Week of Out 31st

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Segunda-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Segunda-feira


    1 de Novembro, 2021

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos 11, 29-36

    Irmãos: os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis. 30Outrora vós desobedecestes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia, devido à desobediência deles; 31do mesmo modo, também eles desobedeceram agora, em favor da misericórdia que alcançastes, para que também eles venham agora a alcançar misericórdia. 32Porque Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de misericórdia. 33Oh, que profundidade de riqueza, de sabedoria e de ciência é a de Deus! Como são insondáveis as suas decisões e impenetráveis os seus caminhos! 34Quem conheceu o pensamento do Senhor? Quem lhe serviu de conselheiro? 35Quem antes lhe deu a Ele, para que lhe seja retribuído? 36Porque é dele, por Ele e para Ele que tudo existe. Glória a Ele pelos séculos! Ámen.

    «Os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis» (v. 29). Se, por causa da desobediência dos Judeus, o anúncio da salvação foi dirigido aos pagãos, e estes fizeram experiência da misericórdia divina, essa mesma experiência pode servir de incitamento aos Judeus para competirem com eles na fé, acolhendo o que no princípio recusaram. Deus quer usar de misericórdia (cf. v. 32). A desobediência de cada um dos homens e dos povos pode ser vista como instrumento no plano de salvação de Deus, que, finalmente, pode ajudar a reconciliar com Ele todos os povos. Na verdade, os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (cf. v. 29), tal como o seu amor por Israel, por causa dos pais (Rm 11, 28). É algo que Lhe importa e de que não desiste. Sendo assim, brota espontaneamente o hino (vv. 33-36) em que Paulo louva a profundidade, e a impenetrabilidade da sabedoria de Deus, o amor de Deus pelo qual existem todas as coisas e que enche de significado a existência.

    Evangelho: Lucas 14, 12-14

    Naquele tempo, disse Jesus a um dos principais fariseus, que O tinha convidado para uma refeição: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te. 13Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. 14E serás feliz por eles não terem com que te retribuir; ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.»

    Mais uma vez, no ambiente de uma refeição, depois de ter curado um hidrópico em dia de sábado, e depois de ter proposto uma parábola, Jesus adverte o chefe dos fariseus que O tinha convidado. As palavras de Jesus brotam da sua experiência, da observação atenta das realidades e comportamentos dos que O rodeiam. O Mestre interpreta tudo de modo simbólico e transfere-o para o domínio religioso. As duas partes deste pequeno texto correspondem-se perfeitamente: o paralelismo antitético facilita a sua compreensão: «Quando deres um almoço ou um jantar... pelo contrário, quando deres um banquete...». O ensinamento claro de Jesus vai direito à sensibilidade dos seus destinatários. Jesus alerta para um comportamento de aparente generosidade, que, na realidade, é egoísta. Este tipo de comportamento, não só é mesquinho, mas também compromete as relações interpessoais. A situação oposta, sugerida por Jesus, traduz, pelo contrário, um convite genuinamente evangélico, que leva ao centro da doutrina de Jesus: privilegiar os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos, que são aqueles que o Senhor ama. É a mensagem das bem-aventuranças (Lc 6, 20-26). A bem-aventurança, e a promessa do v. 14, completam admiravelmente o ensinamento de Jesus.

    Meditatio

    Paulo leva-nos a reflectir, mais uma vez, sobre a gratuidade da misericórdia divina para connosco. Ninguém, por primeiro, deu algo a Deus, para poder ser retribuído (cf. v. 35). Todos, hebreus e pagãos, foram desobedientes a Deus. Mas «Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de misericórdia» (v. 32). Estamos na lógica do amor misericordioso, desinteressado, gratuito. É a lógica em que devemos entrar para compreendermos o Evangelho, nos enchermos de paz e de confiança, e nos comprometermos na misericórdia para com os outros.
    No evangelho, Jesus ensina-nos, de modo muito espontâneo, mas paradoxal, esta mesma lógica: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te.» (v. 12). É um conselho estranho! O mais natural é convidarmos para o almoço ou para o jantar, os amigos, os familiares, as pessoas que têm influência na sociedade, e nos podem ajudar a resolver algum problema ou a alcançar determinado objectivo. Numa palavra: o mais habitual é convidarmos quem nos possa de algum modo retribuir. Mas Jesus insiste: «Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás feliz por eles não terem com que te retribuir; ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.» (vv. 13-14). Geralmente pensamos que a bem-aventurança, a felicidade, está em receber. Mas Jesus ensina o contrário, apontando-nos o caminho da gratuidade, do amor desinteressado. É aí que se encontra a verdadeira alegria. Se fizermos o bem, à espera de retribuição, estamos no caminho errado. Pelo contrário: se dermos a quem não nos pode retribuir, estamos no bom caminho, na lógica divina do amor, que não se compra nem se vende.
    A linguagem da gratuidade consegue pronunciar palavras libertadoras e expressar gestos vivos e vivificantes. É uma linguagem fora de moda, uma vez que andamos encandeados pelas miragens do útil, do eficiente, do produtivo. Mas a gratuidade é um dos atributos de Deus. Deus é gratuidade: dá e dá-Se, e não seria Deus/Amor se não fosse assim.
    A reparação, além de acolhimento do amor, correspondência ao amor, união à oblação de amor de Cristo ao Pai, é também partilha da gratuidade absoluta do Pai e de Cristo para com os homens, especialmente «os mais desprotegidos» (Cst 5), os mais miseráveis, os marginalizados, os desesperados, os publicanos, os pecadores, como fez Jesus.

    Oratio

    Senhor, o teu amor é misericórdia, que me ergue do catre da minha paralisia, do abismo dos meus erros, das regiões desoladas do meu sem-sentido, das trevas oprimentes das minhas dúvidas. O teu amor é gratuito, incondicional, desarmadilhado, desinteressado. Amar, e só amar, é a tua alegria, a tua vida! É o mesmo que me pedes em relação aos meus irmãos, particularmente os pequenos e pobres. Liberta-me do egoísmo que me afasta dos outros e de mim mesmo, do egoísmo que ilusoriamente julgo tornar-me forte, mas que, na verdade, me torna mais fraco. Deus de misericórdia e de gratuidade, amar e só amar, seja a minha alegria, porque amar e só amar
    é viver. Amen.

    Contemplatio

    Quem vem? O Pai de misericórdia que nos ama ternamente. - Chama-nos seus filhinhos: filioli. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo. Eu sou este filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na inutilidade. Volto para o meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com amor. O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa, procura. E se regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração contra coração. E chama os seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o manto de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa. O Coração de Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria: «Alegremo-nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado». (Leão Dehon, OSP 3, p. 653).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Deus encerrou a todos na desobediência,
    para com todos usar de misericórdia» (Rm 11, 32).

  • Comemoração de Todos os fiéis Defuntos

    Comemoração de Todos os fiéis Defuntos


    2 de Novembro, 2021

    A Igreja, acolhendo uma tradição monástica que vem do século XI, dedica o dia 2 de Novembro à memória dos fiéis defuntos. Depois de ter celebrado a glória e a felicidade dos Santos, no dia 1 de Novembro, a Igreja dedica o dia 2 à oração de sufrágio pelos "irmãos que adormeceram na esperança da ressurreição". Assim fica perfeita a comunhão de todos os crentes em Cristo.
    Lectio
    Primeira leitura: Job 19, 1.23-27ª

    Job respondeu, dizendo: 2«Até quando afligireis a minha alma e me atormentareis com vãs palavras? 23Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! 25Eu sei que o meu redentor vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; 26e depois de a minha pele se desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se dentro de mim.

    Os amigos de Job tentam consolá-lo, recorrendo a uma sabedoria superficial, expressa em frases feitas e lugares comuns. É o que tantas vezes acontece quando pretendemos confortar alguém que sofre. As palavras de Job são muito diferentes. No meio do sofrimento, vendo-se às portas da morte e trespassado pela solidão, compreende que Deus é o seu redentor, aquele parente próximo que, segundo os costumes hebreus, deve comprometer-se a resgatar, à sua própria custa, ou a vingar, o seu familiar em caso de escravidão, de pobreza, de assassínio. Job sente Deus como o seu último e definitivo defensor, como alguém que está vivo e se compromete em favor do homem que morre, porque entre Deus e o homem há uma espécie de parentesco, um vínculo indissolúvel. Job afirma-o com vigor: os seus olhos contemplarão a Deus com a familiaridade de quem não é estranho à sua vida.
    Segunda leitura: Romanos 5, 5-11

    Irmãos: A esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. 6De facto, quando ainda éramos fracos é que Cristo morreu pelos ímpios. 7Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa boa talvez alguém se atreva a morrer. 8Mas é assim que Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós. 9E agora que fomos justificados pelo seu sangue, com muito mais razão havemos de ser salvos da ira, por meio dele. 10Se, de facto, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida. 11Mais ainda, também nos gloriamos em Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem agora recebemos a reconciliação.

    O homem pode ter esperança diante da morte. Como intuiu Job, Deus é, de verdade, o nosso Redentor, porque nos ama. Empenhou-se em resgatar-nos da escravidão do pecado e da morte com o preço do sangue do seu Filho (vv. 6-9) e de modo absolutamente gratuito. De facto, nós éramos pecadores, ímpios, inimigos; mas o Senhor reconheceu-nos como "seus", e morreu por nós arrancando-nos à morte eterna. Acolhemos esta graça por meio do batismo, participando no mistério pascal de Cristo. A sua morte reconciliou-nos com o Pai, e a sua ressurreição permite-nos viver como salvos. Quebrando os laços do pecado, e deixando-nos guiar pelo Espírito derramado em nossos corações, atualizamos cada dia a graça do nosso novo nascimento.
    Evangelho: João 6, 37-40

    Naquele tempo, Jesus disse à multidão: Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim Eu não o rejeitarei, 38porque desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39E a vontade daquele que me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia. 40Esta é, pois, a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.»

    O centro desta perícopa é a vontade de Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela mediação de Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus manifesta, pois, a sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade atenta e cuidadosa por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre consentimento da fé: que acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque adere Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para além do intransponível limite da morte.
    Meditatio

    O silêncio é a melhor atitude perante a morte. Introduzindo-nos no diálogo da eternidade e revelando-nos a linguagem do amor, põe-nos em comunhão profunda com esse mistério imperscrutável. Há um laço muito forte entre os que deixaram de viver no espaço e no tempo e aqueles que ainda vivem neles. É verdade que o desaparecimento físico dos nossos entes queridos nos causa grande sofrimento, devido à intransponível distância que se estabelece entre eles e nós. Mas, pela fé e pela oração, podemos experimentar uma íntima comunhão com eles. Quando parece que nos deixam, é o momento em que se instalam mais solidamente na nossa vida, permanecem presentes, fazem parte da nossa interioridade. Encontramo-los na pátria que já levamos no coração, lá onde habita a Santíssima Trindade. Escreveu o Pe. Dehon: "Vivo muito com os meus mortos: os meus pais, amigos, antigos diretores, antigos alunos. Uma centena dos meus religiosos já partiu para junto do Bom Deus, entre eles, homens que muito trabalharam e rezaram... Saúdo-os todas as manhãs e todas as noites, com os meus padroeiros celestes" (NQT XLIV, 139).
    Paulo encoraja-nos a vivermos positivamente o mistério da morte, confrontando-nos com ela todos os dias, aceitando-a como lei de natureza e de graça, para sermos progressivamente despojados do que deve perecer até nos vermos milagrosamente transformados no que devemos ser. Deste modo, a "morte quotidiana" revela-se um nascimento: o lento declínio e o pôr-do-sol tornam-se aurora luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e tribulações da vida fazem parte desta "morte quotidiana" que nos levará à vida imortal. Havemos de viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando na fidelidade do Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando chegar ao termo desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos erguer-se a aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só coisa com o Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e essa pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto.
    Para o cristão, o sofrimento é um tempo de "disponibilidade pura", de "pura oblação" e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado, em união a Cristo vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo. Vivendo assim, prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último apostolado, o da morte: configurados "a Cristo na morte" (Fil 3, 10) (Cf. Cst n. 69).Se a morte de Cristo na Cruz é o ato de apostolado mais eficaz, que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do cristão em união com a morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o ponto de vista humano, a morte do cristão deva ser uma "morte bonita", tal como não foi bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo contrário, uma "liturgia esquálida", de abandono e de desolação. O importante é que seja uma morte "para Cristo e em Cristo" (S. Inácio de Antioquia, SC 10, 132). Imolados com Ele, com Ele ressuscitaremos.
    Se, na humildade do dia a dia, vivemos a nossa oblação-imolação com Cristo, oblato e imolado pela salvação do mundo, estamos preparados para o último apostolado da nossa vida: a oblação-imolação da nossa morte, o extremo sacrifício, consumado pelo fogo do Espírito, como aconteceu na morte de Cristo na cruz: "Por um Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus" (Heb 9, 14). A morte é, então, a nossa última oferta, o momento da suprema, pura oblação: "Se morrermos com Ele, com Ele viveremos" (2 Tm 2, 11).
    Oratio

    Senhor, quero hoje rezar-te por aqueles que desapareceram no mistério da morte. Dá o descanso àqueles que expiam, luz aos que esperam, paz aos que anseiam pelo teu infinito amor. Descansem em paz: na paz do porto seguro, na paz da meta alcançada, na tua paz, Senhor. Vivam no teu amor aqueles que amaste, aqueles que me amaram. Não esqueças o bem que me fizeram, o bem que fizeram a outros. Esquece tudo o mal que praticaram, risca-o do teu livro. Aos que passaram pela dor, àqueles que parecem ter sido imolados por um iníquo destino, revela, com o teu rosto, os segredos da tua justiça, os mistérios do teu amor. Concede-me aquela vida interior que permite comunicar com o mundo invisível em que se encontram os nossos defuntos: esse mundo fora do tempo e do espaço, esse mundo que não é lugar, mas estado, e mundo que não está longe de mim, mas à minha volta, esse mundo que não é de mortos, mas de vivos. Ámen.
    Contemplatio

    O amor ultrapassa o temor e a esperança. O amor não destrói o temor nem a esperança, mas retira-lhes o que o amor-próprio lhe pode misturar de visões mercenárias. O amor não conhece habitualmente outro temor senão o temor filiar, isto é, o medo de desagradar a um Pai bem-amado. Sendo filho do amor, este temor é de uma atenção e delicadeza totalmente diferentes do medo da justiça divina e dos seus castigos. Leva a evitar as mínimas faltas, as mais pequenas imperfeições voluntárias. Em vez de comprimir e de gelar o coração, alarga-o e aquece-o. Não causa nenhuma perturbação, nenhum alarme; e mesmo quando escapa alguma falta, reconduz docemente a alma ao seu Deus através de um arrependimento tranquilo e sincero. Procura acalmar-se e reparar abundantemente da mágoa que se lhe pôde causar. De resto, não se inquieta nem perde a confiança. O amor tira também à esperança o que ela tem de demasiado pessoal. Aquele que ama não sabe outra coisa senão contar com Deus, nem fazer boas obras principalmente com o objetivo de acumular méritos; e por este nobre desinteresse, merece incomparavelmente mais. Esquecendo tudo o que fez por Deus, não pensa noutra coisa senão em fazer ainda mais. Não se apoia sobre si mesmo; visa a recompensa celeste menos sob o título de recompensa do que como uma garantia de amar o seu Deus com todas as suas forças e de ser por Ele amado durante a eternidade. Sem excluir a esperança, que lhe é natural, considera a felicidade mais do lado do bom agrado do seu Deus e da sua glória que lhe pertence do que do lado do seu próprio interesse. E quando o amor está no seu ponto mais elevado de perfeição, estaria disposto a sacrificar a sua felicidade própria à vontade divina, se exigisse dele este sacrifício. Coloca a sua felicidade no cumprimento desta vontade. O coração dos Santos atingiu mesmo sobre a terra este grau de pureza. É a disposição dos bem-aventurados no céu. É preciso, portanto, que o amor seja purificado a este grau neste mundo, ou no outro pelas penas do purgatório. Há, portanto, que deliberar sobre esta escolha? E quando a via do amor não tivesse outra vantagem senão a de nos isentar do purgatório ou de lhe abreviar consideravelmente a duração, poderíeis hesitar em abraçá-la? (Leão Dehon, OSP 2, p. 16s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive a palavra:
    «Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso,
    entres os esplendores da luz perpétua.
    Fazei que descansem em paz.
    Ámen»

     

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    Comemoração de Todos os fiéis Defuntos (2 de Novembro)

    Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Terça-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Terça-feira


    2 de Novembro, 2021

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos 12, 5-16a

    Irmãos: os muitos que somos formamos um só corpo em Cristo, mas, individualmente, somos membros que pertencem uns aos outros. 6Temos dons que, consoante a graça que nos foi dada, são diferentes: se é o da profecia, que seja usado em sintonia com a fé; 7se é o do serviço, que seja usado a servir; se um tem o de ensinar, que o use no ensino; 8se outro tem o de exortar, que o use na exortação; quem reparte, faça-o com generosidade; quem preside, faça-o com dedicação; quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria. 9Que o vosso amor seja sincero. Detestai o mal e apegai-vos ao bem. 10Sede afectuosos uns para com os outros no amor fraterno; adiantai-vos uns aos outros na estima mútua. 11Não sejais preguiçosos na vossa dedicação; deixai-vos inflamar pelo Espírito; entregai-vos ao serviço do Senhor. 12Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração. 13Partilhai com os santos que passam necessidade; aproveitai todas as ocasiões para serdes hospitaleiros. 14Bendizei os que vos perseguem; bendizei, não amaldiçoeis. 15Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. 16Preocupai-vos em andar de acordo uns com os outros

    Anunciado o Evangelho da salvação (cf. Rm 1, 18 a 11, 36), Paulo passa a exortar a comunidade de Roma a viver de acordo com esse mesmo Evangelho (Rm 12, 1 a 15, 13). Se Deus é amor gratuito, devemos conceber a vida como dom. Da graça à gratuidade. Da "cháris" à "charísmata". Os cristãos são os membros de um só corpo, o corpo de Cristo. Cada membro recebe uma manifestação da graça, um dom, e um modo específico de viver a gratuidade. O importante é que todos entendam o dom como dom, para o bem comum (cf. 1 Cor 12, 7), em vista da edificação da comunidade, e não como posse de algo em proveito próprio. Assim, uns com os outros, caminhamos juntos para a plena humanidade de Cristo (cf. Ef 4, 11-16). Sendo assim, é preciso cultivar a humildade e a caridade. A humildade consiste na justa avaliação de si mesmo (cf. Rm 12, 3), para servir o Senhor na comunidade, cumprindo cada um a sua parte com interesse e simplicidade. A caridade é o modo e o fim do serviço: a atitude de bendizer cada pessoa, uma compaixão que partilha os sentimentos do outro, fazendo próprias as suas alegrias e sofrimentos, confiando-se de modo sereno e perseverante à oração que atravessa os períodos de tribulação e de esperança. Para animar o mais íntimo da nossa existência, a caridade deve ser sem hipocrisia (v. 9).

    Evangelho: Lucas 14, 15-24

    Naquele tempo, disse a Jesus um dos que estavam com ele à mesa: 15«Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» 16Ele respondeu-lhe:«Certo homem ia dar um grande banquete e fez muitos convites. 17À hora do banquete, mandou o seu servo dizer aos convidados: 'Vinde, já está tudo pronto.' 18Mas todos, unanimemente, começaram a esquivar-se. O primeiro disse: 'Comprei um terreno e preciso de ir vê-lo; peço-te que me dispenses.' 19Outro disse: 'Comprei cinco juntas de bois e tenho de ir experimentá-las; peço-te que me dispenses.' 20E outro disse: 'Casei-me e, por isso, não posso ir.' 21O servo regressou e comunicou isto ao seu senhor. Então, o dono da casa, irritado, disse ao servo: 'Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos.' 22O servo voltou e disse-lhe: 'Senhor, está feito o que determinaste, e ainda há lugar.' 23E o senhor disse ao servo: 'Sai pelos caminhos e azinhagas e obriga-os a entrar, para que a minha casa fique cheia.' 24Pois digo-vos que nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete.»

    Lucas passa espontaneamente de um banquete humano ao banquete escatológico. Por isso, liga a parábola ouvida ontem à de hoje, introduzindo a expressão: «Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» (v. 15). Trata-se da participação na comunhão com Deus, quando da «ressurreição dos justos»: a dimensão escatológica da nossa fé e da nossa experiência é mais do que evidente.
    A parábola refere vários convites e várias recusas daqueles que não compreenderam a novidade da presença de Jesus, nem sentiram necessidade da salvação. É interessante sublinhar como nesta parábola está delineada a história da salvação: a cada convite e a cada recusa pode-se quase pensar que correspondam outras tantas fases de uma história visitada por Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
    O momento culminante da parábola parece ser a palavra do dono da casa: «Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos» (v. 21). Equivale a dizer que, no banquete messiânico, irão tomar parte os excluídos e serão excluídos os que a ele teriam direito. Confirma-se mais uma vez a lei da Nova Aliança, a bondade de Deus, o objectivo central da mensagem e da presença de Jesus no meio de nós.

    Meditatio

    Deus criou-nos à sua imagem e semelhança. Somos "uno", não como indivíduos, mas na comunhão, no dom recíproco. Cada um de nós é único. Se não escutarmos o apelo ao dom de nós mesmos, os outros ficam empobrecidos. Dar e dar-se, não é um gesto de magnanimidade, mas a modalidade própria de ser pessoas humanas verdadeiras. Somos puro dom de Deus, com a colaboração dos nossos pais, educadores, catequistas e tantos outros. Só nos realizamos tornando-nos dom para Deus e para os outros. Deus chama-nos a redescobrir e a viver esta fundamental vocação humana. Descobri-la é tanto mais urgente quanto mais sentimos em nós, e à nossa volta, vazios de humanidade.
    O evangelho esclarece estas afirmações, que recolhemos em Paulo. Jesus faz-nos compreender a mesquinhez do nosso coração, quando não está disponível para acolher os seus dons. O que o «dono da casa» mostra não é exigência mas generosidade. O dono da casa é imagem de Deus que quer encher-nos com os dons da sua munificência. Mas nós preferimos as nossas pequenas e perecíveis coisas.
    O grande banquete é a ceia da caridade divina oferecida a quem tem um coração grande, e não para quem se agarra aos bens terrenos com um amor possessivo, sufocante.
    «Comprei um terreno... Comprei cinco juntas de bois...Casei-me». São os nossos afectos limitados, vividos de modo possessivo, com todas as preocupações que daí derivam. Deus, pelo contrário, convida-nos ao banquete da caridade universal. É o banquete que vivemos em cada eucaristia, se nela participamos de coração aberto, apenas atentos às preocupações divinas e prontos a receber com alegria e gratidão os seus dons.
    Se assim vivermos as nossas eucari
    stias, elas não serão um dever pesado, mas uma necessidade de amor, para pormos ao serviço dos outros as graças que recebemos, conforme a exortação de Paulo: «se um tem o dom da profecia, que seja usado em sintonia com a fé; se é o do serviço, que seja usado a servir; se um tem o de ensinar, que o use no ensino; se outro tem o de exortar, que o use na exortação; quem reparte, faça-o com generosidade; quem preside, faça-o com dedicação; quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria» (vv. 7-8). «Testamento do amor de Cristo que se entrega para que a Igreja se realize na unidade e assim anuncie a esperança ao mundo, a Eucaristia reflecte-se em tudo o que somos e vivemos.» (Cst 81). A Eucaristia leva-nos a dar-nos com generosidade e gratuidade, até porque fomos criados de tal modo que ninguém se basta a si mesmo, e todos precisamos uns dos outros. Somos "uno" na comunhão, no dom recíproco, à maneira de Deus, que é uno e trino, Unidade na Trindade. A Eucaristia é um excelente meio para vivemos a unidade na comunhão.

    Oratio

    Senhor, meu Deus, purifica-me do individualismo, que tantas vezes me fecha em mim mesmo, e não me deixa disponível para acolher os teus dons, nem reparti-los com os irmãos. Tu és Amor, Tu és Comunhão. Por isso, és Alegria, és Festa. Dá-me disponibilidade para acolher o teu convite, entrar na tua casa, e viver como membro do corpo do teu Filho Jesus Cristo. Apoia o meu compromisso em viver na caridade, amando a todos com um amor verdadeiramente fraterno. Manda-me sobre mim o teu Espírito, que me ponha em sintonia com a tua vontade e com o coração dos outros. Amen.

    Contemplatio
    Ó prodígio inaudito! O Senhor supremo faz-se alimento da sua pobre e miserável criatura! Enquanto comiam, nesta noite da última Ceia, Jesus estava sentado com os seus discípulos. - Ergue os olhos para o seu Pai e recolhe-se numa ardente oração. Está como que transfigurado. - Consideremos o céu aberto acima da sua cabeça: os Anjos admirados tremem de alegria e de temor... de alegria: a Eucaristia inflamará e santificará tantos corações! Acenderá no seio da Igreja uma tal fogueira de dedicação e de amor!... Escutemos as palavras de Jesus: «Tomai e comei, isto é o meu corpo; bebei, isto é o meu sangue...». - Eu vos saúdo, ó verdadeiro corpo, nascido da Virgem Maria! Verei os apóstolos aproximarem-se, tomarem o seu lugar nesta primeira comunhão... Maria, a Mãe bem-amada de Jesus! Quem poderia dizer o ardor da sua caridade! É o seu Filho que ela recebe! É a carne, é o sangue que ela lhe deu! Correntes de amor sobem para o céu nos transportes desta casta união, destes santos arrebatamentos. «Fazei isto em minha memória», acrescenta Jesus, e os seus apóstolos são feitos sacerdotes para a eternidade. Unamo-nos ao seu acto de fé e de amor. (Leão Dehon, OSP 3, p. 481s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» (Lc 14, 15).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Quarta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Quarta-feira


    3 de Novembro, 2021

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos 13, 8-10

    Caríssimos, não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser isto: amar-vos uns aos outros. Pois quem ama o próximo cumpre plenamente a lei. 9De facto: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, bem como qualquer outro mandamento, estão resumidos numa só frase: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. 10O amor não faz mal ao próximo. Assim, é no amor que está o pleno cumprimento da lei.

    Há uma dívida que jamais havemos de nos cansar de pagar: o amor recíproco. O amor resume os mandamentos e é o pleno cumprimento da lei (cf. v. 9). Paulo dedica um largo espaço a avaliar criticamente a função da lei. Mas, para que a justiça da lei se cumpra, há um só caminho, o amor gratuito de Cristo, que veio exactamente para cumprir e não para abolir. Este amor não fecha os olhos diante das «rivalidades e contendas» (1 Cor 3, 3), mas não paga o mal com o mal, nem se deixa vencer por ele, mas vence-o com o bem. Cristo deu-nos exemplo desse amor. Devemos conformar-lhe a nossa vida, para podermos participar na plenitude de Deus. Uma vez que Cristo resume e cumpre a lei, é também Ele que resume e cumpre a nossa humanidade.

    Evangelho: Lucas 14, 25-33

    Naquele tempo, seguiam com Jesus grandes multidões; ele, voltando-se para elas, disse-lhes: 26«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. 27Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo. 28Quem dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a concluir? 29Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que virem comecem a troçar dele, 30dizendo: 'Este homem começou a construir e não pôde acabar.' 31Ou qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível com dez mil homens opor-se àquele que vem contra ele com vinte mil? 32Se não pode, estando o outro ainda longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz. 33Assim, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.»

    Depois de deixar a casa do fariseu, Jesus encontra-se com a multidão. E o seu discurso torna-se mais íntimo e radical. No texto de hoje, temos duas parábolas (vv. 28-32), precedidas (vv. 25-27) e seguidas por dois convites à renúncia (v. 33). Ambas as parábolas convidam à reflexão antes de empreender qualquer iniciativa, para nos darmos conta se temos capacidade para as terminar. Há que evitar a ligeireza e a temeridade. Uma vez que se decidiu, também é preciso avançar com fidelidade: um fracasso devido à indecisão ou à saudade seria imperdoável. Também o seguimento de Jesus, no caminho que o leva decididamente para Jerusalém e para o Calvário, é uma empresa muito exigente pela qual é preciso jogar toda a vida. É sobre esta realidade que se fundamenta o convite inicial e final desta página evangélica, onde lemos uma das mais radicais exigências de Jesus.
    "Odiar" o pai e a mãe, carregar a cruz e seguir Jesus, renunciar a todos os bens (vv. 26s., e 33), são algumas das exigências que não deixam margem para dúvidas. Pelo contrário, o seu carácter paradoxal fere a nossa sensibilidade e leva-nos a gritar de escândalo. Mas isso seria um modo, mais ou menos elegante, de nos subtrairmos ao convite de Jesus, para continuarmos a fazer o que nos é mais fácil.

    Meditatio

    «Quem ama o próximo cumpre plenamente a lei... qualquer outro mandamento, está resumido numa só frase: Amarás o teu próximo como a ti mesmo..» (v. 10). Caminhar para esta meta e atingi-la, enche-nos de alegria e de gratidão para com Deus. O evangelho, que hoje escutamos, insiste na lei do amor: «Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo» (v. 26). Esta exigência de Jesus, em algumas traduções, está expressa com o verbo "odiar": «Se alguém vem ter comigo e não odeia o seu pai... não pode ser meu discípulo». Ficamos confusos: será que, para amar, é preciso odiar. A actual tradução parece melhor: Não se trata de odiar alguém, mas de amar mais a Jesus, de amá-lo acima de tudo e todos. Só assim se pode ser seu discípulo. Posta a questão em termos de amor, muitos terão ficado entusiasmados, julgando que se tratava de coisa fácil, ao alcance de todos. Mas Jesus tira-nos todas as ilusões. Voltando-se para as multidões O seguiam, Jesus disse-lhes «Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai... não pode ser meu discípulo» (v. 26). Para ser discípulo, não basta um amor qualquer. Jesus exige um amor muito forte, um amor decidido, disposto a opções nem sempre fáceis. Por isso, há que calcular bem as nossas capacidades, antes de tomar a decisão de se tornar discípulo do Senhor. Jesus ilustra essa necessidade com duas comparações: a de alguém quer pretende construir uma torre, e se põe a calcular se tem com que a concluir, e a de alguém que se prepara para a guerra e calcula se tem homens e armas suficientes para alcançar a vitória. E conclui: «Assim, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo» (v. 33). Encontramo-nos perante um dilema entre o amor e o desapego. Se pensarmos bem, Jesus, ao dar-nos a lei do desapego, dá-nos as condições para o verdadeiro amor. Não se trata de renunciar a todo o amor, mas ao amor possessivo. De facto, Jesus pede-nos para O amarmos mais que ao pai e restante família, e mais do que à nossa própria vida (cf. v. 26). Jesus percorreu, antes de nós, esse caminho do desapego, e deu-nos exemplo do verdadeiro amor, capaz de todos os sacrifícios, um amor que leva ao dom da própria vida e aceita a humilhação para realizar os desígnios de Deus. Viver um tal amor está para além das nossas forças humanas. Mas Jesus convida-nos a procurar esse amor, e a força para o viver, no seu próprio coração. Com o Coração de Jesus, podemos amar como Ele amou.

    Oratio

    Senhor, só a tua graça me pode permitir experimentar um amor semelhante àquele que demonstras por mim. O amor que me propões é maior que o oceano, cujos limites desconheço, e que me parece impossível de sulcar. As tuas propostas são claras, e sem qualquer engano. Também não queres que me engane a mim mesmo, c
    om os meus entusiasmos fáceis. Ajuda-me a reflectir antes de Te dizer: «Eis-me aqui!». Apoia-me com a tua graça. Tu queres-me protagonista responsável da minha própria história. Só o teu amor me torna pessoa humana. Só o teu amor me dá a plenitude que tanto procuro, o amor que aprendo de Ti, ao seguir-te como discípulo, o amor com que procuro amar os meus irmãos. Obrigado, Senhor! Amen.

    Contemplatio

    «Em verdade vos digo, responde Nosso Senhor, para vós que deixastes tudo e que me seguistes, quando no dia da regeneração o filho do homem estiver sentado sobre o trono da sua glória, também vós estareis sentados sobre doze tronos para julgardes as doze tribos de Israel; e ninguém terá deixado casa, irmãos, irmãs, ou pai, mãe, mulher ou filhos, ou terras por minha causa, que não receba cem vezes e muito mais neste mundo, com perseguições, e no século que há-de vir, a vida eterna». Desde esta vida, as almas desapegadas encontram o cêntuplo. Deus faz-se o seu pai e Maria a sua Mãe. Encontram irmãos e irmãs naqueles que fizeram como eles. Estas almas são felizes mesmo nas perseguições e nas tribulações: felizes por tudo darem, por tudo sofrerem, por se assemelharem mais completamente ao Bom Mestre; felizes por suportarem como Ele o ódio e a perseguição. Mas será no céu sobretudo que a sua recompensa será grande. O sacrifício que fizeram dá-lhes o direito de entrarem. É uma segurança para a eternidade; e lá em cima julgarão com Nosso Senhor aqueles que ficaram agarrados aos bens do mundo, aqueles que conservaram uma alma partilhada e toda manchada de concupiscências. Ambicionemos a via estreita. Bem poucos têm a coragem de nela se empenharem, diz Nosso Senhor; peçamos-lhe o favor de sermos desses. (Leão Dehon, OSP 4, p. 106s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    «Se alguém não me tem mais amor que ao seu pai e família,
    não pode ser meu discípulo» (Cf. Lc 14, 26).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Quinta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Quinta-feira


    4 de Novembro, 2021

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos 14, 7-12

    Irmãos: de facto, nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum morre para si mesmo. 8Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos quer morramos, é ao Senhor que pertencemos. 9Pois foi para isto que Cristo morreu e voltou à vida: para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos. 10Mas tu, porque julgas o teu irmão? E tu, porque desprezas o teu irmão? De facto, todos havemos de comparecer diante do tribunal de Deus, 11pois está escrito:Tão certo como Eu vivo, diz o Senhor, todo o joelho se dobrará diante de mim e toda a língua dará a Deus glória e louvor. 12Portanto, cada um de nós terá de dar contas de si mesmo a Deus.

    «Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos» (v. 8). O baptizado tornou-se pertença do Senhor, colocou-se do lado de Jesus, que Se tornou o Senhor da sua vida. O seu modo de viver há-de inspirar-se nessa realidade, nesse sentido de pertença ao Senhor. E «cada um de nós terá de dar contas de si mesmo a Deus» (v. 12). Por isso, o cristão há-de viver pelo Senhor e para o Senhor, ultrapassando preconceitos no modo de acolher a diversidade e a fraqueza. A melhor hospitalidade é acolher o outro, o próximo, o irmão. Ninguem deve fechar-se na sua concha. Pelo contrário, respeitando os caminhos pessoais, somos todos chamdos a abrir-nos a relações de caridade, de que Cristo é, ao fim e ao cabo, a fonte.

    Evangelho: Lucas 15, 1-10

    Naquele tempo, aproximavam-se de Jesus todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. 2Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» 3Jesus propôs-lhes, então, esta parábola:
    4«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? 5Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: 'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.' 7Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.» 8«Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? 9E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: 'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.' 10Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.»

    Estamos no coração do evangelho de Lucas. É no capítulo 15 que o segundo evangelista concentra a mensagem principal da sua obra: o evangelho da misericórdia. Ao mesmo tempo, Lucas aproxima-se o mais possível do Jesus histórico, que veio anunciar e incarnar, no meio de nós, o amor misericordioso do Pai.
    Lucas começa por apresentar o contexto histórico (vv. 1-3) em que Jesus contou as três parábolas. Os publicanos e pecadores vinham «para o ouvirem» (v. 1). Os fariseus e os escribas «murmuravam» contra ele. As parábolas da ovelha perdida e da dracma perdida - com a do pai misericordioso, que Jesus apresenta como ícone de Deus-Pai - devem ser interpretadas à luz desse contexto histórico, pois iluminam a situação daquilo ou de quem estava perdido e a alegria de quem pôde encontrar o que estava perdido.
    A alegria do homem serve para falar da alegria de Deus. Lucas sublinha três vezes essa alegria do Pai, que tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho, tirando desse dom a máxima alegria para Si.

    Meditatio

    Quantas vezes, andamos angustiados com a nossa vida e com a perspectiva da morte. Mas, se estamos em Cristo, se somos de Cristo, não há que temer. «Como todos morrem em Adão, assim em Cristo todos voltarão a receber a vida. Mas cada um na sua própria ordem: primeiro, Cristo; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda.» (1 Cor 15, 22-23). Mais do que viver ou morrer, importar "pertencer a Cristo", ser de Cristo, praticar a caridade para com o irmão. O resto, que é muitíssimo, porque é "voltar a receber a vida", vem em consequência.
    A parábola do "bom pastor" quer ensinar-nos a paixão de Deus pela vida de cada homem. Ele não sossega enquanto não encontrar aquele que se afastou d´Ele, que se perdeu. Ao encontrá-lo, transborda de alegria e convida à festa. Talvez seja esta a mensagem que espero: Alguém interessa-Se por mim. O meu Criador não deseja mais nada senão saber se estou vivo e em segurança.
    Tenho que estar disponível para me deixar encontrar, para "ver" a alegria de Deus por minha causa. Então posso compreender algo sobre a beleza da vida, que não é terreno a explorar o mais possível, mas dom a celebrar. Deus deu-me a vida e faz tudo para que a viva em plenitude, e faz tudo para que continue a vivê-la para além da morte. É a sua misericórdia! Vivendo n´Ele e por Ele, a vida terá sentido e sabor. Com Ele aprendo a não obstaculizar a vida dos outros e a "dar" a minha própria vida, imitando a sua misericórdia.
    As riquezas espirituais foram comparadas à chama. Uma chama nada perde ao comunicar-se. Pelo contrário, cresce e irradia luz e calor. Quem a quiser esconder, corre o risco de a apagar, por falta de oxigénio. O mesmo sucede com as riquezas espirituais. Recordemos que, na primitiva Igreja de Jerusalém, a comunhão de bens, além de unir os corações, provocava «favor de todo o povo» (Act 2, 47). Para nós, filhos do Pe. Dehon, trata-se de pôr o que somos e temos ao serviço da construção de um mundo mais justo e mais humano, em solidariedade especialmente com os mais pobres, os oprimidos, os explorados, o mais desprotegidos e marginalizados. O nosso carisma profético exige de nós uma presença religiosa no mundo, nas necessidades humanas e espirituais dos homens, sobretudo dos mais pobres material e espiritualmente.

    Oratio

    Senhor, faz-me compreender profundamente aquela atitude de espírito, que me impede de ser orgulhoso, de me apoiar em mim mesmo, e me faz abandonar nas tuas mãos, com tudo o que sou e faço, sabendo que tudo me vem de Ti e que, na partilha com os outros, multiplico os bens que me deste. Ajuda-me a não julgar os outros. Ajuda-me a repartir com todos o bem precioso da misericórdia, que usas para comigo, certo de que nada perderei, mas muito mais hei-de receber, porque é dando que se recebe. Amen.

    Contemplatio

    O bom Pastor tem um coração cheio de afecto e de dedicação pelas suas ovelhas (Jo 10). Conhece-as pelo seu nome e elas seguem-no. Dá a vida para as salvar: «Dou a minha vida pela glória de meu Pai, diz o Salvador, porque o amo e ele ama-me porque dou a minha vida pela sua glória (Jo 10, 17). Ora bem, dou também a minha vida pelas
    minhas ovelhas, pela sua salvação eterna. Assim, as minhas verdadeiras ovelhas conhecem-me e amam-me». Sou do número destas verdadeiras ovelhas, que amam ardentemente o Bom Pastor do tabernáculo? Infelizmente não, sou uma pobre ovelha imprudente, que erra pelos bosques expostos aos animais ferozes. E o Bom Pastor quer procurar-me, chama-me, quer pegar-me nos seus ombros, perto do seu coração. Será uma grande alegria para ele encontrar-me, comunicará aos seus amigos, convidá-los-á a alegrarem-se com ele (Lc 15). Posso ler esta parábola do Salvador e ficar indiferente? Ele chama-me, espera-me, está triste pela minha ausência, pela minha frieza, pela minha indiferença. Oh! Como o Salvador tem um Coração amoroso e como eu tenho um coração duro! Senhor, fazei violência ao meu coração. (Leão Dehon, OSP 3, 18s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Se vivemos, é para o Senhor que vivemos
    se morremos, é para o Senhor que morremos» (Rm 14, 8).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Sexta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Sexta-feira


    5 de Novembro, 2021

    SEXTA-FEIRA

    31ª Semana do Tempo comum

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos 15, 14-21

    Irmãos: no que vos toca, estou pessoalmente convencido de que vós próprios estais cheios de boa vontade, repletos de toda a espécie de conhecimento e com capacidade para vos aconselhardes uns aos outros. 15Apesar disso, escrevi-vos, em parte, com um certo atrevimento, como alguém que vos reaviva a memória. Faço-o em virtude da graça que me foi dada: 16ser para os gentios um ministro de Cristo Jesus, que administra o Evangelho de Deus como um sacerdote, a fim de que a oferenda dos gentios, santificada pelo Espírito Santo, lhe seja agradável. 17É, pois, em Cristo Jesus que me posso gloriar de coisas que a Deus dizem respeito. 18Eu não me atreveria a falar de coisas que Cristo não tivesse realizado por meu intermédio, em palavras e acções, a fim de levar os gentios à obediência, 19pela força de sinais e prodígios, pela força do Espírito de Deus.Foi assim que, desde Jerusalém e, irradiando até à Ilíria, dei plenamente a conhecer o Evangelho de Cristo. 20Mas, ao fazê-lo, tive a maior preocupação em não anunciar o Evangelho onde já era invocado o nome de Cristo, para não edificar sobre fundamento alheio. 21Pelo contrário, fiz conforme está escrito: Aqueles a quem ele não fora anunciado é que hão-de ver e aqueles que dele não ouviram falar é que hão-de compreender.

    Paulo justifica delicadamente o «certo atrevimento» com que se dirigiu aos Romanos (v. 15). Reconhece que estão «cheios de boa vontade, repletos de toda a espécie de conhecimento», que têm capacidade para se aconselharem uns aos outros, segundo o pensamento do Senhor (v. 14). O Apóstolo limita-se a reavivar-lhes a memória sobre o que já sabem (cf. v. 15). Fala da sua missão de pregador como de um serviço litúrgico (v. 16). Paulo é o liturgo de Cristo, encarregado de um «ofício sagrado» que consiste na «oblação» a Deus daqueles a quem pregou o Evangelho. É assim que presta culto a Deus, tal como tinha lhes tinha recomendado (Rm 12, 1). Este culto é paga da «dívida» (cf. 1, 14) a Cristo, de que Paulo tem plena consciência, pela graça d´Ele recebida. Assim, com a «fraqueza» que lhe é própria, o Apóstolo corresponde à força do Evangelho. O seu apostolado, por «palavras e acções», é confirmado com a «força de sinais e prodígios, com a força do Espírito de Deus» (v. 19).

    Evangelho: Lucas 16, 1-8

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:«Havia um homem rico, que tinha um administrador; e este foi acusado perante ele de lhe dissipar os bens. 2Mandou-o chamar e disse-lhe: 'Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar.' 3O administrador disse, então, para consigo: 'Que farei, pois o meu senhor vai tirar-me a administração? Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha. 4Já sei o que hei-de fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido da minha administração.' 5E, chamando cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: 'Quanto deves ao meu senhor?' Ele respondeu: 6'Cem talhas de azeite.' Retorquiu-lhe: 'Toma o teu recibo, senta-te depressa e escreve cinquenta.' 7Perguntou, depois, ao outro: 'E tu quanto deves?' Este respondeu: 'Cem medidas de trigo.' Retorquiu-lhe também: 'Toma o teu recibo e escreve oitenta.' O senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. É que os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes.»

    Só tendo presente o contexto de todo o capítulo, que tem o seu centro no v. 14, «Os fariseus, como eram avarentos, ouviam as suas palavras e troçavam dele», podemos compreender o pensamento de Jesus nesta parábola. A primeira parábola (vv. 1-8) ensina o modo correcto de usar os bens; a segunda parábola (vv. 19-31) ensina como não devem ser usados. Em ambas, a lição recai sobre o amor ao dinheiro.
    Na primeira parábola, o louvor do administrador infiel pode causar espanto ou mesmo escândalo; mais adiante Lucas compara Deus a um juiz injusto (Lc 18, 1-8); em Mt 10, 16, os discípulos são convidados a ser espertos como as serpentes. Mas não havemos de nos escandalizar: Jesus não nos dá por modelo um qualquer vigarista ou fulano astuto. Pelo contrário, lembra-nos que somos responsáveis pelos bens que não são exclusivamente nossos, mas que devemos considerar dons de Deus e, portanto, tratar com prudência e com audácia dignas de filhos de Deus.
    Ao fim e ao cabo, Jesus quer que os filhos da luz, na sua caminhada terrena, sejam mais sagazes do que os filhos deste mundo (v. 8b). A sagacidade de que fala Jesus é directamente funcional ao desejo e à consecução do verdadeiro bem.

    Meditatio

    Esta parábola de Jesus pode deixar-nos bastante desorientados. Parece insinuar que o fim justifica os meios, que saber desenrascar-se é preferível à honestidade. São palavras provocantes que havemos de escutar em profundidade. Para isso, será bom darmos atenção às palavras com que o Senhor conclui a parábola: «os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes» (v. 8). Há o modo engenhoso de quem, para praticar desonestidades, recorre a análises, a iniciativas, à entrega pessoal. Talvez os discípulos do Senhor nem sempre recorram aos mesmos meios para obter fins honestos, cedendo facilmente diante dos imprevistos, das dificuldades. Jesus não louva a desonestidade do administrador, mas a esperteza com que soube encontrar, numa situação difícil, uma solução que lhe permitiu continuar uma vida cómoda, egoísta.
    Deixemo-nos interpelar e verifiquemos a qualidade do nosso discipulado. Quantas vezes baixamos os braços dizendo: «Não é possível... com este povo! Não há nada a fazer nesta sociedade em que vivemos!». Os santos não reagem assim. As dificuldades levam-nos a procurar soluções e a encontrá-las, porque só estão preocupados com o projecto de Deus, e o seu amor é desinteressado, generoso, criativo: «Águas caudalosas não podem apagar o amor, nem os rios o podem submergir» (Cant 8, 7).
    É o que verificamos em Paulo, com a sua apaixonada e extenuante corrida evangelizadora. Ser discípulos de Cristo significa ser homens e mulheres criativos, generosos, corajosos. Essa criatividade, generosidade e coragem vêm-lhes da relação íntima com o Senhor, renovada cada dia. É preciso que Ele viva em nós. É preciso que estejamos activamente com Ele e com os irmãos n´Ele. Então, todas as peças do puzzl da nossa existência se integram harmoniosamente, de modo que a nossa vida se torne louvor do Senhor.
    A actividade missionária constitui, para o Pe. Dehon e para
    nós, uma forma privilegiada de serviço apostólico. Nela, como nas outras actividades apostólicas, a sua preocupação constante, tal como para Paulo, é que a comunidade humana, santificada pelo Espírito Santo, se torne uma oblação agradável a Deus (cf. Rm 15,16).

    Oratio

    Vem Espírito Santo, força criadora de Deus! Ensina-me a fantasia e a criatividade do amor no seguimento de Jesus, na generosidade para com Ele e para com os irmãos. Ilumina-me, Espírito divino, para que saiba discernir o bem e realizá-lo com criatividade, generosidade, coragem. Que a minha vida seja uma oblação, que Te dê glória e alegria. Que a humanidade e a criação inteira, também com a minha humilde cooperação, se torne para Ti oblação viva, santa e agradável. Amen.

    Contemplatio

    O zelo não é mais do que o florescer da caridade. Amando ardentemente a Nosso Senhor, cultivamos o zelo pela sua casa, pelo seu culto e serviço, o zelo pelas almas. O zelo assume formas diversas consoante o espírito e a finalidade de cada Instituto. O objecto do nosso zelo é o reino do Coração de Jesus. Este reino é muito vasto; é universal. Mas tem naturalmente exigências especiais e mais urgentes. Nosso Senhor quer santuários dedicados à reparação, Betânias onde possa repousar e encontrar amor e consolação, no meio da indiferença geral e da tibieza até de uma parte do povo eleito. Devemos desejar tais santuários, como David desejava o templo do Senhor: Não deixarei dormir os meus olhos..., enquanto não encontrar um lugar para o Senhor, um santuário para o Deus de Jacob (Si 132, 4-5). A mínima esperança de ter estes santuários deve encher-nos de alegria: ouvimos dizer que (a arca) estava em Éfrata (Si 132, 6). Nas obras de apostolado, devemos preferir as que podem ser mais queridas ao Coração de Jesus: o serviço dos sacerdotes, a sua formação e santificação, a educação das crianças e a dedicação aos operários e aos pobres. Servimos mais directamente o Senhor, sempre que nos dedicamos àqueles a respeito dos quais Jesus afirmou: Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes estas coisas a um só destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes (Mt 25, 40). (Leão Dehon, DIRECTÓRIO ESPIRITUAL, edição portuguesa, n. 199)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Águas caudalosas não podem apagar o amor» (Cant 8, 7).

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