Week of Jan 2nd

  • Festa da Sagrada Família - Ano B [ATUALIZADO]

    Festa da Sagrada Família - Ano B [ATUALIZADO]

    31 de Dezembro, 2023

    ANO B - FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ

    Tema da Festa da Sagrada Família

    O Deus que se vestiu de menino frágil e se apresentou aos homens no presépio de Belém encontrou abrigo numa família humana, a família de José e de Maria, dois jovens esposos de Nazaré, uma aldeia situada nas colinas da Galileia. Neste domingo, ainda em contexto de celebração do Natal do Senhor, a liturgia convida-nos a olhar para essa Sagrada Família; e propõe-nos que a vejamos como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares.

    O Evangelho leva-nos, com a Sagrada Família, até ao Templo de Jerusalém, onde Jesus vai ser apresentado a Deus, conforme a Lei judaica determinava (cf. Nm 18,15-16). O quadro, profundamente interpelador, mostra uma família fiel e crente, que escuta a Palavra de Deus, que procura concretizá-la na vida e que consagra a Deus os seus membros.

    A segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos dos que vivem “em Cristo” e aceitaram o convite para ser “Homem Novo”. Esse amor deve atingir, de forma muito especial, todos os que connosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.

    A primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais… É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.

     

    LEITURA I – Ben-Sirá 3,3-7.14-17a [versão grega: 3,2-6.12-14] 

    Deus quis honrar os pais nos filhos

    e firmou sobre eles a autoridade da mãe.

    Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados,

    e acumula um tesouro quem honra sua mãe.

    Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos

    e será atendido na sua oração.

    Quem honra seu pai terá longa vida,

    e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe.

    Filho, ampara a velhice do teu pai

    e não o desgostes durante a sua vida.

    Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele

    e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida,

    porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida

    e converter-se-á em desconto dos teus pecados.

     

    CONTEXTO

     

    O Livro de Ben Sirá (chamado, na sua versão grega, “Eclesiástico”) é um livro de carácter sapiencial que, como todos os livros sapienciais, tem por objetivo deixar aos aspirantes a “sábios” indicações práticas sobre a arte de bem viver e de ser feliz. O seu autor é um tal Jesus Ben Sirá, um “sábio” israelita que viveu na primeira metade do séc. II a.C.

    A época de Jesus Ben Sirá é uma época conturbada para o Povo de Deus. Os selêucidas (uma família descendente de Seleuco Nicator, general de Alexandre Magno, que herdou parte do império de Alexandre, o Grande, quando este morreu, em 323 a.C.) dominavam a Palestina e procuravam impor aos judeus, mesmo pela força, a cultura helénica. Muitos judeus, seduzidos pelo brilho da cultura grega, abandonavam os valores tradicionais e a fé dos pais e assumiam comportamentos mais consentâneos com a “modernidade”. A identidade cultural e religiosa do Povo de Deus corria, assim, sérios riscos… Neste contexto, Jesus Ben Sirá, um “sábio” judeu apegado às tradições dos seus antepassados, escreve para preservar as raízes do seu Povo. No seu livro, apresenta uma síntese da religião tradicional e da “sabedoria” de Israel e procura demonstrar que é no respeito pela sua fé, pelos seus valores, pela sua identidade que os judeus podem descobrir o caminho seguro para serem um Povo livre e feliz.

     

    MENSAGEM

     

    O texto apresenta uma série de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas relações com os pais.

    A palavra que preside a este conjunto de conselhos do “sábio” Ben Sirá é a palavra “honrar” (repete-se cinco vezes, nestes poucos versículos). O que é que significa, exatamente, “honrar os pais”?

    A expressão leva-nos ao Decálogo do Sinai (“honra teu pai e tua mãe” – Ex 20,12). Aí, o verbo utilizado é o verbo “kabad”, que costuma traduzir-se como “dar glória”, “dar peso”, “dar importância”. Assim, “honrar os pais” é dar-lhes o devido valor e reconhecer a sua importância; é que eles são os instrumentos de Deus, fonte de vida.

    Ora, reconhecer que os pais são os instrumentos através dos quais Deus concede a vida deve conduzir os filhos à gratidão; e a gratidão não é apenas uma declaração de intenções, mas um sentimento que implica certas atitudes práticas. Jesus Ben Sirá aponta algumas: “honrar os pais” significa ampará-los na velhice e não os desprezar nem abandonar; assisti-los materialmente – sem inventar qualquer desculpa – quando já não podem trabalhar (cf. Mc 7,10-11); não fazer nada que os desgoste; escutá-los, ter em conta as suas orientações e conselhos; ser indulgente para com as limitações que a idade ou a doença trazem…

    Dado o contexto da época em que Ben Sirá escreve, é natural que, por detrás destas indicações aos filhos, esteja também a preocupação com o manter bem vivos os valores tradicionais, esses valores que os mais antigos preservam cuidadosamente e que os mais jovens por vezes, com alguma ligeireza, negligenciam.

    Como recompensa desta atitude de “honrar os pais”, Jesus Ben Sirá promete o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus. Numa altura em que a noção de “vida eterna” ainda não entrou na catequese de Israel, a referida recompensa é vista como a forma de Deus gratificar o comportamento do homem justo, enquanto filho que cumpre os seus deveres para com os pais.

     

    INTERPELAÇÕES

     

    • Os nossos pais foram, em nosso favor, instrumentos do Deus criador. Através deles, Deus chamou-nos à vida. Sentimo-nos gratos aos nossos pais por eles terem aceitado colaborar com Deus, dando-nos vida e cuidando de nós ao longo do caminho que temos vindo a percorrer? Lembramo-nos de lhes demonstrar, com ternura e amor, a nossa gratidão?

     

    • Apesar da sensibilidade moderna aos direitos humanos e à dignidade das pessoas, a nossa civilização cria, com frequência, situações de abandono, de marginalização, de solidão, cujas vítimas são, muitas vezes, aqueles que já não têm uma vida considerada produtiva, ou aqueles a quem a idade ou a doença trouxeram limitações. No entanto, do ponto de vista de Deus, nenhum ser humano é “descartável”, ou estará alguma vez fora do prazo de validade. Não podemos admitir – com a nossa indiferença ou com o nosso silêncio cúmplice – que as pessoas em situação de fragilidade sejam abandonadas na berma da estrada, sempre que o mundo caminha a um ritmo que elas não podem acompanhar. Tenho consciência disto?

     

    • É verdade que a vida de hoje é muito exigente a nível profissional e que nem sempre é possível a um filho estar presente ao lado de um pai que precisa de cuidados continuados ou de acompanhamento especializado. No entanto, se alguma vez as circunstâncias impuserem a necessidade de afastamento de um pai idoso ou descapacitado do ambiente familiar, isso não pode significar abandono e condenação à solidão. Seremos sempre responsáveis por aqueles que cativamos, e ainda mais por aqueles que foram, para nós, instrumentos do Deus criador e fonte de vida.

     

    • O capital de maturidade e de sabedoria de vida que os mais idosos possuem é considerado por nós uma riqueza ou um desafio ridículo à nossa modernidade e às nossas certezas?

     

    • Face à invasão contínua de valores estranhos que, tantas vezes, põem em causa a nossa identidade cultural e religiosa (quando não a nossa humanidade), o que significam os valores que recebemos dos nossos pais? Avaliamos com maturidade a perenidade desses valores, ou estamos dispostos a renegá-los ao primeiro aceno dos “valores da moda”?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127 (128)

     

    Refrão 1:    Felizes os que esperam no Senhor,

                       e seguem os seus caminhos.

     

    Refrão 2:    Ditosos os que temem o Senhor,

                       ditosos os que seguem os seus caminhos.

     

    Feliz de ti, que temes o Senhor

    e andas nos seus caminhos.

    Comerás do trabalho das tuas mãos,

    serás feliz e tudo te correrá bem.

     

    Tua esposa será como videira fecunda

    no íntimo do teu lar;

    teus filhos serão como ramos de oliveira

    ao redor da tua mesa.

     

    Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.

    De Sião te abençoe o Senhor:

    vejas a prosperidade de Jerusalém

    todos os dias da tua vida.

     

    LEITURA II – Colossenses 3, 12-21

     

    Irmãos:

    Como eleitos de Deus, santos e prediletos,

    revesti-vos de sentimentos de misericórdia,

    de bondade, humildade, mansidão e paciência.

    Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente,

    se algum tiver razão de queixa contra outro.

    Tal como o Senhor vos perdoou,

    assim deveis fazer vós também.

    Acima de tudo, revesti-vos da caridade,

    que é o vínculo da perfeição.

    Reine em vossos corações a paz de Cristo,

    à qual fostes chamados para formar um só corpo.

    E vivei em ação de graças.

    Habite em vós com abundância a palavra de Cristo,

    para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros

    com toda a sabedoria;

    e com salmos, hinos e cânticos inspirados,

    cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão.

    E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras,

    seja tudo em nome do Senhor Jesus,

    dando graças, por Ele, a Deus Pai.

    Esposas, sede submissas aos vossos maridos,

    como convém no Senhor.

    Maridos, amai as vossas esposas

    e não as trateis com aspereza.

    Filhos, obedecei em tudo a vossos pais,

    porque isto agrada ao Senhor.

    Pais, não exaspereis os vossos filhos,

    para que não caiam em desânimo.

     

    CONTEXTO

     

    A Igreja de Colossos, destinatária desta carta, foi fundada por Epafras, um amigo de Paulo, pelos anos 56/57. Tanto quanto sabemos, Paulo nunca visitou a comunidade…

    Hoje, não é claro para todos que Paulo tenha escrito esta carta (o vocabulário utilizado e o estilo do autor estão longe das cartas indiscutivelmente paulinas; também a teologia apresenta elementos novos, nunca usados nas outras cartas atribuídas a Paulo); por isso, é um pouco difícil definirmos o ambiente em que este texto apareceu…

    Para os defensores da autoria paulina, contudo, a carta foi escrita quando Paulo estava prisioneiro, possivelmente em Roma (anos 61/63). Epafras teria visitado o apóstolo na prisão e deixado notícias alarmantes: os Colossenses corriam o risco de se afastar da verdade do Evangelho, por causa das doutrinas ensinadas por certos doutores de Colossos. Essas doutrinas misturavam práticas legalistas (o que parece indicar tendências judaizantes) com especulações acerca do culto dos anjos e do seu papel na salvação; exigiam um ascetismo rígido e o cumprimento de certos ritos de iniciação, destinados a comunicar aos crentes um conhecimento mais adequado dos mistérios ocultos e levá-los, através dos vários graus de iniciação, à vivência de uma vida religiosa mais autêntica.

    Sem refutar essas doutrinas de modo direto, o autor da carta afirma a absoluta suficiência de Cristo e assinala o seu lugar proeminente na criação e na redenção dos homens.

    O texto que nos é hoje proposto pertence à segunda parte da carta. Depois de constatar a supremacia de Cristo na criação e na redenção (primeira parte), o autor avisa os Colossenses de que a união com Cristo traz consequências a nível de vivência prática (segunda parte): implica a renúncia ao “homem velho” do egoísmo e do pecado e o “revestir-se do Homem Novo” (Cl 3,9-11).

     

    MENSAGEM

     

    Os filhos e filhas amados de Deus devem imitar o ser de Deus, que lhes foi revelado em Cristo. Cristo, o Filho de Deus que veio ao encontro dos homens, é a referência fundamental à volta da qual se desenrola e se constrói a vida dos discípulos. Quem adere a Cristo e se dispõe a segui-l’O, deve vestir a mesma “roupa” que Cristo vestia – quer dizer, deve apresentar-se no mundo como Ele apresentava, dispor-se a viver ao jeito d’Ele, realizar as obras que Ele realizava.

    O estilo de vida do seguidor de Cristo deve, portanto, estar marcado por atitudes de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência; deve privilegiar, na relação com os irmãos, o perdão, a compreensão, a indulgência… Aquele que está unido a Cristo, que vive “em Cristo”, deve ser capaz de, em todas as circunstâncias, amar sem medida, amar a fundo perdido, amar até ao dom total de si, como Cristo fez.

    Catálogos de exigências semelhantes apareciam também nos discursos éticos dos gregos… O que é novo aqui é a fundamentação: tais exigências resultam da íntima relação do cristão com Cristo; viver “em Cristo” implica viver, como Ele, no amor total, no serviço, na disponibilidade, no dom da vida.

    Uma vez apresentado o ideal da vida cristã nas suas linhas gerais, o autor da carta aplica o que acabou de dizer ao âmbito mais concreto da vida familiar. Às mulheres, recomenda o respeito para com os maridos (a referência à submissão das esposas deve ser vista tendo em conta o contexto e a prática da época); aos maridos, convida a amar as esposas, excluindo qualquer atitude de domínio tirânico sobre elas; aos filhos, recomenda a obediência aos pais; aos pais, com intuição pedagógica, pede que não sejam excessivamente severos para com os filhos, pois isso pode impedir o normal desenvolvimento das suas capacidades e da sua autonomia… Numa palavra, é a “caridade” (“agapê”) – entendida como amor de doação, de entrega, a exemplo de Jesus que amou até ao dom da vida – que deve presidir às relações entre os membros de uma família. Também no espaço familiar se deve manifestar o Homem Novo, o homem transformado por Cristo e que vive segundo Cristo.

     

    INTERPELAÇÕES

     

    • A nossa vida de todos os dias é, a cada instante, marcada por tensões, ansiedades, conflitos e problemas que mexem com o nosso equilíbrio e a nossa harmonia. Perdemos o controlo, tornamo-nos quezilentos e conflituosos, criticamos os outros com palavras que magoam, assumimos poses de arrogância e de superioridade, enchemos as redes sociais com comentários infelizes… Talvez nos faça bem cada dia, em jeito de exame de consciência, reservar um momento para olhar para Jesus e para confrontar os nossos gestos, as nossas palavras, as nossas escolhas com os gestos, as palavras e as suas opções. Esse “confronto” pode ajudar-nos a situar as perspetivas e a recentrar a nossa vida nesse viver “em Cristo” que é a vocação do cristão.

     

    • A nossa primeira responsabilidade vai, evidentemente, para aqueles que connosco partilham, de forma mais chegada, a vida do dia a dia (a nossa família). Esse amor, que deve revestir-nos sempre, traduz-se numa atenção contínua àquele que está ao nosso lado, às suas necessidades e preocupações, às suas alegrias e tristezas, aos seus sorrisos e às suas lágrimas? Traduz-se em gestos sentidos e partilhados de carinho e de ternura? Traduz-se num respeito absoluto pela liberdade e pelo espaço do outro, por deixar o outro crescer sem o sufocar? Traduz-se na vontade de servir o outro, sem nos servirmos dele?

     

    • A expressão “esposas, sede submissas aos vossos maridos” é, evidentemente, uma expressão anacrónica, que deve ser devidamente contextualizada no universo cultural e social do séc. I, mas que hoje não faz sentido. Para os que vivem “em Cristo”, o valor que preside às relações é o amor… E o amor não comporta submissão ou superioridade, mas igualdade fundamental em dignidade e direitos. O mesmo Paulo dirá, noutras circunstâncias, que para os que vivem “em Cristo” “não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher”, porque todos são um só em Cristo Jesus (Gl 3,28). É este o horizonte que deve estar sempre diante dos nossos olhos.

     

    ALELUIA – Colossenses 3,15a.16a

     

    Aleluia. Aleluia.

     

    Reine em vossos corações a paz de Cristo,

    habite em vós a sua palavra.

     

    EVANGELHO – Lucas 2,22-40

     

    Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés,

    Maria e José levaram Jesus a Jerusalém,

    para O apresentarem ao Senhor,

    como está escrito na Lei do Senhor:

    «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor»,

    e para oferecerem em sacrifício

    um par de rolas ou duas pombinhas,

    como se diz na Lei do Senhor.

    Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão,

    homem justo e piedoso,

    que esperava a consolação de Israel;

    e o Espírito Santo estava nele.

    O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria

    antes de ver o Messias do Senhor;

    e veio ao templo, movido pelo Espírito.

    Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino,

    para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito,

    Simeão recebeu-O em seus braços

    e bendisse a Deus, exclamando:

    «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra,

    deixareis ir em paz o vosso servo,

    porque os meus olhos viram a vossa salvação,

    que pusestes ao alcance de todos os povos:

    luz para se revelar às nações

    e glória de Israel, vosso povo».

    O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados

    com o que d’Ele se dizia.

    Simeão abençoou-os

    e disse a Maria, sua Mãe:

    «Este Menino foi estabelecido

    para que muitos caiam ou se levantem em Israel

    e para ser sinal de contradição;

    – e uma espada trespassará a tua alma –

    assim se revelarão os pensamentos de todos os corações».

    Havia também uma profetisa,

    Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser.

    Era de idade muito avançada

    e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela

    e viúva até aos oitenta e quatro.

    Não se afastava do templo,

    servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações.

    Estando presente na mesma ocasião,

    começou também a louvar a Deus

    e a falar acerca do Menino

    a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.

    Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor,

    voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré.

    Entretanto, o Menino crescia,

    tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria.

    E a graça de Deus estava com Ele.

     

    CONTEXTO

     

    O interesse fundamental dos primeiros cristãos não se centrou na infância de Jesus, mas na sua mensagem e proposta; por isso, a catequese cristã dos primeiros tempos interessou-se, de forma especial, por conservar as memórias da vida pública e da paixão do Senhor.

    Só num estádio posterior houve uma certa curiosidade acerca dos primeiros anos da vida de Jesus. Coligiram-se, então, algumas informações históricas sobre a infância de Jesus; e esse material foi, depois, amassado e trabalhado, de forma a transmitir aquilo que a catequese primitiva ensinava sobre Jesus e o seu mistério. O chamado “Evangelho da Infância” (de que faz parte o texto que nos é hoje proposto) assenta nessa base; parte de algumas indicações históricas e desenvolve uma reflexão teológica para explicar quem é Jesus. Nesta secção do Evangelho, Lucas está muito mais interessado em dizer quem é Jesus, do que em contar-nos factos memoráveis da sua infância.

    Lucas propõe-nos, hoje, o quadro da apresentação de Jesus no Templo. Segundo a Lei de Moisés, todos os primogénitos (tanto dos homens como dos animais) pertenciam a Javé e deviam ser oferecidos a Javé (cf. Ex 13,1-2.11-16). O costume de oferecer aos deuses os primogénitos é um costume cananeu que, no entanto, Israel transformou no que dizia respeito aos primogénitos humanos: estes não deviam ser oferecidos em sacrifício, mas resgatados por um animal, que seria imolado ao Senhor.

    De acordo com Lv 12,6-8, quarenta dias após o nascimento de uma criança, esta devia ser apresentada no Templo, onde a mãe oferecia um ritual de purificação. Nessa cerimónia, devia ser oferecido um cordeiro de um ano (para as famílias mais abastadas) ou então duas pombas ou duas rolas (para as famílias de menores recursos). É precisamente neste cenário que o Evangelho de hoje nos situa.

     

    MENSAGEM

     

    A cena da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém apresenta uma catequese bem amadurecida e bem refletida, que procura dizer quem é Jesus e qual a sua missão no mundo.

    Antes de mais, o autor sublinha repetidamente a fidelidade da família de Jesus à Lei do Senhor (vers. 22.23.24), como se quisesse deixar claro que Jesus, desde o início da sua caminhada entre os homens, viveu na escrupulosa fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. A missão de Jesus no mundo passa por aí – pelo cumprimento rigoroso da vontade e do projeto do Pai.

    No Templo, duas personagens acolhem Jesus: Simeão e Ana. Eles representam esse Israel fiel que espera ansiosamente a sua libertação e a restauração do reinado de Deus sobre o seu Povo.

    De Simeão diz-se que era um homem “justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel” (vers. 25). As palavras e os gestos de Simeão são particularmente sugestivos… Simeão toma Jesus nos braços e apresenta-O ao mundo, definindo-O como “a salvação” que Deus quer oferecer “a todos os povos”, “luz para se revelar às nações e glória de Israel” (vers. 28-32). Jesus é, assim, reconhecido pelo Israel fiel como esse Messias libertador e salvador, a quem Deus enviou – não só ao seu povo, mas a todos os povos da terra. Aqui desponta um tema muito querido a Lucas: o da universalidade da salvação de Deus… Deus não tem já um Povo eleito, mas a sua salvação é para todos os povos, independentemente da sua raça, da sua cultura, das suas fronteiras, dos seus esquemas religiosos. As palavras que Simeão dirige a Maria (“este menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; e uma espada trespassará a tua alma” – vers. 34-35) aludem, provavelmente, à divisão que a proposta de Jesus provocará em Israel e ao resultado dessa divisão – o drama da cruz.

    Ana é também uma figura do Israel pobre e sofredor (“viúva”), que se manteve fiel a Javé (não se voltou a casar, após a morte do marido – vers. 37), que espera a salvação de Deus. Depois de reconhecer em Jesus a salvação anunciada por Deus, ela “falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (vers. 38). A palavra utilizada por Lucas para falar de libertação é a palavra grega “lustrosis” (“resgate”), utilizada no Êxodo para falar da libertação da escravidão do Egipto (cf. Ex 13,13-15; 34,20; Nm 18,15-16). Jesus é, assim, apresentado por Lucas como o Messias libertador, que vai conduzir o seu Povo do domínio da escravidão para o domínio da liberdade. A apresentação no Templo de um primogénito celebrava precisamente a libertação do Egipto e a passagem da escravidão para a liberdade (cf. Ex 13,11-16).

    O texto termina com uma referência ao resto da infância de Jesus e ao crescimento do menino em “sabedoria” e “graça”. Trata-se de atributos que lhe vêm do Pai e que atestam, portanto, a sua divindade (vers. 40).

     

    INTERPELAÇÕES

     

    • Lucas apresenta-nos uma família – a Sagrada Família – em que Deus é a referência fundamental. Por quatro vezes (vers. 22.23.24.27), Lucas refere, a propósito da família de Jesus, o cumprimento da Lei de Moisés, da Lei do Senhor ou da Palavra do Senhor. A família de Jesus, Maria e José é, portanto, uma família que escuta a Palavra de Deus e que constrói a sua existência ao ritmo da Palavra de Deus e dos desafios de Deus. Maria e José sabiam que uma família que escuta a Palavra de Deus e que procura responder aos desafios postos por essa Palavra é uma família com um projeto de vida com sentido; e sabiam que uma família que se deixa guiar pela Palavra de Deus é uma família que se constrói sobre a rocha firme dos valores eternos. Que importância é que Deus assume na vida das nossas famílias? Procuramos que cada membro das nossas famílias cresça numa progressiva sensibilidade à Palavra de Deus e aos desafios de Deus? Encontramos tempo para reunir a família à volta da Palavra de Deus e para partilhar, em família, a Palavra de Deus?

     

    • Quando numa família Deus “conta”, os valores de Deus passam a ser, para todos os membros daquela comunidade familiar, as marcas que definem o sentido da existência. O espaço familiar torna-se, então, a escola onde se aprende o amor, a solidariedade, a partilha, o serviço, o diálogo, o respeito, o cuidado, o perdão, a fraternidade universal, o cuidado da criação, a atenção aos mais frágeis, o sentido do compromisso, do sacrifício, da entrega e da doação… São esses valores – os valores de Deus – que procuramos cultivar na nossa comunidade familiar?

     

    • Segundo a Lei judaica, todo o primogénito devia ser consagrado e dedicado ao Senhor. Também Jesus é apresentado no Templo e consagrado ao Senhor. Nas nossas famílias cristãs há normalmente uma legítima preocupação com o proporcionar a cada criança condições ótimas de vida, de educação, de acesso à instrução e aos cuidados essenciais… Haverá sempre uma preocupação semelhante no que diz respeito à formação para a fé e em proporcionar aos filhos uma verdadeira educação para a vida cristã e para os valores de Jesus Cristo? Os pais cristãos preocupam-se sempre em proporcionar aos seus filhos um exemplo de coerência com os compromissos assumidos no dia do Batismo? Preocupam-se em ser os primeiros catequistas dos próprios filhos, transmitindo-lhes os valores do Evangelho? Preocupam-se em acompanhar e em potenciar a formação e a caminhada catequética dos próprios filhos, em inseri-los numa comunidade de fé, em integrá-los na família de Jesus, em consagrá-los ao serviço de Deus?

     

    • Simeão e Ana, os dois anciãos que acolhem Jesus no Templo de Jerusalém, não são pessoas desiludidas da vida, que vivem voltadas para o passado sonhando com um tempo ideal que já não volta; mas são pessoas voltadas para o futuro, atentas ao Deus libertador que vem ao seu encontro, que sabem ler os sinais de Deus naquele menino que chega e que testemunham diante dos seus conterrâneos a presença salvadora e redentora de Deus no meio do seu Povo. Os anciãos – quer pela sua maturidade, sabedoria e equilíbrio, quer pelo tempo de que normalmente dispõem – podem ser testemunhas privilegiadas dos valores de Deus, intérpretes dos sinais de Deus, profetas credíveis que obrigam o mundo a confrontar-se com os desafios de Deus. É preciso que não vivam voltados para o passado, refugiados numa realidade que aliena, transformados em “estátuas de sal”, mas que vivam de olhos postos no futuro, de espírito aberto e livre, pondo a sua sabedoria e experiência ao serviço da comunidade humana e cristã, ensinando os mais jovens a distinguir entre o que é eterno e importante e o que é passageiro e acessório.

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA SAGRADA FAMÍLIA

    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

     

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Sagrada Família, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

     

    1. PALAVRA DE VIDA.

    Rosto de Deus, de Cristo e da Igreja… Filhos da Aliança, do Deus da promessa e da fidelidade, José e Maria acreditam, apresentam o seu Filho ao Senhor: mistério de glória e de dor, na profecia do velho Simeão; acreditam que só na fé total e forte podem reconhecer a luz do mundo. Com Simeão, a Igreja anuncia Cristo àqueles que lhe são próximos. Com Ana, a profetisa, a Igreja anuncia a libertação aos que esperam, àqueles que estão longe; ela desperta neles o desejo de conhecer Cristo. É neste desejo que a nossa fé ganha raiz…

     

    1. UM PONTO DE ATENÇÃO.

    No ambiente do tempo de Natal, este domingo será uma ocasião para preparar uma celebração simples e sóbria, em ligação com o maior número possível de famílias. Pode-se implicar mais ativamente as crianças na participação: começar o hino de Glória com vozes e instrumentos de percussão; acompanhar algumas estrofes do Salmo através de gestos preparados; ficar junto ao ambão durante a leitura do Evangelho; preparar e ler algumas intenções da oração dos fiéis; participar na procissão das oferendas; ficar à volta do altar durante o Pai Nosso até à comunhão… Pela atenção às crianças nalguns momentos da celebração, valorizar o sentido de família onde todos têm papel ativo, seja qual for a idade…

     

    1. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

    Nas palavras de envio ou de despedida da celebração, retomar as palavras do velho Simeão: “Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos…” Iluminadas pela Palavra de Deus e alimentadas pelo seu Pão, as famílias humanas são convidadas a retomar o caminho do quotidiano…

     

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS

    Proposta para Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

     

  • Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus - Ano B [atualizado]

    Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus - Ano B [atualizado]

    1 de Janeiro, 2024

    ANO B

    SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS

    Dia Mundial da Paz

    Tema da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus

     

    Oito dias depois da celebração do Natal de Jesus, a liturgia convida-nos a olhar para Maria, a mãe de Deus (“Theotókos”), solenemente designada com este título no Concílio de Éfeso, em 431. Com o seu “sim” tornou possível a presença de Jesus nas nossas vidas e no nosso mundo.

    Mas este dia é também o primeiro dia do ano civil: é o início de uma caminhada que queremos percorrer de mãos dadas com esse Deus que nos ama, que nos abençoa e que conduzirá os nossos passos, com cuidado de Pai, ao longo deste Ano Novo.

    Também celebramos o Dia Mundial da Paz: em 1968, o Papa Paulo VI propôs aos homens de boa vontade que, no primeiro dia de cada novo ano, se rezasse pela paz no mundo. Hoje, portanto, pedimos a Deus que nos dê a paz e que faça de cada um de nós testemunha e arauto da reconciliação e da paz.

    As leituras que a liturgia deste dia nos propõe abraçam esta diversidade de temas e de evocações.

    A primeira leitura oferece-nos, através de uma antiga fórmula de bênção, a certeza da presença contínua de Deus ao nosso lado nos caminhos que percorremos todo os dias. Ele será sempre para nós fonte de Vida e de paz.

    Na segunda leitura evoca-se o amor e o cuidado de Deus, mil vezes manifestados na história dos homens. Ele enviou o seu Jesus ao nosso encontro para nos libertar da escravidão e para nos tornar seus “filhos”. É nessa situação privilegiada de “filhos” livres e amados que podemos dirigir-nos a Deus e chamar-lhe “abbá” (“papá”).

    O Evangelho mostra como a presença de Deus na nossa história é fonte de alegria e de esperança para todos os homens e mulheres, mas particularmente para os pobres e os marginalizados. Sugere ainda que Maria, a mãe de Jesus, é o modelo do crente que, em silêncio e sem espalhafato, acolhe as propostas de Deus, guarda-as no coração e deixa-se guiar por elas.

     

    LEITURA I – Números 6,22-27

    O Senhor disse a Moisés:
    «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes:
    Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo:
    ‘O Senhor te abençoe e te proteja.
    O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face
    e te seja favorável.
    O Senhor volte para ti os seus olhos
    e te conceda a paz’.
    Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel,
    e Eu os abençoarei».

     

    CONTEXTO

    O texto situa-nos no Sinai, frente à montanha onde se celebrou a aliança entre Deus e o seu Povo… No contexto das últimas instruções de Javé a Moisés, antes de Israel levantar o acampamento e iniciar a caminhada em direcção à Terra Prometida, é apresentada uma fórmula de bênção, que os “filhos de Aarão” (sacerdotes) deviam pronunciar sobre a comunidade.

    Provavelmente trata-se de uma fórmula litúrgica utilizada no Templo de Jerusalém para abençoar a comunidade, no final das celebrações litúrgicas, antes de o Povo regressar a suas casas… Essa bênção é aqui apresentada como um dom de Deus, no Sinai.

    A “bênção” (“beraka”) é concebida, no universo dos povos semitas, como uma comunicação de vida, real e eficaz, que atinge o “abençoado” e que lhe transmite vigor, força, êxito, felicidade. É um dom que, uma vez pronunciado, não pode ser retirado nem anulado. Aqui, essa comunicação de vida – fruto da generosidade e do amor de Deus – derrama-se sobre os membros da comunidade por intermédio dos sacerdotes (no Antigo Testamento, os intermediários entre o mundo de Javé e a comunidade israelita).

     

    MENSAGEM

    Esta “bênção” apresenta-se numa tríplice fórmula, sempre em crescendo (no texto hebraico, a primeira afirmação tem três palavras; a segunda, cinco; a terceira, sete). Em cada uma das fórmulas, é pronunciado o nome de Javé… Ora, pronunciar três vezes o nome do Deus da aliança é dar uma nova atualidade à aliança, às suas promessas e às suas exigências; é lembrar aos israelitas que é do Deus da Aliança que recebem a vida nas suas múltiplas manifestações e que tudo é um dom de Deus.

    A cada uma das invocações, correspondem dois pedidos de bênção: “que Javé te abençoe (isto é, que te comunique a sua vida) e te proteja”; “que Javé faça brilhar sobre ti a sua face (hebraísmo que se pode traduzir como ‘que te mostre um rosto sorridente e favorável’) e te conceda a sua graça”; que Javé dirija para ti o seu olhar (hebraísmo que significa ‘olhe para ti com benevolência’, ‘te acolha’) e te conceda a paz” (em hebraico, ‘shalom’ – no sentido de bem-estar, harmonia, felicidade plena).

    Este texto lembra ao israelita que tudo é um dom do amor de Javé e que o Deus da aliança está ao lado do seu Povo em cada dia e em cada passo do caminho, oferecendo-lhe a Vida plena e a felicidade em abundância.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Temos à nossa frente um novo ano. Não sabemos, para já, o que ele nos trará… Provavelmente conheceremos, nesta nova etapa, as vicissitudes que são inerentes à nossa condição humana: alegrias e tristezas, esperanças e desilusões, encantos e desencantos, momentos de festa e momentos de desânimo… Mas, no meio de tudo isso, de uma coisa podemos estar seguros: não caminhamos sozinhos, abandonados à nossa sorte. Esse Deus que conduz a história dos homens, que nos criou com amor e que sempre se interessou pela nossa vida e pela nossa história, vai continuar a olhar para nós com o olhar terno de um Pai e o sorriso amoroso de uma Mãe; vai, em cada dia, consolar o nosso coração e guiar-nos em direção à Vida. Esta certeza deve acompanhar-nos em cada passo deste caminho que hoje começa.
    • É de Deus que tudo recebemos: vida, saúde, força, amor e aquelas mil e uma pequeninas coisas que enchem a nossa vida e que nos dão instantes plenos. Tendo consciência dessa presença contínua de Deus ao nosso lado, do seu amor e do seu cuidado, somos gratos por isso? No nosso diálogo com Ele, sentimos a necessidade de O louvar e de Lhe agradecer por tudo o que Ele nos oferece? Agradecemos todos os dons que Ele derramou sobre nós no ano que acaba de terminar?
    • A “bênção” de Deus de que fala este texto do livro dos Números não cai do céu como uma chuva mágica que transforma toda a nossa vida, quer queiramos quer não. A oferta de vida que Deus nos faz, para ter efeitos práticos na nossa vida, tem de ser acolhida com amor e gratidão. Temos de estar disponíveis para acolher os dons de Deus e para nos deixarmos transformar por Ele. Temos de dar ouvidos a Deus, temos de acolher as suas indicações, desafios e propostas; e então, efetivamente, trilharemos caminhos de Vida nova, de felicidade e de paz.

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)

     Refrão: Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção.

    Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
    resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
    Na terra se conhecerão os seus caminhos
    e entre os povos a sua salvação.

    Alegrem-se e exultem as nações,
    porque julgais os povos com justiça
    e governais as nações sobre a terra.

     

    Os povos Vos louvem, ó Deus,
    todos os povos Vos louvem.
    Deus nos dê a sua bênção,
    e chegue o seu temor aos confins da terra.

     

    LEITURA II – Gálatas 4,4-7

    Irmãos:
    Quando chegou a plenitude dos tempos,
    Deus enviou o seu Filho,
    nascido de uma mulher e sujeito à Lei,
    para resgatar os que estavam sujeitos à Lei
    e nos tornar seus filhos adotivos.
    E porque sois filhos,
    Deus enviou aos nossos corações
    o Espírito de seu Filho, que clama:
    «Abbá! Pai!»
    Assim, já não és escravo, mas filho.
    E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.

     

    CONTEXTO

    Entre as comunidades cristãs do norte da Galácia manifestou-se, pelos anos 55/56, uma grave crise… À região gálata chegaram pregadores cristãos de origem judaica, que punham em causa a validade e a legitimidade do Evangelho anunciado por Paulo. Este era acusado de pregar um Evangelho mutilado, distante do Evangelho pregado pelos apóstolos de Jerusalém… Para estes pregadores (“judaizantes”), a fé em Cristo devia ser complementada pelo cumprimento rigoroso da Lei de Moisés, nomeadamente pelo rito da circuncisão.

    Paulo foi avisado da situação quando estava em Éfeso. Não o preocupava que a sua pessoa fosse posta em causa; preocupava-o o dano que este tipo de discurso podia trazer às comunidades cristãs… Paulo estava convencido que o movimento religioso iniciado por Jesus de Nazaré não era uma religião formalista e ritual, uma religião de práticas exteriores, como o judaísmo farisaico do seu tempo, que se preocupava com questões formais e secundárias; além disso, estava convencido de que a salvação não tinha a ver com conquistas humanas, como se a salvação fosse conseguida à custa dos atos heroicos do homem, mas era um dom de Deus.

    Alarmado pela gravidade da situação, Paulo escreveu aos gálatas. Com alguma dureza justificada pela gravidade do problema, Paulo diz-lhes que o cristianismo é liberdade e que a ação de Cristo libertou os homens da escravidão da Lei… Os gálatas devem, portanto, fazer a sua escolha: pela escravidão, ou pela liberdade; no entanto – não deixa de observar Paulo – é uma estupidez ter experimentado a liberdade e querer voltar à escravidão…

    No texto que nos é proposto, Paulo recorda aos gálatas a encarnação de Cristo e o objetivo da sua vinda ao mundo: fazer dos que a Ele aderem “filhos de Deus” livres.

     

    MENSAGEM

    Paulo recorda aqui aos gálatas algo de fundamental: Cristo veio a este mundo para libertá-los, definitivamente, do jugo da Lei; a consequência da ação redentora de Cristo é que os homens deixaram de ser escravos e passaram a ser “filhos” que partilham a vida de Deus.

    A palavra-chave é, aqui, a palavra “filho”, aplicada tanto a Cristo como aos cristãos. Cristo, o “Filho”, foi enviado ao mundo pelo Pai com uma missão concreta: libertar os homens de uma religião de ritos estéreis e inúteis, que não potenciava o encontro entre Deus e os homens; e Cristo, identificando os homens com Ele, levou-os a um novo tipo de relacionamento com Deus e fê-los “filhos” de Deus. Por ação de Cristo, os homens deixaram de ser escravos (que cumprem obrigatoriamente regras e leis) e passaram a relacionar-se com Deus como “filhos” livres e amados, herdeiros com Cristo da vida eterna. Depois desta “promoção”, fará algum sentido querer voltar a ser escravo da religião das leis e dos ritos?

    A nova situação dos homens dá-lhes o direito de chamar a Deus “abbá” (“papá”). Paulo utiliza esta palavra aqui (bem como na Carta aos Romanos), apesar de os judeus nunca designarem Deus desta forma. Ela expressa uma relação muito próxima, muito íntima, do género daquela que uma criança tem com o seu pai: exprime a confiança absoluta, a entrega total, o amor sem limites. A insistência de Paulo nesta palavra deve ter a ver com o Jesus histórico: Jesus adotou-a para expressar a sua confiança filial em Deus e a sua entrega total à sua causa. Ora, é este tipo de relação que os cristãos, identificados com Cristo, são convidados a estabelecer com Deus.

    Gl 4,4 é o único lugar, nos escritos paulinos, em que o apóstolo se refere à mãe de Jesus; “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher”. De facto, nesta passagem Paulo parece mais interessado em sublinhar a solidariedade de Cristo com o género humano do que em deter-se na figura de Nossa Senhora. No entanto, nesta afirmação breve e densa, aparece, na sua plenitude, a glorificação de Maria como Mãe de Jesus. Pelo seu “sim” a Deus, ela tornou possível a presença do Filho de Deus na nossa história. Temos, nós também, a possibilidade de ser “filhos de Deus” porque Maria ousou dizer “sim” ao projeto de Deus.

     

    INTERPELAÇÕES

    • A experiência cristã é fundamentalmente uma experiência de encontro com um Deus que é “abbá” – isto é, que é um “papá” muito próximo, com quem nos identificamos, a quem amamos, a quem nos entregamos e em quem confiamos plenamente. Era assim que Jesus sentia Deus e foi essa experiência de Deus que Ele nos comunicou. É esta proximidade libertadora e confiante que temos com o nosso Deus? É esse o testemunho que procuramos transmitir a todos aqueles que nos questionam sobre a nossa fé?
    • Paulo dá a entender que o essencial, na experiência cristã, não é o cumprimento de regras e obrigações, mas sim a nossa identificação com esse Deus bom que olha para nós com a ternura e o amor de um Pai muito querido. Às vezes, no entanto, na nossa experiência de fé, privilegiamos o cumprimento de ritos externos e de tradições vazias e estéreis. Podemos, nesse caso, estar a perder a oportunidade de viver algo de marcante e transformador: a experiência gozosa de nos sentirmos filhos livres de um Deus que nos ama.
    • A constatação de que somos “filhos” de Deus leva-nos a uma outra constatação fundamental: estamos unidos a todos os outros homens – “filhos” de Deus como nós – por laços fraternos. É a mesma vida de Deus que circula em todos nós… O que é que esta constatação implica, em termos concretos? A que é que ela nos obriga? Faz algum sentido marginalizar os nossos irmãos por causa da sua raça, estatuto social, ideologia, ou qualquer outra diferença? Sentimos que aquilo que acontece aos outros nossos irmãos – de bom ou de mau – é algo que nos diz respeito? Sentimo-nos responsáveis por cada pessoa que Deus colocou no nosso caminho?

     

    ALELUIA – Hebreus 1,1-2

    Aleluia. Aleluia.

    Muitas vezes e de muitos modos
    falou Deus antigamente aos nossos pais pelos Profetas.
    Nestes dias, que são os últimos,
    Deus falou-nos por seu Filho.

     

    EVANGELHO – Lucas 2,16-21

    Naquele tempo,
    os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém
    e encontraram Maria, José
    e o Menino deitado na manjedoura.
    Quando O viram, começaram a contar
    o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino.
    E todos os que ouviam
    admiravam-se do que os pastores diziam.
    Maria conservava todas estas palavras,
    meditando-as em seu coração.
    Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus
    por tudo o que tinham ouvido e visto,
    como lhes tinha sido anunciado.
    Quando se completaram os oito dias
    para o Menino ser circuncidado,
    deram-Lhe o nome de Jesus,
    indicado pelo Anjo,
    antes de ter sido concebido no seio materno.

     

    CONTEXTO

    O texto do Evangelho que a liturgia nos oferece neste primeiro dia do ano é a continuação daquele que foi lido na noite de Natal: uns pastores que escutaram o anúncio do nascimento de Jesus dirigiram-se a Belém e encontraram o Menino, deitado numa manjedoura de uma gruta onde os animais se acolhiam para passar a noite.

    Continuamos no domínio do chamado “Evangelho da Infância de Jesus”. O objetivo do evangelista não é fornecer-nos um relato de acontecimentos reais que rodearam o nacimento de Jesus, mas sim oferecer-nos uma catequese sobre a identidade do Menino do presépio e a missão de que ele foi investido por Deus.

    Os pastores – personagens centrais no evangelho deste dia – eram, de acordo com a mentalidade da época, pessoas pouco recomendáveis. A literatura rabínica descreve-os como gente violenta, ignorante e desonesta, que levava os rebanhos para propriedades alheias e roubava parte dos produtos que o rebanho proporcionava. Eram também vistos como pessoas que não praticavam os preceitos da Lei de Deus. Pertenciam à categoria dos pobres e marginalizados, que viviam à margem da comunidade do Povo santo de Deus. Para Lucas, contudo, os pastores são destinatários privilegiados da proposta que o Menino de Belém vem trazer ao mundo e aos homens. É uma ideia muito cara a Lucas: a opção preferencial de Deus vai para os pequenos, os pobres, os desprezados, aqueles que a vida maltrata e a sociedade despreza.

     

    MENSAGEM

    Com a chegada de Jesus, atingimos o âmago do projeto salvífico de Deus… Naquele Menino do presépio de Belém, a proposta libertadora que Deus tinha para nos oferecer veio ao nosso encontro e materializou-se no meio dos homens. Aliás, o próprio nome que foi dado ao Menino, por indicação do anjo que anunciou o seu nascimento, aponta nesse sentido (“Jesus” significa “Javé salva”). O Menino do presépio é o “Salvador”, “o Messias Senhor”.

    O que parece estranho é que a “boa notícia” da chegada de “um Salvador”, seja dada, em primeira mão, a gente improvável: esses pastores que a sociedade palestina tinha em tão pouca consideração e considerava longe de Deus. Lucas está a afirmar, dessa forma, que a proposta libertadora que Jesus traz se destina de forma especial aos pobres e marginalizados, àqueles que a teologia oficial excluía e condenava. Deus aproxima-se deles em primeiro lugar para nos dizer que os mais desgraçados, os mais abandonados, os mais esquecidos têm um lugar privilegiado no seu coração de Pai e de Mãe.

    No texto evangélico que a liturgia deste dia nos propõe, Lucas compraz-se em descrever a forma como os pastores respondem à chegada de Jesus, o Salvador. Diz-nos, em primeiro lugar, que eles, depois de escutarem a “boa nova” do nascimento do libertador, se dirigem “apressadamente” ao encontro do Menino. A palavra “apressadamente” sublinha a ânsia com que os pobres e os marginalizados esperam a ação libertadora de Deus em seu favor. Aqueles que vivem numa situação intolerável de sofrimento e de opressão reconhecem Jesus como o único Salvador e apressam-se a ir ao seu encontro. É d’Ele e de mais ninguém que brota a libertação por que os oprimidos anseiam. A disponibilidade de coração para acolher a sua proposta é a primeira coisa que Deus pede.

    Em segundo lugar, Lucas descreve a forma como os pastores reagem ao encontro com Jesus. Começam por glorificar e louvar a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido: é a alegria pela libertação que se converte em ação de graças ao Deus libertador. Depois, esse louvor torna-se testemunho: quem faz a experiência do encontro com o Deus libertador tem obrigatoriamente de dar testemunho, a fim de que os outros homens possam participar da mesma experiência gratificante.

    Neste dia em que celebramos a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, devemos reparar também na atitude de Maria: ela “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” – diz Lucas. Maria mantém-se em silêncio, mas escuta, guarda e medita… Atenta, ela lê os sinais da presença amorosa de Deus na história dos homens, acolhe no seu coração os projetos de Deus, procura entender os acontecimentos maravilhosos que testemunha e acomodar a sua vida aos desafios de Deus.

    A atitude meditativa de Maria, que interioriza e aprofunda os acontecimentos, complementa a atitude “missionária” dos pastores, que testemunham com exuberância a ação salvadora de Deus expressa na Encarnação do Menino de Belém. Estas duas atitudes definem as coordenadas essenciais daquilo que deve ser a existência do crente.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Naquele Menino frágil que os pastores encontram deitado numa manjedoura de uma gruta de Belém, Deus desce à nossa história e abraça a nossa frágil humanidade. Ele traz-nos a salvação e a paz. Não sejamos insensatos a ponto de colocar a nossa esperança de salvação nas ideologias, na clarividência dos líderes, no poder do dinheiro, na força das armas, na embriaguez dos aplausos. A salvação verdadeira vem de Jesus e da proposta irrecusável que Ele nos trouxe. Hoje, ao olhar para o Menino do presépio, podemos decidir-nos a viajar com Ele e a fazer dele a nossa referência; hoje, ao contemplar o Deus que se vestiu de fragilidade para nos apontar caminhos novos de realização e de plenitude, podemos decidir-nos por uma vida mais digna, mais fraterna, mais solidária. Estamos disponíveis, neste Ano Novo, para um novo começo, com Jesus?
    • É bem singular a lógica de Deus na sua aproximação ao mundo e aos homens… Ele não apresenta o seu “cartão de visita” aos poderosos e influentes, mas sim a uns pobres pastores de fama duvidosa. Os que estão em primeiro lugar, no coração paterno e materno de Deus, são aqueles filhos que mais necessitam de ternura e de amor. No nosso mundo aumenta todos os dias o imenso cortejo dos homens e mulheres descartáveis, para os quais não há lugar à mesa da dignidade e da abundância; a cada instante há mais irmãos nossos arrumados em campos de refugiados, sem perspetivas nem futuro; a cada passo há mais seres humanos esquecidos e desamparados, sem cuidados e sem amor. Nós, os que conhecemos a lógica de Deus e do seu amor seremos peças desta engrenagem de indiferença e de sofrimento? Podemos aceitar que o mundo se construa deste jeito? Que podemos fazer pelos nossos irmãos e irmãs que não têm vez, nem voz, nem direitos, nem vida?
    • Os pastores, maravilhados pela “boa notícia” da chegada da salvação e da paz, reagiram com o louvor e a ação de graças. Sabemos ser gratos ao nosso Deus pelos seus dons, pelo seu cuidado, pelo seu amor, pelo seu empenho em nos libertar da escravidão e em nos ensinar os caminhos da paz?
    • Os pastores, tocados pelo projeto libertador de Deus, tornaram-se “testemunhas” desse projeto. Sentimos também o imperativo do testemunho? Temos consciência de que a experiência da libertação é para ser passada aos nossos irmãos que ainda a desconhecem?
    • Maria, a mãe de Jesus, guardava todas estas coisas “e meditava-as no seu coração”. Guardava-as porque não é possível olvidar os gestos incríveis que traduzem o amor e a bondade de Deus pelos seus filhos e filhas; meditava-as porque queria percebê-las plenamente e conformar a sua vida com o projeto de Deus. No meio da agitação, do ruído, das correrias destes dias, temos conseguido reservar momentos para guardar, meditar e tirar conclusões desta história extraordinária que é Deus vir ao encontro dos homens para lhes oferecer a salvação e a paz?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS
    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior à Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

     

    2. PALAVRA DE VIDA.

    Existe melhor cumprimento que dizer a uma mãe: “o seu filho é parecido consigo?” Maria preferia seguramente que lhe dissessem: “É parecida com o seu Filho!” Na Anunciação, ao dizer “faça-se segundo a tua Palavra”, Maria falava a língua do seu Filho que afirmará: “Eu vim para fazer a vontade de meu Pai!” Ao cantar o Magnificat, Maria rezava como o seu Filho Jesus que exclamará: “Pai, Eu te dou graças, porque escondeste estas coisas aos sábios e as revelaste aos mais pequeninos!” Pela sua atenção aos esposos de Canaã, Maria levava o olhar do seu Filho Jesus às pessoas que terão necessidade de salvação. Ao pé da cruz, Maria sentia os sofrimentos do seu Filho que dava a maior prova de amor. A sua oração com os apóstolos na manhã de Pentecostes juntava-se ao dom do Espírito concedido pelo seu Filho à sua Igreja. Decididamente, Maria assemelha-se bem ao seu Filho e, assim, a Deus de quem ela é Mãe.

     

    3. UM PONTO DE ATENÇÃO.

    Desenvolver a oração universal… Visto que é o primeiro domingo do ano, fazer da oração de intercessão (a oração universal) um momento de memória. Pode-se recordar juntos os acontecimentos importantes do ano decorrido. Podem ser evocados, quer para dizer obrigado ao Senhor se foram sinais ou portadores de fraternidade, de paz e de partilha, quer para pedir perdão quando provocaram violência, ódio e injustiça no mundo. No final desta oração, pode-se ler o texto da antiga segunda leitura (Col 3,12-19), apresentando-o como um convite feito a cada um para praticar as virtudes evangélicas.

     

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

    Com Maria, aprender a contemplar e bendizer… Voltemo-nos para Maria que festejamos hoje. Maria, nosso modelo e nossa Mãe. Maria não cessou de “dizer bem”, ela era incapaz de “dizer mal”! Maria dizia bem, sem cessar, ela louvava Deus, ela bendizia-O no seu Magnificat. E mesmo sem compreender, Maria tinha confiança. Maria ensina-nos a contemplar e a bendizer: por ela, com ela, desejemos um ano em que saibamos contemplar a obra de Deus e bendizê-l’O.

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS

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    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
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    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
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  • São Basílio Magno e São Gregório Nanzianzeno

    São Basílio Magno e São Gregório Nanzianzeno


    2 de Janeiro, 2024

    Basílio de Cesareia (329-379) nasceu duma família profundamente cristã, na Capadócia, região da atual Turquia. Com o seu irmão, Gregório de Nissa e o amigo Gregório de Nazianzo, forma o grupo dos chamados "Padres Capadócios", que tiveram importante papel na divulgação da doutrina do Concílio de Niceia sobre a Santíssima Trindade.

    Basílio e o seu irmão receberam esmerada educação. Durante a sua formação humanista, em Atenas, estabeleceram uma grande amizade com Gregório de Nazianzo. Juntos iniciaram uma nova forma de vida monástica, o chamado monaquismo basiliano, que continua a ser vivido sobretudo no Oriente.

    Basílio, ordenado sacerdote e bispo, distinguiu-se pelas suas obras caritativas e pelo esplendor que deu ao culto divino. Deixou-nos preciosas obras teológicas, espirituais e homiléticas.

    Gregório de Nazianzo (330-390) nasceu igualmente de uma família cristã piedosa. A sua mãe ofereceu-o ao Senhor, tendo-lhe proporcionado uma boa educação, que o levou a ser reitor e a ser proposto para altos cargos civis. Com os seus amigos, Basílio e Gregório de Nissa, abandonou o mundo para se tornar monge. Já sacerdote, foi nomeado bispo de Constantinopla (381), permanecendo sobretudo um místico, cantor apaixonado da SS. Trindade. Os seus escritos revelam a sua experiência e inteligência do mistério de Cristo. Foi chamado "o teólogo".

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Coríntios 2, 10b-16

    Irmãos: o Espírito tudo penetra, até as profundidades de Deus. 11Quem, de entre os homens, conhece o que há no homem, senão o espírito do homem que nele habita? Assim também, as coisas que são de Deus, ninguém as conhece, a não ser o Espírito de Deus. 12Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para podermos conhecer os dons da graça de Deus. 13E deles não falamos com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito inspira, falando de realidades espirituais em termos espirituais. 14O homem terreno não aceita o que vem do Espírito de Deus, pois é uma loucura para ele. Não o pode compreender, pois só de modo espiritual pode ser avaliado. 15Pelo contrário, o homem espiritual julga todas as coisas e a ele ninguém o pode julgar. 16Pois quem conheceu o pensamento do Senhor, para poder instruí-lo? Mas nós temos o pensamento de Cristo.
    Paulo justifica o seu ministério afirmando que recebeu o Espírito que vem de Deus (cf. v. 12). Só o Espírito de Deus nos torna "homens espirituais", capazes de conhecer os mistérios divinos e nos dá uma mentalidade conforme ao "pensamento do Senhor" (v. 16). O homem terreno, isto é, aquele que apenas possui o espírito do mundo e se deixa conduzir por ele, não pode compreender as coisas do Espírito e aceitar a "loucura" da mensagem evangélica, que culmina na Cruz. S. Basílio e S. Gregório, como todos os santos, deixaram-se fascinar por Cristo, assumiram o seu modo de pensar e viveram em conformidade com ele. Tornaram-se, assim, verdadeiros homens espirituais, capazes de julgar todas as coisas.

    Evangelho: Mateus 5, 13-16

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. 14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; 15nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. 16Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.»

    Depois de proclamar as Bem-aventuranças, Mateus apresenta dois provérbios em forma de parábola que definem a missão dos discípulos: ser sal e luz. Tal como o sal e a luz influem sobre os alimentos e sobre as realidades terrenas, assim os discípulos de Cristo devem influir sobre o mundo, ajudando-o a descobrir o sentido da vida, para que não seja enganado pelas suas tendências e aspirações rasteiras. Como o sal, os discípulos hão-de dar sabor à humanidade e preservá-la da corrupção. Como a luz, hão-de ser para o mundo um raio do esplendor da glória de Deus. Tudo isso acontece quando os discípulos vivem à maneira de Cristo, guiados pela fé e atuando a caridade. A vida cristã é um compromisso com Deus, que tem implicações sociais e universais. Por isso, não deve ser escondida, mas brilhar no mundo, para glória de Deus.

    Meditatio

    Basílio de Cesareia e Gregório de Nissa são exemplos de cristãos cujas vidas refletem o Evangelho, verdadeiros luminares da fidelidade e da beleza do ideal cristão.

    Basílio, dotado de forte personalidade, foi um homem de pensamento e de ação. Escreveu e pregou, especulou e socorreu. Gregório é o filósofo elegante, o poeta delicado, o contemplativo irrequieto. Ambos nos revelam o que significa tornar-se discípulos da verdadeira sabedoria e receber o dom do Espírito, que perscruta as profundezas de Deus. Estes dois amigos, que hoje celebramos foram génios e santos. Por isso, a Igreja os venera como santos e doutores. A caridade de Deus fê-los operadores de bem e servidores dos irmãos, como monges, como padres e como bispos. Ambos cantaram a beleza de Deus. Como amigos e companheiros, compreenderam que o seu ideal mais profundo era o amor da sabedoria. Movia-os a ânsia de saber. Escreve Gregório: "Uma só tarefa e um só objetivo havia para ambos: aspirar à virtude, viver para as esperanças futuras e comportar-nos de tal modo que, mesmo antes de ter partido desta vida, tivéssemos emigrado dela. Esse foi o ideal que nos propusemos, e assim tratávamos de orientar a nossa vida e as nossas ações, em atitude de docilidade aos mandamentos divinos, entusiasmando-nos mutuamente à prática do bem: e, se não parecer demasiada arrogância, direi que éramos um para o outro a norma e a regra para discernir o bem do mal".

    Oratio

    Vem Espírito Santo, eleva o meu coração, ampara a minha fraqueza, conduz-me à perfeição da caridade. Purifica-me de todo o mal e, pela união contigo, faz-me homem espiritual. Penetra-me e enche-me com a tua luz divina de modo que eu mesmo me torne luminoso e reflita ao meu redor a tua luz, a tua graça. Ámen.

    Contemplatio

    Jesus viera para operar a grande obra da reconciliação. Tudo estava preparado e, no entanto, leva uma longa vida de trinta anos, desconhecida, escondida, em aparência inativa e inútil. O Redentor tinha sido prometido ao género humano e anunciado pelos profetas. Os sinais da sua vinda estavam marcados. Era esperado pelos justos com um ardente desejo. Prodígios foram realizados na altura do seu nascimento. A própria natureza manifestou a sua alegria pela vinda do Criador. Uma estrela maravilhosa surpreendeu os sábios do Oriente e conduziu-os ao presépio. Mas logo a seguir, que silêncio! Tudo retorna à obscuridade e à calma. Os que acreditavam verdadeiramente que seguiam a atração da graça, a voz dos anjos e as inspirações do Espírito Santo conservavam no seu coração a recordação dos mistérios, que tinham tido um brilho tão curto. Adoravam no silêncio, na esperança e no abandono, os decretos da sabedoria, do amor e da misericórdia de Deus. E esta vida obscura, vida de submissão, de trabalho e da misericórdia de Deus vai durar trinta anos! Quem é que está em condição de aprofundar as vias da sabedoria, do amor e da bondade de Deus? Quem pode conceber e contar os atos de virtude destes anos de obscuridade? E então porquê tudo isto? Porquê esta viagem penosa e longa ao país pagão e idólatra? Porque Jesus era vítima, porque era libertador e redentor; porque isto correspondia aos desígnios de misericórdia que os homens não podiam compreender perfeitamente. (L. Dehon, OSP 3, p. 41).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:

    "Para nós o maior título de glória era sermos cristãos
    e como tal reconhecidos" (S. Gregório Nazianzeno).

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    S. Basílio Magno e s. Gregório Nanzianzeno (2 Janeiro)
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