os nossos cânticos são pobres e vazios, se não transfigurarem a nossa vida no quotidiano…
Ajudemo-nos uns aos outros… “Discernir o mais importante” será mais fácil para alguns, em pequena equipa, que saberá partilhar na confiança. É uma maneira de nos ajudarmos uns aos outros a progredir espiritualmente, a prepararmo-nos para viver o Natal de outra maneira. Afinal, à maneira de Jesus!UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org -
02ª semana do Advento - Segunda-feira
02ª semana do Advento - Segunda-feira
6 Dezembro 2021Tempo do Advento Segunda Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Isaías 35, 1-10
1 *0 deserto e a terra árida alegrar-se-ão, a estepe exultará e dará flores belas como narcisos. 2Vai cobrir-se de flores e transbordar de júbilo e de alegria. Tem a glória do Líbano, a formosura do monte Carmelo e da planície de Saron. Verão a glória do Senhor, e o esplendor do nosso Deus.3Fortalecei as mãos débeis, robustecei os joelhos vacilantes. 4Dizei aos que têm o coração pusilânime: «Tomai ânimo, não temeist» Eis o vosso Deus, que vem para vos vingar. Deus vem em pessoa retribuir¬vos e salvar-vos. 5Então se abrirão os olhos do cego, os ouvidos do surdo ficarão a ouvir, 6*0 coxo saltará como um veado, e a língua do mudo dará gritos de alegria. Porque as águas jorraram no deserto e as torrentes na estepe. 7A terra queimada mudar-se-e em lago, e as fontes brotarão da terra seca. No covil onde repousavam os chacais, crescerão canas e juncos. 8Haverá ali uma estrada e um caminho que se chamará Via Sagrada. Nenhum impuro passará por ele; é para aqueles que por ele devem andar e os menos espertos não se perderão. 9ali não haverá leões, e nenhum animal feroz por ali passará. Apenas passarão os remidos. 1 DOs que o Senhor libertar é que passarão por ela. Chegarão a Sião entre cânticos de júbilo com a alegria estampada nos seus rostos, transbordando de gozo e de alegria; nos seus corações, não haverá mais tristeza nem aflição.
Isaías oferece-nos hoje um verdadeiro "hino à alegria" pela renovação do cosmos e, sobretudo, do próprio homem. Essa renovação é obra de Deus criador e salvador. Não estamos, pois, diante de uma simples celebração motivada pelo regresso de Babilónia, mas diante de uma proclamação de fé que reconhece na intervenção de Deus a realização dos mais profundos anseios do coração humano.
A alegria contrasta com a aridez do deserto e da estepe. É o contraste entre uma alegria que vem de Deus, que atravessa e vivifica toda a existência, e o sofrimento e a aflição que pesaram sobre o povo durante o exílio. O júbilo fundamenta-se, pois, na intervenção do Senhor, que deu uma volta à história, e que agora guia o seu povo por um caminho seguro. Por isso, até o coxo pode percorrê-lo aos saltos e o mudo pode gritar de alegria.
A beleza poética do texto, à luz do Novo Testamento, torna-se profunda teologia. Deus fez-se nosso próximo e carregou sobre Si as nossas misérias, dando uma volta à história do homem, morrendo por nós, restituindo-nos a vida, a alegria.
Evangelho: Lucas 5, 17-26
17*Certo dia, enquanto Jesus ensinava, estavam ali sentados alguns fariseus e doutores da Lei, que tinham vindo de todas as localidades da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do Senhor levava-o a realizar curas. 18Apareceram uns homens que traziam um paralítico num catre e procuravam fazê-lo entrar e colocá-lo diante dele. 19*Não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao tecto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus. 20*Vendo a fé daqueles homens, disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados.» 210s doutores da Lei e os fariseus começaram a murmurar, dizendo: «Quem é este que profere blasfémias? Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?» 22Mas Jesus, penetrando nos seus pensamentos, tomou a palavra e disse-lhes: «Que estais a pensar em vossos corações? 23Que é mais fácil dizer: 'Os teus pecados estão perdoados; ou dizer: 'Levanta-te e anda? 24*Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, o poder de perdoar pecados, ordeno-te -disse ao paralítico: Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.» 25*No mesmo instante, ergueu-se à vista deles, pegou na enxerga em que jazia e foi para a sua casa, glorificando a Deus. 26Todos ficaram estupefactos e glorificaram a Deus, dizendo cheios de temor: «Hoje vimos maravilhas!»
Jesus surpreendeu os que O rodeavam quando, em vez curar logo o doente que Lhe foi trazido de modo um tanto rocambolesco, lhe dirigiu palavras de perdão: «Homem, os teus pecados estão perdoedos» (v. 20). Mas o próprio texto sugere a razão porque Jesus agiu desse modo: «Vendo a fé daqueles homens ... » (v. 20). É a fé daqueles maqueiros que permite a Jesus falar como fala. Só quem tem fé é capaz de compreender que o maior problema do homem é o pecado, raiz de todos os males que o afligem.
O milagre que Jesus realiza é também uma tentativa de fazer compreender isso mesmo aos doutores da lei e aos fariseus. A sua objecção é teologicamente pertinente, mas também mascara a sua indiferença, a presunção de serem superiores aos outros. Jesus parece-lhes um blasfemo, por se arroga um poder que só a Deus pertence. Mas esse raciocínio interior, e o desafio a Jesus, impedem-nos de ver o verdadeiro mal que aflige aquele homem, e que Deus não é cioso do seu poder de perdoar. Com a chegada do Reino ao mundo, Deus quer instaurar uma praxe profunda e universal de perdão. O perdão que Jesus nos veio trazer (v. 24) é o modelo e a sua fonte dessa praxe, que suscita o espanto e a alegria entre o povo.
Meditatio
É no encontro com Deus que somos salvos. Deus vem salvar-nos, e nós havemos de ir ao seu encontro pelo caminho que Ele mesmo nos prepara: «Haverá ali uma estrada e um caminho que se chamará Via Sagrada ... é para aqueles que por ele devem andar e os menos espertos não se perderão. Apenas passarão os remidos». Mas, para ir ao encontro de alguém, é preciso caminhar. Por isso, as leituras insistem na cura daqueles que não podem caminhar: «o coxo saltará como um veado-; «Levanta-te ... e vai».
O Evangelho dá-nos uma lição de optimismo. São muitos os nossos males, as nossas carências. Mas são exactamente eles que nos levam a buscar o Senhor. Se aquele homem não fosse paralítico, talvez nunca tivesse encontrado a Cristo. Foi a sua limitação que o levou a procurar a Cristo. E Cristo correspondeu ao seu pedido, e ofereceu-lhe muito mais: «Homem, os teus pecados estão perdoedos». Pode surpreender-nos que Jesus tenha, em primeiro lugar, oferecido o perdão dos pecados, àquele que lhe pedia a cura da paralisia. É que o divino Mestre não faz uma leitura superficial dos males da humanidade. Vai ao fundo dos problemas e faz-nos compreender que a mais urgente necessidade é o perdão, pois o pecado é o pior mal, e a raiz de males que afligem a humanidade. O Reino de Deus manifesta-se, em primeiro lugar, como reconciliação do pecador com Deus, como nova possibilidade, oferecida pela graça, para retomar o caminho, depois da paralisia da sua liberdade provocada pela culpa.
Quem não tem fé, continua a pensar que os mais graves problemas da humanidade são outros: a saúde, a economia, a gestão do poder, o subdesenvolv
imento, os desequilíbrios ecológicos ... A Palavra de Deus alerta-nos para outra dimensão mais profunda do mal do homem e, ao mesmo tempo, anuncia a salvação. É por isso que o deserto floresce e a estepe árida regurgita de nova vida.
As nossas Constituições (n. 4) sublinham a sensibilidade teologal do Pe. Dehon.O seu conhecimento dos males da sociedade não é fruto de simples análise sociológica. Leão Dehon vai mais ao fundo da questão, e dá-se conta de que a causa dos males da sociedade, e da própria Igreja, está no pecado visto como "recusa do amor de Cristo", como "amor não é acolhido". Para o Pe. Dehon, se o pecado, recusa do amor de Deus, é "mal de Deus ... mal do Coração de Jesus", é também "mal do homem". É a fonte dos "males da sociedade ... , a causa profunda" da "miséria humana". Por essa razão é que o Fundador, ao falar aos noviços, chega a afirmar que "a reparação por meio do amor puro é a salvação da Igreja e dos povos, é a solução da actual questão social" (CFL III, 46; 25.07.1888). Esta afirmação, desligada da experiência de vida, e especialmente do intenso apostolado social do Pe. Dehon, pode parecer espiritualismo abstracto. Mas, para o Fundador, ela tinha um sentido muito concreto e real: é a fonte espiritual onde se vão beber os meios concretos, as iniciativas mais adequadas para promover as pessoas, as famílias, os trabalhadores, para realizar a reino da justiça e da caridade (cf. NHV IX, 90-92; OSP 2, 29-69; OSP 3, 197-215). A reparação, por meio do amor, leva-o a comprometer-se no apostolado para eliminar, ou, pelo menos reduzir, o poder do pecado, "mal do homem" e, desse modo, reduzir o "mal de Deus e do Coração de Jesus".
A "mística" ou "união íntima ao Coração de Cristo", que caracteriza a vida espiritual do Pe. Dehon, é a mesma "mística" que caracteriza o seu apostolado. A dimensão apostólica (oblação pelos homens) é essencial no carisma dehoniano bem entendido (cf. Cst. 5).A sensibilidade do Pe. Dehon ao pecado como "causa ... profunda" da "miséria humana", tem pouco a ver com a análise do mal-estar social feita por um sociólogo. O Pe. Dehon não se limita às causas próximas e superficiais; vai à "causa mais profunda", a "recusa do amor de Cristo". Por isso, é preciso instaurar o "Seu Reino nas almas e nas sociedades" (Cf. RCJ: OS I, 5).
Oratio
Senhor, Deus da liberdade e da paz, que no perdão dos pecados me dás o sinal da nova criação, faz com que toda a minha vida, reconciliada no teu amor, se torne louvor e anúncio da tua misericórdia.Concede-me a graça de me juntar ao louvor e à acção de graças de todos aqueles e aquelas que, ao longo dos séculos, foram perdoados e curados como o paralítiCO de que fala o evangelho de hoje. Uma vez perdoado e curado, concede-me usar de compaixão e de solidariedade com todos os meus irmãos pecadores, para os conduzir a Ti, redentor da humanidade. Assim exercerei uma importante dimensão da minha vocação reparadora. O teu amor e a tua misericórdia farão florescer desertos, e estepes áridas serão irrigadas e tornadas fecundas ... para glória e alegria do teu coração de Pai. Amen.
Contemplatio
o Coração de Jesus permanecerá sempre para nós o Coração de um amigo, de terno pai, de um esposo. Ele exercerá toda a sua comiseração para com aqueles que recorrerem a Ele com toda a confiança, sejam eles criminososcomo Judas; e Ele não punirá senão os infelizes que obstinadamente recusarem recorrer à sua misericórdia. Para fazer bem esta meditação, basta recordar-se das passagens magníficas nas quais Nosso Senhor proclama a sua misericórdia pelos pecadores: as parábolas tão tocantes do pastor que vai procurar a ovelha transviada no deserto e a traz de volta às costas, da dracma perdida, do filho pródigo e do bom samaritano. Consideremos também a bondade de Jesus em acção, para com os pecadores; Ele perdoa à mulher adúltera e à samaritana, a Madalena, ao ladrão, a S. Pedro.
Jesus e a bondade, são um todo. Jesus é todo coração mesmo pelos pecadores. Antes de proclamar esta misericórdia do seu Coração, Ele coloca-a perante os nossos olhos através de uma acção simbólica. Apresentam-lhe um paralítico. Ele não lhe diz: tu és um pecador, tu não mereces que eu te cure; começa por curá-lo da sua enfermidade espiritual e liberta-o em seguida da sua enfermidade corporal: «Vai, diz-lhe, os teus pecados estão perdoados», e acrescenta: «Toma a tua enxerga e volta para casa». Um momento depois, testemunha aos pobres pecadores, uma bondade, uma condescendência verdadeiramente espantosas. Vive familiarmente com eles, convida-os à sua mesa, e a sua indulgência vai até escandalizar os Fariseus. Estes interpelam os apóstolos e dizem-lhes: «Porque é que o vosso mestre come com os pecadores> Mas Jesus responde-lhes: «O médico não se inquieta com os que estão de saúde, mas sim com os doentes». Jesus tem por nós um coração de amigo e de médico, e não um coração de juiz (Leão Dehon, OSP 2, p. 272s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Coragem: Deus vem selver-nos» (cf. Is 35, 4) -
02ª semana do Advento - Terça-feira
02ª semana do Advento - Terça-feira
7 Dezembro 202102ª semana do Advento - Terça-feira
Tempo do Advento Segunda Semana - Terça-feiraLectio
Primeira leitura: Isaías 40, 1-10
1 Consolai, consolai o meu povo, é o vosso Deus quem o diz 2 Falai ao coração de Jerusalém e gritai-lhe: terminou a vossa servidão, estão perdoados os vossos crimes, pois já recebeu da mão do Senhor o dobro do castigo por todos os seus pecados. 3*Uma voz grita: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplanai na estepe uma estrada para o nosso Deus. 4 Todo o vale seja levantado, e todas as colinas e montanhas sejam abaixadas, todos os cumes sejam aplanados, e todos os terrenos escarpados sejam nivelados!» 5Então a glória do Senhor manifestar-se-á, e toda a gente a há-de ver ao mesmo tempo. É o Senhor quem o declara. 6 Diz uma voz: «Proclama!» Respondo: «Que hei-de proclamar?» «Proclama que toda a gente é como a erva e toda a sua beleza como a flor dos campos! 7A erva seca e a flor murcha, quando o sopro do Senhor passa sobre elas. Verdadeiramente o povo é semelhante à erva. 8 A erva seca e a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente.» 9 Sobe a um alto monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém; levanta a voz sem receio, e diz às cidades de Judá: «Aí está o vosso Deus! 10 Olhai, o Senhor Deus vem com a força do seu braço dominador; olhai, vem com o preço da sua vitória, e com a recompensa antecipada. 11 É como um pastor que apascenta o rebanho, reúne-o com o cajado na mão, leva os cordeiros ao colo, e faz repousar as ovelhas que têm cries»
Os exilados em Babilónia experimentam um profundo desânimo e tristeza A sua fé corre perigo: ter-se-é Deus esquecido do seu povo, mantém-se a sua Palavra, tem Jerusalém uma esperança? Um profeta anónimo, cujos oráculos são acrescentados ao livro de Isaías, procura animar os exilados. Os oráculos desse profeta ocupam os capítulos 40-55 do livro de Isaías. Começamos a lê-los hoje. E aparece-nos imediatamente a motivação desses oráculos: «Consolai, consolai o meu povo», diz o Senhor (v. 1). A consolação vem da Aliança restaurada e de uma nova relação com o Senhor. O regresso à pátria é, para o Deutero-Isaías, um sinal dessa renovação e dessa nova relação. Trata-se de um regresso triunfal, a que se junta a própria criação. O Senhor, qual guerreiro triunfante e pastor cuidadoso, caminha com o seu povo.
O profeta tem a missão de preparar este regresso do Senhor (v. 3). A alma do povo, tornada semelhante à estepe do deserto, acidentada e seca por causa dos sofrimentos, desilusões e infidelidades, poderá acolher a glória de Deus com um entusiasmo ainda maior que o experimentado durante o Êxodo (v. 5). Se o homem é frágil, e as suas promessas efémeras, a palavra do Senhor é estável e o seu compromisso com a humanidade é eterno. É na estabilidade do Senhor que o povo desterrado em Babilónia há-de confiar.
Evangelho: Mateus 18, 12-14
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:12*Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove no monte, para ir à procura da tresmalhada? 13 E, se chegar a encontrá-Ia, em verdade vos digo: alegra-se mais com ela do que com as noventa e nove que não se tresmalharam. 14 Assim também é da vontade de vosso Pai que está no Céu que não se perca um só destes pequeninos.»
A parábola da ovelha perdida é uma exortação a partilhar a alegria do perdão que Deus concede aos pecadores que se convertem, e a tornar-nos também disponíveis para oferecer o perdão aos outros. Mateus insere a mesma parábola no discurso eclesial, no contexto das orientações sobre a vida da comunidade: tornar-se pequeno, estar disponível para acolher, cuidar dos que vacilam na fé ... (cf. Mt 18).
Em coerência com esse contexto, Mateus não põe directamente Deus à procura da ovelha tresmalhada, mas a comunidade. É a solicitude pastoral da comunidade que torna visível o rosto de Deus que vai à procura do cristão perdido, do pecador.Deixar as noventa e nove ovelhas, para procurar uma perdida, é verdadeira loucura. É a loucura do Deus de Jesus, que há-de tornar-se loucura da comunidade (v. 14). Esta, não deve guiar-se por critérios de eficiência, mas pelo cuidado para com os pequenos, os marginalizados, os perdidos. O resultado não está automaticamente garantido: «se chegar a encontrá-ts» (v. 13) ... O importante é que a comunidade procure aquele que anda perdido e faça por encontrá-Ia ...
Meditatio
São muitas as razões para andarmos tristes e desanimados. Mas a palavra do Senhor consola-nos e reanima em nós a esperança.: «Consolai, consolai o meu povo!... Aí está o vosso Deus!.. o Senhor Deus vem com a força do seu braço dommedt», A Boa Notícia ecoa pela terra: Deus vem com poder e com doçura semelhante à de um pastor que leva os cordeiros ao colo e conduz devagar as ovelhas que têm crias.
Jesus aplica a si esta imagem bíblica tão sugestiva. «Eu sou o Bom Pastor».
Esta expressão sugere a ternura com que olha por nós, e a força com que intervém para vencer os inimigos da nossa liberdade e da nossa dignidade, o cuidado com que nos guia pelos difíceis e atormentados caminhos da vida.
Quantas vezes na vida, individualmente ou em comunidade, experimentámos as consolações do nosso Deus, nos sentimos conduzidos nos seus braços amorosos. Esta experiência deve incitar-nos a procurar aqueles que andam perdidos, que andam afastados de Deus.
Como discípulos, e como comunidade, somos chamados a manifestar a todos o rosto do Pai misericordioso, indo à procura daqueles que, no caminho da vida, perderam a fé e a esperança. Somos consolados, chamados a ser consoladores, tornando-nos companheiros de viagem daqueles que têm o coração aflito e estão sobrecarregados pelo sofrimento ou pela culpa. Podemos fazê-lo com a consciência de que a consolação não vem de nós, mas vem da Palavra de Deus que permanece para sempre.Cristo revela-nos o Seu amor nos modos mais diferentes, como Verbo de Deus feito carne, como sacerdote misterioso, como vítima pelos nossos pecados, como bom Pastor que dá a vida por nós suas ovelhas. Somos chamados a corresponder a esse amor, deixando-nos encontrar, deixando-nos tratar, deixando-nos conduzir à comunidade, à Igreja, tornando-nos profetas e apóstolos do amor.
Foi essa a resposta do Pe. Dehon, que o levou a unir-se e a unir toda a sua vida à oblação de Cristo, a viver o "amor puro" e a lançar-se no seu intenso apostolado social. Foi assim que, de modo muito concreto, realizou a sua vocação de oblato e reparador.
Quem salva o mundo não é o homem, mas Deus, em Jesus Cristo. Mas também é preciso o nosso trabalho, as nossas obras. Mas tudo isso vale para a salvação na medida em
que é cristificado, isto é, na medida em que comunica a morte e a vida de Cristo, Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas. Essa comunicação não há-de realizar-se só por meio de palavras, mas também pelo dom da nossa vida, à semelhança de Cristo: "Em nós actua a morte, em vó~ a vida" (2 Cor 4, 12).Oratio
Sobe a um alto monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém; levanta a V04 sem receio, e diz às cidades de Judá: «Aí está o vosso Deus! Olhai, o Senhor Deus vem com a força do seu braço dominador; olhai, vem com o preço da sua vitória, e com a recompensa antecipada.
Senhor, o teu Evangelho é Boa Notícia porque leva consolação aos fracos, aos perdidos e aos escravos de muitos senhores. Hoje, continuas a anunciá-lo ao teu povo aflito, porque és um Deus fiel. És o divino Amante que nos diriges o teu convite de amor e nos falas ao coração. És o Deus de todas as consolações.
Faz com que, também nós, possamos consolar os aflitos e oprimidos, com a mesma consolação que de Ti recebemos. Impele-nos a procurar o que anda perdido. Tu és o Bom Pastor que quer salvar a ovelha perdida, mas querida ao teu coração. E queres salvá-Ia também com a nossa solidariedade.
Eis-nos aqui, disponíveis a colaborar, para que a voz do teu Filho, manso e humilde de coração, seja escutada no mundo, e todos possam regressar ao redil, à vida verdadeira, só possível junto de Ti. Amen.
Contemplatio
Como Nosso Senhor é amável sob este título que resume tão bem todas as bondades do seu Coração para connosco! Foi ele mesmo que deu a si mesmo este título e que nos recordou todas as solicitudes, todas as ternuras, todas as dedicações de um bom pastor.
O bom pastor conhece todas as suas ovelhas. Chama-as uma a uma. Caminha diante delas. Condu-Ias às melhores pastagens.
Espiritualmente, temos por alimento da nossa alma a palavra viva de Nosso Senhor, e para o nosso coração o alimento celeste da Eucaristia.
O bom Pastor dá os seus cuidados mais diligentes a todas as suas ovelhas. Se vê algumas que sofrem, feridas, cansadas, toma-as sobre os seus ombros, leva-as para o redil e cuida delas amorosamente. Nosso Senhor faz isto por nós pela confissão, pela direcção e pela sua Providência, tão assídua e tão delicada.O bom Pastor não perde de vista as suas ovelhas, a sua solicitude é extrema.
Vela pela sua segurança, preserva-as da malícia dos maus e defende-os contra os embustes do demónio.
Para as salvar, dá até à última gota do seu sangue.
Não é verdadeiramente o Salvador com o seu Coração cheio de uma bondade inesgotável? (Leão Dehon, OSP 3, p. 472).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O Senhor Deus vem como um pastor que apascenta o rebanho. (cf Is 40, 10- 11) -
Solenidade da Imaculada Conceição – Ano C
Solenidade da Imaculada Conceição – Ano C
8 Dezembro 2021ANO C
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIATema da Solenidade da Imaculada Conceição
Na Solenidade da Imaculada Conceição somos convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo.
A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projecto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher – um projecto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projecto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
A primeira leitura mostra (recorrendo à história mítica de Adão e Eva) o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência… Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.
O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a auto-suficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu “sim” total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.
LEITURA I – Gen 3,9-15.20Leitura do Livro do Génesis
Depois de Adão ter comido da árvore,
o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
Ele respondeu:
«Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
Disse Deus:
«Quem te deu a conhecer que estavas nu?
Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
Adão respondeu:
«A mulher que me destes por companheira
deu-me do fruto da árvore e eu comi».
O Senhor Deus perguntou à mulher:
«Que fizeste?»
E a mulher respondeu:
«A serpente enganou-me e eu comi».
Disse então o Senhor à serpente:
«Por teres feito semelhante coisa,
maldita sejas entre todos os animais domésticos
e entre todos os animais selvagens.
Hás-de rastejar e comer do pó da terra
todos os dias da tua vida.
Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a descendência dela.
Esta te esmagará a cabeça
e tu a atingirás no calcanhar».
O homem deu à mulher o nome de ‘Eva’,
porque ela foi a mãe de todos os viventes.AMBIENTE
O relato jahwista de Gn 2,4b-3,24 sobre as origens da vida e do pecado (ao qual pertence o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura) é, de acordo com a maioria dos comentadores, um texto do séc. X a.C., que deve ter aparecido em Judá na época do rei Salomão. Apresenta-se num estilo exuberante e vivo e parece ser obra de um catequista popular, que ensina recorrendo a imagens sugestivas, coloridas e fortes.
Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem jornalística de acontecimentos passados na aurora da humanidade. A finalidade do autor não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas do homem. Trata-se, portanto, de uma página de catequese.
Esta longa reflexão sobre as origens da vida e do mal que desfeia o mundo está estruturada num esquema tripartido, com duas situações claramente opostas e uma realidade central que aparece como charneira e ao redor da qual giram a primeira e a terceira parte… Na primeira parte (cf. Gn 2,4b-25), o autor descreve a criação do paraíso e do homem; apresenta a criação de Deus como um espaço ideal de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com as outras criaturas. Na segunda parte (cf. Gn 3,1-7), o autor descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas do homem introduziram na comunhão do homem com Deus e com o resto da criação factores de desequilíbrio e de morte. Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), o autor apresenta o homem e a mulher confrontados com o resultado das suas opções erradas e as consequências que daí advieram, quer para o homem, quer para o resto da criação.
Na perspectiva do catequista jahwista, Deus criou o homem para a felicidade… Então, pergunta ele, como é que hoje conhecemos o egoísmo, a injustiça, a violência que desfeiam o mundo? A resposta é: algures na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu na criação boa de Deus dinamismos de sofrimento e de morte.
O nosso texto pertence à terceira parte do tríptico. Os personagens intervenientes são Deus (que “passeia no jardim à brisa do dia” – vers. 8a), Adão e Eva (que se esconderam de Deus por entre o arvoredo do jardim – vers. 8b).MENSAGEM
A nossa leitura começa com a “investigação” de Deus… Antes de proferir a sua acusação, Deus – o acusador e juiz – investiga, descobre e estabelece os factos.
Primeira pergunta feita por Deus ao homem: “onde estás?” A resposta do homem é já uma confissão da sua culpabilidade: “ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me” (vers. 9-10). A vergonha e o medo são sinal de uma perturbação interior, de uma ruptura com a anterior situação de inocência, de harmonia, de serenidade e de paz. Como é que o homem chegou a esta situação? Evidentemente, desobedecendo a Deus e percorrendo caminhos contrários àqueles que Deus lhe havia proposto. A resposta do homem trai, portanto, o seu segredo e a sua culpa.
Depois desta constatação, a segunda pergunta feita por Deus ao homem é meramente retórica: “terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira de comer?” (vers. 11). A árvore em causa – a “árvore do conhecimento do bem e do mal” – significa o orgulho, a auto-suficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação ao criador. A situação do homem, perturbado e em ruptura, é já uma resposta clara à pergunta de Deus… É evidente que o homem “comeu da árvore proibida” – isto é, escolheu um caminho de orgulho e de auto-suficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e o medo.
Ao defender-se, o homem acusa a mulher e, ao mesmo tempo, acusa veladamente o próprio Deus pela situação em que está (“a mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi” – vers. 12). Adão representa essa humanidade que, mergulhada no egoísmo e na auto-suficiência, esqueceu os dons de Deus e vê em Deus um adversário; por outro lado, a resposta de Adão mostra, igualmente, uma humanidade que quebrou a sua unidade e se instalou na cobardia, na falta de solidariedade, no ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus não pode senão conduzir a uma vida de ruptura com Deus e com os outros irmãos.
Vem, depois, a “defesa” da mulher: “a serpente enganou-me e eu comi” (vers. 13). Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas deixavam-se fascinar por esses cultos e, com frequência, abandonavam Jahwéh para seguir os rituais religiosos dos cananeus e assegurar, assim, a fecundidade dos campos e dos rebanhos. Na época em que o autor jahwista escreve a serpente era, pois, o “fruto proibido”, que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A “serpente” é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da “mulher” confirma tudo aquilo que até agora estava sugerido: é verdade, a humanidade que Deus criou prescindiu de Deus, ignorou as suas propostas e enveredou por outros caminhos. Achou, no seu egoísmo e auto-suficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à margem de Deus, prescindindo das propostas de Deus.
Diante disto, não são precisas mais perguntas. Está claramente definida a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, totalmente à margem dos caminhos que foram propostos por Deus.
Que tem Deus a acrescentar? Pouco mais, a não ser condenar como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança e dos mandamentos (vers. 14-15). O nosso catequista jahwista sabe que a serpente é um animal miserável, que passa toda a sua existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado para pintar, plasticamente, a condenação radical de tudo aquilo que leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar por caminhos de egoísmo e de auto-suficiência.
O que é que significa a inimizade e a luta entre a “descendência” da mulher e a “descendência” da serpente? Provavelmente, o autor jahwista está, apenas, a dar uma explicação etiológica (uma “etiologia” é uma tentativa de explicar o porquê de uma determinada realidade que o autor conhece no seu tempo, a partir de um pretenso acontecimento primordial, que seria o responsável pela situação actual) para o facto de a serpente inspirar horror aos humanos e de toda a gente lhe procurar “esmagar a cabeça”; mas a interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia messiânica: Deus anuncia que um “filho da mulher” (o Messias) acabará com as consequências do pecado e inserirá a humanidade numa dinâmica de graça.
Atenção: o autor sagrado não está a falar de um pecado cometido nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira mulher; mas está a falar do pecado cometido por todos os homens e mulheres de todos os tempos… Ele está apenas a ensinar que a raiz de todos os males está no facto de o homem prescindir de Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de auto-suficiência. Não conhecemos bem este quadro?ACTUALIZAÇÃO
• Um dos mistérios que mais questiona os nossos contemporâneos é o mistério do mal… Esse mal que vemos, todos os dias, tornar sombria e deprimente essa “casa” que é o mundo, vem de Deus, ou vem do homem? A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de Deus… Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para imprimirmos à nossa existência uma dinâmica de vida, de felicidade, de realização plena.
• O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e auto-suficiência. Quando o homem escolhe viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor, constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de pecado… Quais os caminhos que eu escolho? As propostas de Deus fazem sentido e são, para mim, indicações seguras para a felicidade, ou prefiro ser eu próprio a fazer as minhas escolhas, à margem das propostas de Deus?
• O nosso texto deixa também claro que prescindir de Deus e caminhar longe dele leva o homem ao confronto e à hostilidade com os outros homens e mulheres. Nasce, então, a injustiça, a exploração, a violência. Os outros homens e mulheres deixam de ser irmãos, para passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, à própria segurança, aos próprios interesses. Como é que eu me situo face aos meus irmãos? Como é que eu me relaciono com aqueles que são diferentes, que invadem o meu espaço e interesses, que me questionam e interpelam?
• O nosso texto ensina, ainda, que prescindir de Deus e dos seus caminhos significa construir uma história de inimizade com o resto da criação. A natureza deixa de ser, então, a casa comum que Deus ofereceu a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. O que é que a criação de Deus significa para mim: algo que eu posso explorar de forma egoísta, ou algo que Deus ofereceu a todos os homens e mulheres e que eu devo respeitar e guardar com amor?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:
o Senhor fez maravilhas.Cantai ao Senhor um cântico novo,
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.O Senhor deu a conhecer a salvação
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.
LEITURA II – Ef 1,3-6.11-12Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que do alto dos Céus nos abençoou
com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis,
em caridade, na sua presença.
Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade,
a fim de sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo,
para louvor da sua glória
e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho.
Em Cristo fomos constituídos herdeiros,
por termos sido predestinados,
segundo os desígnios d’Aquele que tudo realiza
conforme a decisão da sua vontade,
para sermos um hino de louvor da sua glória,
nós que desde o começo esperámos em Cristo.AMBIENTE
A cidade de Éfeso, capital da Província romana da Ásia, estava situada na costa ocidental da Ásia Menor. O seu importante porto e a sua numerosa população faziam dela uma cidade florescente. Paulo passou em Éfeso na sua segunda viagem missionária (cf. Act 18,19-21) e, durante a sua terceira viagem missionária, fez de Éfeso o quartel-general, a partir do qual evangelizou toda a zona ocidental da Ásia Menor.
A nossa Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma “carta circular” enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60.
Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama “o mistério”: trata-se do projecto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos “últimos tempos”, tornado presente no mundo pela Igreja.
O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É parte de um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela acção do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14), no sentido de oferecer aos homens a salvação.MENSAGEM
A acção de graças dirige-se a Deus, pois Ele é a fonte última de todas as graças concedidas aos homens. Essas graças atingiram os homens através do Filho, Jesus Cristo.
Qual é então, segundo este hino, a acção do Pai?
O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre (“antes da criação do mundo”). Elegeu-nos para quê? A resposta é: “para sermos santos e irrepreensíveis”. A palavra “santo” indica a situação de alguém que foi separado do mundo e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra “irrepreensível” era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito… Significa, pois, uma santidade (isto é, uma consagração a Deus) verdadeira e radical.
Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos “para sermos seus filhos adoptivos”. Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta acção de Deus é o louvor da sua glória.
“Eleição” e “adopção como filhos” resultam do imenso amor de Deus pelos homens – um amor que é gratuito, incondicional e radical.
E Jesus Cristo, o Filho, que papel teve neste processo?
Nos vers. 7-10 (que, no entanto, a liturgia deste dia não conservou), o autor do hino refere-se ao sangue derramado de Cristo e ao seu significado redentor. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do espantoso amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projecto de salvação (que o hino chama “o mistério”) e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus (na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida), a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da acção redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento (não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela auto-suficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida) com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação.
Dessa forma (e voltamos agora a retomar o texto que a liturgia deste dia nos propõe), em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projecto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).ACTUALIZAÇÃO
• O nosso texto afirma, de forma clara, que Deus tem um projecto de vida plena e total para os homens, um projecto que desde sempre esteve na mente de Deus. É muito importante termos isto em conta: não somos um acidente de percurso na evolução inexorável do cosmos, mas somos actores principais de uma história de amor que o nosso Deus sempre sonhou e que Ele quis escrever e viver connosco… No meio das nossas desilusões e dos nossos sofrimentos, da nossa finitude e do nosso pecado, dos nossos medos e dos nossos dramas, não esqueçamos que somos filhos amados de Deus, a quem Ele oferece continuamente a vida definitiva, a verdadeira felicidade.
• De acordo com o nosso texto, Deus “elegeu-nos… para sermos santos e irrepreensíveis”. Já vimos que “ser santo” significa ser consagrado para o serviço de Deus. O que é que isto implica em termos concretos? Entre outras coisas, implica tentar descobrir o plano de Deus, o projecto que Ele tem para cada um de nós e concretizá-lo dia a dia com verdade, fidelidade e radicalidade. No meio das solicitações do mundo e das exigências da nossa vida profissional, social e familiar, temos tempo para Deus, para dialogar com Ele e para tentar perceber os seus projectos e propostas? E temos disponibilidade e vontade de concretizar as suas propostas, mesmo quando elas não são conciliáveis com os nossos interesses pessoais?
• O nosso texto afirma, ainda, a centralidade de Cristo nesta história de amor que Deus quis viver connosco… Jesus veio ao nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai, e oferecendo-Se até à morte para nos ensinar a viver no amor. Como é que assumimos e vivemos essa proposta de amor que Jesus nos apresentou? Aprendemos com Ele a amar sem excepção e com radicalidade?
ALELUIA – cf. Lc 1,28Aleluia. Aleluia.
Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres.
EVANGELHO – Lc 1,26-38Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José.
O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras
e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo:
«Não temas, Maria,
porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho,
a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob
e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo:
«Como será isto, se eu não conheço homem?»
O Anjo respondeu-lhe:
«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso, o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:
«Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra».AMBIENTE
O texto que nos é hoje proposto pertence ao “Evangelho da Infância” na versão de Lucas. De acordo com os biblistas actuais, os textos do “Evangelho da Infância” pertencem a um género literário especial, chamado homologese. Este género não pretende ser um relato jornalístico e histórico de acontecimentos; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a proclamar certas realidades salvíficas (que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o “Deus connosco”). Desenvolve-se em forma de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do texto sagrado usada pelos rabbis judeus da época de Jesus). A homologese utiliza e mistura tipologias (factos e pessoas do Antigo Testamento encontram a sua correspondência em factos e pessoas do Novo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos), para fazer avançar a narração e para explicitar determinada catequese sobre Jesus. O Evangelho que nos é hoje proposto deve ser entendido a esta luz: não interessa, pois, estar aqui à procura de factos históricos; interessa, sobretudo, perceber o que é que a catequese cristã primitiva nos ensina, através destas narrações, sobre Jesus.
A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e estranha, em permanente contacto com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que “da Galileia não pode vir nada de bom”. Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e, portanto (de acordo com a mentalidade judaica), completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.
Maria, a jovem de Nazaré que está no centro deste episódio, era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimónias do matrimónio propriamente dito)… Entre os “esponsais” e o rito do matrimónio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27)… E a união entre os dois “prometidos” só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de “prometidos”: ainda não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os “esponsais”.MENSAGEM
Depois da apresentação do “ambiente” do quadro, Lucas apresenta o diálogo entre Maria e o anjo.
A conversa começa com a saudação do anjo. Na boca deste, são colocados termos e expressões com ressonância vétero-testamentária, ligados a contextos de eleição, de vocação e de missão. Assim, o termo “ave” (em grego, “kaire”) com que o anjo se dirige a Maria é mais do que uma saudação: é o eco dos anúncios de salvação à “filha de Sião” – uma figura fraca e delicada que personifica o Povo de Israel, em cuja fraqueza se apresenta e representa essa salvação oferecida por Deus e que Israel deve testemunhar diante dos outros povos (cf. 2 Re 19,21-28; Is 1,8; 12,6; Jer 4,31; Sof 3,14-17). A expressão “cheia de graça” significa que Maria é objecto da predilecção e do amor de Deus. A outra expressão “o Senhor está contigo” é uma expressão que aparece com frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento (cf. Ex 3,12 – vocação de Moisés; Jz 6,12 – vocação de Gedeão; Jer 1,8.19 – vocação de Jeremias) e que serve para assegurar ao “chamado” a assistência de Deus na missão que lhe é pedida. Estamos, portanto, diante do “relato de vocação” de Maria: a visita do anjo destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta vai exigir uma resposta clara de Maria.
Qual é, então, o papel proposto a Maria no projecto de Deus?
A Maria, Deus propõe que aceite ser a mãe de um “filho” especial… Desse “filho” diz-se, em primeiro lugar, que ele se chamará “Jesus”. O nome significa “Deus salva”. Além disso, esse “filho” é apresentado pelo anjo como o “Filho do Altíssimo”, que herdará “o trono de seu pai David” e cujo reinado “não terá fim”. As palavras do anjo levam-nos a 2 Sm 7 e à promessa feita por Deus ao rei David através das palavras do profeta Nathan. Esse “filho” é descrito nos mesmos termos em que a teologia de Israel descrevia o “messias” libertador. O que é proposto a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe desse “messias” que Israel esperava, o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação definitivas.
Como é que Maria responde ao projecto de Deus?
A resposta de Maria começa com uma objecção… A objecção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento (cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reacção natural de um “chamado”, assustado com a perspectiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da fragilidade e das limitações dos “chamados”, faz deles instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo.
Diante da “objecção”, o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a cobrirá com a sua sombra. Este Espírito é o mesmo que foi derramado sobre os juízes (Oteniel – cf. Jz 3,10; Gedeão – cf. Jz 6,34; Jefté – cf. Jz 11,29; Sansão – cf. Jz 14,6), sobre os reis (Saul – cf. 1 Sm 11,6; David – cf. 1 Sm 16,13), sobre os profetas (cf. Maria, a profetisa irmã de Aarão – cf. Ex 15,20; os anciãos de Israel – cf. Nm 11,25-26; Ezequiel – cf. Ez 2,1; 3,12; o Trito-Isaías – cf. Is 61,1), a fim de que eles pudessem ser uma presença eficaz da salvação de Deus no meio do mundo. A “sombra” ou “nuvem” leva-nos, também, à “coluna de nuvem” (cf. Ex 13,21) que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto, indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova. A questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-Se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens.
O relato termina com a resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Afirmar-se como “serva” significa, mais do que humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica – pois, no Antigo Testamento, ser “servo do Senhor” é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele reservou para o seu serviço e que Ele enviou ao mundo com uma missão (essa designação aparece, por exemplo, no Deutero-Isaías – cf. Is 42,1; 49,3; 50,10; 52,13; 53,2.11 – em referência à figura enigmática do “servo de Jahwéh”). Desta forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projecto de Deus.ACTUALIZAÇÃO
• A liturgia deste dia afirma, de forma clara e insofismável, que Deus ama os homens e tem um projecto de vida plena para lhes oferecer. Como é que esse Deus cheio de amor pelos seus filhos intervém na história humana e concretiza, dia a dia, essa oferta de salvação? A história de Maria de Nazaré (bem como a de tantos outros “chamados”) responde, de forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos projectos de Deus e de coração disponível para o serviço dos irmãos, que Deus actua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. Já pensamos que é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus Se torna presente no mundo e transforma o mundo?
• Outra questão é a dos instrumentos de que Deus Se serve para realizar os seus planos… Maria era uma jovem mulher de uma aldeia obscura dessa “Galileia dos pagãos” de onde não podia “vir nada de bom”. Não consta que tivesse uma significativa preparação intelectual, extraordinários conhecimentos teológicos, ou amigos poderosos nos círculos de poder e de influência da Palestina de então… Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história vocacional de Maria deixa claro que, na perspectiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.
• Diante dos apelos de Deus ao compromisso, qual deve ser a resposta do homem? É aí que somos colocados diante do exemplo de Maria… Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um “sim” total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa de vida e os seus projectos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses projectos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos de Deus. O testemunho de Maria é um testemunho questionante, que nos interpela fortemente… Que atitude assumimos diante dos projectos de Deus: acolhemo-los sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus, ou assumimos uma atitude egoísta de defesa intransigente dos nossos projectos pessoais e dos nossos interesses egoístas?
• É possível a alguém entregar-se tão cegamente a Deus, sem reservas, sem medir os prós e os contras? Como é que se chega a esta confiança incondicional em Deus e nos seus projectos? Naturalmente, não se chega a esta confiança cega em Deus e nos seus planos sem uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus. Maria de Nazaré foi, certamente, uma mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar e era a prioridade fundamental. Maria de Nazaré foi, certamente, uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente n’Ele. No meio da agitação de todos os dias, encontro tempo e disponibilidade para ouvir Deus, para viver em comunhão com Ele, para tentar perceber os seus sinais nas indicações que Ele me dá dia a dia?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org -
02ª semana do Advento - Quinta-feira
02ª semana do Advento - Quinta-feira
9 Dezembro 2021Tempo do Advento Segunda Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Isaías 41, 13-20
13porque Eu, o Senhor, teu Deus tomo-te pela mão, e digo-te: 'Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei!' 14*Não tenhas medo, pobre vermezinho de Jacob, mísero insecto de Israel. Eu próprio te ajudarei. -oráculo do Senhor. O teu redentor é o Santo de Israel. 15Farei de ti uma grade aguçada, nova e armada de dentes; trilharás as montanhas e as triturarás. Reduzirás a palha as colinas. 16Tu as joeirarás e o vento levá-Ias-á, e o vendaval as espalhará. Exultarás, então, no Senhor, gloriar-te-ás no Santo de Isreei» 170s pobres e os necessitados buscam água e não a encontram. Têm a língua ressequida pela sede. Mas Eu, o Senhor, os atenderei; Eu, o Deus de Israel, não os abandonarei.18Farei brotar rios nos morros escalvados e fontes do fundo dos vales. Transformarei o deserto num reservatório e a terra árida em arroios de água. 19P1antarei no deserto cedros e acácias, murtas e oliveiras. Farei crescer na terra seca o cipreste, ao lado do ulmeiro e do buxo, 20para que vejam e saibam, considerem e compreendam, de uma vez por todas, que é a mão do Senhor que faz estas coisas, que o Santo de Israel as realizou.
No contexto social do Antigo Testamento, havia a figura do "resgatador" (go 'el), parente que, devido à proximidade de sangue, tinha a função de resgatar outro parente caído na escravidão ou obrigado a alienar uma propriedade para pagar uma dívida. A função de "resgatador" podia também resultar de uma aliança: uma pessoa comprometia-se a resgatar outra caída nas referidas situações, ou a vingá-Ia, caso fosse morta. O Senhor resgata Israel porque lhe estava ligado por uma familiaridade ou solidariedade parental fundadas na criação e, mais ainda, na libertação do Egipto e no dom da Aliança e da Terra. O povo pode e deve, pois, contar com o Senhor, que quer salvá-lo dos inimigos e enchê-lo de alegria e de benefícios.
O povo deve, portanto, reconhecer-se entre os sedentos que em vão procuram água, mas a quem o Senhor vai ao encontro para os saciar. Para esse povo, Deus prepara um novo êxodo através de um deserto, que cobre de luxuriante vegetação e rega por meio de rios de água como o Éden (v. 18). Nesse encantador jardim, o povo de Deus irá reencontrar o seu Deus: verá, reflectirá e finalmente compreenderá a obra do Senhor (v. 20).
Recorrendo ao tema da criação, Isaías lembra que a acção salvífica de Deus não será exclusiva de Israel, mas aberta a todos os povos.
Evangelho: Mateus 11, 11-15
Naquele tempo disse Jesus á multidão: 11 *Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista; e, no entanto, o mais pequeno no Reino do Céu é maior do que ele. 12*Desde o tempo de João
Baptista até agora, o Reino do Céu tem sido objecto de violência e os violentos apoderam-se dele à força. i3porque todos os profetas e a Lei anunciaram isto até João. i4E, quer acrediteis ou não, ele é o Elias que estava para vir. i5Quem tem ouvidos, oiça!»
Mateus, depois de narrar o envio a Jesus de alguns discípulos de João, refere as palavras de Jesus sobre o mesmo João, prisioneiro de Herodes. Exalta a firmeza da fé e a grandeza do profeta, afirmando que não apareceu ninguém maior do que ele no mundo (v. 11). Mas quem se torna discípulo de Jesus entra numa nova ordem de salvação, na economia do reino, onde, mesmo o mais pequeno, é revestido da incomparável dignidade de filho de Deus (v. 11). Jesus dá ainda a entender que a missão de João não se esgota em anunciar o Messias, mas que, no Baptista, será antecipado o destino doloroso do Messias.
Finalmente Jesus convida-nos a uma compreensão profunda da missão e da pessoa de João Baptista, à luz da Lei e dos Profetas, isto é, do projecto de Deus testemunhado nas Escrituras. Uma leitura atenta e um bom discernimento (v. 15) levar-nos-ão a compreender que João está na charneira entre as duas economias, está entre a expectativa e a realização, que nele se realiza o regresso de Elias, objecto de esperança na tradição bíblico-judaica, como precursor imediato do Messias.
Meditatio
«Eu, o Senhor, teu Deus tomo-te pela mão, e digo-te: 'Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei! ' Não tenhas medo ... Eu próprio te ajudarei». Estas palavras, ou outras semelhantes são frequentemente repetidas na Sagrada Escritura. São dirigidas a Israel ou a pessoas concretas que Deus escolhe chama para servir o seu povo. «Não tenhas medo; Eu estarei cootiço-, diz Deus a Moisés, quando o encarrega de ir libertar o seu povo do Egipto. «Não tenhas medo; Eu estarei contiço-, diz o Senhor a Josué quando o põe à cabeça de umas tribos nómadas, as de Israel, para conquistar cidades fortificadas. «Não tenhas medo; Eu estarei contiço», diz o Senhor a Paulo em várias circunstâncias da sua vida apostólica e especialmente quando, no cárcere, aguarda a morte.
É esta Presença, que tudo transforma, que esperamos no Natal. Deus vem ao encontro do seu povo e de cada um de nós. Torna-se Emanuel, Deus connosco. Vem na fraqueza da condição humana, para nos socorrer, não pelo poder e pela força, mas pela solidariedade e pela proximidade connosco. Sem esta presença e proximidade de Deus, cada um de nós não passaria de um «pobre verrnesinho».
O encontro com Deus, meu redentor, meu go 'et, só é possível com a minha colaboração livre. Implica a minha opção de fé, a decisão de me abrir à compreensão profunda das Escrituras que me põem em contacto com a radical novidade do plano de Deus manifestado na vinda de Jesus. Só assim o meu coração se renova.A figura do Baptista é uma severa provocação a reconhecer a enorme oportunidade que me é oferecida para entrar no Reino e acolher o dom imenso da dignidade de filho de Deus, que ultrapassa toda e qualquer outra dignidade.
O texto termina com um forte convite a não demorar, a não me deixar paralisar pelo medo, mas a ir lesto ao encontro d ' Aquele que vem ao meu encontro e do Reino que gratuitamente me oferece.A presença de Deus, a presença do Filho de Deus, no meio de nós, como libertador e salvador, realiza-se actualmente, de modo muito especial, na Eucaristia. Ela é a nossa Tenda do encontro, o nosso Templo de Jerusalém.
Sob os véus eucarísticos, Jesus vive no meio de nós o amor nas suas exigências fundamentais de totalidade e eternidade: tudo e sempre. Também para nós realiza, para além de toda a expectativa, a Sua promessa de não nos deixar órfãos (cf. Jo 14, 18), por meio de tantas presenças, mas nenhuma delas é mais completa e pessoal do que a presença eucarística. Daí a importância da Eucaristia na vida da
Igreja, na vida das nossas comunidades, na vida de cada um de nós: «Toda a nossa vida cristã e religiosa encontra a sua fonte e o seu ponto culminante na Eucaristia (cf. LG 11). A celebração do Memorial da morte e ressurreição do Senhor constitui para nós o momento privilegiado da nossa fé e da nossa vocação de Sacerdotes do Coração de Jesus» (Cst 80).Oratio
Senhor Jesus, eu Te agradeço por teres vindo ao meu encontro, não de modo triunfal, mas de modo humilde e pobre. Eu Te agradeço por teres querido meter-te em todas as nossas situações humanas, particularmente nas difíceis. A certeza de que estás comigo, especialmente nas horas mais difíceis, quando a minha vida é mais semelhante à tua cruz, dá-me força e confiança extraordinárias e enche-me de alegria em situações onde seria mais natural a desolação.
Eu Te agradeço por estares comigo. Que saiba também estar contigo. Como diria Inácio de Loiola, meteste-te connosco e pedes-nos para estarmos contigo na pobreza e na obediência à vontade de Deus. Amen.
Contemplatio
(João Baptista) é um homem grave, sério e firme, que compreendeu, quis, e que permanece imutavelmente agarrado à sua convicção e à sua resolução.
«Não é um homem mo/emente vesttdo-, um homem sensual, amigo dos salões e dos lugares de prazeres; é o maior dos filhos nascidos da mulher. - Desde os dias de João Baptista, o Reino dos céus é tomado de assalto; os bravos arrebatam-no» (Mt 11).Jesus faz-se o panegirista da força de alma de João Baptista. Que lição de energia nos dão os dois! As grandes obras, os grandes empreendimentos e o reino dos céus não são para as canas, mas para os cedros. A energia e o carácter temperam-se na vida austera, no hábito de se vencer a si mesmo, no desapego do mundo, das suas vaidades e das suas molezas. O Coração de Jesus e o de João Baptista foram mais fortes do que a morte.
É este o caminho que segui até aqui? Que é que tenho de fazer para superar a corrente de uma vida mole e tíbia? Não é preciso bruscamente romper com um hábito ou uma relação?
E pelas almas para as quais tenho uma missão de educação, que fiz até ao presente? Formei-as para a obediência, para a austeridade, para o sacrifício? Tomarei conta das suas vidas como da minha.(Leão Dehon, OSP 3, p. 208)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudareil» (Is 41, 13) -
02ª semana do Advento - Sexta-feira
02ª semana do Advento - Sexta-feira
10 Dezembro 2021Tempo do Advento Segunda Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Isaías 48, 17-19
17Eis o que diz o Senhor, teu redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor teu Deus, que te dou lições para teu bem, que te guio pelo caminho que deves seguir. 18Ah! Se tivesses atendido ao que Eu mandava! O teu bem-estar seria como um rio, a tua felicidade como as ondas do mar.19A tua posteridade seria como a areia, como os seus grãos, os frutos do teu ventre. O teu nome não seria aniquilado, nem destruído diante de mim.
o Deutero- Isaías concentra-se na revelação do Senhor como Deus de Israel e oferece-nos uma espécie de "rosário" dos nomes de Deus: Redentor, Santo de Israel (título repetido 7 vezes: 41, 14; 43, 3.14; 47,4; 48, 17; 49, 7; 54,5). A salvação, que manifesta a santidade de Deus, também se realiza por meio do ensino do coração do povo, possibilitando-lhe viver a Aliança e conhecer o plano de amor salvífico gratuito, que Deus tem para toda a humanidade, e que é razão última da criação do mundo (v. 17).
O profeta faz também uma espécie de balanço da história passada da Aliança: a palavra de Deus não foi escutada; a Lei não foi observada; por isso é que Israel está tão longe da prosperidade que a Aliança comportava. Mas, agora, Deus volta a dar-lhe a sua Palavra eficaz, de modo que a obediência a ela possa ter efeitos profundos e duradoiros e conduza Israel a uma vida na justiça oferecida por Deus (v. 18), garantindo o cumprimento da promessa feita aos Pais (v. 19; cf. Gn 12, 2-3; 22, 17).
Evangelho: Mateus 11,16-19
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 16«Com quem poderei comparar esta geração? É semelhante a crianças sentadas na praça, que se interpelam umas às outras, 17dizendo: 'Tocámos flauta para vós e não dançastes; entoámos lamentações e não batestes no peito!' 18Na verdade, veio João, que não come nem bebe, e dizem dele: 'Está possesso!' 19*Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ~í está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores!' Mas a sabedoria foi justificada pelas suas próprias obras.»
Jesus acentua a incapacidade dos seus contemporâneos para compreenderem a bondade do tempo presente, uma vez que não estão abertos ao novo. Por isso, são como crianças que não sabem lamentar-se nem divertir-se. A parábola apresenta-nos dois grupos de miúdos que contrastam entre si: o segundo grupo perdeu interessepelo jogo, e amuou, ainda antes de o iniciar (vv. 16-17). Os contemporâneos de João Baptista e de Jesus comportaram-se do modo idêntico, devido à má vontade.
Em Mateus, a sentença final dá resposta a esta reacção oposta de estilos de devoção: o estilo sábio de Deus foi reconhecido por aqueles que tomaram seriamente em consideração o seu modo de agir. O que Jesus pretende é agitar as consciências dos seus ouvintes e convidá-los a acolher a "desconhecida hora de Deus". As palavras sobre o Baptista terminam com um apelo a uma compreensão de fé que leve a optar pelo projecto salvífico de Deus, sintonizando com o seu modo de agir e de se revelar na história.
Meditatio
O Advento ensina-nos a desejar e a acolher o Senhor. Mas é preciso estar disposto a acolhê-lo como Ele se apresentar, e não segundo os nossos sonhos e critérios. Caso contrário, jamais O acolheremos, porque Ele gosta de nos surpreender sempre. Se não Se apresenta como sonhávamos, melhor, porque os nossos sonhos fecham-nos em nós mesmos, enquanto que a Sua presença real e concreta nos faz sair de nós e nos põe em relação com o Pai.
Há que estar pronto para reconhecer a hora de Deus. Isso significa, em primeiro lugar, renunciar a entrincheirar-nos em desculpas que apenas mascaram o nosso desinteresse e a nossa resistência ao convite à conversão, que incessantemente nos é dirigido pela Palavra de Deus. As recorrentes advertências dos profetas exortam¬nos a caminhar na justiça e numa fé operante e sincera.
Mas a hora de Deus não é só a da penitência e da mudança de vida. É também a da alegria trazida pelo Evangelho de Jesus. A alegria evangélica nascerá em nós se soubermos reconhecer que Ele não se envergonhou de ser chamado «amigo dos pub/icanos e dos pecedores- O perdão que nos anuncia não é uma palavra vazia ou uma notícia genérica sobre a boa disposição de Deus em relação a nós. É o evento perturbante da sua vinda, o seu querer fazer festa connosco, pecadores. E não é uma festa que podemos adiar para amanhã, como gostariam de fazer os miúdos caprichosos da parábola evangélica, porque é para nós, hoje!
Que o Senhor que nos livre do espírito de crítica que tudo recusa, que sempre encontra razões para não aceitar, para não acolher a vida como ela se apresenta, as pessoas como são. Que o Senhor nos dê verdadeiro espírito de acolhimento, espírito de benevolência para acolhermos a todos, espírito que nos faça ver em tudo o que é bom, o que podemos aproveitar para o serviço do Senhor, o que nos faz progredir no
amor.Para os cristãos, e particularmente para os religiosos, é um perigo grave encerrar-nos no egoísmo pessoal e comunitário, fechando-nos a Deus e aos irmãos. Essa atitude seria negação do amor e da disponibilidade para acolher a Cristo, onde quer que se manifeste. Muitas vezes manifesta-se nos irmãos, particularmente nos carenciados e oprimidos.
Por isso as Constituições afirmam correctamente: "A comunidade deixa-se interpelar pelos homens no meio dos quais vive" Cst. 61); "A nossa vida religiosa ... é constantemente interpelada. Somos obrigados a repensar e a reformular a sua missão e as suas formas de presença e de testemunho ... exige o encontro frequente com o Senhor na oração, a conversão permanente ao Evangelho e a disponibilidade de coração e de atitudes, para acolher o Hoje de Deus" (Cst. 144).
Oratio
Senhor, hoje, sinto-me interpelado a pensar e a reflectir sobre mim mesmo. Sei que há tempo para chorar e tempo para dançar. Mas descubro que, muitas vezes, sou pouco sábio, e sou muito distraído e incapaz de reconhecer a tua hora na minha vida. Queria ser eu a marcar o tempo e o modo como Te apresentas na minha vida. Por isso, comporto-me como os miúdos caprichosos de que falas no evangelho. Por isso, temo tornar-me vítima da obstinação, e não conseguir julgar correctamente os sinais da tua presença na minha vida, na vida da minha comunidade, na vida da Igreja, na vida do mundo.
Não desistas de dirigir a tua Palavra ao meu coração obstinado e endurecido, para que saiba compreender o teu plano sobre mim e atinja a verdadeira sabedoria. Repreende-me, ainda que duramente, quando quiseres que eu escute os apelos de João Baptista à penitência e à convers&
atilde;o. Ajuda-me a reconhecer que é este o tempo da graça, o tempo em que me ensinas para meu bem e me guias pelo caminho que devo percorrer. Amen.Contemplatio
Jesus sofreu também a calúnia. Foi rejeitado pelos homens, que escondiam a cara afastando-se d' Ele como se corassem ao reconhecê-lo. Foi falsamente acusado como jamais alguém depois d' Ele o foi. Chamaram-n'O Samaritano e fizeram correr o boato de que estava possuído pelo demónio. Era, dizia-se, «um bom comedor e bebedor de vinho, um amigo dos publicanos e dos pecadores». Era um impostor, um sedutor, um sedicioso. Ser suspeito e acusado de pecado foi para o Salvador uma indizível humilhação.
O padre falsamente acusado sofre também horrivelmente.Os que acusavam Jesus e queriam precipitá-lo da rocha abaixo e matá-lo, tinham sido cumulados dos seus benefícios. Todo o padre deve estar pronto a sofrer a mesma ingratidão.
Quantos bons padres, cuja conduta é criticada, censurada, acusada, condenada abertamente ou em segredo! Mesmo os seus amigos se afastam deles. Mesmo os seus irmãos no sacerdócio, mesmo os seus superiores talvez dêem crédito à calúnia. São nisto, como na sua dignidade e no seu ministério, a imagem viva do Salvador.
Enfim, o divino Mestre morreu debaixo de uma verdadeira tempestade de falsas acusações. Tinha sido abandonado mesmo pelos seus amigos.
«Meus amados, diz S. Pedro, não vos surpreendais com o fogo ardente que serve para vos provar, mas participando assim nos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos e no momento da revelação da sua glória participareis também na sua alegria ... » (lPd 4, 12). (Leão Dehon, OSP 2, p. 601s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
(«Eu sou o Senhor teu Deus, que te guio pelo caminho que deves segui!») (Is 48, 17). -
02ª semana do Advento - Sábado
02ª semana do Advento - Sábado
11 Dezembro 2021Tempo do Advento Segunda Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: Ben Sira 48, 1-4.9-11
Levantou-se. depois, o profeta Elias, ardoroso como o fogo; as suas palavras eram ardentes como um facho. 2Fez vir sobre eles a fome e, no seu zelo, reduziu-os a poucos. 3Com a palavra do Senhor fechou o céu e assim fez cair fogo por três vezes. 4Quão glorioso te tornaste, Elias, pelos teus prodígios! Quem pode gloriar-se de ser como tu?
9Tu foste arrebatado num redemoinho de fogo, num carro puxado por cavalos de fogo; 10*tu foste escolhido, nos decretos dos tempos, para abrandar a ira antes de enfurecer, reconciliar os corações dos pais com os filhos e restabelecer as tribos de Jacob. 11 *Felizes os que te viram e os que morreram no amor; pois, nós também viveremos certamente.
o livro de Ben Sira relê didacticamente a história de Israel, apresentando uma galeria de ilustres personagens. Entre essas personagens ressalta a do profeta Elias, comparado ao fogo, por causa do seu zelo e da sua paixão pela causa do Deus de Israel. A sua vida foi, de facto, totalmente votada ao serviço de Deus, em cuja presença Elias se mantinha permanentemente (cf. 1 Re 18, 15).
Além da sua ardente pregação para reconduzir o povo a Deus, o retrato traçado por Ben Sira exalta os seus poderes taumatúrgicos, de acordo com a sensibilidade popular da época (w. 2-4). Mas o elogio do profeta atinge o auge na consideração do seu destino especial, o seu arrebatamento pelo fogo (cf. v. 9), visto como uma vitória da vida sobre a morte, alcançada pelo amor de Deus. Elias é pois um incentivo à esperança na vida para além da morte, à bem-aventurança total e definitiva que espera aqueles que, como Elias, «morreram no amor» (v. 11).
Por ter sido arrebatado ao céu, a tradição judaica (cf. Mt 3, 24) espera que regresse, a fim de preparar o povo para a vinda do Messias (v. 10). O Novo Testamento recebe esta tradição judaica do regresso de Elias e vê-a realizada em João Baptista.Evangelho: Mateus 17, 10-13
Naquele tempo, 10ao descerem do monte, os discípulos fizeram a Jesus esta pergunta: «Então, por que é que os doutores da Lei dizem que Elias há-de vir primeiro?» 11E1e respondeu: «Sim, Elias há-de vir e restabelecerá todas as coisas. 12*Eu, porém, digo-vos: Elias já veio, e não o reconheceram; trataram-no como quiseram. Também assim hão-de fazer sofrer o Filho do Homem.» 13Então, os discípulos compreenderam que se referia a João Baptista.
Depois da transfiguração, ao descer do monte, Jesus conversa com os discípulos sobre um dos protagonistas da visão: o profeta Elias. Referindo-se às discussões rabínicas sobre a missão de Elias, sobre a verdade e sobre o significado do seu regresso preanunciado por Malaquias (3, 23-24), Jesus declara aceitar a tese daqueles que afirmam a necessidade de uma vinda de Elias antes do Juízo. Por outro lado, Jesus nega toda a visão fantasiosa, divulgada entre o povo, do regresso de Elias, alertando os discípulos para a necessidade de discernirem o plano de Deus, que se revela a seus olhos. Por isso, afirma que Elias já veio, mas foi desconhecido, e que a sua sorte preanuncia a do Filho do homem (v. 12).
Jesus identifica expressamente Elias com o Baptista para convidar o povo à conversão urgente, à cura das relações com as outras pessoas e da relação com Deus. Os discípulos compreendem essa identificação (v. 13). Parece claro que essa identificação não se deduz automaticamente das Escrituras, mas que se revela a quem, dócil à fé, está disposto a acolher a pregação de João, com o insistente convite à conversão e à preparação para o encontro com Aquele que vem. Os discípulos, por momentos, parecem compreender, embora seguidamente voltem a cair na incredulidade (cf. Mt 15, 20).
Meditatio
O elogio a Elias não é feito por um seu contemporâneo, mas por Ben Sirá que viveu muito tempo depois dele. Assim acontece com os profetas. Não se faz caso deles quando vivem. Muitas vezes até são perseguidos e mortos. Só mais tarde são elogiados. Tudo isto porque a sua palavra incomoda, ou não está sempre de acordo com os nossos pontos de vista, ou com as nossas expectativas.
Foi o que aconteceu com Jesus. Os que deviam estar preparados, porque conheciam as Escrituras, usaram-nas para levantar objecções a Cristo: «Não tem Elias que vir prtmeiro?» Jesus responde: «Elias já veio, e não o reconheceram; trataram-no como quiseram ... Então, os discípulos compreenderam que se referia a João Baptista».
A missão do Baptista enfrenta, de modo análogo à de Elias, dois pontos centrais da minha própria vida: a minha relação com Deus (que me pede para regressar a Ele) e a cura das minhas relações com o próximo.
Devo deixar-me interpelar por João Baptista cuja voz proclamava corajosamente, como fizera o profeta Elias, o direito de Deus sobre a nossa humanidade: só a Ele prestar culto, aderir integralmente à Aliança. Neste sentido, João é, como Elias, um fogo irresistível, um profeta cuja palavra ilumina os meus caminhos e os da minha comunidade, e se ergue como juízo severo contra o pecado, contra toda a infidelidade à Aliança.
O facto de, tanto Elias como João, serem perseguidos pelos poderosos, e incompreendidos pelos seus contemporâneos, alerta-me para o risco de, eu mesmo, me tornar obstáculo ao caminho da Palavra divina, às vezes incómoda e inquietante. Por outro lado, também me recorda que, apesar de todas as oposições, acabará por triunfar.
Como dehonianos, somos chamados a ser no mundo de hoje "profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens e do mundo em Cristo" (Cst. 7), conforme o desejo ardente do Pe. Dehon, especialmente por meio do culto e da devoção ao Coração de Cristo, por meio da vida de oblação, de reparação, de imolação. Participamos, deste modo, na "na obra de reconciliação" que "cura a humanidade, reúne-a no Corpo de Cristo e consagra-a para Glória e Alegria de Deus" (Cst. 25). Não se trata de uma missão fácil, como não foi fácil a missão de Elias, ou a de João Baptista. Pode ser preciso enfrentar a desconfiança, a oposição, a perseguição ou até a morte. Nessas situações, a nossa oblação tornar-se-é imolação, participação e vivência do mistério pascal de Cristo, para redenção do mundo.
Oratio
Senhora do Advento, Virgem da escuta, Virgem disponível, Virgem que acolhe, intercede por mim, para que me prepare convenientemente para escutar a Palavra, acolhê-Ia no meu coração e na minha vida, estar disponível para caminhar e seguir Nosso Senhor Jesus Cristo. Então serei iluminado, saberei reconhecer os falsos profetas que continuam a actuar no mundo, e saberei seguir que efectivamente exortam ao bem, ao fervor operante da caridad
e. Intercede por mim, Senhora, para o Espírito Santo me inflame, e possa tornar-me um fogo ardente, um verdadeiro profeta do amor de Deus, presente e actuante no mundo, um servidor da reconciliação dos homens entre si e com o Pai. Amen.Contemplatio
S. João Baptista entrega-se à penitência e à reparação pelo seu povo, como os profetas. Como Jeremias, é santificado no seio de sua mãe. É o novo Elias, predito por Malaquias.Desde a sua infância entrega-se à penitência. «Não beberá nem vinho nem adre», diz o anjo a Zacarias.
Passa a sua adolescência no deserto, está vestido com uma túnica de peles de camelo apertada por um cinto de couro; come mel silvestre e gafanhotos.«Que fostes ver ao deserto? diz Jesus aos seus discípulos. Não é um homem molemente vestido. É um anjo, que não come nem bebe. (Mt 11, 18). Nosso Senhor exprime assim a extrema mortificação do Precursor.
É um profeta, um asceta. S. Bernardo chama-o patriarca, o mestre e o guia dos religiosos. Como os religiosos contemplativos, amou a solidão, a oração, a penitência; como os religiosos apostólicos, pregou a todas as classes da sociedade, reconduziu um grande número de pecadores, conduziu as almas a Jesus Cristo.
Imitemos a sua penitência e o seu zelo. (Leão Dehon, OSP 3, p. 687).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Felizes os que te viram e os que morreram no emot» (Sir 48, 11). -
03º Domingo do Tempo do Advento – Ano C
03º Domingo do Tempo do Advento – Ano C
12 Dezembro 2021ANO C
3º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTOTema do 3º Domingo do Tempo do Advento
O tema deste 3º Domingo pode girar à volta da pergunta: “e nós, que devemos fazer?” Preparar o “caminho” por onde o Senhor vem significa questionar os nossos limites, o nosso egoísmo e comodismo e operar uma verdadeira transformação da nossa vida no sentido de Deus.
O Evangelho sugere três aspectos onde essa transformação é necessária: é preciso sair do nosso egoísmo e aprender a partilhar; é preciso quebrar os esquemas de exploração e de imoralidade e proceder com justiça; é preciso renunciar à violência e à prepotência e respeitar absolutamente a dignidade dos nossos irmãos. O Evangelho avisa-nos, ainda, que o cristão é “baptizado no Espírito”, recebe de Deus vida nova e tem de viver de acordo com essa dinâmica.
A primeira leitura sugere que, no início, no meio e no fim desse “caminho de conversão”, espera-nos o Deus que nos ama. O seu amor não só perdoa as nossas faltas, mas provoca a conversão, transforma-nos e renova-nos. Daí o convite à alegria: Deus está no meio de nós, ama-nos e, apesar de tudo, insiste em fazer caminho connosco.
A segunda leitura insiste nas atitudes correctas que devem marcar a vida de todos os que querem acolher o Senhor: alegria, bondade, oração.LEITURA I – Sof 3,14-18a
Leitura da Profecia de Sofonias
Clama jubilosamente, filha de Sião;
solta brados de alegria, Israel.
Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém.
O Senhor revogou a sentença que te condenava,
afastou os teus inimigos.
O Senhor, Rei de Israel, está no meio de ti
e já não temerás nenhum mal.
Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém:
«Não temas, Sião,
não desfaleçam as tuas mãos.
O Senhor teu Deus está no meio de ti,
como poderoso salvador.
Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo,
renova-te com o seu amor,
exulta de alegria por tua causa,
como nos dias de festa».AMBIENTE
O profeta Sofonias prega em Jerusalém, durante a primeira fase do reinado de Josias (séc. VII a.C.). Nas décadas anteriores, o rei ímpio Manassés abriu o país aos costumes dos povos vizinhos, erigiu altares aos deuses estrangeiros (chegando a colocar no templo de Jerusalém a imagem da deusa Astarte), dedicou-se à adivinhação e à magia e multiplicou as injustiças, sobretudo contra os mais pobres e mais débeis. Entretanto, subiu ao trono o rei Josias, que procurou alterar este estado de coisas e promover uma verdadeira reforma religiosa; mas, na época em que Sofonias exerce o seu ministério profético, os erros de Manassés ainda se fazem sentir.
Neste contexto, Sofonias ataca a idolatria cultual, as injustiças, o materialismo, a despreocupação religiosa, os abusos da autoridade: todo este quadro configura uma situação de grave infidelidade à “aliança”; Deus não irá, diz o profeta, pactuar com esta situação.
No entanto, a intenção de Sofonias não é somente anunciar o castigo… A sua mensagem é, antes de mais, um apelo à conversão, primeiro passo para a salvação. O que o profeta pede ao seu Povo é que se volte de novo para Jahwéh, assuma as suas responsabilidades para com Deus e viva de acordo com os compromissos assumidos no âmbito da “aliança”. O texto que vamos ver, no entanto, está incluído nas “promessas de salvação”: aí, o profeta traça o quadro desse tempo novo de alegria e de felicidade, que há-de suceder-se à conversão de Judá.MENSAGEM
O texto que hoje nos é proposto é um convite à alegria, porque foi revogada a sentença que condenava Judá. O amor de Deus pelo seu Povo venceu. A partir de agora, Deus residirá no meio do seu Povo; e essa nova comunhão entre Jahwéh e Judá é uma garantia de segurança, de felicidade e de vida em plenitude. Mais: o amor de Deus – esse amor que nada consegue desmentir nem apagar – vai renovar o coração do Povo e fazer com que Judá volte para os caminhos da “aliança”; e o próprio Deus Se alegrará com essa transformação.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e actualização da Palavra podem fazer-se à volta dos seguintes pontos:
• Nunca é demais sublinhar a essência de Deus: o amor. Neste texto, o amor de Deus não só introduz na relação com o Povo um dinamismo de perdão; mas esse amor faz ainda mais: provoca a própria conversão do Povo. Esta consciência de que Deus nos ama, muito para além das nossas falhas e fraquezas, e que o seu amor nos transforma, nos torna menos egoístas e mais humanos, é uma das mais belas constatações que os crentes podem fazer.
• O que renova o mundo e o transforma não é o medo, mas o amor. O medo provoca insegurança, pessimismo, angústia, sofrimento, bloqueamento; o amor é que faz crescer, é que cria dinamismos de superação, é que nos torna mais humanos, é que nos faz confiar, é que potencia o encontro e a comunhão… Devemos ter isto bem presente quando formos chamados a anunciar o Evangelho e a proclamar a proposta de salvação que o nosso Deus faz aos homens.
• Também é necessário sublinhar a constatação de que Deus não desiste de vir ao nosso encontro e de residir no meio de nós. Ele tem uma proposta de salvação que quer, a todo o custo, apresentar-nos. Não é uma constatação consoladora, frente às dificuldades, às angústias, às inseguranças que dia a dia preenchem a nossa existência?
• Finalmente, convém notar o apelo à alegria… A constatação de que Deus nos ama e que reside no meio de nós com uma proposta de salvação e de felicidade para todos os que O acolhem não pode provocar senão uma imensa alegria no coração dos crentes. Damos sempre testemunho dessa alegria? Será que as nossas comunidades são espaços onde se nota a alegria pelo amor e pela presença de Deus?
SALMO RESPONSORIAL – Is 12,2-3.4bcd.5-6
Refrão 1: Exultai de alegria,
porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.Refrão 2: Povo do Senhor, exulta e canta de alegria.
Deus é o meu Salvador,
tenho confiança e nada temo.
O Senhor é a minha força e o meu louvor.
Ele é a minha salvação.Tirareis água com alegria das fontes da salvação.
Agradecei ao Senhor, invocai o seu nome;
anunciai aos povos a grandeza das suas obras,
proclamai a todos que o seu nome é santo.Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas,
anunciai-as em toda a terra.
Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião,
porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.LEITURA II – Filip 4,4-7
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos:
Alegrai-vos sempre no Senhor.
Novamente vos digo: alegrai-vos.
Seja de todos conhecida a vossa bondade.
O Senhor está próximo.
Não vos inquieteis com coisa alguma;
mas em todas as circunstâncias,
apresentai os vossos pedidos diante de Deus,
com orações, súplicas e acções de graças.
E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência,
guardará os vossos corações e os vossos pensamentos
em Cristo Jesus.AMBIENTE
Paulo, na prisão, recebeu a ajuda fraterna dos Filipenses. Retribui com uma carta em que manifesta o seu afecto pela comunidade cristã de Filipos. Depois de agradecer a Deus pela sensibilidade dos Filipenses ao anúncio do Evangelho (cf. Flp 1,11), de informar a comunidade sobre a sua situação pessoal (cf. Flp 1,12-26), de dirigir exortações várias à comunidade (cf. Flp 1,27-2,18), de dar notícias sobre Timóteo e Epafrodito (cf. Flp 2,19-30) e de denunciar as acusações que lhe fazem os seus adversários (cf. Flp 3,1-21), Paulo – consciente de que ainda nem tudo é perfeito nesta comunidade exemplar – apresenta um conjunto de recomendações diversas de carácter prático. Este texto contém algumas dessas recomendações.
MENSAGEM
A primeira e mais importante recomendação de Paulo é um convite à alegria. Trata-se de algo tão fundamental, que Paulo repete duas vezes no espaço de um versículo: “alegrai-vos”. A palavra aqui utilizada (o verbo “khairô”) leva-nos a essa “alegria” (“khara”) que os anjos anunciam aos pastores, a propósito do nascimento de Jesus em Belém. É, portanto, uma alegria que resulta da presença salvadora do Senhor Jesus no meio dos homens. Depois, Paulo acrescenta outras recomendações: a bondade, a confiança, a oração (de súplica e de acção de graças). São estas algumas das atitudes que devem acompanhar o cristão que espera a vinda próxima do Senhor: alegria, porque a sua libertação plena está a chegar; tolerância e mansidão para com os irmãos; serena confiança em Deus; diálogo com Deus, agradecendo-Lhe os dons e apresentando-Lhe as suas dores e dificuldades.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão deste texto pode tocar os seguintes aspectos:
• A alegria, constitutiva da experiência cristã, deve estar especialmente presente neste tempo de espera do Senhor. Não é uma alegria que resulta dos êxitos desportivos da nossa equipa, nem do nosso êxito profissional, nem do aumento da nossa conta bancária, mas é uma alegria pela presença iminente do Senhor nas nossas vidas, como proposta libertadora. É a certeza da presença libertadora do Senhor que a nossa alegria deve anunciar aos homens nossos irmãos.
• A bondade e a indulgência com que acolhemos os que nos rodeiam têm de ser, também, distintivos de quem espera o Senhor. Será possível que Deus nasça quando o caminho do nosso coração está fechado com cadeias de intolerância, de prepotência, de incompreensão?
• A espera do Senhor faz-se, também, num diálogo contínuo com Ele. Não é possível estar disponível para O acolher, quando estamos indiferentes e não partilhamos com Ele, a cada instante, as nossas alegrias e as nossas dificuldades, os nossos sonhos e as nossas esperanças. Não é possível acolher alguém com quem não comunicamos e de quem não nos sentimos próximos.
ALELUIA – Is 61,1
Aleluia. Aleluia.
O Espírito do Senhor está sobre mim:
enviou-me a anunciar a Boa Nova aos pobres.EVANGELHO – Lc 3,10-18
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
as multidões perguntavam a João Baptista:
«Que devemos fazer?»
Ele respondia-lhes:
«Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma;
e quem tiver mantimentos faça o mesmo».
Vieram também alguns publicanos para serem baptizados
e disseram:
«Mestre, que devemos fazer?»
João respondeu-lhes:
«Não exijais nada além do que vos foi prescrito».
Perguntavam-lhe também os soldados:
«E nós, que devemos fazer?»
Ele respondeu-lhes:
«Não pratiqueis violência com ninguém
nem denuncieis injustamente;
e contentai-vos com o vosso soldo».
Como o povo estava na expectativa
e todos pensavam em seus corações
se João não seria o Messias,
ele tomou a palavra e disse a todos:
«Eu baptizo-vos com água,
mas está a chegar quem é mais forte do que eu,
e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias.
Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo.
Tem na mão a pá para limpar a sua eira
e recolherá o trigo no seu celeiro;
a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga».
Assim, com estas e muitas outras exortações,
João anunciava ao povo a Boa Nova».AMBIENTE
O Evangelho de hoje vem na sequência daquele que reflectimos no passado domingo: o profeta João Baptista indica, com pormenores concretos e a grupos concretos, como proceder para percorrer esse caminho de “metanoia” e preparar a “vinda do Senhor”.
MENSAGEM
A primeira parte do Evangelho de hoje (vers. 10-14) é uma secção própria de Lucas. Pôr as pessoas as perguntar “o que devemos fazer” é habitual em Lucas (cf. Act 2,37; 16,30; 22,10): sugere uma abertura à proposta de salvação que vem de Deus. João Baptista propõe, então, três atitudes concretas para quem quer fazer a experiência de conversão e de encontro com o Senhor que vem: ao povo em geral, João Baptista recomenda a sensibilidade às necessidades de quem nada tem e a partilha dos bens; aos publicanos, pede que não explorem, que não se deixem convencer por esquemas de enriquecimento ilícito, que não despojem ilegalmente os mais pobres; aos soldados, pede que não usem de violência, que não abusem do seu poder contra fracos e indefesos… Repare-se como João Baptista põe em relevo os “crimes contra o irmão”: tudo aquilo que atenta contra a vida de um só homem é um crime contra Deus; quem o comete, está a fechar o seu coração e a sua vida à proposta libertadora que Cristo veio trazer.
Na segunda parte do Evangelho (vers. 15-18), João Baptista anuncia a chegada do baptismo no Espírito Santo, contraposto ao baptismo “na água” de João. O baptismo de João é, apenas, uma proposta de conversão; mas o baptismo de Jesus consiste em receber essa vida de Deus que actua no coração do homem, transforma o homem velho em homem novo, faz do homem egoísta e fechado em si um homem novo, capaz de partilhar a vida e amar como Jesus. Faz-se, aqui, referência a essa transformação que Cristo operará no coração de todos os que estão dispostos a acolher a sua proposta de libertação: começará, para eles, uma nova vida, uma vida purificada (fogo), uma vida de onde o pecado e o egoísmo foram eliminados, uma vida segundo Deus. Para Lucas, este anúncio do profeta João concretizar-se-á plenamente no dia de Pentecostes.ACTUALIZAÇÃO
Elementos para a reflexão e actualização da Palavra:
• “E nós, que devemos fazer?” A expressão revela a atitude correcta de quem está aberto à interpelação do Evangelho. Sugere-se aqui a disponibilidade para questionar a própria vida, primeiro passo para uma efectiva tomada de consciência do que é necessário transformar.
• Os bens que temos à nossa disposição são sempre um dom de Deus e, portanto, pertencem a todos: ninguém tem o direito de se apropriar deles em seu benefício exclusivo. As desigualdades chocantes, a indiferença que nos leva a fechar o coração aos gritos de quem vive abaixo do limiar da dignidade humana, o egoísmo que nos impede de partilhar com quem nada tem, são obstáculos intransponíveis que impedem o Senhor de nascer no meio de nós. As nossas comunidades e nós próprios damos testemunho desta partilha que é sinal do Reino proposto por Jesus?
• Os publicanos eram aqueles que extorquiam dinheiro de modo duvidoso, despojando os mais pobres e enriquecendo de forma ilícita. Que dizer dos modernos esquemas imorais (às vezes lícitos, mas imorais) de enriquecimento rápido? Que dizer da corrupção, do branqueamento de dinheiro sujo, da fuga aos impostos, das taxas exageradas cobradas por certos serviços, das falcatruas? Será possível prejudicar conscientemente um irmão ou a comunidade inteira e acolher “o Senhor que vem”?
• “Não exerçais violência sobre ninguém”… E os actos de violência, que tantas vezes atingem inocentes e derramam sangue ou, ao menos, provocam sofrimento e injustiça? E os actos gratuitos de terrorismo, ainda que sejam mascarados de luta pela libertação? E a exploração de quem trabalha, a recusa de um salário justo, ou a exploração de imigrantes estrangeiros? E as prepotências que se cometem nos tribunais, nas repartições públicas, na própria casa e, tantas vezes, nas recepções das nossas igrejas? Neste quadro, é possível acolher Jesus?
• Ser cristão é ser baptizado no Espírito, quer dizer, é ser portador dessa vida de Deus que nos permite testemunhar Jesus e a sua proposta. O que é que conduz a nossa caminhada e motiva as nossas opções – o Espírito, ou o nosso egoísmo e comodismo?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 3º DOMINGO DO ADVENTO
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 3º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. GESTO PARA O INÍCIO DA CELEBRAÇÃO.
Convidar a assembleia à alegria… Sem ler o texto, mas fazendo-lhe referência, o presidente poderá alimentar a sua palavra de abertura com o apelo que Paulo lança aos Filipenses na segunda leitura: “Irmãos: alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. O Senhor está próximo”.3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.No final da primeira leitura:
“A nossa felicidade está em Ti, Senhor nosso Deus. Nós Te dirigimos as nossas orações e os nossos gritos de alegria, porque vieste habitar no meio de nós por Jesus teu Filho, o Ressuscitado.
Nós Te pedimos por todos os homens nossos irmãos que a obscuridade do mal e do ódio mergulhou na tristeza: que a salvação venha até eles”.No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pela alegria que nos dás e que vem de Jesus, porque está completamente próximo de nós, como Luz nas trevas e Paz nas inquietudes da existência.
Nós Te pedimos: que a paz do teu Espírito guarde os nossos corações e as nossas inteligências em Cristo Jesus”.No final do Evangelho:
“Deus fiel, bendito és Tu pela Boa Nova anunciada por João Baptista e pelo caminho de conversão que ele abria aos teus fiéis. Bendito és Tu pelo baptismo no Espírito Santo que Jesus nos deu.
Doravante, é a Jesus que nós pedimos: «Que devemos fazer?» Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos faça conhecer a tua vontade”.4. BILHETE DE EVANGELHO.
Deus não pede a mesma coisa aos cobradores de impostos e aos soldados, mas pede a todos para fazerem algo que manifeste mais justiça, mais generosidade, mais paz… É no momento em que os homens se deixam baptizar na água do Jordão que perguntam o que devem fazer. Se vêm encontrar João Baptista, é porque procuram converter-se, procuram tornar-se homens novos. Aceitam viver outra coisa a fim de se tornarem outros. Mas vem o dia, anuncia o Percursor, em que a conversão não é apenas obra do homem, mas acção comum de Deus e dos homens: vem Aquele que baptizará no Espírito Santo e no fogo para fazer surgir um mundo novo e varrer o velho mundo. A Boa Nova que João Baptista anuncia ao povo é precisamente a intervenção de Deus em pessoa pela vinda do Messias que vai comprometer a humanidade nesta renovação radical, fruto da Aliança Nova selada entre Deus e a humanidade, Aliança com os dois parceiros da salvação: Deus e o homem.5. À ESCUTA DA PALAVRA.
“Que devemos fazer?” Esta questão é posta três vezes a João Baptista, pelas multidões, pelos publicanos, pelos soldados. João não parece ser muito exigente nas respostas. Nada de extraordinário. Não pede para saírem do real das suas vidas. Por exemplo, exorta as multidões à partilha com os mais pobres. Hoje, dir-nos-ia para transformarmos a festa comercial de Natal numa ocasião de partilha mais generosa. A atenção ao quotidiano sugerir-nos-á como partilhar! Não são necessárias coisas extraordinárias. Basta deixar iluminar pela Boa Nova de Jesus a nossa vida de todos os dias…6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Neste domingo que convida à alegria, pode-se escolher a Oração Eucarística II da Missa com Crianças: “Sim, bendito seja o teu enviado, o amigo dos pobres e dos pequenos… Ele veio arrancar do coração do homem o mal que impede a amizade, o ódio que impede de ser feliz…”7. PALAVRAS PARA O CAMINHO…
• No dia 8 de Dezembro, a Igreja festejou a Imaculada Conceição da Virgem Maria. O que Paulo recomenda na segunda leitura, Maria viveu-o desde a primeira hora. Viveu sempre na alegria do Senhor: “A minha alma glorifica o Senhor, o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador”. A sua serenidade era conhecida por todos, não andava inquieta com nada: “Fazei o que Ele vos disser”. E a paz de Deus guardou o seu coração e a sua inteligência no seu Filho Jesus: “A sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração”. Ao longo da próxima semana, na espera do 4º domingo do Advento e da narração da visita de Maria a Isabel, conservemos no nosso coração a alegria e a paz recebidas nesta Eucaristia e, por intercessão de Maria, “em qualquer circunstância”, rezemos para fazer chegar a Deus os nossos pedidos.
• Uma partilha concreta. Embora menos habitual que durante a Quaresma, pode ser proposto um “gesto de partilha” para esta semana, na linha das palavras de João Baptista. Na paróquia, ou pessoalmente, prever a natureza desta partilha (dinheiro, tempo, acolhimento no momento das festas) e os seus beneficiários.UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org -
03ª semana do Advento - Segunda-feira
03ª semana do Advento - Segunda-feira
13 Dezembro 2021Tempo do Advento Terceira Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Números 24, 2-7.15-17a
Naqueles dias. 2 o profeta Balaão levantou os olhos e viu Israel acampado por tribos. Desceu sobre ele o Espírito de Deus 3e ele proferiu o seu oráculo, dizendo: «Oráculo de Balaão, filho de Beor, oráculo do homem de olhar penetrante; 4*oráculo do que escuta as palavras de Deus, que tem a visão do Omnipotente, que se prostra, mas de olhos abertos. 5Como são belas as tuas tendas, Jacob, As tuas moradas, ó Israel! 6 Estendem-se como os vales, como jardins junto de um rio! O SENHOR plantou¬as como árvores de aloés, como cedros junto das águas! 7*A água escorre de seus reservatórios e suas sementeiras têm água abundante. O seu rei é mais forte que Agag, e exalta o seu reino!
15E Balaão pronunciou o seu oráculo, dizendo: «Oráculo de Balaão, filho de Beor, oráculo do homem de olhar penetrante. 16 0ráculo daquele que escuta as palavras de Deus, e conhece a sabedoria do Altíssimo, que tem a visão do Omnipotente, que se prostra, mas de olhos abertos. 17*Eu vejo, mas não para já; contemplo-o, mas ainda não próximo: Uma estrela surge de Jacob e um ceptro se ergue de Israel.Na tentativa de se opor à passagem de Israel, Balac, rei de Moab, contratou Balaão, um adivinho pagão, para fazer sortilégios contra Israel e amaldiçoá-lo. Mas Balaão, em vez de destruir o povo, como significa o seu nome de "devorador", foi confundido pelo Senhor e obrigado a profetizar em favor de Israel. Hoje escutámos alguns versículos do terceiro e do quarto oráculo. O terceiro oráculo anuncia a prosperidade e a fecundidade do povo de Israel, descrevendo um enorme acampamento com tendas bonitas e ricas, numa paisagem luxuriante de plantas e de águas abundantes que indicam vitalidade (vv. 5-7). O quarto oráculo (vv. 16-17) acrescenta a descrição de uma realeza ideal, a da monarquia davídica, destinatária da promessa divina comunicada por Natan (cf 2 Sam 7), que está na origem do messianismo real. Balaão é obrigado a profetizar um grande futuro a Israel, como sinal da fidelidade divina à promessa feita a David.
O ceptro é claramente símbolo da realeza; a estrela deve entender-se no contexto cultural da antiguidade em que a aparição de um novo astro significava o nascimento de um rei, ou um grande evento da história. Começa aqui a tradição judaica da estrela como símbolo do Messias.
Evangelho: Mateus 21,23-27
Naquele tempo, 23*Jesus foi ao templo e, enquanto ensinava, aproximaram-se d 'Ele os sumos sacerdotes e os anciãos do povo e disseram-lhe: «Com que autoridade fazes isto? E quem te deu tal poder?» 24Jesus respondeu-lhes: «Também Eu vou fazer-vos uma pergunta. Se me responderdes, digo-vos com que autoridade faço isto.
25De onde provinha o Baptismo de João? Do Céu ou dos homens?» Mas eles começaram a pensar entre si: «Se respondermos: 'Do Céu; vai dizer-nos: 'Por que não lhe destes crédito?' 26E, se respondermos: 'Dos homens; ficamos com receio da multidão, pois todos têm João por um profeta.» 27E responderam a Jesus: «Não sabe¬mos.» Disse-lhes Ele, por seu turno: «Também Eu vos não digo com que autoridade faço isto»
Mateus mostra a contestação dos adversários de Jesus ao seu julgamento sobre o templo e à expulsão dos vendilhões: «Com que autoridade fazes isto? E quem te deu tal poderi» (v. 23). Jesus responde com outra pergunta: «De onde provinha o Bap¬tismo de João? Do Céu ou dos homenst» (v. 25). Baptizar tinha sido a acção mais vistosa de João. Jesus quer obrigá-los a tomar posição diante desse facto. Assim os obriga a reflectir sobre a sua atitude em relação a Deus. Não se trata, pois, de uma qualquer estratégia de Jesus para afastar atenções ou evitar uma resposta embaraçosa. É, pelo contrário, um forte convite à conversão: há que tomar posição perante a pregação do Baptista, que apelava exactamente à conversão.
A pregação de João punha os chefes religiosos numa posição semelhante àquela em que Jesus os queria pôr. A recusa em responder manifesta a sua má vontade, o seu calculismo, a sua política de conveniências, recusando o dever da conversão. Nesta situação, Deus pode fazer descer o silêncio sobre o incrédulo, como sugere a afirmação final de Jesus: «Também Eu vos não digo com que autoridade faço isto. (v. 27).
Meditatio
a Natal, desde os tempos mais remotos, é a festa da Luz, que é Jesus Cristo, Sol de Justiça. A liturgia actual recorda Isaías que diz: "Um povo que caminhava nas trevas viu uma grande IUL." (9,2) e Lucas, que afirma "a glória do Senhor envolveu-os de luz" (2,9). a Prefácio I de Natal canta" Uma nova luz brilhou aos nossos olhos'.A luz de Cristo é acolhida por uns, como os Magos, e rejeitada por outros, como Herodes. As leituras de hoje já nos deixam entrever essa diferença de atitudes: o pagão Balac acolhe a luz do Senhor; os chefes religiosos dos judeus recusam Jesus, como já tinham recusado João Baptista.
É um risco que todos corremos: contentar-nos com atitudes exteriores de religião, adaptar Deus aos nossos interesses, não apreciar suficientemente a graça. Mas, o importante é cultivarmos o espanto de quem acaba de descobrir o Senhor, uma alma de pobre, aberta às suas surpresas maravilhosas. A nossa atitude não pode ser a de sábios satisfeitos e fechados nas suas certezas reais ou imaginárias, mas a dos humildes, sempre dispostos a acolher a luz do Senhor.
A promessa messiânica da primeira leitura convida-nos a meditar sobre a fidelidade de Deus às suas promessas. Para isso, confunde qualquer poder que a Ele se oponha, ou que se oponha ao seu projecto de libertação, seja poder humano ou sobre-humano. a episódio de Balaão revela-nos que nada pode resistir ao triunfo do plano de Deus.
O texto evangélico pede-me para confrontar as minhas opções com as exigências evangélicas. Por vezes, posso incluir-me entre os adversários de Jesus, ou revelar a minha indisponibilidade interior para a acolher, com as suas exigências. Não tenho também resistido a uma decisão responsável diante de Deus? É provável, se não tiver um olhar de fé sobre os acontecimentos da vida, se pretender manter-me na área da procura das minhas conveniências ou da consideração dos outros. a Evangelho desmascara a qualidade de muitas das minhas preocupações, demasiado humanas, que não são ditadas pelo temor de Deus, mas pelo desejo de conservar o poder ou simplesmente ver realizados os meus desejos. Mas estes, sem a busca da vontade de Deus, têm a mesma consistência que os projectos de Balac e de Balaão que Deus confundiu e deitou por terra.
Lemos nas Constituições: «Pelo seu Ecce ancilla, estimula-nos à disponibilidade na fé» (n. 85). O "Ecce anci//a" é, de facto, a expressão mais clara e mais profunda da fé de Maria. É uma fé abertura à escuta, uma fé disponibilidade para realizar a palavra e a vontade de Deus.
Esta fé de Maria é plenamente e perfeitamente humana. É, em primeiro lugar, com certeza, um dom perfeito de Deus; mas é um dom perfeitamente acolhido por uma criatura humana, com todos os privilégios necessários para a sua missão, mas também com todas as exigências da condição humana: obscuridade, surpresas imprevistas, abandono confiante. É uma fé perfeita em Maria que, embora sendo "cheia de graça", está submetida ao tempo, à história, aos eventos, onde a fé é posta à prova, provoca sofrimento e se torna mais adulta.
O "Ecce anci//a" de Maria é um acto de pura fé, é uma adesão à Palavra na obscuridade da fé, é acolhimento puro do Espírito que desce sobre Ela e do poder do Altíssimo que a cobre com a Sua sombra, é o abandono total do Seu ser à vontade de Deus, para que tudo se faça segundo a Sua vontade (cf. Lc 1, 38).Oratio
Senhor, os oráculos de Balaão proporcionam-me uma ocasião para crescer na esperança e torná-Ia mais firme porque me mostram que uma estrela nasce quando Tu queres e os homens nada podem fazer para impedir que ela brilhe. Tu abençoas o teu povo, ainda que os teus e nossos adversários pretendam o contrário. Transformas as maldições, que nos são dirigidas, em bênçãos. Os judeus também quiseram transformar Jesus em maldição: «Ma/dito o que pende do medem», Mas essa maldição tornou-se a maior bênção para toda a Terra. É por essa razão que tenho uma esperança firme. Não espero em mim, na minha fraqueza, mas espero em Jesus, que é a tua bênção triunfal para todo o género humano. Senhor, aumenta a minha esperança! Amen.Contemplatio
Observemos como as coisas se passavam quando Nosso Senhor pregava na Palestina. Encontrava corações dóceis, discípulos fiéis que O seguiam ansiosos até nos desertos. Acreditavam na sua missão. Consideravam as suas acções, escutavam as suas palavras com fé, com respeito, com edificação. Convertiam-se, apegavam-se a Ele. Eram ovelhas dóceis do Bom Pastor: Oves ejus audiunt(Jo 10, 3).
Mas também havia corações indóceis, espíritos rebeldes, como os habitantes de Corazim, de Cafarnaúm, de Betsaida. Nem os milagres, nem as pregações de Nosso Senhor os convertiam. Procuravam interpretar tudo humanamente e escandalizavam¬se de tudo. Aos seus olhos, João Baptista era um possesso e Nosso Senhor era amigo dos pecadores.Quais são os escolhos em que embatem os espíritos indóceis? É a falta de fé, o orgulho secreto e a lassidão. A nossa pouca fé leva-nos a dar pouca atenção e a ter pouca estima pelo que nos vem de Deus; os mistérios não nos impressionam, pensamos neles tão frouxamente, esquecemo-los tão depressa; a palavra, as inspirações de Nosso Senhor não nos impressionam, somos distraídos e esquecidos!
O nosso orgulho secreto põe-se de parte. Envergonhamo-nos da cruz, não podemos decidir-nos a amar os menosprezados. A nossa lassidão afasta-nos da doutrina de cruz, recuamos diante da mortificação, a nossa sensualidade tem medo dela.
Lembremo-nos das recomendações divinas: já no Antigo Testamento o Espírito Santo nos tinha dito: «Tende um justo sentimento da divindade e procurai a Deus na simplicidade do vosso coreçêo. (Sab 1). E ainda: «A sabedoria divina entretém-se com as almas simples» (Prov 3, 32).
Nosso Senhor recomendou a simplicidade dos cordeiros, a das pombas, a das crianças. Esta simplicidade honra-O, alegra-O, ganha o seu coração. (Leão Dehon, OSP 4, p. 570s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Cristo, Luz das nações, vem iluminar-nos» -
03ª semana do Advento - Terça-feira
03ª semana do Advento - Terça-feira
14 Dezembro 2021Tempo do Advento Terceira Semana - Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Sofonias 3, 1-2. 9-13
Eis o que diz o Senhor:1 Ai da cidade rebelde, manchada e opressora! 2*Ela não ouviu o apelo, nem aceitou o aviso; não confiou no SENHOR, nem se aproximou do seu Deus.
9*Então, darei aos povos lábios puros, para que todos possam invocar o nome do SENHOR e servi-lo de comum acordo. 1 O Da outra banda dos rios da Etiópia, os meus adoradores dispersos virão trazer-me ofertas. 11 *Naquele dia, não te envergonharás dos pecados que cometeste contra mim, porque exterminarei do meio de ti os orgulhosos e os arrogantes; e cessarás de te orgulhar na minha montanha santa.12 Deixarei subsistir no meio de ti um povo pobre e humilde; eles procurarão refúgio no nome do SENHOR. 13 O resto de Israel não cometerá mais a iniquidade nem proferirá mentiras; não se achará mais na sua boca uma língua enganadora. Eles apascentarão e repousarão sem que ninguém os inquiete.O texto que escutamos hoje abre com uma invectiva contra os chefes das nações que, em vez de cuidar da fé do povo, apenas se preocupam com os seus interesses. Mas chega logo uma palavra de esperança: a purificação dos povos e de Jerusalém tem por finalidade a alegria messiânica e a reunião dos dispersos. A purificação dos povos pagãos (v. 9), que abandonam os ídolos para se voltarem para o Senhor, exprime a expectativa profética de uma profunda renovação da humanidade, realizada pelo Senhor.
A renovação anunciada consiste na conversão do coração humano, manifestada no acolhimento da lei divina, no culto do verdadeiro Deus. Essa transformação acontecerá, em primeiro lugar, no povo de Deus, que será purificado do orgulho que o leva a pretender ocupar o lugar de Deus (v. 11). O povo, no tempo da salvação, não passará de um «resto (v. 13), isto é, de um grupo politicamente frágil e culturalmente irrelevante e desprezado, que não poderá presumir das suas forças, mas que experimentará o repouso e a paz gratuitamente oferecidos por Deus, de coração agradecido. É o povo «dos pobres do senno», os que têm Deus como único recurso, nele confiam plenamente e a cuja vontade obedecem fielmente.
Evangelho: Mateus 21, 28-32
Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo: 28«Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: 'Filho, vai hoje trabalhar na vinha.' 29Mas ele respondeu: 'Não quero.' Mais tarde, porém, arrependeu-se e foi. 30Dirigindo-se ao segundo, falou-lhe do mesmo modo e ele respondeu: 'Vou sim, senhor.' Mas não foi. 31Qual dos dois fez a vontade ao pei?» Responderam eles: «O primeiro.» Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos no Reino de Deus. 32*João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os cobradores de impostos e as meretrizes acreditaram nele. E vós nem depois de verdes isto, vos arrependestes para acreditar nele.»
Os chefes do povo, como já ficou demonstrado (cf. Mt 21, 23-27), não têm qualquer intenção de escutar a Jesus. Por isso, o mesmo Jesus lhes desmascara a incoerência e os provoca, afirmando que os publicanos e as prostitutas os hão-de preceder no Reino de Deus. Fá-lo com a parábola dos dois filhos, que se compreende no quadro vétero-testamentário da necessidade da «justiça», isto é, de uma fé que leva à realização da vontade de Deus na vida do dia a dia.
Jesus não exalta os pecadores, nem despreza os devotos, como poderia parecer, à primeira vista. Mas anuncia a extraordinária proximidade de Deus em relação aos pecadores a quem oferece a possibilidade de mudarem de vida. Mas também denuncia a incoerência de tantos crentes, representados no primeiro filho, obediente apenas nas palavras. O contraste entre publica nos e prostitutas e os homens da religião (vv. 31-32) não é tanto uma condenação dos segundos, quanto um derradeiro convite à sua conversão.
Meditatio
«Ai da cidade rebelde, manchada e opressora! Ela não ouviu o apelo, nem aceitou o aviso; não confiou no SENHOR, nem se aproximou do seu DeU9>. Jesus vem até nós na humildade, na simplicidade e na pobreza. É também na humildade, na simplicidade e na pobreza que havemos de nos preparar para ir ao seu encontro, para O acolhermos. O orgulho impede-nos a aproximação a Jesus, porque não reconhecemos a nossa carência de salvação.
Também é importante preparar-se para o Natal, vivendo na verdade. A mentira é a nossa protecção inconsciente. Mentimos a nós mesmos, mesmo sem nos darmos conta disso, para nos defendermos, para não reconhecermos que estamos cheios de coisas e, sobretudo, de nós mesmos, e que, desse modo, não agradamos a Deus. «O resto de Israel não cometerá mais a iniquidade nem proferirá mentiras; não se achará mais na sua boca uma língua enganadora». A vivência da verdade aproxima-nos do «resto» de Israel, o povo simples, pobre e humilde, que estava disposto para receber o Senhor.
A parábola evangélica é um aviso para nós. Há que evitar a atitude do filho mais velho: diz que vai para a vinha; mas não vai. É preciso afastar toda a incoerência da nossa vida. Há que não cair numa obediência meramente formal. Caso contrário, corremos o risco de reduzir a nossa justiça moral e religiosa a simples fachada, esquecendo-nos de procurar e cumprir a vontade de Deus, como expressão do nosso amor para com Ele.
A melhor defesa contra estas tentações é contemplar o estilo do nosso Deus, que convida à conversão e derrama as suas bênçãos sobre os simples, os pobres, os humildes, sobre aqueles que apenas confiam n ' Ele, e não nos seus próprios méritos.
Maria é a imagem mais expressiva daqueles que esperam e acolhem o Salvador. Ela é a mais pobre entre os "pobres de Jahvé", os "anawiti', que não tendo prestígio ou poder humano, se apoiam unicamente em Deus, se abandonam totalmente a Ele, e dizem como a Virgem: "faça-se em Mim segundo a tua palavra", isto é: faz de mim o que quiseres. Deus doa-Se totalmente a eles: aos simples, aos pobres e humildes.
Maria é, pela Sua vida, um sim total à vontade de Deus. Nela revive, aperfeiçoado o "sim" de Abraão, que preanuncia o "sim" total de Cristo à vontade do Pai, até à "kénosiS', ao aniquilamento (cf. Fil 2, 8).
Mas, como o Pai encheu Cristo da Sua glória (cf. Fil 2, 9-11), assim também enche Maria com a Sua graça C'kekaritomene: cheia de graça; Lc 1, 28). A humildade não anula a personalidade de Maria, mas potencia-a, porque dá espaço à fé, à caridade, a Deus; é um vazio que se enche da plenitude da graça.
Oratio
Senhor, que eu Te sirva sempre com coerência e verdade, jamais cedendo à mentira, ao fingimento, à mania de cultivar uma imagem que não corresponda à minha realidade. Que o teu Filho, feito homem, me liberte de mim mesmo, da excessiva preocupação com os meus interesses pessoais, para que possa responder com generosidade e entusiasmo ao mandato de cuidar da tua vinha. Que a minha adesão à tua vontade não se reduza a belas palavras, mas seja um "sim" decidido e generoso aos teus projectos!
Hoje, mais uma vez, me apresento diante de ti, confiando, não nos meus méritos, mas na tua misericórdia e fidelidade. Acolhe-me como acolheste os pecadores, que reconheceram a sua condição, e acolheram o teu perdão. Amen.Contemplatio
Consideremos mais de perto em que condições Deus nos deu o seu Filho. Não era apenas o pecado de Adão que se encontrava sob o olhar de Deus, mas também todos os seus séquitos e todas as suas consequências, até às nossas ingratidões e até mesmo os abusos que faríamos da graça da Redenção. Era, numa palavra, o mundo coberto da lepra do pecado como de um manto hediondo e repugnante. E, no entanto, Deus não desdenhou ter piedade de nós. Ele não podia dar-nos o seu Filho como irmão nem como rei, a menos que no-lo desse primeiro como resgate, como vítima de expiação e de reparação. Para isso era necessário enviá-lo para sofrer. Quis fazê-lo. Revestiu-o com uma carne semelhante à do homem pecador: Fi/ium suum, mittens in simi/itudinem carnis peccati (Rom 8, 5) ...
O sacrifício de Abraão foi apenas a sombra do sacrifício que Deus Pai fez do seu Filho. O sacrifício de Abraão não teve o seu efeito, o de Jesus Cristo foi consumado pelo seu Pai, sobre o calvário. E era a Deus que Abraão imolava o seu filho Isaac, ao passo que Deus Pai imolava o seu próprio Filho em favor dos homens. Quando não deve ter custado ao amor infinito deste Pai para arrancar assim o seu próprio Filho do seu seio e no-lo entregar! Se Deus pudesse sofrer, que sofrimento infinito teria suportado! Mas o seu amor por nós tudo superou.
Santo Agostinho, um dos doutores que mais admirou a excelência deste dom divino, exclama: Non satiabor considerare a/titudinem consi/ii tui super sa/utem generis humani (Conf. IX, 6): Não, nunca deixarei de estudar e de contemplar esta maravilha, a ela voltarei sem cessar, hei-de contemplá-Ia ainda e sempre, disso nunca me fatigarei, aí hei-de encontrar sempre novos motivos de admiração: non satiabor. S. Paulo também não deixava de se extasiar diante da altura, da largura e da profundidade do plano divino, na Redenção. E Santo Agostinho ainda aflito por ver como este dom celeste era desconhecido e tão pouco saboreado, lançava este desafio a todos os homens: «A/iud desidera si me/ius inveneris: Procurai, procurai por toda a parte e sempre, eu vos desafio a encontrar algo de mais belo, de maior, de mais doce, de melhor para vós mesmos» (S. Aug., ln ps. 26 enarr.).
Rezemos a Deus para que nos faça conhecer este excesso e este prodígio de amor; digamos-lhe com Santo Agostinho: Ignis qui semper ardes accende me (So/iI. Ad Dom. ch. 34). Fogo ardente que queimais sem cessar no coração de Deus, abrasai-me com um ardor recíproco, com um amor de retorno. Queira Nosso Senhor renovar espiritualmente para nós a graça que Ele fez a Santa Maria Madalena de Pazzi ao enviar Santo Agostinho para gravar no seu coração estas palavras: «Et Verbum caro factum est O Verbo fez-se carne». Estas palavras divinas eram como a madeira do sacrifício destinada a alimentar perpetuamente no coração da santa o fogo do holocausto (Leão Dehon, OSP 2, p. 196s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Senhor, Tu és o meu refúgio» -
03ª semana do Advento - Quarta-feira
03ª semana do Advento - Quarta-feira
15 Dezembro 2021Tempo do Advento Terceira Semana - Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Isaías 45, 6b-8.18.21b-25
Leitura do Livro de Isaías
«Eu sou o Senhor e não há outro. Formo a luz e crio as trevas, dou a felicidade e crio a desgraça. Sou Eu, o Senhor, que faço tudo isto. Derramai, ó céus, o orvalho lá do alto e as nuvens chovam a justiça; abra-se a terra e germine a salvação e com ela floresça a justiça. Sou Eu, o Senhor, que o realizo». Assim fala o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra e a consolida, que não a criou para ficar deserta, mas a formou para ser habitada: «Eu sou o Senhor e não há outro». Quem anunciou tudo isto no passado? Quem o predisse há tanto tempo? Não fui Eu, o Senhor? Não há outro Deus além de Mim; Eu sou o Deus justo e salvador e não há outro. Voltai-vos para Mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque Eu sou Deus e não há outro. Juro pelo meu nome, é justo o que sai da minha boca, a minha palavra é irrevogável: Diante de Mim se hão-de dobrar todos os joelhos, em meu nome hão-de jurar todas as línguas, dizendo: ‘Só no Senhor está a justiça e a fortaleza’». Hão-de vir, cobertos de vergonha, à sua presença todos os que se levantaram contra Ele. No Senhor terá salvação e glória toda a descendência de Israel.No início do capítulo 45, Isaías dirige-se a Oro, com um hino a Deus que salva o seu povo exactamente por meio desse rei pagão, chamado pelo profeta ungido do Senhor (cf. Is 45, 1). Só o Deus de Israel é o Senhor, porque só Ele é o criador de tudo quanto existe (luz e trevas; salvação e desgraça). A sua acção dá origem a algo de "radicalmente novo", desde o primeiro ao último dia. Ecoa no texto a palavra: «Eu sou o senhor»(JHWH). É um modo de afirmar a unicidade de Deus, o seu poder e a sua senhoria absoluta sobre a história humana.
A criação do mundo manifesta o seu poder. De uma realidade vazia e sem sentido, Deus deu a finalidade positiva e altíssima de ser habitação da humanidade (v. 18). Mas a máxima expressão da sua senhoria manifesta-se na vontade e na capacidade de salvar a humanidade (w. 21-22), e em suscitar nela uma sincera busca de justiça e de bem (v. 8). Assim se revela como «Deus justi», isto, capaz de estabelecer uma relação de comunhão e de aliança, um Deus salvador.Deus domina sobre o mundo e sobre a humanidade. Nada pode opor-se à sua vontade. A sua acção em favor dos fiéis, apesar de misteriosa e imprevisível, manifesta a sua incomparável unicidade. Israel, povo que pertence a esse Deus, deve torná-lo conhecido por todos os povos.
Evangelho: Lucas 7,19-23
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, João Baptista chamou dois dos seus discípulos e enviou-os ao Senhor com esta mensagem: «És Tu Aquele que havia de vir ou devemos esperar outro?» Ao chegarem junto de Jesus, os homens disseram-Lhe: «João Baptista mandou-nos perguntar-Te: ‘És Tu Aquele que havia de vir ou devemos esperar outro?’» Nessa altura Jesus curou muitas pessoas, de doenças, padecimentos e espíritos malignos, e deu a vista a muitos cegos. Então respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho; e feliz daquele que não encontrar em Mim ocasião de queda».João Baptista é um crente em Deus, que vive para Ele, sempre aberto disponível às suas iniciativas. Por isso, sabe reconhecê-lo no misterioso homem da Galileia, que vem fazer-se baptizar por ele, no Jordão, Jesus de Nazaré.
Mas, na escuridão da prisão de Herodes, é invadido pelo medo, pela tristeza, pela dúvida: ter-me-eí enganado ao ver em Jesus o Cordeiro de Deus? Mas a sua fé é grande. Em vez de a pôr em discussão, manda embaixadores a João, pedindo luz para compreender. Torna-se, pois, ainda mais pobre, fazendo-se simples interrogação: «És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?» (v. 19).
Jesus responde aos embaixadores apontando as obras que anda a fazer (v. 21).Não apenas os milagres que dão testemunho dele, mas o que eles significam. São sinais de que começou uma nova humanidade, que sabe acolher a palavra de Deus, ver as maravilhas que Ele faz e caminhar pelos seus caminhos: «a Boa-Nova é anunciada aos pobres» (v. 22c).
O estilo paradoxal da acção de Deus em Jesus não escandalizará um pobre prisioneiro, como é João. Pelo contrário, torná-lo-á muito «feliz» (v. 23).
Meditatio
«Destilai, Ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça». Isaías oferece-nos, hoje, uma aclamação que traduz perfeitamente o estado de alma de quem vive o Advento. Por isso é que a Igreja a repete tanta vez na sua oração durante este tempo litúrgico. O profeta manifesta o desejo de uma intervenção divina, porque está convencido de que a justiça e a salvação só podem vir de Deus. Ao contrário de tantos outros textos, em que a intervenção de Deus é comparada a uma tremenda batalha contra os maus, aqui é comparada a uma calma e benéfica orvalhada, ao mistério de uma chuva fecunda. São imagens adequadas ao mistério da Incarnação, que não se realizou de modo estridente, mas com infinita discrição, na «sombra» do Espírito Santo. À intervenção divina deve corresponder a nossa discreta disponibilidade: «Abra-se a terra» E a terra abriu-se, quando a Virgem de Nazaré deu o seu "sim": «Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38).O evangelho de hoje apresenta-nos João rendido a Cristo, dando testemunho dele com a sua vida. João é também "terra aberta" ao Verbo de Deus feito homem, um verdadeiro disponível, um verdadeiro "pobre de Deus", que Jesus proclama bem¬aventurado. O Baptista é imagem do crente que caminha na paciência e que está sempre disponível a reformular as suas expectativas perante o imprevisível estilo da vinda de Deus. Assim vai aprofundando a sua esperança até ao supremo testemunho do sangue.
João ensina-nos que, mesmo a fé mais forte e sincera pode coexistir com a dúvida e que a maneira de vencer essa dúvida é a oração. Renunciando a pôr em causa a promessa de Deus e revendo os nossos modos limitados de ver a promessa divina de esperar a sua realização, encontramos a paz.
À fé que se torna invocação, Deus responde oferecendo-nos um novo olhar que nos permite ver os sinais do seu amor na nossa vida e os sinais daquela humanidade nova que continua a criar, ainda hoje. Assim, com a palavra de Isaías, descubro que Deus pode e quer salvar o seu povo, mesmo quando as aparentes contradições da história parecem mostrar o contrário. O modo de agir de Deus é misterioso e incomparável às soluções humanas para os mesmos problemas. Deus gosta de surpreender.
A fé de Maria é a síntese, o coroamento da fé do Antigo Testamento. Toda a história humana, conscientemente (em Israel) ou inconscientemente (fora de Israel), é uma espera da salvação, um suspiro, um grito que se ergue para Deus: "Destilai, ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça. Abra-se a terra para que floresça a salvação» (Is 45, 8): é tudo um imenso acto de fé expresso, em Israel, ao longo dos séculos, pela disponibilidade dos Patriarcas, da história do povo eleito, da clarividência dos Profetas, entre os quais, João Baptista. Mas só a fé de Maria faz transbordar o tempo na sua plenitude. A Virgem torna-se, Ela mesma, o Advento do Salvador. "A fé de Abraão - afirma a Redemptoris Mater - constitui o começo da Antiga Aliança; a fé de Maria, na Anunciação, dá início à Nova Aliança" (n. 14).
A Virgem acreditou, disse "sim", aderiu ao projecto e à realização do projecto da salvação para Si e para todos nós. É o mistério do "fiar' (faça-se) de Maria, de que mal compreendemos a profundidade e o alcance. Ao pronunciar o Seu "fiar' (faça-se) a Virgem, não só consentiu na redenção em nome de toda a humanidade, mas também disse sim a todos os mistérios cristãos: ao mistério da vida divina nas almas por meio da graça, à Eucaristia, ao sacerdócio, a todas as fontes da santidade. Por isso, com dizem as nossas Constituições (n. 85) «Pelo seu Ecce ancilla (Eis a serva), estimula-nos à disponibilidade na fé: é a imagem perfeita da nossa vida religiosa».
O que é verdade, em primeiro lugar sobre Cristo, também é verdade, de modo subordinado acerca da Virgem: "Deus omnia nos voluit habere per Mariam ... Deus quis-nos dar tudo por Maria!".O cristianismo, nos seus séculos de história, nada mais fará do que reviver a fé de Maria, haurindo-a no Seu coração de Mãe, no mistério da Sua sublime missão materna, que Lhe foi confiada pelo Salvador ao morrer na cruz (cf. Jo 19, 26-27), de tal modo que, todos aqueles que, pela fé, são filhos de Deus, são também pessoalmente filhos de Maria.
Oratio
Vem, Senhor Jesus! Vem, para que a Terra deixe de ser um caos, devido à violência das guerras, das injustiças e da corrupção, em todas as suas formas.
Vem, Senhor Jesus! Vem, para que a Terra se torne um lugar habitável e habitado.
Vem, Senhor Jesus! Vem, revela-nos, mais uma vez, e leva a termo o projecto manifestado no mistério da tua Incarnação.
Vem, Senhor Jesus! Vem, dá vista aos cegos, cura os coxos, sara os leprosos, dá ouvido aos surdos, ressuscita os mortos, anuncia aos pobres a Boa Nova.
Vem, Senhor Jesus! Vem, para que não esperemos outro, mas Te acolhamos na f'l e.
Vem, Senhor Jesus! Vem, e introduz-nos a todos no mistério de Deus-Amor. Vem, Senhor Jesus! Vem, para que todos Te reconheçam como Filho do Pai e nosso Salvador.
Vem, Senhor Jesus! Vem, para que todo o joelho se dobre diante de Ti, e toda a língua Te proclame «Senhor». Amen.Contemplatio
Depois da partida dos enviados de João, Nosso Senhor falou aos discípulos sobre a mortificação do Precursor. Chamou-lhes a atenção para a sua estadia no deserto, para o seu desprezo pelo vestuário caro e pelas alegrias do mundo, para o seu amor ao jejum e às austeridades: neque manducans panem, neque bibens vinum (Lc 7, 7).
Nosso Senhor indica deste modo sucessivamente, e segundo as circunstâncias, todas fontes da graça: a paciência, a fé, a docilidade ao Espírito, a mortificação. É porque quer preparar-nos para uma grande união com Ele.
A Igreja agiu sabiamente ao pôr sob os nossos olhos todos estes ensinamentos, para nos preparar para a grande festa do Natal. As graças, que havemos de receber, serão proporcionais à nossa preparação. (Pe. Dehon, OSP 4, p. 558).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: « Vinde a mim e sereis salvos» (Is 45, 22). -
03ª semana do Advento - Quinta-feira
03ª semana do Advento - Quinta-feira
16 Dezembro 2021Tempo do Advento Terceira Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Isaías 54, 1-10
1 *Exulta de alegria, estéril, tu que não tinhas filhos, entoa cânticos de júbilo, tu que não davas à luz, porque os filhos da desamparada são mais numerosos do que os da mulher casada. É o Senhor quem o diz. 2Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas, 3porque vais aumentar por todos os lados. Os teus descendentes possuirão as nações, e povoarão cidades desertas. 4Não tenhas medo, porque não voltarás a ser humilhada. Não te envergonhes, porque não voltarás a ser desonrada. Esquecer-te-ás da vergonha do teu estado de solteira, e não te lembrarás do opróbrio da tua viuvez. 5Com efeito, o teu criador é que é o teu esposo, o seu nome é Senhor do universo. O teu redentor é o Santo de Israel, chama-se Deus de toda a terra. 60 Senhor chamou-te novamente como a uma mulher abandonada e angustiada. Na verdade, como se pode repudiar a esposa da juventude? É o teu Deus quem o diz. 7Por um curto momento Eu te abandonei, mas, com grande amor, volto a unir-me contigo. 8Num acesso de ira, e por um instante, escondi de ti a minha face, mas Eu tenho por ti um amor eterno. É o Senhor teu redentor quem o diz. 9*Vou agir como no tempo de Noé: jurei que nunca mais o dilúvio se abateria sobre a terra. Do mesmo modo, juro nunca mais me irritar contra ti, nem te ameaçar. 10Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará. Quem o diz é o Senhor, que tanto te ama.
Isaías apresenta Sião, isto é, a comunidade de fiéis gerada pela morte do Servo do Senhor (Is 53), como aquela que experimenta a renovação da Aliança, o reflorir de um amor conjugal e o reatar da relação íntima e amorosa, que liga Deus ao seu povo redimido.
O profeta revisita a história do povo eleito, servindo-se da imagem do amor esponsal entre Deus e Sião. O exílio é comparado à viuvez e ao repúdio (v. 4), e a tragédia que caiu sobre Jerusalém, à esterilidade de uma mulher ansiosa por ter numerosos filhos (v. 1). Mas o Senhor inverte a sorte do seu povo. Jerusalém, com o regresso dos exilados, e o repovoamento da cidade, experimenta a vitalidade de um amor que parecia irremediavelmente perdido. A fecundidade miraculosa é sinal da bênção do esposo divino que, na verdade, nunca rejeitou a sua esposa, mesmo nos momentos dolorosos e pesados em que o povo de Sião se sentiu esquecido e castigado por Deus. Como, depois do Dilúvio, Deus se comprometeu com Noé a uma aliança eterna (cf. Gn 9, 9ss.), assim, agora, se compromete com uma aliança incondicionada e eterna em favor do povo dos exilados. Essa aliança fundar-se-á, não na infidelidade de Sião, mas na fidelidade indefectível de Deus (w. 9-10).Evangelho: Lucas 7, 24-30
24*Depois de os mensageiros de João Baptista se terem retirado, Jesus começou a dizer à multidão acerca dele: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? 25Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas finas? Os que usam trajes sumptuosos vivem regaladamente e estão nos palácios dos reis. 26*Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu vo-to digo, e mais do que um profeta. 27É aquele de quem está escrito: 'Vou mandar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de ti. ' 28*Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele.» 29E todo o povo que o escutou, bem como os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o baptismo de João. 30*Mas, não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito.
Jesus, depois de despedir os embaixadores, faz perguntas sobre João Baptista que visam recolher o consenso dos ouvintes. Quer levá-los a reconhecer em João, não um simples profeta, mas aquele que abriu caminho a Cristo. João é o verdadeiro profeta que busca a Deus no deserto, na penitência, com fé firme, que não aceita compromissos com o mundo, que não quer dar nas vistas (vv. 24-25). Mas esta interpretação da figura de João não atinge o significado mais profundo da sua missão. Por isso, Jesus aponta-o como o mensageiro de que falou Malaquias (MI 3, 1), o precursor do Messias, aquele que aponta uma etapa radicalmente nova da história da salvação, quando pede o reconhecimento da necessidade de conversão.
O elogio de João torna-se uma reprimenda para quem se julga justo e não precisar de conversão. As palavras finais do evangelista são muito severas: «não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito (v. 30).Meditatio
O profeta Isaías leva-nos, hoje, a meditar sobre o amor esponsal de Deus pelo seu povo, por cada um de nós, e sobre a importância que a «provação» pode ter numa caminhada de fé. Somos convidados a reconhecer-nos na figura feminina de Sião, que se sentia como uma mulher «abandona e aflitéP>, que agora experimenta a alegria de se sentir amada por um esposo fiel, que não repudia a companheira da sua juventude, mas a ama ainda mais ternamente. A provação da fé abre ao acolhimento de uma comunhão ainda mais profunda, simbolizada na união do homem e da mulher. Abre também a uma confiança mais forte na fidelidade de Deus.
Porque é que «o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que e/~>, João Baptista? A resposta é a nova criação. O Reino de Deus trazido por Cristo é uma mudança radical. Quem entra nele, recebe uma vida nova, não já a nível humano, mas a vida dos filhos de Deus. É esta a maravilha que nos espera. O Filho torna-nos participantes da sua filiação. Trata-se de um dom gratuito de Deus, que recebemos contra todas as nossas expectativas e capacidades humanas. O profeta proclamava: «Exulta de alegria, estéril, tu que não tinhas filhos, entoa cânticos de júbilo, tu que não davas à luz, porque os filhos da desamparada são mais numerosos do que os da mulher casada. É o Senhor quem o di», A fecundidade natural na nova criação transfigura-se: a imaculada Conceição de Maria é o começo de um mundo novo. O Filho de Maria é o Filho de Deus.O evangelho incita-nos ao testemunho de todas estas realidades por meio da meditação da figura de João Baptista, testemunha de Cristo. A sua figura indica-nos a firmeza, a coragem e a perseverança com que havemos de dar esse testemunho.
Jesus termina alertando-nos para o perigo de não fazermos da escuta da palavra de Deus uma verdadeira ocasião de conversão. Sem essa conversão, não é possível experimentar o amor esponsal de Deus pelo seu povo, o amor esponsal de Cristo pela sua Igreja, isto é aquela rela&ccedi
l;ão íntima entre Deus e o Seu povo, entre Cristo e a Sua Igreja, aquela relação a que todos somos chamados (cf .. 2 Cor 11, 2; Ef 5, 21-32; Apoc 19, 7-8; 22, 17.20). A união entre nós e Cristo é mais profunda e íntima do que a que existe entre dois esposos que "formam uma só carne' (Ef 5, 31). Com Cristo somos uma só vida (cf. Gal 2, 20). A nossa reparação "como resposta ao amor de Cristo por nós" (Cst. 23) tem esta força, este sentido profundo. Para além de todo o devocionismo sentimental, Cristo é, de verdade, para nós, um esposo de sangue: "Amou-me e entregou-Se por mini' (Gal 2, 20); "vemos no Lado aberto do Crucificado o sinal do amor que, na doação total de Si mesmo, recria o homem segundo Deus" (Cst. 21).Oratio
Senhor, quero, hoje, cantar a tua fidelidade, o teu amor invencível, a tua ilimitada ternura. Tu és um Deus próximo, um Deus cujos caminhos são verdade! Tu és o Esposo de Sião, o redentor de Israel! Tu inclinaste-te sobre a nossa pobreza e enriqueceste-nos com o dom de Ti mesmo! Tu curvaste-te sobre o nosso pecado e curaste-nos! Tu afastaste a nossa vergonha e revestiste-nos de Ti!
Tu abriste-nos as portas do Reino, onde o mais pequeno é imensamente grande, porque é teu filho. Por ele, fez-se homem e morreu na cruz o teu Filho unigénito.
Por nosso amor, na plenitude dos tempos, abristes o céu, e enviaste-nos o teu Filho, que se fez nosso companheiro de viagem, nosso irmão e nosso Senhor! Glória e louvor a Ti, pelos séculos dos séculos! Amen.Contemplatio
A mortificação é uma condição para a vida sobrenatural, e Deus já a tinha louvado desde a antiga Lei: «A sabedoria não se encontra naqueles que vivem em aeüass», diz Job (28, 13).
Nosso Senhor deu, Ele mesmo, o exemplo da mortificação: Cristo não se comprazeu em a si mesmo, diz S. Paulo, mas realizou o que fora dito no Salmo 68: tomei sobre mim, meu Deus, para os expiar, os pecados cometidos contra vós (Rm 15, 3).
Não devia Ele, de acordo com a sua missão, reparar os pecados dos homens e indicar aos discípulos um remédio contra os perigos da sensualidade? Foi por nosso amor que praticou a mortificação; é por uma justa correspondência ao seu amor que a devemos praticar, conforme o conselho de S. Paulo: «Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso cortx» (2 Cor 4, 10).
Pela mortificação, vivemos à semelhança, ou, melhor, vivemos n ' Ele, e prolongamos em nós a sua vida de vítima para glória de Deus e salvação das almas. «Exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus» (Rm 12, 1): E ainda: «Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro,fomos tratados como ovelhas destinadas ao mstedoaro (Rm 8, 36).
É um remédio necessário contra o pecado da sensualidade. É uma morte que dá a vida: «É que, se viverdes de acordo com a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis» (Rm 8, 13).
S. Agostinho diz-nos isso em duas palavras: Morrei para viver - Morere ut vivas (De verbo Apost.). E resume algures as regras da mortificação em duas palavras recolhidas na filosofia: Sustine et abstine: sofrei tudo o que se apresentar; abstei-vos de tudo o que possa deleitar-vos os sentidos à custa do espírito. Morrei para o mundo e para vós mesmos, para viverdes em Jesus e com Jesus.
Destruí em vós o amor próprio, para reinar em vós a caridade, o amor de Deus, que é a verdadeira vida da alma. (Pe. Dehon, OSP 4, p. 558s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Amei-te com um amor eteno (Is 54, 8).
-
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro
17 Dezembro 2021Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro
Lectio
Primeira leitura: Génesis 49,2.8-10
Naqueles dias, Jacob chamou os filhos e disse-lhes: 2 Ajuntai-vos para escutar, filhos de Jacob. Para escutar Israel, vosso pai.
8*A ti, Judá, teus irmãos te louvarão. A tua mão fará curvar o pescoço dos teus inimigos. Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti! 9Tu és um leãozinho, Judá; quando regressas, ó meu filho, com a tua presa! Ele deita-se. É o repouso do leão e da leoa; quem ousará despertá-lo? 10*0 ceptro não escapará a Judá, nem a autoridade à sua descendência, até que venha aquele a quem pertence o comando e ao qual obedecerão os povos.
Jacob moribundo reúne a família e pronuncia palavras consideradas sagradas e proféticas sobre o futuro dos seus doze filhos e da descendência deles. Refere-se especialmente a Judá, pai da tribo homónima, na qual haveria de nascer o Messias (cf. vv. 8- 10). Esta profecia, que remonta ao tempo de Isaías (século VIII-VII), é misteriosa, mas exalta a superioridade de Judá entre os seus irmãos por causa da sua força real, semelhante à do leão, e pelo «ceptro» e pela autoridade (v. 1Qa), que exercerá sobre as tribos de Israel e sobre todos os seus inimigos. Trata-se de uma alusão à monarquia davídica, que receberá o ceptro do Ungido do Senhor, que trará a salvação esperada. Essa profecia irá realizar-se quando o verdadeiro rei anunciado, a quem pertence o ceptro, a autoridade e o reino, dominar sobre todos os povos. Este rei ideal e definitivo aparecerá no Messias, de que fala o Apocalipse: «Venceu o leão da tribo de Judá» (Apoc 5,5). Só ele possui o ceptro de Deus, cujo reino não é um domínio, um poder, mas serviço e amor em favor de todos os povos, que lhe deverão obediência filial.Evangelho: Mateus 1,1-17
1 *Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão. 2Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos; 3Judá gerou, de Tamar, Peres e Zera; Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; 4Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 5Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé; 6Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Uzias; 9Uzias gerou Jotam; Jotam gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia. 12Depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; 13Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azur; 14Azur gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleázar; Eleázar gerou Matan; Matan gerou Jacob. 16Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo. 17*Assim, o número total das gerações é, desde Abraão até David, catorze; de David até ao exílio da Babilónia, catorze; e, desde o exílio da Babilónia até Cristo, catorze.
Mateus abre o seu evangelho com a narração das origens humanas de Jesus: a «Genealogia de Jesus Cristo» (v. 1), que começa em Adão e termina em «José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo» (v. 16). O evangelista divide a história da salvação, que tem o seu ponto culminante em Jesus-Messias, em três grandes períodos:
Abraão, David, o exílio. Apesar da monotonia e do carácter artificial da sucessão dos nomes, o texto tem importante valor teológico, pois nos oferece a genealogia humana dAquele que será o protagonista do Evangelho. Confirmam-se as promessas dos profetas, segundo as quais Jesus é descendente de Abraão e de David e, portanto, possui as bênçãos e a glória dos antepassados.Meditatio
o projecto de Deus foi longamente preparado, como mostra a genealogia com que Mateus inicia o seu evangelho. Cristo veio na plenitude dos tempos, uma plenitude, à primeira vista, desconcertante: o tempo nada fazia esperar de bom, o lugar do nascimento é uma pequena aldeia, José, embora sendo da descendência de David, era um modesto trabalhador desconhecido. Mas Deus é senhor do impossível e realiza os seus planos, quando nada o fazia prever.
A primeira leitura é uma profecia de Jacob que fala do ceptro de Judá, que promete um vencedor: «um leãozinho, Judá», um dominador: «Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti!». Judá é o elo que liga a primeira leitura ao evangelho. Cristo é filho de Judá. O segundo Adão entrou na aventura humana, marcada pelo pecado, pelo sofrimento e pela morte, por causa da desobediência dos nossos primeiros pais, não para punir a humanidade, mas para a transformar e reconduzir à amizade com Deus, como estava previsto no primeiro projecto. Toda a história de Israel é testemunho do anúncio da vinda de um redentor, que os homens esperam para receber a promessa: toda a lei está grávida de Cristo, diria Agostinho de Hipona. Em Jesus, Deus fez-se efectivamente homem, e o sonho tornou-se realidade. O Deus-connosco fez Deus- para-nós, apesar das nossas infidelidades e do nosso fraco acolhimento.
Fazemos parte desta história, que nos liga a Abraão e a David, fio de ouro que muitas vezes quebrámos com o nosso pecado e que Deus volta a ligar em Jesus, aproximando-nos cada vez mais do seu coração. E Ele, que conheces as fragilidades do espírito humano, sabe compreender e perdoar a nossa fraqueza, mas espera a conversão do nosso coração e o reconhecimento dAquele a quem pertence toda a realeza e a quem todos os povos devem obediência, fidelidade e amor.
Cristo, Verbo eterno de Deus, assumiu a carne humana, da estirpe de David. Fez-Se intimamente próximo de nós homens: pela sua humanidade, ergueu a sua tenda no meio das nossas (cf. Jo 1,14); tornou-Se nosso companheiro da caminhada terrena, peregrino connosco rumo à pátria celeste, em tudo igual a nós, com as nossas fragilidades, os nossos sofrimentos, excepto o pecado; mas carregou sobre Si os nossos pecados e ofereceu-Se em sacrifício por eles. Assim alcançou a vitória: «venceu o Leão da tribo de Judá, o rebento da dinastia de David» (Apoc 5, 5). Mas este vencedor é um Cordeiro imolado, não um leão que devora a presa. E todavia é verdadeiramente o leão de Judá, o vencedor. Mas a sua vitória não foi obtida de maneira humana. Venceu-a com o sacrifício de si mesmo. E a sua vitória continua a realizar-se: Cristo, de Lado aberto e Coração trespassado, continua a atrair todos os homens. É, na verdade, o vencedor prometido, que vem da tribo de Judá.Oratio
Senhor, Deus de Abraão, de Isaac Deus e de Jacob, Deus de Jesus Cristo e nosso Deus, prometeste a Judá um reino eterno e uma realeza sobre todos os povos. Toda a história humana, por meio do povo eleito e, depois, por meio da Igreja, é herdeira das bênçãos de Israel, e está orientada para Cristo, esperado das nações. Que cada um de nós se torne instrumento válido para levar até Ele todo o irmão e irmã que encontrar na vida. Faz que os homens, de todas as raças e cores, saibam ultrapassar as divisões e reencontrar-se unidos por uma renovada esperança na vinda do Salvador e por uma forte confiança de que a sua mensagem de salvação e de vida é válida para todos, sem qualquer distinção.
Senhor da história e dos povos, enche-nos do teu poder e faz que vivamos vigilantes reconhecendo os sinais dos tempos e a tua passagem silenciosa pelas aventuras quotidianas da nossa história. Que, sobretudo, reconheçamos no teu Filho Jesus, descendente de uma estirpe humana, o Messias esperado. Amen.Contemplatio
o patriarca Jacob dizia-o abençoando o seu filho Judá: «O ceptro não sairá de Judá, dizia, até que venha aquele que deve vir e será o desejado de todos os povos» (Gen 41). Nós o sabemos, Israel esperava o Messias e todos os povos desejavam um Salvador. Nós o possuímos, nós, este Salvador, no tabernáculo, e não vamos ter com ele!
Quer a nossa visita para acender nos nossos corações o fogo dos santos desejos.
A minha alma é esta Jerusalém descrita por Jeremias (Lam 1), toda desolada, devastada, sem energia e sem força. Irei ao sacrário receber os eflúvios da sabedoria e da força divinas.
«Sião, dizia: O Senhor me abandona e me esquece. - Não, responde o Senhor, é que uma mãe pode esquecer o seu filho e o fruto das suas entranhas? E mesmo que uma mãe pudesse esquecer o seu filho, eu nunca vos esqueceria» (Is 49, 14).
Nós temos, portanto, no sacrário, uma mãe e mais do que uma mãe. Donde vem que não vamos com mais confiança ao Coração eucarístico de Jesus?
Quem sou eu? Um bebé que precisa de ser aleitado com leite real. O Salvador está lá para mo dar. O profeta prometeu-o: «Tu terás o leite real, dizia a Sião, e tu saberás que sou o teu Salvador, o teu Redentor e a tua força (Is 60).
Tenho lá no sacrário o pão dos fortes, o maná que deleita e que alimenta. Se não negligencio este banquete, este alimento divino, crescerei em força e em graça. É a intenção de Nosso Senhor.
Como bebés, diz S. Pedro, desejai e saboreai o leite espiritual, para que a graça da salvação cresça em vós (1 Pd 2, 2).
Crescei, diz-nos S. Paulo, até ao desenvolvimento do homem perfeito, para que não sejais mais como crianças sem vontade; cumpri os vossos deveres por amor, a fim de crescerdes sem cessar em Cristo que é o vosso chefe (Ef 4, 13).
Irei, portanto, ao sacrário buscar o leite da sabedoria e o espírito de caridade ao coração de Cristo (Leão Dehon, OSP 1, p. 640s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Ó Sapiência, vem ensinar-nos o caminho da vida» (da liturgia). -
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 18 Dezembro
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 18 Dezembro
18 Dezembro 2021Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 18 Dezembro
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 23, 5-8
5Dias virão em que farei brotar de David um rebento justo que será rei, governará com sabedoria e exercerá no país o direito e a justiça -oráculo do SENHOR. 6Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Então será este o seu nome: «O SENHOR -é-nossa-Justiçaf» 7Por isso, eis que chegarão dias -oráculo do SENHOR- em que já não dirão: «Viva o SENHOR que tirou do Egipto os filhos de Israel.» BMas sim: «Viva o SENHOR que tirou e reconduziu a linhagem de Israel do país do Norte e de todos os países, para onde os dispersara, e os fez habitar na sua própria terra.»
Jeremias vive num momento muito difícil da história de Israel. Os seus textos são fortemente dramáticos. Mas, na página que lemos hoje, apresenta-nos uma profecia cheia de esperança, com dois oráculos: o primeiro anuncia um rei sábio, descendente de David que, como «rebento justo», guiará o povo como um pastor (vv. 5-6); o segundo é uma declaração do fim do exílio e da dispersão do povo, que regressará para «habitar na sua própria terra» (vv. 7-8). A profecia coloca-nos diante de uma intervenção de Deus que é sinal da sua fidelidade à promessa feita a David (cf. 2 Sam 7, 12-16), e faz a unidade do povo, guiado por um verdadeiro rei (cf. Is 11, 1-9; Zc 3, 8), que realiza um reino de paz e de justiça. Por isso, será chamado «Senhor-nossa-justiça» (v. 6). Todas as características deste sucessor de David são atribuídas ao Messias, que governará o povo com o direito da sua Palavra e com a justiça do seu amor misericordioso (v. 5). O segundo anúncio trata da libertação do exílio e do regresso à Terra, descritos como um novo êxodo, profecia da libertação realizada pelo Messias, que reconduzirá todo o exilado e o introduzirá na terra da paz sabática.
Evangelho: Mateus 1, 18-25
1B*Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. 19*José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-Ia, resolveu deixá-Ia secretamente. 20*Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. 21 *Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» 22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23*Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. 24Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. 25*E, sem que antes a tivesse conhecido, ela deu à luz um filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus.
Mateus descreve-nos a anunciação do nascimento de Jesus a José, filho de David. Maria, noiva de José, encontra-se grávida por obra do Espírito Santo. Enquanto José pensa despedi-Ia secretamente, o Anjo revela-lhe em sonhos o projecto de Deus:
Maria dará à luz o Salvador esperado. José, homem justo cf. v. 19), acolhe com fé e simplicidade o projecto de Deus, recebe Maria como esposa, e reconhece legalmente o filho que está para nascer, transmitindo-lhe todos os direitos próprios de um descendente de David. Ao dar-lhe o nome de Jesus, que qualifica a sua missão, cumpre a vontade de Deus. Mesmo fora dos laços de sangue, Jesus é da linhagem de David, como demonstra Mateus ao citar Is 7, 14: «Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco» (v. 23).
Deus, para realizar o seu desígnio de amor e de salvação, serviu-se dos homens que veneram a sua vontade, muitas vezes misteriosa. José é um deles. Vivendo na fé e no escondimento, colaborou com Deus na história da salvação. No filho de Maria e de José, que está para nascer, Deus revela-se Emanuel, «Deus connosco».Meditatio
o evangelho de hoje mostra-nos a realização da profecia de Jeremias: «farei brotar de David um rebento justo - diz o Senhor - ». José, filho de David recebe o anúncio desse nascimento próximo, também anunciado por Isaías: «Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho».
Ao mesmo tempo, verificamos que o cumprimento desta promessa, tão longamente preparado, não se realiza sem um drama pessoal e muito doloroso. José pensava ter de renunciar a Maria, ter de renunciar a casar com Ela. Os grandes dons de Deus são geralmente precedidos de grandes sofrimentos. Deus quer alargar-nos o coração, demasiado pequeno para receber os seus dons. Uma vocação não se realiza sem drama e sofrimento: seja a vocação matrimonial, sejam as diversas vocações de consagração e de serviço na Igreja. Não ter em conta, ou esquecer essa realidade explica provavelmente muitos fracassos na fidelidade à própria vocação.
A ligação entre a primeira leitura e o evangelho é feita pelo «rebento justo» que floresce no tronco de David e «que será rei e governará com sabedoria». Este rei misterioso que nasce por obra do Espírito, é o Messias que «salvará o povo dos seus pecados». Mas Deus serve-se de José, homem simples e de fé profunda, para levar por diante a história da salvação centrada em Jesus. José não põe entraves ao projecto de Deus, entra no mistério mesmo sem o compreender completamente, acredita no seu criador e colabora com docilidade e confiança.
O homem justo não é aquele que teoriza, mas aquele que lê os acontecimentos da vida à luz da Palavra de Deus.
Estar disposto a obedecer a Deus, é uma condição prévia para entrar em diálogo com Ele e "entrar" nos seus projectos em favor dos homens. Maria e José, verdadeiros pobres, tinham essa disposição. Por isso, puderem ser chamados a colaborar e colaboraram efectivamente no grandioso projecto da nossa salvação realizado em Jesus Cristo, Morto e Ressuscitado.
É também essa disponibilidade que nos é proposta pelas Constituições: "O ... caminho" de Cristo, de total obediência e disponibilidade à vontade do Pai, "é o nosso caminho" (n. 12).
Contemplar e reviver a obediência de Cristo, introduz-nos no mistério de Deus:
Em "Cristo ... Senhor ... o Pai revelou-nos o Seu amor" (Cst. 9). Jesus manifesta o Seu amor filial ao Pai não só com palavras, mas com toda a vida. A obediência de Cristo, o mistério da Sua Oblação são exactamente as primeiras realidades que devem interessar à nossa vida es
piritual de "Oblatos, Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus": "Caminhai na caridade - exorta-nos S. Paulo -como Cristo nos amou e se entregou a Si mesmo por nós, oferecendo-Se a Deus em sacrifício de suave odor' (Ef 5,2; TOB).
José e Maria são exemplo luminoso para nós. Sejam também nossos intercessores.Oratio
Senhor Jesus, filho de David, que Te fizeste homem e vieste para meio de nós, graças à disponibilidade obediente e generosa da Virgem Maria, e cresceste em Nazaré sob o olhar vigilante de José, homem justo, ajuda-nos a reconhecer na tua vinda a Alegre Notícia da salvação e da vida nova.
Tu, que és o rebento justo, florescido no coração de cada homem, faz com que o teu reino de justiça e de paz, com a riqueza dos seus valores humanos, se expanda como luz no meio dos povos. Que a figura simples e laboriosa de José nos faça compreender que, para além dos laços de sangue, aprecias toda a paternidade, que é reflexo da do Pai que está no Céu. Que nos faça também perceber que o homem rico de fé, e disponível para o cumprimento da tua vontade, Te é sempre agradável e que, por isso, fazes dele colaborador no teu projecto de salvação.
Dá-nos a graça de, como José, estarmos sempre prontos a acolher, com sinceridade e alegria, tudo quanto nos pedes, mesmo que por caminhos que não entendemos. Para isso, está connosco, sê o nosso Emanuel! Amen.Contemplatio
S. José é para nós um modelo e um protector. A sua pureza, a sua inocência, a sua humildade são modelos oferecidos às almas que aspiram à piedade. Pela sua pureza, foi julgado digno de ser o esposo de Maria. Pela sua humildade, mereceu a glória de ser o pai adoptivo de Jesus. Pela sua inocência, tornou-se digno da união e da intimidade que devia ter com Jesus e a sua mãe em Nazaré.
Meditando nas suas virtudes, os padres aprenderão com que respeito cheio de amor deve tratar-se com Jesus no altar. Os fiéis aprenderão a comungar piedosamente.
Como S. José tinha Jesus nos seus braços, apertava-o sobre o seu coração, o padre tem-no no altar nas suas mãos. O padre e o fiel recebem-no não no seu peito, mas no seu coração.
S. José vestia-o, conduzia-o, guardava-o; aprendamos dele a tratar com uma piedosa ternura no altar e no banco da comunhão.
A doce e amável familiaridade com a qual José vivia junto de Jesus no Egipto e em Nazaré, é um exemplo da intimidade na qual Nosso Senhor queria viver connosco. José conversava com Jesus amigavelmente; Jesus era sempre o objecto do seu pensamento; no trabalho, na refeição, estavam unidos.
O cuidado de José era de contentar Jesus e sabia que o fazia ocupando-se do seu Pai e da sua bondade.
Dirijamo-nos a S. José para obtermos as graças preciosas que nos ensinarão a conversar com Jesus menino. (Leão Dehon, OSP 3, p. 235s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Senhor, vem libertar-nos» (da Liturgia). -
04º Domingo do Tempo do Advento – Ano C
04º Domingo do Tempo do Advento – Ano C
19 Dezembro 2021ANO C
4º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTOTema do 4º Domingo do Tempo do Advento
Nestes últimos dias antes do Natal, a mensagem fundamental da Palavra de Deus gira à volta da definição da missão de Jesus: propor um projecto de salvação e de libertação que leve os homens à descoberta da verdadeira felicidade.
O Evangelho sugere que esse projecto de Deus tem um rosto: Jesus de Nazaré veio ao encontro dos homens para apresentar aos prisioneiros e aos que jazem na escravidão uma proposta de vida e de liberdade. Ele propõe um mundo novo, onde os marginalizados e oprimidos têm lugar e onde os que sofrem encontram a dignidade e a felicidade. Este é um anúncio de alegria e de salvação, que faz rejubilar todos os que reconhecem em Jesus a proposta libertadora que Deus lhes faz. Essa proposta chega, tantas vezes, através dos limites e da fragilidade dos “instrumentos” humanos de Deus; mas é sempre uma proposta que tem o selo e a força de Deus.
A primeira leitura sugere que este mundo novo que Jesus, o descendente de David, veio propor é um dom do amor de Deus. O nome de Jesus é “a Paz”: Ele veio apresentar uma proposta de um “reino” de paz e de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos corações dos homens.
A segunda leitura sugere que a missão libertadora de Jesus visa o estabelecimento de uma relação de comunhão e de proximidade entre Deus e os homens. É necessário que os homens acolham esta proposta com disponibilidade e obediência – à imagem de Jesus Cristo – num “sim” total ao projecto de Deus.LEITURA I – Miq 5,1-4a
Leitura da Profecia de Miqueias
Eis o que diz o Senhor:
«De ti, Belém-Efratá,
pequena entre as cidades de Judá,
de ti sairá aquele que há-de reinar sobre Israel.
As suas origens remontam aos tempos de outrora,
aos dias mais antigos.
Por isso Deus os abandonará
até à altura em que der à luz
aquela que há-de ser mãe.
Então voltará para os filhos de Israel
o resto dos seus irmãos.
Ele se levantará para apascentar o seu rebanho
pelo poder do Senhor,
pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus.
Viver-se-á em segurança,
porque ele será exaltado até aos confins da terra.
Ele será a paz».AMBIENTE
O profeta Miqueias viveu e exerceu o seu ministério em Judá, nos sécs. VIII/VII a.C.. É originário de um meio campesino e conhece bem os problemas dos pequenos agricultores, vítimas de latifundiários sem escrúpulos. Por outro lado, a sua terra natal (Moreset Gat) está rodeada de fortalezas militares; e a presença nessas fortalezas de militares e de funcionários reais faz com que os habitantes dessa região conheçam um quadro de violência, de roubos, de impostos excessivos, de trabalhos forçados… O mais grave é que os opressores consideram que Deus está do seu lado e invocam as grandes tradições religiosas de Israel para justificar a opressão.
O livro de Miqueias começa por descrever (cap. 1-3) os graves pecados de Israel e de Judá sublinhando, sobretudo, os pecados sociais, apresentando-os como infidelidade grave aos compromissos assumidos no âmbito da “aliança” e denunciando esta “teologia da opressão”. No entanto, o texto que nos é hoje proposto está integrado na segunda parte do livro (que a maior parte dos comentadores admite não vir de Miqueias, mas sim de um profeta anónimo da época do exílio na Babilónia), onde se apresenta um conjunto de oráculos de salvação, destinados a animar a esperança do Povo (cap. 4-5).MENSAGEM
O texto que nos é proposto retoma as promessas messiânicas. Num quadro de injustiça e de sofrimento – e, portanto, de frustração e de desânimo – o profeta anuncia a chegada de um personagem, no futuro, que reinará sobre o Povo de Deus. Esse personagem, enviado por Deus, será da descendência davídica, supondo-se, portanto, que poderá restaurar esse tempo de paz, de justiça e de abundância que o Povo de Deus conheceu na época ideal do rei David. A última frase desta leitura (“Ele será a Paz”) define o conteúdo concreto desta esperança: a palavra “shalom” aqui utilizada significa tranquilidade, ausência de violência e de conflito, mas também bem-estar, abundância de vida, numa palavra, felicidade plena.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão deste texto pode fazer-se de acordo com os seguintes pontos:
• A releitura cristã vê nesta promessa de Deus veiculada por Miqueias uma referência a Jesus, o descendente de David, nascido em Belém. A missão de Jesus não passa, no entanto, pela instauração do trono político de David (um reino que se impõe pela força, pela riqueza, pelas jogadas políticas e diplomáticas), mas sim pela proposta de um reino de paz e de amor no coração dos homens.
• Os cristãos, seguidores de Jesus, são a comunidade que aceitou o convite para integrar esse “reino” de paz e de amor que Jesus veio propor. É esse o “reino” que nos esforçamos por construir? Somos, verdadeiramente, comprometidos com a causa da paz, preocupamo-nos em eliminar tudo aquilo que destrói a vida ou a dignidade de qualquer homem ou qualquer mulher? Como reagimos diante das injustiças, das arbitrariedades, do sofrimento, da miséria: com conformismo e medo, ou com o espírito profético de membros da comunidade do “reino” de Jesus?
• A mensagem deste texto faz-nos constatar, também, a presença contínua de Deus na história humana. Apesar do egoísmo e do pecado dos homens, Deus continua a preocupar-Se connosco, a querer indicar-nos que caminhos percorrer para encontrar a felicidade. A vinda de Cristo, Aquele que é “a Paz”, insere-se nesta dinâmica.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 79 (80)
Refrão 1: Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar,
mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.Refrão 2: Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto
e seremos salvos.Pastor de Israel, escutai,
Vós estais sobre os Querubins, aparecei.
Despertai o vosso poder
e vinde em nosso auxílio.Deus dos Exércitos, vinde de novo,
olhai dos céus e vede, visitai esta vinha;
protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
o rebento que fortalecestes para Vós.Estendei a mão sobre o homem que escolhestes,
sobre o filho do homem que para Vós criastes.
Nunca mais nos apartaremos de Vós,
fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.LEITURA II – Heb 10,5-10
Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos:
Ao entrar no mundo, Cristo disse:
«Não quiseste sacrifício nem oblações,
mas formaste-Me um corpo.
Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado.
Então Eu diss
e: ‘Eis-Me aqui;
no livro sagrado está escrito a meu respeito:
Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’».
Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações,
não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado».
E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei.
Depois acrescenta: «Eis-Me aqui:
Eu venho para fazer a tua vontade».
Assim aboliu o primeiro culto
para estabelecer o segundo.
É em virtude dessa vontade
que nós fomos santificados
pela oblação do corpo de Jesus Cristo,
feita de uma vez para sempre.AMBIENTE
A “Carta aos Hebreus” é um texto anónimo, escrito, provavelmente, pouco antes do ano 70 e destinado a uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos do judaísmo. É uma comunidade que já não é de fundação recente e onde o entusiasmo inicial parece ter dado lugar a uma fé “morninha” e pouco comprometida; a perspectiva de novas dificuldades provoca o desânimo; e começa a haver um real perigo de desvios doutrinais.
A “carta” é uma apresentação do mistério de Cristo, sublinhando especialmente a dimensão sacerdotal da sua missão. Recorrendo à linguagem litúrgica judaica, o autor apresenta Jesus como o “sumo sacerdote” da nova “aliança”, que faz a mediação entre Deus e os homens. Na sequência, o autor aproveita para reflectir sobre a condição cristã que deriva da missão sacerdotal de Cristo: os crentes, postos em relação com o Pai por Cristo sacerdote, são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã e devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de acção de graças e de amor.
O texto que nos é proposto pertence à terceira parte da carta (Heb 5,11-10,39). Aí, o autor reflecte sobre os traços primordiais do sacerdócio de Cristo.MENSAGEM
No mundo vétero-testamentário, quem queria celebrar a sua comunhão com Deus, ou manifestar a sua entrega absoluta a Deus, ou obter o perdão dos seus pecados, oferecia em sacrifício um animal, que o sacerdote entregava nas mãos de Jahwéh… No entanto, a inutilidade e a ineficácia destes sacrifícios tinha sido já afirmada pelos profetas (cf. Is 1,11-13; Jr 6,20; 7,22; Os 6,6; Am 5,21-25; Miq 6,6-8), porque se tratava de ritos externos, que nem sempre correspondiam a uma atitude sincera do coração do oferente.
Pondo na boca de Jesus as palavras de um salmista (cf. Sl 40,7-9), o autor da “Carta aos Hebreus” afirma que, no mundo da nova “aliança”, não é já o sacrifício de animais que realiza a comunhão com Deus, a entrega absoluta do crente a Deus, o perdão dos pecados; é a encarnação de Jesus, a entrega total da vida do próprio Cristo, o seu respeito absoluto pelo projecto e pela vontade do Pai que permitem a aproximação e a relação do homem com Deus. Quem quiser descobrir o Pai e aproximar-se d’Ele, olhe para Jesus; porque Jesus ensinou-nos, com a sua obediência ao projecto do Pai, como deve ser essa relação de filiação com Deus.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode tocar, entre outros, os seguintes pontos:
• A encarnação de Jesus e o seu “eis-Me aqui, Pai” correspondem ao projecto de Deus de aproximar os homens de Si, de estabelecer com eles uma relação de filiação e de amor. Nestes dias em que preparamos o Natal, somos convidados a contemplar a acção de um Deus que ama de tal forma os homens que envia ao nosso encontro o Filho, a fim de nos conduzir à comunhão com Ele.
• O encontro com Deus não é feito a partir de rituais externos (as prendas, a comida, os cânticos, as procissões, as orações, as liturgias solenes, o incenso, os paramentos sumptuosos), mas é feito a partir de Cristo, o Filho que entrega a vida, a fim de que o projecto do Pai se torne presente na vida dos homens e de que os homens, aprendendo o amor e a entrega total, aceitem tornar-se “filhos de Deus”.
• O encontro com Cristo significa aprender com Ele a obediência e a disponibilidade ao projecto de Deus. Como nos situamos, diante desta proposta: contam mais os nossos interesses pessoais (ainda que legítimos), ou o projecto de Deus?
ALELUIA – Mt 1,38
Aleluia. Aleluia.
Eis a escrava do Senhor:
faça-se em mim segundo a vossa palavra.EVANGELHO – Lc 1,39-47
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naqueles dias,
Maria pôs-se a caminho
e dirigiu-se apressadamente para a montanha,
em direcção a uma cidade de Judá.
Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Quando Isabel ouviu a saudação de Maria,
o menino exultou-lhe no seio.
Isabel ficou cheia do Espírito Santo
e exclamou em alta voz:
«Bendita és tu entre as mulheres
e bendito é o fruto do teu ventre.
Donde me é dado
que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?
Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos
a voz da tua saudação,
o menino exultou de alegria no meu seio.
Bem-aventurada aquela que acreditou
no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito
da parte do Senhor».AMBIENTE
O texto que nos é proposto faz parte do chamado “Evangelho da Infância”. Os estudos actuais falam do “Evangelho da Infância” como um género literário especial, que se pode chamar “homologese”: é um género que não pretende ser um relato fidedigno sobre acontecimentos, mas antes uma catequese destinada a proclamar as realidades salvíficas que a fé prega sobre Jesus (que Ele é o Messias, o Filho de Deus, o Deus connosco). Desenvolve-se em forma de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do Antigo Testamento usada pelos rabbis judeus na época em que foi escrito o Novo Testamento). A “homologese” utiliza, de preferência, tipologias: factos e pessoas do Antigo Testamento encontram a sua correspondência em factos e pessoas do Novo Testamento. Pelo meio, misturam-se elementos apocalípticos (aparições, anjos, sonhos), destinados a fazer avançar a narração e a explicitar as ideias teológicas e a catequese sobre Jesus. É esta mistura de elementos que podemos encontrar no Evangelho de hoje: mais do que uma informação “jornalística” sobre factos concretos, trata-se de uma catequese sobre Jesus, feita a partir de um conjunto de referências tiradas da mensagem e das promessas do Antigo Testamento.
MENSAGEM
A primeira referência vai para a indicação de que, à saudação de Maria, o menino (João Baptista) saltou de alegria no seio da mãe. Trata-se, evidentemente, de uma indicação teológica: para Lucas, Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens, e que tem uma mensagem de salvação/libertação que
concretiza as promessas feitas por Deus aos antepassados; logo, a presença de Jesus provoca a alegria, o estremecimento gozoso de todos aqueles que esperam a concretização das promessas de Deus e que vêem na chegada de Jesus a realização das promessas de um mundo de justiça, de amor, de paz e de felicidade para todos os homens. Através de Jesus, Deus vai oferecer a salvação a todos; e isso provoca um estremecimento incontrolável de alegria, por parte de todos os que anseiam pela concretização das promessas de Deus.
Temos, depois, a resposta de Isabel à saudação de Maria: “Bendita és tu entre as mulheres”. Trata-se de palavras que aparecem no “cântico de Débora” (cf. Jz 5,24) para celebrar Jael, a mulher que, apesar da sua fragilidade, foi o instrumento de Deus para libertar o Povo das mãos de Sísera, o opressor. Maria é, assim, apresentada – apesar da sua fragilidade – como o instrumento de Deus para concretizar a salvação/libertação dos homens.
Finalmente, temos a resposta de Maria: “a minha alma enaltece o Senhor…”. A resposta de Maria retoma um salmo de acção de graças (cf. Sl 34,4), destinado a dar graças a Jahwéh porque protege os humildes e os salva, apesar da prepotência dos opressores. É um salmo de esperança e de confiança, que exalta a preocupação de Deus para com os pobres que são vítimas da injustiça e da opressão. Sugere-se, claramente, que a presença de Jesus, através dessa mulher simples e frágil que é Maria, é um sinal do amor de Deus, preocupado em trazer a libertação a todos os que são vítimas da prepotência e da injustiça dos homens. Com Jesus, chegou esse tempo novo de libertação, de paz e de felicidade anunciado pelos profetas.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão deste texto pode ter em conta os seguintes pontos:
• A presença de Jesus neste mundo é, claramente, a concretização das promessas de salvação e de libertação feitas por Deus ao seu Povo. Com Jesus, anuncia-se a eliminação da opressão, da injustiça, de tudo aquilo que rouba e que limita a vida e a felicidade dos homens. Jesus, ao “nascer” entre nós, tem por missão propor um mundo onde a justiça, os direitos humanos, a dignidade, a vida e a felicidade das pessoas são absolutamente respeitados. Dizer que Jesus, hoje, nasce no nosso mundo significa propor esta mensagem libertadora e salvadora.
• Nós, que somos no mundo o rosto vivo de Jesus, propomos esta boa notícia? Os pobres, os que sofrem, todos os que são vítimas de opressão e suspiram ansiosamente por um mundo novo encontram no nosso anúncio esta proposta? Esta mensagem libertadora é a nossa proposta fundamental, ou dispersamo-nos em propostas laterais (o dinheiro que a comunidade tem em caixa para construir novas igrejas, a apresentação dos novos paramentos, as “bocas” que atirámos aos nossos opositores na comunidade, as questões de organização), que dizem muito pouco acerca do essencial?
• O “estremecimento” de alegria de João Baptista no seio de Isabel é o sinal de que o mundo espera com ânsia uma proposta verdadeiramente libertadora. Nós, os cristãos, somos verdadeiramente o veículo desta mensagem?
• A proposta libertadora de Deus para os homens alcança o mundo através da fragilidade de uma mulher (recordar o contexto social de uma sociedade patriarcal, onde a mulher pertence à classe dos que não gozam de todos os direitos civis e religiosos) que aceita dizer “sim” a Deus. É necessário ter consciência de que é através dos nossos limites e da nossa fragilidade que Deus alcança os homens e propõe o seu projecto ao mundo.
• Maria, após ter conhecimento de que vai acolher Jesus no seu seio, parte ao encontro de Isabel e fica com ela, solidária com ela, até ao nascimento de João. Temos consciência de que acolher Jesus é estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 4º DOMINGO DO ADVENTO
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 4º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. GESTO PARA A LITURGIA DA PALAVRA.
Aproxima-se a noite da Palavra que se fez carne. No início da liturgia da Palavra, pode-se levar o leccionário em procissão, acompanhado de música que favoreça um clima de escuta e de pequenas velas que se podem colocar à volta do ambão. No fim da celebração, as velas podem ser levadas para junto do presépio, sublinhando-se assim a relação entre a Palavra proclamada no ambão e o Verbo que vem no Natal.3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.No final da primeira leitura:
“Deus fiel, nós Te bendizemos pela obra que cumpriste ao longo dos séculos. Nos momentos de inquietude, apoiaste o teu povo através dos profetas e anunciaste-lhe o envio do Messias.
Confiamos-Te o nosso mundo, onde tantos homens vivem ainda na insegurança. Que a tua paz se estenda até aos confins da terra”.No final da segunda leitura:
“Cristo Jesus, damos-Te graças pela tua vinda ao nosso mundo. Nela descobrimos o cumprimento das antigas oblações, porque Te ofereceste a Ti mesmo, dizendo: «Eis-Me aqui. Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade».
Pela Eucaristia, Tu nos envolves na tua oblação. Santifica-nos pelo teu Espírito, abre os nossos corações à procura da tua vontade de salvação”.No final do Evangelho:
“Deus nosso Pai, nós Te louvamos pela felicidade que nos dás com a tua visita. Felizes aqueles que acreditam no cumprimento das palavras que nos diriges nas leituras de cada domingo.
Confiamos-Te os casais jovens que preparam a vinda de um filho e todas as pessoas que se dedicam totalmente ao cuidado dos seus filhos”.4. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus poderia ter nascido em Nazaré, mas o recenseamento decretado pelo imperador Augusto obriga Maria e José a deslocarem-se: é em Belém que nasce o Messias. Jesus poderia ter nascido na sala comum, mas aí não havia lugar para Ele: é na manjedoira que Ele nasce. A notícia poderia ter sido anunciada aos grandes deste mundo e aos religiosos da época: é aos pastores que é anunciado o nascimento do Salvador. Compreendemos o seu medo, mas o mensageiro de Deus dá-lhes confiança. O sinal da vinda de Deus ao meio d
os homens poderia ter sido um sinal maravilhoso, extraordinário, mas é o menino nascido numa manjedoira que é o sinal oferecido aos pastores, primeiras testemunhas do Emanuel, Deus connosco. O silêncio da noite e a serenidade do presépio parecem ser perturbados pela numerosa turba celestial que louva Deus. Com o menino de Belém, a glória de Deus manifesta-se e a paz é oferecida aos homens que Deus ama.5. À ESCUTA DA PALAVRA.
A Palavra, evidentemente, está no centro da festa de Natal, pois “a Palavra de Deus fez-se carne e habitou entre nós”. Dizemos “Palavra do Senhor”, “Palavra da salvação”! Convite a anunciar a Palavra de Deus… Diz a sabedoria popular com razão: “A palavra é de prata, mas o silêncio é de oiro”. Deus, melhor do que ninguém, conhece e põe em prática este provérbio! Quando envia a Palavra aos homens, começa por um silêncio… Os anjos anunciam, José e Maria fazem silêncio… assim como menino recém-nascido, após os normais gritos do nascimento… O coração do Natal é, acima de tudo, um grande silêncio. Aparte o episódio dos 12 anos de Jesus na sua adolescência, os Evangelhos não nos transmitem qualquer palavra de Jesus durante cerca de 30 anos. E, para terminar, o silêncio de Jesus na cruz… E agora, hoje, muitas vezes Deus continua a calar-se… Deus quer, antes de mais, dar-nos o seu silêncio, estabelecer entre Ele e nós um espaço de silêncio… Falamos demasiado… Eis porque Deus começa por se calar, para que o seu próprio silêncio se torne mensagem, convite a nos tornarmos atentos à sua presença. Nesta noite de Natal, procuremos estar unidos ao silêncio de José, de Maria e de Jesus. Assim, talvez ouçamos, nós também, no fundo do nosso coração, uma música muito doce, como um murmúrio de Deus que vem dizer-nos que, nesta noite, é dentro de nós que Ele quer nascer!6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III. Está bem presente o tema da oblação de Cristo, evocada na segunda leitura.7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
Desde a concepção de Jesus, são duas mulheres que testemunham, antes de qualquer outro, a sua esperança enfim cumprida: Isabel e Maria. São ainda mulheres as primeiras a testemunhar o segundo nascimento de Jesus na manhã de Páscoa! Felizes aquelas que acreditaram no cumprimento das palavras que lhes foram ditas da parte do Senhor! Em vésperas de Natal, sejamos apressados, como Maria: ponhamo-nos a caminho rapidamente! E que algo faça mexer e estremecer em nós: as palavras que nos foram ditas da parte do Senhor, vamos levá-las aos irmãos que vivem sem esperança.UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.orgTempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 DezembroTempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro
19 Dezembro 2021Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro
Lectio
Primeira leitura: Juízes 13,2-7. 24-25a
Naqueles dias, 2*vivia um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Manoé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. 30 anjo do SENHOR apareceu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não deste à luz; mas vais conceber e dar à luz um filho. 4Doravante abstém-te, não bebas vinho nem qualquer bebida alcoólica; não comas nada impuro, 5*porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai começar a salvar Israel das mãos dos filisteus.» 6A mulher voltou e disse ao marido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era semelhante ao de um anjo do SENHOR, muito respeitável. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me revelou o seu nome. 7Disse-me ele: 'Eis que vais conceber e dar à luz um filho; doravante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de impuro, pois esse jovem será consagrado ao SENHOR desde o seio materno até ao dia da sua morte. '»
24*A mulher deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão; o menino cresceu e o SENHOR abençoou-o. 25Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do SENHOR começou a agitar Sansão.
o nascimento de certos personagens, que tiveram grande importância na história do Povo de Israel, é relatado na Bíblia segundo um determinado género literário que se tornou clássico. Lembremos o nascimento de Isaac (Gen 11, 30; 18, 10-11; 30, 22-24) e o nascimento de Samuel (1 Sam 5.20). Hoje lemos o nascimento de Sansão. Nestes casos, Deus escolhe pessoas humildes e «fracas», como se verifica pela esterilidade das mães. O filho que nasce é claramente um dom de Deus, com uma missão salvífica em favor do povo. Aos chamados, Deus apenas pede uma total colaboração, uma alegre simplicidade e uma completa fidelidade ao projecto de salvação.
Uma mulher que «não tinha ainda concebido» (v. 2), e o seu marido Manoé, geram um filho, Sansão, um nazireu «consagrado ao Senhor» (v. 5.7) que é profecia do que acontecerá com João Baptista e, sobretudo, com Jesus, filho da virgem de Nazaré, esposa de José.Evangelho: Lucas 1, 5-25
5*No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. 6Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7*Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. BOra, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, 9*coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. 10Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. 11 Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12*Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. 13*Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. 14*Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15*Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe 16e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17*lrá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer volver os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições.» 18*Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» 19*0 anjo respondeu: «Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. 20Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.» 210 povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. 22Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que havia tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo. 23*Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. 24Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. 25*Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.»
A narrativa do nascimento de João Baptista oferece-nos pormenores que encontramos já no Antigo Testamento, nomeadamente no nascimento de Sansão: aparição do anjo, perturbação e temor na pessoa visitada, comunicação da mensagem celeste; um sinal de reconhecimento.
A narrativa da anunciação a Zacarias deve também ler-se tendo presente a da anunciação do nascimento de Jesus. Encontramos algumas semelhanças, mas também diferenças essenciais: Zacarias é visitado no templo e Maria é visitada em sua casa, em Nazaré; Zacarias revela-se incrédulo e Maria, cheia de fé; João Baptista nasce de uma mulher estéril, enquanto Jesus nasce de uma virgem; João «será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe» (v. 15) e «muitos se alegrarão com o seu nascimento» (v. 14); Jesus será concebido por obra do Espírito Santo (Lv 1, 35) e todos se hão-de alegrar com o seu nascimento (Mt 2, 13); Zacarias ficará mudo; Maria entoa o Magnificat em casa de Isabel Na plenitude dos tempos só há lugar para o acolhimento da palavra de Deus e para a fé simples e jubilosa.Meditatio
o nascimento de Sansão, tal como o de João Baptista, mostra-nos que Deus é capaz de vencer dificuldades humanamente inultrapassáveis: a mulher de Manoé é estéril, Isabel é estéril e avançada nos anos. Assim, Deus mostra que nada se pode opor à sua vontade de salvar os homens. Por meio de Sansão, salva Israel da opressão dos filisteus; por meio de João Baptista, liberta espiritualmente aqueles que se mostram disponíveis, proporcionando para Si «um povo com boas disposições», isto é, realiza a libertação espiritual daqueles que acolherem a sua iniciativa divina.
O acolhimento da iniciativa divina é preparado pela conversão pessoal, isto é, pela aceitação da libertação do pecado. Essa libertação manifesta-se na mudança das nossas relações com os outros que passam a caracterizar-se pela liberdade, pela caridade e não pela opressão.A Igreja, no Advento, faz-nos contemplar as maravilhas de Deus para suscitar em nós a esperança: Deus
é Senhor do impossível, Deus vence as maiores dificuldades porque quer salvar-nos.
O evangelho faz-nos ver claramente estas verdades: Zacarias e Isabel são «justos». Cumprem rigorosamente os mandamentos e preceitos do Senhor. Mas vivem numa certa desilusão. Sofrem intimamente pela ausência de filhos, e, apesar das suas orações, já não têm esperança de os gerar. Por isso é que o anjo começa por dizer a Zacarias: «a tua súplica foi atendida» (v. 13). Zacarias acolhe o anúncio com cepticismo: «Gomo hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» (v. 18). Esta falta de fé e de esperança, ou esta falta de esperança que leva à falta de fé, exige outro sinal. Será um sinal muito duro, mas necessário:
Zacarias ficará mudo até que se cumpra a palavra do Senhor (cf. v. 20).
Zacarias e Isabel recebem um filho que não será para eles, mas que se votará a Deus, irá para o deserto e estará ao serviço de todo o povo. A provação preparou para essa graça, dispondo-os a viver um total desapego em relação ao filho.
Abramo-nos à esperança que vem de Deus, e não ponhamos obstáculos à realização dos seus projectos de salvação.
Vivamos com Maria a nossa preparação para o Natal. Como escreveu João Paulo II: "Maria apareceu cheia de Cristo no horizonte da história da salvação" (RM 3). "Na noite da espera, Maria é a estrela da manhã", é "a aurora" que anuncia o dia, o surgir do sol. Maria é espera cheia de esperança e amorosa confiança, além de segura certeza da presença do Redentor no Seu seio».Oratio
Senhor, só Tu és grande, e as tuas obras são magníficas: és o Senhor da vida e da história; envias-nos fiéis mensageiros com alegres notícias; ergues-te como sinal de esperança; és luz para todos os povos. Vem ao nosso encontro e mostra-nos o teu rosto para contemplarmos a tua glória o teu amor surpreendente e admirável.
Tu, que deste vida a mulheres estéreis, e realizas-te prodígios por meio do teu Espírito naqueles que em Ti creram, renova o nosso coração cansado e desanimado. Então cumpriremos a tua vontade e amaremos todos quantos se cruzarem connosco no caminho da vida.
Dá-nos a graça de saborearmos a tua presença em nós e connosco, como a saboreou a Virgem de Nazaré, a mulher do silêncio e da interioridade. Amen.Contemplatio
O sacerdote Zacarias era um homem de oração e de penitência. O seu fervor era grande, quando era o seu turno de oferecer o incenso no Santo dos santos. Sentia que era então o representante de todo o povo de Israel e pedia a Deus a salvação para o povo e a redenção. O anjo Gabriel veio ter com ele, como tinha vindo ter com Daniel, apareceu-lhe à direita do altar e disse-lhe: «Não temas, Zacarias, a tua oração foi atendida. O Salvador virá em breve e o filho que Deus vai dar-te será o seu precursor. Via preparar-lhe os caminhos, há-de converter uma parte do povo. Será poderoso em palavras como Elias e exortará eficazmente o povo à penitência».
Zacarias era apoiado pelas orações dos piedosos frequentadores do templo.
No entanto, teve alguma dúvida, e o anjo Gabriel repreendeu-o anunciando-lhe o castigo pelo qual expiaria esta dúvida. Mas a misericórdia divina não retirava a sua promessa, e a salvação ia chegar.
Rezemos com Zacarias e com o povo piedoso. Peçamos misericórdia.
Humilhemo-nos. Confessemos os nossos pecados e os do nosso povo. S. Gabriel, o anjo das misericórdias divinas, recebe as nossas orações e leva-as ao trono de Deus. Quando as nossas orações e as nossas penitências forem suficientes, a bondade divina dará à sua Igreja uma nova efusão das graças da redenção. Rezemos ao anjo Gabriel para apoiar as nossas súplicas (Leão Dehon, OSP 3, p. 301 s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A tua súplica foi atendida» (Lc 1, 13b). -
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro
20 Dezembro 2021Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro
Lectio
Primeira leitura: Isaías 7,10-14
Naqueles dias: 100 Senhor mandou dizer de novo a Acaz: 11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal, quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.» 12*Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor.» 131saías respondeu: «Escuta, herdeiro de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? 14*Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr¬lhe o nome de Emanuel.
Em 735 a. C., Acaz, jovem rei de Jerusalém, vê vacilar o seu trono devido à aproximação de exércitos inimigos, que pressionam as fronteiras de Judá. Enquanto ele procura alianças humanas, Isaías insiste em que deve confiar apenas em Deus. Desafia mesmo o rei a pedir um «sinal» da assistência divina. Acaz recusa a proposta: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor» (v. 12). Esta recusa, porém, baseia-se numa falsa religiosidade. Isaías denuncia a hipocrisia do rei, acrescentando que, apesar da sua recusa, o próprio Deus lhe iria dar o sinal: «a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel» (v. 14).
As palavras do profeta referem-se a Ezequias, o filho de Acaz, que a rainha está para dar à luz e cujo nascimento é visto, naquele particular momento histórico, como presença salvífica de Deus em favor do povo angustiado. Mas, na realidade, as palavras de Isaías referem-se a um rei Salvador, no qual toda a tradição cristã, servindo-se da tradução dos Setenta, viu uma profecia do nascimento virginal de Jesus, filho de Maria.
Evangelho: Lucas 1, 26-38
26*Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27*a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28*Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, Ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29*Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31*Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34*Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35*0 anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37*porque nada é impossível a Deus.» 38*Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
A anunciação a Maria é aurora do maior acontecimento da história humana, a Incarnação do Filho de Deus. O texto bíblico mostra que estamos perante a realização das promessas de Deus aos Patriarcas e renovadas a David (cf. 2 Sam 7, 14.16; 1 Cron 17, 12-14; Is 7,10-14), e contém uma rica teologia do mistério de Cristo. Jesus é, de facto visto, como rei e filho de David (<
A confirmação da intervenção celeste, por obra do Espírito Santo, na sua condição virginal, abre o coração de Maria à vontade de Deus e à plena adesão ao projecto universal da salvação com as simples palavras que mudaram o curso da história humana: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (v. 38). O sim de Maria abre caminho à nossa salvação.
Meditatio
A Incarnação é uma iniciativa de Deus em favor de rebeldes, que são os homens pecadores. A primeira leitura realça esse facto.
«Pede um sinai», diz Deus a Acaz, pela boca de Isaías. O rei, fingindo razões de fé, responde que não quer tentar a Deus. Na verdade, mostra a sua má vontade. E é nesta circunstância que Deus promete um sinal: «Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel»
A salvação é obra do amor misericordioso de Deus, que se antecipa ao movimento dos homens.
O anúncio do oráculo de Isaías está ligado ao texto evangélico de Lucas, por causa da interpretação profética que a Igreja fez dele referindo-o ao nascimento histórico do Filho de Deus, Salvador de todos os homens. A sua vinda mudou a história profana em história da salvação, elevando à comunhão com Deus a vida de cada homem, pela mediação de Jesus de Nazaré. Deus revela-se e alcança-se, não tanto pela contemplação da criação, pela investigação filosófica ou pela experiência religiosa universal, mas por Jesus, filho de Maria, que se proclama "Filho", enviado pelo Pai, em total dependência de amor a Ele, acolhido e dado ao mundo pela Virgem Mãe.
É nesta história que irrompe Deus transcendente e misericordioso, inserindo-se na história dos homens para os salvar, transportando-os para um nível superior do Espírito, na fé e no amor. Nós os crentes, tornados amigos de Jesus, somos introduzidos na comunhão com Deus Pai, pelo aprofundar da fé e do amor, vividos na fidelidade ao Evangelho. Esta vida de unidade com o Senhor alcança-se pela interiorização da palavra de Deus, como fez a Virgem Maria.
A vida de hoje é uma permanente conspiração contra a vida interior. Tudo concorre para nos dispersar. Se não conseguirmos recolher-nos, e reflectir sobre Cristo em profundidade, não conseguiremos chegar à verdade e à fé. Maria guia-nos e é exemplo para nós nesse caminho: «Feliz Aquela que acreditou».
A iniciativa da nossa salvação pertence totalmente a Deus. Mas a Virgem de Nazaré dispõe-se a colaborar: «
Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». Maria não responde de modo orgulhoso e fingido como Acaz. Acolhe a iniciativa de Deus sem pretensões pessoais. O seu único desejo é servir.A experiência materna de Maria é, sobretudo, uma experiência de fé, de disponibilidade total para a Palavra de Deus, como ela manifesta nas palavras: "Ecce ancilla".
Na obra do Pe Dehon, O ano com o Coração de Jesus, lemos uma meditação para o dia 25 de Março com estes títulos: "Ecce venio, regra de vida de Jesus"; "Ecce an cilla , regra de vida de Maria", "Ecce venio, Ecce ancilla Domini». E o Fundador anota: «Estas palavras traçam a regra da nossa vida" (OSP 3, 328-330). Que a intercessão da Virgem nos alcance a graça de uma disponibilidade semelhante para com Deus e para com os seus projectos de salvação da humanidade.
Oratio
Pai, hoje quero inspirar-me nas palavras que S. Bernardo põe na boca de Maria para Te rezar: «Faça-se em mim segundo a tua palavra». O Verbo realize em mim a tua palavra! O Verbo, que estava em Deus, se faça carne da minha carne, segundo a tua palavra!
Não seja palavra que passa velozmente, logo que proferida, mas palavra concebida para permanecer, revestida de carne e não de ar que corre! Que não ressoe, só aos meus ouvidos, esta palavra; vejam-na os meus olhos, toquem-na as minhas mãos, carreguem-na os meus ombros! Não seja uma palavra escrita e muda, mas incarnada e viva; não seja uma palavra escrita com letras fixas num pergaminho morto, mas estampada sob forma humana no meu coração; traçada não por uma pena, mas pelo Espírito Santo!
Outrora, muitas vezes e de muitos modos, falaste aos patriarcas e aos profetas, e diz-se que as tuas palavras vem dos ouvidos de uns, aos lábios de outros e às mãos de outros mais. Para mim, peço que se faça no meu ser segundo a tua palavra. Não quero uma palavra que pregue e proclame. Quero um verbo que se doe silenciosamente, que incarne pessoalmente e que desça sobre mim cordialmente. Que se faça para o mundo inteiro, e particularmente para mim, segundo a tua palavra (cf. Bernardo de Claraval, Homilias sobre Nossa Senhora, 4, 11).
Contemplatio
Ecce Venio, Ecce Ancilla Domini. Estas palavras traçam a regra da nossa vida.
Nestas palavras encontra-se toda a vocação das almas consagradas ao Sagrado Coração, com o seu fim, os seus deveres, as suas promessas. Este sentimento, esta disposição, estas palavras ditas e sentidas bastam em todas as situações, em todos os acontecimentos, para o presente e para o futuro.
Eis que venho, ó meu Deus, para fazer a vossa vontade. Estou aqui, pronto para fazer ou para sofrer, a empreender ou a sacrificar tudo o que pedirdes de mim.
A vontade de Deus faz-se conhecer em todo o instante; e se em algum momento a obscuridade e a incerteza preenchem o coração e o espírito, perseveremos com paciência e confiança neste estado, até que agrade à sabedoria e à bondade divinas deixar luzir de novo a sua luz.
Uma alma oferecida, uma vítima, sabe que nada tem a escolher nem a decidir por si, a sua escolha está feita, a sua sorte fixada. Quando, como, em que circunstância há-de cumprir-se o seu sacrifício, tudo isto está à livre escolha daquele ao qual ela pertence inteiramente.
Assim, portanto, pratiquemos o abandono total, o deixar fazer, olhando para aquele que caminhou à frente no mesmo caminho, que o tornou praticável, que deixou atrás de si os rastos sangrentos dos seus passos.
Os cabelos da nossa cabeça estão contados. Deus vela mesmo pelas necessidades dos pássaros, não nos esquecerá. Terá cuidado de nós por todas as nossas necessidades em tempo conveniente. Se nos dermos a Ele, dar-se-á também a nós e então o que é que nos há-de poder faltar? Quando Maria se deu pelo Ecce an cilla , recebeu a sua graça suprema: O Verbo fez-se carne e habitou no seu seio. (Leão Dehon, OSP 3, p. 329s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Ecce Venio, Ecce Ancilla Domini».
-
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro
21 Dezembro 2021Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro
Lectio
Primeira leitura: Cântico dos Cânticos 2,8-14
8Eis a voz de meu amado! Ei-Io que chega, correndo pelos montes, saltando sobre as colinas. O meu amado é semelhante a um gamo ou a um filhote de gazela. Ei-Io que espera, por detrás do nosso muro, olhando pelas janelas, espreitando pelas frinchas.10Fa/a o meu amado e diz-me: Levanta-te! Anda, vem daí, Ó minha bela amada! 11 Eis que o ln vemo já passou, a chuva parou e foi-se embora; 12despontam as flores na terra, chegou o tempo das canções, e a voz da rola já se ouve na nossa terra; 13*a figueira faz brotar os seus figos e as vinhas floridas exalam perfume. Levanta-te! Anda, vem daí, Ó minha bela amada! 14Minha pomba, nas fendas do rochedo, no escondido dos penhascos, deixa-me ver o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz. Pois a tua voz é doce e o teu rosto, encantador.
o texto do Cântico dos Cânticos celebra delicadamente o amor entre a esposa e o esposo. Esse amor, descrito de forma tão ousada e inspirada, é considerado um dom de Deus. O nosso texto descreve o regresso do esposo a casa, depois de prolongada ausência à busca de pastagens para o rebanho, durante o Invemo. A alegria da esposa pelo regresso do seu amado, e a grande ternura manifestada, são tão intensas que as palavras utilizadas, cheias de inspiração poética, e as imagens primaveris tão expressivas, parecem insuficientes para descrever a sua emoção.
Na tradição da Igreja, a imagem do esposo e da esposa foi sempre entendida como símbolo da relação entre Deus e o povo (cf. Os 1-3; Is 62, 4-5; Jer 3, 1-39) e entre Cristo e a Igreja (cf. Mc 2, 19-20; Ef 5, 25-26; 2 Cor 11, 2; Apoc 21, 9). Deus é o esposo do poema e Israel, a esposa. E, porque o amor de Deus pelo seu povo se prolonga no amor de Cristo pela sua Igreja, o esposo é Cristo e a esposa é a Igreja. O liturgia utiliza esta simbologia nupcial entre Cristo e Maria e entre Cristo e o crente: a Virgem é figura da Igreja que vai alegre ao encontro de Cristo-esposo que vem. O mesmo sucede com todo o membro da comunidade cristã que vive na expectativa de acolher o Senhor para O deixar falar-lhe ao coração.
Evangelho: Lucas 1, 39-45
39*Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 *Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43*E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»
A narrativa da visitação de Maria à prima Isabel, que vivia em Ain Karin, nas montanhas da Judeia, é uma página rica de referências bíblicas, de humanidade e de espiritualidade. Maria percorre o caminho feito antes pela Arca da Aliança, quando David a fez transportar para Jerusalém (cf. 2 Sam 6, 2-11). É o mesmo caminho que Jesus fará quando se dirigir corajosamente para Jerusalém, a fim de realizar a sua missão (cf. Lc 9, 51). É sempre Deus que, em diferentes momentos da história, vai ao encontro do homem para o salvar.
A narrativa da visitação está ligada ao da anunciação, não só pelo clima humano, cheio de gestos de serviço, mas porque se torna a verificação do «sinal» dado pelo Anjo a Maria (cf. Lc 1, 36-37). O salto de João no seio da mãe representa a exultação de todo o Israel pela vinda do Salvador (vv. 41.44). As palavras de bênção, inspiradas pelo Espírito, dirigidas por Isabel a Maria, são prova do especial agrado de Deus pela Virgem. A salvação que leva no segredo da sua maternidade é fruto da sua fé na palavra de Deus: «Feliz aquela que acreditou no cumprimento das palavras do Senhor» (v.45; Lc 8, 19-21). É sempre Maria que precede e que, solicitamente se dá a todos, em tudo: a maior faz-se dom para a mais pequena, como Jesus para o Baptista.
Meditatio
O encontro de Maria e Isabel, a mãe de Jesus e a mãe de João, é ocasião para um único cântico de louvor e de acção de graças a Deus pela sua presença salvífica no meio dos homens. Agora, cabe-nos a nós abrir os corações à iniciativa fecunda do Espírito, corresponder ao dom de Deus e dar-lhe graças. O tempo de Natal é tempo de alegria porque Deus se fez nosso companheiro ao dar-nos o seu Filho, e porque nos tornámos todos irmãos e filhos do mesmo Pai.
É curioso e, em certo sentido, até chocante que festejemos o nascimento de Jesus celebrando a Eucaristia, memorial da sua paixão e morte. E todavia é uma prática correctíssima porque é o dom da morte de Cristo, o mistério da sua morte e da sua ressurreição que nos dá o sentido do seu nascimento. É também graças à sua morte e ressurreição que podemos celebrar plenamente o seu nascimento.
É na Eucaristia que podemos compreender plenamente o Antigo e o Novo Testamento e, portanto, o sentido da vida terrena de Jesus, do seu nascimento e dos acontecimentos que o precederam. A Visitação alcança significado pleno na Eucaristia porque, contemplando o Menino do presépio, contemplamos o amor de Deus que se dá a nós: «Um filho nos foi dado DUm Menino nasceu para nós ».
O nascimento de Jesus está orientado para o dom de Si mesmo. É a doação que começa e será plena quando Jesus der a sua vida por nós na cruz.
Pensando neste dom total de Jesus, podemos celebrar melhor o seu nascimento, acolhê-lo como dom, que se consumará na morte.
A Eucaristia também nos permite celebrar o Natal, não como simples lembrança de um acontecimento passado há dois mil anos, mas como uma realidade actual e presente a cada um de nós. O Deus connosco, o Emanuel, é uma realidade actual, que podemos viver: Jesus torna-se presente e vem a cada um de nós, graças à Eucaristia.
Ainda graças à Eucaristia, podemos unir-nos à Virgem Mãe que leva em si o seu Menino; podemos ir ao encontro dos outros, conscientes dessa presença em nós, que pode despertar também neles a mesma presença.
A presença de Cristo, pela Incarnação no seio de Maria, pô-Ia a caminho da casa de Isabel, para a confortar e servir. A visitação foi ensejo para Deus encher de
Espírito Santo Isabel e João. A Eucaristia, que torna presente Cristo em nós, lança¬nos "incessantemente, pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho" (Cst. 82), para que haja Natal em todos os corações (Leão Dehon, OSP.
Oratio
Senhor Jesus, que por nosso amor, assumiste carne humana no seio virginal de Maria, e, por amor, Te fazes nosso alimento e companheiro de jornada na Euc
aristia, dá-nos de graça de Te acolhermos agradecidos e exultarmos de santa alegria. Concede-nos também a graça de, como Maria que e levou ao encontro de Isabel e de João, também nós Te levemos a todos quantos encontrarmos nos caminhos da nossa vida.Faz-nos escutar a tua voz, e concede-nos a graça de Te respondermos na oração. Sobretudo, faz com que nos deixemos envolver na acção poderosa do Espírito que reza em nós. Assim, renovados interiormente, exultantes de alegria e cheios de generosidade, saberemos dar-te, e dar-nos contigo, aos irmãos, especialmente aos mais pobres e desprotegidos. Amen.
Contemplatio
Maio seu pequeno coração começou a bater Jesus quis provar o seu amor e expandir os seus benefícios. João Baptista e toda a sua família são os primeiros que experimentam este amor ardente de Jesus que Maria traz.
Cada pulsar do Coração de Jesus tem, por assim dizer, o seu eco no de Maria, de modo que o amor nestes dois corações torna-se o mesmo, toma o mesmo objecto, a mesma intensidade e transborda sobre os homens.
Jesus já testemunhou o seu amor ao seu Pai pelo seu acto de oblação; cumulou a sua mãe com dons maravilhosos; santificou S. José, seu pai adoptivo. Quer levar graças de eleição ao seu precursor S. João Baptista. Ele arrasta Maria nesta viagem misteriosa. O amor dá asas aos dois. Maria, toda inebriada pelo zelo ardente e diligente de Jesus, corre, voa através dos montes e dos vales: abiit in montana cum festinatione. É uma caminhada de cem quilómetros que se faz provavelmente em três dias.
Jesus deu-se ao seu Pai e às almas, pelo seu acto de oblação. Ele arde de ardor por começar a redenção. Incendeia Maria com o seu zelo. Os seus dois corações fazem um só. Que amor eles nos testemunham, e que lição de zelo para nós!
Jesus e Maria levam imensas bênçãos. João Baptista estremece no seio de sua mãe sob a bênção de Jesus. É o estremecimento do amor e do zelo. Ele queria já anteceder os anos, e pregar o amor de Deus e o arrependimento dos pecados cometidos.
Isabel e Zacarias profetizam. Zacarias é curado do seu mutismo. Todas as graças estão reunidas: santificação e vocação do precursor, cura miraculosa, dom de profecia. Que munificência!
Jesus passa fazendo o bem: transiit benefaciendo. Ah! Como a sua bondade é grande e como esta primeira manifestação está cheia de promessas! Jesus veio, portanto, à terra para abrir as fontes de todas as graças, e Maria é como o carro de fogo que transporta o Messias.
A sua bondade não pede uma imensa confiança e um imenso reconhecimento? (Leão Dehon, OSP 2, p. 208).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Bendito é o fruto do teu ventre, Ó Maria»
-
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro
22 Dezembro 2021Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro
Lectio
Primeira leitura: 1 Samuel 1, 24-28
Naqueles dias, 24* Ana tomou Samuel consigo e, levando também três novilhos, uma medida de farinha e um odre de vinho, conduziu-o ao templo do SENHOR em Silo. O menino era ainda muito pequeno. 251mo/aram um novilho e apresentaram o menino a EIi. 26Ana disse-lhe: «Ouve, meu senhor, por tua vida: eu sou aquela mulher que esteve aqui a orar ao SENHOR, na tua presença. 27Eis o menino por quem orei. O SENHOR ouviu a minha súplica. 28*Por isso, o ofereço ao SENHOR, a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida.» E ele prostrou-se ali diante do SENHOR.
Ana pedira a Deus a graça de um filho. Deus concedeu-lha. Por isso, vai ao templo de Silo agradecer o dom da maternidade, levando com ela alguns dons e, sobretudo, o filho, Samuel, para o oferecer ao Senhor: «a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida» (v. 28). Depois de imolar um novilho, em sacrifício de acção de graças e de louvor ao Senhor, apresenta o filho ao sacerdote EIi, lembrando-lhe o episódio e a oração que fizera na sua presença, uns anos antes, e narrando-lhe como o Senhor a tinha escutado. «Por isso, o ofereço ao SENHOR», conclui a mulher (v. 28).
Esta narrativa bíblica é profecia daquilo que Deus, de modo ainda mais maravilhoso, irá realizar em Maria. Como no caso de Isaac (cf. Gn 18, 9-14), de Sansão (cf. Jz 13, 2-25) e de João Baptista (cf. Lc 1, 5-25), o nascimento de um filho, por obra de Deus, de uma mulher estéril, foi sinal de uma vocação especial, como acontece com Samuel, destinado a tornar-se o primeiro grande profeta de Israel (cf. Act 3, 24) e guia espiritual do povo.
Evangelho: Lucas 1, 46-56
Naquele tempo, 46*Maria disse: «A minha alma glorifica o Senhor 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. 48Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49*0 Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. 50*A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. 51 *Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. 52Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53*Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. 54*Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55*como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56*Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.
o Magnificat é uma das mais belas orações do Novo Testamento, com várias reminiscências do Antigo Testamento (cf. 1 Sam 2, 1-18; SI 110, 9; 102, 17; 88, 11;
106, 9; Is 41, 8-9). É o cântico dos pobres, dos simples e humildes, sempre prontos a acolher e a admirar-se com as iniciativas de Deus ..
É significativo que este cântico tenha sido posto nos lábios de Maria, a criatura mais digna do louvor a Deus, que nasce no culminar da história da salvação, e que é imagem da Igreja, sempre guiada por Deus, que usa de amor e de misericórdia para com todos, especialmente para com os pobres e pequenos.
O texto divide-se em duas partes: Maria dá glória a Deus pelas maravilhas realizadas na sua humilde vida, tornando-a colaboradora da salvação realizada por Cristo, seu Filho (vv. 46-49). Depois, exalta a misericórdia de Deus pelos critérios extraordinários e impensáveis com que confunde as situações humanas, expressas por seis verbos: «Manifestou, dispersou, derrubou, exaltou, despediu, acolheuD », que reflectem o modo de agir forte e paterno de Deus em favor dos últimos e dos carenciados (vv. 50-53). Finalmente, recorda o cumprimento fiel das promessas de Deus, feitas aos Pais e mantidas em relação a Israel (vv. 54-55). Deus realiza sempre grandes coisas na história dos homens, mas apenas se serve daqueles que se fazem pequenos e querem servi-lo com fidelidade, no escondimento e no silêncio adorante.
Meditatio
As leituras de hoje falam-nos da acção de graças de duas mães: Ana e Maria.
Ana agradece com três novilhos, uma medida de farinha, um odre de vinho e, sobretudo, com o dom do próprio filho, a graça da maternidade. Samuel, devolvido ao Senhor, torna-se um laço vivo entre Ana e Deus.
Maria também dá graças ao Senhor, com grande efusão de alma: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Seivedor», Jesus ainda não tinha nascido. Mas a Virgem já dava graças por Ele e O oferecia a Deus¬Pai, porque tinha dado início à obra da salvação, santificando João Baptista no seio de sua mãe.
Ana e Maria, cheias de alegria, agradecem o dom da vida que está nelas, sinal da bondade de Deus. Ao mesmo tempo, com simplicidade e pureza de coração, entregam-se ao Senhor porque «a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem» (v. 50).
É bom que também nós nos demos conta de que a pobreza e a simplicidade de coração são condições essenciais para agradar a Deus e ser cheios da sua riqueza. Os frutos das obras de Deus desenvolvem-se no silêncio e na calma, não na agitação ou na violência. Deus actua com discrição e no segredo. Não se podem forçar os tempos do Espírito.
Como Maria, somos convidados, na proximidade do Natal, a partilhar esta delicadeza do Senhor, confiando todos os nossos projectos e a nossa vida Àquele que nos amou por primeiro e quer o nosso bem. Ofereçamos-lhe o nosso louvor, porque Ele «escolheu o que era louco aos olhos do mundo para confundir os sábios, escolheu aquilo que no mundo era fraco para confundir os fortesDpara que ninguém possa gloriar-se diante de Deus» (1 Cor 1, 27-29).
O louvor e a acção de graças, como as outras dimensões da oração, nascem do silêncio que possibilita a escuta do Senhor que fala, e que possibilita dar-nos contas das maravilhas que faz em nós e à nossa volta. O barulho e a agitação dispersam, distraem. Um salmista rezava: "Ponde, Senhor, vigilância à minha boca, guardai a porta dos meus lábios" (SI 141(140),3). O tempo de Natal implica sempre alguma agitação. É natural, mas há que ter o cuidado de não perdermos o essencial.
As nossas Constituições lembram: "Como Jesus gostava de se entreter com o Pai, também nós reservaremos momentos de silêncio e de solidão para nos deixarmos renovar na intimidade com Cristo e nos unirmos ao seu amor pelos homens".
Muitas pessoas do nosso tempo, também religiosos, perderam o sentido do silêncio; parece terem medo dele. Desperdiçaram um grande valor, um dom importante, e correm o risco de perder a si mesmos. Pelo silêncio, entramos na profundidade de nós mesmos, conhecemos as nossas verdadeiras exigências, aceitamo-Ias e, com a ajuda do Espírito, realizamo-Ias.
Demasiadas pessoas andam imersas em tagarelices, rumores, músicas, imagens; estão sem defesas, sem refúgio interior; an
dam fora de si, alienados. Por isso, não se reconhecem, nem reconhecem o que Deus faz e quer fazer nelas. Por isso, não cantam os louvores de Deus! Nem vistam os que precisam, porque não ouvem os seus gritos!Oratio
Senhor, nosso Deus, que pusestes nos lábios de Ana e de Maria a oração de louvor e de acção de graças, e que fizestes germinar nos seus corações a alegria, fruto da tua visita amorosa e paterna, dá-nos a graça de, também nós, descobrirmos e praticarmos na oração as atitudes de louvor e de reconhecimento pelas maravilhas que gratuitamente fizeste e continuas a fazer em nós e à nossa volta, na Igreja e no mundo.
Queres que vivamos na alegria, pela experiência do teu amor de Pai misericordioso e fiel. Ajuda-nos a dispormos, pelo silêncio e pela solidão, para acolhermos essa experiência, a única capaz de transformar a nossa vida, de nos pôr generosamente ao serviço do teu projecto de salvação, ao serviço de quem precisa de nós, de escrevermos o nosso próprio Magnificat. Na oração de louvor e de acção de graças, dar-nos-emos conta de que as riquezas que nos confias são mais importantes e mais numerosas do que as nossas carências, e que os dons que pões nas nossas mãos, e nas dos nossos irmãos, são sinal de cuidas de nós com amor de Pai. Amen.
Contemplatio
Jesus e Maria rezavam sempre no fundo do seu coração. Jesus no-lo diz: «É preciso rezar sempre e sem cesser» (Lc 18, 1).
Alguns versículos do Evangelho traem a oração íntimactle Maria.
Quando o arcanjo Gabriel desce a Nazaré, Maria revela-nos a sua alma: «Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum: sou a serva do Senhor, que me seja feito segundo a vossa palavra!».
Eis, portanto, a disposição habitual de Maria na sua oração, é a humildade e o abandono: o que Deus quer, e é tudo. É a suprema santidade.
O Magnificat diz-nos mais amplamente os sentimentos da oração de Maria. É um cântico lírico à glória de Deus. É o louvor, o reconhecimento, a humildade. Nada de preocupação pessoal; Deus é bom, isso lhe basta, rejeita os orgulhosos e abençoa os humildes. Repara também, protesta contra os soberbos e os avarentos. O amor puro e acção de graças são a nota dominante: «A minha alma glorifica o Senhor!» (Pe. Dehon, OSP 3, p. 177s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A minha alma glorifica o Senhor!» (Lc 1,46)
-
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro
Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro
23 Dezembro 2021Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro
Lectio
Primeira leitura: Malaquias 3, 1-4. 23-24
Assim fala o Senhor Deus: 1 *«Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor que vós procurais e o mensageiro da aliança que vós desejais. Ei-lo que chega! Diz o SENHOR do universo. 2*Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. 3Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o SENHOR os que apresentam a oferta legítima. 4Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR como nos dias antigos, como nos anos de outrora.
23 Eis que vou enviar-vos o profeta Elias, antes que chegue o dia do SENHOR, dia grande e terrível. 24*Ele fará com que o coração dos pais se aproxime dos filhos, e o coração dos filhos se aproxime dos seus pais, para que Eu não tenha de vir castigar a terra com o anátema.»
Na segunda metade do século V a. C., o culto e a pureza religiosa do povo estavam em decadência por causa dos casamentos mistos dos regressados do exílio de Babilónia que, ainda por cima, viviam impunes e tranquilos. Os observantes interrogavam-se: onde está a justiça de Deus? O profeta responde, em nome de Deus, denunciando o pecado dos sacerdotes e a violação da lei do culto pelo povo. Ao mesmo tempo, anuncia como eminente a vinda do «dia do SENHOR, dia grande e terrível» (v. 23). O próprio Senhor há purificar o templo, que está a ser reconstruído, purificará os sacerdotes e pronunciará o seu juízo sobre os maus.
Mas o Senhor far-se-á preceder por um mensageiro, identificado com o profeta Elias (v. 23; Sir 48, 10-11), que Lhe preparará o caminho, purificará o povo dos seus pecados e o reconduzirá reconciliado às tradições dos pais.
A profecia de Malaquias, lida no contexto do Novo Testamento, refere-se à vinda de Cristo, precedida pela do precursor, João Baptista, que preparará o povo para o encontro com o Messias, «o mensageiro da aliança» (v. 1), que todos esperam.
Evangelho: Lucas 1, 57-66
Naquele tempo, 57chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 580s seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. 59Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60*Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61 Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62*Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. 64 imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65*0 temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66*Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.
A profecia de Malaquias realiza-se em João Baptista. Lucas descreve-nos a alegria dos parentes e vizinhos com o parto de Isabel (vv. 57-58) e com a circuncisão do menino, com a imposição do nome, ao oitavo dia (vv. 59-66).
O evangelista, com alguns pormenores, faz-nos notar no nascimento e na escolha do nome a intervenção prodigiosa de Deus, que actua de modo extraordinário na vida daquele menino: a alegria pelo evento inesperado (v. 58); o significado do nome «João» (vv. 60.63), que quer dizer. «Deus faz graça e usa misericórdia», nome cheio de promessas para o futuro; o espanto dos presentes, com um respeitoso temor, e a divulgação dos factos por toda a montanha da Judeia (v. 65); a palavra readquirida por Zacarias que bendiz e louva a Deus, como sinal de que se cumpriu tudo o que foi dito pelo Senhor (v. 64); finalmente, a reacção de todos quantos tomavam conhecimento do nascimento da criança, e perguntavam: «Quem virá a ser este menino?» (v. 66) e a do próprio Lucas que conclui o relato com a seguinte nota: «Na verdade, a mão do Senhor estava com ele» (v. 66).
Esta narrativa mostra que estão maduros os tempos, que o Messias está próximo. Há que preparar-se para recebê-lo, como João, e reconhecer na história uma nova e radical forma de relação entre Deus e o homem.
Meditatio
À primeira vista, a profecia de Malaquias, que lemos hoje, pode parecer-nos pouco adequada para preparar o Natal. De facto, fala de uma espantosa purificação, e com uma linguagem terrível: Quem suportará o dia da chegada do Senhor? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque «ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará como se refinam o ouro e a prata». Mas, pensando bem, damo¬nos conta de que é uma leitura muito adequada, porque precisamos realmente de uma boa purificação para acolhermos o Senhor. Jesus não é um boneco para brincar. É o Filho de Deus, que havemos de receber com sentimentos de adoração. Se o nascimento de João encheu os vizinhos de temor, que dizer do nascimento de Jesus. Lucas diz-nos que os pastores, ao verem o Anjo, «tiveram muito medo».
Precisamos de ser purificados pelo Senhor para acolhermos dignamente o Menino Jesus. Essa purificação é feita por amor, ainda que Deus use severidade. Precisamos de ser purificados de todo o orgulho, de toda a soberba, porque Deus só dá a sua graça aos humildes.
Mas as leituras de hoje também nos podem levar a reflectir sobre uma outra realidade: Deus, em todas as épocas, envia os seus mensageiros, tal como enviou Elias e João Baptista. É por meio desse mensageiros que Ele quer guiar a humanidade. Nos nossos tempos não têm faltado sinais concretos e modos eloquentes da sua Palavra, por meio de pessoas como João XXIII, a Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, ou por meio de eventos como O Vaticano II. Essas pessoas e eventos, sendo instrumentos do Espírito, erguem "antenas" que nos permitem vislumbrar um mundo novo. Há, de facto novidades que é preciso saber olhar e respeitar, sem ceder a nostalgias do passado ou a sonhos de futuro, que são fugas da realidade.
Os tempos de silêncio e ascese ajudam-nos a descobrir Deus na história e no coração de cada homem, bem como a presença do Espírito de Cristo que ilumina e guia o nosso caminho. Há que deixar-se conduzir!
Lemos no n. 10 das Constituições: «Com a sua solidariedade para com os homens, qual novo Adão, Ele revelou o amor de Deus e anunciou o Reino: este mundo novo já presente em germe nos esforços hesitantes dos homens, encontrará a sua realização, para
além de todas as expectativas, quando, por Jesus, Deus for tudo em todos». Depois as Constituições citam dois textos bíblicos que é bom recordar:"Sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até ao presente. Não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos, aguardando a adopção, a redenção do nosso corpo" (Rom 8,22-23). "E quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho Se submeterá Àquele que Lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos" (1 Cor 15,28)>>.
O mundo novo já está presente em germe nos esforços hesitantes dos homens (cf. Cst n. 10). Esses esforços, os nossos e os de todos os homens são "incertos", é verdade. Mas temos confiança de que estão impregnados pela "graça" e pela "verdade" do Verbo feito carne, isto é, pelo Seu amor (Jo 1, 14). De facto, é "da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça" (Jo 1, 16), isto é, amor para correspondermos ao Seu amor. Essa correspondência passa também pela nossa solidariedade com Ele na construção de um mundo novo.
Oratio
Pai, Senhor da vida e da história! Os primeiros cristãos diziam. «A salvação está agora mais perto de nós do que no momento em que abraçámos a fé» (Rm 13, 11). Nós, hoje, vivemos muitas vezes sem pensar na tua vinda, distraídos com mil fogos-fátuos que nos encandeiam. Desperta em nós a fé e a esperança para que não nos esqueçamos da tua presença no meio de nós, escondido por detrás do rosto de tantos irmãos, e que, por meio dos teus mensageiros, orientas os nossos passos para a luz e para a paz.
Dá-nos um coração purificado, livre e sensível à acção do teu Espírito, para que possamos actuar como Tu queres, encontrar-Te neste Natal, e estar prontos para, no dia da tua última vinda, confessarmos que és o nosso pai e amigo, que és o nosso Salvador. Amen.
Contemplatio
João Baptista era um anjo pela sua pureza. O evangelho e os profetas dão-lhe este belo título: «Enviarei o meu anjo diante do Messias», tinha dito o Senhor na profecia de Malaquias (3, 1).
Nosso Senhor mesmo faz a aplicação desta profecia: «Foi dele, diz, que o profeta disse: Enviarei um anjo diante de vós para vos preparar os caminhos» (Mt 11, 10).
S. João Baptista é, portanto, para nós um admirável modelo de pureza. Ensina¬nos os meios de conservar as nossas almas puras. Estes meios são a oração, o afastamento do mundo e a mortificação.
Ainda não tinha nascido quando Jesus e Maria foram visitá-lo na Judeia.
Estremece no seio de sua mãe. É abençoado e santificado pela presença de Jesus e a visita de Maria.
É um amigo para Jesus, di-lo ele mesmo: «O amigo do esposo, diz, alegra-se quando escuta a voz do seu amigo, é por isso que hoje estou alegre» (Jo 3, 29). Quando Jesus menino volta do Egipto, visita o seu pequeno amigo passando na
Judeia. Cada ano, nos dias de Páscoa, estão juntos em Jerusalém. Reencontram-se no Jordão. S. João conhece a missão do seu amigo e parente, proclama a sua missão: «Eis, diz, o Cordeiro de Deus, eis aquele que apaga os pecados do mundo».
Pregam um ao outro, mas S. João envia os seus discípulos a Cristo. Recebe as suas graças de Jesus e conduz as almas a Jesus.
Tal deve ser a nossa união com Jesus e Maria. Maria dar-nos-á Jesus. Sede amigos para Jesus pela vossa assiduidade, pelo vosso afecto, pela vossa confiança. Conduzamos-lhe as almas, não procuremos em nada reter a sua afeição por nós, admiremos nisto o desapego de S. João. Ide a Jesus, diz a todos, nada sou senão uma voz que prega no deserto, não sou digno de desatar os seus sapatos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 689).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Vinde, vinde, não tardeis, Senhor Jesus». (da Liturgia). -
Missa da meia-noite do Natal do Senhor – Ano C
Missa da meia-noite do Natal do Senhor – Ano C
24 Dezembro 2021ANO C
NATAL DO SENHOR – MISSA DA MEIA-NOITETema da “missa da meia-noite” do Natal do Senhor
O tema desta Eucaristia pode resumir-se na expressão “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz”.
A primeira leitura anuncia a chegada de um menino, da descendência de David, dom de Deus para o Povo, que eliminará as causas objectivas de sofrimento, de injustiça e de morte, e inaugurará uma era de alegria, de felicidade e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta a concretização da promessa profética: Jesus, o menino de Belém, é o Deus que vem ao encontro dos homens para lhes oferecer – sobretudo aos mais pobres e débeis – a salvação. Não se trata de uma salvação imposta, mas de uma salvação oferecida com ternura e amor.
A segunda leitura lembra que acolher a salvação de Deus, tornada presente na história dos homens em Jesus, significa renunciar aos valores do mundo, sempre que eles estejam em contradição com a proposta do menino de Belém.LEITURA I – Is 9,1-6
Leitura do Livro de Isaías
O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;
para aqueles que habitavam nas sombras da morte
uma luz começou a brilhar.
Multiplicastes a sua alegria,
aumentastes o seu contentamento.
Rejubilam na vossa presença,
como os que se alegram no tempo da colheita,
como exultam os que repartem despojos.
Vós quebrastes, como no dia de Madiã,
o jugo que pesava sobre o povo,
o madeiro que ele tinha sobre os ombros
e o bastão do opressor.
Todo o calçado ruidoso da guerra
e toda a veste manchada de sangue
serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas.
Porque um menino nasceu para nós,
um filho nos foi dado.
Tem o poder sobre os ombros
e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte,
Pai eterno, Príncipe da paz».
O seu poder será engrandecido numa paz sem fim,
sobre o trono de David e sobre o seu reino,
para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça,
agora e para sempre.
Assim o fará o Senhor do Universo.AMBIENTE
O texto que nos é apresentado faz parte dos “oráculos messiânicos” atribuídos ao profeta Isaías. Não é seguro se se trata de um texto de Isaías, ou de um texto posterior à época do profeta, enxertado pelos editores finais da obra na mensagem de Isaías.
Se for de Isaías, pode pertencer à fase final da actividade do profeta (inícios do séc. VII a.C.). Por essa altura, o rei Ezequias, ignorando os avisos de Isaías, continua a jogar no xadrez político internacional e a alinhar em alianças contra os assírios, enviando embaixadas ao Egipto, à Fenícia e à Babilónia, a fim de consolidar uma frente anti-assíria. O profeta, desiludido com essas iniciativas (que considera um abandono de Deus e um colocar a confiança e a esperança, não em Jahwéh, mas nos exércitos estrangeiros), começa a sonhar com um tempo novo, sem imperialismos, sem guerra nem armas, e onde reinam a justiça e o direito.
O “menino” aqui anunciado, da descendência de David, pode também estar em relação com o “sinal do Emanuel” de que o profeta fala ao rei Acaz em Is 7,14-17. Seja como for, é um texto que dá fôlego à corrente messiânica e que alimenta a esperança de Israel num futuro novo de paz e de felicidade para o Povo de Deus.MENSAGEM
Para descrever esse tempo novo de alegria e de felicidade que, no futuro, Jahwéh prepara para o seu Povo, o profeta utiliza imagens muito sugestivas: será como no tempo da colheita, quando todo o Povo dança feliz pela abundância dos alimentos; será como após uma caçada coroada de êxito, quando os caçadores dividem com alegria a presa.
Porquê esta alegria, celebrada na festa? Porque a guerra, a injustiça, a violência e a opressão foram vencidos e vai ser inaugurada uma nova era, de vida, de abundância, de paz e de felicidade para todos.
Quem é responsável por esta “nova ordem”? Na linguagem de Isaías, é “um menino”, enviado por Deus com a missão de restaurar o trono de David, que reinará no direito e na justiça (“mishpat/zedaqa”: estas palavras evocam, na linguagem profética, uma sociedade onde as decisões dos tribunais fundamentam uma recta ordem social, onde os direitos de todos são respeitados e onde não há lugar para a exploração e a injustiça). O quádruplo nome desse “menino” evoca títulos de Deus ou qualidades divinas: o título “conselheiro maravilhoso” celebra a capacidade de conceber desígnios prodigiosos e é um atributo de Deus – cf. Is 25,1; 28,29; o título “Deus forte” é um nome do próprio Deus – cf. Dt 10,17; Jr 32,18; Sl 24,8; o título “príncipe da paz” leva também a Jahwéh, aquele que é “a Paz” – cf. Is 11,6-9; Mi 5,4; Zac 9,10; Sl 72,3.7. Quanto ao título “Pai eterno”, é um título do rei – cf. 1 Sm 24,12 – e é um título dado ao faraó pelos seus vassalos, nomeadamente nas cartas de Tell el-Amarna. Fica, assim, claro que esse “menino” é um dom de Deus ao seu Povo e que, com ele, Deus residirá no meio do seu Povo, outorgando-lhe a justiça e a felicidade para sempre.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e actualização da mensagem deste texto podem fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:
¨ É Jesus que dá sentido a esta “profecia messiânica”. Ele é o “menino” anunciado por Isaías, dom de Deus aos homens para inaugurar o mundo do direito e da justiça, da paz e da felicidade para todos. O nascimento de Jesus significa que, efectivamente, este “reino” incarnou no meio dos homens. Jesus chamou a este mundo proposto por Deus, “reino de Deus”. Em que medida este “reino”, semeado por Jesus, foi acolhido pelos homens e se tornou uma realidade viva, a crescer na nossa história?
¨ E nós, cristãos, que acolhemos Jesus como a concretização das promessas de Deus, lutamos pela efectivação deste “reino” de justiça e de paz? Como lidamos com tudo o que é exploração, injustiça, egoísmo, violência e morte? Qual a mensagem que propomos a esse mundo que exalta e cultiva a exploração, o egoísmo e a injustiça?
¨ Reparemos no “jeito de Deus”: Ele não Se serve da força e do poder para intervir na história e realizar a salvação; mas é através de um “menino”, na sua fragilidade e dependência, que Deus propõe aos homens um projecto revolucionário de salvação/libertação. Temos consciência de que é na simplicidade e na humildade que Deus age no mundo? E nós? Seguimos os passos de Deus e respeitamos a sua lógica quando queremos propor algo aos nossos irmãos?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96)
Refrão: Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.
Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira,
cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.Anunciai dia a dia a sua salvação,
publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas.Alegrem-se os céus, exulte a terra,
ressoe o mar e tudo o que ele contém,
exultem os campos e quanto neles existe,
alegrem-se as árvores das florestas.Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra:
julgará o mundo com justiça
e os povos com fidelidade.LEITURA II – Tito 2,11-14
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Tito
Caríssimo:
Manifestou-se a graça de Deus,
fonte de salvação para todos os homens.
Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos,
para vivermos, no tempo presente,
com temperança, justiça e piedade,
aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória
do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo,
que Se entregou por nós,
para nos resgatar de toda a iniquidade
e preparar para Si mesmo um povo purificado,
zeloso das boas obras.AMBIENTE
A “Carta a Tito” dirige-se, presumivelmente, a esse Tito que foi convertido por Paulo (cf. Tt 1,4), que acompanhou o apóstolo ao Concílio de Jerusalém (cf. Ga 2,1-2), que esteve com Paulo em Éfeso e que, por duas vezes, foi enviado por Paulo a Corinto com missões delicadas, numa altura que o ânimo dos coríntios estava exaltado contra Paulo (cf. 2 Cor 7,6-7; 8,16-17). O autor desta carta sugere que Paulo, na parte final da sua vida, teria confiado a Tito a animação da Igreja de Creta (cf. Tt 1,5).
A “Carta a Tito”, no geral, parece ser um texto tardio, quando a preocupação fundamental das comunidades cristãs já não se centrava na vinda iminente do Senhor, mas em definir a conduta dos cristãos no tempo presente. Depois de apresentar uma série de conselhos práticos (para os anciãos, para os jovens, para os escravos – cf. Tt 2,1-10), o autor da carta procura fundamentar a prática cristã nos sólidos fundamentos da fé. É neste contexto que aparece a leitura que nos é proposta.MENSAGEM
Porque é que os anciãos, os jovens e os escravos (isto é, a totalidade dos membros da comunidade crente) devem pautar a sua vida pelas referências cristãs? Porque “manifestou-se a graça (“kharis”) de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, (…) com temperança, justiça e piedade, aguardando (…) a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2,12-13).
O amor de Deus – tantas vezes e de tantas formas manifestado na história – tem, pois, um projecto de salvação que foi apresentado aos homens na vida, nas palavras, nos gestos e na morte/ressurreição de Jesus Cristo. Esse projecto convida-nos a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo propõe e a ser sensíveis aos valores apresentados por Deus, em Jesus. Acolher esse projecto de amor e viver em consequência é a forma de aguardar, na esperança, a vinda de Jesus.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e actualização da segunda leitura de hoje podem fazer-se a partir dos seguintes pontos:
¨ Temos consciência do amor de Deus e que a incarnação de Jesus é o sinal mais expressivo desse amor por nós?
¨ Aprendemos, com Jesus, a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo nos propõe e a confrontar, dia a dia, a nossa vida com os valores do Evangelho?
¨ É assumindo e percorrendo caminhos de simplicidade, de justiça e de comunhão com Deus que aguardamos a “vinda” de Jesus?
ALELUIA – Lc 2,10-11
Aleluia. Aleluia.
Anuncio-vos uma grande alegria:
Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.EVANGELHO – Lc 2,1-14
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naqueles dias,
saiu um decreto de César Augusto,
para ser recenseada toda a terra.
Este primeiro recenseamento efectuou-se
quando Quirino era governador da Síria.
Todos se foram recensear, cada um à sua cidade.
José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré,
à Judeia, à cidade de David, chamada Belém,
por ser da casa e da descendência de David,
a fim de se recensear com Maria, sua esposa,
que estava para ser mãe.
Enquanto ali se encontravam,
chegou o dia de ela dar à luz,
e teve o seu Filho primogénito.
Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura,
porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos
e guardavam de noite os rebanhos.
O Anjo do Senhor aproximou-se deles
e a glória do Senhor cercou-os de luz;
e eles tiveram grande medo.
Disse-lhes o Anjo: «Não temais,
porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo:
nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador,
que é Cristo Senhor.
Isto vos servirá de sinal:
encontrareis um Menino recém-nascido,
envolto em panos e deitado numa manjedoura».
Imediatamente juntou-se ao Anjo
uma multidão do exército celeste,
que louvava a Deus, dizendo:
«Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens por Ele amados».AMBIENTE
É duvidoso que Quirino, como governador, tenha ordenado um recenseamento na época em que Jesus nasceu (só por volta do ano 6 d.C. é que ele se tornou governador da Síria, embora possa ter sido “legado” romano na Síria entre 12 e 8 a.C. Pode, realmente, nessa altura, ter ordenado um recenseamento que teve efeitos práticos na Palestina por volta dos anos 6/7 a.C., altura do nascimento de Jesus). De qualquer forma, Lucas não está a escrever “história”, mas a fazer teologia e a apresentar uma catequese sobre Jesus, o Filho de Deus prometido, que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.
Com estas indicações de carácter histórico, Lucas está interessado em situar o nascimento de Jesus numa época e num espaço concreto, sugerindo que não se trata de um acontecimento lendário, mas de algo perfeitamente integrado na história e na vida dos homens.MENSAGEM
A primeira indicação vem da referência a Belém como o lugar efectivo do nascimento de Jesus… Lucas sugere, assim, que este Jesus é o Messias, da descendência de David, anunciado pelos profetas (cf. Miq 5,1). Fica, desde já, claro que o nascimento de Jesus se integra no plano de salvação que Deus tem para os homens – plano que os profetas anunciaram e cuja realização o Povo de Deus aguardava ansiosamente.
São também importantes os elementos que definem a simplicidade do quadro do nascimento – a manjed
oira, a falta de lugar na hospedaria, os panos que envolvem a criança, as testemunhas do acontecimento (os pastores): é na pobreza, na simplicidade, na fragilidade que Deus vem ao encontro dos homens para lhes propor um projecto de salvação e de felicidade. Não é um projecto imposto do alto de um trono, pela força de um ceptro ou pelo poder das armas, do dinheiro ou da comunicação social; mas é uma proposta que chega ao coração dos homens através da simplicidade, da fraqueza e da ternura de um “menino”. É assim que Deus entra na nossa história; é assim a lógica de Deus.
Finalmente, detenhamo-nos nas “testemunhas” do nascimento: os pastores. Trata-se de gente considerada violenta e marginal, que invadia com os rebanhos as propriedades alheias e que tinha fama de se apropriar da lã, do leite e das crias dos rebanhos. Os pastores eram, com frequência, colocados ao lado dos publicanos e dos cobradores de impostos, todos incapazes de reconhecer a quem tinham prejudicado e, portanto, incapazes de oferecer uma reparação. Lucas coloca, precisamente, estes marginais como as “testemunhas” que acolhem a chegada de Jesus ao mundo. É para estes pecadores e marginalizados que a chegada de Jesus é uma “boa notícia”, recebida com alegria: chegou a salvação/libertação; a partir de agora os pobres, os débeis, os marginalizados e os pecadores são convidados a integrar essa comunidade dos filhos amados de Deus. Sugere-se que Deus não os rejeita nem marginaliza, mas quer apresentar-lhes uma proposta de salvação que os leve a integrar a comunidade da Nova Aliança, a comunidade do Reino.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão deste texto pode seguir as seguintes indicações:
¨ O menino de Belém leva-nos a contemplar o incrível amor de um Deus que Se preocupa com a vida e a felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao encontro dos homens para lhes apresentar um projecto da salvação/libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a radicalidade do seu amor por nós.
¨ O presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica dos homens: a salvação de Deus não se manifesta na força das armas, na autoridade prepotente, nos gabinetes ministeriais, nos conselhos das empresas, nos salões onde se concentram as estrelas do “jet-set”, mas numa gruta de pastores onde brilha a fragilidade, a ternura, a simplicidade, a dependência de um bebé recém-nascido. Qual é a lógica com que abordamos o mundo – a lógica de Deus ou a lógica dos homens?
¨ A presença libertadora de Jesus neste mundo é uma “boa notícia” que devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados, e dizer-lhes que Deus veio ao seu encontro para lhes propor a salvação/libertação. É essa a proposta que nós, os seguidores de Jesus, passamos ao mundo? Nós, Igreja, não estaremos demasiado ocupados a discutir questões laterais (poderiam abundar exemplos…), esquecendo o essencial (o anúncio libertador aos pobres)?
¨ Jesus – o Jesus da justiça, do amor, da fraternidade e da paz – já nasceu de forma efectiva na vida de cada um de nós, nas nossas famílias, nas nossas comunidades cristãs, nas nossas casas religiosas?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.orgTempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 DezembroTempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro
24 Dezembro 2021Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro
Lectio
Primeira leitura: 2 Samuel 7, 1-5. 8b-12. 14a. 16
1 *Quando o rei se instalou em sua casa, e o SENHOR lhe deu paz, livrando-o dos seus inimigos, 2disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a arca de Deus está abrigada numa tenda?» 3Natan respondeu¬lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o SENHOR está contigo!» 4Mas, naquela mesma noite, o SENHOR falou a Natan, dizendo-lhe: 5*«Vai dizer ao meu servo David: Diz o SENHOR: "És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar?
8*Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. 10*Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o instalarei, e ali habitará, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o oprimirão, como outrora, 11 *no tempo em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. Além disso, o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. 12*Quando chegar o fim dos teus dias, e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino.
14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho.
16*A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre".»
Natan exerce a sua missão profética num período em que o reino de Judá goza de paz e de notável prosperidade. David vive num palácio luxuoso e pretende construir uma «casa» para Deus, uma casa onde acolher a Arca da Aliança. O profeta opõe-se a esse projecto, porque Deus tem um plano bem maior para David e para a sua descendência. O próprio Deus dará a David, não uma casa de pedra, mas uma casa estável e duradoura, uma estirpe real: «o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti .. A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre» (w. 11.16).
O Senhor recorda a David quanto fez por ele e promete à sua dinastia uma duração perene: chamou-o do meio dos rebanhos de Isaí para fazer dele pastor de Israel (cf. 1 Sam 16, 11-13); fê-lo vitorioso sobre os inimigos e estará sempre com ele; a sua glória, e a da sua descendência, serão grandes porque terá uma progenitura divina; o rei e o povo serão abençoados pelo senhor e terão uma «casa» estável e tranquila, uma dinastia que durará séculos.
A mensagem é clara: a salvação não vem de um templo construído com pedras ou por mãos humanas, mas da aliança com Deus, a Quem tudo pertence, o homem e a história.
Evangelho: Lucas 1, 67-79
Naquele tempo, 67*Zacarias,pai de João Baptista, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou com estas palavras: 68*«Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo 69*e nos deu um Salvador poderoso na casa de David, seu servo, 70conforme prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos; 71 para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam, 72*para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança; 73*e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: 74de o servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, 75em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. 76*E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, 77para dar a conhecer ao seu povo a salvação pela remissão dos seus pecados, 78*graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, 79*para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.»
o cântico de Zacarias exalta a realização das promessas feitas por Deus.
Zacarias, sacerdote da Antiga Lei, mas cheio de Espírito Santo, entoa um cântico cheio de reminiscências bíblicas. Bendiz o Senhor por ter visitado o seu povo, por ter inaugurado a Nova Aliança, que terá João como precursor e que satisfaz séculos de expectativas.
O cântico divide-se em duas partes: a primeira sintetiza a história da salvação, evidenciando a misericórdia de Deus para com os pais e a sua perene fidelidade à Aliança, que se realizará plenamente no Messias (vv. 68-75); a segunda refere-se à figura do Baptista, «profeta do Altíssimo» (v. 76), destinado a preparar o caminho ao Senhor com a pregação da redenção e da salvação universal, que se actuará na pessoa de Jesus, por meio do perdão dos pecados, fruto da sua imensa bondade.
O cântico exalta a Cristo, sol da ressurreição, gerado antes da aurora, que ilumina todos os que estão nas trevas e nas sombras da morte. Ele é a paz destinada aos que sabem dar louvor e glória a Deus. Ele, Verbo do Pai, é a luz e a vida dos homens.
Meditatio
Estamos na vigília do Natal. A Igreja lê e medita as profecias rnessrarucas, dando graças e louvando a Deus pela iminente chegada do Salvador. O dom que estamos para receber do Pai foi preparado com grande amor, durante muito tempo.
Há que viver intensamente esta vigília, não nos deixando dispersar por coisas certamente interessantes, mas secundárias. A vinda histórica do Messias confirma que Deus escolheu a sua «casa» no meio de nós, no corpo de Jesus, seu Filho (cf. Jo 1, 14). Agora vive com o seu povo, não de modo passageiro, mas de modo estável (cf. Apoc 7, 15; 12,2; 13,6; 21, 3). Se, no Antigo Testamento, o seu lugar ideal era o templo e a tenda (cf. Ex 25, 8; 40, 35; Ez 37,27), agora a sua presença concretiza-se na própria vida do homem e na carne visível de Jesus, que a comunidade do primeiros discípulos tocou e contemplou na fé (cf. 1 Jo 1, 1-4).
Cristo é a revelação e a luz do Pai, mas de modo escondido e humilde; algo de interior que, apenas os homens de fé, como os profetas, os santos e Maria, podem compreender. A sua glória há-de manifestar com poder apenas quando, elevado na cruz, atrair a Si todos os homens (cf. Jo 12, 32). Isto pode parecer um paradoxo, mas tudo se torna luminoso se pensarmos que «Deus é emor» (1 Jo 4, 10) e a sua maior manifestação acontece quando se revela o maior amor.
Jesus é para nós o centro da história, a nossa morada e a plenitude de todas as nossas mais profundas aspirações. Com Maria, e com a sua intercessão, abramos o coração ao Dom que Deus nos quer dar esta noite.
O dom do Pai, no Natal, perpetua-se na Eucaristia, sacramento da presença de Cristo no meio de nós, sob as espécies simples do pão e do vinho, e por meio das pala
vras, ainda mais simples: "Isto é o Meu corpo ... Isto é o Meu sangue ... " (cf. Mt 26, 26.28). A Eucaristia, para além de actualizar no tempo a Última Ceia e o Sacrifício da cruz, perpetua a Incarnação, de que é substancial continuidade e expansão sacramental. A Eucaristia torna presente na terra, insere na história do mundo e na nossa vida o Cristo glorioso e sempre em estado de vítima. O sacerdócio de Cristo é eterno: "Um sacerdócio eterno" (Heb 7, 24).Oratio
Senhor, nosso Deus, Tu és verdadeiramente amor, amor gratuito, amor oblativo. Manifestas esse amor a David e ao povo de Israel. É um amor forte, um amor preocupado, não em receber, mas em dar. David, pobre e fraco, tornou-se um rei rico e poderoso, bem instalado no seu palácio. Quis retribuir-te com o presente de uma «casa» para habitares, um templo sumptuoso que substituísse a tenda que acolhia a Arca da Aliança. Não aceitaste, porque és um Deus-Amor, um Deus que não previu receber, mas apenas dar. Por isso, prometeste a David um dom ainda maior, uma casa estável e duradoura, uma estirpe real, um filho que será simultaneamente «Filho do Altíssimo», Jesus Cristo, Senhor.
Tudo isso acontece em Maria, no mistério da Incarnação. Dá-nos a graça de descobrirmos, cada vez mais, esse inefável mistério para o contemplarmos e adorarmos, como o contemplou e adorou Maria, quando gerou Cristo no seu seio e O deu à luz no presépio de Belém. Amen.
Contemplatio
A presença eucarística de Nosso Senhor é uma extensão da Incarnação
Não se encontrando mais sobre esta terra a humanidade santa, a fonte da graça parece esgotada, ou transportada para uma distância incomensurável de nós. Porque, saibamo-lo bem, toda a graça é o produto do Sagrado Coração de Jesus, brota d' Ele como o sangue material; identifica-se com o seu sangue e o seu amor. Mas, se este Coração se afastava de nós, mesmo que nos deixasse os outros sacramentos, que solidão nos seria feita aqui em baixo! Que isolamento! Que vazio! O nosso terno irmão, o nosso amigo já não estaria lá connosco! O seu Coração de homem já não escutaria de perto os nossos suspiros e as nossas lágrimas! Em que nos tornaríamos?
Mas o seu terno Coração soube tudo arranjar, e a fim de permanecer sempre connosco, inventou o sacramento do amor. Não vemos Jesus, mas Ele está lá; só as fracas aparências eucarísticas nos separam d'Ele, e temos a fé para as penetrar, e temos um coração que voa para o Coração de Jesus, tornado mais do que nunca o Coração do nosso irmão e do nosso amigo. É assim que o Coração de Jesus cumpre a sua promessa: «Não vos deixarei órfãos». É assim que a Eucaristia continua o mistério da Incarnação e multiplica por toda a parte Belém e Nazaré. A Eucaristia torna mesmo Nosso Senhor mais perto de nós do que o mistério da Incarnação, e quando reflectimos bem nisto vemos que Ele não se afastou do homem pela Ascensão senão para estar mais perto dele pela Eucaristia, porque as condições da vida mortal não permitiam ao Salvador tornar-se presente em todos os pontos do espaço, em todo o coração que o amasse e que desejasse a sua visita, mas a sua vida gloriosa permite¬lhe a omnipresença do amor; o seu Coração está em toda a parte, encontramo-lo em todos os santuários, e se a nossa ligeireza e a nossa indiferença não impedissem as efusões deste amor insaciável no dom de si mesmo, ser-nos-ia permitido como aos primeiros crentes de o guardar nas nossas casas e de o levar sempre no nosso coração. Tal teria sido a condescendência deste Coração generoso, se a Igreja não tivesse tomado, de algum modo contra Ele mesmo, o cuidado do respeito que Lhe é devido.
Mas se este privilégio não nos é concedido, nós podemos sem grande fadiga, e quando queremos, a toda a hora do dia e da noite, aproximar-nos do Coração eucarístico, falar-lhe, abrir-lhe todo o nosso coração, atraí-lo a nós e fazer d'Ele tudo o que quisermos. Porque, na santa Eucaristia, o seu Coração tornou-se dependente de nós, mais ainda do que não o era em Belém e em Nazaré. É certamente fácil pegar numa criança, abraçá-Ia e acariciá-Ia, mas é ainda bem mais fácil pegar num bocadinho de pão, colocá-lo onde se quiser. E quando se pensa que sob esta débil aparência o Coração de Jesus mesmo está lá; quando se pensa neste amor que quis até este ponto tornar-se dependente de nós, como não chorar, como fazia o santo Cura de Ars exclamando: «Faço d' Ele o que quero, coloco-o onde quero!» Porque o privilégio de dispor da humanidade santa tornou-se um dos mais preciosos privilégios que possam ter as mãos sacerdotais. Mas é meditando na vida eucarística escondida que nos será dado aprofundar este prodígio de amor. Para hoje, basta-nos verificar este primeiro ponto.
Pela santa Eucaristia, a Incarnação multiplica-se sobre todos os pontos da terra habitável; em toda a parte aonde nos é dado dirigir os nossos passos, encontramos o Coração do nosso irmão e do nosso amigo, sempre pronto a nos receber, sempre pronto a nos consolar, sempre pronto a nos cumular de graças, a nos iluminar, a nos levantar e a nos perdoar. Assim, nesta Incarnação nova, é sobretudo o Coração de Jesus que está presente; Ele esconde todo o resto, a sua divindade, a sua humanidade, a fim de melhor deixar ver o seu Coração; e se os olhos do corpo não podem ver, como o vêem os olhos do coração e como sabem penetrar os véus que o envolvem! Ah! Porque não nos é dado multiplicar também o nosso coração para o dar a este Coração que se multiplica por nós! Pelo menos, arranquemos os nossos pensamentos, as nossas afeições ao mundo, a nós mesmos, para os dar todos ao único Coração que nos ama, e se não podemos superá-lo nem mesmo igualá-lo em amor, ao menos que todo o nosso amor lhe pertença, todo, absolutamente todo; e ainda, depois disto, digamos que não somos senão servos inúteis (Pe. Dehon, OSP 2, p.419).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo». (Lc 1, 68). -
Missa do dia do Natal do Senhor – Ano C
Missa do dia do Natal do Senhor – Ano C
25 Dezembro 2021ANO C
NATAL DO SENHOR – MISSA DO DIATema da “missa do dia” do Natal do Senhor
O tema desta Eucaristia pode girar à volta da expressão “a Palavra fez-se carne e habitou entre nós”.
A primeira leitura anuncia a chegada de Deus ao meio do seu Povo. Ele é o rei que traz a paz e a salvação, proporcionando ao Povo de Deus uma era de felicidade sem fim. O profeta convida, pois, a substituir a tristeza pela alegria e pelos gritos de vitória.
A segunda leitura apresenta, em traços largos, o plano salvador de Deus. Insiste, sobretudo, que esse projecto alcança o seu ponto mais alto com o envio de Jesus, a “Palavra” de Deus que os homens devem escutar e acolher.
O Evangelho desenvolve o tema esboçado na segunda leitura e apresenta a “Palavra” viva de Deus, tornada pessoa em Jesus. Sugere que a missão do Filho/“Palavra” é completar a criação primeira, eliminando tudo aquilo que se opõe à vida e criando condições para que nasça o homem novo, o homem da vida em plenitude, o homem que vive uma relação filial com Deus.LEITURA I – Is 52,7-10
Leitura do Livro de Isaías
Como são belos sobre os montes
os pés do mensageiro que anuncia a paz,
que traz a boa nova, que proclama a salvação
e diz a Sião: «o teu Deus é Rei».
Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz.
Todas juntas soltam brados de alegria,
porque vêem com os próprios olhos
o Senhor que volta para Sião.
Rompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém,
porque o Senhor consola o seu povo,
resgata Jerusalém.
O Senhor descobre o seu santo braço à vista de todas as nações,
e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.AMBIENTE
O Deutero-Isaías, autor deste texto, é um profeta que exerce a sua missão entre os exilados da Babilónia, procurando consolar e manter acesa a esperança no meio de um povo desiludido e decepcionado, porque a libertação tarda. Os capítulos que recolhem a sua mensagem (Is 40-55) chamam-se, por isso, “Livro da Consolação”.
Este texto está integrado na segunda parte do “Livro da Consolação” (Is 49-55). Aí, o profeta (que na primeira parte – Is 40-48 – havia, sobretudo, anunciado a libertação do cativeiro e um “novo êxodo” do Povo de Deus, rumo à Terra Prometida) fala da reconstrução e da restauração de Jerusalém. O profeta garante que Deus não Se esqueceu da sua cidade em ruínas e vai voltar a fazer dela uma cidade bela e cheia de vida, como uma noiva em dia de casamento. É neste quadro que podemos situar a primeira leitura de hoje.MENSAGEM
À cidade em ruínas, chega o mensageiro que traz a “boa notícia” da paz (“shalom”: paz, bem-estar, harmonia, felicidade). Ele anuncia a “salvação” e proclama o reinado de Deus sobre o seu Povo e a sua cidade. Terminou, portanto, o sofrimento e a opressão. “Salvação” e “reinado de Deus” estão em paralelo: a “salvação” chega porque Deus se assume como Rei. Ele não reinará à maneira dos reis que conduziram o Povo por caminhos de morte e de desgraça; mas exercerá a realeza de forma a proporcionar a “salvação”, isto é, inaugurando uma era de paz, de bem-estar e de felicidade sem fim.
O poeta põe as sentinelas da cidade a olhar todas nessa direcção por onde deverá chegar o Senhor. O grito das sentinelas não é de alarme, mas é de alegria contagiante: eles vêem o próprio Senhor regressar ao encontro da sua cidade. Com Deus, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, cheia de alegria e de festa. O poeta convida as próprias pedras da cidade em ruínas a cantar em coro, porque a redenção chegou. E essa salvação será testemunhada por toda a terra, como se o mundo estivesse de olhos postos na acção vitoriosa de Deus em favor do seu Povo.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão deste texto profético poderá fazer-se a partir dos seguintes elementos:
¨ A alegria pela libertação do cativeiro da Babilónia e pela “salvação” que Deus oferece ao seu Povo e à sua cidade anuncia essa outra libertação, plena e total, que Deus vai oferecer ao seu Povo através de Jesus. O nascimento de Jesus – o Deus que veio ao encontro do seu Povo e da sua cidade com uma proposta de salvação – diz-nos que a opressão terminou e que o “reinado de Deus” alcançou a nossa história.
¨ A alegria contagiante das sentinelas e os brados de contentamento das próprias pedras da cidade convidam-nos a acolher na alegria o Deus que veio visitar-nos: com a sua presença no meio de nós, começa a concretizar-se essa libertação plena prometida por Deus. É essa alegria que nos anima?
¨ As sentinelas atentas que, nas montanhas em redor de Jerusalém, identificam a chegada do Deus libertador são um modelo para nós: convidam-nos a ler, atentamente, os sinais e a anunciar ao mundo a chegada de Jesus. Somos sentinelas atentas que descobrem os sinais do Senhor nos caminhos da história e anunciam o seu “reinado”?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)
Refrão: Todos os confins da terra
viram a salvação do nosso Deus.Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.Cantai ao Senhor ao som da cítara,
ao som da cítara e da lira;
ao som da tuba e da trombeta,
aclamai o Senhor, nosso Rei.LEITURA II – Heb 1,1-6
Leitura da Epístola aos Hebreus
Muitas vezes e de muitos modos
falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos Profetas.
Nestes dias, que são os últimos,
falou-nos por seu Filho,
a quem fez herdeiro de todas as coisas
e pelo qual também criou o universo.
Sendo o Filho esplendor da sua glória
e imagem da sua substância,
tudo sustenta com a sua palavra poderosa.
Depois de ter realizado a purificação dos pecados,
sentou-Se à direita da Majestade no alto dos Céus
e ficou tanto acima dos Anjos
quanto mais sublime que o deles
é o nome que recebeu em herança.
A qual dos Anjos, com efeito, disse Deus alguma vez:
«Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei?»
E ainda:
«Eu serei para Ele um Pai,
e Ele será para Mim um Filho»?
E de novo,
quando introduziu no mundo o seu Primogénito, disse:
«Adorem-
n’O todos os Anjos de Deus».AMBIENTE
A “Carta aos Hebreus” é um sermão, mais do que uma carta, onde um autor anónimo procura voltar a despertar a fé da comunidade crente, afectada pela falta de entusiasmo, pelas dificuldades e pelas doutrinas heréticas. Destinado a uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos do judaísmo, utiliza a linguagem litúrgica judaica para apresentar Jesus: Ele é, fundamentalmente, o “sumo-sacerdote” da Nova Aliança, Aquele que veio ao mundo para realizar a comunhão definitiva entre Deus e os homens.
O texto que nos é proposto como primeira leitura pertence ao prólogo do sermão. Nesse prólogo, o pregador apresenta-nos uma visão global, uma orientação e as coordenadas fundamentais que vai desenvolver ao longo do sermão.MENSAGEM
A segunda leitura resume a história da salvação. Deus é o sujeito, o primeiro protagonista de tudo. Esse Deus, que criou e deu forma a tudo o que existe, tem um projecto de salvação para o homem; por isso, falou em palavras humanas, rompeu as distâncias, aproximou-Se do homem. Numa primeira fase, Ele falou através dos seus porta-vozes – os profetas – apresentando aos homens a sua proposta de salvação; mas, no nosso tempo, falou-nos através do seu próprio Filho, fazendo d’Ele a Palavra plena, definitiva, perfeita, que nos diz o caminho da salvação.
O Filho identifica-Se plenamente com o Pai e, como o Pai, tem um senhorio pleno sobre toda a realidade. Ele é superior aos anjos, pois é esplendor da glória do Pai, imagem do ser do Pai, a reprodução exacta e viva da substância do Pai. Os homens devem, portanto, estar atentos ao Filho/Palavra, pois Ele transmite de forma perfeita a proposta salvadora que o Pai quer fazer aos homens.ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão e actualização da Palavra, convém ter em conta os seguintes elementos:
¨ Celebrar o nascimento de Jesus é, em primeiro lugar, contemplar o amor de um Deus que rompeu as distâncias e veio ao encontro do homem, apesar da infidelidade e das recusas do homem. No dia de Natal, nunca será demais insistir nisto: o Deus em quem acreditamos é o Deus do amor e da relação, que continua a nascer no mundo, a apostar no homem, a querer dialogar com ele, a encontrar-Se com ele, e que não desiste de um projecto de felicidade para o homem que criou.
¨ Jesus Cristo é a Palavra viva e definitiva de Deus, que revela aos homens o caminho da salvação. Celebrar o seu nascimento é acolher essa Palavra. “Escutar” essa Palavra é acolher o projecto que Jesus veio apresentar-nos e fazer dela a nossa referência, o critério fundamental que orienta as nossas opções. A Palavra viva de Deus (Jesus) é, de facto, a nossa referência e orienta as nossas opções? Os valores do Evangelho são os nossos valores? É preciso escutar essa Palavra viva e ver nela a Palavra perfeita, plena e definitiva com que Deus nos diz que caminho percorrer.
ALELUIA
Aleluia. Aleluia.
Santo é o dia que nos trouxe a luz.
Vinde adorar o Senhor.
Hoje, uma grande luz desceu sobre a terra.EVANGELHO – Jo 1,1-18
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
No princípio era o Verbo
e o Verbo estava com Deus
e o Verbo era Deus.
No princípio, Ele estava com Deus.
Tudo se fez por meio d’Ele
e sem Ele nada foi feito.
N’Ele estava a vida
e a vida era a luz dos homens.
A luz brilha nas trevas
e as trevas não a receberam.
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João.
Veio como testemunha,
para dar testemunho da luz,
a fim de que todos acreditassem por meio dele.
Ele não era a luz,
mas veio para dar testemunho da luz.
O Verbo era a luz verdadeira,
que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem.
Estava no mundo,
e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu.
Veio para o que era seu
e os seus não O receberam.
Mas, àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram do sangue,
nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,
mas de Deus.
E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós.
Nós vimos a sua glória,
glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito,
cheio de graça e de verdade.
João dá testemunho d’Ele, exclamando:
«É deste que eu dizia:
‘O que vem depois de mim passou à minha frente,
porque existia antes de mim’».
Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos
graça sobre graça.
Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés,
a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.
A Deus, nunca ninguém O viu.
O Filho Unigénito, que está no seio do Pai,
é que O deu a conhecer.AMBIENTE
A Igreja primitiva recorreu, frequentemente, a hinos para celebrar, expressar e anunciar a sua fé. O prólogo ao Evangelho de João que hoje nos é proposto é um bom exemplo disso mesmo. Não é certo se este hino foi composto por João, ou se o autor do Quarto Evangelho usou um primitivo hino cristão conhecido da comunidade joânica, adaptando-o de forma a que ele servisse de prólogo a esse texto tão peculiar que é o Evangelho segundo João. O que é certo é que o hino cristológico que chegou até nós expressa, em forma de confissão, a fé da comunidade joânica em Cristo enquanto Palavra, a sua origem eterna, a sua procedência divina, a sua influência no mundo e na história, possibilitando a quantos O aceitam ser “filhos de Deus”. Essas grandes linhas aqui enunciadas vão ser desenvolvidas depois pelo evangelista ao longo da sua obra.
MENSAGEM
Ao usar a expressão “no princípio”, João enlaça o seu Evangelho com o relato da criação (cf. Gn 1,1), oferecendo-nos assim, desde logo, uma chave de interpretação para o seu escrito. Aquilo que ele vai narrar sobre Jesus está em relação com a obra criadora de Deus: em Jesus vai acontecer a definitiva intervenção criadora de Deus no sentido de dar vida ao homem e ao mundo… A actividade de Jesus, enviado do Pai, consiste em fazer nascer um homem novo; a sua acção coroa a obra criadora iniciada por Deus “no princípio”.
João começa por apresentar a “Palavra” (“Lógos”). A “Palavra” é – de acordo com o autor do Quarto Evangelho – uma realidade anterior ao céu e à terra, implicada já na primeira criação. Esta “Palavra” apresenta-se, assim, com as características que o Livro dos Provérbios atribuía à “sabedoria”: pré-existência (cf. Prov 8,22-24) e colaboração com Deus na obra da criação (cf. Prov 8,24-30). No entanto, essa “Palavra” não só estava junto de Deus e colaborava com Deus, mas “era Deus”. Identifica-se totalmente com Deus,
com o ser de Deus, com a obra criadora de Deus. É como que o projecto íntimo de Deus, que se expressa e se comunica como “Palavra”. Deus faz-Se inteligível através da “Palavra”. Essa “Palavra” é geradora de vida para o homem e para o mundo, concretizando o projecto de Deus.
A “Palavra” veio ao encontro dos homens, fez-Se “carne” (pessoa). João identifica claramente a “Palavra” com Jesus, o “Filho único, cheio de amor e de verdade”, que veio ao encontro do homem. Nessa pessoa (Jesus), “cheio de amor e de verdade”, podemos contemplar o projecto ideal de homem, o homem que nos é proposto como modelo por Deus, a meta final da criação de Deus.
Essa “Palavra” “montou a sua tenda no meio de nós”. O verbo “skênéô” (“montar a tenda”), aqui utilizado, alude à “tenda do encontro” que, na caminhada pelo deserto, os israelitas montavam no meio ou ao lado do acampamento e que era o local onde Deus residia no meio do seu Povo (cf. Ex 27,21; 28,43; 29,4…). Agora, a “tenda de Deus”, o lugar onde Ele habita no meio dos homens, é o homem/Jesus. Quem quiser encontrar Deus e receber d’Ele vida em plenitude (salvação), é para Jesus que se tem de voltar.
A função dessa “Palavra” está ligada ao binómio vida/luz: comunicar ao homem vida em plenitude; ou, por outras palavras, trata-se de acender a luz que ilumina o caminho do homem, possibilitando-lhe encontrar a vida verdadeira, a vida plena, livre, total.
Jesus Cristo vai, no entanto, deparar-Se com a oposição à vida/luz que Ele traz. Ao longo do Evangelho, João irá contando essa história do confronto da vida/luz com o sistema injusto e opressor que pretende manter os homens prisioneiros do egoísmo e do pecado (e que João identifica com a Lei. Os dirigentes judeus que enfrentam Jesus são o rosto visível dessa Lei). Recusar a vida/luz significa preferir continuar a caminhar nas trevas (na mentira, na escravidão), independentemente de Deus; significa recusar chegar a ser homem pleno, criação acabada.
Mas o acolhimento da “Palavra” implica a participação na vida de Deus. João diz mesmo que acolher a “Palavra” significa tornar-se “filho de Deus”. Começa, para quem acolhe a “Palavra”/Jesus, uma nova relação entre o homem e Deus, aqui expressa em termos de filiação: Deus dá vida em plenitude ao homem, oferecendo-lhe, assim, uma qualidade de vida que potencia o seu ser e lhe permite crescer até à dimensão do homem novo, do homem acabado e perfeito. Isto é uma “nova criação”, um novo nascimento, que não provém da carne e do sangue, mas de Deus.
A incarnação de Jesus significa, portanto, a oferta que Deus faz à humanidade da vida em plenitude. Sempre existiu no homem o anseio da vida plena, conforme o projecto original de Deus; mas, na realidade, esse anseio fica muitas vezes frustrado pelo domínio que o egoísmo, a injustiça, a mentira e a opressão (o pecado) exercem sobre o homem. Toda a obra de Jesus consistirá em capacitar o homem para a vida nova, a vida plena, a fim de que ele possa realizar em si mesmo o projecto de Deus – a semelhança com o Pai.ACTUALIZAÇÃO
Perspectivas para a reflexão e actualização do texto:
¨ A transformação da “Palavra” em “carne” (em menino do presépio de Belém) é a espantosa aventura de um Deus que ama e que, por amor, aceita revestir-Se da nossa fragilidade para nos dar vida em plenitude. Neste dia, somos convidados a contemplar, numa atitude de serena adoração, esse incrível passo de Deus, expressão extrema de um amor sem limites.
¨ Acolher a “Palavra” é deixar que Jesus nos transforme, nos dê a vida plena, a fim de nos tornarmos verdadeiramente “filhos de Deus”. O presépio que hoje contemplamos é, apenas, um quadro bonito e terno, ou uma interpelação a acolher a “Palavra”, de forma a crescermos até à dimensão do homem novo?
¨ Hoje, como ontem, a “Palavra” continua a confrontar-se com os sistemas geradores de morte e a procurar eliminar na origem tudo o que rouba a vida plena e a felicidade do homem. Sensíveis à “Palavra”, embarcados na mesma aventura de Jesus – a “Palavra” viva de Deus – como nos situamos diante de tudo aquilo que rouba a vida ao homem? Podemos pactuar com a mentira, o oportunismo, a corrupção, a violência, a exploração dos pobres, a miséria, as limitações aos direitos do homem, a destruição da dignidade dos mais fracos?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org -
Festa da Sagrada Família – Ano C
Festa da Sagrada Família – Ano C
26 Dezembro 2021ANO C
Domingo dentro da Oitava do Natal
FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉTema da Festa da Sagrada Família
As leituras deste domingo complementam-se ao apresentar as duas coordenadas fundamentais a partir das quais se deve construir a família cristã: o amor a Deus e o amor aos outros, sobretudo a esses que estão mais perto de nós – os pais e demais familiares.
O Evangelho sublinha, sobretudo, a dimensão do amor a Deus: o projecto de Deus tem de ser a prioridade de qualquer cristão, a exigência fundamental, a que todas as outras se devem submeter. A família cristã constrói-se no respeito absoluto pelo projecto que Deus tem para cada pessoa.
A segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos de todos os que vivem “em Cristo” e aceitaram ser Homem Novo. Esse amor deve atingir, de forma mais especial, todos os que connosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
A primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais. É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.LEITURA I – Sir 3,3-7.14-17a (gr. 2-6.12-14)
Leitura do Livro de Ben-Sirá
Deus quis honrar os pais nos filhos
e firmou sobre eles a autoridade da mãe.
Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados
e acumula um tesouro quem honra sua mãe.
Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos
e será atendido na sua oração.
Quem honra seu pai terá longa vida,
e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe.
Filho, ampara a velhice do teu pai
e não o desgostes durante a sua vida.
Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele
e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida,
porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida
e converter-se-á em desconto dos teus pecados.AMBIENTE
O livro de Ben-Sira (também chamado “Eclesiástico”), de onde foi extraída a primeira leitura deste domingo, é um livro sapiencial e que, como todos os livros sapienciais, pretende apresentar uma reflexão de carácter prático sobre a arte de bem viver e de ser feliz. Estamos no início do séc. II a.C., numa época em que o helenismo tinha começado o seu trabalho pernicioso, no sentido de minar a cultura e os valores tradicionais de Israel. Jesus Ben-Sira, o autor deste livro, avisa os israelitas para não deixarem perder a identidade cultural e religiosa do seu Povo. Procura, então, apresentar uma síntese da religião tradicional e da sabedoria de Israel, sublinhando a grandeza dos valores judaicos e demonstrando que a cultura judaica não fica a dever nada à brilhante cultura grega.
MENSAGEM
O texto apresenta uma série de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas relações com os pais.
Uma palavra sobressai: o verbo “honrar”. Ele leva-nos ao decálogo do Sinai (cf. Ex 20,12), onde aparece no sentido de “dar glória”. “Dar glória” a uma pessoa é dar-lhe toda a sua importância; “dar glória aos pais” é, assim, reconhecer a sua importância como instrumentos de Deus, fonte de vida.
Ora, reconhecer que os pais são a fonte, através da qual Deus nos dá a vida, deve conduzir à gratidão; e essa gratidão tem consequências a nível prático. Implica ampará-los na sua velhice e não os desprezar nem abandonar; implica assisti-los materialmente – sem inventar qualquer desculpa – quando já não podem trabalhar (cf. Mc 7,10-11); implica não fazer nada que os desgoste; implica escutá-los, ter em conta as suas orientações e conselhos; implica ser indulgente para com as limitações que a idade traz.
Dado o contexto da época em que Ben-Sira escreve, é natural que, por detrás destas indicações aos filhos, esteja também a preocupação com o manter bem vivos os valores tradicionais, esses valores que os mais antigos preservam e que passam aos jovens.
Como recompensa desta atitude de “honrar” os pais, Jesus Ben-Sira promete o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e actualização do texto podem fazer-se à volta dos seguintes dados:
¨ Sentimo-nos gratos aos nossos pais porque eles aceitaram ser, em nosso favor, instrumentos de Deus criador? Lembramo-nos de lhes demonstrar essa gratidão?
¨ Apesar da preocupação moderna com os direitos humanos e o respeito pela dignidade das pessoas, a nossa civilização cria, com frequência, situações de abandono e de marginalização, cujas vítimas são, muitas vezes, aqueles que já não têm uma vida considerada produtiva, ou aqueles a quem a idade ou a doença trouxeram limitações. Que motivos justificam o desprezo e abandono daqueles a quem devemos “honrar”?
¨ É verdade que a vida de hoje é muito exigente a nível profissional e que nem sempre é possível a um filho estar presente ao lado de um pai que precisa de cuidados ou de acompanhamento especializado. No entanto, a situação é muito menos compreensível se o afastamento de um pai do convívio familiar resulta do egoísmo do filho, que não está para “aturar o velho”…
¨ O capital de maturidade e de sabedoria de vida que os mais idosos possuem é considerado por nós uma riqueza ou um estorvo à nossa modernidade?
¨ Face à invasão contínua de valores estranhos que, tantas vezes, põem em causa a nossa identidade cultural e religiosa, o que significam os valores que recebemos dos nossos “pais”? Avaliamos com maturidade a perenidade desses valores?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127 (128)
Refrão 1: Felizes os que esperam no Senhor
e seguem os seus caminhos.Refrão 2: Ditosos os que temem o Senhor,
ditosos os que seguem os ses caminhos.Feliz de ti, que temes o Senhor
e andas nos ses caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.Tua esposa será como videira fecunda
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira
ao redor da tua mesa.Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida.LEITURA II – Col 3,12-21
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos:
Como eleitos de Deus, santos e predilectos,
revesti-vos de sentimentos de misericórdia,
de bondade, humildade, mansidão e paciência.
Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente,
se algum tiver razão de queixa contra outro.
Tal como o Senhor vos perdoou,
assim deveis fazer vós também.
Acima de t
udo, revesti-vos da caridade,
que é o vínculo da perfeição.
Reine em vossos corações a paz de Cristo,
à qual fostes chamados para formar um só corpo.
E vivei em acção de graças.
Habite em vós com abundância a palavra de Cristo,
para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros
com toda a sabedoria;
e com salmos, hinos e cânticos inspirados,
cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão.
E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras,
seja tudo em nome do Senhor Jesus,
dando graças, por Ele, a Deus Pai.
Esposas, sede submissas aos vossos maridos,
como convém no Senhor.
Maridos, amai as vossas esposas
e não as trateis com aspereza.
Filhos, obedece em tudo a vossos pais,
porque isto agrada ao Senhor.
Pais, não exaspereis os vossos filhos,
para que não caiam em desânimo.AMBIENTE
Paulo estava na prisão (possivelmente em Roma, anos 61/63) quando escreveu aos colossenses. Algum tempo antes, Paulo havia recebido notícias pouco animadoras sobre a comunidade de Colossos. Essas notícias falavam da perigosa tendência de alguns doutores locais, que ensinavam doutrinas erróneas e afastavam os colossenses da verdade do Evangelho. Essas doutrinas misturavam práticas legalistas, práticas ascéticas, especulações sobre os anjos e achavam que toda esta mistura confusa de elementos devia completar a fé em Cristo e comunicar aos crentes um conhecimento superior dos mistérios cristãos e uma vida religiosa mais autêntica.
Sem refutar essas doutrinas de modo directo, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo e assinala o seu lugar proeminente na criação e na redenção dos homens.
O texto da segunda leitura pertence à segunda parte da carta. Depois de constatar a supremacia de Cristo na criação e na redenção (primeira parte), Paulo avisa os colossenses de que a união com Cristo traz consequências a nível de vivência prática (segunda parte): implica a renúncia ao “homem velho” do egoísmo e do pecado, e o “revestir-se do homem novo”.MENSAGEM
Em termos mais concretos, viver como “homem novo” implica cultivar um conjunto de virtudes que resultam da união do cristão com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, paciência, mansidão. Lugar especial ocupa o perdão das ofensas do próximo, a exemplo do que Cristo sempre fez. Estas virtudes são exigências e manifestações da caridade, que é o mais fundamental dos mandamentos cristãos.
Catálogos de virtudes como este apareciam também na ética dos gregos; o que é novo aqui é a fundamentação: tais exigências resultam da íntima relação do cristão com Cristo; viver “em Cristo” implica viver, como Ele, no amor total, no serviço, na disponibilidade e no dom da vida.
Uma vez apresentado o ideal da vida cristã nas suas linhas gerais, Paulo aplica o que acabou de dizer à vida familiar. Às mulheres, recomenda o respeito para com os maridos; aos maridos, convida a amar as esposas, evitando o domínio tirânico sobre elas; aos filhos, recomenda a obediência aos pais; aos pais, com intuição pedagógica, pede que não sejam excessivamente severos para com os filhos, pois isso pode impedir o desenvolvimento normal das suas capacidades.
É desta forma que, no espaço familiar, se manifesta o Homem Novo, o homem que vive segundo Cristo.ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, ter em conta os dados seguintes:
¨ Viver “em Cristo” implica fazer do amor a nossa referência fundamental e deixar que ele se manifeste em gestos concretos de bondade, de perdão, de compreensão, de respeito pelo outro, de partilha, de serviço… É este o quadro em que se desenvolvem as nossas relações com aqueles que nos rodeiam?
¨ A nossa primeira responsabilidade vai para com aqueles que connosco partilham, de forma mais chegada, a vida do dia a dia (a nossa família). Esse amor, que deve revestir-nos sempre, traduz-se numa atenção contínua àquele que está ao nosso lado, às suas necessidades e preocupações, às suas alegrias e tristezas? Traduz-se em gestos sentidos e partilhados de carinho e de ternura? Traduz-se num respeito absoluto pela liberdade e pelo espaço do outro, por um deixar o outro crescer sem o sufocar? Traduz-se na vontade de servir o outro, sem nos servirmos do outro?
¨ As mulheres não gostam de ouvir Paulo pedir-lhes a “submissão” aos maridos… No entanto, não devem ser demasiado severas com Paulo: ele é um homem do seu tempo, e não podemos exigir dele a mesma linguagem com que, nos nossos dias, falamos destas coisas. Apesar de tudo, convém lembrar que Paulo não se esquece de pedir aos maridos que amem as mulheres e não as tratem com aspereza: sugere, desta forma, que a mulher tem, em relação ao marido, igual dignidade.
ALELUIA – Col 3,15a.16a
Aleluia. Aleluia.
Reine em vossos corações a paz de Cristo,
habite em vós a sua palavra.EVANGELHO – Lc 2,41-52
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém,
pela festa da Páscoa.
Quando Ele fez doze anos,
subiram até lá, como era costume nessa festa.
Quando eles regressavam, passados os dias festivos,
o Menino Jesus ficou em Jerusalém,
sem que seus pais o soubessem.
Julgando que Ele vinha na caravana,
fizeram um dia de viagem
e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos.
Não O encontrando,
voltaram a Jerusalém, à sua procura.
Passados três dias,
encontraram-n’O no templo,
sentado no meio dos doutores,
a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas.
Todos aqueles que O ouviam
estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas.
Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados;
e sua Mãe disse-Lhe:
«Filho, porque procedeste assim connosco?
Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura».
Jesus respondeu-lhes:
«Porque Me procuráveis?
Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?»
Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse.
Jesus desceu então com eles para Nazaré
e era-lhes submisso.
Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração.
E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça,
diante de Deus e dos homens.AMBIENTE
O Evangelho que nos é proposto é o final do “Evangelho da infância” de Lucas. Ora, já sabemos que a finalidade do “Evangelho da infância” não é fazer uma reportagem sobre os primeiros anos da vida de Jesus, mas sim fazer catequese sobre Jesus; nessa catequese, diz-se quem é Jesus e apresentam-se algumas coordenadas teológicas que vão, depois, ser desenvolvidas no resto do Evangelho.
A “catequese” de hoje situa-nos em Jerusalém. A Lei judaica pedia que os home
ns de Israel fossem três vezes por ano a Jerusalém, por alturas das três grandes festas de peregrinação (Páscoa, Pentecostes e Festa das Cabanas – cf. Ex 23,17-17). Ainda que os rabinos não considerassem obrigatória esta lei até aos treze, muitos pais levavam os filhos antes dessa idade. Jesus tem doze anos e, de acordo com o texto de Lucas, foi com Maria e José a Jerusalém celebrar a Páscoa.
É neste ambiente de Jerusalém e do Templo que Lucas situa as primeiras palavras pronunciadas por Jesus no Evangelho. Elas são, sem dúvida, o centro do nosso relato.MENSAGEM
A chave deste episódio está, portanto, nas palavras pronunciadas por Jesus quando, finalmente, se encontra com Maria e José: “porque me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?”
O significado (a catequese) da resposta à pergunta de Maria é que Deus é o verdadeiro Pai de Jesus. Daqui deduz-se que as exigências de Deus são, para Jesus, a prioridade fundamental, que ultrapassa qualquer outra exigência. A sua missão – a missão que o Pai Lhe confia – vai obrigá-l’O a romper os laços com a própria família (cf. Mc 3,31-35).
É possível que haja ainda, aqui, uma referência à paixão/morte/ressurreição de Jesus: tanto o episódio de hoje, como os factos relativos à morte/ressurreição, são situados num contexto pascal; em ambas as situações Jesus é abandonado – aqui por Maria e José e, mais tarde, pelos discípulos – por pessoas que não compreendem que a sua prioridade é o projecto do Pai; em ambas as situações, Jesus é procurado (cf. Lc 24,5) e tem de explicar que a finalidade da sua vida é cumprir aquilo que o Pai tinha definido (cf. Lc 24,7.25-27.45-46). Lucas apresenta aqui a chave para entender toda a vida de Jesus: Ele veio ao mundo por mandato de Deus Pai e com um projecto de salvação/libertação. Àqueles que se perguntam porque deve o Messias percorrer determinado caminho, Lucas responde: porque é a vontade do Pai. Foi para cumprir a vontade do Pai que Jesus veio ao nosso encontro e entrou na nossa história.
Atente-se, ainda, em duas questões um tanto marginais, mas que podem servir também para a nossa reflexão e edificação: em primeiro lugar, reparemos no entusiasmo que Jesus tem pela Palavra de Deus e pelas questões que ela levanta; em segundo lugar, a “declaração de independência” de Jesus pode ajudar-nos a compreender que a família não é o lugar fechado, onde cada pessoa cresce em horizontes limitados e fechados, mas é o lugar onde nos abrimos ao mundo e aos outros, onde nos armamos para partir à conquista do mundo que nos rodeia.ACTUALIZAÇÃO
A reflexão do Evangelho de hoje deve ter em conta as seguintes questões:
¨ Para Jesus, a prioridade fundamental a que tudo se subjuga (até a família) é o projecto de Deus, o plano que Deus tem para cada pessoa. Se os planos dos pais e os planos de Deus entram em choque, quais devem prevalecer?
¨ Anima-nos o mesmo entusiasmo de Jesus pela Palavra de Deus? Somos capazes de esquecer outros interesses legítimos para nos dedicarmos à escuta, à reflexão e à discussão da Palavra? Vemos nela um meio privilegiado de conhecer o projecto que Deus tem para nós?
¨ Maria e José não fizeram cenas diante da resposta “irreverente” de Jesus. Aceitaram que o jovem Jesus não lhes pertencia exclusivamente: Ele tinha a sua identidade e a sua missão próprias. É assim que nos situamos face àqueles com quem partilhamos a experiência familiar?
¨ A nossa família potencia o nosso crescimento, abrindo-nos horizontes e levando-nos ao encontro do mundo, ou fecha-nos num espaço cómodo mas limitado, onde nos mantemos eternamente dependentes?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
A semana anterior ao domingo da Festa da Sagrada Família inclui o Dia de Natal. É o tempo oportuno para a celebração do mistério do Verbo que habitou no meio de nós. É um tempo propício para meditar a Palavra de Deus servida no Natal e na Festa da Sagrada Família. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.2. ATENÇÃO AOS PEQUENOS GESTOS.
O “Glória a Deus”, cântico dos anjos, é por excelência o hino do tempo de Natal. Deve ser um hino que se canta. Nesse sentido, sempre que possível, evitar recitar o Glória a Deus, procurar antes cantar todo o Hino de Glória.
A Sagrada Família viveu ao ritmo do amor trinitário. No grande momento da doxologia (Por Cristo, com Cristo, em Cristo…), no final da Oração Eucarística, que deveria ser cantada, procurar manter bem elevado o pão e o vinho, até ao fim do “Ámen” da assembleia (muitas vezes, o “Ámen” não é dito com entusiasmo de fé e, frequentemente, o presidente da assembleia já “arrumou” o pão e o vinho antes do “Ámen”…).
Os finais das orações “Por Nosso Senhor Jesus Cristo…” não são apêndices da oração, mas o seu coroamento. Nesse sentido, em vez de baixar os braços nesse momento, o presidente deve mantê-los erguidos (ou mesmo levantá-los um pouco mais) até ao final do “Ámen” da assembleia.3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração. Exemplo para o final do Evangelho:“Deus nosso Pai, nós Te recomendamos os pais e as famílias, na sua missão de educar e de guiar os filhos na realização das suas vocações.
Nós Te pedimos que o teu Espírito sustente a nossa fé no teu Filho Jesus e este amor sem limites que pedes para termos entre nós.
Nós Te bendizemos pelo novo templo que deste ao teu Povo. É o teu próprio Filho Jesus, que nos reúne e constitui em família, que nos permite estar contigo.
Recomendamos-Te as nossas famílias, com todas as dificuldades da educação cristã e do diálogo entre pais e filhos nas situações actuais”.4. BILHETE DE EVANGELHO.
A fidelidade é a manifestação da fé. Maria e José cumprem fielmente a peregrinação anual a Jerusalém, aí se associam a Jesus. Este fará, vinte anos mais tarde, a sua peregrinação, a sua Páscoa, e andará de novo “perdido” durante três dias, antes de ser “reencontrado”, desta vez pelos seus discípulos, na manhã de Páscoa. O
questionamento faz parte da fé. Maria e José estão “estupefactos” e interrogam Jesus: “Porque nos fizeste isto?” E não compreendem a resposta do seu filho. Maria “guardava tudo isso no seu coração”, sem dúvida para não esquecer. A meditação permite entrar no pensamento de Deus para se lhe submeter. Se Jesus, voltando a Nazaré, era submisso a seus pais, estes aceitarão submeter-se à vontade de Deus. Maria disse o “sim” da anunciação, para que tudo se realizasse segundo a vontade de Deus. Um “sim” que ela voltará a dizer ao pé da cruz, mesmo no questionamento… Maria e José realizaram uma verdadeira peregrinação efectuando, não somente a caminhada de Nazaré a Jerusalém, mas sobretudo a caminhada do questionamento ao acto de fé.5. À ESCUTA DA PALAVRA.
Rezamos para que o Senhor nos dê a graça de praticar, a exemplo da Santa Família, as virtudes familiares. Não é fácil, parece mesmo irrealista esta oração… Como imitar a santidade de Jesus, o Filho de Maria? Maria estava sem pecado, José era um homem justo, perfeitamente ajustado à vontade de Deus. Em plenitude, nenhuma família pode viver como a Família de Nazaré, bem sabemos! Mas o modelo que nos é apresentado por Lucas é o modelo da família concreta de Nazaré, com o acompanhamento de todas as etapas de crescimento do filho Jesus, com toda a atenção e cuidado de Maria e José, com momentos de zanga dos pais quando Jesus ficou com os doutores no templo… Uma família perseverante e confiante! Assim, a Família de Nazaré torna-se muito próxima de nós. É a mesma missão para as nossas famílias: oferecer a cada filho um lugar de crescimento, um lugar de enraizamento onde a seiva da vida possa buscar a sua força, para que os frutos cheguem à maturidade. É uma tarefa árdua, longa, difícil, com alegrias e tristezas, conquistas e fracassos… Podemos pedir a Jesus, Maria e José para nos acompanharem neste caminho: eles passaram por isso e compreendem-nos bem!6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística I, com as variantes próprias da Festa de Natal e a evocação mais desenvolvida dos santos que são “nossa família”: Maria, José, Ana e Joaquim, Isabel, Zacarias, João Baptista, Santos Apóstolos e Mártires…7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
· No final do Evangelho, Lucas diz que “Maria guardava todos estes acontecimentos no seu coração”. Noutra passagem, Jesus diz que aquele que está na boa terra é o que escuta a palavra com um coração leal e bom, a guarda no coração e produz frutos… Esta palavra de Jesus aplica-se à sua mãe. Voltamos para as nossas famílias. Serão santas, se o nosso coração, como o de Maria, for leal e bom; se, como Maria, guardarmos a Palavra de Jesus; se, com a mesma perseverança de Maria, produzirmos frutos para a maior glória de Deus. É uma semana importante, com a passagem de ano (embora o verdadeiro início de ano para os cristãos seja o 1º Domingo do Advento!), a Festa da Mãe de Deus e o Dia Mundial da Paz. Que a Palavra de Deus seja companhia e luz para os nossos corações, nas nossas famílias, no nosso mundo. Façamos por isso…
· Sempre em conversão… Viver verdadeiramente o “espírito de família” e o amor fraterno não é fácil: é preciso converter-se continuamente… Esta semana, procuremos ir ao encontro de alguma pessoa com quem não temos tido grande relacionamento fraterno. Não é fácil, mas é o apelo de Deus, sempre exigente e pleno de felicidade…UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org -
Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João
Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João
27 Dezembro 2021Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João
Lectio
Primeira leitura: 1 João 1,1-4
Caríssimos: 1*0 que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, 2* de facto, a Vida manifestou-se; nós vimo-Ia, dela damos testemunho e anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós- 3*0 que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4*Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja completa.
No breve prólogo à sua Primeira Carta, S. João expõe os critérios para entrarmos em comunhão com Deus. Oferece-nos também um itinerário de fé, e indica as defesas a usar contra o pecado.
João fundamenta a fé cristã no «Verbo da vida», de que dá testemunho, indicando, e descrevendo de modo sintético, as suas etapas essenciais. Mas, ao contrário do Prólogo do seu evangelho, onde acentua o «Verbo», aqui acentua a «vida», que Jesus possui e dá. Tudo começa com a experiência pessoal do apóstolo, no contacto com Jesus: «o que ouvimos, o que vimos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida» (v. 1). Esta experiência torna-se testemunho e exemplo coerente (v. 2), anúncio corajoso, que gera comunhão entre aqueles que o escutam e abraçam a fé, e comunhão com o próprio Pai e com o seu Filho Jesus (v. 3). Esta comunhão, por sua vez, gera a alegria do coração (v. 4).
A palavra «nós» põe-nos diante da tradição da escola joânica, que desenvolve o testemunho do discípulo amado, fundado na «vida divina» tornada visível em Jesus.
Evangelho: João 20, 2-8
2*No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o querido de Jesus, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» 3pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Inc/inou¬se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas não entrou. 6*Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, 7* ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. 8Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer.
João dá-nos neste texto uma síntese dos acontecimentos verificados na manhã da Páscoa, em que são protagonistas Maria Madalena, Pedro e ele próprio. A noite espiritual em que tinham mergulhado os apóstolos está para dar lugar à experiência de fé, que começa junto ao túmulo vazio, sinal da presença do Ressuscitado (v. 2). Ao receberem a notícia de que fora retirada a pedra do sepulcro, e de que o corpo de Jesus lá não estava, Pedro e João foram verificar o que sucedera. A sua corrida revela amor e veneração, e faz pensar na Igreja que procura sinais visíveis do Senhor, especialmente quando se encontra em dificuldade e não consegue vê-lo. João chega primeiro do que Pedro ao sepulcro, devido à sua intuição amorosa de discípulo amado, mas é Pedro quem entra por primeiro, devido à sua função eclesial (vv. 5- 7). Depois de observar a ordem das várias coisas que se encontravam no sepulcro, e a paz que nele reinava, o discípulo amado abre-se à visão da fé, acreditando nos sinais visíveis do Senhor: «Viu e começou a crer» (v. 8). Ainda não é a fé plena na Ressurreição. Isso só acontecerá quando o seu espírito se abrir à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24, 45), quando vir a pessoa do Senhor e receber o dom do Espírito Santo, isto é, quando tiver percorrido todo o itinerário da fé.
Meditatio
S. João é uma figura de fundamental importância na Igreja primitiva. De facto, é o discípulo amado que ensina a contemplar em Jesus, o Filho de Deus feito homem, para nos revelar o rosto do Pai e o caminho que leva à comunhão com Ele. Por esta razão, João é chamado teólogo. Os seus escritos levam a acreditar em Jesus Messias e Filho de Deus (cf. Jo 20, 31). O seu símbolo é a águia porque, como refere uma sentença rabínica, a águia é a única ave que consegue fixar o sol sem cegar. Para João, o sol é Cristo. A sua presença na comunidade descobre-se pela contemplação e pela inteligência da Palavra de vida. A vida, na sua realidade mais profunda, é «a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós». Jamais contemplaremos suficientemente este mistério de vida que se tornou perceptível para nós em Jesus, Filho de Deus, a vida eterna que estava junto do PaiO
S. João faz-nos compreender quanta profundidade se encontra na pessoa do Filho, na sua união com o Pai, na sua comunhão com Eleffi Incarnação tem por objectivo tornar-nos participantes nessa comunhão divina: estamos «em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo». A Incarnação aconteceu em vista da comunhão. Isto é espantoso. A carne é causa de divisão! Por causa dela, estamos num lugar e não noutro. Podemos chegar até às pessoas queridas pelo pensamento. Mas a carne impede-nos estar em comunhão com elas. E quantas discussões, litígios e divisões por causa dos bens materiais! O Filho de Deus, ao assumir a nossa carne, tornou-a meio de comunhão. Tudo o que assumiu se tornou instrumento de comunhão com Deus e entre nós. Na Eucaristia, onde a carne de Cristo se põe ao serviço da comunhão, fazemos a comunhão, isto é, recebemos a comunhão com o Pai e a comunhão entre nós. Para isso, Cristo teve de sacrificar a sua carne, teve de entregá-Ia aos inimigos, para fazer dela um sacrifício agradável, um sacrifício perfeito. Então, a vida mostrou toda a sua força.
O evangelho de hoje leva-nos até à Páscoa, mostra-nos a meta alcançada: a vida venceu a morte e manifestou-se. O que João viu foi esta vitória da vida, manifestada no sepulcro pelas ligaduras, pelo sudário. O corpo de Cristo já não está no sepulcro, porque a vida triunfou. Mas Jesus incarnado está sempre connosco, porque a vitória sobre a morte foi alcançada para nós.
Uma outra lição que podemos tirar do evangelho de hoje é o respeito pelos carismas, que são muitos na Igreja, para bem da mesma Igreja. João, que tem o carisma da profecia, é respeitado Pedro, que tem o carisma da instituição. O respeito pelo
s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.Com S. João, também nós somos chamados a "conhecer", isto é, fazer experiência de vida e a "crer", isto é, a aderir com todo o coração e com toda a nossa pessoa, "ao amor que Deus nos tem"? (1 Jo 4, 16), amor manifestado no Verbo Incarnado. Esse inefável "amor que Deus nos tem ... !", de que João é «doutor», no dizer do Pe. Dehon, é o grande mistério para todo o cristão e, em particular, para todo o oblato-SCJ.
É este mistério que queremos proclamar diante da Eucaristia, diante do Crucificado de Lado aberto, diante da nossa vocação de Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus.
Oratio
Senhor Jesus Cristo, que revelaste a João, teu discípulo amado, os misteriosos segredos da Palavra, dá-nos também a nós, hoje, e a toda a Igreja, uma nova inteligência espiritual das Escrituras. Assim poderemos iluminar, cada vez mais, a nossa vida espiritual, e aprender a tua ciência sublime.
Concede à Igreja pastores sábios e santos, capazes de colher o sentido espiritual e profundo das Escrituras e introduzir o povo de Deus na tua intimidade. Assim todos poderemos conhecer o teu Coração, o teu pensamento, a profundidade do teu Espírito e o modo como conduzes a história da Igreja.
Por intercessão do teu discípulo amado, faz-nos experimentar o amor do teu Coração, e torna-nos assíduos e delicados no teu serviço. Sempre, e em toda a parte, queremos, como S. João, realizar a tua vontade sobre nós. Ajuda-nos!
Contemplatio
S. João teve com Jesus os laços mais íntimos: foi seu parente, seu discípulo, seu amigo, seu herdeiro. Tiago e João eram filhos de Salomé, parente de Maria. Eram chamados irmãos de Jesus. Era costume chamar irmãos os parentes próximos. João deve ter conhecido Jesus menino.
Ligou-se a Ele, primeiro como discípulo com Santo André (Jo 1, 37). Tendo ouvido João Baptista chamar Jesus Cordeiro de Deus, deleitou-se com esse nome, meditava-o sem cessar, e lembra-o muitas vezes no Apocalipse.
S. João está sempre junto de Jesus. Quando Jesus toma aparte alguns apóstolos, para os mais belos milagres, para a transfiguração, para a agonia, S. João está sempre.
Senta-se junto de Jesus. S. Pedro sabe bem que João é o amigo e que, por meio dele, pode conhecer os segredos que Jesus não revela a todos.
S. João pode narrar em pormenor os discursos de Jesus depois da Ceia porque os ouviu melhor que os outros.
S. João ama como é amado. Segue Jesus por todo o lado (Petrus vidit iI/um sequentem). Segui-Io-á até ao Calvário. Assiste à morte de Jesus, ao golpe misterioso da lança, à sepultura. Vê de perto o lado de Jesus aberto. Abraça-o, sem dúvida, como um dia havia de fazer S. Francisco (Haurietis aquas in gáudio).
S. João é o herdeiro de Jesus, que lhe legou a sua mãe e necessariamente com ela as habitações de Nazaré e as lembranças.
Jesus disse a Pedro que João devia esperá-lo e recebe-lo na terra. Hão rever-se em Patmos. João reencontrará lá o divino Cordeiro de lado aberto: Agnum occisum ... quem pupugerunt.
Ó divina amizade, que merece contemplação e admiração eterna! (Leão Dehon, OSP 4, p. 591s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
« O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14). -
Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal
Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal
28 Dezembro 2021Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal
Lectio
Primeira leitura: 1João 1, 5-2, 2
Caríssimos:5*Eis a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. 6*Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. 7*Pelo contrário, se caminhamos na luz, do mesmo modo que Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado. 8*Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. 9*Se confessamos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade. 10Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.
1*Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, 2*pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo.
A festa dos Santos Inocentes, colocada tão perto do Natal, realça não só o dom do martírio, mas também a grande verdade que a morte do inocente revela: a maldade do pecador, como Herodes, semeia ódio e morte, enquanto o amor do justo inocente, como Jesus, traz frutos de vida e salvação. S. João também nos apresenta o mundo divido em duas partes: a luz, o mundo de Deus, e as trevas, o mundo de Satanás. Quem caminha na luz e pratica a verdade (cf. vv. 7-8), vive em comunhão com Deus e com os irmãos, e é purificado de todo o pecado pelo sangue de Jesus derramado na cruz. Quem, pelo contrário, caminhas nas trevas e não pratica a verdade (cf. vv. 6.8), engana-se a si mesmo, não vive em comunhão com Cristo nem com os irmãos, está longe da salvação. Os verdadeiros crentes reconhecem, diante de Deus, o seu pecado, confessam-nos e confiam no Senhor «fiel e justo» (v. 9), são salvos. Os maus, pelo contrário, que não reconhecem os seus pecados, tornam vão o sacrifício de Cristo, e a sua Palavra de vida não os pode transformar interiormente.
Ao terminar, João exorta os cristãos a recorrerem a Jesus como advogado junto do Pai (cf. v. 1), porque é Ele que expia os pecados dos fiéis e os da humanidade inteira. O cristão não deve pecar, mas, se pecar, o melhor que tem a fazer é reconhecer o seu pecado e confiar na misericórdia d´Aquele que o pode livrar da pobreza moral e restituí-lo à comunhão com Deus.
Evangelho: Mateus 2, 13-18
13*Depois de os Magos partirem, o anjo do Senhor apareceu, em sonhos, a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» 14*E ele levantou-se, de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, 15*permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho. 16*Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido dos magos. 17Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera: 18*Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e
Caixa de texto: Tempo do Natal 28|Dezembro > Festa dos Santos Inocentes
um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem.Mateus narra uma das provações da família de Nazaré. Depois de os Magos partirem, advertidos pelo Anjo do Senhor, José e Maria tiveram de fugir com o Menino para o Egipto, para escaparem ao ódio de Herodes. Na sua loucura, tinha decidido matar todos os recém- nascidos em Belém (cf. vv. 14-16). A Sagrada Família vive uma dolorosa perseguição, que a leva a fugir da sua terra e a lança numa aventura cheia de incertezas.
Mateus sugere que a Sagrada Família não goza de qualquer privilégio em relação às outras. Jesus é um Deus no meio de nós, mas a sua glória esconde-se numa aparente derrota. Não O buscam apenas os Magos. Também Herodes O procura. Mas suas intenções são diferentes: os Magos querem adorá-lo; Herodes quer matá-lo. Jesus é sinal de contradição desde o seu nascimento.
Na realidade, a narrativa evangélica evidencia um outro tema: a aventura humana de Jesus, desde a sua infância, é lida à luz da história de Moisés e do seu povo. Tanto o nascimento de Moisés, como o de Jesus, coincidem com a matança de meninos hebreus inocentes (Ex 1, 8-2,10 e Mt 2, 13-14); ambos se dirigem para o Egipto (Ex 3, 10; 4, 19 e Mt 2, 13-14); ambos realizam a palavra: «do Egipto chamei o meu filho» (Ex 4, 22; Os 11, 1 e Mt 2, 15). Finalmente a profecia de Raquel que chora os seus filhos (Jer 31, 15) recorda-nos que Jesus permanece o Messias procurado e recusado, em quem se realizam as promessas de Deus e as esperanças dos homens.
Meditatio
Causa-nos um certo choque celebrar o martírio dos Inocentes apenas três dias depois do Natal, festa da família, da alegria e da paz. Mas esta festa ajuda-nos a compreender mais profundamente o Natal de Cristo.
Contemplámos o Menino do presépio, que, como sabemos não é um menino qualquer. Pretende tornar-se rei de todos os corações; por isso, não pode deixar de encontrar resistência e oposição. Apresenta-se como Luz do mundo, mas as trevas não se deixam iluminar, sem luta, sem sofrimento. A festa dos Inocentes mostra-nos que essa luta começa muito cedo.
Essa luta começa dentro de nós, como vemos na primeira leitura. Porque somos pecadores, estamos de algum modo do lado de Herodes, recusamos o Salvador e precisamos de conversão para acolhe
r a luz que nos perturba. «Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós», escreve S. João. Hoje começa a obra da nossa salvação e a primeira coisa a fazer é reconhecer que precisamos de ser salvos.O evangelho narra precisamente a fuga da Sagrada Família para o Egipto e a matança dos Inocentes. Mateus, partindo dos dados históricos, recompõe-os, lendo-os na fé e transfigurando-os à luz do mistério que encerram: o Menino Jesus, que se entrega nas mãos dos homens, não é alguém que foge do inimigo por medo, mas é o verdadeiro vencedor, porque é na sua obediência livre que revela ao homem o rosto do Pai e o amor gratuito com que se entregou a nós. Se o mundo recusa a Cristo, o derrotado não é Cristo, mas o mesmo mundo. Se a recusa de Cristo e a sua marginalização são momentos de humilhação que revelam a sua fraqueza humana, são também o início do seu triunfo, por causa da glorificação que dará ao Pai.
Também nós podemos recusar Cristo e ser culpados de pecado, renegando o amor de Deus. Mas acreditamos que, apesar de tudo, os nossos pecados não são um obstáculo permanente à comunhão com Deus, graças à sua misericórdia a que podemos recorrer.
Sigamos o convite do Pe. Dehon: «Sigamos os pastores e vamos ao presépio beber uma vida nova, uma força nova para doravante seguirmos com coração a direcção da graça... Lancemos um olhar também para as pequenas vítimas imoladas por Herodes, os santos Inocentes. Deixemo-nos imolar pela espada do sacrifício, da obediência e da abnegação» (OSP 4, p. 598-599).
Oratio
Senhor Jesus, que por nós Te fizeste homem, que por nós morreste e ressuscitaste, Tu és o nosso único advogado junto do Pai quando pecamos e nos afastamos de Ti. Muitas vezes quebramos a Aliança contigo, e outras tantas a restabeleceste, sem Te cansar, manifestando a riqueza da tua bondade e do teu perdão. Não deixes de ser o nosso defensor. Sê também o defensor da nossa humanidade que massacra tantos inocentes, crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres.
Tu, que experimentaste a situação dos refugiados, tem compaixão dos milhões de homens e mulheres que, ainda nos nossos dias, têm que abandonar as suas terras, os seus países, para escaparam às diferentes formas de perseguição, às guerras, aos massacres, aos genocídios.
Pela tua Incarnação, pela tua Morte e Ressurreição, concede ao nosso mundo a graça de encontrar o caminho da justiça e da paz. Amen.
Contemplatio
Jesus menino quis distribuir as suas primeiras palmas a crianças. É um ramo de mártires em flores que ele colheu para si, quase no dia seguinte ao seu nascimento.
O Coração de Jesus ama as crianças. Ele devia manifestá-lo solenemente mais tarde ao chamar para junto de si numerosas crianças para as abençoar, apesar da repugnância dos seus apóstolos. «Deixai vir a mim as criancinhas, devia dizer-lhes. Eu amo as crianças e aqueles que se lhes assemelham, e amaldiçoo aqueles que as escandalizam.
Mas o Coração de Jesus tem modos de amor que a natureza não compreende sem o socorro da graça. Jesus menino sabe que a palma do martírio será uma das maios belas recompensas do seu céu. Ele entrevê antecipadamente esta guarda de honra cantada por S. João, e que estará vestida de branco com uma palma na mão e que há-de seguir por toda a parte o Cordeiro divino, o Rei dos mártires no céu. Ele quer inserir aí crianças, porque as ama, e permite a perseguição de Herodes e o massacre dos inocentes de Belém. É o primeiro grupo de santos do Novo Testamento, que vai esperar no Limbo a ressurreição de Jesus e a abertura do céu. As gotas de sangue da Circuncisão e as lágrimas do presépio fizeram germinar e florir este ramo de mártires.
Oh! Como nós devemos amar sobrenaturalmente as crianças! Como as devemos amar para as formar na virtude e sobretudo para lhes ensinar a conhecer o Sagrado Coração de Jesus! (Pe. Dehon, OSP 2, p. 223).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O sangue de Jesus purifica-nos de todo o pecado» (1 Jo 1, 7). -
Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal
Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal
29 Dezembro 2021Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal
Lectio
Primeira leitura: 1João 2, 3-11
Caríssimos:3*Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. 4*Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso, e a verdade não está nele; 5*ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. 6*Quem diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou. 7*Caríssimos, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que já tínheis desde o princípio: este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8*É, contudo, um mandamento novo o que vos escrevo .o que é verdade nele e em vós. pois as trevas passaram e a luz verdadeira já brilha. 9*Quem diz que está na luz, mas tem ódio a seu irmão, ainda está nas trevas. 10Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. 11Mas quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.
O caminho para conhecer a Deus e permanecer nele é, pela negativa, «não pecar» (cf 1 Jo 1, 5-2,2) e, pela positiva, guardar os mandamentos, especialmente o do amor a Deus ( vv. 3-6) e aos irmãos 8vv. 8-11). O conhecimento de Deus comporta, pois, exigências de vida, ao contrário da gnose, filosofia religiosa popular do tempo de Jesus, que apenas exigia a libertação do mundo visível. Opondo-se a essa doutrina, que excluía o pecado e a existência de qualquer moral, João afirma que o verdadeiro conhecimento de Deus deve ser autenticado pela observância dos mandamentos. De facto, quem guardar a «sua palavra» (v. 5) experimenta o amor de Deus e mora nele, porque vive como Jesus viveu, e tem dentro de si uma realidade interior que o impele a imitar a Cristo, cujo exemplo de vida é precisamente o amor (v. 6).
Este mandamento do amor é novo e antigo: «novo», porque gera vida nova e deve sempre redescobrir-se; «antigo», porque foi ensinado desde o início do anúncio cristão. O verdadeiro critério de discernimento do espírito de Deus é o amor fraterno, porque ninguém pode estar na luz de Deus e odiar o próprio irmão.
Evangelho: Lucas 2, 22-35
22*Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23*conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25*Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26*Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito, 28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29*«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, 30*porque meus olhos viram a Salvação 31que oferecestes a todos os povos, 32*Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo.» 33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34*Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua
Caixa de texto: Tempo do Natal 29|Dezembro
mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35*uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»A apresentação de Jesus no templo tem como horizonte teológico o quadro da antiga aliança que dá lugar à nova aliança, pelo reconhecimento do menino Jesus como o Messias sofredor, o Salvador universal dos povos. A narrativa está cheia de referências bíblicas (cf. Ml 3; 2 Sam 6; Is 49, 6), e compõe-se de duas partes: a apresentação da cena (vv. 22-24) e a profecia de Simeão (vv. 25-35).
Maria e José, obedientes à lei hebraica, entram no templo como membros simples e pobres do povo de Deus, para oferecerem o primogénito ao Senhor e para purificação da mãe (cf. Ex 13, 2-16; Lv 12, 1-8). A oferta do Menino revelam confiança e abandono em Deus, antecipação da verdadeira oferta do Filho ao Pai, que se realizará no Calvário. O centro da cena é a profecia de Simeão, homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel (cf. v. 25). Guiado pelo Espírito, vai ao templo e, reconhecendo em Jesus o Messias esperado, saúda-o festivamente e faz uma confissão de fé: realizaram-se as antigas profecias; ele viu o Salvador, a glória de Israel, a luz e salvação de todos os povos. Mas essa luz terá o reflexo do sofrimento, porque Jesus há-de ser «sinal de contradição» (v. 34) e a própria Mãe será envolvida o destino de sofrimento do Filho (v. 35).
Meditatio
A contemplação do encontro de Simeão com o Menino Jesus, deixa-nos entrever a alegria imensa de quem vê realizar-se um desejo antigo, próprio e de todo o povo. Simeão contempla e recebe nos braços o Messias de Israel, Aquele que traz consolação, salvação, luz e glória a Israel.
As palavras «impelido pelo Espírito, veio ao templo» podem trazer inspiração para a nossa vida. Simeão é um homem dócil ao Espírito Santo e, por isso, pode ter a alegria de encontrar o Messias, tomá-lo nos braços e bendizer a Deus. Homem justo e temente a Deus, observava, não os mandamentos, mas também as inspirações de Deus. Estava atento à voz do Espírito para, em todas as circunstâncias, fazer a vontade de Deus. Assim caminhava na luz, para conhecer a Jesus, como ensina S. João. Coube-lhe a honra de oferecer a Deus aquele menino. Fê-lo certamente com o arrebate que notamos no seu hino. Mas estava ain
da longe de compreender plenamente o alcance do seu gesto. Escreve o Pe. Dehon: «Enquanto que o velho Simeão o oferece assim, Deus não vê nas mãos do sacerdote senão o Coração do seu Filho, que se oferece a si mesmo, este Coração animado de uma generosidade infinita, este Coração tão grande pelo amor, que é pequeno fisicamente. O santo ancião não compreende toda a excelência deste dom que ele faz a Deus da parte dos homens; adivinha-o um pouco, entrevê-o profeticamente. O Coração de Jesus compreende todo o valor desta oferenda, é ao mesmo tempo o doador e o dom, o Sacerdote e a oblação» (OSP 3, p. 218).Cristo entregava-se para glória e alegria do Pai e para salvação da humanidade. Amar a exemplo de Cristo, significa entregar-se, esquecer-nos de nós mesmos, procurar os interesses dos outros até ao sacrifício dos próprios interesses. A atitude evangélica de quem se coloca na verdade é o dom de si mesmo a Deus e aos irmãos. A vida cristã é amor que se dá a todos com generosidade.
O fundamento deste amor é a própria Trindade, a comunhão que une o Pai e o Filho.
Isto faz-nos compreender que o amor cristão não se limita à comunidade cristã, em que cada um de nós vive, porque o amor fundado sobre o amor do Pai e vivido em plenitude entre os irmãos na fé é um elemento de dinamismo apostólico. Com quanto maior profundidade se viver a fé e o amor, mais nos sentimos impelidos ao testemunho. Onde reinar esse amor recíproco, os discípulos tornam-se sinal histórico e concreto de Deus-Amor no mundo.
Oratio
Senhor Jesus, a tua vida escondida, e confundida com a da gente comum, é para nós um exemplo de simplicidade e de pobreza. Como qualquer primogénito do teu povo, quiseste ser apresentado ao templo e oferecido a Deus, para cumprires a Lei. Fizeste-te reconhecer como Salvador universal por Simeão, um homem justo e aberto à novidade do Espírito. É aos simples e aos humildes que Te costumas revelar, e não aos sábios e orgulhosos.
Nós Te pedimos que, apesar da nossa miséria e da nossa incapacidade em nos darmos conta da passagem do teu Espírito na nossa vida, nos dês a graça de Te reconhecermos como nossa luz e como luz do mundo.
Nós Te louvamos e bendizemos, com o velho Simeão, pela realização das tuas promessas. Ajuda-nos a viver tudo quanto nos ensinaste, especialmente o amor fraterno. E que toda a nossa vida seja oblação ao Pai, em favor da humanidade, pela qual Tu próprio Te ofereceste. Amen.
Contemplatio
Simeão, homem justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo, que estava nele, tinha-lhe dito que não morreria sem ver o Cristo do Senhor. Ele esperava, era a sua vida, e a sua confiança era inabalável.
Mas será que eu peço e espero o reino de Nosso Senhor? Quão depressa fico sem coragem! Uma decepção, uma oração aparentemente infrutífera, uma demora da Providência, e deixo-me abater. Rezar, esperar, ter confiança, isto é a vida cristã.
É um dia de alegria para Simeão. Naquele dia, os seus pressentimentos realizam-se. Vem ao Templo, encontra uma criança com a sua mãe. É o redentor! O vidente compreendeu- o.
E quando recebe Jesus nos seus trémulos braços, não consegue conter as lágrimas: «Agora posso morrer, diz, vi a salvação...» A terra já não tem encanto para ele. Os seus olhos já não se interessariam por mais nada. Viu o Senhor, irá esperá-lo no silêncio dos limbos.
Oh! Porque é que não sei esperar e perseverar na oração? Alegrias profundas viriam recompensar-me e encorajar-me.
Como Simeão é belo quando, com os olhos banhados de lágrimas, ergue com os seus trémulos braços o menino Jesus para o céu, cantando o seu Nunc dimittis! Viu o Senhor, é ter vivido muito, é viver muito ainda. «Agora, diz, podeis, Senhor, deixar ir em paz o vosso servo... O túmulo não me assusta, certo como estou de já não estar muito tempo separado de vós... Permiti que vá anunciar aos vossos santos que já não têm muito tempo que esperar por vós, porque os meus olhos viram a salvação que preparastes para os povos, a luz que deve iluminar as nações e a glória de Israel vosso povo» (Leão Dehon, OSP 3, p. 126).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem ama o seu irmão permanece na luz» (1 Jo 2, 10). -
Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal
Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal
30 Dezembro 2021Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal
Lectio
Primeira leitura: 1 João 2, 12-17
12*Eu vo-lo escrevo, filhinhos: Os vossos pecados estão-vos perdoados pelo nome de Jesus. 13*Eu vo-lo escrevo, pais: Vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevo, jovens: Vós vencestes o maligno. 14Eu vo-lo escrevi, filhinhos: Vós conhecestes o Pai. Eu vo-lo escrevi, pais: vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevi, jovens: Vós sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e vós vencestes o Maligno. 15*Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16*Pois tudo o que há no mundo ..a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso . não vem do Pai, mas sim do mundo. 17*Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre.
João dirige-se afectuosamente à comunidade cristã para que seja coerente com o projecto de salvação e com as opções que fez em relação a Deus e ao mundo. Assim poderá manifestar o seu amor para com Deus.
Escrevendo aos filhos, exorta-os a reflectir sobre a situação actual de salvação em que vivem, pois obtiveram o perdão dos pecados (v. 12) e conheceram o Pai (v. 14ª). Escrevendo aos pais, recorda-lhes que conheceram Jesus, «aquele que existe desde o princípio» (v. 13), por meio da Palavra, pelo que se exige deles uma fé madura que não os deixe ser seduzidos pelo mundo. Aos jovens recorda que aderiram a Jesus e venceram o mal (v. 13), e que a sua fortaleza espiritual, reforçada pela palavra de Deus, os exclui de compromissos com as fáceis atracções do mundo (v. 14).
Este projecto de vida espiritual resume-se numa vida separada da lógica do mundo, entendido como reino do mal que se opõe a Deus. Deus e mundo são duas realidades opostas. João menciona alguns aspectos que pertencem à transitoriedade do mundo, inimigo de Deus: «a concupiscência da carne», isto é, as tendências más que existem no homem decaído e inclinado ao pecado; «a concupiscência dos olhos», isto é, a cobiça que pode entrar pelos olhos, tal como a avidez pelos bens terrenos; «o estilo de vida orgulhoso», isto é, o orgulho fundado na concepção materialista da vida.
A separação do mundo tem, para os cristãos, uma razão de ser: vivem no mundo, mas sabem que, enquanto o mundo passa, Deus permanece (v. 17).
Evangelho: Lucas 2, 36-40
36Quando os pais de Jesus levaram o Menino a Jerusalém, a fim de o apresentarem ao Senhor, estava no templo uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37*ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38*Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40*Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.
Caixa de texto: Tempo do Natal 30|Dezembro
O texto do evangelho que lemos hoje é a conclusão do episódio da apresentação de Jesus ao templo. Consta de duas partes: o testemunho da profetiza Ana (vv. 36-38) e o regresso da Sagrada Família a Nazaré (vv. 39-40).De acordo com a lei dos hebreus, para garantir a verdade de um facto, exigia-se a deposição de duas testemunhas. Depois do testemunho de Simeão, vem o de Ana. É outra "pobre de Deus", típica representante daqueles que aguardavam a redenção de Israel. Louva o Senhor porque reconheceu no Menino Jesus, apresentado ao templo, o Messias esperado, e espalhou a notícia entre aqueles que viviam disponíveis para o evento da salvação (v. 38).
A cena conclui-se com a observação de Lucas sobre o crescimento de Jesus, em Nazaré: «o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele» (v. 40). Diz-se muito pouco sobre a vida oculta de Jesus. Mas, o pouco que se diz, é suficiente para captarmos o espírito e apreciarmos o ambiente onde viveu o Salvador: os seus pais eram obedientes e fiéis à Lei, Jesus crescia em sabedoria, cheio como estava dos dons da graça de que o Pai o cumulava (cf. v. 52; 1 Sam 2, 26). Estamos perante uma comunidade que se abre ao reino de Deus, no respeito pela vontade do Pai.
Meditatio
A profetiza Ana, uma anciã com 84 anos, número bíblico que simboliza a perfeição (resulta de 12×7), pois está no fim dos seus dias, sugere uma comparação com o ano civil que também está a terminar. Ana, depois de 7 anos de casamento, permaneceu no templo, servindo a Deus dia e noite com jejuns e orações. Por isso mereceu a graça do encontro com o Salvador. O nosso ano civil também está muito velho, e termina com o encontro do Senhor no Natal. Esse encontro é tanto mais belo e frutuoso quanto tiver sido cuidada a preparação. Mas, apesar de toda a nossa infidelidade, o Senhor, na sua infinita bondade e misericórdia, vem até nós, e dá-se a conhecer como nosso Salvador. Por isso, também nós, como Ana e, afinal, como Maria e todos os que esperavam a salvação de Israel, podemos entoar hinos de louvor e gratidão ao Senhor.
Este encontro com o Senhor traz-nos a salvação, insere-nos numa nova forma de vida, com a qual havemos de ser coerentes, para manifestarmos o nosso amor a Deus. A vocação cristã, a que fomos chamados, compromete-nos a viver no mundo a serviço do homem, para testemunhar a Cristo e levar a todos a sua mensagem de salvação. Vivemos no mundo, mas sem nos confundirmos com ele, nem cedermos a compromissos
com ele. Caso contrário, negamos o espírito de humildade, de pobreza, de caridade que deve animar a nossa vida de crentes. Só o coração que se esvaziar do mundo, das suas propostas de vida transitórias e da avidez pelos seus bens efémeros, podem ser cumulado do amor do Pai (cf. 1 Jo 2, 15).O discípulo de Jesus jamais será aceite pelo mundo, por causa da sua opção de vida, contrária às propostas e interesses mundanos. Os crentes, por causa da sua eleição e da sua opção de vida por Cristo, são considerados estranhos e inimigos do mundo. Por isso é que o homem de fé é odiado e recusado. O mundo recusa os discípulos porque não são seus. Perturbam a sua paz, desmascaram o seu orgulho, acusam o seu conformismo. Mas, se Cristo permanece sinal de contradição para quem segue a lógica do amor, também é certo que tanta oposição se torna critério de autenticidade e de solidez para os discípulos de Cristo.
Como cristãos e, mais ainda, como religiosos, estamos "no mundo", mas não somos "do mundo" (cf. Jo 17, 11-14). As nossas Constituições dizem-nos que estamos inseridos no mundo, "segundo a nossa vocação específica" (n. 61), isto é, que devemos conservar e viver a nossa identidade de oblatos, servindo o Senhor noite e dia, e servindo os homens, segundo o nosso carisma específico e a missão a que somos chamados. Se assim não for, condenamo- nos à esterilidade em relação a nós mesmos, à Igreja, ao mundo, e esvaziamos de significado a nossa missão (cf. ET 52).
A vivência da nossa vocação e missão não está livre de oposições. Sabemos quantas dificuldades o Pe. Dehon teve que enfrentar durante a sua longa vida e como elas acabaram por revelar a autenticidade e a solidez da sua santidade e do seu carisma. Escreve na meditação para o último dia do ano: «O ano teve, sem dúvida, sofrimentos e tristezas. Seria heróico agradecer a Deus essas provações que, nos seus desígnios sobre nós, têm a finalidade de nos purificar e santificar... Bendigamos a Deus e pensemos nas alegrias eternas que hão-de recompensar as provações actuais» (OSP 4, p. 604).
Oratio
Senhor Jesus, Tu quiseste viver numa família humana sem aparência, prestígio ou riqueza, a tua experiência humana. A tua vida de criança foi marcada pela fragilidade e pelo crescimento normal. Trabalhaste para ganhar o pão de cada dia. Viveste no escondimento e na reflexão silenciosa a preparação para a vida pública. Assim experimentaste a condição humana e venceste o orgulho do mundo.
Dá-nos a graça de acolhermos, com alegria e gratidão, a nossa fragilidade humana, a nossa história, a nossa família, a terra onde nascemos. Dá-nos a graça de aceitarmos a nossa fragilidade espiritual, sem todavia renunciarmos à busca permanente da tua sabedoria e da tua Palavra.
Dá-nos a graça de sermos coerentes com a opção que fizemos por Ti, no Baptismo, na profissão religiosa. Que, jamais, a pretexto de inserção no mundo, nos deixemos confundir com ele, com os seus ideais e interesses. Que, a pretexto de não-violência, jamais desçamos a compromissos com o mundo, entendido como conjunto de forças que se opõem a Ti e ao teu Reino.
Que, tendo-Te aceitado como Salvador e Senhor da nossa vida, aceitemos também partilhar um destino semelhante ao teu. Amen.
Contemplatio
Ana, filha de Fanuel, mulher venerável, cheia de anos e de graças, também estava lá. Tinha o costume de rezar longamente todos os dias no Templo, e esperava como Simeão a vinda do Messias.
Como Simeão, ela reconheceu o menino divino e sua mãe, e isto foi para ela a mesma alegria e a mesma acção de graças. Exultava e anunciava a boa nova a todas as pessoas piedosas que esperavam a redenção de Israel.
E eu, eu recebo Nosso Senhor na sagrada comunhão. Recebo-o mesmo mais intimamente que Simeão. Vem dar-me a sua graça. Qual é o meu fervor para o receber? Como é que lhe testemunhei até aqui a minha alegria, o meu respeito, o meu reconhecimento?
Ana, toda entusiasmada, falava de Jesus a todas as pessoas: loquebatur de illo omnibus. Quais são as minhas conversas depois das minhas comunhões? São edificantes, caridosas, sobrenaturais?
Transportado de amor depois das minhas comunhões, devia estar resolvido a viver glorificando Jesus e a morrer amando-o.
Simeão repete a Maria a profecia de Isaías: «O Cristo será para a santificação de muitos em Israel, mas será para outros uma pedra de escândalo» (Is 8,14). É manifesto. Cristo é causa de salvação e de ressurreição para aqueles que o reconhecem, que o amam e que o servem. É causa de ruína para aqueles que o rejeitam.
A indiferença não é colocada aqui. Jesus é a vida. Todas as bênçãos são prometidas àqueles que o seguem e que o amam. É preciso estar com ele ou com o mundo. Os povos e as famílias, como os particulares, encontrarão o caminho da paz e dos favores divinos no seguimento de Jesus e no seu serviço.
Estas palavras do profeta são graves. Há dois caminhos oferecidos à nossa escolha: de um lado o caminho das bênçãos, com o seu traçado marcado no Evangelho: «Bem- aventurados os pobres, bem-aventurados os puros, bem-aventurados os que choram, os que perdoam, os que sofrem perseguição». Do outro lado, o caminho que afasta de Cristo. Tem este traçado: amor pelo ouro, pelo luxo, pelo prazer e pelo mundo. - Sois vós quem eu escolhi, meu Salvador, é o vosso caminho, é o vosso amor, é o vosso Coração, mesmo que deva encontrar as contradições e as perseguiçõ
;es!Simeão predisse a Maria a dor e a espada. Ela terá uma grande parte na paixão de Jesus. Sofrerá, ela também, por nós e pela nossa salvação. Ó Maria, como queria consolar-vos e partilhar das vossas mágoas para as aliviar! Até aqui, aumentei-as com as minhas faltas, perdoai-me. Vou-me esforçar por vos consolar com a minha paciência, com os meus sacrifícios e com as minhas mortificações.
Com Simeão, alegro-me por possuir muitas vezes Jesus na sagrada comunhão. Agarro-me ao bom Mestre, que é sempre contradito. Contentarei o seu divino Coração com as minhas práticas quotidianas de reparação e de amor (Leão Dehon, OSP 3, p. 127s.)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem faz a vontade de Deus permanece para sempre» (1 Jo 2, 17).
-
Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal
Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal
31 Dezembro 2021Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal
Lectio
Primeira leitura: 1 João 2, 18-21
18*Meus filhos, estamos na última hora. Ouvistes dizer que há-de vir um Anticristo; pois bem, já apareceram muitos anticristos; por isso reconhecemos que é a última hora. 19*Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido connosco; mas aconteceu assim para que ficasse claro que nenhum deles é dos nossos. 20*Vós, porém, tendes uma unção recebida do Santo e todos estais instruídos. 21Não vos escrevi por não saberdes a verdade, mas porque a sabeis, e também que da verdade não vem nenhuma mentira.
S. João exorta a comunidade cristã à vigilância pela iminência da «última hora» da história, marcado por um violento ataque do «anticristo», símbolo de todas as forças hostis a Deus e personificadas nos heréticos. O tempo final da história não deve ser entendido em sentido cronológico mas teológico, isto, como tempo decisivo e último da vinda de Cristo, tempo de luta, de perseguição e de provação para a fé da comunidade. O agudizar das dificuldades indica que o fim está próximo. Vislumbra-se já no horizonte o perfil de um mundo novo. O sinal mais evidente vem dos heréticos que difundem a mentira. Embora tivessem pertencido à comunidade, mostram-se agora seus inimigos, ao abandonarem a Igreja e ao criar-lhe dificuldades.
É duro verificar que Deus possa permitir a Satanás encontrar instrumentos da sua acção dentro da própria comunidade eclesial. Mas, a esses instrumentos, opõem-se os verdadeiros discípulos de Jesus, aqueles que receberam «a unção do Santo» (cf. v. 20), isto é, a palavra de Cristo e o seu Espírito que, pelo baptismo, lhes ensina a verdade completa (cf. Jo 14, 26). Essa verdade refere-se a Jesus, o Verbo de Deus feito carne, como professa o Apóstolo, e não um Jesus aparentemente humano, figura de uma realidade apenas espiritual, como dizem os hereges docetas.
Evangelho: João 1, 1-18
1*No princípio já existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; o Verbo era Deus. 2No princípio Ele estava em Deus; 3*por Ele é que tudo começou a existir; sem Ele nada veio à existência. 4*Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. 5A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. 6*Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. 9*O Verbo era a luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. 10*Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. 11*Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12*Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. 13*Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. 14*E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória,
Caixa de texto: Tempo do Natal 31|Dezembro
a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15*João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» 16*Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17*É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. 18*A Deus nunca ninguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e que está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.Ao contrário dos evangelhos da infância, o prólogo de S. João não narra os acontecimentos históricos do nascimento e da infância de Jesus. De forma poética, descreve a origem do Verbo na eternidade de Deus e a sua pessoa divina no amplo quadro bíblico do projecto de salvação, que Deus traz para o homem.
Começa pela preexistência do Verbo (vv. 1-5), real e em comunhão de vida com o Pai; o Verbo pode falar-nos do Pai porque possui a eternidade, a personalidade e a divindade (v. 1). Depois fala da vinda histórica do Verbo para meio dos homens (vv. 6-13), de cuja luz deu testemunho João Baptista (vv. 6-8); a luz põe o homem perante a necessidade de fazer uma opção de vida: recusá-la ou acolhê-la, permanecer na incredulidade ou aderir à fé (vv. 9-11); o acolhimento favorável tem por consequência a filiação divina, que não procede da carne ou do sangue, isto é de possibilidades humanas (vv. 12-13). Finalmente, a Incarnação do Verbo (v. 14) como ponto central do prólogo. Este Verbo já tinha entrado na história humana por meio da criação, mas agora vem habitar entre os homens de um modo activo: «O Verbo fez-se homem», na fragilidade de Jesus de Nazaré, para mostrar o amor infinito de Deus. Nele, a humanidade crente pode contemplar a glória do Senhor, a glória de Jesus, o Revelador perfeito e escatológico da Palavra que nos faz livres, o verdadeiro Mediador humano-divino entre o Pai e humanidade, o único que nos manifesta Deus e no-lo faz conhecer (vv. 17-18).
Meditatio
«Todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças», diz-nos João no Prólogo do seu evangelho. Vamos partir desta frase para n os colocarmos numa atitude de acção de graças, neste último dia do ano. Ao longo dele, fomos recebendo cada dia graça sobre graça, cada um segundo as suas necessidades e capacidades de receber. E, as graças que recebemos este ano, preparam as que havemos de receber no ano que vai começar.
Recebemos a graça do perdão misericordioso de Deus para os nossos pecados e para termos coragem de avançar no caminho da santidade. Recebemos luz para avançarmos, dia a dia no ano que termina. Essa luz também n&at
ilde;o deixará de brilhar sobre nós no ano que começa. A luz é o próprio Filho de Deus feito homem: «Eu sou a Luz do mundo». Essa luz é-nos dada como força e como amor, sobretudo na Eucaristia. Há que acolhê-la de coração aberto e disponível para todos os dons e surpresas de Deus.A falta dessa abertura levou alguns cristãos, logo na primitiva Igreja, à heresia. Não aceitavam que Deus se pudesse fazer homem e, mais ainda, homem pobre, homem frágil. Ao longo da história, e ainda em nossos dias, não faltam falsos profetas e mestres de falsidade, que se servem do nome de Cristo para propagar as suas ideias e doutrinas. Muitas vezes, provêm das próprias comunidades cristãs. Há que distinguir o verdadeiro do falso. A verdadeira doutrina traz alegria e paz interior.
O dom e o mistério de pertencer à Igreja têm como única garantia a fidelidade à Palavra de Cristo, em humilde e permanente busca da verdade. Recusar a Igreja é recusar a Cristo, a verdade e a vida (cf. Jo 14, 6). Recusar a Igreja é não acreditar no Evangelho e na Palavra de Jesus, é viver nas trevas, no não-sentido. O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que, tendo recebido a unção do Espírito Santo, se deixa conduzir suavemente pela sua acção e pela sua verdade, reconhecendo os caminhos de Deus, esperando a sua vinda sem alarmismos nem fantasias milenaristas. A Incarnação de Cristo impregnou toda a história e toda a vida dos homens, porque só nele reside a plenitude da vida e toda a aspiração de felicidade e o homem entrou de pleno direito entre os familiares de Deus.
O fim do ano civil recorda-nos que a história humana é guiada por Deus. Para Ele a nossa gratidão e a nossa súplica de vida nova que sempre nos quer oferecer.
Escreve o Pe. Dehon: «O fim do ano é imagem do fim da vida; lembra-nos esse fim. Entremos nos sentimentos de Ezequias, que vendo-se à beira da morte, se humilhava e
deplorava as suas faltas... Mas não será também preciso dar graças a Nosso Senhor pelos benefícios que recebemos este ano? Ele suportou-nos, perdoou-nos, abençoou as nossas obras. O seu Coração abriu-se largamente a nós. Não será justo sermos reconhecidos?» (Leão Dehon, OSP 4, p. 603s.).
Oratio
Senhor, quero hoje rezar-te com Ângela de Foligno:
«Meu Deus, faz-me digna de conhecer o altíssimo mistério da tua ardente caridade, o mistério profundíssimo da tua Incarnação. Fizeste-te homem por nós. Desta carne começa a vida da nossa eternidade... Ó amor que todo Te dás! Aniquilaste-te a Ti mesmo, desfizeste-te a Ti, para me fazeres a mim; assumiste os farrapos de um servo vilíssimo, para me dares o manto real e a veste divina...
Por isto que entendo, que compreendo com toda mim mesma - que Tu nasceste em mim - sê bendito, ó Senhor! Ó abismo de luz! Toda a luz está em mim, se eu vejo isto, se compreendo isto: que Tu nasceste em mim. Na verdade, esta inteligência é uma meta: a meta da alegria... Ó Deus, não criado, torna-me digna de me afundar neste abismo de amor, de sustentar em mim o ardor da tua caridade. Faz-me digna de compreender a inefável caridade que nos comunicaste quando, por meio da Incarnação, nos manifestas-te Jesus Cristo como teu Filho, quando Jesus Cristo Te manifestou a nós como Pai.
Ó abismo de amor! A alma que Te contempla eleva-se admiravelmente acima da terra, eleva-se acima de si mesma e paira, pacificada, no mar da serenidade».
Contemplatio
S. João é o pregador do amor. Todo o seu evangelho está neste espírito. A sua primeira página é uma elevação de amor para o Verbo incarnado. «Nós vimos, diz, o Filho de Deus cheio de graça e de glória». Só ele descreve as núpcias tocantes de Caná, o colóquio com a Samaritana, a grande promessa da Eucaristia, a parábola do bom Pastor, a ressurreição de Lázaro, o lava-pés e os discursos tão ternos do Bom Mestre durante a Ceia e depois da Ceia. Narra a abertura do Coração de Jesus.
As suas epístolas pregam a caridade: «Deus é caridade... amou-nos primeiro... deu- nos o seu Filho por nosso amor. Portanto, amemo-lo também da nossa parte». E sem cessar repete: «Amemo-nos uns aos outros».
Vivendo junto de Maria e da Eucaristia, caminha para a consumação do amor. Chega à união mística mais intensa com Nosso Senhor, às visões, às revelações. O céu está aberto para ele. Descreve-o inteiramente. Mas sobretudo o Cordeiro triunfante retém o seu olhar: o Cordeiro sempre ferido no Coração e imolado, o Cordeiro que é bem o laço de amor entre Deus e nós.
Avancemos humilde e progressivamente no amor com S. João (Leão Dehon, OSP 3, p. 404s.)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Participamos da plenitude do Verbo; dele recebemos graças sobre graças». (Jo 1, 16).